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Pele Função, Estrutura,


Fisiologia e Etnbriologia
Celso Tavares Sodré, David R. Azulay e Rubem D. Azulay

Abreviaturas usadas no capítulo


Akt Proteinoquinase antiapoptótica KGF Fator de crescimento queratinocítico
Bcl-2 Família de genes reguladores da apoptose KiM8 Antígeno monócito/macrófago-específico
C3 Proteína do sistema complemento LTB4 leucotrieno B4
CD Clusterofdifferentiotion. Denomina um conjunto de moléculas M-CSF Fator estimulador de colônia de macrófago
marcadoras de superfície celular ME Microscopia eletrônica
Células NK Células naturalkiller MEK/ERK Via de sinalização proteinoquinase ativada por mitógeno/
CGRP Peptídio relacionado com o gene da calcitonina quinase regulada por sinal extracelular ativada por antígeno
CLA Antígeno linfocitário cutâneo MHC Complexo principal de histocompatibilidade
DHEA-S Sulfato de desidroepiandrosterona MSH Hormônio estimulante de melanóc tos
i
DHT Di-hidrotestosterona NF-KB Fator nuclear kappa B
EGF Fator de crescimento epidérmico NGF Fator de crescimento neural
Fasl Fos ligond. Proteína transmembrana da família do TNF PAS Ácido periódico de Schiff
que se liga ao receptor Fos e desencadeia o processo de PDGF Fator de crescimento derivado de plaquetas
apoptose PDZ Domínio estrutural de proteínas sinalizadoras
Fc Frogment crystollizoble. Porção responsável pela atividade PGE2 Prostaglandina E2
biológica dos anticorpos Pl-3K/Akt Via de sinalização fosfoinositol 3-quinase/serina/treonina quinase
FGF-13 Fator de crescimento fibroblástico básico POMC Pró-opiomelanocortina
GM-CSF Fator estimulador de colônia de granulócito-macrófago PPAR-13 Receptor ativado por proliferador de peroxissomo (beta)
HE Hematoxi 1ina-eosina S-100 Família de proteínas de ligação de cálcio
HLA Antígeno leucocitário humano SCF Fator de células-tronco
HPV Papilomavírus humano TGF Fator transformador do crescimento
lg lmunoglobulina TNF Fator de necrose tumora 1
ll lnterleucina VEGF Fator de crescimento endotelial vascular

� Função da pele grande importância, pois visa manter um equilíbrio com o meio
exterior, no sentido da manutenção vital do meio interior. Sua
A pele do ser humano, que corresponde a 15% de seu peso mais importante e vital função é a conservação da homeostasia
corporal, é um órgão que reveste e delimita o organismo, pro­ (tern1orregulação, controle hemodinâmico e produção e excre­
tegendo-o e interagindo com o meio exterior. Sua resistência ção de n1etabólitos). Desempenha, ainda, função sensoria� por
e flexibilidade determinam a sua plasticidade. Essencialmente intermédio dos ele1nentos do sistema nervoso situado na derme,
dinâmica, a pele apresenta alterações constantes, sendo dotada efunção de defesa contra agressões físicas, químicas e biológicas,
de grande capacidade renovadora e de reparação, e de certo para a qual se destacam, pela sua importância, a ceratinização,
grau de impenneabilidade. o manto lipídico e o sistema imunológico. Embora participe de
Etn toda a escala animal, a pele exerce funções diversas que maneira absolutainente interativa e interdependente do orga­
se 1nodificain filogeneticamente; exerce funções respiratórias nis1no con10 un1 todo, não raras vezes manifestando alterações
em determinados animais, do mesmo modo que oferece pro­ de órgãos internos, por motivos didáticos a pele será abordada
teção física a outros (escan1as, nos peixes), assim como é capaz de 1nodo particular neste capítul o. Vale lembrar que, muitas
de despertar atração sexual pelo cheiro das secreções glandu­ vezes, condições psíquicas do indivíduo manisfestam-se na
lares. No que diz resp eito ao ser humano, a pele é um órgão de pele, que ten1, ainda, conotações de ordem racial, social e sexual.
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 3

• Proteção pele tem também uma açáo decisiva na síntese e na metabo­


lizaçáo da vitamina D (Capítulo 73, item Fotoproteção e vita­
É exercida das mais diversas maneiras contra as agressões do mina D).
meio exterior. A pele tem uma resistência relativa aos agentes
mecânicos por sua capacidade moldável e elástica (fibras colá­
genas, elásticas e hipoderme). No sentido físico, essa proteção
se realiza pela capacidade de, por meio de seu sistema melâ­ ..,. Estrutura e fisiologia
nico, neutralizar as radiações lumínicas ultravioleta (RUV) e, até
A pele é constituída, basicamente, por três camadas inter­
mesmo, ionizantes, ao menos parcialmente. Cabe salientar que
dependentes: a epiderme, mais externa; a derme, intermediária;
a produção de melanina, além do controle genético e ambiental,
e a hipoderme, mais profunda. A transição entre a epiderme e
sofre interferência da porção intermediária da hipófise por meio
a derme é denominada junção dermoepidérmica ou zona da
do hormônio intermedina, ou MSH. Por outro lado, a melato­
membrana basal (Figuras 1.1 e 1.2).
nina, produzida pela hipófise por meio da açáo da norepinefrina,
clareia a pele ao induzir a agregaçáo dos grânulos de melanina em
torno do núcleo das células. Pela sua relativa impermeabilidade
à água e aos eletrólitos, a pele mantém o equilíbrio hidreletrolí­
• Epiderme
tico. Outros tipos de proteçáo são: a físico-química, no sentido da É, basicamente, um tecido epitelial estratificado cerati­
manutenç.'lo do pH ácido (5,4 a 5,6) da camada córnea; a química, nizado, com variações estruturais e funcionais significativas
por meio do manto lipídico com atividade antimicrobiana; e a dependendo da localizaçáo anatômica. É constituída por: sis­
imunológica, presente, na epiderme, pelas células de Langerhans tema ceratinocítico, composto por células epiteliais denomi­
e, na derme, à custa de macrófagos, linócitos
f e mastócitos. nadas queratinócitos, responsáveis pelo corpo da epiderme e
de seus anexos (pelos, unhas e glândulas); sistema melânico,
• Percepção formado pelos melanócitos; células de Langerhans, com funçáo
imunológica; células de Merkel, integradas ao sistema nervoso;
Os elementos nervosos que existem, sobretudo na derme, e células dendríticas indeterminadas, com funçáo mal definida.
possibilitam o reconhecimento de sensações especiais, como A derme desempenha uma influência reguladora sobre a mor­
calor, frio, dor e tato, o que conduz a um mecanismo de defesa fogênese e diferenciação epidérmica, sendo fundamental para
no sentido de sobrevivência. a determinaçáo de sua espessura, arquitetura, tipo de diferen­
ciaçáo e padrão dos seus anexos. O pH da pele situa-se entre
• Hemorregulação e termorregulação 4,6 e 5,8.
A pele, com seus extensos plexos vasculares e corações peri­
féricos (os glomos), colabora na manutenção e na regulação do
débito circulatório. Em determinadas ocasiões, o aumento do
débito sanguíneo periférico é compensado pela constriçáo dos
glomos, com desvio da circulação para a rede capilar, e pela
utilização plena da capacidade total de enchimento de outros
vasos; já no choque, a dilataçáo dos glomos e a constrição dos
vasos cutâneos provocam a palidez característica, que denun­
cia a elevada funçáo hemorreguladora da pele. A homeotermia
ou termorregulação é mantida por um mecanismo comandado
pelo centro termorregulador por meio das vias do sistema ner­
voso autônomo, levando a vasoconstrição ou vasodilatação.
Além disso, os vasos são sensíveis a duas substâncias químicas
circulantes: a norepinefrina e a acetilcolina. No mecanismo
de termorregulaçáo, exercem uma açáo especial as glândulas •
sudoríparas écrinas, que, sob estímulo colinérgico, aumentam
a sudorese, causando a perda de calor. A :>

• Secreção
Como elementos produzidos pela pele, destaca1n-se a cito­
queratina, a melanina, o sebo e o suor, todos com funções defi­
nidas e harmônicas. •

• Excreção
As glândulas écrinas secretam água, eletrólitos, bicarbona­

tos, ureia, metais pesados etc., à semelhança do rim.

• Metabolização
Figura 1.1 H istologia normal da pele. Seta amarela = epiderme; setas bran­
A pele também sintetiza hormônios, dentre eles a testoste­ cas = folículo piloso; seta preta = glândula sebácea; seta vermelha = vaso
rona e di-hidrotestosterona, que têm um papel muito impor­ sanguíneo; seta azul = glândulas sudoríparas écrinas. HE, 100 x. (Cortesia
tante na alopecia androgenética, na acne e no hirsutismo. A da Dra. Airá Novello Vilar.)
4 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia

Camada de
Malpighl Crista
epidérmica

o
Camada o
basal � Derme eretor

papilar
do pelo

Dueto da glândula
Derme sudorlpara écrina
reticular Glândula

I
sebâcea

apócrina

Hipoderme

Figura 1.2 Componentes da pele. P = protuberância folicular ou bulge; PF = papila folicular.

Sistema ceratinocítico Além de sua função e.strutural, os queratinócitos participam


Responsável por, pelo menos, 80% das células epidérmicas, ativamente dos processos inflamatórios e imunológicos, seja
é caracterizado pela disposição lado a lado de suas células e como células-alvo (p. ex., psoríase, lúpus eritematoso, líquen
por sua constante renovação. O alto índice de multiplicação plano etc.), seja como secretores de citocinas, neuropeptídios e
celular dos queratinócitos da sua camada mais profunda, a outros mediadores. O queratinócito é capaz de produzir subs­
camada basal, fornece as células que, a seguir, gradativamente tâncias com ação autócrina (agem sobre si mesmas), parácrina
se modificam (diferenciação) e migram para a superfície, for­ (ação sobre as células vizinhas) e, em situações muito especiais,
mando a camada espinhosa ou de Malpighi; essas células, após endócrinas (ação a distância). Fazem parte desse painel de subs­
passarem por um rápido estágio em que se apresentam com o tâncias: mediadores inflamatórios (IL-1, antagonista da IL-1,
citoplasma mais basofílico e granuloso, a camada granulosa, IL-6, IL-7, IL-8 e outras quimiocinas, IL-10, IL-12, IL-15, IL-18,
transformam-se subitamente em células anucleadas, os corneó­ 1NF-a, GM-CSF e M-CSF), reguladores do crescimento ou da
citos, sendo então eliminadas para o meio ambiente na camada diferenciação celular (TGF-a e �. PDGF, FGF-�, VEGF e SCF),
mais externa da epiderme, a camada córnea (Figura 1.3). neuropeptídios (CGRP, substância P e somatostatina), neuro-hor­
O citoesqueleto de todas as células eucarióticas é composto mônios (POMC) e outros mediadores (PGE2, LTB4 etc.).
por urna complexa rede de proteínas estruturais com dife­ Gap junctions são canais proteicos transmembranas espe­
rentes diâmetros de espessura, incluindo os microfilamentos cializados que permitem comunicação entre células vizinhas ao
de actina (6 nm), os filamentos intermediários (10 nm) e os possibilitarem comunicação rápida de sinalizações, transportes
microtúbulos (25 nm). No queratinócito e nas demais células de íons, água e nutrientes que permitem coordenação e sincro­
epiteliais, os filamentos intermediários ou tonofilamentos são nização das respostas celulares a estímulos externos e internos; é
compostos por citoqueratinas (ck); eles se dispõem em torno um processo extremamente dinâmico de formação e destruição
do núcleo e conectam-se até alcançarem as placas desmossô­ com duração de poucas horas. Elas são formadas por conexinas
micas e se inserirem nelas, ajudando a compor o citoesqueleto e estão presentes nas células de todos os órgãos ou tecidos. Há
dessas células. São conhecidos mais de 30 tipos de ck, sendo diversas doenças de ceratinização (Capítulos 66 e 68) decorren­
20 epidérmicos e 1 O do pelo; os epidérmicos são divididos em tes de mutações de urna mesma ou de diferentes conexinas com­
tipo I (ácido: ck de 9 a 20) e tipo II (básico: ck de 1 a 8). Para partilhadas também por cóclea (surdez), nervos, dentes e anexos
formar um filamento intermediário, é necessária a combina­ cutâneos, o que explica suas eventuais associações.
ção de uma ck do grupo I com outra do grupo II. A expres­
são de determinado par de citoqueratina varia segundo o tipo Camada basal
celular e seu grau de diferenciação, podendo ser adotado como A camada basal é a camada celular mais profunda da epi­
marcador dessas situações, assim como de algumas condições derme, e sua participação é vital na formação e manutenção da
patológicas (ver adiante o item Citoqueratinas). junção dermoepidérmica. Na pele normal, ela é composta por
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 5

Camada espinhosa (ou de Malpighi)


