Você está na página 1de 75

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/267325830

Produção de Cachaça de Qualidade

Book · April 2013

CITATIONS READS

8 8,340

4 authors, including:

André Alcarde Aline Bortoletto


University of São Paulo University of São Paulo
67 PUBLICATIONS   918 CITATIONS    36 PUBLICATIONS   244 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Drastic climate changes may be related to sluggish/stuck spontaneous fermentations of sugarcane must for the production of cachaça View project

CHEMICAL AND SENSORY QUALITY OF SUGARCANE SPIRIT AGED IN NEW BARRELS FROM BRAZILIAN WOODS View project

All content following this page was uploaded by Aline Bortoletto on 24 October 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Universidade de São Paulo
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Casa do Produtor Rural

Produção de
Cachaça de Qualidade
Leandro Marelli de Souza
André Ricardo Alcarde
Fabio Vaz de Lima
Aline Marques Bortoletto
Casa do Produtor Rural
Av. Pádua Dias, 11 - Cx. Postal 9 • Bairro Agronomia • Piracicaba, SP
CEP 13418-900 • Fone (19) 3429-4178/3429-4200 • cprural@usp.br

Comissão de Cultura e Extensão Universitára


Presidente Prof. Dr. Wilson Roberto Soares Mattos
Vice-presidente Prof. Dr. Pedro Valentim Marques

Serviço de Cultura e Extensão Universitária


Chefe Administrativo Maria de Fátima Durrer

Coordenação editorial Marcela Matavelli


Revisão técnica Fabiana Marchi de Abreu
Foto capa Gerhard Waller
Layout de capa José Adilson Milanêz
Editoração eletrônica Maria Clarete Sarkis Hyppolito
Impressão ESALQ/USP - Serviço de Produções Gráficas
Tiragem 3000 exemplares • 1ª Impressão (2013)

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:


Casa do Produtor Rural
Av. Pádua Dias, 11 • Cx. Postal 9 • Bairro Agronomia • Piracicaba, SP
CEP 13418-900 • Fone: (19) 3429-4178/3429-4200 • cprural@usp.br

Distribuição Gratuita • Proibida a comercialização

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


DIVISÃO DE BIBLIOTECA - ESALQ/USP

Produção de cachaça de qualidade / Leandro Marelli de Souza ... [et al.] . -- Piracicaba :
ESALQ, 2013
72 p. : il.

Bibliografia.
ISBN: 978-85-86481-24-6
1. Cachaça - Produção - Qualidade I. Souza, L. M. de II. Alcarde, A. R. III. Lima, F. V.
de IV. Bortoletto, A. M. I. Título

CDD 663.53
P964
Leandro Marelli de Souza1
André Ricardo Alcarde2
Fabio Vaz de Lima3
Aline Marques Bortoletto4

1
Doutor - Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição - ESALQ/USP
2
Professor Doutor - Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição - ESALQ/USP
3
Aluno de Graduação em Engenharia Agronômica - ESALQ/USP
2
Aluna de Doutorado - Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição - ESALQ/USP

Produção de
Cachaça de Qualidade
Piracicaba
2013
Agradecimentos
• Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
• Programa Aprender com Cultura e Extensão
• Diretoria da ESALQ/USP
• Comissão de Cultura e Extensão Universitária
• Serviço de Cultura e Extensão Universitária
• Casa do Produtor Rural
• Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição
• Aos funcionários do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutri-
ção: Benedito Araújo; Fabio Luis Bortoleto; Eduardo Giovani Arthuso;
Edimundo Ferreira Costa e Wilson Januário.
• À FAPESP, pelos auxílios e bolsas de estudo que subsidiaram a estrutura de
pesquisa.

Apoio
• Fundo de Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão da Pró-reitoria de
Cultura e Extensão Universitária
• Comissão de Cultura e Extensão Universitária - CCEx
• Serviço de Cultura e Extensão Universitária - SVCEx
Índice
A cachaça, aspectos históricos e econômicos 09
Caracterização da aguardente de cana e
cachaça e seus padrões de identidade e
qualidade 13
Destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar 13
Aguardente de Cana 14
Cachaça 14
Produção de cachaça 20
Qualidade e produtividade da matéria-prima 22
A cana 22
Escolha da variedade e dimensionamento do canavial 23
Plantio 25
Tratos Culturais 27
Preparo do caldo 29
Corte e transporte 29
Recebimento e armazenamento 32
Preparação da cana para moagem 32
Seção de Moagem 32
Moagem 33
Limpeza do caldo 35
Diluição do caldo 36
Fermento 38
Tipos de fermento ou pé-de-cuba 39
Fermento natural ou selvagem 39
Fermento prensado 39
Fermento misto 40
Fermento seco (granulado) 40

Fermentação 42
Ciclo de operações na sala de fermentação 43
Sala e dornas de fermentação 46

Destilação 49
Alambiques 50
Tempo de destilação 51
Frações do destilado 52
Sala e destilação 54
Limpeza do alambique 54
Dupla destilação 55

Envelhecimento e engarrafamento 57
Padronização 59
Engarrafamento 59
Rotulagem 59

Bibliografia consultada 60
Anexos 64
Planilha de controle de Índice de Maturação (IM) 65
Volume de água a ser adicionada ao caldo para 66
ajuste de Brix
Planilha de controle mensal da fermentação 67
e da destilação
Correção de concentração alcoólica a diferentes 68
temperaturas
Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.
(Carlos Drummond de Andrade)

Felizes de nós que temos na própria cachaça o nosso consolo.


Produção de cachaça de qualidade 09

A Cachaça, aspectos históricos


e econômicos
Para entender a origem da cacha- crescente demanda pelo açúcar na
ça, devemos ter conhecimento que Europa, fizeram com que os portugue-
não se trata apenas da história de ses iniciassem um processo de expan-
uma bebida, ou da cana-de-açúcar, são da produção do açúcar, levando
mas sim, da história do próprio Bra- ao início do cultivo em terras brasilei-
sil e do povo brasileiro. Nossa cultu- ras. A tarefa de introdução da cultura
ra e costumes estão entrelaçados na, até então, colônia portuguesa, foi
com as origens desta bebida, que se dada a Martin Afonso de Souza, que
faz sempre presente em toda a ca- trouxe em suas expedições para o Bra-
minhada de crescimento e desenvol- sil as primeiras mudas de cana,
vimento de nosso país. introduzidas na Capitania de São
Em meados do século XV a cana- Vicente, atual cidade de São Vicente.
de-açúcar foi introduzida pelos portu- O solo fértil e o clima quente e úmido
gueses na Ilha da Madeira e pelos es- permitiram o rápido desenvolvimento
panhóis nas Canárias. A experiência do da cultura, marcando o início de uma
cultivo na Ilha da Madeira, localizada atividade que iria se transformar em
no sudoeste da costa portuguesa, e a grande fonte de riqueza para Portugal.
10 Casa do Produtor Rural
Nesta época o Brasil era dividido em produzir incessantemente o açúcar,
capitanias. Da capitania de São com a força dos escravos (primeira-
Vicente, onde se estabeleceram os pri- mente os índios e depois os africanos),
meiros engenhos, a cana-de-açúcar se bois e cavalos. O provável foi que es-
irradiou sem demora por todo o litoral tes povos, por acaso ou não, percebe-
brasileiro. Três anos após a fixação dos ram que os subprodutos da produção
primeiros engenhos já havia alguns de açúcar, chamados pelos escravos
outros funcionando em Pernambuco, de “cachaza” ou “cagaça” e pelos Por-
onde iriam assumir extraordinária im- tugueses de vinho da terra ou vinho da
portância. Também deu início a produ- cana, não servia para a produção de
ção de açúcar na Bahia, cujos primei- açúcar. No início, este caldo era utili-
ros engenhos foram destruídos pelos zado como alimento deixado nos
índios. Na ilha de Itamaracá (PE), em cochos para o consumo dos animais e
1565, a produção já era crescente, e após algum tempo fermentava produ-
na década seguinte foram instalados zindo um líquido com cheiro diferente
os primeiros engenhos em Alagoas. (aroma frutado).
Neste ambiente de grande expansão Os escravos logo perceberam que o
dos engenhos e da cultura da cana- aroma agradável se associava a um
de-açúcar é que surge a cachaça. sabor etílico e um efeito embriagador
Todos os historiadores são unânimes e passaram a consumi-lo em substitui-
quanto ao fato da cachaça ter sido des- ção ao cauim. O cauim era um vinho
tilada, pela primeira vez, em algum produzido pelos índios, no qual as ín-
engenho do litoral brasileiro, mas há dias mastigavam o milho ou a mandio-
controvérsias quanto à data de sua ca após cozidos e depois cuspiam em
criação e onde ela foi produzida. Al- um pote de barro, onde ocorria a fer-
guns defendem que a cachaça tenha mentação.
sido destilada, intencionalmente, pela pri- A destilação do vinho da cana ou vi-
meira vez, na Capitania de Itamaracá, nho da terra, em alambiques trazidos
no atual litoral pernambucano. da Europa, resultou em um líquido
No entanto, a fundação da Vila de transparente, brilhante e ardente se
São Vicente em 1532 e o estabeleci- ingerido. Considerando que se parecia
mento dos primeiros engenhos de açú- com água, recebeu a denominação de
car, indicam este local como o berço aguardente. Outro nome que lhe foi atri-
da cachaça em terras brasileiras. buído é cachaça. Não se sabe se os
Após as instalações de engenhos de alambiques foram trazidos inicialmen-
forma sólida, os mesmos passam a te para produzir a bagaceira, destilado
Produção de cachaça de qualidade 11
de bagaço de uva, que era plantada importância para o comércio externo.
em várias regiões do Brasil e usada na No tempo da transmigração da Cor-
produção do tradicional vinho de uva, te Portuguesa para o Rio de Janeiro,
ou para destilar o vinho da terra. em 1808, a cachaça já era considera-
Assim como não sabemos exata- da um dos principais produtos da eco-
mente onde e quando a cachaça sur- nomia e moeda corrente para a com-
giu, existem controvérsias quanto ao pra de escravos na África. Em 1819,
surgimento de seu nome. Há várias já se podia dizer que a cachaça era a
versões para a origem da palavra ca- bebida do país. Tornou-se a bebida dos
chaça. Uma delas aponta em direção brasileiros e foi empregada como ins-
ao termo espanhol cachaza, que de- trumento de resistência nacional con-
signava um tipo de vinho barato muito tra a colonização e o imperialismo por-
consumido em Portugal e Espanha ou tuguês. “Ela foi, por exemplo, a bebida
cagaça, como era conhecida a borra da Revolução Pernambucana e da In-
do açúcar ou os resíduos dos enge- confidência Mineira, contra o vinho
nhos aqui instalados. Outra hipótese importado da Europa”.
considera que possa ter vindo do ter- Ao longo dos anos, as técnicas de
mo que designava a fêmea do produção de cachaça se beneficiaram
cachaço, um porco selvagem cujas com os avanços tecnológicos. Cada
carnes duras eram amaciadas com a vez mais a cachaça ganha espaço em
aguardente. bares e restaurantes do país, deixan-
No início a cachaça era considera- do para trás o mau costume de que
da produto secundário da indústria essa bebida é pouco nobre. Segundo
açucareira. Porém, mais barata e dados da Associação Brasileira de
abundante que as bebidas portugue- Bebidas (ABRABE), no ano de 1970 a
sas, a cachaça passou a atrair muitos média anual de consumo de cachaça
consumidores e os engenhos passa- por habitante, no Brasil, era de 4,4 li-
ram a valorizar mais sua produção do tros. Em 1995, já eram consumidos,
que a do açúcar. em média 8,7 litros e, atualmente o
A crescente importância econômica consumo é próximo de 11 litros por
da cachaça para o Brasil levou a corte habitante.
buscar meios de impor seus interesses Hoje o Brasil produz oficialmente 1,7
pela força, proibindo a produção e o co- bilhão de litros por ano. Algo próximo
mércio da bebida em seus territórios co- de 1,0 bilhão de litros são provenien-
loniais. A partir daí, a aguardente pas- tes da fabricação industrial e o restan-
sou a ser uma mercadoria de grande te produzidos em alambiques.
12 Casa do Produtor Rural
Estima-se existir no país mais de 40 res são: Alemanha, Estados Unidos,
mil produtores, entre eles microempre- Paraguai, Bolívia, Uruguai e Portugal.
sas e pequenos produtores. Juntos, A cachaça é produzida em todos os
eles totalizam mais de 5 mil marcas e Estados brasileiros e os maiores pro-
faturam aproximadamente US$ 600 dutores são: São Paulo, Pernambuco,
milhões ao ano, empregando 450 mil Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
pessoas diretamente e, aproximada- Paraíba e Paraná, sendo os três pri-
mente, 1,3 milhões de pessoas indire- meiros responsáveis por quase toda
tamente. Praticamente toda a produ- produção de cachaça industrial. Já a
ção de cachaça é consumida interna- produção de cachaça artesanal ou de
mente no Brasil, sendo exportado me- alambique está concentrada nos Esta-
nos de 1,0% do total produzido. Em dos de Minas Gerais, Rio de Janeiro,
2011, foram exportados 10,9 milhões Bahia e São Paulo, sendo que o Esta-
de litros, gerando uma arrecadação de, do Mineiro e o Fluminense contribuem
aproximadamente 17,2 milhões de dó- com, aproximadamente, 50% de toda
lares. Os principais países comprado- a produção feita em alambique.
Produção de cachaça de qualidade 13

