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O processo de invasão e independência do Quênia

Antes da invasão britânica, o que hoje se conhece como Quênia, vivia sob a forma da
agropecuária de subsistência, plantando pouco, em sua maioria o básico para
alimentação própria ou criando animais, o que acabava por contribuir para que a área
possuísse um baixo desenvolvimento econômico.

Com a partilha da África na conferência de Berlim em 1885, o território que já vivia sob
a presença de missionários acabou nas mãos dos britânicos que conferiram inicialmente
o poder de gerência territorial a Companhia Imperial Britânica da África Oriental.

Diferente de outras regiões no continente, o Quênia não provinha de minas em


abundância, assim, de modo a suprir essa ausência, os britânicos voltaram-se para a
exploração comercial feita através do uso de terras e dos portos quenianos. Foram
enviados ao território uma quantidade relativamente baixa de colonos ingleses, ainda
assim, seu impacto rapidamente foi notado. Com o comando britânico uma segregação
foi instalada, as terras, antes pertencentes aos diferentes povos se viu fragmentada.
Cerca de 2 terços dos territórios foram oferecidos aos novos colonos, restando aos
povos que já habitavam a região lutar pela própria sobrevivência com o pouco que
tinham. Somado a isso a ação dos britânicos para com os povos do Quênia se fez através
da aplicação de altos impostos, que acabavam por submetê-los (devido à ausência de
pagamento) a trabalhos forçados e maus-tratos.

Ao mesmo tempo, o governo britânico buscou efetuar uma aliança com líderes locais de
modo a facilitar o processo de dominação. Era oferecido uma série de benefícios aos
mesmos, e os que aceitavam acabam se tornando responsáveis por parte da cobrança de
impostos, assim como por determinada punição aos que causassem problemas aos
britânicos. Estava lançada a semente da discórdia, uma vez que os abusos passavam
agora a vir não somente dos estrangeiros, mas de seu próprio povo.

Pouco a pouco um pensamento reacionário começava a se formar, servindo de base para


que surgissem associações e por seguinte, movimentos. Em 1921, suprindo o desejo por
libertação, a Associação dos Jovens Kikuyus começaram a espalhar ideias de combate,
sobretudo entre os Gikuyus, fomentando entre os povos o anseio por independência.
Não demorou para que as notícias sobre a associação chegassem aos ouvidos britânicos,
que rapidamente tomaram uma atitude, capturando seu líder Thuku, sendo seguido um
tumultuoso julgamento que terminou com o fim da Associação.

Com o começo da segunda guerra muitos quenianos acabaram lutando pela Inglaterra.
Formulava-se em suas mentes o sonho de liberdade ou se não de pelo menos gratidão
por seus esforços concebidos na guerra, contudo, com o fim do conflito a situação de
repressão continuou, o que só serviu para alimentar mais ainda o desejo por mudança.
As ideias já estavam no ar e novas associações surgiram, muitas das vezes sendo
reprimidas logo em seguida, enquanto outras resistiam. Dentre elas a Associação
Central Kikuyu, a União Africana do Quênia, liderada por Jomo Kenyatta (que
futuramente seria detido pelos britânicos) visando uma maior representatividade
africana no legislativo, como também o Exército Terra e Liberdade do Quênia. Somado
a isso surgiria o Movimento mais conhecido na história da independência do Quênia, o
Mau-Mau.

Havia uma clara diferença armamentista entre os membros do Mau Mau e os britânicos,
assim, o que se fazia centrava-se na execução de ataques e fugas rápidas, de modo a
suprir a ausência do armamento. As ações do movimento datam sobretudo a partir de
1952. Tendo começado entre os povos da etnia Kikuyus, o movimento visou a princípio
o ataque aos que consideravam traidores, pessoas dentre os quenianos que haviam
compactuado com os britânicos, partindo depois para os colonos.

Com uma maior influência do movimento, o governo britânico decreta estado de


emergência em resposta as ações do Mau Mau. Como consequência o conflito se torna
mais sangrento, atingindo sem piedade homens, mulheres, idosos e crianças. Qualquer
suspeito de integrar ou compactuar com o movimento era detido por oficiais britânicos,
torturado e muitas das vezes morto. Para melhor controle dos detidos foram criados
campos de concentração.

O combate ao Mau Mau não se fez somente no campo material, mas também
ideológico. Longe de pautar uma imagem de revolucionários, a impressa estrangeira
formulou a narrativa de que os participantes do Mau Mau eram se não terroristas,
moldando uma imagem criminosa do grupo, além de atribuir características como a de
selvagens. Havia também a produção de panfletos pelos britânicos, como também de
filmes que buscavam propagar uma narrativa de terror em torno dos Mau Mau.

Com a morte de um de seus líderes, Dedan Kimith, em 1957, o movimento começa a


decair, tendo sido aplacado no começo dos anos 1960. Ainda assim os movimentos e
rebeliões serviram como motivador e proclamador dos ideais por liberdade quenianos,
que levariam a sua independência no ano de 1963. Jommo Kenyatta, preso
anteriormente, acusado de ser um dos líderes do Mau Mau, é solto em 1960 e exerce um
papel fundamental na independência de seu país, se tornando o primeiro presidente do
Quênia.

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