Ao deixarem a camada basal rumo à superfície, os que­
ratinócitos sofrem contínuas e m i portantes modificações
morfológicas, moleculares e histoquímicas, passando a ser
poligonais, de citoplasma acidófilo e ricos em desmossomos,
sendo denominadas células espinhosas ou células de Malpighi.
Essas células são numerosas e dispostas em várias fileiras, cujo
• número varia de acordo com a localização anatômica e com
fatores endógenos (p. ex., hormônios, vascularização etc.) e
exógenos (p. ex., RUV, trauma etc.). Ao progredirem na sua
migração, as células achatam-se e tornam-se cada vez mais
acidófilas. Apesar de os filamentos de citoqueratina produzi­
dos na camada basal (ck 5 e 14) deixarem de ser sintetizados,
eles persistem nessas células, agora acompanhados do par ck
1 e 10 aí produzido. Em situações hiperproliferativas fisioló­
gicas (reparação) ou patológicas (psoríase), há a diminuição
da produção do par ck 1 e 10 e o surgimento do par ck 6 e
16. Embora os desmossomos (nódulos de Bizzozero) estejam
presentes em toda a epiderme, é na camada espinhosa que se
mostram mais numerosos. O desmossomo é uma modificação
da superfície celular, cálcio-dependente, responsável pela ade­
são intercelular; está presente entre os queratinócitos de toda a
epiderme e é formado por uma placa desmossômica na parte
interna da membrana celular composta por seis polipeptídios:
placoglobina, desmoplaquinas I e II, desmoioquina, proteína
banda 6 e a ceratocalmina, sendo esta última responsável pela
Figura 1.3 Camadas da epiderme. Setapreta= camada córnea; seta branca= manutenção da inserção dos tonofilamentos na placa desmos­
camada granulosa; seta amarela= camada espinhosa ou de Malpighi;seta sômica. Da placa desmossômica, partem cinco glicoproteínas
azul= camada basal. HE, 250 x. (Cortesia da Dra. Airá Novello Vilar.) transmembrânicas, as desmogleínas 1 e 3 e as desmocolinas I,
II e III, cujos domínios extracelulares interagem com os das
uma única fileira de queratinócitos justapostos, a maioria com glicoproteínas transmembrânicas do desmossomo da célula
capacidade de multiplicação (chamados de células germinati­ adjacente, garantindo a adesão intercelular (Figuras 1.4 a 1.6).
vas), que apresentam morfologia colunar, citoplasma basófilo Há ainda os tonofilamentos compostos por citoqueratinas que
e núcleo grande e oval. O par de citoqueratina característico é se inserem nos desmossomos e, assim, ajudam a estruturar o
citoesqueleto dessas células. As gap junctions são verdadeiros
o 5-14, podendo ser encontrada a ck 19 nos epitélios de tran­
canais de comunicação intercelular por onde fluem diversos
sição. A população dessas células basais é heterogênea; um
elementos, dando um caráter quase sincicial à epiderme e assu­
pequeno percentual é composto de células-tronco caracteriza­
mindo importante papel na regulação do metabolismo celular
das por uma velocidade baixa de mitose durante toda a sua exis­
das células vizinhas. Além dessas m i portantes estruturas de
tência, que talvez supere o tempo de vida do próprio n
i divíduo,
união, existe, entre as células epidérmicas, o cimento interce­
gerando clones de queratinócitos denominados células ampli­
lular, também chamado de glicocálice. Este é constituído de
ficadoras transitórias (TAC transit amplifying cells), que se
glicoproteínas que auxiliam na coesão intercelular, enquanto
-

dividem muito mais rapidamente, mas são programadas para


viabiliza a circulação de substâncias solúveis em água.
um número limitado de mitoses (ver adiante o item Células­
tronco e pele). A mitose das TAC dá origem a duas células
com características diferentes: uma nova célula amplificadora
transitória, que permanece na camada basal, e outra, deno­
minada p6s-mit6tica ou diferenciada, que perde a capacidade
de mitose e inicia o processo de diferenciação ceratinocítica e
de migração em direção à superfície. A renovação completa,
desde a divisão da célula basal até a eliminação das lâminas
córneas, faz-se em 52 a 75 dias, assim distribuídos: o tempo
de duração da divisão celular é de aproximadamente 19 dias,
o trânsito pela camada de Malpighi dura 26 a 42 dias e o trân­
sito pelo estrato córneo é de 19 dias. No rato, os percentuais
de células-tronco, amplificadoras transitórias e pós-mitóticas
corresponderiam, respectivamente, a 10, 50 e 40% das células
da camada basal. O processo de reparação tecidual e algumas
doenças hiperproliferativas (p. ex., psoríase) podem provocar,
por meio da produção de diversas citocinas e fatores de cres­
cimento, o aumento na velocidade de mitose das células da
camada germinativa. TGF-a, EGF e KGF estimulam a mitose,
enquanto o TGF-� inibe a mitose e promove a diferenciação
dos queratinócitos, assim como os retinoides e a vitamina D3• Figura 1.4 Partes intercelulares dos desmossomos (setas). HE, 400 x.
6 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia

presentes no ni terior das células granulosas, embora só venham


a formar o envelope depois de ativadas pelas transglutaminases
da membrana celular. Finalmente, os grtlnulos lamelares (corpos
de Odland ou ceratinossomos), morfologicamente semelhantes
a lipossomos, contendo no seu interior glicoproteínas, ácidos
graxos, fosfolipfdios, glicosilceramidas e colesterol, são ini­
cialmente vistos nas células das porções superiores da camada
espinhosa, mas é na camada granulosa que se apresentam em
grande número; o conteúdo desses grânulos é liberado no
espaço intercelular durante a transição súbita da camada gra­
nulosa para a córnea, quando, sob a ação de suas hidrolases, é
remodelado, e seus lipídios transformados em ceramida (45%),
colesterol (25%), ácidos graxos (15%), esfingosina livre, sulfato
de colesterol, ésteres do colesterol e triglicerídios. Todos esses se
depositam em forma de bainha dupla em torno de cada corneó­
cito, originando a grande barreira lipídica à passagem de água e
substâncias polares da epiderme, principal responsável por sua
relativa impermeabilidade, e, quando chegam à superfície, com­
Figura 1.5 Pele - camada espinhosa da epiderme. N = núcleos de querati­ põem, com o sebo, o manto lipídico da pele.
nócitos da espinhosa; setas = desmossomos; t = tonofilamentos citoplasmá­
ticos;* = espaço intercelular. ME, 5.700 x. (Cortesia da Ora. Mirian N. Sotto.) Camada córnea
Sendo a camada mais externa da epiderme, a camada cór­
Camada granulosa nea constitui o verdadeiro limite entre o indivíduo e o meio
Ao deixarem a camada espinhosa em direção à superfí­ ambiente. As células são acidófilas e extremamente planas,
cie, as células formam algumas fileiras em que se apresentam sendo as células mais largas do organismo, o que torna possível
repletas de grânulos basofflicos de cerato-hialina no citoplasma, a sua descamação e a mobilidade da região sem provocar dano
constituindo a camada granulosa. O par de citoqueratina carac­ à integridade do tecido. A camada córnea surge subitamente
terístico é o 2-11, derivado do metabolismo do par 1-10. Essa pela ocorrência simultânea e muito rápida de vários eventos
camada caracteriza-se por grande atividade metabólica, obje­ na célula da camada granulosa, dos quais se destacam: apop­
tivando a síntese dos elementos necessários ao processo final tose, com destruição do núcleo e organelas, cujos componentes
da cornificação, que resulta no súbito surgimento da camada podem ser reaproveitados pela própria epiderme; liberação e
córnea. Esses elementos são armazenados, em grande quanti­ ativação dafilagrina contida nosgranulas de cerato-hialina, com
dade, na sua forma pré-ativada, tanto no interior de organelas consequente organização dos filamentos de queratina em feixes
como livremente. Os grânulos de cerato-hialina são constituí­ paralelos compactos; extrusão do conteúdo dos grânulos lame­
dos por pr6-filagrina, filamentos de citoqueratina e loricrina. lares, especialmente colesterol, ceramida e ácido graxo livre,
A pró-filagrina converte-se em filagrina (filament aggregation seguida pela formação da barreira lipídica extracelular hidro­
protein), promovendo a agregação e compactação lado a lado fóbica; formação do envelope celular do come6cito; e destruição
dos filamentos de queratina, uma característica dos corneó­ gradativa dos desmossomos, que leva à descamação final de célu­
citos. As proteínas (involucrina, ceratolinina, loricrina, envo­ las isoladas na porção mais externa da camada córnea. Além
plaquina etc.) do envelope celular dos corneócitos (camada da proteção mecânica, a camada córnea previne o trânsito de
proteica densa na parte interna da membrana celular) já estão água e substâncias solúveis pelas duplas lamelas lipídicas inter­
celulares presentes nas suas porções média e baixa, mantendo
a homeostasia do indivíduo frente ao ambiente. Em que pese
a ausência de núcleo e organelas, os corneócitos retêm alguma
atividade metabólica, não sendo completamente inertes.
Antes da transformação da camada granulosa em córnea,
especialmente nas regiões palmoplantares, pode ser observada
a camada lúcida, de aspecto homogêneo e constituída por
células achatadas, anucleadas, que não se coram pelos méto­
dos de rotina, mas que são osmiófilas.
O processo de transição que ocorre das células basais até a
formação do corneócito, com o seu posterior destacamento, é
metabolicamente bastante rico devido à participação de nume­
rosas hidrolases e proteases. Da integridade da formação do cor­
neócito é que se tem o grau de hidratação da epiderme (Capítulos
79 e 91, itens Hidratantes e Hidratação, respectivamente).

Junção dermoepidérmica
A epiderme e a derme unem-se de maneira sinuosa e inter­
penetrante, isto é, a epiderme penetra na derme por meio dos
Figura 1.6 Pele - camada espinhosa da epiderme. O = desmossomos; cones interpapilares (cristas epidérmicas), e a derme projeta-se
T = tonofilamentos citoplasmáticos agrupados formando tonofibrilas; M = na epiderme pelas papilas dérmicas. A interface entre a epi­
mitocôndria; * = espaço intercelular. ME, 28.500 x. (Cortesia da Ora. Mirian derme e a derme é conhecida como junção dermoepidérmica
N. Sotto.) ou zona da membrana basal, que, por ser rica em mucopolis-
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Embora o hemidesmossomo se assemelhe funcionalmente


ao desmossomo, difere dele em diversos aspectos, sendo,
talvez, mais bem designado como complexo hemidesmos­
somo-filamentos de ancoragem. Como no desmossomo, os
filamentos de citoqueratina do citoesqueleto da célula basal
inserem-se na placa hemidesmossômica, que, diferentemente
da desmossômica, é composta por plectina e pelo antígeno
penfigoide bolhoso 1 (PBAg1) de 230 kDa. As proteínas trans­
membrânicas são o antígeno penfigoide bolhoso 2 (PBAg2) de
180 kDa, classificado como colágeno tipo XVII, cujo domínio
extracelular fica embebido na lâmina lúcida, e a integrina aJ34•
Os filamentos de ancoragem originam-se nos hemidesmosso­
mos, atravessam a lâmina lúcida e n i serem-se na lâmina densa.
A lâmina lúcida é composta por diversas glicoproteínas não
colágenas, lamininas, fibronectinas, entactina/nidogene, com
grande capacidade para se ligarem entre si e a outras molé­
culas e células, colaborando para a adesão entre a membrana
,
....� da célula basal e a lâmina densa, embora seja a estrutura de
•• ' . adesão mais frágil da junção dermoepidérmica.

Á A lâmina densa é formada primariamente por colágeno tipo


IV, contendo, ainda, laminina, proteoglicanos sulfatados, antí­
Figura 1.7 Pele - junção dermoepidérmica. N = núcleo de melanócito; geno da epidermólise bolhosa adquirida e outros elementos. Por
M = melanossomos; T = tonofilamentos citoplasmáticos de queratinócito sua característica fibrilar, com espessura de 35 a 40 nm, assume
basal; setas = lâmina basal; F = fibrilas colágenas; H = hemidesmossomo.
função de barreira à passagem de macromoléculas. Dela partem
ME, 14.700 x. (Cortesia da Dra. Mirian N. Sotto.)
as grossas (20 a 60 nm) e longas (200 a 800 nm) fibrilas de anco­
sacarídios neutros, torna-se bastante evidente em cortes cora­ ragem, constituídas por colágeno tipo VII, que mergulham na
dos pelo PAS ao assumir uma cor avermelhada; entretanto, é derme (sublâmina densa), onde podem apresentar terminações
mais bem estudada pela microscopia eletrônica (Figura 1.7). É livres, inserir-se nas placas de ancoragem ou formar uma alça,
uma estrutura complexa e seus componentes são quase todos incluindo fibras colágenas e elásticas da derme, e retornar para a
de origem epidérmica. Além de ser responsável pela adesão lâmina basal (Quadro 19.2).
dermoepidérmica, funciona como suporte para a epiderme,
determina a polaridade do seu crescimento, fornece sinais Outras células epidérmicas
para o seu desenvolvimento, dirige a organização do citoes­ Melanócito
queleto das células basais e serve como barreira semipermeá­ Os melanócitos são células dendríticas derivadas da crista
vel. Sumariamente, essa união é composta pelo polo infe­ neural e produtores do pigmento intrínseco da pele, a mela­
rior da membrana da célula basal e seus hemidesmossomos, nina, que, por sua vez, é responsável pela absorção e difusão
lâmina lúcida, lâmina densa e sublâmina densa (Figura 1.8). da RUV. São vistos predominantemente na camada basal
MC
".

