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INNOCENCE PROJECT: A DESCONSTITUIÇÃO DE CONDENAÇÕES

INJUSTAS

INNOCENCE PROJECT: THE DISCONSTITUTION OF UNFAIR


CONDEMNATIONS

1
MAGALHÃES, Brian Zanezi
2
FRANÇA, Ricardo da Cruz
3
ARAUJO, Aline Giuri

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal apresentar o Projeto Inocência e suas
contribuições no poder judiciário brasileiro. Para tanto, foi elaborado a partir de uma
pesquisa no site da iniciativa do Projeto Inocência, bem como uma revisão bibliográfica
em artigos científicos, livros, reportagens e documentários que demonstram os erros
judiciários e consequências destes causados dentro e fora do Brasil. Analisou-se a
origem do projeto e sua expansão, até o momento em que foi adotado no Brasil e
começou a ganhar aderentes e membros. Foi identificada a origem desses erros, os
motivos e como eles afetam a vida do injustiçado, demonstrando a ineficácia de
determinados pontos investigativos do processo penal vigente, a falha perante os
princípios do Devido Processo Legal, a Dignidade da Pessoa Humana e a Presunção
de inocência, todos previstos na Constituição Federal do Brasil. Explicitou-se as
consequências causadas por pessoas que possuem fé pública para atuar em nome da
sociedade, e quais seriam os motivos desses erros, e quem assumiria a posição de
consolar o prejudicado. Por fim, foi sugerida uma melhor aplicação e desenvolvimento
da iniciativa no artigo científico em tela.

Palavras-chave: Artigo Científico; Projeto Inocência; Devido Processo Legal.

ABSTRACT
This work has as main objective to present the Project Innocence and its contributions to
the Brazilian judiciary. To this end, it was prepared based on a search on the website of
the Project Innocence, as well as a bibliographic review on scientific articles, books,
reports and documentaries that demonstrate the judicial errors and consequences of
these caused inside and outside Brazil. The origin of the project and its expansion were
analyzed, until the moment when it was adopted in Brazil and started to gain adherents
and members. The origin of these errors was identified, the reasons and how they affect
the life of the wronged person, demonstrating the ineffectiveness of certain investigative
1
Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES – brian-magalhaes@hotmail.com.
2
Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES – ricardofranca475@gmail.com..
3
Professora orientadora. Graduada em Direito. Mestre em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável. Centro
Universitário São Camilo-ES – alinegiuri@saocamilo-es.br.
2

points of the current criminal process, the failure to comply with the principles of Due
Process, the Dignity of the Human Person and the Presumption of Innocence, all
provided for in the Federal Constitution of Brazil. It explained the consequences caused
by people who have public faith to act in the name of society, and what would be the
reasons for these errors, and who would take the position to console the underdog.
Finally, a better application and development of the initiative was suggested in the
scientific article on screen.

Keywords: Scientific Article, Innocence Project.

INTRODUÇÃO
Com o aumento da população carcerária especialmente em nosso país, e
consequentemente o acúmulo cada vez maior de demandas processuais criminais no
Poder Judiciário, depara-se com o aumento de condenações equivocadas, ou até
mesmo injustas no qual em muitas ocasiões resultam na condenação de indivíduos por
crimes e delitos que talvez não tenham cometido, causando-lhes prejuízos irreparáveis.
Este cenário pode gerar como consequência uma suposta insegurança jurídica no
ordenamento pátrio e condutas arbitrárias dos agentes públicos, além da incerteza se
realmente os processos são devidamente conduzidos por aqueles que são investidos e
possuem a responsabilidade de administrar o trâmite processual. O autor Ruy Rosado
Aguiar Júnior descreve neste sentido em sua obra: A responsabilidade civil do estado
pelo exercício da função jurisdicional no Brasil. (AGUIAR JÚNIOR, 2007)
Ciente destes problemas, este estudo versa sobre a conscientização
populacional sobre a existência do projeto, bem como, a sua respectiva expansão,
desde a sua origem, até sua chegada e expansão em nosso país, que possui como
objetivo a desconstituição de condenações injustas, o qual advogados, defensores e
outros aderentes do projeto, visam a busca pela verdade real, promovendo assim, uma
investigação mais detalhada e aprofundada do caso concreto, e analisam a instrução
processual daquela conduta, se a mesma está devidamente em concordância com a lei.
Neste contexto, deve-se perguntar sobre a efetividade das presentes
condenações, sobre as condições e desigualdades em relação aos julgamentos, e a
necessidade de uma melhor precisão sobre a aplicação da indenização em decorrência
do erro judiciário.
3

