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AO JUÍZO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA

COMARCA DE SÃO PAULO.

QUALIFICAÇÃO, vem respeitosamente a presença deste Juízo, por seu procurador


infrafirmado, com escritó rio profissional para receber notificaçõ es e intimaçõ es
localizado na Rua General Osó rio, nº 1.155, sala 405, centro, em Passo Fundo/RS,
e-mail js@jsadvocacia.net, propor:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADEDE ATO ADMINISTRATIVO em face da
FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, inscrita no CNPJ
71.XXXXX/0002-76, com endereço na Rua Pamplona, 227, Sã o Paulo, SP, CEP
XXXXX-002, pelos fatos e fundamentos que passa a apresentar.
1. PRELIMINARMENTE – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
O autor é pessoa simples e com poucos recursos, sendo que qualquer despesa com
custas processuais poderá acarretar um prejuízo em sua subsistência e de sua
família.
Atualmente seus rendimentos mensais sã o auferidos somente com a atividade de
XXX, perfazendo uma renda mensal líquida em torno de R$ xxxx mensais conforme
faz-se prova o contracheque do mês de fevereiro de 2021 que segue anexo a esta
inicial.
Evidente a situaçã o de hipossuficiência de recursos para pagar as despesas
processuais, requer seja concedido os benefícios da Gratuidade da Justiça [1].
2. DOS FATOS E FUNDAMENTOS
O autor se inscreveu no Concurso Pú blico- Edital DP-3/321/19 para o cargo de
Soldado da PM de 2ª classe.
Apó s ser aprovado nas etapas de Prova Objetiva e Dissertativa, Exame de Aptidã o
física e Exame de Saú de, realizou a etapa de Exames Psicoló gicos, disposto no
capítulo XI do edital.
O edital com a convocaçã o para os Exames Psicoló gicos segue em anexo a esta
inicial.
A etapa de Exames Psicoló gicos teve por finalidade avaliar se o autor apresentava
características cognitivas e de personalidade favorá veis para o cargo.
Para ser aprovado no Exame Psicoló gico, a avaliaçã o deveria verificar se o autor
possui todos os itens do perfil psicoló gico, e se possui ausência das características
previstas no contraperfil, veja cada um:
DEVERIA POSSUIR TODOS OS ITENS DO PERFIL PSICOLÓ GICO:
- Flexibilidade moderada;
- Disposiçã o para o trabalho;
- Capacidade de liderança;
- Relacionamento interpessoal adequado;
- Inteligência;
- Fluência verbal, e:
- Resiliência.
DEVERIA APRESENTAR AUSÊ NCIA DAS CARACTERÍSTICAS DO CONTRAPERFIL
PSICOLÓ GICO:
- Descontrole emocional;
- Sinais Fó bicos;
- Falta de domínio psicomotor.
O resultado final dos Exames Psicoló gicos foi obtido a partir da aná lise técnica
global do material produzido no transcorrer da etapa, onde foi avaliado a
compatibilidade do desempenho com as características do perfil psicoló gico.
A etapa dos Exames Psicoló gicos dividida entre turmas, sendo o autor pertencente
a Turma 18.
Na data 18/02/2021 foi realizado o exame coletivo, e em 08/01/2021 foi realizado
o exame individual, sendo que em 04/03/2021 foi publicada a relaçã o dos
aprovados. O nome do autor NÃ O constou nesta lista, e todos os demais candidatos
que nã o tiveram seus nomes na lista dos aprovados foram reprovados, inclusive o
autor.
Ocorre que a forma qual se deu a reprovaçã o do autor incorreu de irregularidade,
pois restou ausente a motivaçã o do ato ou qualquer justificativa plausível.
Notadamente o ato que reprovou o autor sem a exposiçã o de qualquer motivaçã o
para a decisã o acarreta evidente nulidade do ato.
O autor nã o teve sequer conhecimento sob o resultado final dos Exames
Psicoló gicos, ele nã o sabe se sua reprovaçã o se deu por nã o possuir todos os itens
do perfil psicoló gico ou se apresentou ausência das características do contraperfil
psicoló gico. O autor nã o sabe sequer o motivo pelo qual se deu a reprovaçã o.
A ú nica forma que o autor soube de sua reprovaçã o foi com a publicaçã o da relaçã o
dos aprovados, em que os nomes que nã o estã o na relaçã o dos aprovados
entendem-se que foram reprovados.
Sobre o princípio da motivaçã o, a Lei n. 9.784/99 estabeleceu em seu art. 2º nos
seguintes termos:
Art. 2º A Administraçã o Pú blica obedecerá , dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivaçã o, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditó rio, segurança jurídica, interesse pú blico e eficiência.
Especificamente sobre o princípio da motivaçã o, dispõ e o mesmo diploma
normativo em seu art. 50:
Art. 50. Os atos administrativos deverã o ser motivados, com indicaçã o dos fatos e
dos fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sançõ es;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleçã o pú blica;
Logo, a reprovaçã o do autor nã o houve a indicaçã o dos fatos e fundamentos
legalmente previstos.
A motivaçã o deve estar presente em todo e qualquer ato administrativo, já que a