Caracterização da aguardente de
cana e cachaça e seus padrões
de identidade e qualidade
O Decreto Federal 6.871 de 4 de ju- de 2007 e pela Instrução Normativa
nho de 2009 regulamenta a Lei 8.918, Nº 27 de 15 de maio de 2008. As de-
de 14 de julho de 1994, que dispõe finições presentes nestas instruções
sobre a padronização, a classificação, normativas estão descritas a seguir:
o registro, a inspeção, a produção e a
fiscalização de bebidas. A Instrução
Normativa Nº 13, de 29 de junho de Destilado Alcoólico Simples de
2005, do Ministério da Agricultura, Pe- Cana-de-Açúcar
cuária e Abastecimento (MAPA) esta- Destinado à produção da aguar-
belece os Padrões de Identidade e dente de cana, é o produto obtido
Qualidade (PIQ) para aguardente de pelo processo de destilação simples
cana-de-açúcar e para cachaça (Ta- ou por destilo-retificação parcial se-
belas 1, 2 e 3). letiva do mosto fermentado do caldo
A Instrução Normativa Nº 13 foi par- de cana-de-açúcar, com graduação
cialmente alterada pela Instrução alcoólica superior a 54% vol.
Normativa Nº 58 de 19 de dezembro (cinquenta e quatro por cento em
14 Casa do Produtor Rural
volume) e inferior a 70% vol. (setenta tos) litros, por um período não inferior
por cento em volume) a 20oC (vinte a um ano.
graus Celsius).
• Aguardente de Cana Premium deve
conter 100% (cem por cento) de aguar-
Aguardente de Cana dente de cana ou destilado alcoólico
É a bebida com graduação alcoólica simples de cana-de-açúcar envelheci-
de 38% vol. (trinta e oito por cento em dos em recipiente de madeira apropria-
volume) a 54% vol. (cinquenta e qua- do, com capacidade máxima de 700
tro por cento em volume) a 20oC (vin- (setecentos) litros, por um período não
te graus Celsius), obtida do destila- inferior a um ano.
do alcoólico simples de cana-de-açú-
car ou pela destilação do mosto fer- •Aguardente de Cana Extra Premium
mentado do caldo de cana-de-açú- deve conter 100% (cem por cento) de
car, podendo ser adicionada de açú- aguardente de cana ou destilado alcoó-
cares até 6,0 g L-1 (seis gramas por lico simples de cana-de-açúcar enve-
litro), expressos em sacarose. A lhecidos em recipiente de madeira
aguardente de cana poderá ter as apropriado, com capacidade máxima
seguintes denominações: de 700 (setecentos) litros, por um pe-
ríodo não inferior a três anos.
• Aguardente de Cana Adoçada pode
conter açúcares em quantidade supe-
rior a 6,0 g L-1 e inferior a 30 g L-1, ex- Cachaça
pressos em sacarose. A sacarose (açú- A denominação típica e exclusiva da
car refinado ou cristal) pode ser subs- Aguardente de Cana produzida no Bra-
tituída total ou parcialmente por açú- sil, com graduação alcoólica de 38%
car invertido, glicose ou seus deriva- vol. (trinta e oito por cento em volume)
dos reduzidos ou oxidados. a 48% vol. (quarenta e oito por cento
em volume) a 20oC (vinte graus Celsius),
• Aguardente de Cana Envelhecida obtida pela destilação do mosto fermen-
deve conter, no mínimo, 50% (cin- tado do caldo de cana-de-açúcar com ca-
quenta por cento) da aguardente de racterísticas sensoriais peculiares, po-
cana ou do destilado alcoólico simples dendo ser adicionada de açúcares até
de cana-de-açúcar envelhecidos em 6,0 g L-1 (seis gramas por litro), expres-
recipiente de madeira apropriado, com sos em sacarose. A cachaça poderá ter
capacidade máxima de 700 (setecen- as seguintes denominações:
Produção de cachaça de qualidade 15
• Cachaça Adoçada pode conter açú-
Recentemente esteve em consulta
cares em quantidade superior a 6,0
pública (até 21/03/2013) a portaria 30,
g L-1 e inferior a 30 g L-1, expres- de 15/02/2013, sobre projeto de Instru-
sos em sacarose. A sacarose (açú- ção Normativa que aprova os procedi-
car refinado ou cristal) pode ser mentos de controle do envelhecimento
substituída total ou parcialmente da bebida alcoólica e demais produtos,
por açúcar invertido, glicose ou com previsão de envelhecimento. Des-
seus derivados reduzidos ou oxi- ta portaria destaca-se:
dados. CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES
PRELIMINARES. Art. 3º Será conside-
• Cachaça Envelhecida deve conter, rada bebida alcoólica envelhecida ou
no mínimo, 50% (cinquenta por produto envelhecido aqueles cem por
cento) de cachaça ou aguardente cento envelhecidos, não sendo permi-
de cana envelhecida em recipien- tida a mistura de produto envelhecido
com produto não envelhecido, indepen-
te de madeira apropriado, com ca-
dentemente da proporção, salvo padrão
pacidade máxima de 700 (setecen-
de identidade e qualidade ou sua
tos) litros, por um período não in-
complementação.
ferior a um ano.
Seção I - Das definições Art. 10.
Para fins de execução desta Instrução
• Cachaça Premium deve conter Normativa, considera-se:
100% (cem por cento) de cachaça 1. Envelhecimento: é o processo no
ou aguardente de cana qual se desenvolvem, naturalmente, em
envelhecida em recipiente de ma- recipientes de madeira e de capacida-
deira apropriado, com capacidade de volumétrica apropriadas, reações fí-
máxima de 700 (setecentos) litros, sico-químicas que conferem à bebida
por um período não inferior a um alcoólica ou outro produto característi-
ano. cas sensoriais que não possuíam ante-
riormente;
• Cachaça Extra Premium deve con- 2. tempo de envelhecimento ou ida-
ter 100% (cem por cento) de ca- de de envelhecimento: o período não
inferior a um ano no qual a bebiba alcoó-
chaça ou aguardente de cana
lica ou outro produto, ressalvado o
envelhecida em recipiente de ma-
brandy ou conhaque fino, é submetido
deira apropriado, com capacidade
ao processo de envelhecimento sob
máxima de 700 (setecentos) litros,
controle da fiscalização federal agrope-
por um período não inferior a três
cuária do MAPA.
anos.
16 Casa do Produtor Rural
As bebidas denominadas de Fica vedado o uso da expressão
Premium e Extra Premium poderão ter “Artesanal” como designação, tipifica-
padronizadas a sua graduação alcoó- ção ou qualificação da aguardente de
lica mediante a adição de Destilado Al- cana ou cachaça, até que se estabe-
coólico Simples de Cana-de-açúcar ou leça, por ato administrativo do Minis-
de Aguardente de Cana ou de Cacha- tério da Agricultura, Pecuária e Abas-
ça envelhecidas pelo mesmo período tecimento, o Regulamento Técnico que
da categoria ou de água potável. fixe os critérios e procedimentos para
A água deverá ter as seguintes ca- produção e comercialização de Aguar-
racterísticas na sua composição, ex- dente de Cana e Cachaça artesanais.
presso em miligramas por litro: Poderá ser declarada no rótulo a
expressão “Reserva Especial” para
Teor máximo de ferro 0,3
a Cachaça e a Aguardente de Cana
Teor máximo de manganês 0,1
que possuírem características senso-
Dureza total (teor máximo de riais, dentre outras, diferenciadas do
carbonato de cálcio) 100,0
padrão usual e normal dos produtos
Oxigênio necessário para oxidar elaborados pelo estabelecimento,
a matéria orgânica 2,0
desde que devidamente comprovada
pela requerente. Os laudos técnicos
A cachaça ou aguardente de cana deverão ser emitidos por laboratóri-
que forem classificadas como Premium os públicos ou privados reconhecidos
ou Extra Premium só poderão constar pelo MAPA.
no rótulo, se as mesmas tiveram seu A Instrução Normativa Nº 58 de 19
processo de envelhecimento acompa- de dezembro de 2007, altera os itens
nhado e certificado pela fiscalização do 4 e 9, da Instrução Normativa no 13,
Ministério da Agricultura Pecuária e conforme instruções reunidas abaixo.
Abastecimento - MAPA. Fica vedado o uso de corantes de
O uso das expressões “Prata”, “Clás- qualquer tipo, extrato, lascas de ma-
sica” ou “Tradicional” refere-se aos pro- deira ou maravalhas ou outras subs-
dutos sem alteração visível na sua co- tâncias para correção ou modificação
loração após a destilação, que tenham da coloração original do produto arma-
sido armazenados em recipientes de zenado ou envelhecido. Veta, ainda, a
madeira ou não. Já a expressão “Ouro” adição de qualquer substância ou in-
é dada para a cachaça que tenha sido grediente que altere as características
armazenada em recipiente de madeira sensoriais naturais do produto final,
e com alteração da sua coloração. com exceção do uso do caramelo, para
Produção de cachaça de qualidade 17
correção e/ou padronização da cor passa a vigorar com a seguinte ins-
conforme previsto nos seguintes trução. Poderá ser mencionado o
itens: Aguardente de Cana Enve- nome da Unidade da Federação ou
lhecida, Premium e Extra Premium; da região em que a bebida foi ela-
Cachaça Envelhecida, Premium e borada, quando consistir em indica-
Extra Premium. ção geográfica registrada no Institu-
Poderá ser utilizado recipiente que to Nacional da Propriedade Indus-
tenha sido anteriormente destinado trial - INPI. Esta inserção deverá
ao armazenamento ou envelheci- constar em posição inferior à deno-
mento de outras bebidas, sendo ve- minação da bebida e em caracteres
dado o uso de recipientes que te- gráficos com dimensão correspon-
nham sido utilizados para outros fins. dente à metade da dimensão utiliza-
É permitido o uso de água potável, da para a denominação da bebida.
para conservação do recipiente que O padrão de identidade e qualida-
foi utilizado para o armazenamento de (PIQ), estabelecido pela legisla-
ou envelhecimento de cachaça ou ção, com seus respectivos limites
aguardente de cana, no período em têm a finalidade de padronizar a ca-
que o mesmo permanecer vazio. chaça e proteger a saúde do consu-
Fica obrigatório declarar no rótulo midor. Essa padronização norteia
a expressão: Armazenada em ....(se- para que a bebida atenda aos pa-
guida do nome do recipiente) drões nacionais de qualidade e pos-
de..... (seguida do nome da madei- sa também ser aceita pelo mercado
ra em que o produto foi armaze- externo, proporcionando condições
nado), para cachaça ou aguardente de abertura e manutenção do mer-
de cana, armazenados em recipien- cado de exportação, além de propor-
te de madeira e que não se enqua- cionar aceitação, no mercado inter-
drarem nos critérios definidos para no, pelas classes de maior poder
a denominação de Envelhecida, aquisitivo, as quais exigem bebidas
Premium ou Extra Premium. Exem- com maior controle de qualidade. Os
plo, “armazenada em tonéis de car- padrões de identidade e qualidade da
valho”; “armazenada em tonéis de aguardente de cana e da cachaça
umburana”; “armazenada em tonéis estão reunidas nas Tabelas 1, 2 e 3.
de balsamo”; etc. No processo de produção da ca-
A Instrução Normativa Nº 27 de 15 chaça são formados componentes
de maio de 2008, altera o item 9.4 voláteis “não álcool”, que podem ser
da Instrução Normativa n º 13, que chamadas de substâncias voláteis
18 Casa do Produtor Rural
“não álcool”, ou componentes secundá- tão caracterizados na Tabela 2.
rios “não álcool” ou impurezas voláteis Alguns compostos considerados
“não álcool” conhecidas como coeficien- como contaminantes podem eventual-
te de congêneres. Os limites destas subs- mente estarem presentes na cachaça
tâncias na constituição da cachaça es- e devem ser monitorados.

Tabela 1. Padrões de identidade da aguardente de cana-de-açúcar e da cachaça

UNIDADE
COMPONENTES UNIDADE
MÍNIMO MÁXIMO
Graduação alcoólica % em volume de álcool
38 54
de aguardente etílico a 20 oC

Graduação alcoólica % em volume de álcool


38 48
de cachaça etílico a 20 oC

Sacarose, em açúcar
refinado, cristal, invertido g L-1 30
ou glicose*

Partículas em suspensão ausentes ausentes


(resíduo sólido)
*Acima de 6 g L-1 (seis gramas por litro) deve aplicar a palavra “adoçada” no rótulo
Fonte: BRASIL, 2005

Tabela 2. Limites da concentração de congêneres estabelecidos pela legislação


brasileira

LIMITE (mg 100-1 mL de álcool anidro)


COMPONENTES
MÍNIMO MÁXIMO
Acidez volátil em ácido acético 150
Ésteres, em acetato de etila 200
Aldeídos, em acetaldeído 30
Furfural + Hidroximetilfurfural 5
Alcoóis superiores * 360
Congêneres** 200 650
*Alcoóis superiores = soma dos alcoóis isobutílico (2-metil-propanol), isoamílicos (2-metil-1-butanol
e 3-metil-1-butanol) e n-propílico (1-propanol). **Congêneres = (Acidez Volátil + Ésteres + Aldeídos
+ (Furfural + Hidroximetilfurfural) + Alcoóis Superiores). Fonte: BRASIL, 2005
Produção de cachaça de qualidade 19
Tabela 3. Limites máximos permitidos de contaminantes na cachaça estabeleci-
dos pela legislação brasileira

LIMITE (mg 100-1 mL de álcool anidro)


COMPONENTES
MÍNIMO MÁXIMO
Álcool metílico (metanol) mg 100 mL-1 de álcool anidro 20
Álcool sec-butílico (2-butanol) mg 100 mL-1 de álcool anidro 10
Álcool n-butílico (1-butanol) mg 100 mL-1 de álcool anidro 3
Acroleína (2-propenal) mg 100 mL-1 de álcool anidro 5
Carbamato de etila µg L-1 da bebida 150
Cobre mg L-1 da bebida 5
-1
Arsênio µg L da bebida 200
Chumbo µg L-1 da bebida 100
Fonte: BRASIL, 2005
20 Casa do Produtor Rural

Produção de Cachaça
A produção de cachaça envolve vá- tado para separação do bagacilho e
rias etapas, iniciando com a cana e fi- diluído para ajuste do Brix. O caldo de
nalizando com a comercialização do cana-de-açúcar pronto para fermentar
produto. Deve-se examinar todo o pro- é denominado mosto. O mosto é colo-
cesso, apontando os principais aspec- cado para fermentar na presença do
tos a serem observados, a fim de ob- fermento, denominado “pé-de-cuba”.
ter em cada uma de suas etapas, os Depois de terminada a fermentação, o
melhores resultados, objetivando inse- mosto fermentado é chamado de vinho.
rir no mercado um produto final de qua- O vinho, depois de decantado, é destila-
lidade comprovada. do. Durante a destilação, são separadas
A Figura 1 ilustra o fluxograma da as frações “cabeça”, “coração” e “cau-
produção da cachaça. A cana-de-açú- da”. A fração “coração”, denominada de
car, depois de colhida e transportada cachaça, pode ser armazenada ou
para a indústria, é moída e o bagaço é envelhecida e, posteriormente, engarra-
separado. O caldo é peneirado, decan- fada e comercializada.
Produção de cachaça de qualidade 21

