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Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Centro Acadêmico de Vitória – CAV


Disciplina: Processos Patológicos Gerais

REGENERAÇÃO E REPARO
TECIDUAL

Professora: Silvia Alves


Introdução
LESÕES TECIDUAIS

PROCESSO INFLAMATÓRIO

REGENERAÇÃO REPARO OU
CICATRIZAÇÃO

Regeneração ou cicatrização depende do tipo de tecido, se


parenquimatoso ou conjuntivo.
Definições
REGENERAÇÃO REPARO TECIDUAL

Renovação celular Substituição das


Frequente em células células do tecido
com potencial de lesado pelo tecido
renovação (pele e medula conjuntivo.
óssea)
Visão geral das respostas de cura
após lesão
Regeneração ou Reparo tecidual -
Influenciada por fatores como:

o Tipo de célula ou tecido lesado


o Grau de destruição do tecido de
sustentação
o Gravidade da inflamação
o Fatores de crescimento
Atividade proliferativa do
tecido
• Os tecidos do corpo são divididos em três grupos com
base na atividade proliferativa das suas células:
• 1) Tecidos lábeis – divisão contínua – epitélio
estratificado escamoso da pele, cavidade oral, vagina e
colo uterino, mucosas de revestimento de todos os ductos
excretores das glândulas do corpo, epitélio colunar do
TGI, células da medula óssea e tecidos hematopoieticos.
• 2) Tecidos quiescentes – estáveis (possuem um baixo
nível de replicação) – células parenquimatosas do fígado,
rins e pâncreas, fibroblastos e músculo liso. Esses tipos
de células podem sofrer rápida divisão em resposta a
estímulos – são capazes de reconstituir o tecido de
origem.
Atividade proliferativa do
tecido
• 3) Tecidos permanentes – não se dividem – as células
deixaram o ciclo celular e não podem sofrer divisão
mitótica na vida pós-natal. Ex: neurônios e células
musculares cardíacas e esqueléticas.
Ciclo celular e controle da
replicação celular
Para alcançar a replicação
e divisão do DNA, a
célula passa por uma
sequência de eventos
estreitamente controlados
conhecida como ciclo
celular.
O ciclo celular consiste
nas fases: G1 (pré-
síntese), S (síntese de
DNA), G2 (pré-mitótica) e
M (mitótica).
As células quiescentes,
que não entraram no ciclo
celular, estão
no estado G0.
Fatores de crescimento
• A proliferação pode ser desencadeada por diversos mediadores
químicos, como fatores de crescimento, hormônios e citocinas.

• Fatores de crescimento polipeptídicos têm a função principal de


promover a sobrevivência celular e proliferação. Importantes na
regeneração e cicatrização.

• Muitos dos fatores de crescimento tem efeitos variados, como


estimular a migração, diferenciação e contratilidade celular,
além de aumentar a síntese de proteínas especializadas (p. ex.
colágeno).

• Podem também estimular a função de genes que controlam o


crescimento/proliferação celular.
• Muitos dos fatores de
crescimento envolvidos na
reparação são produzidos
por leucócitos recrutados
para a inflamação ou
ativados no local (durante o
processo inflamatório).

• Outros são produzidos por


células do parênquima ou do
estroma (tecido conjuntivo).
• O mecanismo de atuação
pode ser:
o Autócrino

o Parácrino

o Endócrino
Principais fatores de crescimento e citocinas
A regeneração e o reparo dos tecidos dependem
não somente da atividade de fatores solúveis, mas
também das interações entre as células e os
componentes da matriz extracelular (MEC).
Componentes da Matriz Extracelular
Matriz Extracelular
• Definição: complexo macromolecular dinâmico,
constantemente remodelado e sintetizado localmente.
• Forma uma rede que cerca as células.
• Fornece um substrato para a adesão celular e funciona
como fonte de fatores de crescimento.
• Regula a proliferação, movimento e diferenciação das
células que cerca.
• Sua síntese e degradação acompanha a morfogênese,
regeneração, processos fibróticos crônicos e invasão
por tumores e metástase.
• Aparece em duas formas principais: Membrana basal e
matriz intersticial
Matriz Extracelular
Matriz intersticial: presente entre as células.
• Sintetizado por células mesenquimais (p ex.
fibroblastos).
• Composta de colágenos, fibronectina, elastina,
proteoglicanos, ácido hialurônico, entre outros.

