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Reparo Tecidual

Prof. Nery Oliveira Jr


ATIVIDADE PROLIFERATIVA DO TECIDO

Atividade Proliferativa do Tecido

Os tecidos do corpo são divididos em três grupos com base na

atividade proliferativa das suas células: tecidos em divisão contínua

(células em constante renovação), quiescentes (tecidos estáveis) e tecidos

que não se dividem (tecidos permanentes).


Tecidos em Divisão Contínua

São células que se proliferam por toda a vida, substituindo aquelas que
são destruídas.
Esses tecidos incluem: pele, cavidade oral, vagina e colo uterino; trato
gastrointestinal; vias urinárias, e células da medula óssea e tecidos
hematopoiéticos.
Na maioria desses tecidos, as células teciduais maduras são derivadas de
células-tronco adultas, as quais possuem uma enorme capacidade de
proliferação e cuja progênie pode diferenciar-se em vários tipos celulares.
Tecidos Quiescentes - Estável

Normalmente possuem um baixo nível de replicação; entretanto, as


células desses tecidos podem sofrer rápida divisão em resposta a
estímulos e, portanto, são capazes de reconstituir o tecido de origem.
Nesta categoria, estão as células parenquimatosas do fígado, rins e
pâncreas.
A capacidade regenerativa das células estáveis é mais bem
exemplificada pela capacidade do fígado de sofrer regeneração após
hepatectomia parcial e após lesão química aguda.
Tecidos Permanentes

Tecidos que não se dividem (não têm


capacidade de regeneração).
A esse grupo pertencem os neurônios e
células musculares cardíacas e esqueléticas.
Mecanismos de Regeneração dos Tecidos e Órgãos

REGENERAÇÃO HEPÁTICA

O fígado humano possui uma notável capacidade de regenerar-se,


como demonstrado por seu crescimento após hepatectomia parcial,
que pode ser realizada para a ressecção de um tumor ou para um
transplante hepático de doador vivo
Em humanos, a ressecção de aproximadamente 60% do fígado de
doadores vivos resulta na duplicação do fígado remanescente em torno
de 1 mês.
As partes do fígado que permanecem após hepatectomia parcial
constituem um “minifígado” intacto, que se expande rapidamente,
alcançando a massa do fígado original
A restauração da massa hepática é alcançada sem que haja um novo
crescimento dos lobos que foram retirados na cirurgia.
Em vez disso, o crescimento ocorre por aumento dos lobos que
restaram após a cirurgia, um processo conhecido como crescimento
compensatório ou hiperplasia compensatória.
Matriz Extracelular e Interações Célula-matriz

A regeneração e o reparo dos tecidos dependem não somente da atividade


de fatores solúveis, mas também das interações entre as células e os
componentes da matriz extracelular (MEC).
A MEC regula o crescimento, a proliferação, o movimento e a diferenciação
das células que vivem no seu interior.
A MEC está em constante remodelamento e sua síntese e degradação
acompanham a morfogênese, a regeneração, a cura de feridas, os processos
fibróticos crônicos, a invasão e a metástase de tumores.
A MEC é composta por três grupos de macromoléculas: proteínas,
colágenos e as elastinas que promovem resistência à tensão e retração;
glicoproteínas adesivas, que conectam os elementos da matriz uns aos
outros e às células; e proteoglicanos e hialuronan, que fornecem
elasticidade e lubrificação.
Principais componentes da MEC
O colágeno é a proteína mais comum no mundo animal, constituindo
o arcabouço extracelular para todos os organismos multicelulares.
Sem o colágeno, o ser humano seria reduzido a um aglomerado de
células, interconectado por alguns neurônios. Atualmente, são
conhecidos 27 tipos diferentes de colágenos, codificados por 41 genes
dispersos em pelo menos 14 cromossomos.
ELASTINA, FIBRILINA E FIBRAS ELÁSTICAS

Tecidos como os vasos sanguíneos, a pele, o útero e o pulmão necessitam


de elasticidade para expandir e retrair (flexibilidade) depende das fibras
elásticas.
Morfologicamente, as fibras elásticas consistem em um eixo central feito
de elastina.
Quantidades substanciais de elastina são encontradas nas paredes dos
vasos sanguíneos de grande calibre, como a aorta, assim como no útero, na
pele e nos ligamentos. A rede microfibrilar periférica que circunda o eixo
consiste, em grande parte, em fibrilina.
Cura por Reparo, Formação de Cicatriz e Fibrose

O principal processo de cura ocorre por deposição de colágeno e


outros elementos da MEC, promovendo a formação de uma cicatriz. Ao
contrário da regeneração, que envolve a restituição dos componentes
teciduais, o reparo é uma resposta fibroproliferativa que “remenda”,
em vez de restaurar o tecido.
O reparo pela deposição de tecido conjuntivo inclui as seguintes
características básicas:
Inflamação - é uma reação do organismo a uma infecção ou lesão dos
tecidos.
Angiogênese - mecanismo de crescimento de novos vasos
sanguíneos a partir dos já existentes.
Migração e proliferação de fibroblastos - células de origem
mesenquimática (células-tronco adultas).
Remodelamento do tecido conjuntivo - grupo de tecidos orgânicos
responsáveis por unir, ligar, nutrir, proteger e sustentar os outros tecidos.
Cura de Feridas Cutâneas