Figura 1. Fluxograma do processo de produção de cachaça artesanal


22 Casa do Produtor Rural

Qualidade e produtividade da
matéria-prima
A cana
Desde o início da colonização do Dentro desse enfoque, observa-se
Brasil, a cana-de-açúcar constitui, sob que nem todo o setor, principalmente
os aspectos econômico e social, uma o da produção de cachaça, apresenta
das principais culturas do país. Desde o mesmo desenvolvimento tecnológico
então, a cana tem sido utilizada para no seu todo, pois uma série de aspec-
produção de açúcar, de cachaça, na tos técnicos, econômicos, sociais e até
alimentação animal e, a partir de 1970, culturais interferem de forma significati-
com a criação do PROALCOOL, pas- va no processo, indicando realidades di-
sou a ser usada também, e em larga ferentes, quando comparados com ou-
escala, para produção de álcool com- tros setores de produção.
bustível. Tal fato promoveu a expan- Antes de implantar um canavial des-
são da área cultivada com cana no tinado à produção de matéria-prima
Brasil e acelerou o avanço tecnológico usada na agroindústria de cachaça, o
no sistema de produção e proces- produtor deve estar atento a diversos
samento da matéria-prima para a in- fatores inter-relacionados, dos quais
dústria do açúcar e do álcool. podem-se destacar:
Produção de cachaça de qualidade 23
1) o potencial genético da planta (va- mo, qualquer que seja a variedade es-
riedade) e sua adaptabilidade ao colhida, e esse é o principal fator de
ambiente; produtividade e qualidade. Para evitar
2) as condições físicas, químicas e bio- problemas, o produtor deve escolher
lógicas do solo; variedades que ofereça: alto teor de
3) as condições climáticas do local; sacarose, fácil despalha, resistência
4) os tratos culturais empregados (pre- ao tombamento, baixo teor de fibras,
paro do solo, aquisição de mudas, resistência às principais pragas e
forma de plantio, controle de ervas doenças, e boa produção por hectare.
daninhas, pragas e doenças); e Em geral as variedades que são boas
5) a qualidade da matéria-prima. para produção açúcar e álcool, são
boas, também, para a produção da ca-
chaça.
Paulo Soares

No planejamento do canavial para


produção de cachaça, além da produ-
ção de colmos esperada, deve-se tam-
bém levar em consideração a
maturação das variedades. Tal como
a produtividade de colmos, a ma-
turação é também influenciada pelas
Figura 2. Canavial destinado à produção de condições edafoclimáticas (clima, re-
matéria-prima
levo, temperatura, umidade do ar, ra-
diação solar, tipo de solo, quantidade
de vento e precipitação pluvial). De
Escolha da variedade e maneira geral, a cana-de-açúcar re-
dimensionamento do canavial quer de 6 a 8 meses, com temperatu-
A rentabilidade do negócio depen- ras elevadas, radiação solar intensa e
de, fundamentalmente, da escolha precipitações regulares, para que haja
correta das variedades de cana-de- pleno crescimento vegetativo, segui-
açúcar, que melhor se adaptem à re- dos de 4 a 6 meses, com estação seca
gião produtora. A escolha correta das e/ou baixas temperaturas, condições
variedades a serem cultivadas é, tal- essas desfavoráveis ao crescimento e
vez, o único fator que pode proporcio- benéficas ao acúmulo de sacarose.
nar maiores lucros sem nenhuma des- A maturação é o processo fisiológi-
pesa adicional. Isso ocorre por que o co de transporte e armazenamento da
custo das mudas geralmente é o mes- sacarose nas células parenquimatosas
24 Casa do Produtor Rural
dos colmos. A concentração de açú- ou seja, precoce (colhidas em maio/ju-
cares é maior no sentido da base dos nho), média (colhidas em julho/agos-
colmos para o ápice e da parte ex- to/setembro) e tardia (colhidas em ou-
terna para a parte interna. As varie- tubro/novembro/dezembro), para obter
dades podem ser classificadas quan- sempre uma matéria-prima de boa con-
to à maturação (Figura 3) da seguin- dição de moagem, isto é, madura. O
te forma: uso de pelo menos três variedades de
a) variedades precoces: apresentam ciclos de maturação diferentes é es-
teor de sacarose superior a outras sencial para a produção de cachaça
variedades no início da safra. O teor com rendimentos satisfatórios e maior
máximo de açúcar é alcançado de lucratividade. Indica-se uma distribui-
agosto a setembro. Normalmente ção das variedades em 20% para as
possuem longo período útil de in- precoces, 60% para as médias e 20%
dustrialização (PUI), aproximada- para as tardias.
mente 180 dias, isto é, o período O dimensionamento da área de ca-
de colheita dura, aproximadamen- navial a ser implantado é importante
te, 180 dias; para garantir o fornecimento ininter-
b) variedades médias: apresentam teor rupto de matéria-prima, evitando des-
de sacarose elevados no meio da perdícios ou quebra de produção. Para
safra. O teor máximo de açúcar é o entendimento dos cálculos do
alcançado em setembro e possuem dimensionamento de um canavial, va-
PUI médio. O período de colheita mos exemplificar uma produção com
dura, aproximadamente, 180 dias; os seguintes aspectos:
c) variedades tardias: apresentam ele-
vado teor de sacarose de meados
para o final da safra e possuem PUI
curto (70 a 120 dias).

Um detalhe que não deve ser es-


quecido pelo produtor de cachaça é o
período de safra. Se um produtor de
cachaça pretende produzir no período
de maio a novembro/dezembro, ele
deve plantar variedades que apresen-
tem ciclos de maturação diferentes, Figura 3. Curvas de maturação de variedades
precoce, média e tardia. Fonte:
que cubram todo o período de safra, Adaptado de Novaes et al., 1974
Produção de cachaça de qualidade 25
• Produção diária: 240 litros de ca- ximadamente 7,0 hectares de cana
chaça; para suprir a demanda de toda a fábri-
• Jornada de trabalho: 8 horas; ca durante um ano de produção.
• Período de safra: 180 dias; Conforme já mencionado anterior-
• Rendimento agrícola médio: 75 to- mente, recomenda-se distribuir a área
neladas de cana por hectare; total do canavial em variedades pre-
• Área de renovação: 20% da área coces (20%), médias (60%) e tardias
total de corte; (20%). Desta forma, o correto seria
• Rendimento industrial médio: 100 ocupar 1,4 hectares com variedade
litros de cachaça por tonelada de precoce, 4,2 hectares com variedade
cana. média e 1,4 hectares com variedade
tardia.

Nesta situação teremos uma produ-


ção anual de 43.200 litros de cachaça Plantio
(240 litros diários x 180 dias de produ- As épocas de plantio da cana-de-
ção). Para essa produção, serão ne- açúcar tradicionalmente empregadas
cessárias 432 toneladas de cana. Para nas regiões sudeste, sul e centro-oes-
chegar a esse valor, basta dividir a pro- te são:
dução anual de cachaça esperada a) Cana de ano e meio ou de 18 me-
(43.200) pelo rendimento industrial ses: plantio realizado de janeiro a
médio (100 litros de cachaça por tone- março/abril, sendo que a colheita
lada). Como a produtividade média por ocorre a partir de maio do ano se-
hectare foi estimada em 75 toneladas, guinte, compreendendo um ciclo de
serão necessários 5,76 hectares plan- desenvolvimento de 14 a 18 meses.
tados com cana. Este valor é calcula- b) Cana de ano ou de 12 meses: plan-
do dividindo o valor total de toneladas tio realizado de setembro a outubro
de cana necessária para suprir a de- e a colheita ocorre geralmente de
manda anual do alambique (432 tone- setembro a novembro, compreen-
ladas), pela produção média estimada dendo 10 a 14 meses de desenvol-
de cana por hectare (75 toneladas). vimento.
Sabendo que se faz necessário deixar c) Plantios extemporâneos ou fora da
uma área de renovação de canavial de época normal: Quando se tem dis-
20%, o que daria 1,15 hectare (20% ponibilidade de água e/ou vinhaça
de 5,76 hectare), concluímos que se para realizar a irrigação na implan-
faz necessário uma área total de apro- tação e manutenção da cultura,
26 Casa do Produtor Rural
pode-se executar o plantio em ou- para facilitar o desenvolvimento do sis-
tros períodos. Nas regiões onde não tema radicular. As arações rasas pro-
há limitação à temperatura, principal- movem o desenvolvimento de um sis-
mente nos estágios de brotação e tema radicular superficial, predispondo
desenvolvimento inicial, esse perío- a cana ao tombamento. Recomenda-se
do pode abranger o ano todo. incorporar os restos da cultura anterior
para diminuir a compactação do solo.
A cana se adapta bem em diversos A gradagem é realizada para elimi-
tipos de solos, desde que preencham nar os torrões do solo, tornando a su-
as quatro funções básicas: suprimen- perfície mais uniforme.
to de ar, água, nutrientes e suporte. Antes da abertura dos sulcos, deve-
Embora a cana-de-açúcar se desen- se considerar o espaçamento e a pro-
volva bem em solos arenosos, prefere fundidade. Quando se utiliza
solos profundos, argilosos, com a boa espaçamentos menores, a produção é
fertilidade e capacidade de retenção de ligeiramente maior. A cana fecha mais
água. Apesar da exigência em água, a depressa, havendo economia nos tra-
cultura não se dá bem em terreno com tos culturais (menor número de capi-
excesso de umidade. Solos nessas nas). As desvantagens em usar meno-
condições requerem perfeita drena- res espaçamentos estão na maior difi-
gem. A verificação da necessidade de culdade de sulcar e tratar a cultura com
correção da acidez e da suplemen- equipamentos mecânicos. A adubação
tação com adubação no momento do da soca e o enleiramento do palhiço
plantio deve ser verificada em análise também ficam mais difíceis. Recomen-
laboratorial (análise de solo). Essa da-se, portanto, um espaçamento en-
análise permite calcular a quantidade tre 1,30 a 1,50 m. O sulcamento deve
ideal de calcário e adubo que deverá ser realizado em curva de nível, com
ser usado no preparo do solo e plantio declive suave e uniforme, cortando as
da cana. águas.
O bom preparo do solo, que consis- As mudas devem ser adquiridas,
te em aração e gradagem, assegura preferencialmente de viveiros idôneos,
um melhor desenvolvimento das plan- geralmente de usinas e destilarias, ins-
tas e facilita os trabalhos seguintes de tituições de pesquisa ou de ensino na
sulcamento, plantio, adubação e tratos área de ciências agrárias, a fim de se
culturais. implantar um material sadio, de alto
As arações devem ser profundas, vigor e alta pureza varietal. Na impos-
principalmente nos solos argilosos, sibilidade, devem-se retirar mudas dos
Produção de cachaça de qualidade 27
canaviais de 1o corte, bem desenvolvi- desinfetadas para evitar contaminação.
dos e aparentemente sadios, com ida- Muitas doenças causadas por vírus
de de 12 meses. Não é indicado utili- são transmitidas por esses equipamen-
zar mudas de cana madura com 18 tos de corte.
meses ou mais, devido às gemas do O corte da cana em toletes dentro
terço inferior já se encontrarem madu- do sulco se faz necessário, porque as
ras, brotando com dificuldade, tendo, gemas da ponta brotam mais rapida-
como consequência, a formação não mente que as do pé. Os hormônios de
uniforme do canavial. crescimento que se formam nas gemas
O custo para obtenção de mudas de brotadas inibem a brotação das gemas
variedades selecionadas em viveiros do pé. Para o plantio de 1,0 hectare
devidamente credenciados pode ser de cana, são necessários 8 a 12 tone-
um pouco mais elevado, porém esse ladas de mudas, dependendo do diâ-
valor pode ser reduzido. Se o plantio metro da cana. Quando as mudas são
do canavial puder ser feito com pelo de boa qualidade, não se faz necessá-
menos um ano de antecedência, o pro- rio a utilização de cana dupla, isto é, duas
dutor reduzirá, em pelo menos dez ve- canas lado a lado dentro do suco.
zes, o custo de implantação do cana- A cobertura dos toletes com terra
vial. Por exemplo, se o produtor preci- pode ser feita com implementos apro-
sar de 20 hectares de cana para abas- priados ou manualmente com enxa-
tecer a capacidade de seu alambique, das. Nesta operação, colocam-se 5 a
ele poderá plantar 2 hectares com as 10 cm de terra sobre os toletes e reali-
mudas compradas e no próximo ano, za-se a compactação, para promover
retirar desta área mudas para plantar melhor brotação, enraizamento e favo-
os 20 hectares necessário para sua recer a emergência.
produção de cachaça.
As mudas podem ser colocadas in-
teiras no sulco, cruzando-se ligeira- Tratos culturais
mente o palmito da anterior com o pé A cana-de-açúcar é muito sensível à
da seguinte. Depois, são picadas em ocorrência de ervas daninhas, princi-
toletes de três gemas, com um total de palmente no começo de seu desenvol-
pelo menos 12 gemas viáveis por vimento. Quanto mais tempo durar
metro de sulco. Recomenda-se retirar essa concorrência, maiores serão os
um pouco a palha da cana para facili- prejuízos. As ervas daninhas podem
tar a germinação e as ferramentas usa- ser portadoras de pragas e doenças,
das no corte dos toletes devem ser como por exemplo, o Mosaico (carac-
28 Casa do Produtor Rural
terizado por manchas esbranquiçadas Após o corte da cana, as soqueiras
com o centro amarelado ou amarron- brotam novamente, constituindo novas
zado nas folhas). touceiras. Essas soqueiras devem
Nos plantios de cana de ano e meio, ser submetidas aos mesmos tratos
efetuados de janeiro a março, geral- culturais da cana-planta (controle de
mente são suficientes de três a quatro ervas daninhas, adubação e escarifi-
capinas, pois com a entrada do inver- cação), além do enleiramento do
no há menor proliferação do mato. Com palhiço. A cana cortada crua deixa
o início das chuvas, a cana logo cobre grande volume de palhiço remanes-
o solo, havendo necessidade de ape- cente, que deve ser enleirado em
nas mais uma capina ou repasse. ruas alternadas.
A capina se faz de diversas manei- As escarificações superficiais bas-
ras: manual (enxada), mista (mecâni- tam para a absorção da umidade. As-
ca e manual), unicamente mecânica ou sim, pode se esparramar o adubo
utilizando herbicidas, que podem ser para a soca ao lado das linhas da
seletivos ou não, aplicados em pré ou cana e depois incorporá-lo ao solo
pós-emergência da cultura e/ou das com uma escarificação. O número de
plantas infestantes. Qualquer que seja capinas para manter a soca limpa é
o sistema usado procura-se evitar o menor (duas a três), pois o lança-
lançamento de muita terra dentro do mento de sementes de mato no solo
sulco, pois seu aterramento pode pre- é menor e a cana se forma mais ra-
judicar o brotamento das soqueiras. pidamente.
Produção de cachaça de qualidade 29

