Análise Criminal como

Ferramenta de Gestão no
Relacionamento com a
Imprensa Goianiense1 Divino Alves de Oliveira2
Edno Paula Ribeiro3
Telma Lúcia Bernardes4

Resumo: Constantemente a imprensa goianiense apresenta notícias sobre

um tema extremamente importante e recorrente na vida de todas as pessoas:
a Criminalidade. Entretanto, tal assunto normalmente é abordado pelos meios
de comunicação, sem nenhum tratamento científico dos dados, ao contrário,
as notícias são apresentadas com forte apelo emocional e sensacionalista:
Diante da obrigatoriedade e da abrangência dos princípios da publicidade e da
transparência na administração pública brasileira e também como forma de se
evitar a divulgação de matérias pela imprensa que não contemplem de forma
ética e com imparcialidade os fatos relacionados à criminalidade em Goiás e em
especial em Goiânia, o que contribuirá de forma decisiva para a construção de
uma imagem e uma reputação cada vez mais forte da Secretaria de Segurança
Pública de Goiás, se faz necessária a adoção de ferramentas de apoio à gestão
no trato com a imprensa e que tenham como escopo a estatística criminal;
informações sociais, econômicas, temporais e outras, por parte dos gestores
públicos, sob pena de que os órgãos responsáveis pela segurança pública, em
decorrência das noticias veiculadas, percam credibilidade e reputação.

Palavras-chave: Imprensa; Estatística Criminal; Gestor Público; Criminalidade;

Ferramenta de Gestão.

Introdução
No atual cenário da comunicação de massa em que os efeitos
midiáticos influenciam diretamente na construção da imagem e
reputação de uma instituição, urge que os gestores públicos passem
a adotar estratégias de comunicação que lhes possibilitem um
posicionamento firme e coeso diante dos questionamentos da imprensa
e, por conseguinte, da opinião pública, com vistas à credibilidade das
organizações que representam.

1- Artigo apresentado ao Curso de Análise Criminal como um dos pré-requisitos para

conclusão do curso sob a orientação do Professor Alécio Filipe e Professora Karoline
Andrade de A. Isecke.
2- Coronel da Polícia Militar de Goiás.
3- 1º Tenente da Polícia Militar de Goiás.
4- 1º Tenente da Polícia Militar de Goiás.
47
 O caos institucional e a violência sempre
foram explorados pelos veículos de comunicação.
Observa-se, entretanto, que em decorrência das
novas mídias sociais, a velocidade e o acesso às
informações têm aumentado de forma considerável.
Almeida (2000, pg. 9) ensina que:
O caos institucional e a violência são
explorados pela mídia desde os mais
remotos tempos. Na evolução da mídia
encontramos a existência de propagação de
atos violentos e de conflitos, o que diferencia
os dias atuais das épocas remotas é apenas a
velocidade de propagação das informações
e a facilidade de acesso das pessoas a estas
informações.
A busca desenfreada por maiores índices
de audiência, o sensacionalismo exacerbado e a
valorização do grotesco, fazem com que veículos de
comunicação excedam no seu papel institucional de
informar e noticiar fatos de toda ordem, inclusive,
fatos policiais, conforme Almeida (2000, pg. 9):
O retrato jornalístico da violência não
pode ser tomado como o real. Os crimes
apresentados ao telespectador e ao leitor de
jornais são os mais fantásticos, intrigantes,
extraordinários, quase que lendas urbanas.
A exploração emocional é o foco preferido,
porque é dela que extrai-se os maiores índices
de audiência. As pesquisas acadêmicas que
tratam da veiculação de violência pela mídia
aferiram que a dramatização é exagerada
e a manipulação dos fatos é direcionada
de acordo com o índice de audiência
apresentado.
Neste diapasão, o gestor público, segundo
Couto (2010, p.8) é todo“funcionário público ocupante
de cargo de carreira ou agente de empresa estatal
que pratica atos de gestão, administra negócios,
bens ou serviços”, e necessita ter a seu dispor,
estratégias de comunicação para o cumprimento
de suas atribuições, uma vez que notícias veiculadas
48
na imprensa sem o devido trato pelo gestor podem
causar estragos extremamente nocivos à imagem e a
reputação de sua instituição.
