Você está na página 1de 8

A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE SOCIAL NO ROMANCE O CÍRCULO, DE

ALINA PAIM
Luciana Novais dos Santos *
Nem a flor possui o sol, nem o homem atinge a perfeição – Alina Paim

O presente artigo tem como objeto de estudo o romance O círculo (1965), escrito pela
sergipana Alina Paim, o romance faz parte de uma trilogia, a de Catarina, que se desliza em
uma noite de vigília. É possível observar que neste processo a autora constrói uma
representação da mulher, do ser que muito sofreu para poder se realizar. Com esse intuito,
atentamos para o que chamamos de construção da identidade social, uma vez que a mulher no
contexto da década de 60 também caminhava em busca de uma emancipação, é Catarina
mesmo quem apresenta os questionamentos desta autodefinição.
Ao longo do romance é possível, a partir da verossimilhança, nos depararmos com diversos
anseios, sensações, memórias que podem até ser confundidos com os da própria autora, desde o
discurso que segue na orelha do livro, “Sentir-se realizada é uma expressão muito definitiva e
utópica. Enquanto alguém enxerga possibilidades de aprender e aperfeiçoar-se, ainda está
tentando realizar-se. É o meu caso”, é também o caso de Catarina. Para essa discussão nos
fundamentaremos em Candido, quando trabalha a idéia de forma e conteúdo, sobre a
representatividade da sociedade na literatura, Hall ao trabalhar com a identidade cultural num
diálogo com Butler sobre a identidade feminina.
A autora utiliza alguns recursos do foco narrativo tais como o flash back, em que a memória de
Catarina move o enredo, nessa memória encontramos fatos sociais, conveniências, amores não
vividos, frustrações amorosas, medos, abandono, loucuras, Catarina mãe, amante, louca,
escritora. Tudo está em suas memórias que flutuam durante toda a narrativa, como declara a
autora na epígrafe: “A paixão da memória é um círculo de giz. Quem lhe ocupa o centro é
refém dos mortos e, como eles, cego, surdo, estéril, um gelo. Se queres ser viva, escolhe viver
com os vivos”. Para movimentar estas lembranças que estão guardadas em sua memória
permitem-na esclarecer, buscar respostas para si e para os que dela dependem. Assim,
estruturalmente, a autora trabalha com uma intensa variação temporal, ela se desloca
concomitantemente para o passado, permanecendo no presente. Expressando, representando
uma cultura do deslocamento, descentramento. E quem está fora do centro é a mulher, a
escritora feminina.
Entendemos por identidade cultural o que nos explica Hall (1997, p.08), “as identidades
modernas estão sendo ‘descentradas’, isto é, deslocadas ou fragmentadas”, Corroboramos com
Hall (op.cit., p.36) ao citar O processo de Kafka como exemplo de uma narrativa cujo sujeito,
tanto cartesiano como sociológico, pode ser visto como representante do declínio de valores
humanos da modernidade. A fragmentação desse sujeito é vista aqui a partir do seu
deslocamento na sociedade, pois ele não se fixa como sujeito. Nesses termos, o sujeito ainda é
quem constrói o seu conhecimento, embora esteja sempre dividido, mas é ele quem vivencia a
identidade buscando unificá-la, comprovando assim que buscamos formar identidades ao longo
do tempo.
Apresentamos também as considerações sobre a representação social a partir do texto literário,
uma preocupação constante dos críticos que trabalham por este viés, pois encontramos na
literatura a possibilidade de conhecermos no texto o que o ser humano vivencia. Candido
afirma sobre a comunicação artística que: “a atividade do artista estimula a diferenciação de
grupos; a criação de obras modifica os recursos de comunicação expressiva; as obras delimitam
e organizam o público” (1965, p. 28). Candido nos leva a entender a essencial relação entre arte
e sociedade, e provavelmente um novo conceito de análise literária que fluirá no imbricamento
de forma e conteúdo.
É importante salientar a importância da reflexão do papel da mulher na sociedade, que de
acordo com a temática proposta, buscamos o resgate do percurso da mulher em uma sociedade.
