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FICHAMENTO- A ESTÓRIA DO SEVERINO E A HISTÓRIA DA SEVERINA

“Tanto o Severino do poema, quanto a Severina de carne-e-osso são típicos. Típicos não só
como nordestinos que migram, mas típicos como brasileiros que são violentados, como seres
humanos que são explorados em nossa sociedade capitalista. Nem todos somos nordestinos
ou migrantes. Mas, em nossa sociedade de classes, somos todos explorados e violentados-
alguns mais, outros menos. Principalmente somos por ver barradas possibilidades de
concretizar nossa humanidade. Neste sentido, até mesmo poderosos, privilegiados, são
também impedidos de se humanizem. Talvez as ações mais desumanas em nossa sociedade
partem desses segmentos da população. Em contraentes, a violência e a exploração que
alguém, como o marido da Severina, é capaz de realizar são insignificantes em termos de
amplitude e eficácia. Mas é terrível na medida em que está mediatizando a violência social no
caso particular. A exploração e a violência sociais se concretiza, através de mediações, sempre
no particular, que é a unidade do singular e do universal. Coletivamente, constitui o conjunto
das relações sociais, que no nosso caso, materializa um mundo: nosso mundo capitalista. “
( Ciampa, 126-127).

“Uma identidade concretiza uma política, dá corpo a uma ideologia” ( p.127)

Cada indivíduo encarna as relações sociais, configurando uma identidade pessoal. Uma hsitória
de vida. Um projeto de vida. Uma vida que nem sempre é vivida, no emaranhado das relações
sociais.

Interiorizamos aquilo que os outros nos atribuem de tal forma que se torna algo nosso. A
tendência é nós predicarmos coisas que os outros nos atribuem. P.131

“ O indivíduo não mais é algo; ele é o que faz.” P.135

Ciampa retrata a morte biológica e a morte simbólica ao mencionar que a personagem


Severina teve duas identidades: a de encosto, definida pelo Centro Espírita que frequentara e a
de louca, apresentada pelo hospital psiquiátrico e legitimada pelo marido que a hospitalizou e
a fez acreditar que a mesma estava louca.

“ O significado socialmente compartilhado define, explica, legitima a realidade- e a nova


realidade”

“ A realidade simbólica é produzida socialmente” p.71

“ O indivíduo isolado é uma abstração. A identidade se concretiza na atividade social. O


mundo, criação humana, é o lugar do homem. Uma identidade que não se realiza na relação
com o próximo é fictícia, é abstrata, é falsa. “ p.86
p.96

Na tese de doutorado intitulada A História de Severino e a estória de Severina: um ensaio de


psicologia social, Ciampa ( 2005) aponta que a identidade é metamorfose, é um processo
inexorável, ou seja, imutável, inflexível, assim, a identidade muda, se transforma. Consciente
ou inconsciente esse processo de mudança ocorre com todo indivíduo, o qual ora se identifica
ora se diferencia do outro, estabelecendo a “articulação da diferença e da igualdade” ( p. 138).
O autor atribui o processo de identidade ao verbo, à ação : “ o indivíduo não é mais algo: ele é
o que faz” ( p.135).

O que não muda nessa mundo é somente a mudança. Letra do com

positor Flávio Leandro

p.163

Ruy Fausto: O homem no capitalismo, não e um verdadeiro sujeito, em todos os juízos em que
o sujeito é gramatical é o homem, ele deve se refletir no seu predicado’. P. 178
p.171

O educador social expressa o que a ideologia dominante, o que o capitalismo espera dele. Sua
totalidade é mais ampla, mas complexa.

p.176

Ciampa diz que nos representamos através do desempenho de papéis, relacionados a


posições que a pessoa ocupa, desenvolvendo assim uma identidade pressuposta e outra re-
posta. Nas leituras realizadas alguns pesquisadores, inclusive eu já teve sua identidade de
educador social pressuposta e foi re-posta pela identidade de pesquisador, de coordenador de
outros educadores sociais.

“ Como no sentido ontológico, o verdadeiro sujeito é o capital”. P.178

p.182
185

Na práxis, que é a unidade da subjetividade e da objetividade, o homem se produz a si


mesmo. Concretiza sua identidade. O devir humano é o homem, ao se concretizar. P. 201

Antônio da Costa Ciampa, renomado sociólogo brasileiro, aborda o conceito de


identidade de forma profunda e multidimensional. Para Ciampa, a identidade
não é algo estático, mas sim um processo dinâmico e em constante construção,
influenciado por diversos fatores sociais, culturais e individuais.

Segundo suas ideias, a identidade não é apenas uma questão de


autoconhecimento ou autopercepção, mas também está intrinsecamente ligada
às relações sociais e aos papéis que desempenhamos em diferentes contextos.
Ciampa destaca a importância do contexto social na formação da identidade,
argumentando que nossas interações com os outros e com o ambiente ao
nosso redor moldam nossa percepção de quem somos.

Além disso, Ciampa ressalta que a identidade é um processo contínuo de


negociação e redefinição, especialmente em sociedades marcadas pela
diversidade e pela mudança. Nesse sentido, ele enfatiza a necessidade de
reconhecer e respeitar as diferentes identidades individuais e coletivas,
valorizando a pluralidade e a heterogeneidade como elementos essenciais da
experiência humana.

Em suma, o pensamento de Antônio da Costa Ciampa oferece uma perspectiva


ampla e complexa sobre o conceito de identidade, destacando sua natureza
fluida e relacional. Sua abordagem nos convida a refletir sobre a forma como
nos percebemos e nos relacionamos com os outros, reconhecendo a
importância do contexto social e da diversidade na construção de quem somos.

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