PT PT
Núcleo

Núcleo Núcleo

J T
1
PH MPCB

LL
LO

A 1
PA
B

Fi gura 1.8 A. Células basais. B. Junção dermoepidérmica. MC = membrana celular; T = tonofilamento (citoqueratina); P = placa desmossômica; PT=
proteínas transmembrânicas (desmogleínas 1 e Ili e desmocolinas I, li e Ili) - obs.: desmogleína é um neologismo resultante da associação de desmos­
somo com g/ue (cola); MPCB = membrana plasmática da célula basal; PH = placa hemidesmossômica constituída por PBAg1 (230 kDa) e pledina, PBAg2
(1 80 kDa ou colágeno XVII)* e integrina cr6�4*; Fil =filamento de ancoragem; LL = lâmina lúcida; LD = lâmina densa; FA =fibrilas de ancoragem (colágeno
VII); PA = placa de ancoragem. *Componentes transmembrana.
8 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia

Tem sido demonstrado, in vitro, que os queratinócitos exer­


cem controle sobre a proliferação, diferenciação e atividade
dos melanócitos por fatores mitogênicos, FGF-� e TGF-a.,
e inibidores de mitose, IL-1, IL-6 e TGF-�. Os melanócitos
também sofrem a ação de hormônios (MSH e hormônios
sexuais), mediadores inflamatórios e vitamina D3 produzida
na epiderme. O bronzeamento produzido pelo sol deve-se a
uma excitação da tirosinase pela RUV, levando à formação de
melanossomos maiores e mais numerosos (Capítulo 73, item
Efeitos da radiação ultravioleta sobre a pele).


Células de langerhans e células indeterminadas
Há, ainda, na epiderme, duas outras células dendríticas: as
células de Langerhans, que se coram pelos sais de ouro, e as
f
/
células dendrlticas indeterminadas, que são percebidas apenas
pela microscopia eletrônica.
Figura 1.9 Epiderme: observar os melanócitos (setas). HE, 300 x. A célula de Langerhans é um dos principais componen­
tes do sistema imunológico da pele, sendo responsável pelo
(Figura 1.9), na proporção de 1 melanócito para 10 querati­ reconhecimento, pela internalização, pelo processamento e
nócitos basais. Por meio de seus dendrites, cada melanócito pela apresentação de antígenos solúveis e haptenos presentes
relaciona-se com, aproximadamente, 36 queratinócitos, em na epiderme. Originada na medula óssea, corresponde a 2 a
sua .maioria situados nas camadas basal e suprabasal, para os 8% das células epidérmicas e distribui-se da camada basal à
qua15 transfere o seu pigmento, constituindo, assim, a un d
i ade granulosa, tendo preferência pela posição suprabasal. Não
epidermomelânica (Figura 1.10). Os melanócitos não formam estabelece adesão por meio de desmossomos com os querati­

desmossomos nem nenhum mecanismo especial de adesão nócitos. Na microscopia óptica de rotina, pode ser visualizada
com os queratinócitos e, em condições basais, não proliferam como uma célula de núcleo convoluto e citoplasma claro; na
nem migram; para que haja multiplicação, é necessário um microscopia eletrônica são encontradas pequenas estruturas
estímulo específico, em geral, RUV. Na microscopia óptica, assemelhadas a raquetes, denominadas granulas de Birbeck,
utilizando a HE, são visualizados como células claras com que funcionariam como fagolisossomos (Figura 1. 11). A célula
pequeno núcleo hipercromático. de Langerhans é uma célula processadora-apresentadora de
Embora o número de melanócitos varie de acordo com a antígenos; em seu estágio não ativado tem significativa ação
região anatômica, na cabeça há duas a três vezes mais melanó­ fagocítica, internalizando antígenos e processando-os, o que
citos do que nas demais regiões, excetuando-se o saco escrotal, pr�voca transformações que a fazem perder o potencial fago­
e é aproximadamente o mesmo em todas as raças; o que varia cíbco, mas aumenta sua capacidade apresentadora de antígeno
por determinação genética é o número, a morfologia, o tama­ para os linfócitos Te, desse modo, produz uma resposta imu­
nho e a disposição dos seus melanossomos, que são elípticos nológica. As células de Langerhans encontram-se reduzidas
quando produzem eumelanina (marrom ou negra) e esferoi­
des se produzem feomelanina (amarelo-vermelha), além de
serem maiores na pele negra. Os melanossomos são produ­
zidos continuamente no complexo de Golgi, como organelas
membranosas ovoides, dentro das quais, principalmente pela
ação da tirosinase, ocorre a síntese e armazenamento da mela­
nina; por sofrerem melanização progressiva, são encontrados •

e� quatro estágios (1 a IV), sendo transferidos aos queratinó­


c1tos, onde desempenham sua ação protetora e são degradados
na medida em que essas células se diferenciam.
G

Queratinócitos


• •

:tJ· ·L

• •

---
-

Melanossomos
-
� •

Figura 1.11 Pele - célula de Langerhans. N = núcleo; C = corpúsculos de


Melanócitos
Langerhans ou em •raquete•; G = complexo de Golgi; M = mitocôndrias.
Figura 1.1 O Unidade epidermomel3níca. ME, 28.500 x. (Cortesia da Ora. Mirian N. Sotto.)
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 9

em número em algumas condições, como psoríase, sarcoi­


dose, dermatite de contato e após irradiação com luz UV; neste
último caso, também estão prejudicadas funcionalmente.
Alguns de seus marcadores histoquímicos de superfície são:
ATPase, CDla, CD4, CD45, S-100, HLA-DR/DQ/DP e recep­
tores da fração Fc da IgG e da IgE e C3• Além da epiderme,
as células de Langerhans podem ser encontradas em outros
epitélios (mucosas), órgãos linfoides (baço, timo e linfonodos)
e na derme normal.
As células dendríticas indeterminadas não têm melanosso­
mos nem grânulos de Birbeck, porém há autores que julgam
que essas células possam dar origem a melanócitos ou a células
de Langerhans.

Célula de Merkel
A célula de Merkel, relativamente rara e aparentemente
derivada de uma célula-tronco epidérmica, localiza-se entre
as células basais, às quais está aderida por desmossomos.
Funciona como um tipo de mecanorreceptor de adaptação
lenta em locais de alta sensibilidade tátil; parece ser estimulada
pela deformação nos queratinócitos adjacentes provocada por
contatos externos, respondendo com a secreção de transmis­
sores químicos nas sinapses estabelecidas com as terminações
Figura 1.12 Histologia normal do couro cabeludo. Seta branca = acrotrí­
nervosas livres da junção dermoepidérmica. Em determinadas quio; seta azul= infundíbulo; seta vermelha = glândula sebácea; seta amarela
localizações, organiza-se em estruturas especializadas deno­ = istmo; seta verde = músculo eretor do pelo; setas pretas = bulbo. HE, 150
minadas discos táteis. A célula de Merkel tem núcleo lobulado x. (Cortesia da Ora. Airá Novello Vilar.)
ou oval e citoplasma claro, no qual são encontrados grânulos
osmiófilos produzidos no complexo de Golgi, que contêm
neurotransmissores. Seus marcadores imuno-histoquímicos de Huxley e cutícula; e, finalmente, a haste do pelo, composta
são os filamentos de ck 8, 18, 19 e 20, sendo este último exclu­
por cutícula, córtex e medula (Figura 1.13). A linha de Auber é
sivo desta célula. Na microscopia óptica, a impregnação pela
uma linha imaginária que atravessa a região de maior diâmetro
prata revela os discos de Merkel, que nada mais são que a por­ do bulbo, abaixo da qual está a área de maior atividade mitótica,
ção inferior da célula.
que dá origem à haste e à bainha interna do pelo. Os folículos
pilossebáceos existem em toda a pele, exceto nas regiões palmo­
Anexos cutâneos
plantares e em algumas regiões da genitália, denominadas por
São estruturas que surgem de modificações da epiderme
isso de pele glabra. Apresentam variações regionais; assim, no
ainda na vida embrionária; são elas:folículo pilossebáceo, glân­
couro cabeludo e púbis, os pelos são terminais (grossos), com
dulas sudoríparas e unhas.
glândulas sebáceas também bem desenvolvidas; na face pre­
Folículo pilossebáceo domina o pelo tipo velo ou lanugo (fino), com glândulas muito
desenvolvidas; e, nas extremidades, o predomínio é de pelo tipo
Composto de folículo piloso, glândula sebácea e músculo
velo e glândulas sebáceas muito pequenas.
eretor do pelo, é sempre provido de terminações nervosas; em
O folículo piloso passa, cíclica e permanentemente, por três
algumas regiões (axilas, púbis, mama etc.) desembocam no
fases caracterizadas por modificações na sua porção inferior, o
folículo as glândulas sudoríparas apócrinas.
bulbo, que sofre processo de retração e expansão, e, por isso, é
Folículo piloso. Forma-se na vida embrionária como uma pro­ considerada como a porção transitória do folículo, enquanto a
jeção de queratinócitos modificados (tricócitos) para dentro porção superior é permanente. A fase anágena caracteriza-se
da derme; isso ocorre por influência de células mesenquimais por ter o bulbo e a papila foliculares bem desenvolvidos, com
que, mais tarde, constituem a papila folicular, a se localizar sua extremidade situada na derme profunda ou hipoderme;
na sua porção mais inferior. Funcionalmente, o folículo e sua a matriz, composta apenas de células amplificadoras transi­
papila estabelecem uma relação tão íntima e interdependente tórias, portanto com número limitado de possíveis mitoses,
que podem ser entendidos como uma unidade. Histologica­ encontra-se em plena atividade mitótica, dando origem a uma
mente, é dividido em infundíbulo, que se estende de sua aber­ haste de pelo terminal, em geral grossa e pigmentada. A pró­
i serção do dueto da glândula sebácea; istmo, da
tura (óstio) à n xima fase, a catágena, é quando, aparentemente por sinalização
inserção da glândula sebácea à região da inserção do músculo da papila, as células da matriz e da bainha interna iniciam pro­
eretor do pelo e da protuberância (área de concentração de cé­ cesso de apoptose e interrompem suas mitoses, provocando
lulas-tronco - Figura 1.19); e bulbo, ou porção inferior do folí­ a retração da porção inferior do folículo até o nível da protu­
culo, que, na sua extremidade mais inferior, tem a matriz, res­ berância e da inserção do músculo eretor. A terceira fase é a
ponsável pela produção do pelo e que abraça a papila folicular fase telógena ou de repouso, quando as células da papila, agora
(Figura 1.12). Os melanócitos dispõem-se entre as células da bastante diminuída de volume, parecem emitir sinais capazes
matriz. Transversalmente, observa-se que o folículo piloso é de aumentar a atividade mitótica das células-tronco, presentes
circundado por uma membrana vítrea, acelular, seguida da: na protuberância do folículo, fazendo surgir novo contingente
bainha externa do pelo, também denominada triquilema; bai­ de TAC, responsáveis pela expansão do bulbo e pelo estabe­
nha interna do pelo, constituída por camada de Henle, camada lecimento de uma nova fase anágena (Figura 1.14). No couro
10 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia

Acrotríquio: porção cabeludo do ser humano existem, em média, 100 mil folículos
intraepidérmica do pilosos, que crescem, em média, 0,3 mm por dia; as fases aná­
folículo
gena, catágena e telógena duram, em média, respectivamente,
3 a 6 anos, 2 semanas e 3 meses, o que pode ocasionar uma
lnfundíbulo: porção entre queda de até 70 a 100 fios por dia. Na histologia, é possível
�,,,,,__
a saída na epiderme e
- - º ponto de inserção da encontrar 85 a 90% de pelos anágenos, em torno de 13% de
-

?--""".,<--- glândula sebácea telógenos e menos de 1 % de catágenos. Além da função sen­


sorial, da colaboração na homeostasia térmica, da proteção
...,..,-1--r-;t--- Glândula sebácea aos raios UV e dos aspectos estéticos, os folículos pilosos têm
'/•-r--- Músculo eretor do pelo m
i portância capital no processo de reparação tecidual, fun­
Istmo: porção entre a cionando como reservatório de células-tronco epidérmicas,
:.;.-.."--- glândula sebácea e a presentes na sua protuberância. Em relação aos hormônios
inserção do músculo eretor
--- Membrana basal
andr6genos, os folículos podem ser indiferentes (supercílio,
�-- Protuberância
1-':-'!-
--
Camadade
+ Huxl ey
}
Bainha
região occipital etc.), estimulados positivamente (barba, axilas,
púbis etc.) ou estimulados negativamente (área frontoparietal

ill't--+-
do couro cabeludo).
�'!----+
- - Camada interna
de Henle
Cutícula Segmento Glândula sebácea. Origina-se de uma modificação, ainda na
Medula Inferior fase embrionária, das células-fonte da protuberância do folí­
Bainha externa culo piloso. Sua porção secretória é mais frequentemente po­
Córtex Wobular, constituída, na área central, por células claras, cujo
Bulbo com células citoplasma é espumoso e rico em lipídios, enquanto a parte
Papila folicular da matriz periférica é formada por células basais germinativas. Trata-se
A de uma glândula hol6crina, na qual as células se rompem, li­
berando todo o seu conteúdo; deste, o componente lipídico é
secretado, enquanto as outras estruturas celulares podem ser
recicladas. O sebo é constituído principalmente por esquale­

�;:r.:.:.
'--
Membrana no, colesterol, ésteres do colesterol, ésteres graxos e triglicerídios;
vítrea acelular estes últimos, ao sofrerem ação enzimática das bactérias do
folículo, dão origem aos ácidos graxos livres. O sebo colabora
na formação do manto lipídico com atividade antimicrobia­
na, emulsificadora de substâncias e de barreira protetora. As
glândulas sebáceas estão sob controle de hormônios andróge­
___ Bainha externa
do pelo nos; sua atividade está presente ao nascimento, praticamente
desaparece durante a infância, torna-se plena na puberdade
Camada
e diminui gradativamente pelo resto da vida, paralelamente
de Henle
Bainha ao que ocorre com os níveis séricos do DHEA-S (andrógeno
Camada
interna suprarrenal), que parece ser seu regulador. Eventualmente, as
de Huxley
do pelo

}
glândulas podem desembocar diretamente na superfície da
Cutícula

8
Córtex pele ou apresentar-se em localizações atípicas, como na muco­
Haste do pelo sa oral, onde são identificadas como pequenos pontos amare­
Medula
lados conhecidos pelo nome de grânulos de Fordyce.
Figura 1.13 A. Folículo piloso (corte longitudinal). B. Folículo piloso (corte
transversal). Músculo eretor do pelo. O músculo eretor do pelo é um músculo
liso que emerge da porção superior da derme, logo abaixo da
epiderme, e se insere obliquamente no folículo piloso. Sua ex­
tremidade distal é composta por várias fibras musculares que
se projetam em ramificações ao nível da derme papilar. Acre­
dita-se que na zona de inserção do músculo eretor do pelo,
chamada de bulge, haja células-tronco epiteliais responsáveis
pela regeneração dos folículos, desempenhando um papel crí­
tico no ciclo de crescimento dos folículos pilosos (ver adiante
item Células-tronco e pele). Classicamente, acreditava-se que
cada músculo eretor do pelo se relacionasse com um folículo
piloso. No entanto, alguns estudos recentes sugerem que, na
verdade, a unidade muscular mantém relação com uma uni­
dade folicular inteira, o que gera possíveis evidências quanto

r
à participação do músculo eretor do pelo na secreção do sebo.