Assim, este trabalho apresenta como problemática: O projeto Inocência pode ser
uma ferramenta que oportuniza em sede de Revisão Criminal, na fase de execução da
pena privativa de liberdade, ao condenado comprovar que a sua condenação foi injusta,
e consequentemente obter a sua almejada justiça e liberdade?
Como pressuposto teórico temos o Projeto Inocência que pode ser uma
ferramenta que contribuirá para oportunizar ao condenado injustamente pelo poder
judiciário brasileiro, a comprovar sua inocência.
Refletir acerca da efetividade das condenações e da futura persecução penal no
Brasil, é de urgente e extrema importância, pois é de conhecimento geral que centenas
de pessoas são injustiçadas no sistema carcerário, devido a condenações indevidas,
promovendo além de danos irreparáveis às vítimas, um grande prejuízo ao Estado,
sendo eles o período de detenção ou reclusão e/ou a futura indenização estatal por erro
do judiciário.
Essa realidade decorre de diversos fatores: a altíssima concentração de
demandas processuais, a precariedade de oferta de defesa mediante a alta demanda,
as dificuldades em estabelecer padrões processuais para sanar esses vícios
processuais, a precariedade estatal em promover as devidas investigações devido à
escassez de equipamentos e tempo.

O funcionamento do serviço judiciário pode acarretar sérios


prejuízos aos particulares. Uma vítima de erro judiciário fica no
presídio muitos anos. Um acusado absolvido, estando o processo
já encerrado e arquivado. Uma pessoa, desmoralizada por um
jornalista, vê prescrever, em virtude da morosidade do aparelho
judiciário, a queixa-crime que contra ele ofereceu. Menores são
lesados por um juiz, que, ilegalmente, requisita e se apodera de
dinheiro a eles pertencente. Surge então a questão de saber se o
Poder Público deve reparar os danos dessa natureza. Em outros
termos: pode-se cogitar de uma responsabilidade civil do Estado
por atos jurisdicionais? (SÉ, 1976).

O trabalho apontará determinadas falhas e incoerências perante as conduções


processuais, e as injustiças ocasionadas na contemporaneidade, ao mesmo tempo em
que sugere modificações legais para aplicação do projeto explicitado, além de informar
as funções, os trabalhos realizados, o funcionamento e os requisitos necessários para
ter acesso ao presente projeto, que atualmente se encontra em fase primária no Brasil,
4

mas vem se expandindo em todo o mundo com certa lentidão, devido ao preconceito
instituído com a população carcerária.
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivos informar sobre o
funcionamento do Innocence Project diante de um cenário atual de incerteza acerca da
condução processual, demostrar sua atribuição, seu modo de atuação, seus requisitos
e sua aplicabilidade no âmbito nacional; analisar as contribuições no junto ao poder
judiciário brasileiro.

METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa exploratória sobre o tema Projeto Inocente, que segundo
Gil (2008), caracteriza-se pelo objetivo de expandir, esclarecer e modificar ideias e
conceitos, criando maior familiaridade com o problema a fim de torná-lo mais claro ou
construir hipóteses, tendo o objetivo de proporcionar uma visão maior de algo
aproximado em relação a determinado fato.
Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica, que para Marconi e Lakatos
(2003) é o levantamento geral dos diversos títulos publicados sobre o tema, capazes de
trazer informações essenciais e atuais do assunto. Para tal foram considerados livros,
artigos científicos, anais, periódicos, revistas científicas, e legislações sobre o tema.
Para compreensão do tema proposto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica no
site do projeto e, ainda, sobre os temas: Direito Penal, Direito Processual Penal,
Direitos Constitucionais e Globalização.
A pesquisa bibliográfica visou analisar a legislação referente ao tema proposto,
bem como buscar exemplos de práticas equivocadas durante a condução processual,
por marte dos investidos pelo Estado e sua responsabilidade frente aos erros. A
bibliografia pesquisada teve como base, principalmente, as publicações dos últimos dez
anos.
A pesquisa foi realizada através de consulta a periódicos indexados na base de
dados do: Portal Periódicos Capes; Scielo; Google Acadêmico; além de consultas aos
sites do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Na verificação da pesquisa foram
utilizados os seguintes descritores: 1. Innocence Project; 2. Projeto de inocência; 3.
Innocence Project Brasil; 4. Desconstituição de condenações injustas; 5.
5

Responsabilidade estatal; 6. Insegurança Jurídica; 7. Princípios Constitucionais; 8.


Revisão Criminal; 9. Reparação de Danos; 10. Globalização; 11. Processo Penal.

DISCUSSÃO
No sistema acusatório jurisdicional adotado no Brasil preceitua-se pela proteção
a uma série de princípios fundamentais presentes tanto na Constituição Federal/88
quanto nos demais diplomas legais pátrios. Dentre eles destacam-se os princípios do
Devido Processo Legal, Livre Convencimento bem como o Princípio da presunção de
inocência, estes apresentando-se como norteadores para uma correta condução do
processo respeitando assim as garantias de todos aqueles que vierem a figurar no polo
passivo de um eventual processo penal. (DIREITO, 2016)
Contudo, não é este o cenário vivenciado por muitos que chegam até o judiciário
na confiança de uma adequada condução processual se deparando com diversos
casos de irregularidades na atuação daqueles que são investidos para cumprir esta
função social desde o momento da investigação até o momento do cumprimento da
pena, tendo em vista que este estudo tem enfoque na esfera penal, pois há bem mais
importante do que a liberdade? Seguramente que não! Neste entendimento, uma falha
cometida durante o processo pode gerar danos graves e até mesmo irreparáveis
àqueles que podem estar sendo acusados por crimes que talvez nem mesmo
cometeram gerando uma situação de insegurança jurídica, o que é inadmissível.
(DIREITO, 2016)
Diante da temerária situação destacada surge um movimento iniciado nos
Estados Unidos e recém chegado ao Brasil que tem como objetivo a reparação dos
possíveis erros por parte do judiciário na condução dos processos e consequentemente
em condenações criminais que vem cada vez mais tomando força no país, estamos
falando do Projeto de Inocência. (INNOCENCE PROJECT BRASIL, 2020)

A origem do projeto inocência


O Projeto Inocência foi fundado em 1992, conforme descreve o site
estadunidense do projeto, sendo então, o primeiro site da iniciativa. A fundação surgiu
como parte da Escola Cardozo de Direito da Universidade de Yeshiva, em Nova York,
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por Barry Scheck e Peter Neufeld, com o objetivo de combates as condenações


