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Vitória Silva Souza Dias1, Simone Manso de Carvalho Pelicia2, José Eduardo Corrente3, Ligia Maria Suppo de Souza Rugolo2
Palavras-chave: Resumo
Fototerapia, Objetivo: Investigar a frequência da icterícia e do uso de fototerapia, bem como fatores de risco associados à
Recém-Nascido, necessidade de fototerapia em alojamento conjunto (AC). Métodos: Estudo retrospectivo com RN de 35 semanas ou
Icterícia Neonatal, mais de idade gestacional (IG) internados em AC de hospital terciário no período de outubro a dezembro de 2017,
Alojamento Conjunto. divididos em dois grupos: tratados e não tratados com fototerapia. Incluídos todos os nascidos no serviço com IG maior
ou igual a 35 semanas, sem anomalias congênitas, e admitidos no AC. Excluídos os que necessitaram de internação
em enfermaria neonatal. Avaliados dados clínicos maternos, gestacionais, neonatais e práticas assistenciais. Desfecho:
uso de fototerapia. Associações entre grupos foram avaliadas pelo teste t-Student e pelo qui-quadrado. Regressão
logística múltipla foi empregada para identificar fatores independentes associados ao uso de fototerapia. Resultados:
376 RN estudados. Do total, 176 (47%) tiveram icterícia e destes 66 (18%) foram tratados com fototerapia. O grupo
tratado teve menor IG (38 x 39 semanas), maior bilirrubina em sangue de cordão (2 x 1,5mg/dL), maior perda de peso
(7 x 6%), incompatibilidade ABO mais frequente (35 x 10%) e internação mais prolongada (79 x 50 horas). Regressão
logística identificou como fatores independentes de risco para fototerapia: IG (OR=6), bilirrubina de cordão (OR=16),
incompatibilidade ABO (OR=12) e perda de peso (OR=1,24). Conclusão: Icterícia foi frequente nos RN em AC e quase
20% deles realizaram fototerapia. Perda de peso foi o único fator evitável de risco para fototerapia e nenhum fator
de proteção foi evidenciado.
1
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Residente de Pediatria da Faculdade de Medicina de Botucatu - Botucatu - São Paulo - Brasil.
2
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Botucatu - Botucatu - São Paulo - Brasil.
3
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Departamento de Bioestatística do Instituto de Biociências - Botucatu - São Paulo - Brasil.
No grupo tratado houve menor porcentagem de hipertensão estudo ter sido realizado em hospital universitário, que conta
gestacional (3,0 x 14,5%; p=0,010) e o parto vaginal foi mais com uma rotina sistematizada e critérios padronizados de ava-
frequente (77 x 61%; p=0,011). liação e conduta para RN ictéricos em AC. Diferentes métodos
Os RN apresentaram boa vitalidade ao nascimento e frequência de triagem da hiperbilirrubinemia, bem como
com média de Apgar no 1º minuto de 9 em ambos os grupos. diferenças entre os guidelines para tratamento são fatores que
Apenas um RN do estudo apresentou incompatibilidade Rh influenciam na frequência do uso de fototerapia10. Importante
e esse RN não necessitou de fototerapia. Nenhum caso de notar que o uso de fototerapia implicou em prolongamento
deficiência de G6PD foi identificado no período. Os principais do tempo de internação (79 x 50 horas), o que gera maiores
dados dos RN estão apresentados na Tabela 2, na qual se ob- custos para o sistema de saúde e ansiedade nos familiares15-17.
serva diferenças significativas entre os grupos (Tabela 2). As A icterícia própria do RN é influenciada por múltiplos fato-
práticas assistenciais não diferiram entre os grupos (Tabela 3). res, incluindo diabetes materno, raça, uso de medicações pela mãe,
Todas as variáveis que tiveram diferença significativa prematuridade, sexo masculino, cefalohematoma, aleitamento
(p<0,05) entre os grupos na análise bivariada, exceto o tempo materno, perda de peso, atraso na eliminação de mecônio3,7.
de internação, e ainda as variáveis que não tiveram significân- A relação do tipo de parto com a icterícia neonatal é
cia, mas que são consideradas associadas à necessidade de controversa, sendo documentado associação do parto vaginal
fototerapia, como sexo masculino e tempo de clampeamento com aumento e também com diminuição da incidência de ic-
de cordão, foram incluídas na análise multivariada com regres- terícia18,19. Tal discordância possivelmente se deve a fatores de
são logística. Através dessa análise foram identificados vários confusão envolvidos na decisão pela via de parto, bem como o
fatores independentes de risco e nenhum fator de proteção uso de ocitocina para indução do parto, tempo prolongado de
para a necessidade de fototerapia (Tabela 4). trabalho de parto e maior incidência de cefalohematoma em
parto vaginal, que aumentam o risco de hiperbilirrubinemia
DISCUSSÃO neonatal3,20. Em nosso estudo o parto vaginal foi mais preva-
lente no grupo que necessitou fototerapia, porém não foram
A icterícia é uma das intercorrências mais comuns no investigados os fatores que poderiam justificar esse achado.
período neonatal e, embora quase sempre benigna, pode Nossos resultados não mostraram influência de fatores
causar danos ao sistema nervoso dos RN com sequelas em maternos, embora a hipertensão gestacional tenha sido mais
longo prazo. A prevalência da icterícia no presente estudo foi frequente no grupo que não necessitou de fototerapia. Esse
de 46,8%, valor semelhante ao documentado na literatura, achado contraria resultado de estudo prévio que identificou
que apresenta cifras de 50% nos RN de termo e até 80% em a doença hipertensiva da gestação como fator de risco para
RN prematuros tardios, mostrando a importância da avaliação, hiperbilirrubinemia, por estar associada à prematuridade21.
diagnóstico e tratamento adequado da icterícia neonatal para Deve-se considerar que nosso estudo envolveu RN em AC,
prevenção das complicações associadas à hiperbilirrubine- assim, além da frequência de doenças maternas ter sido bai-
mia1,3,7. xa, também não seria esperado repercussão das mesmas nos
Um resultado que chamou a atenção foi o uso de foto- recém-nascidos já que esses nasceram a termo ou próximo
terapia em quase 20% dos RN em AC, cifra essa mais elevada ao termo e sadios.
que a relatada na literatura, que descreve valores menores Incompatibilidade ABO mostrou-se um fator de risco
de 10% em RN saudáveis a termo ou prematuros tardios10,11. importante, aumentando em 12 vezes a chance de necessidade
A diferença encontrada pode em parte ser devida ao fato do de fototerapia, resultado já esperado, uma vez que a doença