No âmbito da segurança pública, diante da
atualidade e relevância deste tema, bem como da
carência de estudos sobre a utilização da análise
criminal como ferramenta de apoio à gestão do
relacionamento institucional com a imprensa, buscou-
se a realização de revisão de literatura, visando formar
a base conceitual para a abordagem do tema, o
que abre um leque de possibilidades no campo da
pesquisa científica.
Assim, o presente artigo se justifica, na
medida em que, embora não pretendendo esgotar
as possibilidades de pesquisa, propõe-se a analisar
a gestão do relacionamento institucional com a
imprensa goianiense, tendo a análise criminal como
possível ferramenta na construção da imagem e da
defesa institucional, adotando as melhores práticas de
transparência de um governo aberto e democrático.
1 – Transparência e Credibilidade
A globalização das informações, da economia
e dos próprios meios de comunicação fizeram
com que a administração pública mudasse seus
posicionamentos sobre divulgação de suas ações e
de seus resultados.
Para Vieira (2006, p.2), “É obrigação do Estado
prestar contas aos cidadãos sobre o desempenho dos
seus funcionários e das organizações em que eles
atuam”.
Se antes, o fechar-se em copas, no que se
referia à transparência e publicidade era normal aos
gestores públicos, hoje, conforme ensina Neto et
al (2009, p.1), “mais do que garantir o atendimento
das normas legais, as iniciativas de transparência
na administração pública constituem uma política
de gestão responsável que favorece o exercício da
cidadania pela população”.
Assim, diante do imperativo legal da
publicidade e da transparência, reforçado pelas
constantes intervenções da imprensa, na busca pela
informação, os gestores públicos se veem compelidos
a analisar, interpretar, divulgar suas ações e os
resultados através de suas assessorias de imprensa,
conforme ensina Mafei (2004, p.6):
Hoje as empresas e os governos precisam
de gestores capacitados para compreender
e interpretar as informações publicadas
pela imprensa, do ponto de vista do que
interessa para as organizações. Se tiverem,
ainda, noções sobre como se processa uma
informação com potencial para virar notícia,
saberão como surge e como poderia ser
evitada boa parte dos problemas com a
mídia.
No Estado de Goiás, o aumento dos índices de
criminalidade tem se constituído tema de destaque
dos diversos veículos de comunicação, em especial
na capital.
Um jornal de grande circulação na capital do
Estado publicou em sua edição de 02 de novembro
de 2013 o artigo: “Número de homicídios em Goiânia
chega a 496 em 10 meses”, no qual aponta que:
De janeiro a outubro de 2013 aconteceram
496 assassinatos em Goiânia. O número é
maior que o registrado no mesmo período
do ano passado, 474. Ao longo de todo 2012,
foram cometidos 577 homicídios na capital.
Foi o ano mais violento de todos os tempos
em Goiânia, até agora.
Outro Jornal goianiense noticiou
recentemente que: “Número de homicídios em Goiás
dobra em dez anos”.
Dados divulgados na pesquisa “Mapa da
Violência 2013: Homicídios e Juventude
no Brasil”, realizada pelo Centro de Estudos
Latino-Americanos (Cebela), revelam que os
homicídios em Goiás mais que dobraram em
um período de dez anos.
Essa é a tônica diária das manchetes dos
principais periódicos e programas de televisão
com caráter jornalístico: A divulgação de índices
de violência e criminalidade, assinalando ainda
que os mesmos são apresentados sempre em
escala ascendente, o que aumenta a sensação de
insegurança, medo e intranquilidade das pessoas, as
quais passam a confiar e a acreditar cada vez menos
nos órgãos responsáveis pela segurança pública em
Goiás.
Visando dirimir possíveis problemas no
relacionamento com a imprensa goianiense, urge
que os dados criminais sejam interpretados com
prudência pelos analistas criminais, pois além de
formadora da opinião pública, a imprensa utilizando-
se de uma matéria-prima - a informação -, cria um
produto para ser comercializado na sociedade
conforme ensina Ferreira (2001, p.32), sobre a
construção da informação jornalística:
O jornal não se preocupa com as origens,
com a contextualização da informação; seu
interesse repousa no que permite rápido
consumo, nas informações que podem ser
“vendidas” à população. Essa tendência
pode ser demonstrada, dentre outras
maneiras, por meio da análise das próprias
manchetes do jornal, que procuram atrair
instantaneamente a atenção do leitor.
