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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

Campus Dra. Josefina Demes


Bacharelado em Enfermagem

ESTOMATERAPIA
(ANATOMIA DA PELE)
Profa. Mohema Duarte de Oliveira
Mestre em Epidemiologia FIOCRUZ
Esp. Segurança do Paciente e Qualidade do Cuidado- Sírio
Libanês
INTRODUÇÃO
• O sistema tegumentar ou tegumento é constituído pela
pele e seus anexos: pelos, unhas, mamas, glândulas
sebáceas e sudoríparas.

• O conhecimento sobre sua constituição e função é


essencial para diagnosticar e prognosticar as injúrias
acometidas na pele, avaliar o processo cicatricial e
subsidiar informações importantes para o planejamento
da assistência ao indivíduo com lesão cutânea.
Mamas
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EM RESUMO: AS SEIS FUNÇÕES DA PELE SÃO:
Proteção: a pele atua como barreira física contra microorganismos e outras
substâncias estranhas, protegendo contra infecções e perda excessiva de
líquidos.

Sensibilidade: as terminações nervosas da pele permitem que a pessoa sinta


dor, pressão, calor e frio.

Termorregulação: a pele ajuda a regular a temperatura corporal mediante


vasoconstrição, vasodilatação e sudorese.
Excreção: a pele ajuda na termorregulação, mediante a excreção de resíduos,
como eletrólitos e água.

Metabolismo: a síntese de vitamina D na pele exposta à luz solar, por exemplo,


ativa o metabolismo de cálcio e fosfato, minerais que desempenham um papel
importante na formação óssea.

Imagem Corporal: a pele detalha a nossa aparência, identificando de modo


único cada indivíduo.

Excreção: a pele ajuda na termorregulação, mediante a excreção de resíduos,


como eletrólitos e água.
ANATOMIA DA PELE
• maior órgão do corpo humano

• pode atingir até 2m²

• 8 a 16% do peso corpóreo total

• Continua-se com as membranas mucosas que revestem os


sistemas digestivo, respiratório e urogenital, nos locais onde
estes se abrem para a superfície.

• É constituída de três camadas:

I. a epiderme, mais externa;


II. a derme, segunda camada;
III. e a hipoderme ou tecido celular subcutâneo
ANATOMIA DA PELE
EPIDERME: epitélio pavimentoso estratificado e queratinizado
espessura variável de 0,04 a 1,5 mm
 camada mais externa, composta por três diferentes linhagens
celulares: os queratinócitos, os melanócitos, as células de
Langerhans e as células de Merkel.
A epiderme organiza-se em camadas e, à medida que as mais
superficiais são eliminadas, as camadas mais profundas são
restauradas por divisão celular.
05 camadas:
 germinativa (basal),
 espinhosa,
granulosa,
translúcida.,
córnea.
Camada basal ou germinativa (estrato basal): epitélio com
formato cuboide, que repousa sobre a membrana basal, um
tecido fino, que separa a epiderme da derme papilar.
Responsável pela produção de novas células para a
constante renovação da epiderme, cuja duração acontece em
torno de 15 a 30 dias.
Camada espinhosa : é constituída de cinco a dez camadas
de queratinócitos com formato poliédrico, que se achatam
progressivamente em direção à superfície. Essas células
unem-se entre si e às células basais, por meio dos
desmossomos, cuja função é de resistir a traumas mecânicos.
Camada granulosa: formada de células poligonais
achatadas, com núcleo central e citoplasma preenchido por
grânulos de querato-hialina, que consistem em várias
moléculas de lipídios que atuam como barreira de
permeabilidade entre as células e proteção contra
desidratação.
Camada lúcida (camada de transição): formada de células
achatadas em fileiras simples, translúcidas, e cujas organelas
citoplasmáticas e núcleos foram digeridos por enzimas
lisossomais; apresenta numerosos filamentos de queratina
compactados no citoplasma.
Camada córnea: camada mais externa da epiderme, cuja
espessura varia de acordo com cada região do corpo;
apresenta células anucleadas com um sistema de filamentos
de queratina imerso em uma matriz contínua com maturação
completa dos queratinócitos. Essas células se descamam
facilmente
• A renovação celular da pele inicia-se na camada basal
onde as células irão se dividir mitoticamente até chegar à
camada córnea com o tempo médio de 28 dias, período
que as células basais levam para a eliminação
(descamação).