Nesse estudo inserimos as análises referentes ao romance O círculo, que como já fora
anunciado, discute a busca da mulher pela sua realização pessoal, ou seja, a definição de sua
identidade. Essa, contudo se encontra em um processo de revisitação da sua história, a partir do
inconsciente. Sendo assim, a personagem discute o seu lugar e o das demais mulheres que
sofreram repressão em não poder realizar o que tanto desejavam. Isso é apresentado no texto
literário, conforme nos explica Magalhães (2002, p.70),
Nenhuma obra de arte pode ser estudada sem o auxílio da história, pois a verdadeira arte é um fazer história
na medida em que é um refletir do ser social sobre sua própria existência. Não é história porque o autor
resolveu contar o seu tempo, mas porque ele reflete o seu tempo e as possibilidades de ultrapassá-lo .
No romance em estudo temos a apresentação de Catarina tentando ultrapassar a compreensão
do destino da mulher do seu tempo. Encontra e revela fatos relacionados ao silêncio imposto
para a mulher escritora. A discussão apresentada por Alina Paim traz questionamentos acerca
do sujeito feminino frente às atrocidades do abandono familiar e amoroso, a necessidade de ser
aceita intercalada com o desejo de liberdade, as imposições sociais diante dos papéis que
desempenha, Catarina mãe, amante, louca, escritora, mulher, órfã, revela também as crises,
“como me definir, como continuar a viver?”
Com esse intuito o romance aponta para a problemática da identidade do sujeito, nos remetendo
juntamente com Catarina para a busca de uma identidade que reduza e traduza o fosso entre
aquilo que é e o que realmente gostaria de ser. Apontando para os dias atuais, a problemática da
mulher moderna, expõe as contradições da personalidade feminina em que à medida que sofre o
apelo à atividade profissional precisa sentir a vida concomitantemente a maternidade e o
casamento como algo bom, não como obrigação ou ordem divina.
Catarina é uma personagem caracterizada em meados da década de 60, em que a repressão
contra a mulher era muito forte, um controle da inserção/participação da mulher militante na
sociedade. A personagem realmente diferente na perspectiva de Derrida em que Butler retoma
considerando que: “Não é nenhuma diferença particular ou qualquer tipo privilegiado de
diferença, mas sim uma diferencialidade primeira em função da qual tudo o que se dá só se dá,
necessariamente, em um regime de diferenças, e, portanto de relação com a alteridade”.
Dessa forma consideramos que a identidade não é algo pronto, mas é efeito que se manifesta
em um regime de diferenças, de referências. Para Butler a identidade não está por trás de
expressões de gênero, mas é performativamente constituída. Em análise temos como referência
o eu de Catarina que está espalhado por toda a narrativa através de cenas, flashes,
descortinando assim o EU. Seguiremos a discussão conforme o que afirma Butler (1990, p. 24)
“O ‘eu’ é o ponto de transferência daquela repetição, mas simplesmente não é uma asserção
forte o suficiente para dizer que o ‘eu’ é situado; o ‘eu’, esse ‘eu’, é constituído por posições
[...].”
Concebe-se então que o “eu” é um ponto de partida da transferência de si nas diversas posições,
portanto o “eu” torna-se um sujeito do discurso como instrumento de reflexão e até mesmo de
sua capacidade de agir diante da possibilidade de se trabalhar o poder, de um sujeito, da sua
significação. Alocamos Catarina a um processo de ressignificação do seu “eu”, do seu discurso,
buscando uma autodefinição.
Esses questionamentos nos levam a refletir sobre a função do texto literário, principalmente
quando então é questionado, colocado à prova. Ao contrário do que se pode pensar, o texto
literário não é apenas lugar de verdades questionadas, valores, subversão de identidades,
representação e reprodução de discursos, normas. Subversão principalmente através dos textos
escritos por mulheres, pois devido à repressão, ao silêncio, aos anos de distanciamento do
discurso, do poder político, que se encontram os maiores índices de valorização/uso do corpo
num processo de emancipação dos aprisionamentos sociais, patriarcais e convencionais.
Poderíamos ainda nos estender para a discussão do lugar da literatura ou o seu não-lugar.
Quando consideramos que o romance de Alina Paim representa também uma preocupação não
muito discutida da época ao tratar em sua narrativa sobre o deslocamento social, o apagamento
das classes, a crise social das relações humanas causadas muitas vezes por indefinições do
próprio passado. Nesse sentido a autora sergipana constrói uma personagem que está em busca
do sentido da sua própria existência.