Preparo do Caldo
As etapas do preparo do caldo estão mecânico, a limpeza deve ser uma
ilustradas na Figura 4. O preparo do cal- preocupação constante, visando à ob-
do começa logo após o corte da cana. tenção de um caldo rico em açúcar e
livre de impurezas.
A prática de queimar os canaviais é
Corte e transporte um fator prejudicial à qualidade da ca-
A colheita da cana-de-açúcar reflete chaça, embora facilite a colheita da cana-
todo o trabalho desenvolvido e condu- de-açúcar. Tal conduta acelera a dete-
zido no campo ao longo do ciclo da rioração da cana, ainda no campo,
cultura, culminando na entrega da pela inversão da sacarose. Além dis-
matéria-prima para que a mesma seja so, acarreta o acúmulo de cinzas nas
processada e contribua na obtenção de dornas de fermentação, interferindo ne-
um produto final de qualidade. A cana- gativamente no processo fermentativo.
de-açúcar destinada à produção de No que se refere ao paladar da cacha-
cachaça deve ser cortada bem rente ça, identifica-se com certa facilidade o
ao solo para evitar infestações de pra- gosto de queimado (associado ao au-
gas e doenças nas soqueiras remanes- mento do teor de furfural, hidroximetil-
centes e emissões de brotações aé- furfural e compostos correlatos), o que
reas. Tanto no corte manual como no deprecia a qualidade do produto.
30 Casa do Produtor Rural

Figura 4. Etapas do preparo do caldo. Fonte: Maia e Campelo, 2005

Também é importante saber o mo- garra facilmente. Medir no refratô-


mento da colheita de cana de açú- metro de campo (Figura 6) e anotar
car. Existem técnicas que auxiliam no o oBrix; usando uma planilha (Anexo
estabelecimento da época certa da 1); c) calcular o Índice de Maturação
colheita. O procedimento a ser reali- (IM), dividindo os valores encontra-
zado é o seguinte: a) deve-se per- dos na ponta pelos encontrados na
correr a área a ser colhida, cortando base, tirando-se a média das amos-
as canas ao acaso em vários pontos tras (IM = oBrix ponta/oBrix base).
da área (10 a 12); b) extrair com fer- As canas bem maduras apresentam
ramentas próprias (Figura 5) algu- teor de sacarose nos internódios da
mas gotas de caldo do 4o internódio ponta próximos aos do meio e são
(gomo da cana) contando a partir da ligeiramente menores que os da
base da cana (chão) e do último base. A interpretação dos resultados
internódio do qual a bainha se des- encontra-se na Tabela 4.
Produção de cachaça de qualidade 31

Figura 5. Sistema de extração de caldo. Fonte: Novaes Figura 6. Refratômetro de campo


et al., 1974

Tabela 4. Interpretação dos resultados do índice de maturação

RESULTADO DE IM INTERPRETAÇÃO
< 0,6 Imatura (verde)
0,6 - 0,7 Maturação baixa
0,7 - 0,84 Maturação média
0,85 - 1,0 Maturação ótima
> 1,0 Maturação ultrapassada
Fonte: Mutton e Mutton, 2010

De preferência, a cana-de-açúcar disposta paralelamente em pequenos


deve ser moída no mesmo dia do cor- montes sobre o terreno, sendo trans-
te. O limite máximo é de 24 horas, para portada para uma área coberta, próxi-
se evitar perda da qualidade da cana ma a seção de moagem. O transporte
devido à deterioração do açúcar via deve ser feito com cuidado e o mais
contaminação microbiológica. Para rápido possível, procurando evitar tan-
evitar que a cana fique estocada por to danos mecânicos quanto a ação dire-
muito tempo, faz necessário calcular a ta da luz solar. A luz e o calor favorecem
quantidade de cana a ser colhida. Para a proliferação de bactérias, que aumen-
o entendimento dos cálculos, vamos tam a viscosidade do caldo, prejudican-
exemplificar uma quantidade de cana do a decantação do fermento, o rendi-
a ser cortada para preparar 1000 litros mento da fermentação e, consequen-
de caldo com 18oBrix, considerando a temente, a qualidade do vinho a ser
relação de 600 litros de caldo por to- destilado, produzindo compostos inde-
nelada de cana (Tabela 5). sejáveis, que serão destilados e pos-
Após ser cortada, a cana deve ser sivelmente incorporados à cachaça.
32 Casa do Produtor Rural
Tabela 5. Quantidade de cana a ser cortada para preparar 1.000 litros de caldo a
18oBrix

VOLUME DE CALDO QUANTIDADE DE


o
BRIX DO CALDO VOLUME DE ÁGUA
CANA A SER
ORIGINAL (litros) (litros) CORTADA (kg)
18 1.000 - 1.667
19 947 53 1.579
20 900 100 1.500
21 857 143 1.429
22 818 182 1.364
23 783 218 1.304
24 750 250 1.250
25 720 280 1.200
26 692 308 1.154

Recebimento e armazenamento tiverem empoeirados, com terra ou em


A cana deve ficar armazenada pelo quantidade apreciável de cera, é reco-
menor tempo possível (lembre-se que mendável que sejam lavados com jato
o tempo máximo ideal entre o corte e de água potável pouco antes de serem
a moagem é de 24 horas). O armaze- moídos. Só devem ser moídos os
namento deve ser próximo à moenda, colmos saudáveis.
sobre um piso elevado (tablado de
madeira ou em alvenaria) que possibi- Seção de moagem
lite a ventilação, além de permitir o es- A seção de moagem é destinada às
coamento da água de lavagem dos operações de recebimento, limpeza e
colmos, quando necessário. O tablado moagem da cana-de-açúcar. Quando
deve conter alguns tubos verticais, que possível, deve ser construída no nível
delimitem o espaço para seu armazena- mais elevado do terreno, proporcionan-
mento. A delimitação desse espaço tam- do assim, que os processos subse-
bém facilita o cálculo da quantidade de quentes sejam realizados por gravida-
cana disponível para a moagem. de. Não é permitida a presença de ani-
mais circulando nessa área, por isso,
Preparação da cana para o ideal é que esteja distante de cur-
moagem rais, pocilgas e fontes produtoras de
A cana deve ser sempre mantida mau cheiro. Pode ser construída, com
mais limpa possível. Se os colmos es- piso resistente e impermeável, que
Produção de cachaça de qualidade 33
permita uma boa lavagem. Normal- cares. O principal objetivo desta etapa
mente, o piso é de cimento, não muito é recuperar o açúcar que está dissol-
liso, para evitar que fique escorrega- vido no caldo, que se encontra arma-
dio e provoque acidentes. O uso de zenado nos colmos de cana-de-açúcar.
revestimento com pedra também é re- A moenda é o equipamento respon-
comendado, porém pode dificultar a sável pela extração do caldo da cana.
limpeza do local. Essa área também Seus componentes essenciais são:
deve ser coberta, pé-direito mínimo de base, castelos, rolos, bagaceira e mo-
3,0 metros, de maneira a proteger a tor (Figura 7). A base é uma mesa ho-
cana dos efeitos negativos da ação do rizontal de seção retangular, geralmen-
sol e da chuva. te fixada num suporte de concreto por
meio de parafusos. Nela se fixam os
Moagem castelos, um de cada lado e na parte
A moagem propicia a extração do central existe uma canaleta para rece-
caldo existente nos colmos da cana- ber o caldo. Os castelos suportam as
de-açúcar. Na cana madura, o caldo extremidades da bagaceira e os três
possui aproximadamente, entre 75% a rolos responsáveis pela moagem da
82% de água e de 18% a 25% de açú- cana (Figura 8).

Figura 7. Componentes básicos de uma moenda


34 Casa do Produtor Rural

Figura 8. Constituição esquemática de uma moenda. Fonte: Adaptado de Oliveira et al., 1978

A eficiência da extração de uma Há vários tipos de moendas que po-


moenda pode ser medida dividindo a dem ser usadas para a produção de
quantidade de caldo extraído pela cachaça. A escolha da moenda ade-
quantidade total de caldo presente nos quada deve contemplar, além da ca-
colmos. Essa eficiência depende da pacidade de extração, o isolamento de
regularidade e uniformidade na alimen- óleos e graxas da área de operação, a
tação dos colmos na moenda; da facilidade de higiene e limpeza após
regulagem da moenda; velocidade dos operação diária e facilidade na aquisi-
cilindros; tipos de ranhuras; uso de ção de peças para reposição, assistên-
soldas nos cilindros; porcentagem de cia e manutenção técnica. É indispen-
fibra da cana, preparo da cana e uso sável, também, que a moenda conte-
da técnica da embebição. nha dispositivos de proteção contra
A cana pode ser moída inteira ou após quaisquer riscos de ferimento do ope-
preparo. O preparo da cana consiste em rador, incluindo: grade de proteção
picar e/ou desfibrar a cana, com a finali- entre o terno da moenda e o local da
dade de destruir a resistência das par- alimentação da cana (suficiente para
tes duras dos colmos, aumentando a a passagem dos colmos, mas não das
capacidade de trabalho da moenda e mãos). Ao instalar a moenda, a chave
a extração. No entanto é indispensável para desligar o motor deve ficar ao al-
que os colmos sejam preparados imedi- cance do operador.
atamente antes da moa-gem, para evi- O operador deve ser sempre orien-
tar a proliferação de bactérias. tado para evitar acidentes, evitando
Produção de cachaça de qualidade 35
distrair-se durante a moagem da cana e go de picadores e desfibradores, per-
não usar camisa de manga comprida. mite aumentar a eficiência de extra-
Durante a moagem da cana, o cal- ção até cerca de 90%. Contudo, es-
do não pode ser contaminado com ses recursos devem ser utilizados
óleo ou graxa de lubrificação do equi- com cautela pelos pequenos produ-
pamento. Caso o caldo contendo tores, para evitar que se tornem fon-
óleo e/ou graxa for para a dorna de tes de contaminação por bactérias,
fermentação, o álcool produzido irá prejudicando a qualidade do caldo
dissolver (solubilizar) o óleo ou gra- para a fermentação. Tais efeitos po-
xa, produzindo compostos que irão dem advir, por exemplo, do emprego
afetar a qualidade final da cachaça. de água contaminada ou da exposi-
Geralmente, as fábricas de cacha- ção excessiva de pedaços da cana
ça utilizam um único terno de rolos, às condições ambientais favoráveis
alimentados manualmente, para ex- ao desenvolvimento de microrganis-
trair o caldo. Neste caso a extração mos contaminantes.
rende entre 600 litros (moendas des- É necessário frisar que a moenda
providas de reguladores de pressão) precisa de uma rotina de inspeção pe-
e 700 litros (moendas dotadas de re- riódica das condições de desgaste e
guladores de pressão) de caldo por ajuste dos rolos, pentes e bagaceiras;
tonelada de cana. Após essa primei- folga e lubrificação dos mancais. A
ra passagem da cana, resta o baga- moenda, também, deve ser lavada di-
ço contendo em torno de 35% a 40% ariamente, antes e depois da moagem,
de caldo. A parcela restante é de di- e manter o cuidado de não deixar ex-
fícil extração, ficando fortemente cesso de lubrificantes, para evitar o ris-
retida nas fibras do bagaço. Neste co de contaminar o caldo.
caso, se torna inviável fazer um se-
gundo esmagamento desse bagaço, Limpeza do caldo
sem adição de água. O caldo que sai da moenda ainda não
Esse segundo esmagamento tor- está adequado para a produção de ca-
na-se mais eficiente, se for utilizada chaça. Esse caldo deve ser filtrado e
a técnica da embebição, que através decantado para separação de impure-
da adição de água no bagaço, pro- zas, antes de entrar nas dornas de fer-
move a diluição do açúcar retido em mentação. A filtração consiste em pas-
suas fibras, aumentando a eficiência sar o caldo extraído em uma peneira de
de extração do processo. malha fina. Essa peneira é destinada a
A embebição, associada ao empre- reter impurezas maiores, como resí-
36 Casa do Produtor Rural
duos de bagaço e folhas, provenientes não deve ser adicionada ao caldo dire-
da matéria-prima. Recomenda-se o uso tamente na dorna de fermentação. Essa
de tela de aço inoxidável com malha de prática implica em riscos de choque
1,0 mm de abertura. osmótico sobre as células (leveduras que
Após essa filtração, o caldo atraves- compõem o fermento), com prejuízos
sa o decantador (Figura 9), onde as para a produtividade e o rendimento da
partículas sólidas remanescentes no fermentação. Os tanques utilizados no
caldo filtrado e mais densas que ele ajuste do oBrix do caldo devem ser ins-
(resíduos de terra), se deslocam para talados entre o decantador e as dornas
o fundo do recipiente e o bagacilho, de fermentação. Há vários inconvenien-
menos denso que o caldo, fica retido tes quando se usa caldos muitos diluí-
nas aletas suspensas do decantador. dos ou muito concentrados.
O sistema de filtração deve permitir Um caldo com elevada concentração
que o caldo chegue o mais puro e lim- de açúcares pode levar a um elevado
po possível às dornas de fermentação. teor alcoólico, o qual é prejudicial à
Bagacilhos, bagaço e folhas, quando atividade fermentativa das leveduras,
secos nas bordas das dornas, podem além de acarretar fermentações lentas
provocar contaminação bacteriana e incompletas, ocasionando redução
(mucilagem), produzindo fermentações do rendimento industrial. Por outro
secundárias (lática, butílica, málica), lado, um teor muito abaixo de 15o ou
cujos produtos irão aparecer no seu 16 o Brix, proporciona uma fermenta-
destilado. Além disso, quando os ção muito rápida, podendo o vinho fi-
bagacilhos são arrastados para o alam- car muito tempo parado na dorna, o
bique podem provocar a formação in- que provocará uma produção muito
desejável de furfural e metanol. maior de alcoóis superiores e facilita-
rá as infecções por bactérias. Com cal-
Diluição do caldo dos muito diluídos, tem-se também
Quando a cana é colhida no ponto uma maior quantidade de vinhoto, um
ideal de maturação, o caldo possui um menor rendimento da destilação e um
percentual de sólidos solúveis (oBrix) maior consumo de energia e de água.
entre 20 e 24, o qual deve ser diluído O cálculo da quantidade de água a
para 16 a 18 oBrix para a fermentação. ser adicionada no caldo de cana para
A água utilizada para a diluição do cal- ajuste do oBrix pode ser feito utilizan-
do deve ser limpa, inodora, incolor, sem do o diagrama conhecido como Cruz
microrganismos patogênicos e estar den- de Cobenze (ou regra das Misturas),
tro dos critérios de potabilidade. A água conforme mostrado a seguir:
Produção de cachaça de qualidade 37

No exemplo, quando se acres- 18 o Brix. Para outros volumes de-


centa 2,0 litros de água a 16,5 li- sejados, basta efetuar uma regra
tros de caldo de cana a 20 o Brix, de três. Para evitar esses cálculos,
obtêm-se 18,5 litros de caldo com utilize o Anexo 2.