Membrana basal: circunda células epiteliais, endoteliais e


células de músculo liso.
• Forma uma malha em forma de “arame” sob os tecidos
e é constituída por colágeno tipo IV, proteoglicanos e
laminina.
Regeneração celular: O fígado
• O fígado humano possui uma notável
capacidade de regenerar-se, como
demonstrado por seu crescimento
após hepatectomia parcial, que pode
ser realizada para a ressecção de um
tumor ou para um transplante
hepático de doador vivo.
• Em humanos, a ressecção de
aproximadamente 60% do fígado de
doadores vivos resulta na duplicação
do fígado remanescente em torno de
1 mês.
• O crescimento do fígado ocorre por
aumento dos lobos que se restauram
após a cirurgia, um processo
conhecido como crescimento
compensatório ou hiperplasia
compensatória.
O processo de Regeneração
• Quase todos os hepatócitos replicam-se durante a regeneração
hepática após hepatectomia parcial.
• Como os hepatócitos são células quiescentes, eles levam várias
horas para entrar no ciclo celular, progredir para G1 e alcançar a
fase S de replicação do DNA.
• Os hepatócitos quiescentes tornam-se competentes para entrar no
ciclo celular através de uma fase de preparação, que é mediada
principalmente pelas citocinas TNF e IL-6 e por componentes do
sistema complemento.
• Hepatócitos individuais replicam-se uma ou duas vezes durante a
regeneração e retornam, então, ao estado quiescente em uma
sequência de eventos estreitamente regulada, mas os mecanismos
de pausa do crescimento não foram estabelecidos.
Reparo Tecidual: Cicatrização de feridas

FERIDAS DÉRMICAS

• Atingem a epiderme, a • Divide-se em 3 fases:


derme podendo chegar • Fase Inflamatória
até o tecido subcutâneo. • Fase Proliferativa
• O processo final de • Fase de Remodelamento
reparação é o tecido
cicatricial.
• Complexa.
Fases da cicatrização
Fase Inflamatória

• Prepara a ferida para a cicatrização;


• É uma reação natural a qualquer trauma;
• Usualmente dura 24 a 48 horas e se completa em até 2 semanas.
• Inicia-se no exato momento da lesão, com a liberação de substâncias
vasoconstritoras, principalmente tromboxana A2 e prostaglandinas,
pelas membranas celulares.
• O endotélio lesado e as plaquetas estimulam a cascata da coagulação
→ Tampão → Hemostasia
• O coágulo é formado por colágeno, plaquetas e trombina, que servem
de reservatório proteico para síntese de citocinas e fatores de
crescimento, aumentando seus efeitos.
Fases da cicatrização
• A resposta inflamatória se inicia com vasodilatação e aumento
da permeabilidade vascular, promovendo a quimiotaxia
(migração de neutrófilos para a ferida).
• Neutrófilos → produzem radicais livres que auxiliam na
destruição bacteriana e são gradativamente substituídos por
macrófagos.
• Macrófagos → Têm papel fundamental no término do
desbridamento iniciado pelos neutrófilos e sua maior
contribuição é a secreção de citocinas e fatores de
crescimento, além de contribuírem na angiogênese, fibroplasia
e síntese de matriz extracelular.
• Aparecimento dos sinais cardinais da inflamação (rubor, tumor,
calor, dor).
Fases da cicatrização
Fase proliferativa
• É constituída por quatro etapas fundamentais:
o Epitelização
o Angiogênese
o Formação de tecido de granulação
o Deposição de colágeno

• Esta fase tem início ao redor do 4º dia após a lesão e se


estende aproximadamente até o término da segunda
semana.
Fases da cicatrização
• A epitelização ocorre precocemente. Se a membrana
basal estiver intacta, as células epiteliais migram em
direção superior, e as camadas normais da epiderme
são restauradas em três dias.
• A angiogênese é estimulada pelo fator de necrose
tumoral alfa (TNF-α), e é caracterizada pela migração de
células endoteliais e formação de capilares, essencial
para a cicatrização adequada.
• A parte final da fase proliferativa é a formação de tecido
de granulação.
• Tecido de granulação

Função de preenchimento tecidual


para posterior depósito de matriz do
tecido conjuntivo (cicatriz).