Como já fora comentado, os romances O sino e a rosa, A chave do mundo e O círculo contém a
trilogia de Catarina que decorre de uma noite de vigília. O último tem demarcado o tempo
cronológico do amanhecer, no entanto fica claro, evidenciado o fluxo de consciência no qual
Catarina, a protagonista está imersa, pois: “Flutuam o orfanato, o palacete, o hospício, aquela
casa de pensão” (1965, p. 07). Ao leitor fica a possibilidade de fazer este mergulho junto à
personagem que tem uma postura acuada em relação ao tempo; “—Olha pra mim, Catarina.
O tempo é concreto. Tem antenas. O tempo é um pássaro [...] Que é noite? Silêncio? Treva? A
noite é exaspero de sons e luzes” (idem).
Noite e tempo, elementos personificados que ganham domínio sobre a protagonista. A
escuridão da noite, o seu exaspero também são apresentados em relação a um processo de auto-
aceitação, de abandono, permeados por um discurso trágico, embora mergulhado em passagens
das Sagradas Escrituras, fazendo delas até metáfora para a sua própria vida.
As relações amorosas são apresentadas em meio a muitas confusões nas escolhas, como
proibição até para pensar, como no caso de Daniel, ao ler a sua carta a narradora declara que o
diálogo com ele é “como se tu fosses eu mesma” (p.12), ou seja, como se Daniel fosse a sua
memória.
É importante também salientarmos que essa busca incessante de Catarina para se descobrir, em
que se reflete todas as repressões de uma educação patriarcal, de silêncios, sem diálogos, com
imposições de todo tipo, como neste fato: “Quem era eu? Órfã, aluna? Era enjeitada, seria
filha? Gostava de sonhar uma casa, no governo dela uma só mulher e eu, senhora de um afeto
inteiro. No orfanato coexistem dois bandos: freiras e meninas” (p. 15).
Quando Catarina retoma a memória do Orfanato, ela o faz em busca de sua autodefinição,
assim compara esse movimento com a Ressurreição de Jesus Cristo ao declarar: “Morreu
Catarina para Catarina nascer. É a vigília véspera da primavera” (p. 08). É Catarina quem
questiona a sua própria condição de ser, de existir, ela continua vivendo sem saber ao certo para
quê? Por quê?
Essa busca ocorre através de alguns fatos paralelos que podem ser considerados de grande
importância para a narradora, que são o namoro, o hospício, o orfanato, e a chave do mundo.
Esta definida como o “passado que pode ser feito o hoje” (p.11), numa declaração em que cada
indivíduo tem a sua. Quanto ao namoro, são destacados dois fortes e fragmentados
relacionamentos, o de Daniel, declarado platônico e com Maurício como o da consciência
racional (p.13).
Outra vez a razão parece apontar quem é Catarina, os fatos que sucediam os anos de guerra
acompanhando as mudanças das pessoas ao seu redor a levou a perceber que:
Catarina Menezes no topo de um monte de algarismos, de pé sobre cinco anos de caridade. O vestido da
menina de quatorze anos, aquele cor de rosa, vaporoso, quase de princesa, com que ela desceu a escada de
mármore, em sua primeira noite no mundo, lá estava: -- uma quantia. O estudo, multidão de parcelas. Eu –
simples ficha de eficiência de uma Dama de caridade. Enxerguei uma estrada no trabalho, era fugir.
Compreendia com atraso as palavras de Madre Tereza, na véspera da formatura de ginásio. ‘ O exercício de
uma profissão confere maioridade’” (p. 17).
Esse fato suscitou nela uma revolta a fim de conhecer o que existia além dos muros do
orfanato, uma curiosidade invadiu aquela jovem de 18 anos, que era alimentada também pelo
seu sonho, “o de ser escritora” (p.18).