Figura 9. Decantador. Fonte: Adaptado de Maia e Campelo, 2005


Gerhard Waller

Figura 10. Setor de extração e


preparo do caldo:
Moenda, decantador
e diluidor de caldo
38 Casa do Produtor Rural

Fermento
O fermento é composto por fungos cachaça; (2) seleção de cepas resis-
microscópicos vivos. Esses fungos são tentes e produtoras de compostos se-
pertencentes à classe dos Ascomi- cundários desejáveis para a qualida-
cetos, sendo a espécie mais importan- de da cachaça e (3) disponibilização
te a Saccharomyces cerevisiae. Den- das cepas selecionadas para os pro-
tre esta espécie, existem inúmeras dutores de cachaça.
cepas, que prevalecem naturalmente Antes de se iniciar o processo de
nas diversas regiões, conforme as pe- fermentação há a necessidade da adi-
culiaridades de solo, clima e vegeta- ção nas dornas de fermentação de
ção. Desta forma, estes microrganis- uma população inicial de leveduras,
mos se adaptam ecologicamente e que devem apresentar determinadas
sobrevivem nas superfícies dos colmos características que garantam o rendi-
da cana, nas folhas, no solo e até no mento fermentativo, durante a fermen-
ar. No Brasil, essas cepas têm sido tação alcoólica. Essa massa de célu-
objeto de estudos detalhados, com re- las usada para iniciar o processo
lação a: (1) caracterização das floras fermentativo denomina-se pé-de-cuba,
microbianas dominantes de cada re- pé-de-fermentação, lêvedo alcoólico
gião e seu efeito sobre a qualidade da ou fermento. Este deverá estar ativo e
Produção de cachaça de qualidade 39
em quantidade adequada para que o duras naturais, nativas ou selvagens.
processo ocorra de modo satisfatório. O fermento é preparado a partir das
O fermento deverá apresentar alta leveduras que acompanham a cana,
velocidade de fermentação, tolerância mosto ou o ar, sendo variável entre os
ao álcool produzido, resistência à aci- produtores, que geralmente utilizam
dez e à temperatura elevada, estabili- receitas regionais. Normalmente, es-
dade genética e isento de outros mi- tas receitas são preparadas a base de
crorganismos competitivos ou antagô- uma massa inicial constituída de cal-
nicos, que possam diminuir a eficiên- do de cana-de-açúcar não diluído,
cia de transformação do açúcar do farelo de arroz, fubá ou farelo de soja,
mosto em álcool. Mosto é o termo em- com adição de suco de limão ou laran-
pregado para definir um líquido açu- ja azeda para abaixar o pH. São feitas
carado apto a fermentar. adições diárias de caldo de cana-de-
açúcar no período de cinco a sete dias,
quando as leveduras estão se repro-
Tipos de fermento ou duzindo e o volume de massa celular
pé-de-cuba está aumentado. Desta forma, o inóculo
Denomina-se fermento a suspensão é obtido a partir da fermentação espon-
de células de leveduras suficientemen- tânea dos microrganismos presentes no
te concentrada de modo a garantir a caldo da cana-de-açúcar, nos equipa-
fermentação de um determinado volu- mentos e nas dornas de fermentação.
me de mosto em condições econômi- Nas fermentações espontâneas, um
cas. Os fermentos mais empregados grande número de espécies de micror-
na prática são: fermentos naturais (sel- ganismos pode estar envolvido, com
vagens), prensados, mistos e secos predominância de Saccharomyces
(granulados). O preparo do fermento cerevisiae. Por apresentar essa diver-
é variável com o tipo de levedura a ser sidade de microrganismos, este tipo de
utilizado e com a região produtora. fermento pode produzir fermentações
inconstantes e de difícil controle, pre-
judicando a qualidade final da cachaça.
Fermento natural ou selvagem
É constituído por células que já es-
tão naturalmente adaptadas ao am- Fermento prensado
biente. Pelo fato de não terem sofrido Formado por uma massa sólida,
alterações genéticas programadas ou contendo um aglomerado de células
melhoramentos, são chamadas leve- no estado sólido da espécie
40 Casa do Produtor Rural
Saccharomyces cerevisiae. Este fer- Fermento misto
mento (conhecido normalmente como Consiste na associação das
fermento de panificação) pode ser con- metodologias utilizadas para produção
servado em geladeira por no máximo do pé de cuba via fermentação espon-
uma semana. O inóculo poderá ser pre- tânea (fermento caipira ou selvagem)
parado a partir da diluição de 20 a 50 g com a do fermento prensado. Tal pre-
de fermento por litro de mosto. O ideal paro inicia-se acrescentando a pasta
é iniciar o processo com um mosto de farelo e fubá, 10 a 20 gramas de
morno, entre 30 a 32oC, e com baixa fermento prensado por litro de mosto.
concentração de açúcar, entre 8o a 10o Dessa forma, considera-se a possibili-
Brix. Normalmente, quando o oBrix do dade da predominância daquele mi-
mosto em fermentação cair pela meta- crorganismo que melhor se adaptar às
de do mosto de alimentação, dobra-se condições do meio de fermentação.
o volume, alimentando-se com mosto Esse sistema é adotado por muitos pro-
a concentrações crescentes (máxima dutores de cachaça, nas diversas re-
de 16o Brix) até obter o volume final do giões do Brasil.
pé-de-cuba desejado (20% a 30% do
volume útil da dorna). Após esta etapa,
completa-se a dorna com o mosto con- Fermento seco (granulado)
tendo 12o Brix, conduzindo a fermenta- Apresenta uma concentração de cé-
ção conforme o sistema de trabalho utili- lulas três vezes maior que o fermento
zado na unidade de produção. prensado, requerendo assim, uma
Baixas concentrações de açúcares menor quantidade de fermento, possi-
facilitam a multiplicação das células de bilitando um início de fermentação
leveduras, assim como a adaptação ao mais rápido. Esta é a forma em que se
meio, evitando sua exaustão. Após al- apresentam a maioria dos fermentos
gumas fermentações, pode-se aumen- selecionados, aptos à produção de
tar as concentrações de açúcares do cachaça, existente no mercado.
mosto (limite máximo 15o a 16o Brix). A O fermento selecionado é obtido a
temperatura do mosto deve ser partir do isolamento de cepas de leve-
mantida entre 28 a 30oC, sendo este duras encontradas na natureza, que
controle realizado com o auxílio de um são previamente testadas em labora-
termômetro. Um dos inconvenientes do tório. Nestes testes, verifica-se a sua
fermento prensado é sua baixa tolerân- eficiência para fermentação, tolerância
cia a altos teores alcoólicos e a tempe- à temperatura, a teores elevados de
raturas elevadas. álcool e a qualidade do vinho produzi-
Produção de cachaça de qualidade 41
do. Como cada tipo de fermento sele- Independente do fermento utilizado
cionado apresenta características di- e da forma de preparo, o pé-de-cuba
ferentes, o produtor deverá escolher o deve ser preparado com cuidados es-
tipo que melhor se adapta às condi- peciais, de modo que o fermento se
ções ambientais de sua região e as desenvolva nas condições mais favo-
instalações de sua fábrica. ráveis possíveis para que mais tarde,
O protocolo de preparo deste tipo de ao ser misturado ao mosto normal e
fermento encontra-se ilustrados nas em quantidade suficiente, domine com-
embalagens de venda do produto, e pletamente o meio, produzindo sem-
geralmente são necessários 500 g do pre fermentações homogêneas e um
fermento para iniciar o processo de vinho com características desejáveis.
produção de uma dorna de 1000 litros A assepsia dos equipamentos, uten-
úteis de mosto. Este tipo de fermento sílios, instalações e o uso de água
é o mais recomendado para a produ- potável, são fatores indispensáveis
ção de uma cachaça de qualidade, para o bom andamento do processo
existindo uma boa diversidade de mar- com fermento selecionado, e devem
cas no mercado e com grande facili- estar presentes em todas as etapas
dade de acesso para os produtores. de produção.
42 Casa do Produtor Rural

Fermentação
Agentes biológicos especializados tar as leveduras Saccharomyces cere-
conhecidos como leveduras, transfor- visiae, diminuindo sua atividade. Por
mam o mosto de cana em vinho de cana, isso, muitos produtores usam fubá de
por meio da fermentação alcoólica. milho e farelo de arroz na preparação
Por definição, a fermentação é um do pé-de-cuba, com a finalidade de sa-
processo de oxidação parcial da nar eventuais deficiências de nutrientes.
glicose na ausência de oxigênio (pro- O álcool etílico ou etanol é o princi-
cesso anaeróbico). A palavra “fermen- pal produto da fermentação. Também,
tação” deriva do latim fervere, que sig- ocorre grande formação de gás
nifica ferver, e assim, descreve a apa- carbônico, que é liberado para o am-
rência da ação das leveduras no mos- biente. É comum a formação de espu-
to. É o ponto crítico do processo de ma, principalmente nos estágios ini-
fabricação da cachaça e depende da ciais da fermentação, dada a interação
maturidade certa da cana, da padroni- do gás formado com lipídeos (princi-
zação do oBrix do caldo antes de en- palmente fosfolipídeos) e macromolé-
trar na dorna, da sanidade da cana e da culas (especialmente proteínas) do
composição química do caldo. A cana mosto. Nas fermentações saudáveis,
deficiente em alguns nutrientes pode afe- observa-se também o desenvolvimen-
Produção de cachaça de qualidade 43
to progressivo de um aroma extrema- Ciclo de operações na sala de
mente agradável, decorrente dos com- fermentação
ponentes secundários da fermentação, A fermentação tem início quando o
especialmente ésteres. fermento contido no fundo da dorna,
Além dos ésteres, ocorre à formação o “pé-de-cuba”, começa a ser alimen-
de aldeídos, ácidos orgânicos, glicerol, tado pelo caldo de cana. Dentro da
materiais para a constituição da fábrica o ciclo completo compreen-
biomassa e produtos para sobrevivên- de várias etapas (Figura 11), e deve
cia e adaptação da levedura no meio. ser ajustado para que se complete no
São mais de 250 compostos já identi- intervalo de 24 horas, facilitando a
ficados, e dentre estes, estão os cha- manutenção de uma rotina opera-
mados congêneres, que em propor- cional preestabelecida. O controle
ções equilibradas, são responsáveis mensal do tempo de fermentação e
pelo bouquet ou aroma que caracteri- rendimento de destilação pode ser
za a cachaça e a diferencia de uma feito por meio de planilhas, confor-
mistura hidroalcoólica qualquer. me anexo 3.

Figura 11. Ciclo de operações na seção (sala) de fermentação


44 Casa do Produtor Rural
A alimentação das dornas consiste ácido, rançoso, sulfídrico ou outro di-
na transferência do caldo de cana para ferente é indicativo de contaminação.
a dorna já contendo o fermento (pé- Por exemplo, cheiro de vinagre indica
de-cuba). Para produção de cachaça, que provavelmente esteja ocorrendo
o ideal é que essa transferência seja fermentação acética, e o de ovo podre
feita lentamente, entre 6 a 8 horas. Tra- está relacionado à ocorrência de fer-
ta-se do sistema de fermentação em mentação butírica. Estas fermentações
“batelada-alimentada” (sistema semi- são consideradas indesejáveis por pro-
contínuo), muito mais eficiente que a duzirem compostos que prejudicam o
“batelada-simples” (sistema descon- rendimento da fermentação e a qualida-
tínuo), no qual todo o caldo é transferi- de físico-química da bebida. Na Tabela
do rapidamente para a dorna, prejudi- 6 estão listadas as principais interferên-
cando o fermento. Existe ainda o siste- cias causadas pela presença de bacté-
ma de alimentação contínuo, utilizado rias durante os processos fermentativos.
geralmente em usinas para produção de O ciclo fermentativo se completa,
álcool combustível ou grandes indús- quando o fermento que está suspenso,
trias produtoras de cachaça. flutuando no líquido, tende a decantar.
A dorna não deve ser completamen- Esse processo de decantação do fer-
te cheia, para evitar transbordamento. mento é necessário para evitar a pre-
Recomenda-se encher no máximo sença de fermento dentro do destila-
75% a 80% do volume total da dorna, dor, o que afeta a qualidade da cacha-
a fim de evitar o transbordamento do ça. Também, é a forma de separar o
mosto durante o processo de fermen- vinho do levedo (fermento) para seu
tação, que acarreta na perda de leve- reaproveitamento nas próximas fer-
duras e de açúcares, enfraquecendo o mentações (reciclo do fermento).
“pé-de-cuba”, e contaminando a sala de O ponto final deve ser verificado
fermentação com acúmulo de sujeiras. usando o densímetro de Brix, que de-
O ideal é que o processo de fermen- verá estar marcando zero (oBrix) ou va-
tação se encerre no intervalo de 14 a lores inferiores devido à presença de
18 horas. Lembre-se que durante o etanol, e pela ausência de bolhas na
processo fermentativo ocorrem diver- superfície do líquido (espelhamento).
sas mudanças no caldo como, libera- A destilação do vinho deve ser realiza-
ção de gás carbônico, formação de da tão logo termine a fermentação e a
espuma e liberação de aroma. levedura sedimente. Longas esperas do
O aroma deve ser agradável, lem- vinho após a fermentação só trazem per-
brando ao de frutas maduras. Aroma das, por evaporação do álcool do vinho
Produção de cachaça de qualidade 45
e pelas fermentações secundárias (con- dutoras). A mais comum é entre 28 a
taminações) que podem ocorrer, além da 32 oC. Cada produtor deve observar o
formação de alcoóis superiores. comportamento de seu fermento em
Processos fermentativos bem con- diferentes temperaturas para identifi-
duzidos podem proporcionar o uso de car o intervalo ótimo a ser mantido; (4)
um único “pé-de-cuba” durante toda a manter a sala de fermentação bem
safra. Os principais critérios de uma ventilada para exaustão do gás car-
fermentação adequada encontram-se bônico, mas eliminar correntes de ar
no Quadro 1 e os cuidados para asse- que possam incidir sobre as dornas;
gurar uma fermentação saudável in- (5) minimizar a presença e o acesso
cluem: (1) só usar caldo fresco e com de pessoas estranhas e (6) assegurar-
o Brix efetivamente ajustado; (2) ali- se que praticamente todo o fermento
mentar o caldo lentamente à dorna; (3) decantou efetivamente antes de reti-
controlar a temperatura (a faixa ótima rar o vinho para ser encaminhado ao
varia entre as diferentes regiões pro- alambique para destilação.

