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HABITAT
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Copyright © Boitempo Editorial, 2015
Margem Esquerda – ensaios marxistas n. 24
Editora
Ivana Jinkings
Editora-assistente
Thaisa Burani
Editor de imagens
Sergio Romagnolo
Editor de poesia
Flávio Aguiar
Revisão
Thais Rimkus
Capa
Antonio Kehl e Sergio Romagnolo
Imagens do miolo e da capa
Mauro Restiffe
Obras que compõem a série Maré, 2014,
e, na terceira capa, “Mirante #5”, 2010.
Projeto gráfico e diagramação
Antonio Kehl
Produção
Livia Campos
Impressão e acabamento
Intergraf

ISSN 1678-7684

número 24: junho de 2015

É vedada a reprodução de qualquer parte


desta revista sem a expressa autorização da editora.
Esta publicação atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009.

BOITEMPO EDITORIAL
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Sumário

Apresentação .........................................................................................9
IVANA JINKINGS

ENTREVISTA

Immanuel Wallerstein ...........................................................................11


DANIEL BIN

DOSSIÊ: CIDADES EM CONFLITO, CONFLITOS NAS CIDADES

Apresentação .......................................................................................29
JOÃO SETTE WHITAKER FERREIRA (organização) e KARINA DE OLIVEIRA LEITÃO (colaboração)
O território e a dominação social .........................................................31
FLÁVIO VILLAÇA
América Latina urbana: violência, enclaves e lutas pela terra ..................37
TOM ANGOTTI
Espaços em disputa e contestações ......................................................44
AGNES DEBOULET
Conflito urbano e gramáticas de mediação ...........................................51
GABRIEL DE SANTIS FELTRAN

ARTIGOS

Racismo de Estado e antirracismo de classe na Europa .........................57


PIETRO BASSO
Por que tem sido tão difícil mudar as polícias? .......................................72
LUIZ EDUARDO SOARES
Jorge Luis Borges, filosofia da ciência e crítica ontológica:
verdade e emancipação ...................................................................... 87
MARIO DUAYER

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Lucien Goldmann, marxista pascaliano ................................................111
MICHAEL LÖWY

CLÁSSICO

Apresentação
ALEXANDRE LINARES
Lenin .................................................................................................125
LEON TROTSKI

HOMENAGEM

Leandro Konder, outro revolucionário cordial .....................................139


JOSÉ PAULO NETTO
Eduardo Galeano, as nossas veias ......................................................144
EMIR SADER

RESENHA

Um novo olhar sobre a história do pensamento brasileiro ..................147


APOENA CANUTO COSENZA

NOTAS DE LEITURA

Agronegócio e luta de classes ...............................................................151


SILVIA ADOUE
A construção política do Brasil ..............................................................152
MARIA DE LOURDES ROLLEMBERG MOLLO
Mulher, Estado e revolução ..................................................................154
DANIELA LIMA
A escória do mundo.............................................................................156
FÁBIO MASCARO QUERIDO
POEMA

Aos tiranos do mundo........................................................................159


ABOUL-QACEM ECHEBBI

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América Latina urbana:
violência, enclaves e
lutas pela terra*
TOM ANGOTTI

Há um século, a América Latina era, em sua maior parte, rural.


Hoje é uma das regiões mais urbanizadas do mundo: mais de 80%
da população da América Latina e do Caribe vivem em áreas me-
tropolitanas ou cidades com mais de 750 mil habitantes, proporção
semelhante à da América do Norte. A América Latina exibe algumas
das maiores regiões urbanizadas do mundo, incluindo Buenos Aires,
Cidade do México, Rio de Janeiro e São Paulo, todas com mais de 10
milhões de habitantes1.
Vários debates sobre a urbanização da América Latina começam
com estatísticas que mostram como foi dramática essa transformação
de rural a urbana e é comum que sejam acompanhados de protestos
morais que denunciam as terríveis condições de vida e o crime desen-
freado em gigantescas “megacidades”, consideradas “fora de controle”.
Esses debates podem levar a previsões sombrias de um futuro urbano
catastrófico ou, alternativamente, a perspectivas esperançosas de que,
I

por meio da urbanização, a América Latina consiga se juntar algum


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dia à América do Norte num futuro própero, tão logo haja ordem e
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progresso econômico. Ambas as previsões nos levam a ignorar o fato


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de que as péssimas condições de vida e de moradia e a violência


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* Tradução de José Eduardo Baravelli. Uma versão ampliada deste artigo foi publicada em Latin
American Perspectives, n. 189, mar. 2013, p. 5-20. (N. E.)
M