Sair do orfanato implicou estar só, resolver seus próprios problemas, liderar sua própria vida,
ao contrário do que ela vivenciava no orfanato, pois lá todos resolviam tudo o que lhe era
necessário. Até mesmo o questionamento se seria ela uma religiosa, uma vez que Daniel tornar-
se-ia padre. Toda dificuldade foi sustentada pelo desejo de “ser Catarina, de ser gente e não ser
sombra” (p.24), o que implica também o fato de ser escritora. Quanto a essa idéia, encontramos
um interdiscurso com Virgínia Woolf, no romance Mrs. Dallooway ao questionamento: “Por
que morrer? E sobre o que escrever?, talvez sobre verdades veladas” (p. 26, 27), ou sobre os
problemas , indefinições das relações amorosas, tal qual o fez Lya Luft em O silêncio dos
amantes, o qual Alina Paim, no romance em estudo, chamou de círculo, ou sobre o hospício,
sobre o tempo em que passou lá quando acusada de louca, a escritora louca, a então “menina
bicho”, recatada, retida em si mesma, nos “compartimentos selados”, (p.38), ou seja, nos
espaços interiores.
“O hospício é colheita de um vento que eu semeei” (p. 51), apesar da contradição, Catarina
sempre declara um desejo pela liberdade, mas de forma consciente. Percebe-se que no período
do hospício a personagem foi inserida numa condição voltada para o divino em meio a suas
lembranças, relacionadas a um questionamento revoltoso, imerso num desprezo, Catarina e
Deus, “Pequei diante de Ti, de frente, responsável. Não busquei cantos de muros, errei em
campo aberto. Eras grande, tua grandeza me vestia. Criador, criatura. Gostei de conversar
contigo sobre o cordeiro roubado, o desconcerto do mundo, meu desejo de escrever”. (p. 59,
60).
Assim como a sua grande necessidade de ser mulher, amante, mãe, escritora, ou seja, a busca
incansável em ser Catarina,
Que me vai acontecer dentro da blusa de ninhos de abelha? Será que me meti em enxoval? E o noivo? Em
verdade, em verdade, confesso: mais prefiro escrever um livro. Debruçada sobre o papel, de cada ninho em
meu ombro saltará uma personagem, úmida e quente, nascida. Com gotas de chuva ou de mel? (p. 67, 68).
Observamos uma forma de conscientizar-se do papel de ser mãe, metaforizada com a
elaboração de um romance, que Catarina chama de gestação. Ao casamento a protagonista vê a
mulher em uma condição de subida e queda, estar sempre à espera de seu destino. A narradora
enfatiza com esse aspecto as lembranças das palavras, é a escrita tentando entrar em harmonia
com a condição do casamento que para Catarina se realiza com Maurício, o qual está sempre às
voltas de sua memória, “[...] do desejo de nada esquecer, de ter tudo, tudo e tudo, dentro da
memória” (p.104). No romance Maurício aparece em flashes bem distanciados, como se a
personagem não quisesse falar muito sobre a sua realidade.
A cada recordação de Catarina, uma surpresa para o leitor, são os estilhaços de uma identidade
negada como a partir da descoberta do porquê ter ficado tanto tempo no orfanato, nasce uma
revolta ao saber que fora desviada da passagem dos casais sem filhos, que estava sendo
direcionada a ser o que não desejava, ser freira. Além da tentativa de uma imposição de
identidade há também um olhar confuso sobre si, quando: “Olhou o rosto do homem:
sobrancelhas se tocando, os lábios uma linha, respiração suspensa. Soube de repente, que se
olhasse um espelho, teria no rosto dela, ali refletido, uma repetição dos traços dele” (p. 123).
Apreciamos um momento em que a subjetividade da personagem parece ter sido roubada, de
forma que a própria não se reconhece mais por inteiro.
Esse problema da identidade também está representado no diálogo da personagem com outros
romances da autora. É a Catarina que está em busca da Chave do mundo, a partir de um
questionamento sobre o seu mundo, sobre para que estava destinada, uma condição para existir,
por isso “procuro a chave do mundo” (p. 126). Percebemos que essa chave também está
representada pelo ato de escrever, o mesmo que move o enredo, como se fosse um jorrar de
memórias, uma metalinguagem, ou um ensaio sobre o ato e o valor de uma escritora. Encoberta
por uma vergonha e medo “Vais ser romancista ou um logro?” (p.129), o romance é comparado
a um ovo, “Sem clara, sem gema, pura casca violada, berrante de ultraje. Como o ovo, este
romance veio com a promessa de vida, quente e ensangüentado. Destino de vida ou logro?” (p.