• Nesse ínterim, também ocorrem, proporcionalmente, a


formação e a descamação da camada córnea. Por esse
motivo, mesmo que um curativo tenha tecnologia mais
avançada, irá soltar-se nesse tempo (de três a quatro
semanas).
ANATOMIA DA PELE
DERME: Tecido conjuntivo
espessa camada que se estende da epiderme até ao tecido
subcutâneo.
1 a 4 mm, conforme a região anatômica, é 15 a 40 vezes maior do
que a da epiderme.
Onde situam-se os anexos da pele, muitos vasos sanguíneos,
vasos linfáticos e nervos.
É rica em nervos sensitivos mielinizados, como o corpúsculo de
Vater-Pacini (pressão), corpúsculos de Meissner (tato), corpúsculos
de Krause (frio), corpúsculos de Ruffini (sensibilidade térmica) e
meniscos de Merkel-Ranvier.

Pode ser dividida em:


I. camada papilar ou perianexal, mais externa,
II. camada reticular, mais interna.
• As fibras colagéneas proporcionam grande força de tensão e
as fibras elásticas conferem flexibilidade à pele. Os plexos
vasculares fornecem sangue para a epiderme, sem a
trespassar.
• O controlo realizado pelo hipotálamo e pelas fibras nervosas
simpáticas sobre o fluxo sanguíneo na derme proporcionam
um mecanismo de termorregulação.
• As terminações nervosas sensoriais da derme mantêm o
indivíduo em contacto com o meio ambiente.
• O componente da derme que mais se destaca é o colágeno,
uma proteína fibrosa, que atua como a principal proteína
estrutural do organismo e é encontrada nos tendões, nos
ligamentos e nos revestimentos dos ossos
ANATOMIA DA PELE
HIPODERME OU TECIDO SUBCUTÂNEO: Tecido adiposo
terceira camada da pele;
células gordurosas - os adipócitos
 armazenar gordura (energia),
isolamento térmico,
proteger e amortecer traumas.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
2.1 MECANISMO DA LESÃO DA PELE
A célula é capaz de dar conta das demandas fisiológicas
mantendo um estado normal chamado de homeostase.
Quando é exposta a estresses fisiológicos mais
excessivos e a alguns estímulos patológicos, ocorre a
adaptação celular com respostas estruturais e funcionais
reversíveis (hipertrofia, hiperplasia, atrofia ou
metaplasia).
excedendo os limites da resposta adaptativa a agentes
lesivos e a estresse, privação de nutrientes essenciais
haverá uma sequência de eventos chamada de lesão
celular, que, a depender da intensidade e da persistência
do estímulo, pode ocorrer morte celular.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
• A morte celular dá-se por:
i. Necrose é uma alteração morfológica depois que a célula
morre, com ação progressiva de enzimas nas células que
sofreram uma lesão letal, o que corresponde à lesão
exógena irreversível. Não conseguem manter a
integridade da membrana plasmática, extravasam seu
conteúdo e podem causar inflamação no tecido adjacente.
ii. Apoptose é a via de morte celular, programada e
controlada intracelularmente, através da ativação de
enzimas que degradam o DNA nuclear e as proteínas
citoplasmáticas. A membrana celular permanece intacta,,
porquanto a célula é eliminada rapidamente, de maneira a
não dar tempo de o seu conteúdo extravasar e causar
uma reação inflamatória.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
CICATRIZAÇÃO

processo fisiológico, dinâmico e complexo, que


ocorre em sequência e sobreposição, com o objetivo
de corrigir o defeito e restaurar a superfície da pele.

