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Esse presente trabalho tem como objetivo apresentar a experiência

escolanovista chamada pedagogia da vida de Jean-Ovide Decroly,


ofereço uma breve introdução da vida do autor e seu método
pedagógico.

Biografia:

Na infância Decroly teve pouco interesse pelo ensino, nascido em 1871


em Rennax na Bélgica foi submetido a dois internatos pelos pais que
alimentavam grande expectativa perante sua educação. Tinha paixão
pela musica, desenho e pelas ciências naturais, e isso culminou mais
tarde na escolha do ramo da medicina.

Na fase de formação Decroly se mostrou muito mais dedicado, assistente


de pesquisa se apaixona pela disciplina ainda experimental de anatomia
patológica e descobre a medicina mental. Desenvolve pesquisas em
doenças mentais e anatomia patológica do cérebro, em 1898 inicia na
policlínica de Bruxelas e logo se vê responsável pelo departamento de
crianças anormais com trauma de linguagem.

Seus dias na clínica foi decisivo em sua pesquisa, Decroly viu de perto a
crueldade em que seus pequenos pacientes viviam, “abandono humano,
social e pedagógico”, muitas vezes vistos como fruto de um pecado e
tratados com vergonha por familiares. A escola não oferecia chance de
tais crianças se desenvolverem, os rotulava como fracassados e os
condenava a marginalização.

A Sociedade da Pediatria lhe propõe o cargo de médico chefe de uma


clinica com objetivo de observar e tratar as crianças ditas anormais, ele
inicia seu trabalho experimental com a condição de criar seus pacientes
como se fossem seus próprios filhos. Desse modo ele observa as
crianças em seu meio natural e as educa com os maiores recursos
possíveis.

Analisando as experiências de vida que teve Decroly vemos o quanto


isso influenciou em seu projeto pedagógico. O autoritarismo dos
internatos que frequentou o fizeram combater tal modelo educacional,
Decroly busca em suas experiências criar um modelo pedagógico
centrado no aluno e na sua preparação para a vida profissional e em
sociedade. A educação tem um papel crucial na vida do indivíduo, ela
deve preparar o indivíduo para viver com sucesso na forma de vida que
escolher.

Decroly é médico, neuropsiquiatra, psicólogo e professor, extremamente


produtivo tem uma grande quantidade de obras publicadas e trabalhos
não publicados. Trago quatro capítulos de seu trabalho como psicólogo:
os estudos da psicogênese, a função da globalização, o interesse e a
expressão.

Psicogenese:

O estudo da psicogênese é o estudo da origem e desenvolvimento dos


processos mentais ou psicológicos, da mente ou da personalidade.
Decroly busca não se limitar a testes psicométricos, ele acredita que eles
são insuficientes para definir com exatidão a capacidade humana de
inteligência, pois não conseguem captar o ser humano em todos os
aspectos. Por ser aplicado em condições artificiais, ser muito pontual
entre outros empecilhos o teste deve ser complementado com
observação e até ceder lugar aos resultados obtidos por ela, sendo o
teste um”minimum psicográfico útil em uma primeira aproximação.

Decroly preferia analisar o indivíduo em sua evolução psicogenética, com


biografias individuais a longo prazo utilizando um diários, fotografias e
filmes. Tais análises se concentram no desenvolvimento das noções de
“cor, de quantidade, de tempo, de idade, da origem da vida, do valor, da
competição, do desempenho”.

A psicogênese de Decroly contém uma riqueza de detalhes do


desenvolvimento do indivíduo, com base em cada personalidade que é
um todo indivisível e irredutível de corpo e pensamento, do sensorial e o
perceptivo, do afetivo e o intelectual. Nas palavras do autor “é a
totalidade do indivíduo que percebe, pensa e age em conjunto”. Por se
aprofundar tanto no particular, tal estudo enfrenta problemas ao passar
para o geral, de ir do singular para a norma.

“As combinações de efeitos psíquicos são, de fato,


tão numerosas, que há muito poucos tipos distintos e
uma multiplicidade de tipos intermediários.” (1922).
Esta constatação põe por terra a noção de média,
portanto de criança mediana, de “criança estatística”,
que regulamenta a organização escolar. Da mesma
forma, ela proíbe as distorções e simplificações o
exame psicotécnico de orientação profissional.”
(DUBREUCQ, 2010. p.18)

Globalização:

A função de globalização: Decroly constata que existe uma sinergia


entre o indivíduo e o meio em que vive, entre aquilo que é inato e o que é
adquirido, a filogênese e a ontogênese. Então de certo modo o
aprendizado do indivíduo se organiza interna e externamente, quando se
leva em consideração tal função a aprendizagem se torna mais fácil.
(DUBREUCQ 2010,p.18-19.)