Diante da frequência de informação em que o
“crime-notícia” apresenta-se como tema amplamente
explorado; a imprensa acaba por persuadir as pessoas
a estarem atentas, em decorrência da intensidade
do fato, a ter especial atenção àquele assunto, em
detrimento de outros. Penedo (2004, p.4) ensina que:
A hipótese do agenda-setting formulada por
McCombs e Shaw (1972) surgiu no âmbito do
49
 estudo da comunicação política e recupera
a noção de impacto dos media, num plano
cognitivo a dois níveis: por um lado, os
media identificam os temas/assuntos que
merecem a atenção do público; por outro,
hierarquizam o grau de relevância desses
assuntos.
Cabe aos gestores da segurança
pública, diante da hipótese do agenda-setting,
um posicionamento revestido dos princípios
da transparência e publicidade, com foco “na
identificação dos padrões de motivação do ofensor,
as oportunidades que existem para ocorrência do
crime, os níveis de proteção para as vítimas no evento
criminoso” (RODRIGUES, 2012, p.22), com vistas ao
resgate da credibilidade e reputação institucional.
2 – Análise Criminal: uma Ferramenta de
Gestão
Em seu estudo sobre A produção da
opacidade: estatísticas criminais e segurança pública
no Brasil, Lima (2008, p.1) evidencia que:
Um dos temas que mais chamam a atenção na
discussão sobre segurança pública no Brasil
é, sem dúvida, a (in)existência de estatísticas
criminais que permitam mensurar e subsidiar
a tomada de decisões e o planejamento de
políticas públicas eficientes e democráticas
na área. A disponibilidade e o papel das
informações sobre crimes e criminosos
configuram-se como centrais neste debate
e, assim, mobilizam diferentes atores em
torno da definição de atribuições, categorias,
conteúdos, regras e procedimentos
envolvidos nesse processo, na medida em
que irão determinar rumos e sentidos de
políticas públicas de pacificação social.
A não integração dos sistemas de tecnologia
50
da informação e das bases de dados das Polícias
Militar, Civil, Técnico Científica e Corpo de Bombeiros,
configuram-se como óbices na problemática da
segurança pública por todo o país, conforme ensina
Nourani et al (2011, p.143):
Somente no setor da Segurança Pública
existem dezenas de base de dados em
formatos diferentes, implantados com
tecnologias diferentes, sem nenhuma
preocupação em sua integração, e tudo
isto nas instituições públicas, dentro de um
mesmo estado, e muitas vezes sob comando
de uma mesma secretaria. Como é o caso
de base de dados da Policia Civil, da Polícia
Militar e da Polícia Técnico-Científica, sem
mencionar outras secretarias do setor, como a
da Justiça e a da Administração Penitenciária.
Soma-se a esta “Torre de Babel” de bases de
dados, a falta de integração dos sistemas
desenvolvidos, e em desenvolvimento, país
afora.
Destarte, os atuais investimentos da Secretaria
de Segurança Pública de Goiás, a precariedade
histórica e a não unicidade de informações para
uma análise de estatística da criminalidade por
parte dos gestores do sistema de segurança pública
estadual, que possibilite tomadas de decisões e a
adoção de políticas públicas eficazes e eficientes na
área, contribuem para que a questão da violência e
criminalidade na Região Metropolitana de Goiânia
seja pauta constante nos veículos de comunicação
da capital goiana.
Diante da necessidade do combate efetivo
à criminalidade e da crescente demanda de
informações por parte da imprensa, Mardegan &
Campos (2008, p.273), ensinam que:
O Governo, então, através de sua polícia
precisa apresentar uma nova estratégia,
utilizando-se de diversos meios para
enfrentar os problemas causados pela
criminalidade. Dentre eles, destacam-se a
tecnologia da informação e a análise criminal.
 Na Administração Pública cabe aos gestores
a posição de tomadores de decisões. Entretanto, é
absolutamente necessário que tais decisões sejam
pautadas por uma produção de conhecimento que
minimize as possibilidades de erro. No âmbito da
Segurança Pública, a Análise Criminal fornece ao
tomador de decisão, resultados e estudos para tal,
conforme Dallbian (2012, p.25, apud Boba, 2009):
A apresentação dos resultados de um estudo
ou pesquisa sobre crime, baseados em
preocupações legais, políticas e práticas, para
informar diferentes públicos sobre o que lhes
interessar sobre o crime e desordem.