Tabela 6. Interferências de contaminações bacterianas durante os processos


fermentativos

BACTÉRIA EFEITO DIAGNOSE COMO EVITAR

Leuconostoc Aumenta viscosidade, di- Baixo rendimento fer- Não queimar a cana. Não
mesenteroides minui produção de etanol, mentativo e dificuldade deixar a cana ao sol depois
prejudica decantação. de decantação. de cortada.

Não deixar a cana ao sol de-


Bactérias Aumenta acidez volátil do Odor de vinagre e pre- pois de cortada. Separar o
acéticas vinho (ácido acético). sença de mosca. vinho do fermento logo após
decantação. Manter o vinho
tampado até a destilação.

Aumenta acidez volátil do Aumento de acidez do Manter/controlar assepsia


Bactérias
vinho (ácido lático), com- mosto e reduz a produ- do processo.
láticas
promete o sabor. ção de gás.

Batérias Produz butanol e acetona Odor penetrante de ovo Não deixar a cana próxima
acetobutílicas a partir do açúcar. podre ou ranço e aumen- a estábulos ou locais de
to de acidez do mosto. ordenha.

Bactérias Produz gás sulfídrico a Odor penetrante de gás


sulfídricas partir de aminoácidos sulfídrico e aumento de
sulfurados. acidez do mosto.
Fonte: Maia e Campelo, 2005
46 Casa do Produtor Rural
Quadro 1. Parâmetros de uma boa fermentação

PARÂMETROS RESULTADOS ESPERADOS

Perfil característico: na batelada alimentada, nunca deve ul-


Evolução do Brix trapassar a 6 oBrix.

14-18 horas: sendo o tempo ideal de fermentação mais de-


Duração da fermentação cantação do fermento 24 horas. Isso facilita a rotina operacional
do produtor.

Penetrante, agradável, lembrando frutas maduras: Quais-


quer traços desagradáveis no aroma, tais como notas ácidas,
Odor lembrando vinagre ou leite azedo, ou pútridas, lembrando ovo
podre, são sinais de prevalência de contaminantes nocivos
(Tabela 6).

Máxima de 200 mg ácido acético por 100 mL de caldo: Ao


Evolução da acidez final da fermentação, a acidez do mosto nunca deve ultrapas-
sar o dobro da acidez inicial.

Ausência: O aparecimento de pequenas moscas (típicas de


Drosófilas vinagre) é sinal de formação excessiva de ácido acético, com
enfraquecimento das leveduras.

Fonte: Maia e Campelo, 2005

Sala e dornas de fermentação


Sala de fermentação é o local que zação. As paredes laterais deverão ser
abriga os recipientes de fermenta- revestidas com um acabamento liso,
ção, e na maioria das vezes, os de impermeável e resistente, de modo a
preparo do mosto e de fermento. suportar as lavagens periódicas, além
Deve ser bem iluminada e provida de disso, devem apresentar respiros para
água de boa qualidade. A área de drenar o gás carbônico formado na fer-
construção deve ser ampla para pos- mentação. Deve ser coberta e com o
sibilitar um adequado espaçamento seu pé direito alto. Quanto maior for à
entre as dornas e a circulação de distância entre as superfícies das
pessoas (Figura 12). dornas e a cobertura, menor serão as
O piso deve ser de cimento liso ou perdas de álcool por evaporação. Fre-
de cerâmica, com declive e impermeá- quentemente, os pisos e as paredes
vel para facilitar a limpeza e saniti- deverão ser lavadas com detergente e
Produção de cachaça de qualidade 47
em seguida com água em abundância. sódio (água sanitária) diluída em
Após a lavagem, deve-se aplicar uma água a concentrações entre 0,02 e
solução sanificante de hipoclorito de 0,5%.

Gerhard Waller
Figura 12. Setor de fermentação

Dornas, cubas ou cochos são reci- o que impede o acúmulo de impure-


pientes onde o mosto é submetido ao zas.
processo fermentativo, sendo trans- As dornas devem ser dispostas se-
formado em vinho. Encontram-se nos paradamente na sala de fermentação
diversos alambiques espalhados (Figura 13), e ter formato adequado
pelo Brasil, dornas com as mais va- para permitir manutenção. Dornas com
riadas dimensões, formas, tipos, fei- formatos cônicos (mais altas do que
tas com todo tipo de material possí- largas) propiciam uma boa fermenta-
vel (madeira, alvenaria, resina, fi- ção, pois o próprio gás formado no pro-
bras, aço carbônico e aço inoxidá- cesso fermentativo cria a agitação ne-
vel). Mas, para uma produção de ca- cessária à fermentação. As dornas po-
chaça de qualidade, as dornas de- dem ser abertas ou fechadas. Na in-
vem ser em aço inox, material resis- dústria de cachaça geralmente utili-
tente à corrosão e de superfície lisa, zam-se dornas abertas, por apresen-
48 Casa do Produtor Rural
tarem menor custo, serem de fácil lim- mento seja revigorado; (3) efetuar a com-
peza e por permitirem um controle vi- pleta assepsia interna da dorna sempre
sual da fermentação, contudo, favore- que o pé de cuba for retirado ou trocado.
cem as contaminações e as perdas de Se for necessário interromper a pro-
álcool por evaporação. dução da cachaça nos finais de sema-
A higiene das dornas é fundamental na, deve-se tomar alguns cuidados
para evitar a contaminação do mosto, extras: (1) não deixar vinho nas dornas
preservando assim, a qualidade do vi- (transferi-lo para uma dorna volante
nho. Devem ser seguidos alguns cui- ou para a panela do alambique, para
dados básicos, como: (1) evitar o der- não comprometer o pé-de-cuba); (2)
ramamento de espuma durante a fer- se a parada for por mais de um dia,
mentação. Se ocorrer, enxaguar ime- acrescentar água contendo um pou-
diatamente as paredes externas da co de caldo de cana; (3) ao reiniciar
dorna e o piso; (2) após a fermenta- as atividades, esgotar a água até
ção, raspar as paredes internas das aparecer à massa de leveduras do
dornas com uma espátula limpa para fundo da dorna e; (4) ao reiniciar a
eliminar incrustações de fermento, fermentação, pré-aquecer ligeira-
podendo devolver essas incrusta- mente o caldo a ser introduzido (28
ções ao pé de cuba, para que o fer- a 30oC) para ativar o fermento.

Figura 13. Esquema de disposição das dornas, com escada e passarela


Produção de cachaça de qualidade 49

Destilação
A destilação, processo físico para Concluída a fermentação do mosto,
separações químicas, consiste em obtém-se o vinho que apresenta na sua
aquecer um líquido até sua passagem composição uma mistura de compo-
para o estado gasoso, que em segui- nentes sólidos, líquidos e gasosos, em
da retorna ao estado líquido por meio virtude das transformações que se de-
de resfriamento, objetivando especial- senvolveram durante a fermentação. O
mente a purificação ou formação de vinho adequadamente decantado, con-
novos produtos por decomposições de tendo 89% a 94% de água, 7% a 12%
frações. Na produção de cachaça, de etanol e 2% a 4% outras substân-
deve-se considerar ainda a formação cias voláteis (principalmente aldeídos,
de componentes em virtude de rea- ésteres, ácidos orgânicos e alcoóis
ções, que ocorrem dentro do alambi- superiores) é submetido ao processo
que de cobre. É a etapa responsável de separação dos constituintes, atra-
por separar todas as substâncias de vés das diferenças dos pontos de ebu-
interesse formadas pela fermentação. lição, denominado destilação. Ao des-
Por este motivo é considerada de ex- tilar o vinho da cana, obtém-se um
trema importância para obtenção de novo líquido, com teor alcoólico cinco
uma cachaça de qualidade. a seis vezes maiores que o teor do lí-
50 Casa do Produtor Rural
quido gerador. Os grandes produtores sual atrativo na seção de destilação,
realizam a destilação em colunas con- com diferença na coluna, que no pré-
tínuas. Na fabricação de cachaça por aquecedor é mais curta, pois ali não
pequenos produtores, a destilação é há controle de refluxo. A Figura 14 ilus-
feita em alambiques. tra um conjunto de alambique com pré-
aquecedor, alimentado a vapor.
Os alambiques aquecidos por fogo
Alambiques direto utilizam, geralmente, o bagaço
O alambique pode ter diversas con- da própria cana-de-açúcar na queima.
figurações, mas os componentes bá- O controle do refluxo (“vômito do vi-
sicos são: (1) a panela onde se coloca nho”), porém, fica facilitado quando se
o vinho a ser aquecido; (2) a coluna, si- emprega uma caldeira que efetua o
tuada acima da panela, que recebe os aquecimento do vinho mediante vapor.
vapores do vinho e (3) a alonga. A alon- Este vapor percorre internamente
ga é conectada à parte mais alta da co- uma serpentina situada no fundo da
luna, a partir da qual os vapores iniciam panela. A panela é dotada de dispo-
seu resfriamento, até serem recolhidos sitivo para controle de temperatura
na extremidade inferior, na saída do e vazão e a caldeira permite ajustar
condensador, já no estado líquido. O a intensidade do aquecimento do vi-
condensador é um prolongamento da nho, dosando com precisão a quan-
alonga, que em alambiques mais sim- tidade de calor requerida em cada
ples, se resume a uma serpentina imersa etapa (Figura 14).
em um tanque de água corrente. Os alambiques são construídos,
Os aparelhos intermitentes utilizados principalmente, em cobre. Mas, exis-
pela maioria dos produtores de cacha- tem vários produtores de cachaça que
ça são alambiques simples, conheci- usam aparelhos de destilação produ-
dos por “cebolão” ou “alegria” e alam- zidos com panela feita em aço inoxi-
biques de dois ou três corpos. O ter- dável contendo algumas peças em
mo alambique de dois corpos é geral- cobre, como o deflegmador e a serpen-
mente usado para designar um tina, que compõem a coluna do
destilador dotado de um sistema de destilador.
pré-aquecimento do caldo. Neste sis- Aparelho de destilação feito total-
tema, há uma panela em que o vinho mente de aço inoxidável deve ser des-
ferve e outra em que é pré-aquecido. cartado pelo produtor de cachaça. A
Na prática, ambas têm a mesma geo- substituição do cobre por aço inoxidá-
metria externa, para preservar um vi- vel na produção de alambiques resul-
Produção de cachaça de qualidade 51
ta no aparecimento de um aroma de- postos sulfurados, impedindo que con-
sagradável na bebida capaz de com- taminem o destilado. Por isso a aguar-
prometer a qualidade final dos destila- dente produzida em alambique de co-
dos. Estudos sobre esse problema re- bre apresenta melhor qualidade sen-
lacionaram o aroma referido com a pre- sorial quando comparada à produção
sença notadamente de compostos que utiliza alambiques confeccionados
sulfurados, o dimetil sulfeto. O cobre com outros materiais, como o aço inox,
tem a propriedade de reagir com com- o alumínio ou a porcelana.

Figura 14. Esquema de um conjunto de alambique com pré-aquecedor e condensador

Tempo de destilação lado (cabeça, coração e cauda) deve


O aproveitamento das vantagens da ser recolhido num intervalo de 150 a
coluna cilíndrica, dotada de prato e 160 minutos. Por exemplo, se a pane-
deflegmador (Figura 14) requer a pa- la tem capacidade para 1000 litros de
dronização do tempo de destilação. In- vinho, as três frações do destilado
dependentemente do tamanho da pa- corresponderão aproximadamente a
nela, que define as dimensões das 200 litros (20%). Nesta situação, a va-
demais partes do alambique, o desti- zão do destilado deverá ser de 1,25 li-
52 Casa do Produtor Rural
tros por minuto (perfazendo 200 litros O destilado de “cabeça” corresponde
em 160 minutos). aos primeiros vapores condensados e
O tempo de destilação refere-se ao contém altas concentrações de álcool
período transcorrido a partir do início (geralmente acima de 60% v/v). O vo-
do recolhimento do destilado de cabe- lume dessa fração corresponde ao re-
ça. Quando o vinho é transferido para colhimento de 1,0% a 2,0% do volume
a panela à temperatura ambiente, gas- total de vinho na caldeira. A fração “ca-
ta-se cerca de uma hora ou mais para beça” contém altos teores de metanol,
atingir a temperatura de ebulição. Boa de acetaldeído e acetato de etila, que
parte desse tempo pode ser economi- se tornam indesejáveis, dependendo
zado introduzindo uma segunda pane- da concentração. O desejado seria o
la destinada ao pré-aquecimento do produtor realizar análises laboratoriais
vinho (Figura 14). para determinar os teores destes com-
Quando se tem o pré-aquecedor, postos, e assim, determinar o percen-
usa-se encher a panela de destilação tual que deve ser desprezado ou qual
e também, a panela do pré-aquecedor, graduação alcoólica deverá ser utiliza-
situada logo após a alonga e antes do da para o corte. Com esse procedimen-
condensador final de destilado. Empre- to, o produtor evita perdas desneces-
gando esse recurso, o vinho já chega sárias ou comprometimento da quali-
à panela de destilação a uma tempe- dade do produto.
ratura em torno de 65 oC. O resultado O “coração” é a cachaça propriamen-
é uma diminuição do tempo de aque- te dita e deve ser recolhido por um tem-
cimento para recolher as primeiras fra- po aproximado de 2 horas. Inicia-se
ções do destilado, reduzindo assim, o seu recolhimento, após a separação do
tempo total de destilação, aumentan- destilado de cabeça. Existe no merca-
do o seu rendimento. do o coletor de destilado (recipiente em
aço inoxidável) usado para coletar as
frações do destilado (Figura 15). Nes-
Frações do destilado te caso, para separar uma fração da
Durante a destilação o vinho é sepa- outra basta mudar a inclinação do tubo
rado em 3 frações: “cabeça”, “coração” de saída do condensador. A fração “co-
e “cauda”. A separação dessas frações ração” representa um volume corres-
durante o processo de destilação é de pondente a até 16% do volume total
fundamental importância na produção de do vinho (dependendo do teor alcoóli-
cachaça. A fração “cabeça” é recolhida co que se deseja para o produto e da
nos primeiros minutos da destilação. concentração de álcool do vinho) ou
Produção de cachaça de qualidade 53
aproximadamente 80% do total do des- proporcionar ao consumidor à famosa
tilado. O limite de recolhimento desta fra- “ressaca”. Por isso, condena-se o en-
ção é determinado quando o teor alcoó- riquecimento do vinho com esses
lico do destilado atinge entre 38% a 40% produtos, e a sua mistura para produ-
(v/v). Geralmente, quando a graduação ção de uma bebida de segunda linha.
alcoólica fica abaixo de 38% (v/v), sua O álcool contido nestas frações pode
aparência começa a ficar turva e, por- ser usado para produção de álcool
tanto, indesejável para a bebida. combustível, por meio de uma coluna
de destilação (Figura 16). Existe, tam-

André Ricardo Alcarde


bém, a opção de produzir álcool gel
com estes resíduos.