injustas, utilizando-se de diversas ferramentas que o Estado americano proporcionava
na época, porém um grande marco e o maior trunfo naquele momento, foi o exame de
DNA, pois era algo inovador, em face das diversas condenações injustas nos crimes de
estupro, sob fundamento as características e formas de agir do agente, demonstrando
um preconceito precipitado, que até hoje em dia se encontra presente. (INNOCENCE
PROJECT, 2020)
A série documental disponibilizada na plataforma de stream Netflix, intitulada de
The Innocence Files, também descreve a história e criação do Innocence Project.
(NETFLIX, 2020)
A fundação foi estabelecida a partir de uma sequência de estudos realizados no
Departamento de Justiça do Estados Unidos e do seu respectivo Senado, em conjunto
com o instituto Benjamin N. Cardozo Schooloflaw, que em pesquisa, constataram que
as identificações oculares das testemunhas de diversos casos, são precipitadas, sendo
como um dos principais fatores em mais de 70% das condenações injustas, em certo
resumo, seria a condenação fundamentada em provas frágeis, o que atualmente é
inaceitável. (WIKIPEDIA, 2020)
Conforme relatado no site de notícias da iniciativa O Globo, nos Estados Unidos,
aproximadamente 2,3% a 5% dos prisioneiros são inocentes (LUCA, 2015), e no Brasil,
conforme os dados emitidos pelo Conselho Nacional de Justiça e o artigo publicado
pela advogada Juciene Souza Ribeiro no site Jusbrasil (RIBEIRO, 2014), a população
carcerária do Brasil em 2014, chegou a 500 mil presos, sendo que 30% deste número,
é composto de pessoas recolhidas indevidamente. Atualmente, conforme as últimas
notícias do site G1 da Globo, em 2019, esse número quase dobrou, e relata que, 41,5%
desses 812 mil presos, ainda pendem de julgamento. (BARBIÉRI, 2019)
Diante desta situação, e além de levar à liberdade para esses injustiçados, o
projeto incentivou a real descoberta dos verdadeiros autores dos crimes praticados,
levando a justiça requerida pelas vítimas. (INNOCENCE PROJECT BRASIL, 2020)
Neste contexto, o Projeto Inocência é algo que se demonstrou essencial nos
países, pois seus apoiadores se utilizam de dados científicos, para que assim possam
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reverter as presentes condenações, e consequentemente, garantir a justiça para as


vítimas e os injustiçados.

Da globalização e expansão mundial do projeto


Apesar de ter sido fundado em 1992, a ideia já era exercida e observada, e neste
contexto, o livro “O inocente” do autor John Grisham, descreve a história de Ron
Williamson e seu amigo Dennis Fritz, o qual Ron foi despachado para o corredor da
morte e seu amigo foi condenado à prisão perpétua, ambos injustiçados por um crime
que não haviam cometido. O caso ocorreu em 1982 quando Debbie Carter, garçonete
de 26 anos, foi encontrada estuprada e assassinada em seu apartamento, levando a
prisão inconsequente dos acusados em 1987, com fundamento em comprovações
científicas duvidosas e testemunhos repletos de contradições, o qual demonstrou um
sistema falho e corrupto do poder judiciário americano. (GRISHAM, 2006)
Além deste livro, a informação começou a circular, casos, documentários,
notícias e reportagens despertaram a necessidade de uma iniciativa para evitar tais
erros. Com isso, outras pessoas e outros países se interessaram pela iniciativa,
podendo até dizer no ditado popular, que é uma “faca de dois gumes”, que ao mesmo
tempo que diminui a população carcerária e prende os reais culpados pelos crimes,
determina a obrigação do Estado em indenizar a vítima, mas isso evidencia mais um
princípio presente no ordenamento pátrio, que seria, em caso de dúvida, que o réu seja
absolvido, denominado como in dubio pro reo. (AGUIAR JÚNIOR, 2007)
Ainda assim, com o advento da globalização e ao rápido acesso a informação
ampliaram cada vez mais os olhares não apenas de uma população, mas de todo o
mundo, o que faz com que casos impactantes em determinados lugares ganhem
proporções cada vez maiores e um olhar cada vez mais amplo, fato este que mostra a
quantidade de erros que são cometidos reiteradamente causando danos aqueles que
assim são vitimados materializando ainda mais a necessidade de uma mudança neste
quadro. (RIBEIRO, 2014)
Atualmente o projeto se expandiu em um total de 57 organizações espalhadas
pelos Estados Unidos e outras 14 espalhadas ao redor do mundo, e que, desde 1992,
já foi possível a reversão da condenação de 350 inocentes. A iniciativa também firmou
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uma parceria com o projeto Red Innocence, que é um programa responsável por
promover a assistência jurídica gratuita para inocentes, garantindo assim um melhor
atendimento à população daquele local, conforme descreve o site da iniciativa.
(INNOCENCE PROJECT BRASIL, 2020)