Ainda segundo Dallbian (2012, p 18 apud
Boba, 2009), Análise Criminal pode ser entendida
como sendo:
[...] um estudo sistemático de problemas
de crime e desordem, bem como outros
relacionados à segurança pública, incluindo
fatores sociodemográficos, espaciais
e temporais, para apoiar os órgãos de
segurança pública na prevenção e redução
de crimes e desordem, na prisão de
criminosos e na avaliação de resultados das
medidas e ações de segurança pública.
Peixoto (2008, p.11, apud Magalhães,
2007), apresenta três perspectivas de produção
de conhecimento, com foco na segurança pública:
Análise Criminal Estratégica; Análise Criminal Tática e
Análise Criminal Administrativa.
Interessa especificamente a este artigo o
método e o objeto de pesquisa da Análise Criminal
Administrativa, uma vez que tem por finalidade a
padronização dos dados por meio de relatórios,
visando à implantação e execução de políticas
de segurança pública voltadas para a redução
da criminalidade, estabelecendo procedimentos
para garantir a credibilidade das ações dos órgãos
estaduais de Segurança Pública, em especial com a
imprensa.
Sobre o método e objeto da Análise Criminal
Administrativa, Filipe (2006, p.12, apud Dantas &
Ferro, 2006), ensina que:
A atividade de análise criminal administrativa
consiste basicamente na apresentação dos
resultados de pesquisas e análises sobre o
fenômeno do crime e questões conexas,
tendo por base necessidades políticas, legais
e práticas que motivem a necessidades de
informações da parte do público interno e/
ou externo.
A busca por um relacionamento respeitoso
e transparente com a imprensa, a fim de que as
informações a ela repassadas estejam corretas e
possam influenciar a opinião pública de forma
a aumentar a confiança e o respeito para com a
instituição responsável pelo provimento da paz e
da justiça social, a utilização de métodos científicos
que viabilizem a avaliação do desempenho dos
próprios gestores; que auxiliem na detecção de
estratégias que produziram resultados satisfatórios
na redução dos índices de criminalidade em Goiânia,
e que possibilite a análise de desvios estatísticos,
onde sejam levadas em consideração as condições
temporais, geográficas, antropológicas, ambientais e
econômicas, dentre outras, deve ser uma constante
por parte dos gestores públicos de segurança.
Através da Análise Criminal, os diversos
dados produzidos no labor diário dos operadores
de segurança pública serão planificados de maneira
contínua e coesa, sendo elaboradas estatísticas
criminais nas formas descritiva e indutiva, de modo
que o gestor da área de segurança pública, de posse
de inteligência acionável (adequada, íntegra, legal,
oportuna e confiável), possa levar com segurança e
transparência as informações à sociedade, através da
imprensa goianiense. A utilização da Análise Criminal,
possivelmente, refletirá em melhor interação entre
Secretaria de Segurança Pública de Goiás, meios e
mecanismos de comunicação e a própria sociedade.
51
 A quebra de paradigmas de uma política de
segurança pública fechada em si mesma, para um
sistema de gestão democrática de segurança, passa
necessariamente por uma prestação de contas à
sociedade (FERREIRA; CAMPAGNAC, 2013).
Assim, o uso sistemático e institucional da
análise criminal, como disciplina metodológica,
no âmbito administrativo, constitui-se em uma
ferramenta útil para a prestação de contas do Estado
à sociedade, uma vez que possibilitaria, aos gestores
das instituições de segurança pública, a administração
proativa dos recursos do Estado no controle da
desordem pública, violência e, consequente redução
da criminalidade.
Este modelo de gestão, baseado em
conhecimento, daria-se pela adoção de estratégias de
segurança pública efetivas, e elaboração de políticas
públicas adequadas.
3 – Metodologia
Utilizou-se como metodologia para o
desenvolvimento do presente artigo, o método
indutivo, através de pesquisa bibliográfica.
A pesquisa bibliográfica serviu-se do
conhecimento científico produzido sobre o tema a
partir da literatura existente. Neste caso, as fontes
foram livros, artigos, dissertações e teses.
Quanto aos objetivos da pesquisa, trata-
se de uma pesquisa exploratória, que para Mattar
(1999, p.80) “visa promover o pesquisador de um
maior conhecimento sobre o tema ou problema de
pesquisa em perspectiva”.
