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PERSONAGENS:
Juiz: solene
*Guilhermina fará um breve resumo da história que antecede a última cena que é a cena do
Julgamento no tribunal*
Divirtam-se!
Teobal...mas se ele nunca recebeu salário, como é que ele vai pagar o Pathelin??? Ahhh, assiste
aí esse julgamento, que eu vou é me arrumar... hoje a noite promete!
O JULGAMENTO
Todos abrem a câmera, mas não aparecem. Música: Bom Xibom Xibom Bom Bom. Com o
corpo construído para cada personagem, todos entram em cena, passando três vezes em frente
à câmera, na quarta volta já vêm para sentar-se em suas cadeiras. Todos (exceto o juiz)
continuam muito eufóricos por conta do julgamento, conversam e gesticulam bastante até que
o juiz “bate o martelo”, cessa a música, todos fazem silêncio.
PATHELIN (Enrolado no cachecol de lã. Muito simpático): Deus vos dê toda a felicidade que o
vosso coração deseja, senhor juiz.
JUIZ (Solene, lento e discretamente feliz por ver o advogado): Seja bem-vindo, doutor. Tome
seu lugar.
JUIZ (lentamente) Se há alguma coisa a debater, vamos (mais lentamente) depressa com ela
para que eu possa levantar a sessão.
GUILHERME: Meu advogado já vem. Ele está acabando um negócio rapidola. (Suplicando
quase choroso) Peço o favor de esperar um pouquinho.
JUIZ: Não pode ser. Tenho outras causas para ouvir. Se a parte contraria está presente,
exponha o caso (bem lentamente) rapidamente. O senhor não é o queixoso?
GUILHERME: Sim. (desconfiado) Mas, não diz uma palavra. Só Deus sabe o que pensa.
JUIZ: Já que todos estão presentes, (bem lentamente) comecemos logo. (fecha a câmera)
GUILHERME: Eis minha queixa: eduquei, por CARIDADE, EEEEESTE pastor aqui presente. (Felipe
abre a câmera como o personagem Teobaldo) quando o julguei bastante forte, mandei-o para
o campo para cuidar dos meus rebanhos. JURO POR DEUS, senhor juiz que é tão verdade como
estar o senhor sentado nessa cadeira. Esse miserável, abusando da minha confiança, fez tal
matança entre os meus carneiros que...o senhor não faz ideia (continua resmungando
enquanto vai diminuindo o volume)
JUIZ (abre a câmera) (fala bem lentamente e dá ênfase na última palavra) Vejamos, ele era
seu empregado?
GUILHERME: Siiim
JUIZ: (fala bem lentamente e dá ênfase na última palavra) O senhor lhe pagava ordenado?
GUILHERME: Bem...eh...ah...ããã...
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PATHELIN: (interrompe Guilherme) QUE NADA, senhor juiz! O pobre pastor não recebia UM
CENTAVO! (enrola o tecido novamente pelo corpo, como que se exibindo)
GUILHERME: (reconhece Pathelin) Ó, DEEEUS! Seja eu herege se não for ele! Não há erro!
(Pathelin cobre parte do rosto com o tecido)
JUIZ: Por que o senhor levanta assim a mão, doutor Pathelin? Está com dor de dentes?
PATHELIN: Sim, nunca tive uma dor igual. Mas... continuemos o debate.
GUILHERME: (eufórico, quase gritando) É ELEEE! Não há dúvida! Foi a ele que vendi sete
metros de tecido.
PATHELIN: (com piedade) Ele delira, senhor juiz! (debochado e cínico) Não consegue concluir o
raciocínio. (com ares de sabedoria) Naturalmente ensinaram-lhe a lição para recitar diante do
tribunal, (irônico e debochado) mas parece que se esqueceu. (com piedade novamente) Daí
fica assim...(debochando) trocando as bolas.
GUILHERME: (eufórico e dramático) Que eu seja enforcado, se não foi a VOCÊ que vendi um
dos tecidos MAIS CAROS da (ênfase) MINHA loja.
PATHELIN: (verdadeiramente indignado com a injustiça) Onde esse malvado vai buscar essas
invenções para aumentar a culpa do pastor? Que, (ênfase) NA VERDADE...(suspense e ênfase):
É SUA VÍTIMA!!! (confusão de vozes entre os presentes. Juiz bate o martelo e pede ordem.
Pathelin prossegue) Ele está querendo dizer, (orgulhoso de sua inteligência/sabedoria) e EEEU
compreendo muito bem, que (ênfase) O PASTOR vendeu o tecido de que foi feita minha
(muito orgulhoso de seu acessório) echaaaaaarpe. (com muita e verdadeira indignação)
Vejam que maldade! Não basta a acusação mentirosa de que o pastor lhe roubou só os
carneiros, é preciso acusá-lo TAMBÉM de ter roubado um tecido que eu COMPREI há mais de
três anos.
JUIZ: (bem lentamente) Caaaaaaalma... (um pouco mais acelerado) onde estamos nós? O
senhor não sabe o que diz. Volte à sua causa sem fazer o tribunal perder tempo com suas
asneiras.
PATHELIN: (rindo e cobrindo o rosto) Ha, ha, haaa, ai, ai, ai...Estou louco de dor de dentes,
mas não posso deixar de rir. Ha, ha, ha, ha, ha...ele está tão embaraçado que não sabe mais o
que dizer. Senhor juiz, é preciso lembrar-lhe onde ele estava no relato.
JUIZ: Vamos, (bem lentamente) vooooolte aos seus carneiros. O que aconteceu?