03 FASES

PROLIFERTAVIVA REMODELAÇÃO
INFLAMATORIA
OU GRANULAÇÃO
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO DE FERIDAS DE ACORDO COM O
PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO

AGUDAS CRÔNICAS
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
FERIDA AGUDA
• Ferida que persiste até 14 dias depois de intervenção
cirúrgica ou trauma (lesões por corte, queimaduras,
escoriações…)
• Ferida crónica que foi intervencionada, por
desbridamento por exemplo, deverá ser considerada
aguda e manuseada como tal.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
FERIDA CRÔNICA
• Ferida que continua a necessitar de tratamento depois de
seis semanas do seu aparecimento. São exemplos as
úlceras de perna (arteriais, venosas, flebites, celulites,
neoplásicas, neuropáticas), úlceras de pressão, feridas
traumáticas, feridas cirúrgicas, feridas neoplásicas.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
• Todos os tecidos são capazes de se auto-cicatrizarem,
para tal possuem dois mecanismos que permitem este
processo de cicatrização:
Regeneração: processo em que o tecido lesionado é
reposto de células iguais. No homem a completa
regeneração só é possível em algumas células, como as
células epiteliais do fígado;
Reparação: processo em que o tecido lesionado é
substituído por tecido conjuntivo (FIBROSO), dando lugar
a uma cicatriz. No homem é o principal mecanismo pelo
qual ocorre a cicatrização.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO

TIPOS DE
CICATRIZAÇÃO

PRIMEIRA SEGUNDA TERCEIRA


INTENÇÃO INTENÇÃO INTENÇÃO
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
• Cicatrização por primeira intenção – Aproximação dos
bordos da ferida por suturas manuais, agrafos, clips ou
pele plástica. Este tipo de cicatrização pode ser
comprometido pela presença de infeção ou corpos
estranhos.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO

• Cicatrização por segunda


intenção – Feridas com
perdas extensas de tecido e
grandes superfícies. As feridas
são abertas e encerram pelo
processo gradual de
granulação, contração e
epitelização.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
• Cicatrização por terceira intenção Processo que
envolve limpeza, debridamento e formação de tecido de
granulação saudável para posterior coaptação das
bordas da lesão. Complicação de ferida com cicatrização
por primeira intenção.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
• Cicatrização por coberturas biológicas – A cicatrização
ocorre pela aplicação de retalhos livres de pele na
superfície da ferida, ou enxertos de pele e tecido celular
subcutâneo, livres ou pediculados, que podem ser
recolocados para facilitar a cicatrização.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
Fases do processo de cicatrização
• Estas fases geralmente sucedem-se, mas pode haver
uma sobreposição das fases em diferentes localizações
da ferida, bem como o tempo de duração de cada uma
das fases variar de acordo com múltiplos fatores.

Inflamação Granulação Remodelação


VASCULAR
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
Fase vascular - alguns minutos
• Nas feridas crónicas a fase vascular pode estar ausente.
• Este processo é acelerado pela agregação plaquetária e
libertação de vários fatores de crescimento necessários à
reparação da ferida.
• A coagulação é precedida por uma complexa reação em
cadeia denominada de cascata da coagulação que leva à
formação do coágulo, cujo principal constituinte é a
fibrina, capaz de reter outras células sanguíneas.
• Esta secagem gradual leva à formação da crosta da
ferida, ao mesmo tempo que a vasodilatação periférica
começa a ocorrer.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
FASE INFLAMATÓRIA
• primeira etapa do processo cicatricial, em
que, inicialmente, o organismo responde
ao trauma e há uma reação vascular e
inflamatória, seguida de hemostasia, de
remoção de restos celulares e de
microorganismos.
• É a fase em que aparecem os sinais
clínicos da inflamação (edema, eritema,
calor e dor) e as células de defesa
leucocitárias (neutrófilos e macrófagos).
• A fase inflamatória é vital para estimular as
fases seguintes, daí a dificuldade de
cicatrização nos imunodeprimidos.
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
FASE PROLIFERATIVA OU DE
GRANULAÇÃO
• Segunda etapa do processo cicatricial,
• a fase de granulação compreende a
formação de um tecido novo (angiogênese),
com coloração vermelha, brilhante e de
aspecto granuloso, em que se proliferam e
migram os fibroblastos responsáveis pela
síntese de colágeno, seguida da
epitelização, que consiste no fechamento da
superfície da úlcera pela multiplicação das
células epiteliais da borda, diminuição da
capilarização, redução do tamanho da
ferida, através de sua contração, e da ação
especializada dos fibroblastos
2 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
FASE DE MATURAÇÃO OU REMODELAGEM
• Terceira e última etapa do processo cicatricial
• Diminuição da vascularização e pela reorganização das
fibras de colágeno, que leva a uma cicatriz com aspecto
plano, devido à diminuição da migração celular, e com
alteração da coloração de vermelha para róseo/branco
pálido.
• Desta-ca-se também pelo aumento da força tênsil que, no
início, é muito fina e vai se intensificando até ficar espessa.
Ressal-ta-se que essa força tênsil nunca será igual à do
tecido sadio.
3 FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO

Há dois tipos de fatores intrínsecos e extrínsecos à ferida


que interferem diretamente no processo cicatricial:

Locais

Sistêmicos
3 FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO

Nutrição

Hormônios

Idade

Doenças

Medicações sistêmicas

Insuficiências vasculares
3 FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO

• Nutrição: a cicatrização requer um aporte nutricional


adequado. Qualquer déficit nutricional relacionado ao
comprometimento da capacidade de se alimentar, perda
de peso recente, distúrbios da desnutrição e a
supernutrição relacionada à obesidade predispõem ao
desenvolvimento de lesões cutâneas e retardam a
evolução do processo cicatricial.
• Hormônios: presentes nas situações de estresse, os
hormônios podem diminuir a reação inflamatória, inibir a
oferta de leucócitos e a permeabilidade do vaso, o que
compromete a perfusão da ferida, diminui a resposta
imunológica e interfere no processo fisiológico da
cicatrização.
3 FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO

• Idade: nos idosos, a cicatrização tende a ser mais lenta


do que nos jovens, devido a problemas nutricionais,
imunidade, circulação e respiração deficiente, além da
hidratação, que, nessa faixa etária, é comprometida,
entre outros.

• Doenças: doenças autoimunes, anemia e transtornos


hematológicos causam incompetência das veias e
aumentam o risco de infecção, o que contribui para
diminuir a resistência do organismo aos agentes
patológicos.
3 FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO

• Medicamentos sistêmicos: algumas medicações


interferem diretamente no processo cicatricial, como os
anti-inflamatórios, que reduzem a fase inflamatória e
retardam a cicatrização, além dos corticoides, que atuam
imunodeprimindo o paciente, os antineoplásicos, que
interferem na produção de colágeno e na regeneração da
epiderme, entre outros.

• Insuficiências vasculares: o fluxo sanguíneo em


quantidade inadequada diminui a oxigenação tecidual,
retarda e pode estagnar a cicatrização
3 FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO

Edema

Infecção local, necrose e presença


de corpos estranhos

Ressecamento

Extensão e local da ferida

Pressão e técnica de curativo


inadequada

Agentes tópicos inadequados


3 FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO

• Edema: interfere na oxigenação e na nutrição dos tecidos


em formação, impede a síntese do colágeno e a
proliferação celular e reduz a resistência dos tecidos à
infecção.
• Infecção local, necrose e presença de corpos
estranhos: prolongam a reação inflamatória, provocam a
destruição tecidual, inibem a angiogênese, retardam a
síntese de colágeno e impedem a epitelização.
• Ressecamento: estudos apontam que a umidade na
ferida melhora de 35% a 45% o percentual de nova
epitelização.
3 FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO
• Extensão e local da ferida: o comprometimento da perda
tecidual em extensão e profundidade e a localização da
ferida interferem diretamente na duração do processo
cicatricial.
• Pressão e técnica de curativo inadequada: a pressão
contínua sobre a ferida interrompe o fluxo sanguíneo e
impede que ele chegue aos tecidos, e a técnica de curativo
inadequada, como limpezas vigorosas ou o uso de
coberturas secas podem provocar trauma mecânico à lesão.
Isso dificulta ou impede a cicatrização.
• Agentes tópicos inadequados: fármacos tópicos, como
antibióticos, usados indiscriminadamente podem desenvolver
resistência bacteriana, e os corticoides por tempo prolongado
podem provocar reação de hipersensibilidade e retardar a
cicatrização.

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