Composto por macrófagos, novos


capilares, colágeno, fibroblastos.

Os fibroblastos dos tecidos vizinhos


migram para a ferida, porém precisam
ser ativados para sair de seu estado
de quiescência. São ativados pelo
Fator de Crescimento Derivado de
Plaquetas e pelo TGF-β, que estimula
os fibroblastos a produzirem colágeno
tipo I e a transformarem-se em
miofibroblastos, que promovem
a contração da ferida.
Fases da cicatrização
Fase de remodelamento
• A característica mais importante desta fase é a deposição de
colágeno de maneira organizada, por isso é a mais importante
clinicamente.
• O colágeno produzido inicialmente é mais fino do que o
colágeno presente na pele normal.
• O colágeno inicial é reabsorvido e um colágeno mais espesso
é produzido e organizado ao longo das linhas de tensão.
• A reorganização da nova matriz é um processo importante da
cicatrização.
• Fibroblastos e leucócitos secretam colagenases que promovem
a lise da matriz antiga.
• A cicatrização tem sucesso quando há equilíbrio entre a
síntese da nova matriz e a lise da matriz antiga, havendo
sucesso quando a deposição é maior. A força tênsil só atinge
80% da original da pele após a cicatrização.
Tipos de Cicatrização
 Primeira Intenção → a fenda da ferida é mais
estreita e a destruição tecidual em suas bordas
é menor.
Exemplo: feridas cirúrgicas

 Segunda intenção → a ferida é mais extensa e


tem margens afastadas. Pode haver:

o Grande coágulo
o Infecção associada
Cicatricação por Primeira
Intenção

✓ Rápida
✓ Cicatrizes menores
Cicatrização por Segunda
Intenção
Ferida aberta não-infectada

Ferida aberta infectada


Controle do volume
cicatricial
• Dependente de estímulos que regulam a
atividade das células responsáveis pela síntese
da matriz extracelular.
• O2 é fundamental para a síntese do colágeno.
• Rápida deposição de matriz extracelular →
cicatrizes menores.
Cicatrização Hipertrófica e Quelóide
Formação excessiva de tecido conjuntivo denso
associado ou não à redução dos mecanismos de
degradação da matriz extracelular.

Cicatriz Quelóide
Hipertrófica

Tumorações.
Tendência a ser
Regressão muito
reversível
lenta ou ausente.
Quelóides
Fatores que influenciam na
Cicatrização
• Locais - isquemia, infecção, técnica cirúrgica, corpo
estranho e edema/pressão tecidual elevada
• Sistêmicos - diabete melito, deficiências
vitamínicas, hipotiroidismo, doenças hereditárias
(Síndrome de Ehler-Danlos, com defeitos na
síntese do colágeno), alterações da coagulação,
idade, trauma grave, queimaduras, sepse,
insuficiência hepática e renal, insuficiência
respiratória, tabagismo, radioterapia, desnutrição e
o uso de corticosteróides, drogas antineoplásicas,
ciclosporina A, colchicina e penicilamina
Leitura básica
• ROBBINS S.L.; CONTRAN, R.S.; ABBAS A.K.
Patologia: bases Patológicas das doenças. 8ª ed. São
Paulo: Elservier, 2010.
• Antonio Carlos Ligocki CAMPOS, Alessandra BORGES-
BRANCO, Anne Karoline GROTH. CICATRIZAÇÃO DE
FERIDAS. Arq Bras Cir Dig, 2007;20(1):51-8

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