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Aspectos Éticos e Legislativos na

Contenção Mecânica
Enfª Ms. Caroline Moraes
Mestre em Saúde da Família
Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Fiocruz)
Conselheira Coren-RJ (2021/2023)
Membro da Câmara Técnica em Saúde Mental do Coren-RJ
SUMÁRIO
• Introdução
• Legislação Profissional
Lei de exercício profissional – 7498/86
Resolução 564/2017 – Código de Ética Profissional
Resolução contenção – 427/2012
Resolução saúde mental – 678/2021
• Primeira Aproximação
• Avaliação
• Contenção Regras Gerais
INTRODUÇÃO
Na rotina diária da prática profissional de
enfermagem nos deparamos com número cada vez
maior de usuário com alterações ou transtornos
mentais.
A qualificação profissional é a base para a
adequação da assistência, com intervenções que
promovam a estabilização e a recuperação das
alterações e a reabilitação do indivíduo com
transtornos mental ou sofrimento psíquico.
Relacionamento Terapêutico - Vínculo

No relacionamento interpessoal é importante


que o profissional esteja preparado para o uso da
observação, das técnicas de comunicação
terapêutica e ter atitudes adequadas que visem a
melhora do usuário.
COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA
É facilitadora da assistência, tendo por objetivo alterar o
comportamento patológico, aliviar ou não agravar o estado
patológico.
MEDIDAS SIMPLES NA COSTRUÇÃO DE VÍNCULO
• Ser educado
• Se gentil no momento do contato
• Não ser desrespeitoso
• Eliminar fatores pessoais como estigma e preconceito
ERRO NA PERCEPÇÃO DA MENSAGEM
• Por ocorrer a percepção errônea das mensagens emitidas pelo
profissional, lembrando que a sintomatologia psíquica pode
interferir e provocar tal percepção, podendo ser uma interpretação
despropositada e irreal.
Ex.: Usuário ouvir vozes que o perseguem e dizem que vão mata-lo, quando a
enfermeira o aborda para tomar medicamento, pode acreditar que o remédio é
veneno e o profissional vai mata-lo.

• A percepção inadequada pode provocar desconfiança, perda ou


não formação do vínculo, riscos para os envolvidos como agressão
aos profissionais e outros usuários e ao próprio indivíduo
(autoeliminação ou automultilação)
LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL
Lei 7498/86 - Dispõe sobre a regulamentação do
exercício da enfermagem, e dá outras providências.

Art. 2º - Parágrafo único. A enfermagem é exercida


privativamente pelo Enfermeiro, pelo Técnico de
Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela
Parteira, respeitados os respectivos graus de habilitação.
Lei 7498/86 - Enfermeiro
Art. 11. O Enfermeiro exerce todas as atividades de
enfermagem, cabendo-lhe:

-consulta de enfermagem;
-prescrição da assistência de enfermagem;
-cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco
de vida;
-cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que
exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar
decisões imediatas;
Lei 7498/86 - Técnico de Enfermagem
• Art. 12. O Técnico de Enfermagem exerce atividade de
nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento
do trabalho de enfermagem em grau auxiliar, e
participação no planejamento da assistência de
enfermagem, cabendo-lhe especialmente:
-participar da programação da assistência de enfermagem;
-executar ações assistenciais de enfermagem, exceto as
privativas do Enfermeiro
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL
• Resolução 564/2017 – (Direitos, Deveres e Proibições)

Dos Direitos
Artº 22 – Recusar-se a executar atividades que não sejam de
sua competência técnica, científica, ética e legal ou que não
ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, à família e à
coletividade.
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL
• Resolução 564/2017 – (Direitos, Deveres e Proibições)

Dos Deveres
Artº 38 – Prestar informações escritas e/ou verbais, completas e
fidedignas, necessárias à continuidade da assistência e segurança do
paciente.
Artº 39 - Esclarecer à pessoa, família e coletividade, a respeito dos
direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assistência de
Enfermagem.
Artº 45 - Prestar assistência de Enfermagem livre de danos
decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL
• Resolução 564/2017 – (Direitos, Deveres e Proibições)

Das Proibições
Artº 64 – Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso diante de
qualquer forma ou tipo de violência contra a pessoa, família e
coletividade, quando no exercício da profissão.
Artº 80 - Executar prescrições e procedimentos de qualquer
natureza que comprometam a segurança da pessoa.
RESOLUÇÃO COFEN – 427/2012
Normatiza os procedimentos da enfermagem no emprego
de contenção mecânica de pacientes.
• Art. 1º Os profissionais da Enfermagem, excetuando-se as situações de
urgência e emergência, somente poderão empregar a contenção mecânica do
paciente sob supervisão direta do enfermeiro e, preferencialmente, em
conformidade com protocolos estabelecidos pelas instituições de saúde, públicas
ou privadas, a que estejam vinculados.
• Art. 2º A contenção mecânica de paciente será empregada quando for o único
meio disponível para prevenir dano imediato ou iminente ao paciente ou aos
demais.
• Parágrafo único. Em nenhum caso, a contenção mecânica de paciente será
prolongada além do período estritamente necessário para o fim previsto no caput
deste artigo.
RESOLUÇÃO COFEN – 427/2012
• Art. 3º É vedado aos profissionais da Enfermagem o emprego de contenção
mecânica de pacientes com o propósito de disciplina, punição e coerção, ou por
conveniência da instituição ou da equipe de saúde.
• Art. 4º Todo paciente em contenção mecânica deve ser monitorado atentamente
pela equipe de Enfermagem, para prevenir a ocorrência de eventos adversos ou
para identificá-los precocemente.