Glândula apócrina
Deriva do germe epitelial primário, assim como o folículo
piloso e a glândula sebácea. Durante a vida embrionária, está,
Anágeno Catágeno Telógeno
de modo ni cipiente, amplamente distribuída; entretanto, só se
Figura 1.14 Tipos evolutivos de cabelos. desenvolve nas regiões axilar, genital e periareolar. As glându-
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 11

las mamárias e ceruminosas do conduto auditivo externo e as Matriz Lâmina ungueal


glândulas de Moll (pálpebras) são glândulas apócrinas modi­ Eponíquío Leito ungueal
ficadas. Na puberdade, sob a ação dos hormônios �d �óge­
nos, por ter, assim como a glândula sebácea, grande atividade
da enzima 5a-redutase 1, responsável pela síntese de DHT,
aumenta de volume e entra em atividade, sendo, portanto
andrógeno-dependente. � composta por uma porção secr e
tó­
. . , por
ria, localirada entre a derme e o subcutâneo, constituída
uma camada simples de células cuboidais ou cilíndricas que
diminuem de tamanho ao secretarem parte do seu citoplasma
que é eliminado em conjunto com a membrana plasmática,
constituindo a característica secreção por decapitação. Esta é
pouco abundante, constituída por �rânu los PAS+ d� t�manho Figura 1.1 s Corte longitudinal da unha.
e densidade variáveis (ao cont _ ecrma), de
rário da secreçao
aspecto oleoso, inodoro, mas rica em material orç ânico, 9-�e
bem representados na Figura 1.15. Crescem de maneira con­
é decomposto sob a ação das bactérias da flora cutanea, ongi­
tínua, em média 0,5 a 1,2 mm por semana (Quadro 1.1 e
nando o odor característico dessas regiões. Sua porção ductal
Capítulo 59).
dueto da glândula sebácea, sendo constituído por um� dupla
é mais retificada e desemboca no folículo piloso logo acima do

fileira de células cuboidais, envolvidas por células m1oep1t e­ • Citoqueratinas


liais. Responde a estímulo adrenérgico nervoso ou sérico. Na
imuno-histoquímica são considerados marcadores ap6cnnos . José Wilson Accioly Filho
as enzimas fosfatase ácida, r3-glucuronidase e esterase indoxil e As citoqueratinas (ck), as maiores proteínas estruturais das
a proteína da doençafibrocistica mamária. células epiteliais, incluindo queratinócitos, exibem também a
maior heterogeneidade dentre todas as proteínas de filamen­
Glândula sudorípara écrina tos intermediários. Elas formam uma familia complexa de,
Origina-se, na vida embrionária, de brotame�tos epidér­
micos. Principal responsável pela termorregulaçao do corpo
pelo menos, 30 polipeptídios divididos qu �se iguamente e�tre !
duas subfamllias de genes-filamentos do tipo 1 (cttoqueratinas
humano em decorrência da perda evaporativa de calor, está ácidas) e do tipo li (citoqueratinas básc
são distinguidos uns dos outros pelos pontos i�oelétricos e p�lo
i as). Esses polipeptídios
distribuída por toda a pele, com maior densidade nas regiões
palmoplantares; são entre 2 e 4 milhões de glândulas e sua peso molecular, sendo classificados nume ncame nte.. Ass1:?1
massa total equivale à de um rim. Sua porção secretória loca­ como outros filamentos intermediários, as ck geralmente sao
lira-se na junção dermo-hipodérmica e é composta por células conservadas durante transformação neoplásica quando todos
claras ou secretórias, dispostas na periferia sobre a membrana os outros critérios de identificação da célula já foram perdidos,
basal; células escuras ou mucoides, que recobrem a superfície de forma que, em tumores pobremente diferenciados, sua pre­
dos túbulos secretórios; e células mioepiteliais, localiradas sença pode ajudar no reconhecimento da origem eptelial da
sobre a membrana basal e entre as células claras. O dueto � entre
� o e e� As ck �
malignidade. Uma íntima relação pode ser estabelecida
tem uma porção dérmica e outra epidérmica (acrossiríngio),
� �p1telio
a categoria histológica de um epitélio e s�u padr
desemboca diretamente na superfície da pele e é composto primárias 8 e 18, por exemplo, cara cter 1 , s1mp�es,

pela camada de células cuticulares. Essas gl.a_ndu�as est�o sob


por uma camada externa de células basais e, interna1!1ente,
cação mais apurada dos tumores epiteliais indiferencia�os em
e as ck 5 e 14, epitélio estratificado. Isso facilita uma classifi­
.
controle hipotalâmico por meio de term1naçoes s1mpát1cas de adenocarcinoma (derivado de epitélio simples) ou carcinoma
pinefrina como neurotransmissor; a acetilc�lin� e��ula a
característica única, por utilizarem a acetilcolina, e não nore­ espinocelular (derivado de epitélio estratificado).
No epitélio escamoso estratificado, as ck são sempre expres­
secreção do suor e a contração das células m1oe p1t e
liais, pro­ sas formando pares (um do tipo I com outro do tipo II): um
movendo a sudorese, que atinge, em média, 100 mL/dia em
o par ck 1 e 10 na epiderme é um marcador �e difere�c1�­
par maior (ck 5 e 14) e quatro pares secundários, �os qu�s
uma pessoa bem aclimaizada;t durante exercícios intensos ou

i ot�nico do
em dias de extremo calor pode chegar a 1 a 2 L/h. O suor, ção visto somente nos queratinócitos suprabasais. Em e pitélio
que inicialmente é semelhante a um ultrafiltrado s
plasma, composto por NaCl, K, HC03-, lactato, ureia, amô­
nia e traços de aminoácidos e proteínas, após a reabsorção
de NaCl e HC03- pelas células ductais, dá origem à secreção Quadro1.1 Velocidade de crescimento de pelos e unha.s.
hipotônica que chega na superfície. Pelosdaca� 0,35 mm/dia
Pelos da face 2,1 a3,5 mm/semana
Glândula sudorípara apoécrina
Sobrancelhas 0,16 mm/dia
Recentemente reconhecida, de locali:zação axilar exclusiva­
mente de adultos, compartilha características tanto de glându­ Pelos axilares 0,3 mm/dia
las écrinas quanto apócrinas. Pelos dos braços 1,5 mm/semana
Pelos das coxas 0,2 mm/dia
Unhas Unha dos quirodáctllos 0,086 mm/dia
As unhas são lâminas de citoqueratina que recobrem as Unha do polegar 0,095 mm/dia
últimas falanges, e originam-se na matriz ungueal. Além da
Unha dos pododáctilos 0,004 mm/dia
matriz, devem ser considerados os seguintes componentes:
lúnula, eponfquio, lâmina ungueal, leito ungueal e hiponíquio, Unha do hálux 0,006 mm/dia
12 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia

simples, o par ck 8 e 18 é universal e, em epitélios glandula­


res mistos ou "complexos" (p. ex., glândulas écrinas), as célu­
las basais expressam o par ck 5 e 14, com as células luminais
expressando citoqueratinas de epitélio simples. Já o par ck 6 e
16 não costuma ser expresso na epiderme, porém pode fazê-lo
transitoriamente em um padrão suprabasal em pele caracte­
rizada por regeneração e/ou hiperproliferação (borda livre de
úlceras e cicatrizes, ceratose solar, verruga vulgar etc.).
Com o advento dos anticorpos monoclonais, é possível loca­
lizar as ck in situ no epitélio normal e alterado por processos
neoplásicos, distúrbios de ceratinização etc. Anticorpos mono­
clonais monoespecíficos (para cada ck individual) têm-nos pos­
sibilitado efetuar estudos de histogênese de numerosas neopla­
sias. Merecem destaque especial os tumores de anexos cutâneos
(de origem folicular e glandular) que assim têm sido mais bem
caracterizados nos últimos anos. Na patologia tumoral, anti­ Figura 1.16 Pele - derme. C = fibras colágenas; F = fibra elástica. ME,
corpos anticitoqueratinas de grupo, poliespecíficos, têm sido 28.500 x. (Cortesia da Dra. Mirian N. Sotto.)
empregados como auxílio diagnóstico de neoplasias malignas
indiferenciadas (p. ex., tumores indiferenciados de células fusi­ que predomina na vida embrionária, representa 10% do colá­
formes). Em dermatologia, têm despertado grande interesse geno da vida adulta. O tipo IV compõe as membranas basais,
as alterações no padrão de qualidade das ck na epidermólise inclusive a lâmina densa da junção dermoepidérmica; os tipos
bolhosa simples e na hiperceratose epidermolítica. Tais afecções V e VI são ubíquos, estando presentes na derme em quantidade
parecem ser decorrentes, pelo menos em parte, de alterações das relativamente pequena. O tipo VII é o principal componente das
propriedades dos pares ck 5 e 14 e ck 1 e 1O, respectivamente. fibrilas de ancoragem da junção dermoepidérmica, tendo sido
identificado como o antígeno da epidermólise bolhosa adquirida.
O tipo XVI/localiza-se na porção extracelular dos hemidesmos­
• Derme somos e corresponde ao antígeno penfigoide 2 de 180 kDa.
A derme é uma camada de tecido conjuntivo composta por O colágeno é secretado para o espaço extracelular como
um sistema integrado de estruturas fibrosas, filamentosas e pró-colágeno, que sofre a ação de enzimas (proteases), levando
amorfas, na qual são acomodados vasos, nervos e anexos epi­ à formação de fibras, que se organizam para constituir feixes.
dérmicos. Fibroblastos, histiócitos, células dendríticas e mastó­ Do equihbrio dinâmico da síntese e degradação do colágeno,
citos são suas células residentes, enquanto linfócitos, plasmó­ depende a normalidade do tecido nas situações fisiológicas e de
citos e outros elementos celulares do sangue são encontrados reparação. Tais enzimas são também denominadas metaloprotei­
em número variável e de forma transitória. Sua interação com nases, por conterem um metal. Elas são sintetizadas na forma ina­
a epiderme é fundamental para a manutenção dos dois tecidos; tiva, como proenzimas e dependem de um cátion, em geral ZN,
para adquirir atividade proteolítica. Suas ações são controladas
ambos colaboram na formação da junção dermoepidérmica e
pelos "inibidores teciduais de metaloproteases" (TIMPs, tecidual
dos anexos epidérmicos, assim como no processo de reparação
da pele. A derme pode ser dividida em três partes distintas:
inhibitors MMP). As MMP têm importante papel na remodela­
ção do tecido conjuntivo (turnover e crescimento), assim como
• superficial ou papilar: com grande celularidade e onde pre­ na patogenia de várias doenças. As enzimas envolvidas nesse pro­
dominam finos feixes fibrilares de colágeno dispostos mais cesso degradam os componentes da matriz extracelular e ativam
verticalmente fatores de crescimento, contribuindo para eventos fisiológicos de
• profunda ou reticular: constituída por feixes mais grossos remodelação tecidual como ocorre nos processos de cicatrização,
de colágeno, ondulados e dispostos horizontalmente angiogênese, gravidez e instalação de metástases (Capítulo 3).
• adventicial: disposta em torno dos anexos e vasos e São subdivididas em colagenases (MMP básicas), estromelisinas
constituída de feixes finos de colágeno, como na derme (MMP ácidas) e gelatinases (MMP neutras).
papilar (Figura 1 .16).
Fibras elásticas
Colágeno As fibras elásticas não se coram pelas técnicas rotineiras,
Proteína distribuída amplamente pelos tecidos conjunti­ mas são reveladas pela orceína ou resorcina-fucsina. Estão pre­
vos, corresponde a aproximadamente 75% do peso seco da sentes em quase todos os órgãos em proporções variáveis. Na
derme e provê resistência e elasticidade ao tecido; cora-se bem pele, essas fibras formam uma rede que se estende da junção
pela eosina; suas fibras variam em diâmetro entre 2 e 15 nm dermoepidérmica ao tecido conjuntivo da hipoderme, estando
e apresentam-se em rede ondulada fina, na derme papilar, ou presentes também na parede dos vasos e em torno do folículo
espessa, na derme reticular. Os diversos tipos de colágeno têm piloso; correspondem apenas a 1 a 2% do peso seco da derme
em comum o fato de serem compostos por três cadeiaspolipeptí­ e entremeiam-se com as fibras colágenas. O sistema elástico é
dicas (cadeias alfa), com uma sequência fixa de glicina a cada 3ª composto por três tipos de fibra: as finas fibras oxitalânicas e
posição, intercaladas por dois outros aminoácidos, que, muito eulanínicas, e as fibras elásticas maduras, que são mais espes­
frequentemente, são a prolina e a hidroxiprolina; essa compo­ sas. As fibras oxitalânicas são encontradas na derme papilar,
sição faz com que as três cadeias se entrelacem de modo heli­ dispostas verticalmente a partir da junção dermoepidérmica,
coidal, à semelhança de uma corda, aumentando a resistência e estão conectadas a uma rede horizontal de fibras eulanínicas
da molécula à tração. No ser humano são descritos 28 tipos de na interface entre derme papilar e reticular; essas fibras rela­
colágeno, designados de I a XXVIII. O colágeno tipo I responde cionam-se com a rede de fibras elásticas maduras, também dis­
por 80% do colágeno dérmico do adulto, enquanto o tipo III, posta horizontalmente, que atravessa toda a derme reticular.
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 13