1
Cf. UN Habitat, Cities and Climate Change: Global Report on Human Settlements (Londres,
O

Earthscan, 2011).
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descontrolada são dominantes em cidades de todos tamanhos e tam-
bém nas áreas rurais; que as cidades que mais cresceram em qualquer
lugar do planeta foram, por décadas, de porte pequeno ou médio;
que os sinais de convergência entre Norte e Sul se limitam aos bairros
exclusivos de elite, bairros esses que estão onde sempre estiveram,
reproduzindo a si mesmos desde períodos coloniais. São previsões,
por fim, que não conseguem reconhecer as desigualdades estruturais
entre áreas rurais e urbanas dentro de cada país, bem como inter e
intrametrópoles – sem falar nas desigualdades que se expandem cada
vez mais entre os hemisférios Norte e Sul.
Esses mitos urbanos se somam a uma falácia urbana: a noção
de que o problema diz respeito à própria cidade, e não às relações
sociais que governam a sociedade. Ainda mais significativo, esses
mitos urbanos dizem pouco sobre o que realmente importa nessa
transformação histórica do rural em urbano, que são suas implicações
econômicas, sociais e políticas. Qual é o significado da urbanização
na vida cotidiana das pessoas? Se toda a América Latina é urbana, en-
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tão como podemos sequer distinguir fenômenos e temas urbanos de


temas ainda mais abrangentes? Em outras palavras, a América Latina
agora é urbana, mas daí se segue o quê?
As respostas a essas questões básicas não estão em levantamentos
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populacionais ou de níveis de pobreza, mas nas contradições funda-


mentais do desenvolvimento capitalista e nas lutas sociais e políticas
C O N F L I T O S

que surgem dessas contradições.


Qualquer discussão de fundo sobre a América Latina urbana precisa
começar com a compreensão de dois fatores determinantes: capital
e terra. Assim que, ao longo do século XX, o capital global passa a
,

controlar a terra rural por meio de aquisição, expropriação e uso de


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violência, uma massa de pessoas que antes vivia da terra foi forçada
a migrar para as cidades. A terra, mesmo nas propriedades comunais,
passou a ter valor pela capacidade de produzir mercadorias para um
mercado global, levando a maioria da população à despossessão e aos
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deslocamentos forçados. A América Latina urbana não foi produzida


C I D A D E S

pelo livre arbítrio, mas, sim, por essa gigantesca tomada de terra.
Ao mesmo tempo, a terra urbana se tornou um novo campo de
batalha na luta de classes. São as elites econômicas que controlam
a terra nas cidades, e, como elas têm pouco interesse em acomodar
:

tantos recém-chegados, a dinâmica fundamental subjacente à “ques-


O S S I Ê

tão urbana” na América Latina passa a ser a ocupação de terras e


o adensamento excessivo, resultando em vastas áreas carentes de
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infraestrutura urbana básica, como saneamento e acesso a água
potável. Ao longo do século passado, movimentos sociais urbanos
emergiram de conflitos intensos em torno da questão do acesso e
do controle sobre a terra. O que estava em jogo, no entanto, não
era apenas a posse da terra em si. Se entendermos a terra como in-
tegrante não apenas de espaço físico, mas também de um conjunto
de relações sociais – entre indivíduos, classes, grupos sociais e o
Estado –, as lutas pela terra urbana se tornam fundamentalmente
lutas comunitárias e de classe.
Já as lutas pela terra rural prosseguem quase sempre desconhecidas
do mundo cosmopolita, mas não menos importantes, se considerar-
mos as crises ambientais e de energia que afetam a América Latina
urbana no século XXI, sem falar na devastação dos recursos e das
comunidades rurais.
As lutas pela terra estão no centro tanto da questão urbana
quanto da questão rural e, nas próximas décadas, dependendo do
andamento da mudança climática global, farão parte da luta pela
sustentação da vida dos seres humanos no planeta.

Violência e vida cotidiana na América Latina urbana


A violência é a mais crítica das questões urbanas da atualidade.
Há uma falácia em considerá-la um problema estrito das “cidades vio-
lentas”. A verdade é que o continente inteiro está envolvido numa
violência que é apoiada e financiada pelos Estados Unidos e seus
Estados clientes. O fenômeno cada vez mais debatido do urbanismo
de enclave – que divide o espaço urbano em áreas segregadas física e
socialmente pela construção de shopping centers e condomínios mu-
rados – é um fenômeno significativo e frequentemente problemático,
mas não é novo, e os enclaves físicos que estão surgindo em todo lugar
não são necessariamente importações do Norte ou sinais automáticos
de exclusão social.
I

Um dos legados mais dramáticos produzidos pelo capital monopo-


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lista durante o século passado foi o deslocamento forçado de massas


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populacionais das áreas rurais para as áreas urbanas. A agroindústria


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voltada para a exportação devastou o cultivo tradicional na América


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Latina tanto quanto na América do Norte, gerando insegurança ali-


A

mentar em países que antes produziam o suficiente para atender às


necessidades locais de consumo. Rebeliões em áreas rurais e tentativas
M

de reforma agrária foram reprimidas, frequentemente com violência,


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o que incentivou ainda mais a migração para as cidades.