Segundo Ferrari (2008,p.2) a criança compreende o mundo através de


uma noção de todo e depois tal noção se organiza em partes, partindo do
caos para a ordem. O autor salienta que o modo mais indicado pra
ensinar a ler seria de discursos completos, e não de sílabas e letras
isoladas.

O conceito de globalização é de que não aprendemos nada de forma


isolada, um conhecimento puxa o outro, e se despertarmos o interesse
da criança a aprendizagem se torna mais efetiva. Dubrecq afirma
(2010,p.20) que “um primeiro ensinamento fundado sobre a aquisição
sucessiva de unidades isoladas só pode encontrar o vazio em um
pensamento que trabalha de outra forma.”

A função de globalização trabalha conjuntamente com o interesse, e o


interesse só surge se houver uma necessidade ou estímulo. Nota-se a
importância do papel ambiental para o aprendizado da criança, tais
centros de interesse devem ser preparados para atender a crianças de
idades e ritmos de aprendizagem determinados.

Segundo Matilde (2022) há quatro necessidades naturais fundamentais


ao redor das quais o interesse se manifesta, são elas: alimentação; lutar
contra agressões do meio; defender-se de inimigos e perigos; “agir e
trabalhar de forma solidária, divertir-se e melhorar.” Os centros de
interesse são elaborados tendo essas necessidades como base, e se
organizam em três tipos de exercícios:

O primeiro exercício tem foco na observação de objetos, seres e eventos


e através disso a criança desenvolve os sentidos de maneira que através
do meio a criança realize atividades intelectuais. O segundo exercício é
um processo de associação e coordenação de ideias a respeito do tempo
e do espaço, a relação de causa e efeito, existe ainda um certo nível de
análise comparativa e classificatória e a definição de semelhanças e
diferenças entre um evento e outro. O terceiro exercício é a expressão
daquilo que foi aprendido, esse exercício se manifesta de maneira
concreta (desenhos, musica e outros trabalhos manuais) e abstrata
(tradução de pensamentos em símbolos como números, letras etc).

Para Decroly a educação deve se orientar pelo interesse da criança e


suas necessidades, de modo que seja um aprender espontâneo,
utilizando as necessidades de maneira positiva. Em nosso sistema de
ensino era comum utilizar atividades divertidas como métodos de
controle, até mesmo a atividade física só era realizada se houvesse um
certo nível de obediência por parte da classe, Decroly condena tal
postura, o indivíduo deve se desenvolver nas diversas áreas que lhe
competem sem que uma seja considerada mais ou menos importante do
que outra.

O aluno deve ser o ponto de partida do ensino, sua individualidade deve


ser levada em consideração, de modo que não exista um padrão pré-
estabelecido que define a capacidade intelectual de cada um.

Pode se dizer que uma das principais motivações de Decroly em seu


trabalho era de conseguir educar crianças com problemas de linguagem,
e demonstrar que tal deficiência não determinava a capacidade de
aprendizado do indivíduo. O termo linguagem é comumente reduzido a
palavra articulada e por isso seus pequenos eram ditos deficientes,
Decroly substitui tal termo pela palavra expressão.

Tal termo engloba todo um sistema de signos que


são “‘ao mesmo tempo, físicos, psicológicos e
psíquicos, [...] individual e social […]compreende as
atividades de e da pessoa, de um lado e de outro, a
formulação interior pela qual cada um se apropria de
qualquer informação externa.” (DUBREUCQ
2010,p.22).

A expressão está presente na maneira como movemos o corpo, nos


comunicamos, maneira como escrevemos, como fazemos arte, a
maneira particular e singular que nos impomos no mundo que nos cerca,
limitar tudo isso a manifestações verbais é ignorar grande parte da
maneira como vivemos. Essa é uma das maiores contribuições de
Decroly na educação, o combate a uma base que diz a capacidade geral
do indivíduo analisando apenas uma pequena fatia da vida, inteligência é
muito mais do que ser bom com o verbo, a educação não deve utilizar tal
parâmetro único de avaliação. “A facilidade em todas as formas de
expressão favorece o equilíbrio pessoal durante toda a vida, tanto nos
letrados como nos técnicos.” (DUBREUCQ 2010,p.25)

Referências bibliográficas:

DUBREUCQ, Francine. Jean-Ovide Decroly. Recife: Massangana, 2010.

FERRARI, Márcio. Ovide Decroly: o primeiro a tratar o saber de forma


única. Nova Escola, São Paulo, jul. 2008. Disponível em:
<http://www.virtual.ufc.br/cursouca/modulo_4_projetos/conteudo/unidade
_1/Eixo1-Texto4.pdf >. Acesso em: 27 de fev. de 2023.

MATILDE, María. Os centros de interesse de Decroly. Sou mamãe.


Sevilha, 2010. Disponível em: https://soumamae.com.br/centros-de-
interesse-decroly/. Acesso em: 27 de fev. de 2023.

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