exposiçã o dos fundamentos que levaram reprovaçã o do autor seria essencial para
o contraditó rio e ampla defesa.
Além do ato nã o ser motivado, ao autor nã o foi possibilitado ter acesso aos
resultados no momento adequado.
Insta frisar ainda que foi oportunizado ao autor interpor recurso administrativo,
qual foi tempestivamente realizado, cujas razõ es e o comprovante de envio seguem
em anexo a inicial.
Ocorre que a elaboraçã o do recurso administrativo restou prejudicada já que o
autor nã o teve acesso aos resultados, pois, sem saber quais itens do perfil nã o ele
possui, ou qual a ausência do contraperfil apresentada, acarretar-lhe-ia em
prejuízo para sua defesa.
Ainda sobre o recurso administrativo, o Capitulo XIV do edital tratou sobre os
recursos, que para ser admitido deveriam apresentar alguns requisitos, como o
apontamento do dispositivo legal, regulamentar ou editalício violado, o prejuízo
causado, nã o sendo admitido como mero pedido de revisã o, reavaliaçã o ou
repetiçã o da prova.
Ora Excelência, haveria como elaborar o recurso administrativo com todas as
exigências, e sem o réu explicar o porquê o autor não detém o perfil
adequado à função?
Acerca da entrevista devolutiva, o autor somente poderá requerer o agendamento,
no período compreendido entre 30 (trinta) e 60 (sessenta) dias, apó s a divulgaçã o
oficial do resultado desta etapa. Frise-se, poderá requerer, quando ela ocorrerá
efetivamente nã o há data certa, sendo que fins de interposiçã o de recurso
administrativo, resta preclusa.
Ora, se o prazo para interposiçã o do recurso administrativo terminou em
08/03/2021, e o prazo para requerimento da entrevista devolutiva seria somente
no período entre 30 a 60 dias apó s a divulgaçã o do resultado oficial, nã o se pode
alegar que o recurso administrativo tenha oportunizado ao preenchimento dos
requisitos obrigató rios com possibilidade de reverter o resultado de reprovaçã o.
A reprovaçã o do autor nesta etapa sem qualquer fundamentaçã o ou a falta de
acesso aos resultados deverá ser anulada, tratando-se de violaçã o ao princípio da
motivaçã o, consoante pacífica jurisprudência do STJ:
“ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁ RIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
SERVIDOR PÚ BLICO. CONCURSO. EXCLUSÃ O DE CANDIDATO PORTADOR DE
HEPATITE B. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO.
NULIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. A eliminaçã o de candidato em concurso
pú blico por inaptidã o constatada em exame médico pressupõ e fundamentaçã o
adequada quanto à incompatibilidade de eventual patologia com as atribuiçõ es do
cargo pú blico almejado. Precedente: RMS XXXXX/RO, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, 5ª T., DJe 13/10/2009. (...)” (RMS XXXXX/RO, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 14/04/2015, DJe 22/04/2015).
“ADMINISTRATIVO -MANDADO DE SEGURANÇA -CONCURSO PÚ BLICO -EXAME
MÉ DICO -REPROVAÇÃ O DE CANDIDATOS -FALTA DE ACESSOAOS RESULTADOS
DOS EXAMES -RENOVAÇÃ O DO EXAME. 1. É nulo o ato administrativo
consistente na reprovação de candidato em exame médico por falta de
motivação e de acesso aos resultados no momento adequado. 2. Correçã o do
ato administrativo apó s a concessã ode liminar. 3. Questõ es fá ticas posteriores à
impetraçã o sã o inteiramente impertinentes para exame no recurso, sob pena de,
suprimindo-se a apreciaçã o da instâ ncia de origem, violar o princípio do tantum
devolutum quantum appellatum. 4. Segurança concedida em parte, impondo-se a
submissã o dos candidatos a novo exame médico. 5. Recursos ordiná rios
parcialmente providos” (RMS XXXXX/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 04/06/2013, DJe 11/06/2013).
Também o Tribunal de Justiça de Sã o Paulo tem entendimentos no mesmo sentido:
“Concurso Pú blico para cargo de Agente Administrativo junto à Secretaria de
Estado da Cultura Candidata nomeada, considerada inapta no exame admissional.
Decisão não fundamentada. Alegação de que não goza de boa saúde não
comprovada. Ato administrativo que destoa dos postulados da razoabilidade
e proporcionalidade. Recursos desprovidos”(TJSP, Apelaçã o nº XXXXX-
71.2008.8.26.0053, 2ª Câ mara de Direito Pú blico, rel. Des. Luciana Bresciani, DJe
11.03.2014).
Como o autor nã o teve acesso ao resultado do exame psicoló gico, nã o se sabe se ele
foi aplicado e avaliado de acordo com as normas do edital e o Conselho Federal de
Psicologia.
Para que seja garantida a tutela jurisdicional ao autor, será necessá rio que o réu
apresente aos autos a có pia integral do prontuá rio pertinente à avaliaçã o
psicoló gica do autor, para que seja possibilitado futura reanálise pericial
exclusivamente sobre os resultados.