Em relação à forma de abordagem do objeto
de estudo, trata-se de uma pesquisa qualitativa.
O uso dos métodos permitiram a
identificação e formação de toda a base conceitual
para a abordagem do tema, abrindo possibilidades
de novas discussões no campo da pesquisa científica.
52
4 – Resultados e Discussão
Ao longo desse artigo, mostrou-se através das
citações de matérias jornalísticas que diariamente
a questão da violência tem sido exaustivamente
destacada nos meios de comunicação de Goiás.
Os jornais impressos, os noticiários da
TV, as ondas do rádio, as redes sociais e sites da
internet apresentam em grandes manchetes dados,
números, informações e ocorrências que retratam
uma realidade social cada vez mais violenta, mesmo
quando visivelmente tendenciosas.
Os noticiários policiais em Goiânia não fogem
a essa regra: Uma mídia voltada para a produção de
informação em grande escala, às vezes sem qualidade.
Verifica-se também pelo referencial
teórico que produções factuais e a pressão pelo
imediatismo somam- se à divulgação de fenômenos
sociais violentos - como roubos, homicídios,
latrocínios, estupros e chacinas, os quais passam a
ter constantemente pautas garantidas em todos os
canais de TV, nos programas de rádio e nas principais
páginas dos jornais - influenciando de maneira
incisiva na imagem e reputação das instituições que
fazem a gestão e operação das políticas de segurança
pública no estado, além do uso político para confronto
partidário com o Governo do Estado.
O jornalismo policial pressionado pela
velocidade sempre crescente das novas tecnologias,
pressionado ainda pela busca constante e irracional
do “furo” de reportagem e por interesses comerciais
cada vez mais altos ganha expressão e força.
Observou-se a necessidade dos gestores
públicos de segurança se capacitarem não somente
para realizar uma análise objetiva, crítica e científica
daquilo que é publicado pela imprensa e que se
relaciona com as políticas de segurança do estado,
mas também para, a partir da análise criminal, interagir
com os veículos de comunicação com rapidez e
transparência no posicionamento institucional.
 Como contraste, o modo empírico como os
dados são coletados pelos gestores de segurança
e divulgados para a imprensa, contribuem
fortemente para o aumento de desconfianças e
erros de interpretação pelos meios de comunicação
e sociedade, e ainda para perda de reputação e
credibilidade, conforme assegura. Miranda (2004,
p.13):
A recepção de uma mensagem veiculada pela
imprensa, cujo conteúdo seja proveniente
de informações policiais, já provoca uma
desconfiança a respeito de sua veracidade,
não só nos leitores, mas também entre os
próprios jornalistas, que geralmente partem
do mesmo pressuposto. A isso se soma o fato
de que os dados oriundos de fontes policiais
são analisados por um órgão estatal, embora
técnico, o que também o torna suspeito.
Nesse caso, o fluxo de comunicação já tem
seu início comprometido.
Por outro lado, a imprensa utiliza-se da
notícia não apenas como informação, mas também
como pano de fundo para a criação de espetáculos
midiáticos com forte apelo emocional, gerando em
decorrência uma impressão não verdadeira de fatos
sociais, como bem define um estudo de Rondelli
(2001, p.147),
[...] estamos vivendo em um horizonte de
representações sociais da violência para
cuja disseminação em muito contribuem os
meios de comunicação de massa produzindo
a dramatização da violência e difundindo sua
espetacularização enquanto um efeito da
violência exercida pelo campo jornalístico.
Neste contexto, a Análise Criminal pode ser
utilizada como ferramenta de apoio à gestão, pois
propicia o monitoramento e análise de fatos ligados
à desordem pública, violência e criminalidade, para
subsidiar o planejamento das ações de políticas de
segurança pública, mostrando-se útil na identificação
de padrões nas práticas delituosas, considerando
estatisticamente as características de cada região,
conforme ensina Silva (2005, p.10):
Os produtos da análise criminal servem ao
propósito de apoiar as áreas estratégica,
tática e administrativa das organizações
de segurança pública, orientando o
planejamento e emprego de recursos
humanos e materiais no sentido da
prevenção e repressão do fenômeno da
criminalidade. Contribuem, de maneira
específica, para as atividades de investigação,
prisão de delinquentes e esclarecimento de
crimes, bem como norteiam a gestão das
organizações policiais no suporte daquelas
mesmas atividades.
