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A Aplicação do Princípio da Contaminação no Processo Penal Brasileiro

I) Introdução

O presente trabalho remonta às origens do Princípio da Contaminação, aliado as


contribuições do direito norte-americano que foram consagrados pela legislação pátria.

Ademais, será abordada a aplicabilidade das provas ilícitas por derivação, a disposição
no Código de Processo Penal, juntamente com as mitigações cabíveis apontadas por meio da
construção doutrinária.

Por fim será estabelecida uma conclusão com os apontamentos sobre o referido
princípio ser ou não absoluto e qual é o entendimento majoritário acerca da temática.

II) Aplicação do Princípio da Contaminação

O Direito Processual Penal brasileiro entende pela inadmissibilidade das provas ilícitas,
bem como todas aquelas que derivam do material probatório ilícito, de modo que devem ser
desentranhadas do processo, visto que uma vez declarada a nulidade de um ato são corrompidos
todos os outros que dele dependem.

O referido instituto possui previsão legal no Código de Processo Penal nos artigos 157,
§ 1º CPP e 573, § 1º CPP. No que tange a expressão prova ilegal alcunhada na codificação processual
penal entende-se por um gênero que engloba três espécies distintas de provas, que serão esclarecidas
a seguir:

1 - Prova Ilícitas - são obtidas por meios que ofendem normas materialmente constitucionais, ou
seja, se trata da violação direta ou indireta de princípio ou garantia com previsão na Constituição
Federal.
2 - Provas Ilícitas por Derivação - são provas cuja essência é lícita, porém decorrem exclusivamente
de uma prova ilícita ou de uma situação de ilegalidade, de modo que acabam contaminadas.
3 - Provas Ilegítimas - são aquelas obtidas violando disposições legais, todavia não se tratam de
matéria constitucional, é o caso da ofensa de normas processuais.
A partir da elucidação acerca das espécies de prova ilegal, merece destaque as provas
ilícitas por derivação, que dispõe que um ato nulo contamina outro ato que dele dependa diretamente
ou que lhe seja consequência. Como por exemplo, uma confissão obtida por tortura encontra-se a
res furtiva em razão do que foi confessado, assim também é ilícita.

A contaminação das provas ilegais segue a seguinte lógica: a prova ilícita acaba por
contaminar a derivada, que consequentemente contamina o processo ou o ato isolado, que por fim
contamina o juiz, que dela tomou conhecimento.

Depreende-se da referida disposição legal a aplicação do Princípio da Contaminação,


cuja origem no campo doutrinário ocorreu nos Estados Unidos no julgamento do caso Silverhorne
Lumber & Co. v. United States, em 1920.

Em suma, Frederick Silverthorne e o pai eram donos de uma companhia, de maneira


que foram acusados de sonegação de impostos e levados presos sob tal suspeita. Ocorre que após a
prisão agentes governamentais foram até as respectivas casas dos acusados e obtiverem livros e
documentos referentes à empresa sem qualquer autorização judicial, de modo que todo o processo
se baseou nas provas ilícitas, ainda que o Judiciário soubesse que o procedimento estava eivado de
vícios por ofensas a preceitos constitucionais.

Pai e filho acusados, então pediram pela revisão do julgamento, que pela
inadmissibilidade da fundamentação em provas ilícitas, a sentença foi derrubada pois a Corte
entendeu que a violação do preceito constitucional reduziria a Constituição a mero emaranhado de
palavras.

Assim, a corrente doutrinária foi disseminada mundialmente e consagrada na legislação


brasileira, como já fora apontado no presente trabalho.

Diante do panorama geral sobre a normatização do Princípio da Contaminação, bem


como as raízes doutrinárias e a aplicação legal, passaremos a uma análise pormenorizada do que
está estabelecido no texto processual penal, que entende com base em um consenso com a doutrina
e a jurisprudência, a Teoria da Fonte Independente, que a contaminação possui relação de
exclusividade entre a prova posterior e a anterior que lhe deu origem.
Dessa maneira caso a prova provier de fonte independente, sendo considerada por si só,
seguindo os trâmites próprios da investigação ou instrução criminal, sem que exista qualquer nexo
causalidade entre a prova a ser usada e a situação de ilicitude ocorrida não há que se falar em
contaminação.

Entretanto, a doutrina de Norberto Avena traz em seu texto outras duas exceções a
Teoria da Contaminação, que também se derivam do direito estadunidense que é a Teoria da
Limitação da Contaminação Expurgada, que aborda que apesar da contaminação determinado meio
de prova devido a ilicitude da situação que o gerou, em razão de um acontecimento posterior há a
expurgação da contaminação, permitindo o aproveitamento da prova.

A outra possibilidade de aproveitamento do material probatório é a Teoria da descoberta


inevitável, que entende pela admissibilidade em função da constatação de que inevitavelmente tal
informação seria descoberta por meios legais.

As exceções supracitadas funcionam como mitigação a Teoria da Contaminação, mas a


aplicação pelos Tribunais é feita de maneira extremamente restritiva para que não se ultrapasse a
contaminação, a fim de que de modo algum se torne lícita uma prova ilegal, haja visto que se trata
de uma linha tênue.

Assim, é cristalino que o Estado não pode julgar e condenar pessoas com base na
violação de um direito ou garantia constitucional, tornando inadmissível as provas ilícitas, sejam
elas obtidas na investigação ou nos autos processuais, de qualquer forma devem ser desentranhados
do processo ou procedimento.

III) Conclusão

Com base no panorama estabelecido pela presente dissertação resta claro a


inadmissibilidade de provas ilícitas, haja visto que a obtenção dessa deriva da ofensa de garantias e
direitos constitucionais, por tanto macula toda a sequência de material probatório que dela derivar.

Todavia, cumpre salientar que não se trata de uma vedação absoluta que contempla três
exceções de acordo com a doutrina, porém estão ligadas ao nexo de causalidade quando a prova por
si só não se contamina, podendo ser reaproveitada.
Cumpre ressaltar que a mitigação do princípio está contida em uma linha tênue, para
que uma prova ilícita não venha a ser considerada lícita, porque quando de fato ilegal a prova não
pode ser admitida de modo algum devendo ser desentranhada dos autos ou investigação.

IV) Referência Bibliográficas

SILVERTHORNE Lumber Co. v. United States - 251 U.S. 385, 40 S. Ct. 182 (1920). [S. l.], [2019?].
Disponível em: https://www.lexisnexis.com/community/casebrief/p/casebrief-silverthorne-lumber-
co-v-united-states. Acesso em: 12 abr. 2020.

AVENA, Noberto. Processo Penal. 9ª. ed. [S. l.: s. n.], 2017.

MASI, Carlo Velho. Nulidades na investigação podem contaminar toda a ação penal. [S. l.], 2016.
Disponível em: https://canalcienciascriminais.com.br/nulidades-na-investigacao-podem-
contaminar-toda-a-acao-penal/. Acesso em: 12 abr. 2020.

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