Os três tipos de fibra formam uma trama com funções de Células mesenquimais
ancoragem e de oposição às forças de distensão e compressão. As células mesenquimais primitivas são as únicas existentes
Embora sejam sintetizadas por diversos tipos de célula, n i clu­ ao n
i ício da vida fetal, diferenciando-se em outras células pos­
sive queratinócitos, na pele a principal fonte de fibras elásticas teriormente. Em certas condições patológicas, essas células, de
é ofibroblasto, sendo sua renovação muito lenta. Pela micros­ morfologia dendrítica, são ativadas, dando origem às células
copia eletrônica, verifica-se que as fibras elásticas maduras das linhagens: histiocítica, linfocítica e granulocítica.
são constituídas de microfibrilas com 10 a 12 nm de diâmetro
que se dispõem perifericamente e de uma substância proteica Fibroblastos
amorfa central que é o principal componente, denominada Os fibroblastos são células fusiformes e estreladas, com
elastina. As fibras oxitalânicas são formadas por microfibrilas. núcleo volumoso e citoplasma claro, com retículo endoplasmá­
A elastina é extremamente insolúvel graças às ligações cova­ tico nítido e granular; têm grande ação enzimática, sendo os
lentes complexas dependentes de cobre, denominadas desmo­ principais responsáveis pela síntese e degradação das proteínas
sinas; especula-se que, durante a distensão da fibra, os grupos do tecido conjuntivo e de vários fatores solúveis que funcionam
hidrofóbicos da elastina sejam expostos ao meio aquoso, e que como mensageiros para a epiderme, os vasos e outras células.
a energia para a contração da fibra seja derivada do retorno Formam uma grande família de células que, embora provenien­
desses grupos a sua situação não polar. Tem sido observada tes da mesma célula-tronco mesenquimal, se diferenciam em
atividade de elastase nas bolhas da dermatite herpetiforme e tipos especializados, por suas diferentes funções. Fibroblastos
do penfigoide bolhoso, possivelmente responsável pela dis­
respondem a vários mediadores imunológicos, incluindo IL-1 cx
solução das fibras elásticas e de outras estruturas da junção
e �. que estimulam a síntese de KGF, IL-1 cx e � e IL-8.
dermoepidérmica. As microfibrilas são constituídas por fibri­
linas e têm como função aderir as fibras elásticas às estruturas Células do sistema reticuloendotelial
adjacentes. As duas fibrilinas existentes são sintetizadas por
Os histi6citos/macr6fagos e dendr6citos dérmicos são os repre­
diferentes genes. Mutações no cromossomo 15 (fibrilina 1,
sentantes dérmicos do sistema reticuloendotelial, derivados de
predominante) causa a síndrome de Marfan e no cromossomo
células precursoras da medula óssea. Os histi6citos/macr6fagos
5 (fibrilina 2) causa a aracnodactilia contratura! congênita.
têm capacidade de fagocitar; apresentar antígeno microbicida
Substância fundamental 1 Proteoglicanos e tumoricida; secretar moléculas imunomoduladoras, citoci­
nas e fatores de crescimento; além de dispor de propriedades
eglicosaminoglicanos
hematopoiéticas. Morfologicamente semelhantes ao fibroblasto,
A substância fundamental ou mucopolissacarídio é consti­
são diferenciados por apresentarem, na sua superfície, os antí­
tuída por proteoglicanos. A sua capacidade de inter-relação a
genos CD11 c, CD6 e KiMS. Em algumas condições patológicas,
múltiplos componentes do meio extracelular promove a ade­
originam as células epitelioides e gigantes dos granulomas. Os
rência necessária entre diversas estruturas (células, fibras,
dendr6citos dérmicos são macrófagos apresentadores de antí­
fatores de crescimento, integrinas, água etc.), desempenhando
geno, localizados em maior número nas porções superiores da
papel fundamental na organização e na viabilidade dos tecidos.
derme, principalmente ao redor dos vasos.
Embora correspondam apenas a 0,2% do peso seco da derme,
são capazes de ligar até milvezes o seu volume em água, influen­
ciando o conteúdo de água da derme, a sua compressibilidade e
Mastócitos
Os mast6citos podem ser identificados por seu núcleo arre­
o seu volume. Os proteoglicanos caracterizam-se por terem em
sua composição um eixo proteico ao qual uma ou mais dife­ dondado e pelos abundantes grânulos escuros do seu cito­
rentes cadeias de carboidratos, os glicosaminoglicanos, ligam-se. plasma, que, corados pelo Giemsa e outros métodos, apresen­
Os principais glicosarninoglicanos são ácido hialurônico, sulfato tam metacromasia, isto é, cor diferente do padrão original da
de heparana, sulfato de condroitina, sulfato de queratano e sul­ coloração; essa capacidade está atrelada à presença de muco­
fato de dermatan (condroitina sulfato B). O ácido hialurônico polissacarídios ácidos (Figura 1.17). Os grânulos são de dois
é o único capaz de se apresentar sem estar associado ao eixo tipos: secretórios e lisossomais; os primeiros contêm heparina,
proteico; é o mais simples deles e nunca é sulfatado; predomina histamina, triptase, quimase, carboxipeptidase, fator quimio­
na pele fetal e nos processos de reparação quando é necessário tático para neutrófilos e fator quimiotático para eosinófilo,
facilitar a migração celular; cora-se pelo alcian blue e apresenta enquanto os demais contêm hidrolases ácidas que digerem
metacromasia quando submetido ao azul de toluidina em pH no meio intracelular glicosaminoglicanos, proteoglicanos e
3,0; os outros glicosaminoglicanos são sulfatados em maior ou complexos glicolipídicos. Os mastócitos também são capa­
menor proporção e têm as mesmas propriedades tintoriais que zes de secretar alguns fatores de crescimento, citocinas, leu­
o ácido hialurônico em pH 3,0 ou 0,5. cotrienos e fator ativador de plaqueta. Com esse painel tão
As metaloproteinases da matriz extracelular (colagena­ eclético de produtos, os mastócitos desempenham m i portante
ses, gelatinases, estromelisinas, matrilisina, metaloelastase papel na reparação do tecido, reação de hipersensibilidade
e metaloproteinase da matriz da membrana) são as enzimas do tipo I, defesa contra parasitas, quimiotaxia, na ativação e
responsáveis pela degradação das macromoléculas da matriz proliferação de eosinófilos, promoção da fagocitose, perme­
extracelular. Elas são sintetizadas e secretadas sob a forma abilidade vascular, ação antitumoral (TNF-cx) e angiogênese.
proativada por diversos tipos de células, de especial interesse Originam-se das células-tronco CD34+ da medula óssea, e
o fibroblasto; são cálcio-dependentes e sua produção está sob diferenciam-se em mastócito quando, no tecido, sofrem ação
controle de fatores estimuladores (IL-1, EGF, PDGF, TNF-cx, de fatores produzidos por outras células, como a IL-3. O mas­
RUV) e inibidores (corticoide, TGF-� e ácido retinoico). tócito é encontrado em maior quantidade na derme papilar,
em torno dos anexos e nos vasos e nervos do plexo subpapilar.
Células da derme Em condições patológicas, é possível encontrar na derme célu­
As células da derme são representadas por células mesenqui­ las da série mieloblástica (mielócitos, neutrófilos, eosinófilos)
mais primitivas, fibroblastos, macr6fagos/histi6citos e mast6citos. e da linforreticular (linfócitos T e B).
14 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia

todos provêm da medula espinhal e são mistos, formados por


fibras sensoriais que procedem das raízes dorsais e por fibras
simpáticas provenientes dos gânglios simpáticos. Os nervos
sensitivos são mielínicos e terminam em delicadas arboriza­
ções na papila dérmica ou em torno dos anexos e, às vezes, em
• • conexão direta com a célula de Merkel, menos frequentemente
nos corpúsculos nervosos. Os nervos autônomos simpáticos
são amielínicos e colinérgicos ao inervarem as glândulas sudo­
ríparas écrinas, mas adrenérgicos e colinérgicos quando iner­
vam o músculo eretor do pelo. As sensações táteis, dolorosas
e térmicas ocorrem principalmente ao nível das terminações
livres. A sensibilidade tátil tem distribuição ponteada e apre­
senta diferenças regionais, sendo mais sensíveis o nariz, os
lábios e as extremidades digitais, e menos sensíveis o tronco
e as regiões plantares; é um sentido de adaptação rápida, ou
seja, os estímulos repetidos tornam-se n i eficazes, como ocorre
com o vestuário, cuja percepção deixa de ser identificada. A
sensibilidade térmica é também ponteada, com pontos para o
frio e para o calor, que, porém, não são específicos; também
se adapta facilmente aos estímulos. A sensibilidade dolorosa é
representada pelas sensações de queimadura e de frio; na pri­
meira, a sensação transmite-se por delicadas fibras amedula­
res, enquanto, na segunda, a sensação é transmitida por fibras
Figura 1.17 Pele - mastócito. P = processos citoplasmáticos; M mito­
= sensitivas medulares. A dor reflexa é aquela que procede dos
côndrias; setas = granulas citoplasmáticos envoltos por membrana única, órgãos internos, transmite-se à medula e é percebida no córtex
alguns com estrutura interna lamelar e outros com material elétron-denso. cerebral como se fosse originária na pele do mesmo metâmero.
ME, 45.000 x. (Cortesia da Ora. Mirian N. Sotto.) Os corpúsculos nervosos são estruturas sensoriais organizadas:
corpúsculos de Vater-Paccini, constituídos por lamínulas dispos­
tas concentricamente em torno de um nervo mielínico ramifi­
Vascularização cado, medindo aproximadamente 0,5 mm, sendo órgãos táteis
A rica vascularização sanguínea da pele supera o necessário (pressão) localizados na hipoderme das regiões palmoplantares;
ao seu suprimento metabólico, fato justificado pelo papel que corpúsculos de Meissner, estruturas neuroconectivas formadas
desempenha na regulação da temperatura e da pressão arterial, por uma cápsula conectiva e células nervosas em conexão com
na cicatrização e nos fenômenos imunológicos. Os vasos sanguí­ algumas fibras mielinicas, são espiralados e cônicos, dispostos
neos da derme (arteríolas, capilares arteriais e venosos e vênulas) ao longo das papilas dérmicas, sobretudo nas pontas dos dedos,
estão distribuídos em duas redes horizontais ligadas por vasos detectando as sensações táteis; corpúsculos de Krause, representa­
comunicantes; os vasos perfurantes dos músculos subjacentes dos apenas por espirais de fibras nervosas destinadas à percepção
dão origem ao plexo inferior, no limite com a hipoderme, deste da sensibilidade ao frio, localizados nas áreas transicionais da pele
derivam vasos que ascendem até o plexo superior e outros que com mucosas (lábios, clitóris, glande); corpúsculos de Ruffini, par­
suprem os anexos; oplexo superior ou subpapilar, entre a derme ticularmente numerosos na superfície plantar, consistem em uma
papilar e a reticular, dá origem aos capilares das papilas dérmi­ grande fibra que se ramifica difusamente, entremeando-se com
cas. Cabe destacar, na derme, certos corpos vasculomusculares colágeno; estão relacionados com o calor.
que unem, facultativamente, arteríolas a vênulas diretamente; O prurido é percebido por cerca de 5% das fibras nervo­
os giomos, que se localizam na derme reticular, sobretudo nos sas não mielinizadas, denominadas C. Ramificações destas
dígitos, são ricos em células musculares e têm por finalidade penetram entre os queratinócitos e atuam como terminações
manter a termorregulação e a homeostasia. nervosas livres especificas que se coram para neuropeptídios.
A rede linfática, exclusivamente coletora, n i icia-se nos capi­ Além disso, os queratinócitos expressam vários mediadores
lares linfáticos com fundo cego, presentes na derme papilar, que neurais e receptores como proteases, fator de crescimento
drenam para o plexo subpapilar; estes confluem para vasos cole­ neural, substância P, opioides e seus respectivos receptores que
tores verticais que atravessam a derme reticular e desembocam são responsáveis pelo envio a determinadas regiões do córtex
noplexo linfáticoprofundo, no limite entre derme e hipoderme. A do estímulo que leva à sensação do prurido.
rede linfática é responsável pela reabsorção intersticial do fluido Os nervos sensitivos também desempenham funções efe­
extracelular, de células e moléculas maiores (proteínas, lipídios rentes por meio da secreção de neuropeptídios que atuam
etc.). O fluxo da linfa depende de fatores extrínsecos, comopul­ sobre outras células da pele; dentre estes, destacam-se o peptí­
sação arterial, gravidade e contração da musculatura estriada. dio relacionado com o gene da calcitonina, a somatostatina, a
substância P, a neurocinina A., o peptídio intestinal vasoativo
Inervação (VIP) e o MSH gama.
A pele é ricamente inervada, contando com milhões de ter­
minações nervosas sensoriais livres que possibilitam a identifi­
cação de diferentes estímulos do ambiente, além de fibras sim­
• Hipoderme 1 Panículo adiposo
páticas autônomas responsáveis pela inervação das glândulas É a camada mais profunda da pele, constituída de lóbulos de
sudoríparas, dos músculos lisos dos vasos sanguíneos e do lipócitos delimitados por septos de colágeno com vasos sanguí­
músculo eretor do pelo. A distribuição dos nervos segue a dos neos, linfáticos e nervos. Os adipócitos, ou células adiposas, que
vasos sanguíneos, com um plexo profundo e outro superficial; se originam da célula mesenquimal, são arredondados e grandes,
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 15