Sobre os objetivos da análise criminal ensina
Miranda (2004, p.20) que:
O que a análise criminal pode contribuir é
no fornecimento de subsídios para ações
do poder público, seja na dimensão tática,
para que os policiais possam realizar melhor
as investigações e o patrulhamento, seja
na dimensão estratégica, de modo que
os gestores e formuladores das políticas
possam realizar projeção de cenários. Por
último, urge salientar que a análise criminal
não é um fim em si mesma, é apenas a
primeira etapa para o desenvolvimento de
políticas públicas e para a profissionalização
das polícias, restando ainda muito trabalho
a ser feito.
Tal ferramenta possibilita o monitoramento
de resultados operacionais dos órgãos policiais,
adequação às metas estratégicas e acompanhamento
das diferentes modalidades de ações criminosas,
permitindo ainda a detecção de boas práticas
aplicadas pelos gestores na solução de problemas
específicos, possibilitando, inclusive, sua aplicação na
gestão inteligente de recursos e efetivos.
53
Considerações Finais
No tocante à gestão da segurança pública, a
análise criminal pode ser utilizada como importante
ferramenta na construção da imagem e defesa
institucional, possibilitando aos gestores da área,
através de informações sobre questões sociais e
geográficas, associadas às técnicas de análises
estatísticas, dar conhecimento a população e a outros
órgãos sobre a situação da segurança pública, em
determinado lapso temporal.
A utilização da análise sistemática de crimes
para identificar e mapear os padrões e tendências
da criminalidade e outros dados na produção
de informação oportuna e pertinente ao crime e
outros assuntos que ocorrem dentro do sistema
de segurança pública, se torna uma ferramenta
fundamental para determinar o uso operacional
dos recursos, ajudar no processo investigativo, e
para orientar a alocação de pessoal e equipamento,
fornecendo estrutura para uma abordagem dinâmica
na redução da criminalidade.
A Análise Criminal Administrativa se utilizada
como ferramenta de apoio à gestão no trato com a
imprensa, poderá subsidiar o gestor público sobre
a situação da segurança pública, permitindo o
planejamento de ações policiais e de investimentos
no setor e ainda o esclarecimento da opinião pública,
através dos meios de comunicação sobre as ações de
segurança desenvolvidas.
A partir da análise desenvolvida e diante da
obrigatoriedade e da abrangência dos princípios da
publicidade e da transparência na administração
pública brasileira. Como forma de se evitar a
divulgação de matérias pela imprensa que não
contemplem de forma ética e com imparcialidade
os fatos relacionados à criminalidade em Goiás, em
especial na cidade de Goiânia, a Análise Criminal
contribuirá de forma decisiva para a construção de
uma imagem e uma reputação cada vez mais forte da
54
Secretaria de Segurança Pública de Goiás, urge que a
Análise Criminal seja utilizada pelos gestores públicos
de segurança como uma poderosa ferramenta de
apoio à gestão.
Mas não basta apenas um discurso retórico
sobre a importância da Análise Criminal como
ferramenta de apoio à gestão, em especial, no trato
com a imprensa.
Para que as informações fornecidas pelos
gestores públicos no âmbito da segurança à
imprensa, sejam o menos possível questionáveis, e
possam influenciar na formação da opinião pública, a
integração dos sistemas de tecnologia da informação
e das bases de dados das Polícias Militar, Civil, Técnico
Científica e Corpo de Bombeiros são apresentadas
como propostas extremamente pertinentes.
É importante salientar que, quanto maiores
forem os investimentos para reestruturação,
reaparelhamento e aquisição de ferramentas de
Tecnologia de Informação na área de Análise Criminal
em Goiás, bem como a qualificação profissional dos
recursos humanos, mais confiável será a prestação de
contas do Estado perante a sociedade.
Sugere-se por fim que os operadores da
segurança pública sejam qualificados para exercerem
as atividades específicas de Análise Criminal de
interesse da Secretaria de Segurança Pública do
Estado de Goiás, de forma a padronizar as ações das
diversas Instituições de Segurança Pública no campo
da Análise Criminal, buscando o seu aprimoramento
na lide com os dados estatísticos; de forma a identificar
técnicas e instrumentos que possibilitem a coleta de
dados, com a correta aplicação dos conceitos básicos
relacionados à Análise Criminal.
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