A cura de feridas cutâneas é dividida em três fases: inflamação,


proliferação e maturação.
A lesão inicial provoca adesão e agregação das plaquetas, formando
um coágulo na superfície da ferida, levando à inflamação.
Na fase proliferativa, há a formação do tecido de granulação,
proliferação e migração de células do tecido conjuntivo e reepitelização
da superfície da ferida.
A maturação envolve a deposição de MEC, o remodelamento do
tecido e a contração da ferida.
O tipo mais simples de reparo de ferida cutânea é o reparo de uma
incisão cirúrgica limpa não infectada, aproximada por suturas cirúrgicas.
Tal tipo de cicatrização é denominado cura por união primária ou por
primeira intenção.
A incisão provoca a morte de um número limitado de células epiteliais e
células do tecido conjuntivo, bem como ruptura da continuidade da
membrana basal.
A reepitelização para fechar a ferida ocorre com a formação de uma
cicatriz relativamente fina.
O processo de reparo é mais complicado em feridas de excisão que
criam grandes defeitos na superfície da pele, provocando perda excessiva
de células e tecidos.
A cura dessas feridas envolve uma reação inflamatória mais intensa,
formação de abundante tecido de granulação e extensa deposição de
colágeno, levando à formação de cicatriz substancial que geralmente se
contrai, denominada união secundária ou cura por segunda intenção.
Formação do Coágulo Sanguíneo

A ferida causa a rápida ativação das vias de coagulação, que resultam na


formação de um coágulo sanguíneo na superfície da ferida.
Além das hemácias capturadas, o coágulo contém fibrina, fibronectina e
componentes do complemento.
Dentro de 24 horas, neutrófilos aparecem nas bordas da incisão e
migram para o coágulo, usando o arcabouço produzido pela fibrina. Essas
células liberam enzimas proteolíticas que removem os restos necróticos e
bactérias.
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Formação do Tecido de Granulação

Nas primeiras 24 a 72 horas do processo de reparo, os fibroblastos e


as células endoteliais vasculares proliferam e formam um tipo
especializado de tecido chamado tecido de granulação.
O termo deriva de sua aparência granular, rósea e macia, na
superfície das feridas. Por volta de 5 a 7 dias, o tecido de granulação
preenche a área da ferida e a neovascularização atinge seu ponto
máximo.
Formação da Cicatriz

Durante a segunda semana inicia-se o empalidecimento, devido ao


aumento do acúmulo de colágeno na área da ferida e a regressão dos
canais vasculares.
Finalmente, o arcabouço de tecido de granulação original é convertido
em uma cicatriz avascular e pálida.
No fim do primeiro mês, a cicatriz consiste em tecido conjuntivo
acelular destituído de infiltrado inflamatório e recoberto por epiderme
intacta.
Contração da Ferida

A contração ajuda a fechar a ferida diminuindo a lacuna entre suas


margens dérmicas e reduzindo a área de superfície da ferida.
Portanto, esta é uma característica importante na cura por união
secundária.
Fatores Locais e Sistêmicos que Influenciam a Cura de Feridas
Sistêmicos:
- Nutrição - a deficiência de proteína - vitamina C inibem a síntese de
colágeno e retardam a cicatrização.
- Estado metabólico pode alterar a cura de feridas - o diabetes
mellitus.
- Estado circulatório pode regular a cura de feridas - o suprimento
sanguíneo inadequado.
- Hormônios – glicocorticoides - possuem efeitos anti-inflamatórios -
inibem a síntese de colágeno.
Locais:
- Infecção - retardo da cura - resulta em lesão e inflamação persistentes.
- Fatores mecânicos - podem retardar a cura - por compressão dos vasos
sanguíneos e separação das margens da ferida.
- Corpos estranhos - suturas desnecessárias ou fragmentos de aço, vidro, ou
até mesmo osso.
- O tamanho, a localização e o tipo de ferida.
- As feridas em áreas ricamente vascularizadas cicatrizam mais rapidamente
do que aquelas situadas em áreas mal vascularizadas.
- As pequenas lesões incisionais cicatrizam mais rápido e com menor
formação de cicatriz do que as grandes feridas excisionais ou feridas
causadas por traumatismo penetrante.
Aspectos Patológicos do Reparo

As complicações na cura de feridas podem surgir de anormalidades


em qualquer um dos componentes básicos do processo de reparo.
Essas aberrações podem ser agrupadas em três categorias gerais:
(1) formação deficiente da cicatriz,
(2) formação excessiva dos componentes do reparo,
(3) formação de contraturas.
Formação inadequada do tecido de granulação pode levar a dois tipos
de complicações: deiscência da ferida e ulceração.
A deiscência ou ruptura de uma ferida é mais comum após cirurgia de
abdome, sendo devida a um aumento da pressão abdominal (Vômitos,
tosse)
As feridas podem ulcerar em consequência de uma vascularização
inadequada durante a cura - feridas nos membros inferiores de indivíduos
com doença vascular periférica aterosclerótica tipicamente ulceram.
Formação excessiva dos componentes do processo de reparo pode
originar cicatrizes hipertróficas e queloides.
O acúmulo de quantidades excessivas de colágeno pode gerar uma
cicatriz saliente conhecida como cicatriz hipertrófica; quando a cicatriz
cresce além das margens da ferida original, sem regredir, é chamada de
queloide. A formação de queloide parece ser uma predisposição individual
e, por motivos desconhecidos, e é um pouco mais comum em negros.
A contração no tamanho de uma ferida constitui uma parte importante
do processo normal de cicatrização.
Um exagero desse processo origina a contratura e resulta em
deformidades da ferida e dos tecidos circundantes.
As contraturas são particularmente propensas a desenvolver-se nas
palmas das mãos, plantas dos pés e face anterior do tórax.
As contraturas são comumente observadas após queimaduras graves e
podem comprometer o movimento das articulações

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