Você está na página 1de 10

AULA 08

Temas em Psicologia Social

CONTEÚDO:
Unidade II: Temas em Psicologia Social
Identidade

Texto base:

CIAMPA, Antonio da Costa. Identidade. IN: LANE, Silvia T. M.; CODO, Wanderley.
Psicologia Social: O homem em movimento. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.

OBJETIVOS:
- Introduzir o conceito de identidade na perspectiva sócio-histórica;
- Caracterizar os três aspectos constituintes da identidade: representacional, constitutivo
e de produção;
- Refletir sobre o aspecto representacional e constitutivo do público da assistência
social no Brasil.

🙠
ENTRANDO NO TEMA:
Ciampa compreende a identidade como metamorfose (constante transformação), destacando
a história pessoal dos sujeitos, história estas permeadas pelo contexto histórico e social.

Concebe a identidade como um processo de reformulação e mudança que tem sua base nas
influências sociais e históricas.
A pergunta “Quem sou eu?” é um questionamento que remete à identidade.

A narração da resposta pelo sujeito é feita de modo em que ele é autor e personagem da
história.

Isso porque há discursos embutidos na identidade que são dele e dos outros e a identidade
do outro reflete na minha e vice-versa.

Dessa forma, pode-se dizer que, a identidade é consequência das relações que se dão, e
também das condições dessa relação, pois só se os pais se comportarem como pais que se
caracteriza uma relação paterno-filial.

É nesse sentido que Ciampa propõe que a identidade é reposta a cada momento.
Repor → Ação
Assim, ressalta que a identidade não é algo pronto, acabado e atemporal como muitos
consideram ser, e sim, algo que está em um contínuo processo, em um dar-se constante.

“Identidade é movimento, é desenvolvimento concreto. Identidade é metamorfose”


(CIAMPA, 1984, p.74).

“[...] identidade é o reconhecimento de que é o próprio de quem se trata; é aquilo que prova
ser uma pessoa determinada, e não outra.” (CIAMPA, 2007, p.137).

Descreve também que a identidade é diferença e igualdade, visto que há aspectos que nos
igualam e nos diferenciam. Um exemplo disso é o nome próprio: o nome diferencia a pessoa
de sua família e o sobrenome a iguala.

Outro aspecto que se destaca na concepção de identidade em Ciampa (1984) é que, segundo
ele, possuímos várias identidades (por exemplo: pai e ao mesmo tempo filho) que são
utilizadas separadamente, em diferentes momentos. No entanto, a pessoa é uma totalidade e
nesses momentos o que se ocorre é a manifestação de uma parte da unidade. Assim,
quando conversamos com alguém, estamos nos representando, somos representantes de nós
mesmos.

Mas é importante considerar que mesmo com as diferentes identidades e as constantes


mudanças (metamorfose) a nossa identidade é uma totalidade. “Uma totalidade
contraditória, múltipla e mutável, no entanto, una” (CIAMPA, 1984, p.61).
PERGUNTA: QUEM É VOCÊ?
Será tão fácil dizer quem somos?

Vamos tentar? Escreva um breve texto para compartilhar uma narrativa sobre quem você é.

A questão da identidade apresenta dificuldade e importância e tem sido estudada por


psicólogos, sociólogos, antropólogos, filósofos e cientistas sociais. Além de outros
profissionais em diferentes contextos (juízes, promotores, advogados, peritos, polícia,
administradores, escola, supermercados...).

IDENTIDADE – REVELAÇÃO/OCULTAÇÃO:
Muitas vezes nos escondemos naquilo que falamos. Também nos revelamos naquilo que
ocultamos.
“Muitos de nós escondemos algum aspecto de nossa identidade e morremos de medo que os
outros descubram esse nosso lado ‘oculto’” (p. 60).