nam de melanoblastos (não formam melanina) provenientes


A pele humana em números
da crista neural, alcançam a epiderme entre o 1ll e 2ll meses,
Superfície 1,8 m2 assim como as células de Langerhans. Os mastócitos surgem
Espessura Até 9mm entre o 311 e 411 meses.
A derme e a hipoderme diferenciam-se a partir do meso­
Peso 9 a 10 kg
derma, sendo n i icialmente representadas por um tecido afi­
Nº células 110 bilhões brilar e amorfo, a substância fundamental, nesse momento
N° glândulas sudoríparas 2 a 2,5 milhões (cerca de constituído quase exclusivamente por ácido hialurônico e por
120/cm2) células mesenquimais primitivas de morfologia dendrítica.
Nº glândulas sebáceas 250.000 (cerca de 15/cm2) No 3° mês de vida, surgem as primeiras fibras argentafins; são
as fibras reticulares ou colágeno li, que podem proliferar no
N2 corpúsculos de Ruffini (r. de calor) 10.000 a 40.000
adulto em determinadas condições patológicas em função da
Nº bulbos terminais de Krause (r. de frio) 100.000 a 240.000 hiperatividade dos fibroblastos (sarcoidose, dermatofibromas,
N°corpúsculos de Vater-Paccini (r. de pressão) 40.000 a 50.000 sarcomas, linfomas etc.); com o correr do tempo, a argirofilia
N° corpúsculos de Meissner (r. de tato) 350.000 tende a desaparecer e surgem os feixes de fibras colágenas. Ao
N°terminações de Merkel (r. de tato) 60.000 mesmo tempo, as células mesenquimais assumem o aspecto
fusiforme dos fibroblastos, que presidem todas as alterações
N2terminações nervosas livres 3 a 4 milhões histoquímicas. Só mais tarde, em torno da 22ª semana, apa­
N° = número; r. = receptores. recem as fibras que se impregnam pela orceína - as elásticas.
No 511 mês, começa a formar-se a hipoderme, em decorrência
contendo em seu citoplasma uma grande quantidade de lipídios; do acúmulo cada vez maior de lipídios no interior de células,
nas colorações usuais que levam xilol, as células apresentam-se que passam, então, a ter uma morfologia arredondada, com o
com grandes vacúolos (o xilol dissolve a gordura), com núcleo núcleo rebatido para a periferia - são os adipócitos.
pequeno e rechaçado para a periferia, sob a forma de uma sela. Os vasos surgem no mesênquima em torno do 311 mês de
Os lipídios são fundamentalmente triglicerídios; também fazem vida, e, n
i icialmente, são do tipo capilar; mais tarde diferen­
parte dessa gordura um pigmento - o lipocrômio , colesterol, - ciam-se em artérias e veias.
As estruturas nervosas começam a aparecer em torno
vitaminas e água. O panículo adiposo, além de ser um depósito
de calorias, protege o organismo de traumas e de variações de da 5ll semana e têm diversas origens: as células de Schwann
temperatura (é um isolante térmico), modela o corpo e permite originam-se da crista neural, enquanto os axônios provêm da
a mobilidade da pele em relação às estruturas subjacentes. medula e dos gânglios posteriores. Aos 4 meses, já estão esbo­
çados os nervos, que, inicialmente, são amielínicos; só mais
tarde surge a mielina.
... Embriologia
A pele origina-se dos folhetos ectodérmico e mesodérmico. ..,. Células-tronco e pele
Do ectoderma derivam as estruturas epiteliais (epiderme,
glândulas, pelos e unhas) e neurais (melanócitos e nervos), Carlos B. Barcaui
enquanto do mesoderma derivam a derme e a hipoderme. Para
maior precisão, os melanócitos derivam da crista neural, que é As células-tronco são um tipo especial de células encontra­
ectodérmica, fato de interesse para a patologia. das no embrião, no feto e no adulto, capazes de se autorreno­
var perpetuamente (enquanto durar a vida do organismo) e,
Existe uma intensa e permanente comunicação entre os
diversos componentes da pele, de tal modo que um sinaliza e sob determinadas circunstâncias ou estímulos, de se diferen­
interfere na diferenciação dos outros, recebendo deles respos­ ciar nos diversos tipos de células especializadas dos tecidos.
tas que interferem no seu próprio desenvolvimento. Diferentemente das células-tronco encontradas no adulto,
No embrião de 5 a 6 semanas, a epiderme está represen­ estudadas desde a década de 1960, as células-tronco embrioná­
tada apenas por uma única camada de células justapostas. rias encontradas na massa celular n i terna do blastocisto (40
Mais tarde, a multiplicação dessas células leva à formação de a 50 dias pós-fecundação - pré-implantação) foram isoladas
duas camadas, a basal e a periderme; esta última é constituída e cultivadas pela primeira vez em 1998. Elas são pluripoten­
por apenas uma fileira de células que, embora detenham tes, ou seja, capazes de dar origem aos mais de 200 tipos de
várias características dos queratinócitos, nunca se ceratini­ células especializadas do organismo, oriundas dos três germes
zam e apresentam microvilosidades em sua superfície, apa­ embrionários (endoderma, mesoderma e ectoderma).
rentemente para aumentar a superfície de troca com o líquido As células-tronco adultas são células raras, altamente indi­
amniótico; ao fim de 6 meses, a periderme se desprende da ferenciadas, encontradas em tecidos diferenciados (especiali­
epiderme propriamente dita. A proliferação celular leva ao zados). São responsáveis pela manutenção da homeostase de
aumento do número das fileiras de células de Malpighi, e, qualquer tecido com poder de autorrenovação. Já foram isola­
em torno do 62 mês, instala-se o processo de ceratinização. das em diferentes tecidos originários dos três folhetos embrio­
Independentemente dessa evolução ceratinocítica, a partir nários, como medula óssea, sangue periférico, córnea, retina,
da camada basal originam-se, em determinados pontos, res­ cérebro, músculo esquelético, polpa dentária, fígado, epitélio
pondendo a estímulos de células mesenquimais, brotos ou do trato gastrintestinal, pâncreas e pele. Até o momento, não
germes epiteliais primários, isto é, amontoados de células que existem evidências de que as células-tronco adultas sejam plu­
começam a invadir o mesênquima; esses brotos dão origem ripotentes, no entanto, são capazes de dar origem a todos os
aos folículos pilosos (3ll e 42 meses), às glândulas sebáceas e elementos de um determinado tecido e, por isso, são chama­
apócrinas (42 mês) e às glândulas écrinas (32 mês). As unhas das multipotentes. Elas apresentam ciclo celular longo e lento,
e os dentes surgem no 32 mês. Os melanócitos, que se origi- provavelmente para conservar seu potencial proliferativo e
16 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia

minimizar as chances de erros de DNA passíveis de ocorrer Camada


durante a replicação. Podem ser estimuladas a proliferar em ' ' • • córnea
resposta à cicatrização e a fatores de crescimento e, frequente­
mente, estão localizadas em áreas bem protegidas, bem vascu­
CD CD CD CD CD CD CD CD } Camada
espinhosa
e granulosa

)í li li li
larizadas e n
i ervadas.
Sob determinadas circunstâncias induzidas laboratorial­
mente, as células-tronco adultas de um determinado tecido
podem dar origem a linhagens celulares de outros tecidos, o \ / \ /
que já foi demonstrado em células-tronco da medula óssea que TAC TAC Camada
basal
se diferenciaram em células neuronais e em células-tronco da
córnea que se diferenciaram em queratinócitos. A essa capa­
cidade das células-tronco de se "reprogramar geneticamente"
de acordo com o ambiente em que se encontram, para dar ori­
gem a tipos celulares especializados de outro tecido, dá-se o
nome de plasticidade, transdiferenciação ou diferenciação não
ortodoxa. Figura 1.18 Unidade proliferativa epidérmica. CT = célula-tronco;TAC =
célula amplificadora transitória (progenitora); CD= célula diferenciada.

• Cinética tecidual
da camada basal expressam níveis mais altos de integrina do
Por ter um ciclo celular lento, a divisão das células-tronco que as outras células basais. A renovação completa da epi­
é um evento relativamente raro e muito bem regulado. Em derme leva 40 a 56 dias.
média, uma das duas células-filhas derivadas de sua divi­ Diferentemente da epiderme interfolicular, que permanece
são deixa o nicho no qual está situada sua progenitora e se em constante estado de autorrenovação, o folículo piloso apre­
transforma em uma célula amplificadora, com potencial senta um comportamento cíclico. Períodos de alta atividade
proliferativo limitado, fadada à diferenciação terminal. As mitótica e de diferenciação celular (fase anágena) são inter­
outras células-filhas permanecem n i diferenciadas, mantendo, rompidos por uma fase de remodelação (catágena), segui­
assim, a fonte para renovação celular do tecido. A multipli­ dos por um período de quiescência (fase telógena), para, em
cação mitótica das células derivadas da célula-mãe, situadas seguida, iniciar novamente seu crescimento.
nos estágios intermediários de maturação, é suficiente para Um grupamento de células epiteliais relativamente indife­
manter o equilíbrio da cinética tecidual normal (crescimento renciadas, denominadas células matriciais, situadas na base do
x diferenciação x morte celular), o que justifica o pequeno bulbo folicular, foi considerado durante muito tempo como
número de células-tronco encontrado, por exemplo, na sendo as células-tronco foliculares. A natureza pluripotencial
medula óssea. dessa população celular foi atribuída à sua capacidade de ori­
As células oriundas das células-tronco, ao deixarem o ginar linhagens celulares distintas (medula, córtex, cutículas,
nicho onde se encontram, tornam-se células amplificadoras camadas de Huxley e Henle), de acordo com sua diferenciação
transitórias (TAC - transit amplifying cells). As TAC apresen­ durante a fase anágena. O papel das células matriciais como
tam potencial proliferativo limitado e quando esse potencial células-tronco foliculares começou a ser questionado quando
esgota-se, elas se tomam pós-mitóticas. Existe uma hierar­ foi demonstrado que o bulbo pode ser gerado a partir das célu­
quia entre as TAC, variando da célula jovem, capaz de várias las da bainha radicular externa (BRE) folicular, após as célu­
divisões, até as células mais maduras, com pouca capacidade las matriciais terem sido totalmente destruídas por raios X ou
exc1sao c1rurgica.
. - . , .

de divisão. Pela dificuldade em se estabelecer um marcador


específico para células-tronco, vários pesquisadores lançaram A pesquisa da cinética celular com radioisótopos aplicada
mão da cinética celular para distinguir as células de ciclo lento ao folículo pilossebáceo levou, em 1990, à descoberta de que
(tronco) das TAC, que se proiferam
l mais frequentemente. as células retentoras de marcação estão restritas à BRE ao nível
Essa marcação geralmente é feita com radioisótopos como a da inserção do músculo eretor do pelo em uma região deno­
timidina tritiada (3HT) ou a bromodeoxiuridina (BrdU), de minada protuberância ou bojo folicular. As células n i diferen­
forma que as células com ciclo lento retêm a marcação por um ciadas da protuberância folicular apresentam atributos m i por­
período maior (4 a 8 semanas). tantes que as caracterizam como células-tronco:
• as células das porções superiores do folículo pilossebáceo,
• Células-tronco da pele n
i cluindo a protuberância, apresentam maior capacidade
de crescimento in vitro quando comparadas a células de
Atualmente, existem evidências de populações residentes outras porções do folículo pilossebáceo e da epiderme
distintas de células-tronco adultas da epiderme interfolicular, • as células, normalmente quiescentes da protuberância,
glândula sebácea, folículo piloso, mesenquimais e melanócito. atravessam um período transitório de proliferação celular
Na epiderme interfolicular, sua localização está relacio­ durante o n i ício da fase anágena ou após serem estimula­
nada com a arquitetura da epiderme, na qual colunas de das (p. ex., por arrancamento da haste pilosa, pela ação de
células hexagonais situam-se justapostas às células basais das ácido retinoico e forbol éster), dando origem às TAC, de
quais elas se originam - unidade proiferativa
l epidérmica ciclo celular rápido
(Figura 1.18). O ni ício da diferenciação terminal dessas células • as células da protuberância são relativamente indiferenciadas
está relacionado com a migração para cima a partir da camada • a aplicação tópica de um agente iniciador tumoral na pele
basal e é caracterizado pela diminuição da expressão de recep­ de murinos, durante o início da fase anágena (quando as
tores de integrinas pela matriz extracelular. As células-tronco células da protuberância folicular estão se dividindo), pro-
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 17

duz um número maior de tumores do que a mesma aplica­


ção durante a fase telógena (quando as células da protube­
rância folicular estão quiescentes).