Gerhard Waller
Figura 15. Caixa coletora de destilado

A fração “cauda”, também chamada


de “água fraca”, corresponde aproxi-
madamente a 3,0% do volume total do
vinho. O ponto final da destilação ocorre
quando o teor alcoólico do destilado atin-
ge o limite de 14% (v/v), correspondente
a 15% do volume total do destilado. A
partir daí, o recolhimento do álcool torna
inviável economicamente, e o restante
que sobra na panela é considerado
vinhoto. Alguns produtores nem chegam
a destilar a “cauda”, incorporam direta-
mente no vinhoto. Figura 16. Coluna de destilação para produção
de álcool carburante
As frações “cabeça” e “cauda” não
devem ser usadas no processo de pro-
dução de cachaça, por apresentarem A medida do teor de álcool é reali-
compostos indesejáveis, que depreciam zada com o alcoômetro, em % (v/v)
a qualidade final do produto, além de a 20oC, que é a unidade utilizada pela
54 Casa do Produtor Rural
legislação brasileira para determinar Sala e destilação
os limites de álcool da cachaça. Al- Sala de destilação é o local que
guns aparelhos de destilação possu- abriga os equipamentos de destila-
em acoplado à saída do resfriador ção. Deve ser bem iluminada, provi-
uma proveta (Figura 17), que tem da de água de boa qualidade, com
como função receber o destilado e o construção ampla para possibilitar
alcoômetro que medirá o seu teor um adequado espaçamento entre os
alcoólico. Deve-se acoplar um termô- equipamentos e a circulação de pes-
metro na proveta, para medir a tem- soas (Figura 18).
peratura do destilado, e efetuar as O piso deve ser de cimento liso ou
correções necessárias, conforme de cerâmica, com declive e imper-
Anexo 4. meável para facilitar a limpeza. As
Nesta tabela, estão as correções paredes laterais deverão ser
das leituras da concentração alcoó- revestidas com um acabamento liso,
lica a diferentes temperaturas, e seus impermeável e resistente, de modo
correspondentes a 20 oC. a suportar as lavagens periódicas.
Deve ser coberta e com o seu pé di-
Gerhard Waller

reito mínimo de 3,0 metros.

Limpeza do alambique
A concentração máxima de cobre
permitido por lei é de 5,0 mg por litro
de cachaça. A contaminação da be-
bida, por cobre, ocorre durante o pro-
cesso de destilação, por dissolução
do “azinhavre” formado nas paredes
internas do alambique e em peças in-
ternas, como o deflegmador e a ser-
pentina, que compõem a coluna do
destilador. Esse composto é dissol-
vido pelos vapores alcoólicos ácidos,
contaminando o destilado. Alta con-
centração de cobre na bebida é in-
desejável e potencialmente prejudi-
Figura 17. Proveta com alcoômetro e termô-
metro cial à saúde humana.
Produção de cachaça de qualidade 55
lizar uma destilação com água mis-

Gerhard Waller
turada a suco de limão (ácido cítri-
co). Recomenda-se adicionar 5,0 li-
tros do suco para cada 100 litros de
água. Os vapores ácidos gerados
nessa destilação removerão o
azinhavre, principalmente aquele
existente no interior da serpentina de
condensação dos vapores hi-
droalcoólicos. Após essa destilação,
deve-se realizar outra, usando ape-
nas água, a fim de remover resíduos
ácidos do aparelho.
Uma forma empírica de avaliar
uma possível ocorrência de contami-
nação de cobre no destilado é reali-
zar uma filtragem desse destilado
com filtro branco de algodão ou gaze.
Figura 18. Setor de destilação: alambique, Caso o filtro fique azul, denotaria a
aquecedor de vinho, resfriador e ocorrência de excesso de cobre. De
coletor de destilado
modo geral, se o produtor realizar
uma correta limpeza do alambique
Aguardente com teores elevados após o término diário do procedimen-
de cobre indicam falta de higieni- to de destilação e tomar os cuidados
zação do alambique. Recomenda-se básicos durante a entressafra, não
manter o alambique e as serpentinas terá problemas com a presença de
cheias com água durante as paradas cobre no seu destilado.
que ocorrem no período de entres-
safras. A água reduz a oxidação do
cobre, evitando a formação do Dupla destilação
azinhavre e a contaminação da ca- A dupla destilação, também conhe-
chaça com o metal. cida por bidestilação, consiste na
Após a entressafra, e antes de ini- realização de duas destilações su-
ciar a produção de cachaça, deve-se cessivas. Na primeira, o vinho é des-
fazer uma limpeza criteriosa do alam- tilado para recuperar praticamente
bique. Essa limpeza consiste em rea- todo álcool nele contido, sem corte
56 Casa do Produtor Rural
de frações, originando um destilado de- de ácidos voláteis, alcoóis superiores e
nominado flegma, com aproximadamen- contaminantes (cobre, carbamato de etila
te 28% (v/v) de álcool. Na segunda des- e alcoóis sec-butílico e n-butílico). É um
tilação, o flegma é destilado e procede- destilado apropriado para o envelheci-
se a separação das frações: “cabeça” mento em tonéis de madeira.
(2% do volume útil da caldeira), “cora- A redestilação é um processo seme-
ção” ou aguardente (destilado recupera- lhante à bidestilação, no entanto utili-
do até 60% de etanol na fração à saída za para a segunda destilação cachaça
do condensador) e “cauda” (destilado ou aguardente industrial, diluída com
recuperado de 60% até o esgotamento água potável a aproximadamente 35%
do etanol na fração à saída do con- (v/v) de álcool. Neste processo não há,
densador). portanto, a primeira destilação, sendo
Aguardentes bidestiladas apresentam o flegma substituído pela aguardente
redução significativa das concentrações industrial convenientemente diluída.
Produção de cachaça de qualidade 57

Envelhecimento e
Engarrafamento
Após o término do processo da des- chaça branca”.
tilação da cachaça, não é aconselhá- O processo de envelhecimento visa
vel seu consumo direto, pois sua qua- à estabilização dos compostos quími-
lidade pode ser melhorada. Para agre- cos da cachaça, principalmente os
gar qualidade à bebida deve-se pro- congêneres voláteis, formados pela
ceder o “descanso” ou o envelheci- ação das leveduras durante a fermen-
mento. tação, e concentrados pela destilação.
O “descanso” refere-se à estadia da Outro mecanismo que ocorre é a ex-
cachaça em qualquer recipiente, de tração de compostos da madeira, de-
qualquer volume (de preferência iner- nominados congêneres de maturação.
te - tonel de aço inox, recipiente de vi- Os congêneres de maturação são res-
dro ou tonel de madeira maior que 700 ponsáveis por caracterizar bebidas
litros) por no mínimo, 6 meses. Sua fi- envelhecidas e estão presentes em
nalidade é promover o “amaciamento” quantidades diferentes de acordo com o
da bebida, ou seja, eliminar compos- tipo de madeira utilizada e o tempo de
tos químicos responsáveis por sabo- permanência nos barris. O principal be-
res e aromas desagradáveis na “ca- nefício do envelhecimento da cachaça é
58 Casa do Produtor Rural
o aprimoramento da qualidade química (Myroxylon balsamum L. Hauris), Jatobá
e sensorial da bebida, além de agregar (Hymenaea courbaril L), Jequitibá rosa
maior valor comercial ao produto. (Cariniana legalis), Araruva ou Araribá
A escolha do tipo da madeira utilizada (Centrolobium tomentosum Guillem),
na elaboração dos tonéis é fundamental Cabreúva (Myrocarpus frondosus),
para melhor aprimoramento da cacha- Grápia (Apuleia leiocarpa), Ipê roxo
ça. A principal madeira utilizada na con- (Tabebuia heptaphylla), entre outras.
fecção de barris é o carvalho europeu A manutenção da bebida em barris de
(Quercus sp.), devido ao seu uso tradicio- madeira promove uma contribuição pro-
nal em bebidas destiladas, tais como o gressiva de substâncias cedidas pela
conhaque e o uísque. O carvalho deman- madeira e favorece a estabilização da ca-
da alto custo inicial e necessidade de chaça (Figura19). Além da obtenção da
importação, o que favorece o uso de cor característica, o envelhecimento é
madeiras brasileiras como alternativas influenciado pelo tempo e as condições
para os produtores de cachaça. A ma- de armazenamento, tais como, tempe-
deira nacional é de fácil obtenção e pos- ratura local, umidade e luminosidade. O
sibilita a transferência de compostos ca- controle desses parâmetros durante o
racterísticos de cada espécie, além de envelhecimento é importante para redu-
permitir a distinção do produto final de zir as perdas por evaporação, recomen-
acordo com a cor, aromas e sabores da-se que a temperatura de armaze-
adquiridos pela bebida. Algumas das namento seja em torno de 20oC e com
espécies nacionais utilizadas são: umidade entre 70% a 90%. É importan-
Amburana (Amburana Cearensis), te assegurar uma boa ventilação do lo-
Amendoim (Pterogyne nitens), Bálsamo cal e evitar o empilhamento dos tonéis.
Gerhard Waller

Figura 19. Tonéis para


envelheci-
mento de ca-
chaça
Produção de cachaça de qualidade 59
Padronização

André Ricardo Alcarde


Normalmente a cachaça é colocada
no barril com teor alcoólico por volta
de 48% a 50% v/v. Após o envelhe-
cimento, a cachaça deve ser padro-
nizada para o teor alcoólico deseja-
do, de acordo com a legislação.
Deve-se, portanto adicionar um vo-
lume de água potável para atingir a
graduação ideal.

Engarrafamento
O engarrafamento consiste no acon-
dicionamento do produto em embala-
gem adequada, geralmente utilizando Figura 20. Envasadora de cachaça

recipientes de vidro, em volumes de 50


mL até 1000 mL. A transferência da

André Ricardo Alcarde


cachaça para a embalagem deve ser
feita de maneira automatizada, com
envasadoras e recravadoras (Figuras
20 e 21).

Rotulagem
O vasilhame deve ser devidamen-
te identificado com rótulo atrativo e
que contenha informações esclare-
cedoras para o consumidor. Os re-
quisitos previstos na legislação de-
vem ser respeitados, tais como: vo-
lume de bebida, graduação alcoóli-
ca, ingredientes, produtor, número do
Figura 21. Recravadora de garrafas de cachaça
registro, etc.
60 Casa do Produtor Rural

Bibliografia Consultada
ALCARDE, A. R.; SOUZA, P. A.; Biotecnologia. Alimentos e Bebidas
BELLUCO, A. E. S. Aspectos da Produzidos por Fermentação. Ed,
composição química e aceitação 2001.
sensorial da aguardente de cana-
de-açúcar envelhecida em tonéis BRASIL. Ministério da Agricultura,
de diferentes madeiras. Cienc. Pecuária e Abastecimento. Instru-
Tecnol. Alim., 30, 226-232, 2010. ção Normativa Nº 13, de 29 de
junho de 2005. Diário Oficial da
ANDRADE, L.A.B. Cultura da cana- União. Brasília, 30 de junho de
de-açúcar. In: Cardoso, M.G. (ed.) 2005.
Produção de aguardente de cana. 2ª
ed. Editora UFLA - Universidade BRASIL. Ministério da Agricultura,
Federal de Lavras, Lavras - MG, Pecuária e do Abastecimento.
p. 25-67, 2006. Instrução normativa nº 58, de 19
de dezembro de 2007. Altera os
itens 4 e 9, do Anexo, da Instrução
AQUARONE, E. LIMA, U. A.; Normativa nº 13, de 29 de junho de
BORZANI, W., Aguardentes. In: 2005. Diário Oficial da Republica
Produção de cachaça de qualidade 61
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 08 DIAS, S.; MAIA, A.; NELSON, D.
jan..Seção 1, p.5, 2008. Efeito de diferentes madeiras
sobre a composição da aguardente
BRASIL. Ministério da Agricultura, de cana envelhecida. Cienc. Tecnol.
Pecuária e do Abastecimento. Alim., 18, 331-336, 1998.
Instrução normativa nº 27, de 15
de maio de 2008. Altera o item 9.4 DIAS, S.M.B.C. O processo da
da Instrução Normativa nº 13, de destilação. In: Cardoso, M.G. (ed.)
29 de junho de 2005. Diário Oficial Produção de aguardente de cana. 2ª
da Republica Federativa do Brasil, ed. Editora UFLA - Universidade
Brasília, DF, 16 maio. Seção 1, p.1., Federal de Lavras, Lavras - MG,
2008a. p. 137-202, 2006.

CARDOSO, M.G. Análises físico- FARIA, J. B. A identificação de


químicas de aguardente. In: compostos responsáveis pelo
Cardoso, M.G. (ed.) Produção de defeito sensorial das aguardentes
aguardente de cana. 2ª ed. Editora de cana destiladas na ausência de
UFLA - Universidade Federal de cobre. Tese (Livre Docência) -
Lavras, Lavras - MG, p. 203-232. Faculdade de Ciências Farmacêuti-
cas, Universidade de São Paulo,
CARDOSO, M.G., CAMPOS, G.A., São Paulo, 2000.
SILVA, R.A., SANTOS, C.D.,
PINTO, A.P.S., SILVA, C.F. Cacha- FARIA, J. B. A influência do cobre
ça: qualidade e produção. Boletim na qualidade das aguardentes de
Extensão, publicado pela PROEX/ cana (Saccharum officinarum, L.).
UFLA, 2005. Tese (Doutorado) - Faculdade de
Ciências Farmacêuticas, Universi-
CASCUDO, L.C. Prelúdio da dade de São Paulo, São Pau-
Cachaça. Etnologia, história e lo,1989.
sociologia da aguardente no Brasil,
Belo Horizonte, Itatiaia, 1986. FARIA, J. B. A redução dos teores
de cobre contaminante das aguar-
CRISPIM, J.E. Manual da produção dentes de cana (Saccharum
de aguardente de qualidade. officinarum L.) brasileiras. Tese
Guaíba - RS; Editora Agropecuária (Mestrado em Ciências dos Alimen-
LTDA, 333 p, 2000. tos) - Faculdade de Ciências Farma-
62 Casa do Produtor Rural
cêuticas, Universidade de São Paulo, lar reference to whisky. Forestry,
São Paulo, 1982. 68, 203-230, 1995.