O Innocence Project no Brasil e sua relevância jurídica e social


No Brasil a iniciativa se deu no ano de 2016, tendo como fundadores a advogada
Dora Cavalcanti em parceria com os advogados Rafael Tuchermann e Flávia Rahal,
que em entrevista para o site Consultor Jurídica, realizada por Rafa Ramos, com o título
“Erro judiciário não é questão apenas de estatística, mas também de neurociência”,
descreveu sobre este. Com o tempo, o projeto veio ganhando força, sendo que, o seu
objetivo é a realização da análise de processos já encerrados, qual seria a parte
executória, porém estes ainda providos de pontos controversos quanto ao verdadeiro
autor do crime em análise. Os aderentes da iniciativa se disponibilizam a visitar os
presídios e receber os relatos, para que assim possam de certa forma, selecionar os
casos. (SANTOS, 2020)
Após essa seleção geral, os organizadores buscam novas provas e
possibilidades de desconstituir tal injustiça, lembrando que, o recurso cabível no
ordenamento pátrio neste momento processual é a Revisão Criminal, pois a
condenação já transitou em julgado.

“Além de buscar reverter condenações de inocentes pela Justiça


brasileira, nossa missão é provocar o debate sobre as causas
desse fenômeno e propor soluções para prevenir a sua ocorrência.
Nosso trabalho é inteiramente gratuito e em breve abrangerá todas
as regiões brasileiras.” (INNOCENCE PROJECT BRASIL, 2020)

As dificuldades decorrentes dos erros na atuação do Poder Judiciário resultam


em estatísticas inaceitáveis de punições indevidas, o que consequentemente
demonstra a inaceitável fragilidade judiciária ficando ainda mais evidente ao deparar-se
com casos impactantes de vítimas de tais erros, condenações injustas e danos
irreparáveis causando a indesejada insegurança jurídica e uma dúvida se de fato a
finalidade do Processo Penal está sendo alcançada.
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“Primeira noção que se deve ter para interpretar o direito em


matéria criminal é a de definir a finalidade do processo penal. [...] A
principal, finalidade primeira do direito processual penal, é a de
proteger a liberdade do indivíduo. Tal ilação pode causar espécie à
maioria dos que lidam com a matéria. Porém, ela é logo dissipada
se for elucidado que as normas de direito processual penal, seja
de seu núcleo constitucional (art. 5º, CF), seja de sua legislação
(Código de Processo Penal e demais leis), são encartadas no rol
dos direitos fundamentais de primeira geração. Tais normas tem o
cunho precípuo de proteger o indivíduo contra o arbítrio estatal.”
(ALENCAR, 2015)

Nesse entendimento, chega-se a um questionamento a respeito do que pode ser


feito para que de fato os princípios e garantias para um devido processo legal sejam
garantidos respeitando a premissa de que a tutela jurisdicional deve ser
adequadamente realizada, respeitando os parâmetros e limites para que não cause
danos decorrentes da aplicação incorreta da norma. Assim é demonstrada a
importância em que se apresenta o projeto de inocência, como forma de encontrar as
lacunas existentes na aplicação da norma de maneira que a curto prazo sejam
corrigidas as injustiças já praticadas, mas que utilize-se desses exemplos de erros
como forma de modelo a não ser seguido possibilitando a longo prazo que cada vez
menos erros ocorram e que de fato seja proporcionada uma maior segurança para os
tutelados. (DIREITO, 2016)
A incorreta aplicação de uma norma resultante de uma falha na administração do
processo por aqueles que são investidos pode causar danos irreparáveis à vítima desse
erro, sejam eles: moral, material, psicológico e social.
Partindo dessa premissa, é necessário que haja uma minuciosa análise do
processo, seja ele em sua persecução, para que não ocorram mais erros, bem como,
em processos já julgados e que possuem pontos ainda obscuros, para que a aplicação
da lei seja adequadamente realizada, e que o mesmo seja detectado o mais rápido
possível, evitando um dano ainda maior.
O foco deste estudo se dá na esfera penal, pois na esfera civil, apenas o
patrimônio é atingido, e não há o que se comparar patrimônio com a liberdade do ser
humano, pois o dinheiro através do esforço é possível se reconstruir, mas a liberdade é
um bem imprescindível, que jamais pode ser segregado devido a um erro de terceiros.
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Requisitos para concessão da assistência do Innocence Project e sua