AUTOR E PERSONAGEM/ IDENTIDADE COMO PRÁTICA


DISCURSIVA/NARRAÇÃO:
Nossa identidade se mostra como a descrição de uma personagem cuja vida, cuja biografia
aparece numa narrativa (uma história com enredo, personagens, cenários, etc.), ou seja, como
personagem que surge num discurso (nossa resposta à pergunta “Quem é você?”, nossa
história). Ora, qualquer discurso, qualquer história costuma ter um autor, que constrói a
personagem. Cabe perguntar então: você é a personagem do seu discurso, ou o autor que cria
essa personagem, ao fazer o discurso?

HÁ UMA AUTORIA COLETIVA DA HISTÓRIA. NÃO SÓ A IDENTIDADE DE UMA


PERSONAGEM CONSTITUI A DE OUTRA E VICE-VERSA (O PAI DO FILHO E O
FILHO DO PAI), COMO TAMBÉM A IDENTIDADE DAS PERSONAGENS CONSTITUI
A DO AUTOR (TANTO QUANTO A DO AUTOR CONSTITUI A DAS PERSONAGENS).

Identidade pressupõe mudança. Há mudanças mais ou menos previsíveis, mais ou menos


desejáveis, mais ou menos controláveis, mais ou menos... mudanças!

IDENTIDADE É UMA TOTALIDADE CONTRADITÓRIA, MÚLTIPLA, MUTÁVEL, NO


ENTANTO, UNA. POR MAIS CONTRADITÓRIO, POR MAIS MUTÁVEL QUE SEJA,
SEI QUE SOU EU QUE SOU ASSIM, OU SEJA, SOU UMA UNIDADE DE
CONTRÁRIOS, SOU UNO NA MULTIPLICIDADE E NA MUDANÇA.
Arte: Ard Gelinck
Num certo sentido, pode-se considerar a chamada “doença mental” como um problema de
identidade. Não reconhecer-se como sujeito/narrador/personagem da sua história. Ser
ameaçado na sua integralidade, no seu autorreconhecimento.

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO


Quando queremos conhecer a identidade de alguém, quando nosso objetivo é saber quem
alguém é, nossa dificuldade consiste em obter as informações necessárias. Essa é uma
questão prática: quais as informações significativas, quais as fontes confiáveis, de que forma
obter as informações, como interpretar e analisar essas informações. Depositamos confiança
que as pessoas são quem dizem que são.
COMEÇAMOS COM UM NOME (SINGULAR E FAMILIAR)

Vídeo: 55m17s - Até 3m52s


Morte e Vida Severina | Animação – Completo
https://www.youtube.com/watch?v=clKnAG2Ygyw&feature=youtu.be&app=desktop

Diferença e igualdade. É a primeira noção de identidade.


Sucessivamente, vamos nos diferenciando e nos igualando conforme os vários grupos sociais
de que fazemos parte: brasileiros, homem ou mulher etc. O CONHECIMENTO DE SI É
DADO PELO RECONHECIMENTO RECÍPROCO DOS INDIVÍDUOS IDENTIFICADOS
ATRAVÉS DE UM DETERMINADO GRUPO SOCIAL QUE EXISTE OBJETIVAMENTE,
COM SUA HISTÓRIA, SUAS TRADIÇÕES, SUAS NORMAS, SEUS INTERESSES ETC.

ENTRETANTO, a constituição identitária substantivada com a qual nos descrevemos não


expressa uma imutabilidade, um sujeito idêntico a si mesmo, manifestação daquela substância
(brasileiro-brasilidade, homem-masculinidade etc.).

PARA COMPREENDERMOS A CONSTITUIÇÃO IDENTITÁRIA PELOS GRUPOS DE


QUE FAZEMOS PARTE, FAZ-SE NECESSÁRIO REFLETIR COMO ESTES GRUPOS
EXISTEM OBJETIVAMENTE ATRAVÉS DAS RELAÇÕES SOCIAIS QUE
ESTABELECEM SEUS MEMBROS ENTRE SI E COM O MEIO ONDE VIVEM,
ISTO É, PELA PRÁTICA, A AÇÃO, O VERBO. É PELO FAZER QUE ALGUÉM SE
TORNA ALGO: AO PECAR, PECADOR, AO DESOBEDECER, DESOBEDIENTE,
AO TRABALHAR, TRABALHADOR.