§ 1º Quando em contenção mecânica, há necessidade de monitoramento clínico do nível de


consciência, de dados vitais e de condições de pele e circulação nos locais e membros contidos do
paciente, verificados com regularidade nunca superior a 1 (uma) hora.
§ 2º Maior rigor no monitoramento deve ser observado em pacientes sob sedação, sonolentos ou
com algum problema clínico, e em idosos, crianças e adolescentes.
RESOLUÇÃO COFEN – 427/2012

• Art. 5º Todos os casos de contenção mecânica de pacientes,


as razões para o emprego e sua duração, a ocorrência de
eventos adversos, assim como os detalhes relativos ao
monitoramento clínico, devem ser registrados no prontuário do
paciente.
A PRIMEIRA APROXIMAÇÃO: FALE COM ELE!

• Procure sempre conversar com o usuário e seus


acompanhantes no consultório ou em qualquer outro espaço
que ofereça privacidade.
• Se o usuário se encontra em um grau exacerbado de
agitação, chegando já contido, ou requerendo realmente
imediata contenção química ou física, convém mantê-lo no
leito, na sala de observação ou espaço igualmente
reservado.
A PRIMEIRA APROXIMAÇÃO: AUTO E HETEROAGRESSIVIDADE

Os episódios de auto e heteroagressividade,


quando presentes, assustam e ameaçam aqueles que
estão próximos. Há dificuldade em compreender que o
usuário não está agindo dessa maneira por deliberação
ou cálculo, e sim, em virtude de sua perturbação
psíquica. Sobretudo quando há relato de uso de drogas,
primário ou secundário ao quadro apresentado, o
julgamento moral costuma predominar. Procure mostrar
à família que há um real sofrimento do usuário com a sua
situação.
A AVALIAÇÃO
A avaliação dos riscos nunca se reduz ao
diagnóstico, nem é dada essencialmente por ele. Um
usuário psicótico pode apresentar uma crise intensa,
enquanto a de outro, também psicótico, pode ser
branda.
A gravidade dos riscos não é dada apenas pela
intensidade da crise.
AGITAÇÃO PSICOMOTORA, COMPORTAMENTO
DESORGANIZADO E RISCO DE AGRESSIVIDADE.
Agitação psicomotora e comportamento agressivo fazem parte
das condutas humanas que podem estar associadas a algum problema
prévio.
A agitação psicomotora é um comportamento que pode estar
associado a diferentes emoções.
A presença de um transtorno mental não prediz se ocorrerá um
comportamento violento, embora existam alguns fatores de risco.
Entre esses, encontramos:

• jovem e sexo masculino,


• intoxicação por álcool,
• história de comportamento violento prévio,
• quadros psicóticos anteriores,
• história de automutilação e condutas delinquentes.