aplicabilidade no âmbito nacional
Conforme informa o próprio site do projeto em âmbito nacional, os requisitos
necessários para concessão da assistência do respectivo é simples, basta o condenado
injustamente ou alguém que possa informar tal situação, envie uma correspondência ou
tente entrar em contato com os responsáveis do projeto, conseguindo assim uma visita
ou contato. (INNOCENCE PROJECT BRASIL, 2020)
Nesta correspondência ou na visita, caberá o condenado convencer o defensor
que atendeu ao chamado, informando-lhe que foi injustamente condenado e apontando
novas provas que possam comprovar sua inocência, em contra partida, o defensor que
adotar o caso, irá analisar as possíveis nulidades advindas da sentença condenatória.
(INNOCENCE PROJECT BRASIL, 2020)
A sua aplicabilidade no âmbito nacional se encontra tímida, vez que, sua
expansão no respectivo território é recente, o projeto chegou em território nacional no
ano de 2016, e seus apoiadores o promovem sem receber um contraprestação, pois o
dinheiro advindo das teses vencedoras, sendo os honorários sucumbenciais das ações
indenizatórias e das outras ações quando possível, são investidas no próprio projeto,
pagando os custos desse. (INNOCENCE PROJECT BRASIL, 2020)

O projeto de inocência e sua contribuição ao poder judiciário brasileiro


O Projeto de inocência agrega uma importante contribuição ao poder judiciário,
de forma que em casos de decisões judiciais dotadas de pontos ainda obscuros é
realizada uma nova análise desses processo já findos a fim de encontrar possíveis
lacunas na condução do processo detectando e corrigindo-as a fim de retirar as vítimas
desses erros judiciais deste constante abuso no cerceamento de sua liberdade, dessa
forma, apresenta-se o projeto como uma alternativa de um novo olhar da situação,
utilizando-se como um filtro para que erros sejam detectados e sanados.
Ainda assim, demonstra-se o projeto como uma forma de evidenciar a
necessidade de uma melhor atenção à condução processual, como forma de
demonstrar erros servindo como um molde a não ser seguido, contribuindo para uma
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pacificação acerca da prevenção a futuros erros judiciais em âmbito do poder judiciário,


seus servidores e seus padrões de conduta.

O caso Heberson
Heberson foi um dos injustiçados pelos erros por parte do Poder Judiciário, em
uma visita à Unidade Prisional em que o detento se encontrava, a Defensora Pública
Ilmair Siqueira, uma das aderentes ao projeto de inocência atendeu o rapaz, que ao se
explicar, fez com que a defensora acreditasse em sua versão dos fatos.
Perante esta situação, a defensora por via da Defensoria Pública do Estado do
Amazonas, conseguiu provar a inocência Heberson, que tinha sido acusado de estupro,
crime este que nunca cometeu, contudo na cadeia o “estuprador” sofre o mesmo crime
que cometeu, conforme relato do mesmo à associação Inoccence Project Brasil:

“A luz no fim do túnel surgiu para Heberson quando, em uma


visita à Unidade Prisional, a Defensora Pública Ilmair Siqueira
conversou com o rapaz e acreditou em sua versão dos fatos.
Graças à atuação da Defensoria Pública do Estado do Amazonas,
Heberson foi inocentado da acusação de estupro que nunca
cometeu. Até ser absolvido, ele permaneceu preso
preventivamente por quase 3 anos, foi estuprado na cela e
contraiu o vírus HIV.” (INNOCENCE PROJECT BRASIL, 2020)

Em entrevista feita pela Rede Record de Televisão, relata a vítima do sistema


que antes da prisão era um pai dedicado, que cuidava de seus filhos, em que a maior
parte do tempo trabalhava, e em comentário afirma que após o ocorrido, reside em um
cortiço com vários quartos, sendo que o seu possui apenas quinze metros quadrados, e
que agora passa necessidades e é um homem solitário. Alertando que o mesmo disse
que era inocente, o que gerou sofrimento a sua pessoa e a sua família, destacando-se
no caso uma frase que o mesmo diz ao repórter ao ser perguntado sobre o que fizeram
com sua vida, ele responde: “- Acabaram com ela.”(ALBUQUERQUE, 2014)
Sobre a indenização, conforme art. 5º, inciso LXXV, da Constituição Federal, o
Estado arcará com seus erros, sendo assim, é de se ressaltar que o valor advém dos
cofres públicos, ou seja, devido a um grave erro por parte dos julgadores, dentre os
inúmeros danos causados à vítima, foi gerado um prejuízo a coletividade, sendo o valor
12

desta indenização, que poderia ser investido em outras áreas, como a saúde e a
educação, porém precisou ser utilizado na tentativa de “reparar” o dano causado a uma
das diversas vítimas de erros processuais.
Neste sentido, os policiais erraram, os servidores erraram, os advogados
erraram, o Magistrado errou e assim sucessivamente. Por fim, eis que surge a luz do
fim do túnel, que no caso foi a defensora que salvou a vítima, mas a questão é,
Heberson não foi o primeiro, mas deveria ser o último.

Sobre as provas frágeis e a presunção de inocência


Como relatado, um ponto de destaque é a qualidade das provas em que o juiz
valora para prolatar a respectiva sentença, que no caso seria condenatória, a
fragilidade das provas se baseia na obscuridade e má instrução perante a colheita de
depoimentos, essa fragilidade está diretamente ligada as testemunhas, pois estas são
facilmente induzidas. Para o criminalista Paulo Sérgio Leite Fernandes, a prova
testemunhal derivada de pessoa envolvida diretamente nos fatos, é insuficiente para
comprovar prova alguma, pois para que essa seja considerada uma prova suficiente, é
viável que a testemunha não possua interesse no fato criminoso ocorrido. Diversos
autores se manifestam sobre este tema.

“Haja vista a intensidade e a gravidade de uma sanção de


natureza penal, há que se buscar medidas que possibilitem a
redução de erros nas decisões judiciais, a fim de minimizar a
condenação de inocentes por equívocos resultantes de
depoimentos testemunhais e reduzir a impunidade, pois não se
pode olvidar que, quando se penaliza pessoa diversa do criminoso,
faz-se, além disso, com que o verdadeiro responsável pelo crime
reste impune.” (SEGER, 2018).

Neste sentido, já foi estabelecido o princípio do in dubio pro réu, que é definido
como, em caso de dúvidas, o réu deverá ser absolvido, porém cabe ao Estado ou a
vítima, o ônus de comprovar a autoria e materialidade da conduta Típica, Antijurídica e
culpável, que seja enquadrada e esteja expressa no Código Penal, esse princípio se
encontra positivado no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.
13

Porém, a memória humana não é perfeita, pois entende-se que, devido o fato ter
causado uma certa emoção, esta pode afetar diretamente o depoimento, tirando o fato
que, o próprio local poderá interferir na descrição do perfil do criminoso, o que
aconteceu no caso relatado acima, devido a um depoimento que foi induzido ao erro,
um inocente foi condenado em uma prova frágil, e totalmente contrária a realidade, uma
vez que Heberson não continha as características descritas. (LOPES e SEGER, 2018)
Interligado a todo esse argumento, a Constituição Federal estabeleceu o
princípio da presunção de inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, deste diploma
legal, entendemos que, ninguém poderá ser considerado culpado por um crime, sem
que antes exista uma sentença penal transitada em julgado, o que também atinge o
Devido Processo Legal, previsto no artigo 5º, LIV, da Constituição Federal.