NÓS SOMOS NOSSAS AÇÕES, NÓS NOS FAZEMOS PELA PRÁTICA.

A resposta à pergunta “Quem sou eu” é uma representação da identidade. Parte-se da


representação, como um produto, para analisar o próprio processo de produção.
UMA QUESTÃO COMPLICADA:

3 ASPECTOS:
1. REPRESENTACIONAL (PRODUTO): ponto de partida, considerando-o também
como processo de produção, identidade como processo de identificação.
2. CONSTITUTIVO: a individualidade já pressupõe um processo anterior de
representação que faz parte da constituição do indivíduo representado. Antes de
nascer, o nascituro já é representado como filho de alguém e essa representação prévia
o constitui efetivamente, objetivamente como “filho”, membro de uma determinada
família. Posteriormente, essa representação é assimilada pelo indivíduo de tal forma
que seu processo interno de representação é incorporado na sua objetividade social
como filho daquela família.
3. DE PRODUÇÃO: Não basta, entretanto, a representação prévia. O nascituro, uma
vez nascido, constituir-se-á como filho na medida em que as relações nas quais esteja
envolvido concretamente confirmem essa representação através de comportamentos
que reforcem sua conduta como filho e assim por diante.

A IDENTIDADE DO FILHO É PRESSUPOSTA E RE-POSTA A CADA


MOMENTO, SOB PENA DE ESSES OBJETOS SOCIAIS “FILHO”, “PAIS”,
“FAMÍLIA” ETC DEIXAREM DE EXISTIR OBJETIVAMENTE (AINDA QUE
POSSAM SOBREVIVER SEUS ORGANISMOS FÍSICOS, MEROS SUPORTES
QUE ENCARNAM A OBJETIVIDADE DO SOCIAL).

PRESSUPOSIÇÃO LEVA À EXPECTATIVA QUE A RELAÇÃO ESTEJA DADA,


TIRANDO SEU CARÁTER TEMPORAL, HISTÓRICO, MUTÁVEL. AS PESSOAS
CRIAM UMA EXPECTATIVA GENERALIZADA DE QUE ALGUÉM DEVE AGIR
DE ACORDO COM O QUE É (E CONSEQUENTEMENTE SER TRATADO COMO
TAL).

DE CERTA FORMA, RE-ATUALIZAMOS ATRAVÉS DE RITUAIS SOCIAIS UMA


IDENTIDADE PRESSUPOSTA QUE ASSIM É REPOSTA COMO ALGO JÁ DADO,
RETIRANDO EM CONSEQUÊNCIA O SEU CARÁTER DE HISTORICIDADE,
APROXIMANDO-A MAIS DA NOÇÃO DE UM MITO QUE PRESCREVE AS
CONDUTAS CORRETAS, REPRODUZINDO O SOCIAL.

REPRESENTANTE DE UMA TOTALIDADE QUE É NEGADA PELO PAPEL QUE


EXERCEMOS, PELA PARCIALIDADE DO QUE REPRESENTO NA
CONCRETUDE. SOU O QUE ESTOU SENDO (UMA PARCELA DE MINHA
HUMANIDADE), UMA IDENTIDADE QUE ME NEGA NAQUILO QUE SOU SEM
ESTAR-SENDO (A MINHA HUMANIDADE TOTAL).

Essa identidade que surge como representação de meu estar-sendo se converte num
pressuposto de meu ser (como totalidade), o que, formalmente, transforma minha
identidade concreta (entendida como um dar-se numa sucessão temporal) em identidade
abstrata, num dado atemporal – sempre presente (entendida como identidade
pressuposta re-posta).

PARA REFLEXÃO:

Vídeo: 4m21 | Como Nossos Pais

https://www.youtube.com/watch?v=gdgj1kYqiFI

LEITURA PARA A PRÓXIMA AULA:

LANE, Silvia Tatiana Maurer. O Processo Grupal. IN: LANE, Silvia T. M.; CODO, Wanderley.
Psicologia Social: O homem em movimento. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.

Você também pode gostar