Partindo-se do princípio de que as células-tronco estão


envolvidas na formação de tumores, esse fato não pode ser
considerado uma mera coincidência e indica que as célu­
las-tronco foliculares podem originar cânceres cutâneos,
n
i duzidos experimentalmente.
O reconhecimento da localização exata das células-tronco
no epitélio folicular levantou a possibilidade de que interações
específicas entre as células-tronco da protuberância e as célu­
las mesenquimais da papila folicular durante o n i ício da fase
anágena pudessem levar à "ativação" das células quiescentes da
protuberância - conhecida como teoria da ativação das células
da protuberância. De acordo com essa teoria, o folículo pilos­
sebáceo reinicia sua fase anágena quando "sinais" da papila
folicular ativam, de maneira transitória, as células quiescentes
Figura 1.19 Protuberância folicular ou bu/ge.
da protuberância de folículos telógenos, resultando na geração
das TAC. As TAC formam um novo germe secundário que,
em conjunto com a papila, formam o novo bulbo folicular. Em murinos, foi demonstrado que as células derivadas das
Conforme a papila é empurrada para baixo pela projeção epite­ células-tronco da protuberância podem dar origem a vários
lial, as células-tronco da protuberância retornam ao seu estado compartimentos do folículo pilossebáceo, incluindo a parte
normal de quiescência. Após um período de intensa prolife­ inferior da BRE, matriz e medula. Esses achados deixam claro
ração, as TAC, de ciclo celular rápido, esgotam seu potencial que as células da protuberância dão origem às células multi­
proliferativo e sofrem uma diferenciação terminal. Isso resulta potentes indiferenciadas da matriz, que são capazes de gerar
na degeneração (catágena) dos dois terços inferiores do folí­ a haste pilosa. Recentemente, foi demonstrado que as células
culo pilossebáceo. Durante a fase catágena, a papila folicular da protuberância expressam o gene da nestina e são capazes
migra para cima e posiciona-se na base do folículo telógeno. de gerar ou fornecer as células endoteliais que constituem os
Essa localização ao lado da protuberância é essencial para o vasos sanguíneos da pele.
reinício de outro ciclo. De todas as teorias até então propostas As células derivadas das células-tronco da protuberância
para explicar a cinética do ciclo folicular, esta é considerada a folicular dão origem não só à haste pilosa, mas também à epi­
mais abrangente e amplamente aceita até o momento. derme, à glândula sebácea (unidade epidermopilossebácea) e
A protuberância folicular, considerada anteriormente um a todo o epitélio cutâneo (Figura 1.20).
mero acidente anatômico, em que se dá a ni serção do músculo Em 2001, as células-tronco mesenquimais da pele foram
eretor do pelo, foi originalmente descrita por Unna (1876) e isoladas pela primeira vez. Elas têm a capacidade de se dife­
por Sthor (1904) com o nome de Der Wulst e, posteriormente, renciar em células da musculatura lisa, adipócitos, condró­
foi chamada de bulge por autores de origem anglo-saxónica. citos, osteócitos, células neuronais e hematopoiéticas. Estão
Essa área protrusa está situada abaixo da abertura do dueto da situadas principalmente na bainha de tecido conjuntivo peri­
glândula sebácea e delimita o final da porção permanente do folicular e na papila e representam o maior reservatório de
folículo piloso. Durante o período embrionário (16 a 18 sema­ células-tronco da pele. Devido a sua localização e abundância
nas), apresenta-se como uma estrutura proeminente, hemis­ na derme, apresentam um grande potencial como fonte autó­
férica, composta por queratinócitos indiferenciados, podendo loga para transplantes.
ultrapassar até mesmo o tamanho do bulbo. Representa o bro­
tamento mais inferior encontrado na face posterior do germe
- - - - - - - - - ._ - - - - -
epitelial primário. Em folículos terminais de adultos, apre­
:
'
- - - - -

\
;

�;-
senta-se como uma zona levemente saliente da bainha radicu­ 2
1

- 1
lar externa, na qual podem ser evidenciadas células epiteliais 1 1
1
.. ..
..
;
' ..
' 1
-

..
com núcleos grandes e claros (Figura 1.19). A protuberância
1
I ' '
'
..

• 1 ,.
.... - ,
'
\
't-
\ I '�
folicular pode apresentar variações morfológicas normais, 1
..

como projeções epiteliais em forma de vilosidades ou brota­ 1 � �


1 1 .., .. ,,
mentos, de tamanho e formato variáveis. Em determinadas
1
- -
..
1 '
condições, como na psoríase e durante a regeneração epidér­ 1 1 o,
mica, também podem ocorrer alterações em sua morfologia.
1
1 '
(: 1
As células epiteliais da BRE ao nível da protuberância foli­ I ·\ � ..
1 I \
'
cular expressam citoqueratinas, moléculas de adesão celular, \
1 I \ \
citocinas e receptores de fatores de crescimento, distintos 1 ' \ \
daqueles encontrados em outras células epidérmicas. Outra t I ' '
1 , 1
1
característica dessa região é o baixo nível da enzima telome­
' 1
1 I
rase,o que indica um baixo n í dice de atividade mitótica. Na \\ I I

sua ultraestrutura, as células encontradas nessa região apre­ \ , ,


,

sentam achados característicos de células indiferenciadas,


como ribossomos abundantes, partículas de glicogênio e orga­
nelas citoplasmáticas esparsas. Figura 1.20 Unidade epidermopilossebácea.
18 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia


Possíveis aplicações das células-tronco gene terapêutico no tecido-alvo e da habilidade de funcio­
namento correto desse gene dentro da célula. A liberação do
Até o momento, o uso de células-tronco para fins terapêuti­ transgene terapêutico pode ser realizada de forma direta no
cos permanece hipotético. Sua utilização ainda é restrita à área organismo, principalmente pela utilização de vírus (p. ex., len­
de pesquisa. Em breve, suas aplicações serão n
i úmeras. tivírus utilizados para transferência de genes para epiderme).
Esse método mostrou-se impreciso e de potencial limitado,
Transplantes terapêuticos 1 Restauração tecidual uma vez que fica restrito a determinados tipos celulares passí­
Por seu enorme potencial proliferativo, os transplantes veis de serem infectados pelo vírus. Outro modo de adminis­
terapêuticos, com a finalidade de restaurar a função vital de tração dos transgenes terapêuticos é pela utilização de células
um órgão por meio da reposição de suas células, constituem vivas (células-tronco, fibroblastos ou linfócitos). Essas células
uma evidente aplicação das células-tronco. Apesar de pare­ são retiradas do organismo, e o transgene é introduzido nelas
cer óbvio, essa aplicação impõe dificuldades técnicas para de forma direta, conforme descrito anteriormente, só que fora
sua realização. Tanto as células-tronco embrionárias quanto do organismo. As células geneticamente modificadas são tes­
as adultas (exceção das células-tronco hematopoiéticas) não tadas, cultivadas e, só então, reintroduzidas no indivíduo. As
podem ser utilizadas diretamente em pacientes. Elas precisam possíveis aplicações na dermatologia desse tipo de terapia são
ser diferenciadas ou modificadas antes de serem clinicamente ilimitadas: vão desde a correção de distúrbios eminentemente
aplicáveis, sobretudo para sua utilização em transplantes tera­ estéticos, como a alopecia androgenética, à cura de neoplasias,
pêuticos. O grande desafio atual é como direcionar essa dife­ colagenoses e genodermatoses. Em particular, alguns traba­
renciação e como controlar a proliferação dessas células após lhos vêm demonstrando bons resultados com a utilização de
elas terem sido implantadas no corpo humano, uma vez que células-tronco adultas derivadas da medula óssea no trata­
elas têm uma enorme propensão à formação de tumores (p. ex., mento da forma recessiva distrófica da epidermólise bolhosa.
teratomas). Além disso, a possibilidade de rejeição desse tipo
de célula pelo organismo receptor é muito grande, o que torna Pesquisa com fármacos e toxinas
necessária uma modulação do sistema imune do receptor e/ou Outra aplicação das células-tronco é a pesquisa farmacoló­
das próprias células-tronco (antígenos MHC classe I). Na der­ gica (medicamentos e toxinas). Atualmente, para uma medi­
matologia, os transplantes terapêuticos viabilizariam de forma cação ser comercializada, passa por diversos testes pré-clíni­
geral a reparação tecidual. Algumas de suas aplicações práticas cos que envolvem a utilização de modelos animais (testes in
seriam o tratamento de grandes queimados, de doenças dege­ vitro com células animais ou in vivo com o próprio animal).
nerativas e de distúrbios estéticos, como a calvície. Nem sempre os resultados obtidos podem ser extrapolados
O transplante de células-tronco hematopoiéticas é um para humanos. Por isso, culturas de células humanas são fre­
modo eficaz de imunoterapia para o tratamento de diver­ quentemente utilizadas. Essas culturas celulares são mantidas
sas doenças graves como deficiências imunológicas congê­ in vitro por longos períodos e, portanto, apresentam caracte­
nitas, leucemias, mieloma múltiplo e outras. Um trabalho rísticas diferentes das células in vivo. Essas diferenças podem
recente demonstrou a remissão completa em pacientes com tornar difícil predizer a ação de um fármaco in vivo. A utili­
psoríase grave submetidos a transplante alogênico de célu­ zação das células-tronco embrionárias após terem sido dife­
las-tronco hematopoiéticas acompanhados por um período
renciadas em um determinado tecido específico apresenta-se
de até 49 meses.
como um modelo muito mais fidedigno das respostas in vivo a
uma determinada substância em teste, além de ser mais barato
Pesquisa em ciência básica e seguro.
As células-tronco embrionárias são a chave para o melhor
entendimento de eventos fundamentais que ocorrem durante
o desenvolvimento do embrião. Possibilitam uma melhor

Aspectos ético-legais das pesquisas
compreensão dos mecanismos que levam à formação de defei­
tos congênitos (p. ex., angiomas) e sua possível prevenção. Por
que envolvem células-tronco
meio da biologia molecular, genes e moléculas, como fatores Trabalhos envolvendo o uso de células-tronco embrio­
de crescimento, envolvidos no desenvolvimento do embrião, nárias n i variavelmente suscitam questões de ordem moral,
podem ser isolados e utilizados posteriormente para induzir a ética, filosófica e religiosa. O questionamento de quando se
diferenciação de células-tronco em laboratório. Isso viabiliza­ dá o início da vida é motivo de polêmica. Para alguns, seria
ria a obtenção de diversos tipos de células especializadas, que durante a fecundação. Para outros, apenas na implantação.
poderiam ser cultivadas. Contudo, apesar das divergências, existe um consenso de que
a vida termina quando cessa a atividade cerebral. Sendo assim,
Terapia genética 1 Sistemas de carreamento terapêutico considerando que o tubo neural é formado 14 dias após a
As células-tronco podem ser utilizadas como veículos para fecundação, é lícito considerar que não existe vida antes desse
carrear genes terapêuticos para determinados tecidos espe­ período. Fundamentada nessa teoria, a maioria dos países que
cíficos. Diferentemente das substâncias terapêuticas que são permitem as pesquisas com células-tronco embrionárias esta­
administradas tradicionalmente, a terapia genética ni duz as belece um imite
l de até 14 dias para sua manipulação, pois até
células do próprio organismo a produzirem o agente terapêu­ essa fase não há vestígio da formação do sistema nervoso no
tico desejado por meio de engenharia genética. O transgene embrião.
terapêutico (novo material genético n i troduzido no paciente) No Brasil, a Lei de Biossegurança, de 2 de março de 2005,
é elaborado a partir de técnicas de biologia molecular com a determina a possibilidade de realização de pesquisas com
finalidade de alterar ou corrigir a função de um gene defeitu­ células-tronco embrionárias desde que sejam realizadas com
oso ou de criar um gene com capacidade de regular a ativi­ embriões excedentes, que não tenham a capacidade de gerar
dade de outros genes. O sucesso potencial da terapia genética um feto e que estejam congelados há mais de 3 anos em clíni­
depende basicamente de dois fatores: da liberação do trans- cas de fertilização assistida. Os embriões só podem ser obtidos
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 19

por meio de doações e com o consentimento dos pais. Não apoptótica, a do FADD (domínio de morte associado ao Fas),
é permitido o comércio dos embriões nem sua produção e que ativa a caspase 8, e uma antiapoptótica, a do TRAF2 (fator
É
manipulação genética. vedada a clonagem terapêutica para 2 associado ao receptor do TNF), que libera NF-KB para o
aplicação em pesquisa reprodutiva. núcleo. A via apoptótica do TNF-ct é proeminente nos linfóci­
tos, porém é consideravelmente suprimida nos queratinócitos
pela ativação do NF-KB. A via do Fas, mediada pelo FADD,

..,. Apoptose e pele ativa a caspase 8 e é muito rara na epiderme normal.