“Trata-se de uma regra que rege o tratamento que deve ser dado
a qualquer pessoa que se veja imersa como sujeito passivo de um
processo penal. Assim, a presunção de inocência como regra de
tratamento impõe tratar o imputado como se fosse inocente (STC
66/1984, F. J. 1o) até que contra ele se emita sentença que
declare a sua culpabilidade. Nesta faceta da presunção de
inocência à qual apelam expressamente a maioria de declarações
internacionais de direitos e de textos constitucionais (com exceção
do espanhol, que se limita a estabelecer o direito à presunção de
inocência, sem maiores especificações). (BELTRÁN, 2018).

Assim, com esse conjunto e com a realidade brasileira atual observa-se que a
falibilidade humana se encontra evidente, o que fomenta o presente projeto debatido
neste artigo científico.

CONCLUSÃO
Diante de tudo isso entendemos que é evidente a necessidade e expansão do
Projeto inocência/Innocence Project tendo em vista o mesmo atinge diretamente a
dignidade da pessoa humana prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal. É
necessário entender que o acautelado não perde seus direitos humanos, ou que o
indiciado seja considerado culpado sem o devido processo legal, devemos buscar a
melhor instrução processual possível, e efetividade das sentenças condenatórias e
absolutórias, pois não é admissível condenar um inocente ou inocentar um culpado, o
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caso Mariana Ferrer é o caso da vez, pois a má condução da marcha processual, pode
ter inocentado um criminoso, uma vez que provas não faltaram.
Desta forma, objetivou-se explicitar o presente projeto, visando o direito a
informação e o ato de conscientizar a população quando ao Direito Penal e o Direito
Processual Penal, pois o projeto mostra que, houve toda uma instrução processual,
porém o erro só é visto na Revisão Criminal, isso gera prejuízo para própria sociedade,
pois a sociedade sustenta o governo, e o governo é responsável pelo judiciário e seus
erros, prejuízo na comprovação da culpa que não existe, prejuízo na reclusão do
inocente e por fim, prejuízo na indenização dos danos causados ao inocente, todo
dinheiro que podia ter sido investido em outras áreas.
Por fim entendemos como funciona o Innocence Project no cenário processual
atual dotado de recorrentes erros judiciais por meio de seus investidos, demonstramos
como este se apresenta este projeto, sua atribuição, modo de atuação e seus requisitos
de aplicabilidade no contexto nacional. Assim, foi possível concluir que este projeto
muito tem a contribuir para o Poder judiciário desde a detecção de lacunas nos
processos já findos bem como para uma melhor condução processual para que tais
erros ocorram cada vez menos.

REFERÊNCIAS
AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado. A responsabilidade civil do estado pelo exercício
da função jurisdicional no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2007.

ALBUQUERQUE, Sylvia. Homem preso injustamente luta por indenização após


contrair HIV em estupro no presídio. R7. 2014. Disponível em:
<https://noticias.r7.com/cidades/homem-preso-injustamente-luta-por-indenizacao-apos-
contrair-hiv-em-estupro-no-presidio-10012014>. Acesso em 03 de junho de 2020.

ALENCAR, Rosmar Antonni Rodrigues Cavalcanti de. Segurança Jurídica e


Fundamentação Judicial: Revisitação Sob a Ótica do Direito Processual Penal e a
Garantia dos Direitos Socais. Disponível
em:<https://www.jfpe.jus.br/images/stories/docs_pdf/biblioteca/artigos_periodicos/Rosm
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