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Gabriela Oliveira Rosa

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[HUM03032-A] História do Brasil - Introdução

Tarefa 1 “A Rota do Escravo - A Alma da Resistência”

Pensar nas desigualdades sociais e raciais do Brasil contemporâneo é impossível sem


reconhecer as raízes da distância tão agressivamente construída entre as classes altas
brancas vindas da Europa e os grandes contingentes de escravos negros trazidos da África
subsaariana. O documentário, produzido pela UNESCO, propõe uma reconstrução da rota
imposta aos grupos africanos sequestrados de suas aldeias e levados para o continente
Americano e Asiático como força de trabalho para construir o Novo Mundo idealizado pelas
coroas Portuguesa e Espanhola, principalmente. Traçando o caminho de indivíduos através de
fabulação desde suas casas antes de serem sequestrados até os problemas da socialização
dos escravos forros e seus descendentes, o documentário levanta alguns pontos essenciais
para estudar o processo da escravidão do povo africano e suas consequências para a
sociedade, e eu escolhi três pra discorrer sobre com maior atenção: as ideias de hierarquia
racial, o movimento de desafricanização dos escravos, e o impacto cultural e artístico que os
povos pretos tiveram nos países onde tiveram suas forças de trabalho exploradas.

A hierarquia racial, supostamente comprovada pelos cientistas e médicos da época, se


baseava em crenças de que negros eram biologicamente inferiores aos povos europeus
colonizadores, e por isso seria aceitável tratá-los como animais e explorar sua mão de obra em
situação precaríssima. Alguns até mesmo acreditavam que os escravos não eram capazes de
sentir dor. Falando especificamente no Brasil, que “gastou cerca de 12 milhões negros,
desgastados como a principal força de trabalho de tudo o que se produziu aqui”, segundo
Darcy Ribeiro (O Povo Brasileiro, 1922, pág. 220), temos uma realidade não de segregação
racial, como vimos na África e seu apartheid, mas de discriminação não apenas de raça mas
de classe, acima de tudo. O negro, o mulato e o branco pobre, segundo Ribeiro, são todos
culpados de suas próprias desgraças, incapazes de fugirem da criminalidade inata e da
ignorância supostamente intrínseca à sua raça, e não produto da opressão escravizadora. A
grande massa negra responsável pela edificação e prosperidade do povo brasileiro nunca fora
assistida por aqueles que acreditavam na sua inferioridade biológica, aqueles no poder; nunca
receberam qualquer posse de terra, qualquer escola para educarem seus filhos, qualquer
compensação pelo abuso sofrido, mesmo depois da primeira lei abolicionista.
Despido de suas singularidades africanas e suas diferenças de idioma, cultura e cotidiano,
mas ao mesmo tempo incapazes de se inserirem nos costumes portugueses e europeus, essa
nova massa de pretos e mulatos, construtores da nação brasileira, não pode ser nada além dos
verdadeiros primeiros brasileiros. Com seus sotaques e maneirismos linguísticos, modificaram
o português lusitano até gerar um novo idioma. Com suas danças, seus cultos, sua
espiritualidade, seus trabalhos manuais, criaram relações sociais entre si, apesar das origens
diferentes, e desse encontro e desse choque de existências surgiu a cultura puramente
brasileira. As gerações criadas pelo conflito se encontravam distantes da cultura nativa aqui
existente antes da conquista e mais afastada ainda da civilização europeia, lutando por seu
espaço em meio a branquitude mas incapaz (sociologicamente, fisiologicamente,
territorialmente) de se afastar dos ventres negros que os geraram.

A cultura negra se torna, junto com tradições indígenas, o que há de mais belo, singular e
criativo no que há de expressão popular no Brasil. E pensando ainda como pensou Darcy
Ribeiro, surge a figura naturalmente artística do mulato: capaz de participar socialmente dos
espaços urbanos como os negros africanos nunca foram permitidos, o mulato colhe as
inspirações das gerações pretas mas também aproveita a cultura erudita que antes era
exclusiva dos brancos, florescendo como figuras relevantíssimas da cultura nacional: Machado
de Assis, Aleijadinho, Cruz e Sousa, Rui Barbosa, José Maurício. “Posto entre os dois mundos
conflitantes - o do negro, que ele rechaça, e o do branco, que o rejeita -, o mulato se humaniza
no drama de ser dois, que é o de ser ninguém” (pág. 223).
“Prevalece, em todo o Brasil, uma expectativa assimilacionista,
que leva os brasileiros a supor e desejar que os negros
desapareçam pela branquização progressiva. Ocorre,
efetivamente, uma morenização dos brasileiros, mas ela se faz
tanto pela branquização dos pretos, como pela negrização dos
brancos. (RIBEIRO, 1995, pág. 224)

Se o povo negro foi explorado e subjugado, nunca foi por fraqueza, inferioridade intelectual
ou disposição biológica para isso; sua resposta à opressão sempre foi de resistência, por meio
da música, das revoltas, da arte, da pegada cultural implantada firmemente em todos os
continentes, com o hip-hop, o reggaeton, o samba, o rap, a música eletrônica, a luta por direitos
humanos. A revolta vista na Índia, que obrigou a Inglaterra à dar um passo para trás frente aos
brados vitoriosos de milhares de pretos, as revoltas poderosíssimas que eclodiram pela
américa central, os gritos daqueles que nunca pararam de resistir contra a figura colonizadora
branca europeia - esta, completamente apavorada pela possibilidade dos braços negros que
construíram suas casas, suas ruas, suas plantações e suas economias, se unirem contra as
armas de fogos em grandes massas, prontos para subjugar o império opressor e suas garras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RIBEIRO, Darcy, 1922. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo.
Companhia das Letras, 1995.
Darcy Ribeiro e o povo brasileiro (terra.com.br)
“A Rota do Escravo - A Alma da Resistência”, via ONU Brasil. (113) A Rota do Escravo - A
Alma da Resistência - YouTube

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