Lucia M. S. de Azevedo • Situações fisiológicas


O fenômeno de apoptose, descrito em 1972, tipicamente A apoptose é fundamental durante a embriogênese, abran­
afeta células n
i dividuais. Há ativação de enzimas que degra­ gendo a implantação, a organogênese, a deleção de vestígios
dam o DNA e proteínas nucleares e citoplasmáticas da própria filogenéticos durante o desenvolvimento e a metamorfose.
célula, fundamentando a analogia "suicídio celular''. Embora a Ao longo da vida, é crucial para a formação, o desenvolvi­
expressão "morte celular programada" seja usada como sinô­ mento e a homeostase do organismo, atuando em diversos
nimo de apoptose, a rigor se aplicaria mais ao seu emprego ori­ processos, como a involução de tecidos hormônio-dependentes
ginal, para descrever o fenômeno de morte celular que ocorre quando privados dos respectivos estímulos hormonais (célu­
em tempos definidos, programados, durante a embriogênese las endometriais durante a menstruação, atresia folicular após
e em etapas fisiológicas ao longo da vida de um organismo. a menopausa, involução da mama após o desmame, atrofia
Em contrapartida, durante um processo patológico esta morte prostática após castração); eliminação de células que não são
celular não teria sido "programada". mais necessárias (neutrófilos na resposta inflamatória aguda,
linf
ócitos ao fim da resposta imune pela privação de citoci­
Apoptose e necrose são tipos distintos de morte celular,
nas); eliminação de células potencialmente nocivas (linfócitos
tanto em relação à morfologia, como nos mecanismos e fun­
autorreativos, células transformadas); manutenção constante
ções. Na necrose, o dano às membranas é acentuado, levando
das diversas populações celulares proliferativas (epitélio das
ao extravasamento de enzimas lisossômicas para o citoplasma
criptas intestinais, epitélio tegumentar etc.).
e digestão da célula, com eiminação
l do conteúdo celular. Em
contraste, a apoptose ocorre quando há um dano irreparável
ao DNA ou às proteínas celulares, que resulta na dissolução
Apoptose e fisiologia cutânea
Nos tecidos que se renovam continuamente, como a pele,
nuclear e fragmentação da célula; embora as organelas e as
há um estreito equilíbrio entre a proliferação, a diferenciação
membranas plasmáticas permaneçam intactas, as células tor­
e a morte celular. A apoptose desempenha um papel crítico na
nam-se inviáveis e são rapidamente fagocitadas sem extrava­
homeostase da cinética cutânea, mantendo a morfologia e a
samento dos seus conteúdos. Depreende-se daí uma distinção
espessura normais da epiderme, além de prevenir a carcino­
m
i portante em relação à indução de resposta inflamatória
gênese e outras doenças. A diferenciação terminal dos que­
no hospedeiro, presente na necrose e ausente na apoptose. A
ratinócitos para alguns autores seria uma forma de apoptose,
necrose é sempre um processo patológico, enquanto a apop­
enquanto para outros seria um processo distinto. A apoptose
tose participa também de inúmeros processos fisiológicos.
éni trínseca ao processo de renovação dos queratinócitos nor­
Apoptose e necrose algumas vezes podem ser induzidas pelos
mais, porém pouco se conhece sobre os mecanismos com os
mesmos estímulos patológicos e podem coexistir.
quais essa população celular utiliza o programa de morte celu­
Em tecidos corados com hematoxiina-eosi
l na, este fenô­
lar para manter a homeostase cutânea. Fatores de crescimento
meno é observado como massas ovais ou arredondadas de
(fator de crescimento neural [NGF], fator de crescimento
citoplasma intensamente eosinofílico com fragmentos de cro­ epidérmico [EGF] e integrinas) estimulam a expressão dos
matina densa, os "corpos apoptóticos", anteriormente conheci­
proto-oncogenes Bcl-2 e Bcl-XL, protegendo os queratinócitos
dos como corpúsculos de Civatte, corpos coloides, necrobiose contra a apoptose prematura durante o processo de migração
de célula única, células sunburn e células disceratóticas. As na epiderme e diferenciação. O processo apoptótico participa
células apoptóticas, além de secretarem fatores solúveis que da fase catágena do ciclo de crescimento do pelo, assim como
recrutam fagócitos, passam a expressar numerosos ligantes na regulação entre distintas populações celulares do folículo
reconhecidos por receptores nos macrófagos, garantindo que piloso. Além das funções de barreira mecânica e de permeabi­
sejam fagocitadas em minutos e degradadas em poucas horas lidade da camada córnea epidérmica, foi proposta uma nova
por enzimas lisossomais, inclusive de células epiteliais. Como função protetora, a de barreira antioxidante, que reduz os estí­
é um processo muito rápido e não provoca resposta inflama­ mulos apoptóticos. O envelhecimento da epiderme humana,
tória, muitas vezes a apoptose não é detectada histologica­ caracterizado pela redução da espessura e proliferação epite­
mente. Entretanto, pode ser detectada por outros métodos: liais, parece estar relacionado com a apoptose mediada pelo
à m
i unofluorescência, a presença de caspases clivadas é um Fas/FasL.
marcador de apoptose; a eletroforese em gel de agarose detecta
facilmente o aspecto "em escada� característico da clivagem
internucleossômica; a coloração com a proteína anexina V
• Situações patológicas
identifica células apoptóticas. A ausência ou o excesso de apoptose estão envolvidos em
Mediadores pró e antiapoptóticos controlam rigorosamente várias doenças. A apoptose é fundamental para a eliminação
etapas cruciais do programa de morte celular, regulando com­ de células com danos irreparáveis do DNA, diretos ou pela
plexas cascatas de sinalização originadas na membrana celu­ produção de radicais livres (radiação, substâncias citotóxicas,
lar, núcleo e citoplasma, tanto em situações fisiológicas, como hipoxia), como as células danificadas pela radiação ultravio­
patológicas. Há duas vias que levam ativamente à apoptose: leta e células neoplásicas, mas também no infarto do miocár­
a via do TNF-ct e a via do Fas. O TNF tem uma via de ação dio e acidente vascular encefálico. Em várias doenças degene-
20 Parte 1 1 Fundamentos da Dermatologia

rativas, como a doença de Alzheimer, doença de Parkinson, de proteínas apoptóticas Bax sobre as Bcl-2 de sobrevivência;
esclerose lateral amiotrófica e retinite pigmentosa, o acúmulo especulou-se que a alteração do meio celular epidérmico pode­
de proteínas alteradas leva à apoptose pelo "estresse do retí­ ria afetar as terminações nervosas intraepidérmicas, desenca­
culo endoplasmático". Em algumas infecções, especialmente deando prurido. Em pacientes com vitiligo demonstrou-se
virais, a apoptose pode ser induzida pelo próprio vírus, como que os queratinócitos da epiderme despigmentada, quando
os adenovírus e o HIV, ou pela resposta imune do hospedeiro, submetidos a trauma por sucção, são mais vulneráveis à apop­
mediada por infócitos
l T citotóxicos, como na hepatite viral. tose do que os da epiderme pigmentada. Em casos de vitiligo
Em tumores e na rejeição a transplantes, a apoptose é mediada induzido pelo contato com derivados fenólicos/cate.cólicos,
por linóc f itos T citotóxicos específicos. A atrofia do parên­ os melanócitos de n i divíduos geneticamente predispostos
quima de órgãos, como pâncreas, parótidas e rins, após a obs­ parecem ser mais vulneráveis à apoptose. Lesões cutâneas de
trução de duetos é relacionada com a apoptose. pênfigo vulgar estão associadas à apoptose mediada pelo Fas.
Na necrólise tóxica epidérmica observa-se apoptose maciça de
Apoptose e doenças tegumentares queratinócitos e postulam-se três mecanismos indutores: (1)
Falhas na apoptose estão associadas a alterações da bar­ via receptores de domínio de morte, pela expressão de Fas e
reira cutânea em doenças genéticas, como as ictioses e a FasL na superfície dos queratinócitos, com ou sem Fas solúvel
eritroceratodermia simétrica progressiva. Durante a diferen­ liberado por linfócitos do sangue periférico; (2) pela liberação
ciação dos queratinócitos, é necessário que eles migrem indi­ de perforina e granzima B por células T CDS+ farmacoindu­
vidualmente, e para tal os desmossomos precisam acoplar-se zidas, em contato íntimo com queratinócitos que expressam
e desacoplar-se dinamicamente. Além disso, as células pro­ MHC-classe I; (3) pela secreção de granulisina por células T
liferadas em excesso ou aquelas danificadas frequentemente CDS+, natural killer (NK) e NKT farmacoinduzidas sem con­
sofrem apoptose e, para que sejam eliminadas, os contatos tato do imunócito com o queratinócito. Nas lesões cutâneas
intercelulares também devem ser desfeitos; proteínas des­ da reação enxerto contra hospedeiro, no lúpus eritematoso
mossômicas são detectadas nas células apoptóticas. A obs­ discoide e no líquen plano, a presença de corpos apoptóticos
trução do dueto pilossebáceo, um dos eventos primordiais é característica, e estes constantemente são recobertos por
na patogenia da acne, está relacionada com a separação imunoglobulinas, principalmente IgM. O processo apoptó­
incompleta entre os corneócitos ductais, devido à redução tico mediado por linfócitos T citotóxicos CDS+ e células NK
da apoptose. A psoríase é a doença cutânea em que mais se envolve duas vias principais distintas: a perforina/granzima e a
demonstraram falhas na regulação da apoptose, em diversas Fas/FasL. Há indícios de que a perforina desempenhe um papel
etapas da sua complexa patogenia. A IL-15, uma citocina da na apoptose dos queratinócitos basais no líquen plano. Em
resposta mi une n i ata, está suprarregulada na pele e sinóvia um subgrupo de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico
de pacientes com psoríase. Ela estimula células T de memó­ observa-se uma falha na eliminação de células apoptóticas nos
ria e mantém a ativação local de células T, em parte por meio linfonodos e na pele, que poderia contribuir para a inflamação
da inibição da apoptose. Os queratinócitos na psoríase, além crônica, participando tanto da gênese como da manutenção
da proliferação e diferenciação anormais, mostram uma dessa doença autoimune. A regulação da apoptose é evidente
resistência à apoptose, relacionada com os níveis aumen­ em diversas situações relacionadas com a exposição à radiação
tados de EGF, NGF e aumento da expressão de n i tegrinas, ultravioleta (RUV). A imunossupressão n i duzida pela RUVB
Bcl-XL e NF-KB. A alteração arquitetural da camada basal envolve a apoptose das células de Langerhans e de células T,
hiperproliferada na psoríase n i terfere na aderência à matriz mediada pelo sistema Fas/FasL. A talidomida parece m i pedir
extracelular dérmica e resulta num tipo especial de apoptose a apoptose de queratinócitos induzida pela RUVB por outros
- anoikis , caracterizado pelo afastamento entre as células,
- mecanismos além da inibição do TNF-a. A 1,25-di-hidroxi­
levando a uma redução acentuada do tempo de renovação vitamina D3 protege os queratinócitos humanos da apoptose
epidérmica. Embora ainda não esteja esclarecida a patoge­ n
i duzida pela RUVB, ativando as vias de sobrevivência MEK/
nia dos queloides, constataram-se diversas anormalidades ERK e PI-3K/Akt e aumentando a relação Bcl-2/Bax e Bad.
na expressão de fatores de crescimento e proteínas da matriz A ação terapêutica da RUVA em diversas doenças do tecido
extracelular, assim como em funções celulares, como pro­ conjuntivo baseia-se na imunomodulação da inflamação e na
liferação e apoptose. Na esclerodermia sistêmica demons­ n
i dução de colagenases e de apoptose. A exposição excessiva
trou-se uma resistência dos fibroblastos à apoptose mediada à RUV, além de alterar o DNA das células epidérmicas, pode
pelo Fase ativação da Akt (proteinoquinase antiapoptótica). desencadear mutações no gene p53, m i pedindo a eliminação,
Há evidências de que a deposição excessiva de matriz extra­ por apoptose, de clones de células aberrantes. Esse seria um
celular na pele, pulmão e outros órgãos, característica da mecanismo de indução do carcinoma espinocelular. Uma via
esclerodermia sistêmica, está ligada a várias citocinas, entre adicional foi identificada no carcinoma basocelular: muta­
as quais o TGF-�, que regula diversas atividades biológicas, ções de genes da via de sinalização Hedgehog provocam uma
como crescimento e diferenciação celular, síntese de matriz n
i ibição de genes apoptóticos e uma ativação de genes antia­
extracelular e apoptose. poptóticos, m i pedindo a eliminação das células danificadas.
Em ratos verificou-se que a ação antiapoptótica do PPAR-� Além disso, tanto o carcinoma basocelular como o espinoce­
contribui para a cicatrização de feridas cutâneas. Células lular expressam fortemente o FasL indutor de apoptose, que
T efetoras e macrófagos expressando FasL podem n i duzir à pode contribuir para que o tumor escape ao ataque das células
apoptose de queratinócitos e à formação da úlcera leishmanió­ m
i unes efetoras. O desequih'brio entre mediadores pró-apop­
tica. A apoptose de queratinócitos induzida pelo interferon-'Y tóticos e antiapoptóticos constitui um fator chave na formação
derivado de linfócitos T CLA+ parece ser um importante e progressão de tumores e resistência a medicamentos. Vários
mecanismo para a n i dução e manutenção do eczema atópico. genes, entre os quais a survivina, a família Bcl-2 e p53 estão
Em pacientes com n i suficiência renal cronicamente submeti­ envolvidos nesses mecanismos. Na senescência, a eliminação
dos à diálise demonstraram-se células apoptóticas nas cama­ de queratinócitos danificados pela RUV está comprometida
das inferiores da epiderme atrófica e predomínio da expressão pela ni ibição da apoptose mediada pela p53. Recentemente
1 1 Pele 1 Função, Estrutura, Fisiologia e Embriologia 21

verificou-se que a p53 regula diretamente a expressão de Toyoda M, Morohashi M. New aspects n
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