129, 130). É a romancista Catarina, que busca sua própria definição, “Serviço de dois – galo e
galinha; serviço de dois: vontade e talento. Terei chocado, em vão?” (p.130). Questionamentos
como esses a colocam em postura de medo, vontade de se esconder, de se anular, pois é
considerada como louca pelo simples desejo de ser escritora.
Essa busca pela identidade abordada neste estudo, não é meramente pelas lembranças de
Catarina, ou pelas memórias, mas também porque a própria autora assim declara angustiar-se
devido a tal indefinição, “Porque me domina a ânsia de afirmar identidades?” a personagem
tem a clareza do objetivo dessa vigília, ela tem consciência do que está a procura, “Quanto já
repeti, noite afora – sou mamãe, sou Catarina, eu sou eu? Descansa, percorro a vigília, a juntar
retalhos de mim mesma, emendando a porcelana que o mundo trincou e o tempo desprendeu
em mil pedaços” (p.158). Nessa busca Catarina se depara com o questionamento de quantas
vezes se nasce, quantas vezes se morre no decorrer de uma vida, “E a identidade, quantas se
possui. A mesma paixão, quantas faces? A verdade, quantas verdades? Um homem, quantos
caminhos?” (p.168). Referindo-se ao amor que sentia por Daniel, Catarina chega a conclusão
de que a realidade é a sua inimiga e isso causa-lhe medo, “—Daniel, tenho medo. Começo a
suspeitar que só é belo e vivo o que não acontece” (p.175).
Por fim, Catarina abre a porta, ela finalmente chega ao final da jornada de sua história de vida,
é hora de reconhecer a sua própria chave. “Forjei esta chave, naquela noite ao pé da torre,
prisioneira, malhada de sino, com fagulhas de medo. Chave que abre o mundo. E somente
agora te reconheço” (p. 179), na verdade é Catarina quem reconhece Catarina. Foi preciso
reviver, toda a história para assim tomar consciência do tempo presente, para confirmar que
Daniel já não voltaria mais, que Henrique estava a sua espera, é a ressignificação do
sentimento, do amor por aquele que estava ao seu lado, esperando por ela, até mesmo declarar o
seu amor, pedir-lhe a mão em casamento, pois agora Catarina estava de volta: “— De onde vem
Catarina? – Fiz a volta da terra. Assim nomeia os passeios em círculo, entrar e sair no mesmo
ponto, [...] Dei a volta à terra. Giro sobre mim mesma” (p. 180).
A verdade sobre si mesma, uma verdade buscada e conquistada, Catarina se reconcilia com
todo o seu ser, “E jamais possua uma fração de mim mesma que não esteja casada contigo”,
assim declara Catarina a Henrique, essa é a verdade mais intensa sobre si mesma. Chegada a
hora de despertar, ou seja, de retomar a vida, olhar para Augusta, sua filha, guiando para não
se perder em si mesma, comprometida em descobrir “o meio de ensinar-lhe o amor à vida e à
realidade” (p. 181), Catarina metaforiza os círculos da vida ao ciclo de uma árvore e também a
um rochedo, em que há momentos de fortaleza e de fraqueza, ambos devem ser vividos,
jamais esquecidos ou ignorados. Assim, Alina Paim conclui a trajetória de Catarina, em que
presenciamos a trajetória das relações humanas, a busca de uma auto-identificação a partir
do olhar feminino.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003
______. Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão do pós-modernismo. Cadernos
Pagu, n. 11, [S. l.], 1998.
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. São Paulo:
Editora Nacional, 1965.
HALL,Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tadeu da Silva, Guaracira
Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
MAGALHÃES, Belmira. História da representação literária: um caminho percorrido.
Revista Brasileira de Literatura Comparada. Maceió, n. 6, UFAL, 2002.
______; MORAES, Andréa. Entre a felicidade e o sucesso: cultura e representação literária
do feminino. In: SILVA, Antônio de Pádua Dias da (Org.). Representações de gênero e de
sexualidades: inventários diversificados. João Pessoa: Editora Universitária, 2006.
PAIM, Alina. O círculo. Rio de Janeiro: Lidador, 1965.

Você também pode gostar