Isso não significa que alguém com alguma dessas características evoluirá
necessariamente para um comportamento violento, mas somente que o risco pode ser maior.
CONTENÇÃO MECÂNICA
A contenção mecânica de paciente psiquiátricos, quando
agitados e/ou agressivos, é uma estratégia válida no manejo do
paciente. No entanto, deve ser aplicada segundo a técnica
correta, seguindo-se rigorosamente protocolos bem delineados
para garantir a segurança do paciente e o respeito à sua
dignidade.
A contenção mecânica deve ser desfeita tão logo seja
possível, o que costuma ocorrer após o manejo farmacológico
adequado dos sintomas de agitação e/ou agressividade.
CONTENÇÃO MECÂNICA
A técnica de contenção deve ser usada de modo sistemático,
obedecendo protocolos institucionais específicos para essa situação.
• O procedimento começa com a solicitação de ajuda da equipe que irá realizar o procedimento
de contenção física, a qual deve contar com ao menos cinco pessoas e ter um líder de equipe
definido.
• É de suma importância que o líder da equipe seja o único profissional a dar ordens e a se
comunicar com o paciente. A equipe, então, deve remover todos os objetos pessoais que
possam ser utilizados como meio de agressão pelo paciente
• O líder da equipe então comunica o paciente sobre o procedimento que será realizado, sua
necessidade e o modo como se procederá a contenção. Alguns pacientes se mostram
cooperativos nessa etapa, mas na hipótese de o paciente resistir ao procedimento, um membro
da equipe deve iniciar pela imobilização de um dos membros (que deve ser pré-determinado
pelo protocolo de contenção), através do controle das articulações do membro.
IMOBILIZAÇÃO DO PACIENTE
• Mínimo de cinco profissionais na contenção física (uma para cada
membro superior, uma para cada membro inferior, um para o tórax e
cabeça).
• Situações em que o paciente é muito alto, muito forte ou está muito
agressivo e serão necessários mais do que cinco pessoas para contê-lo.
• Cada equipe deve ter um coordenador, embora todos os participantes
devam ser preparados para assumir esse papel a qualquer momento.
• A equipe ao abordar o paciente necessita ficar posicionada em
semicírculo, reduzindo a área em volta do paciente, assim limitando a
sua movimentação.
IMOBILIZAÇÃO DO PACIENTE
MEDIDAS PROIBIDAS PARA SEREM APLICADAS POR PROFISSIONAIS
CONTENÇÃO MECÂNICA
CUIDADOS APÓS A CONTENÇÃO MECÂNICA.
• O profissional de saúde avalia o paciente pessoalmente em até 1 hora do
início da aplicação das contenções. A solicitação deve incluir a finalidade, o
tipo, a localização e o horário ou duração da contenção. Determine se é
necessário um termo de consentimento para o uso da contenção (cuidados
prolongados). As solicitações podem ser renovadas de acordo com os
limites de tempo por no máximo de 24 horas consecutivas.
• Cada solicitação de contenção é limitada a 4 horas em adultos com 18 anos
ou mais, 2 horas em crianças de 9 a 17 anos, 1 hora em crianças menores
de 9 anos
CONTENÇÃO MECÂNICA - REGRAS GERAIS

• As proeminências ósseas devem ser protegidas antes de colocar o contensor.


• Os contensores devem ser completamente retirados no mínimo a cada 2
horas, por 30 minutos, proporcione conforto, mudança de posição, higiene
pessoal. Se o paciente for violento, remova uma contenção de cada vez.
• Após a aplicação, avalie o paciente a cada 15 minutos em busca de sinais de
lesão (ex: circulação, sinais vitais, amplitude de movimento, status físico e
psicológico e disponibilidade para descontinuação.
• Os contensores colocados em pacientes no leito ou na maca devem ser
fixados à estrutura do leito e não nas grades laterais.
CONTENÇÃO MECÂNICA - REGRAS GERAIS
• Os contensores dever ser seguros a fim de que o paciente não os desfaça.
• Explicar cuidadosamente ao paciente e à sua família porque o contensor é
necessário.
• Anotar no registro de enfermagem a avaliação antes e após o uso de
contensores com foco a segurança e o nível de orientação do paciente, o tipo
de contensor escolhido e a reação do paciente a ele.
• O profissional de saúde licenciado ou o profissional de enfermagem registrado
e treinado precisa avaliar o paciente de 1 a 4 horas após o início da aplicação
das contenções.
• Após 24 horas, antes de fazer uma nova prescrição, o profissional de saúde
responsável pelo atendimento precisa ver e avaliar o paciente.
Considerações

O preparo adequado dos profissionais é condição


básica para cuidar os indivíduos que se encontram em
situação de emergência psiquiátrica, deixando que o
conhecimento científico seja o guia da prática dentro de
parâmetros éticos e isentos de preconceitos.
Referências
• BRASIL. LEI 7.498/86. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem, e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7498.htm Acesso em: 15/07/2022.
• BRASIL. RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017. Aprovar o novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, conforme o anexo desta
Resolução, para observância e respeito dos profissionais de Enfermagem. Brasília, DF. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resolucao-
cofen-no-5642017_59145.html Acesso em: 15/07/2022.
• BRASIL. RESOLUÇÃO COFEN Nº 427/2012. Normatiza os procedimentos da enfermagem no emprego de contenção mecânica de
pacientes, Brasília, DF. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-4272012_9146.html Acesso em: 15/07/2022.
• BRASIL. RESOLUÇÃO COFEN Nº 678/2021. Aprova a atuação da Equipe de Enfermagem em Saúde Mental e em Enfermagem
Psiquiátrica. Brasília, DF. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-678-2021_90358.html. Acesso em: 15/07/2022.
• CARMAGNANI, M. I.S., FAKIH, T., CANTERAS, L. M.S., TERERAN, N. Procedimentos de Enfermagem - Guia Prático, 2ª edição. Guanabara
Koogan, 04/2017. VitalBook file
• Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.
• Marcolan, João Fernando. Enfermagem em saúde mental e psiquiátrica: desafios e possibilidades do novo contexto do cuidar. 1ª ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2013
• POTTER, P. A., et al. Fundamentos de enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
• Ribeirão Preto. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal da Saúde. Departamento de Atenção a Saúde das Pessoas. Protocolo de
contenção física e mecânica. Ribeirão Preto – São Paulo, 2018. 32p.
OBRIGADA
carolinecarvalho@coren-rj.org.br

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