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Enclaves industriais nas cidades e em seu entorno, na forma de zonas
de livre comércio e maquiladoras*, também impulsionaram a ida de
massas de pessoas para as cidades, que se tornaram gigantescas reservas
de trabalho para o capital local e global. O valor da massa de pobreza
urbana era enorme – péssimas condições de vida em cidades carentes de
infraestrutura básica reduziam para o capital o custo de reprodução do
trabalho. Ocasionalmente, o trabalho transnacionalizado era dirigido para
a América do Norte, tanto para atender à necessidade de trabalho novo
quanto para conter o custo total do trabalho, o que foi bem aproveitado
por empresários oriundos da América Latina. Mesmo assim, apesar do
crescimento de algumas economias – como Brasil e Argentina – e do
afrouxamento do controle dos Estados Unidos sobre a agenda política,
por conta da entrada da China e de outras economias gigantes na região,
ainda não se vê nenhuma mudança fundamental no desenvolvimento
dependente e na desigualdade da urbanização latino-americana.
A violência é parte fundamental da vida cotidiana nas cidades da
América Latina. Para entender o que a mantém, é preciso colocá-la
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no contexto da violenta história do continente, começando com os


assassinatos em massa do período colonial, a brutalidade da escravidão
e os esquadrões da morte, o terror de Estado e as máquinas militares
financiadas e apoiadas pelos Estados Unidos ao longo do século pas-
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sado. As próprias oligarquias latino-americanas provaram ser capazes


de usar o terror de forma independente, através de sua polícia e de
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seus militares, mas não seriam tão poderosas como são sem o trei-
namento oferecido pela Escola das Américas e sem o apoio material
do Pentágono. Hoje, elas se valem do terror em grande escala, sob a
rubrica da “guerra às drogas”, com o forte apoio militar dos Estados
,

Unidos2. É uma guerra unilateral, que usa a violência na tentativa de


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cortar o suprimento de drogas sem nada fazer para reduzir a demanda


interna dos Estados Unidos.
O clima de violência se ergue sobre o temor dos colonizadores
em relação aos povos nativos, os temores domésticos e importados
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* De origem mexicana, o termo maquiladora caracteriza as empresas estadunidenses que ope-


ram em áreas de livre comércio na Ásia e na América Latina, explorando mão de obra barata e
aproveitando-se da ausência de impostos. (N. E.)
:

2
Ver Mark Karlin, “How the Militarized War on Drugs in Latin America Benefits Transnational
O S S I Ê

Corporations and Undermines Democracy”, Truthout, 5 ago. 2012. Disponível em: <truth-out.
org/news/item/10676-how-thewar-on-drugs-in-latin-america-benefits-transnational-corporations
-and-undermines-democracy>; acessado em: 8 abr. 2015.
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em relação a afrodescendentes e os temores crescentes em relação a
imigrantes sem-terra que cada vez mais cruzam as fronteiras nacio-
nais do continente à procura de trabalho. Nas cidades, o “outro” se
tornou o complemento lógico e necessário dos enclaves, cada vez
mais armados e fortificados. Como a tradicional Plaza de Armas, todo
espaço público precisa ser um refúgio em que uma força uniformi-
zada é convocada para proteger a propriedade privada e promover
consumo. A consequência é não haver mais um verdadeiro espaço
público, mesmo nos casos em que ele é de propriedade e gestão de
entidades públicas. Os complexos condominiais privados, por sua vez,
precisam ter estacionamento protegido, cercas eletrificadas e guardas
e câmaras de segurança 24 horas por dia.
A gestão da violência é parte essencial das organizações respon-
sáveis pelo planejamento político e militar nos poderosos enclaves
de negócios que abrigam as instituições do capitalismo monopolista
global. Centralidades comerciais, incluindo as de São Paulo, Buenos
Aires, Bogotá e de praticamente todas as demais capitais latino-ameri-
canas, são construídas a partir de uma composição de capital global e
local. Investidores internacionais buscam cada vez mais refúgios para
seu capital excedente em centros de negócio e precisam de parcerias
locais que garantam um ambiente seguro para seus investimentos.
Os preços da terra nessas centralidades são astronômicos e, portanto,
os proprietários têm um empenho especial em proteger seus investi-
mentos pelo uso de recursos públicos e privados. Quem investe em
novos complexos de escritórios tem capacidade de comprar projetos e
tecnologia de classe internacional, a fim de salvaguardar seus enclaves
de riqueza, mas também depende de governos locais para policiar os
espaços públicos – ruas, calçadas, parques, mercados etc. –, necessários
para a reprodução do lucro e da força de trabalho que empregam.
Uma transformação neoliberal do Estado foi necessária, portanto,
para assegurar o controle sobre esses espaços. Parcerias público-pri-
I

vadas, profissionalização do governo local, ampliação da segurança


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e uma série de outras alterações garantem que os interesses dos po-


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derosos permaneçam soberanos.