FARIA, J. B.; CARDELLO, H. M. A. MOSEDALE, J. R.; PUECH, J. L.


B.; BOSCOLO, M.; ISIQUE, W. D.; Wood maturation of distilled
ODELLO, L.; FRANCO, D. W. beverages. Trends Food Sci.
Evaluation of Brazilian woods as Technol. 95-101, 1998.
an alternative to oak for cachaça
aging. Eur. Food Res. Techn., 218, MUTTON, M.A., MUTTON, M.J.
83-87, 2003. Aguardente de cana In: Filho,
W.G.V. (Coord.). Bebidas alcoólicas:
LIMA, U.A. Aguardente. In: ciência e tecnologia. Ed. Edgard
Aquarone, E. Lima, U.A., Borzani, W. Blucher, São Paulo, vol. 01,
(Eds.). Alimentos e bebidas produ- p. 237-266, 2010.
zidos por fermentação. São Paulo -
SP, Editora Edgard Blücher, NISHIMURA, K., MATSUYAMA, R.
p.79-107, (Série Biotecnologia Maturation and maturation
Industrial), 2001. chemistry. In The science and
technology of whiskies; Piggott, J.
MAIA A. B. Componentes secundá- R.; Sharp, R.; Duncan, R. E. B., Eds.;
rios da aguardente. STAB, Longman: Harlow, U.K.; pp 235-263,
Piracicaba, v. 12, n. 6, p. 29-34, 1989.
1994.
NOVAES, F.V., OLIVEIRA, E.R.,
MAIA, A. B. R. A; CAMPELO, E. A. STUPIELO, J.P. I curso de extensão
P.. Tecnologia da cachaça de em tecnologia de aguardente de
Alambique. SEBRAE/MG; cana (apontamentos). Piracicaba:
SINBEBIDAS, 2005. Departamento de tecnologia Rural/
ESALQ/USP, 1974. 104 p.
MAIA, A. B. R. A., CAMPELO, E. A..
Tecnologia da cachaça de alambi- OLIVEIRA, E.R., CARUSO, J.G.B.,
que. SEBRAE/MG; SINDBEBIDAS - HORI, J., STUPIELLO, J.P.,
Belo Horizonte - MG, 129 P.:il., 2006. CANTARELLI, P.R. Tecnologia dos
MOSEDALE, J. R. Effects of oak produtos agropecuários I:
wood on the maturation of tecnologia do açúcar e das fer-
alcoholic beverages with particu- mentações industriais. Piracicaba:
Produção de cachaça de qualidade 63
Universidade de São Paulo, Escola 2° ed . Editora UFLA - Universidade
Superior de Agricultura “Luiz de Federal de Lavras, Lavras - MG,
Queiroz”, 209 P.:il., 1978. p. 101-135, 2006.

OLIVEIRA, C.R., GARÍGLIO, H.A.A., SEBRAE, Serviço Brasileiro de


RIBEIRO, M.M., ALVARENGA, Apoio às Micro e Pequenas
M.S.P., MAIA, F.X. Cachaça de Empresas. Diagnóstico da cachaça
alambique: manual de boas de Minas Gerais. Belo Horizonte,
práticas ambientais e de produ- 241p, 2001.
ção. Convênio de cooperação
técnica SEAPA/SEMAD/AMPAQ/ SILVEIRA, L.C., BARBOSA, M.H.P.,
FEAM/IMA, 72 P.:il., 2005. OLIVEIRA, M.W.. Manejo de varie-
dades de cana-de-açúcar predomi-
PATARO, C., GOMES, F.C.O., nantes nas principais regiões
ARAÚJO, R.A.C., ROSA, C.A., produtoras de cachaça em Minas
SCHWAN, R.F., CAMPOS, C.R., Gerais. Informe Agropecuário, Belo
CLARET, A.S., CASTRO, H.A. Horizonte - MG, 23 (217):25-32, 2002.
Utilização de leveduras selecionadas
na fabricação da cachaça de alambi- VEIGA, J.F. Equipamentos para
que. Informe Agropecuário, EPAMIG, produção e controle de operação
Belo Horizonte, 23 (217):37-43, da fábrica de cachaça. In: Cardoso,
2002. M.G. (ed.) Produção de aguardente
de cana. 2ª ed. Editora UFLA -
RIBEIRO, J.C.G.M. Fabricação Universidade Federal de Lavras,
Artesanal de Cachaça Mineira. 2 Lavras - MG, p. 68-100, 2006.
ed. Belo Horizonte: O Lutador, 223 p,
2002. YOKOYA, F.. Fabricação de aguar-
dente de cana. Campinas: Funda-
SCHWAN, R.F., CARVALHO, F.P., ção Tropical de Pesquisas e
DIAS, D.R., CASTRO, H.A. FER- Tecnologia “André Tosello”, 87 p.
MENTAÇÃO. In: Cardoso, M.G. (ed.) 1995, (Série Fermentações Indus-
Produção de aguardente de cana. triais), 1995.
64 Casa do Produtor Rural

ANEXOS
Produção de cachaça de qualidade 65

1 Planilha de controle de Índice de Maturação (IM).

DATA

TALHÃO

RESPONSÁVEL

O
BRIX - LEITURA
AMOSTRA IM = PONTA/PÉ
PONTA PÉ

2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
MÉDIA

INÍCIO DE COLHEITA SIM NÃO


Adaptado de Oliveira et al., 2005
66 Casa do Produtor Rural

2 Volume de água a ser adicionada ao caldo para ajuste de Brix


(Volume total 100 litros)

O
Brix Desejado
BRIX DO
CALDO 12 14 15 16 17 18
ORIGINAL
Água Caldo Água Caldo Água Caldo Água Caldo Água Caldo Água Caldo
16,0 26,0 74,0 13,0 87,0 6,5 93,5 —- 100 —- —- —- —-
17,0 31,0 69,0 18,5 81,5 12,5 87,5 6,5 93,5 —- 100 —- —-
18,0 35,0 65,0 23,5 76,5 18,0 82,0 12,0 88,0 6,0 94,0 —- 100
19,0 38,5 61,5 28,0 72,0 22,5 77,5 17,0 83,0 11,5 88,5 6,0 94,0
20,0 42,0 58,0 32,0 68,0 26,5 73,5 21,5 78,5 16,0 84,0 11,0 89,0
21,0 45,0 55,0 35,0 65,0 30,0 70,0 25,5 74,5 20,5 79,5 15,5 84,5
22,0 47,5 52,5 38,5 61,5 34,0 66,0 29,0 71,0 24,5 75,5 19,5 80,5
23,0 50,0 50,0 41,5 58,5 37,0 63,0 32,5 67,5 28,0 72,0 23,5 76,5
24,0 52,5 47,5 44,0 56,0 40,0 60,0 35,5 64,5 31,0 69,0 27,0 73,0
25,0 54,5 45,5 46,5 53,5 42,5 57,5 38,5 61,5 34,0 66,0 30,0 70,0
Produção de cachaça de qualidade 67
3 Planilha de controle mensal de fermentação e da destilação

DATA

RESPONSÁVEL

Início da fermentação Início da fermentação


Tempo de Produção de
Nº DA fermentação aguardente
DORNA Dia Hora Brix Temp. Dia Hora Brix Temp.
(horas) (litros)
(oC) (oC)
68 Casa do Produtor Rural
4 Correção de concentração alcoólica a diferentes temperaturas

TEMP. LEITURA NO ALCOÔMETRO (Grau Alcoólico Aparente)


O
Celsius
NÚMEROS GRAU ALCOÓLICO REAL (20 OC)
FIXOS 38,0 39,0 40,0 41,0 42,0
21,0 37,6 38,6 39,6 40,6 41,6
22,0 37,2 38,2 39,2 40,2 41,2
23,0 36,8 37,8 38,8 39,8 40,8
24,0 36,4 37,4 38,4 39,4 40,4
25,0 36,0 37,0 38,0 39,0 40,0
26,0 35,6 36,6 37,6 38,6 39,6
27,0 35,2 36,2 37,2 38,2 39,2
28,0 34,8 35,8 36,8 37,8 38,8
29,0 34,4 35,4 36,4 37,4 38,4
30,0 33,9 35,0 36,0 37,0 38,0
31,0 33,5 34,6 35,6 36,6 37,6
32,0 33,1 34,1 35,2 36,2 37,2
33,0 32,7 33,7 34,8 35,8 36,8
34,0 32,3 33,3 34,4 35,4 36,4
35,0 31,9 32,9 33,9 35,0 36,0
36,0 31,5 32,5 33,5 34,6 35,6
37,0 31,1 32,1 33,1 34,2 35,2
38,0 30,7 31,7 32,7 33,8 34,8
39,0 30,3 31,3 32,3 33,3 34,4
40,0 29,9 30,9 31,9 32,9 34,0
Produção de cachaça de qualidade 69

Continuação do anexo 4.

TEMP. LEITURA NO ALCOÔMETRO (Grau Alcoólico Aparente)


O
Celsius
NÚMEROS GRAU ALCOÓLICO REAL (20 OC)
FIXOS 43,0 44,0 45,0 46,0
21,0 42,6 43,6 44,6 45,6
22,0 42,2 43,2 44,2 45,2
23,0 41,8 42,8 43,8 44,8
24,0 41,4 42,4 43,4 44,5
25,0 41,0 42,0 43,1 44,1
26,0 40,6 41,6 42,7 43,7
27,0 40,2 41,3 42,3 43,3
28,0 39,8 40,9 41,9 42,9
29,0 39,4 40,5 41,5 42,5
30,0 39,0 40,1 41,1 42,1
31,0 38,6 39,7 40,7 41,7
32,0 38,2 39,3 40,3 41,3
33,0 37,8 38,9 39,9 40,9
34,0 37,4 38,5 39,5 40,5
35,0 37,0 38,1 39,1 40,1
36,0 36,6 37,7 38,7 39,7
37,0 36,2 37,3 38,3 39,3
38,0 35,8 36,9 37,9 38,9
39,0 35,4 36,5 37,5 38,5
40,0 35,0 36,0 37,1 38,1
70 Casa do Produtor Rural

Continuação do anexo 4.

TEMP. LEITURA NO ALCOÔMETRO (Grau Alcoólico Aparente)


O
Celsius
NÚMEROS GRAU ALCOÓLICO REAL (20 OC)
FIXOS 47,0 48,0 49,0 50,0 51,0
21,0 46,6 47,6 48,6 49,6 50,6
22,0 46,2 47,2 48,2 49,3 50,3
23,0 45,9 46,9 47,9 48,9 49,9
24,0 45,5 46,5 47,5 48,5 49,5
25,0 45,1 46,1 47,1 48,1 49,1
26,0 44,7 45,7 46,7 47,7 48,8
27,0 44,3 45,3 46,3 47,4 48,4
28,0 43,9 44,9 46,0 47,0 48,0
29,0 43,5 44,6 45,6 46,6 47,6
30,0 43,1 44,2 45,2 46,2 47,2
31,0 42,7 43,8 44,8 45,8 46,9
32,0 42,4 43,4 44,4 45,5 46,5
33,0 42,0 43,0 44,0 45,1 46,1
34,0 41,6 42,6 43,6 44,7 45,7
35,0 41,2 42,2 43,3 44,3 45,3
36,0 40,8 41,8 42,9 43,9 44,9
37,0 40,4 41,4 42,5 43,5 44,6
38,0 40,0 41,0 42,1 43,1 44,2
39,0 39,6 40,6 41,7 42,7 43,8
40,0 39,2 40,2 41,3 42,3 43,4
Produção de cachaça de qualidade 71

Continuação do anexo 4.

TEMP. LEITURA NO ALCOÔMETRO (Grau Alcoólico Aparente)


O
Celsius
NÚMEROS GRAU ALCOÓLICO REAL (20 OC)
FIXOS 52,0 53,0 54,0 55,0
21,0 51,6 52,6 53,6 54,6
22,0 51,3 52,3 53,3 54,3
23,0 50,9 51,9 52,9 53,9
24,0 50,5 51,5 52,5 53,5
25,0 50,1 51,2 52,2 53,2
26,0 49,8 50,8 51,8 52,8
27,0 49,4 50,4 51,4 52,4
28,0 49,0 50,0 51,1 52,1
29,0 48,6 49,7 50,7 51,7
30,0 48,3 49,3 50,3 51,3
31,0 47,9 48,9 49,9 51,0
32,0 47,5 48,5 49,6 50,6
33,0 47,1 48,2 49,2 50,2
34,0 46,7 47,8 48,8 49,8
35,0 46,4 47,4 48,4 49,5
36,0 46,0 47,0 48,1 49,1
37,0 45,6 46,6 47,7 48,7
38,0 45,2 46,3 47,3 48,3
39,0 44,8 45,9 46,9 48,0
40,0 44,4 45,5 46,5 47,6
72 Casa do Produtor Rural

Continuação do anexo 4.

TEMP. LEITURA NO ALCOÔMETRO (Grau Alcoólico Aparente)


O
Celsius
NÚMEROS GRAU ALCOÓLICO REAL (20 OC)
FIXOS 56,0 57,0 58,0 59,0 60,0
21,0 55,6 56,3 57,6 58,6 59,7
22,0 55,3 56,3 57,3 58,3 59,3
23,0 54,9 55,9 56,9 57,9 58,9
24,0 54,6 55,6 56,6 57,6 58,6
25,0 54,2 55,2 56,2 57,2 58,2
26,0 53,8 54,8 55,9 56,9 57,9
27,0 53,5 54,5 55,5 56,5 57,5
28,0 53,1 54,1 55,1 56,1 57,2
29,0 52,7 53,7 54,8 55,8 56,8
30,0 52,4 53,4 54,4 55,4 56,4
31,0 52,0 53,0 54,0 55,1 56,1
32,0 51,6 52,6 53,7 54,7 55,7
33,0 51,3 52,3 53,3 54,3 55,4
34,0 50,9 51,9 52,9 54,0 55,0
35,0 50,5 51,5 52,6 53,6 54,6
36,0 50,1 51,2 52,2 53,2 54,3
37,0 49,8 50,8 51,8 52,9 53,9
38,0 49,4 50,4 51,5 52,5 53,5
39,0 49,0 50,1 51,1 52,1 53,2
40,0 48,6 49,7 50,7 51,8 52,8
Casa do Produtor Rural | Todos os direitos reservados 2013 ®
View publication stats

Você também pode gostar