3. DOS PEDIDOS
Diante do exposto requer:
a) O recebimento da demanda pelo rito ordiná rio;
b) Seja concedido ao autor os benefícios da Gratuidade da Justiça;
c) Que seja o réu citado, para que querendo apresente defesa dentro do prazo
legal;
d) Que no decorrer da instruçã o processual, seja INVERTIDO O Ô NUS DA PROVA
para que o réu anexe ao processo a có pia integral do prontuá rio pertinente à
avaliaçã o psicoló gica do autor, incluindo os exames psicoló gicos com as avaliaçõ es
e nã o somente os resultados ou conclusõ es;
e) Com a juntada dos resultados, que seja realizada perícia técnica por profissional
habilitado sobre os mesmos resultados dos Exames Psicoló gicos e demonstre se o
autor possui ou nã o todos os itens do perfil psicoló gico, ou se demonstra ausência
do contraperfil psicoló gico;
f) Que ao final da demanda sejam julgados totalmente procedentes os pedidos para
que seja anulado de forma definitiva o ato administrativo que reprovou o autor,
por violaçã o ao princípio da motivaçã o;
g) Alternativamente, caso nã o seja entendimento de Vossa Excelência em anular o
ato administrativo por nã o ser motivado, que seja realizada perícia técnica por
perito técnico sendo o autor submetido aos mesmos testes qual incorreu sua
reprovaçã o;
h) Seja condenado o réu em custas processuais e honorá rios de sucumbência [2].
Dá -se a causa o valor de R$ 37.974,96 (trinta e sete mil, novecentos e setenta e
quatro reais, e noventa e seis centavos) – valor referente a remuneraçã o bá sica
inicial para o cargo de Soldado multiplicado por doze meses.
Sã o os termos em que pede deferimento.
Passo Fundo/RS, 4 de outubro de 2022.
JANQUIEL DOS SANTOS
OAB/RS 104.298-B
ROL DE DOCUMENTOS
- Procuraçã o e declaraçã o de hipossuficiência (assinados digitalmente);
- CNH do autor;
- Comprovante de renda;
- Edital de Concurso Pú blico Nº DP-3/321/19;
- Diá rio Oficial com a relaçã o dos candidatos aprovados exame de aptidã o física;
- Diá rio Oficial com a relaçã o dos candidatos aprovados no exame de saú de
- Convocaçã o para o exame psicoló gico;
- Diá rio Oficial com a relaçã o dos candidatos APROVADOS na etapa dos Exames
Psicoló gicos.
- Recurso administrativo;
- Rastreamento e comprovante de postagem do recurso administrativo.

[1] CPC C - Art. 98 8. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorá rios advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
[2] CPC C - Art. 85 5. A sentença condenará o vencido a pagar honorá rios ao
advogado do vencedor. § 2º Os honorá rios serã o fixados entre o mínimo de dez e o
má ximo de vinte por cento sobre o valor da condenaçã o, do proveito econô mico
obtido ou, nã o sendo possível mensurá -lo, sobre o valor atualizado da causa,
atendidos: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestaçã o do serviço; III
- a natureza e a importâ ncia da causa;

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