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Dualismos e orientalismos
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Uma das maiores barreiras tanto para entender a questão urbana na


América Latina quanto para formular estratégias de ação é o dualismo
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profundamente introjetado na base da ciência social e das epistemo-


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logias profissionais dos “urbanistas”. As favelas assustadoras são consi-


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deradas “cidade informal” e contrastam, assim, com a “cidade formal”,
que é “moderna”, “civilizada” e “planejada”3. Os importantes estudos
de Janice Perlman4 sobre uma favela do Rio de Janeiro desafiaram o
“mito da marginalidade” ao revelar as complexidades das e entre as
favelas, que são obscurecidas pelos mitos da ciência social ortodoxa.
Em meio à retórica e aos mitos, as favelas sempre terminam por
ser um problema. A solução supostamente racional, portanto, é se
livrar delas. Se a cidade informal é o problema, então a cidade formal
é a solução. Com a forte resistência dos movimentos sociais urbanos
contra esquemas monumentais de reurbanização, instrumentos mais
sofisticados para a eliminação da informalidade surgiram no século XX.
As reurbanizações de terra arrasada para a promoção da especu-
lação imobiliária desencadearam uma resistência maciça contra es-
quemas urbanos privados e de governo, particularmente no período
de insurgências radicais e revolucionárias dos anos 1960, quando
movimentos sociais urbanos floresceram em todas as grandes nações
urbanizadas. Como eles se revelaram obstáculos formidáveis, o Banco
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Mundial e programas de ajuda multilaterais agora relutam em financiar


projetos de remoção de favela. Em vez disso, usam o padrão dualista
e promovem políticas de combate à pobreza que, na verdade, ape-
nas capacitam moradores de favela para participar de forma ativa da
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transformação da cidade informal em formal. O “planejamento partici-


pativo” por meio de governos descentralizados (uma ideia favorecida
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pelo neoliberalismo) seria mais democrático – talvez até seja –, mas


costuma esconder um dualismo subjacente, em que as favelas ainda
são consideradas algo a desaparecer, com ou sem a participação de
moradores e comerciantes locais.
,

Os mitos urbanos dualistas situam recorrentemente o “outro” como


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fonte principal do problema urbano. No contexto do urbanismo co-


lonial e pós-colonial, essa “alteridade” é um exemplo do que chamei
de orientalismo urbano, isto é, a tendência de especialistas posicio-
nados no centro do poder global de apresentar como se fossem fatos
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3
Uma discussão séria e crítica sobre informalidade urbana pode ser vista em Ray Bromley (org.),
The Urban Informal Sector: Critical Perspectives in Employment and Housing Policies (Nova York,
Pergamon, 1979) e Ananya Roy e Nezar AlSayyad, Urban Informality: Transnational Perspectives
from the Middle East, Latin America, and South Asia (Lanham-MD, Lexington, 2004).
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4
Ver Jenice Perlman, The Myth of Marginality (Berkeley, University of California Press. 1976) [ed.
bras.: O mito da marginalidade, 3. ed., trad. Waldivia Portinho, São Paulo, Paz e Terra, 2002] e Favela:
Four Decades of Living on the Edge in Rio de Janeiro (Nova York, Oxford University Press, 2010).
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suas visões subjetivas e culturalmente dirigidas a respeito do resto do
mundo. Essa tendência segue a discussão inovadora de Edward Said
a respeito do orientalismo no Império Britânico5. Uma vez que as
teorias hegemônicas e as práticas de planejamento urbano na América
Latina têm suas raízes na Europa e na América do Norte, as favelas e a
informalidade continuam a ser vistas sob a distância dos dominadores,
como locais a serem geridos. São habitadas por pessoas indiscrimi-
nadamente homogêneas e incapazes de exercer controle sobre suas
próprias comunidades. A não ser, é claro, que sejam “educadas” à
maneira do mundo “civilizado”.

AI
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T
O
G
N
M

5
Ver Edward W. Said, Orientalism (Nova York, Vintage, 1979) [ed. bras.: Orientalismo: o Oriente
O

como invenção do Ocidente, trad. Rosaura Eichenberg, São Paulo, Companhia de Bolso, 2007].
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