JUIZ: (bem lentamente) Estamos todos loucos? Onde o senhor pensa que está?
PATHELIN: (alterna entre dirigir-se com respeito ao juiz e com deboche a Pathelin) Senhor
juiz, esse homem toma V. Ex.ª, com perdão da palavra, por um tolo. A julgar pelo seu exterior!
No entanto, parece um homem de bem. (decidido) Proponho que se interrogue o acusado!
(confusão de vozes)
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JUIZ: (bate o martelo lentamente e fala mais lentamente ainda) O senhor tem razão. Ele deve
conhecê-lo, pois o queixoso é seu patrão. (vira-se para a esquerda e fala de lado para a
câmera) Adiante-se, fale. (Aproxima-se de Teobaldo até sair do foco da câmera) (Confusão de
vozes na plateia. Teobaldo entra no foco da câmera. Patricia bate o martelo)
TEOBALDO (triste): Bééé. Béééé. Béé. (Confusão de vozes na plateia. Teobaldo fecha a
câmera)
JUIZ: (Juiz abre a câmera, voltando à mesma posição da sua fala anterior e bate o martelo
lentamente, confusão cessa) Está aí ooooutro caso. O que quer dizer Bééé, béééé, béé? Eu sou
por acaso cara de bode? Vamos, fale direito. (Fecha a câmera)
JUIZ: (abre a câmera, bate o martelo e fala lentamente com muita indignação) Você está
caçoando de mim?
PATHELIN: (intervindo rapidamente) Pobrezinho! Não, senhor juiz! Ele (ênfase)JAMAIS faria
isso. É porque ele ficou destrambelhado pelos (ênfase) MAUS TRATOS do patrão.
GUILHERME: (aos gritos) Quero ser apedrejado se não foi ao senhor, dr. Pathelin, a quem vendi
meu tecido! (virando-se para o juiz) V. Ex.ª não sabe com que ...
JUIZ: (Lentamente) Cale-se! O senhor está louco? Deixe de lado esse fato acessório e vamos
ao fato principal.
GUILHERME: (com a voz chorosa) Está bem. Juro não tocar mais no assunto do tecido. (raiva
subindo repentinamente) Mas o caso me faz enraivecer...grrrrr.(volta a voz chorosa) Porém
meus lábios não se abrirão mais sobre esta questão. (Se acalma. Voz serena) Por hoje ao
menos, porque (fica com raiva novamente) ISSO NÃO FICARÁ ASSIM. (se acalma novamente.
Voz serena) Voltemos portanto, ao caso do pastor: eu dizia que ele guardava (fica com raiva
novamente) SETE METROS DE TECIDO...(cobre a boca com a mão como se quisesse calar a si
mesmo. Voz chorosa) quer dizer, meus rebanhos, perdão, foi um engano. Esse senhor pastor,
quando devia estar nos campos, (fica com raiva novamente) DISSE-ME QUE ME PAGARIA O
TECIDO...(fala chorando) Nããããão... quero dizer, que quando ele começou a guardar os meus
rebanhos...prometeu-me que pagaria o tecido durante um excelente jantar com pato... Mas o
que estou dizendo? (Para de chorar e se recompõe) Desculpe-me, senhor juiz, queria dizer que
esse PATIFE DO PASTOR jurou-me guardar sem traição nem dolo os meus carneiros. Pois bem,
ele os matava sem piedade e agora nega tudo: dinheiro e (começa a chorar novamente)
tecidooooo! Ahhh, doutor Pedro, isso não se faz! Sim, senhor juiz, este canalha de pastor me
matava sem temor de Deus todos os carneiros; quando ele de repente (fica com raiva
novamente) foi saindo com a peça de TECIDO debaixo do braço e disse-me que fosse à sua
casa... (começa a chorar novamente)
JUIZ: Cale-se! Cale-se! Basta de asneiras, sua queixa não tem rima nem razão. O senhor é um
louco. Ora vejam: só fala de carneiros, depois emenda com tecido, com pato, com jantar...Que
é isso? Só mesmo um louco e (fala bem lentamente) isto aqui não é manicômio.
PATHELIN: Naturalmente é porque ele tem a (ênfase) CONSCIÊNCIA PESADA de (ênfase) NÃO
PAGAR AO POBRE PASTOR e ainda por cima (ênfase) INVENTAR um processo (muita piedade)
ao coitado.
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GUILHERME: O senhor faria bem em calar-se, ouviu? (com raiva) MEU TECIDO...onde está
ELEEEE? Não é o senhor que o tem?
JUIZ: (bem lentamente e como se não tivesse entendido nada do que está acontecendo) O
que é que o doutor Pedro tem?
GUILHERME: Nada, senhor juiz. Isso não vem ao caso. O que eu posso afirmar é que o doutor
Pedro é o maior trapaceiro, mas isso fica para outra vez; trata-se agora dos meus carneiros.
JUIZ: (lentamente) Vamos, trate de lembrar-se bem dos furtos e conclua (bem lentamente)
loooogo.
GUILHERME: Estou confuso, senhor juiz. Peço-lhe que interrogue novamente esse patife.
Vejamos o que ele tem para dizer. Ele bem sabe falar...
PATHELIN: O pobre pastor não pode falar por si mesmo, nem saberá responder às acusações
que lhe forem feitas. Se V. Ex.ª permitir, eu falarei por ele.
JUIZ: (com cara e voz de sono) O senhor quer assisti-lo? Creio que só terá aborrecimentos sem
proveito algum. (fecha a câmera, cochila e ronca)
PATHELIN: Nem quero ter lucro! (piedade) Tenho pena de ver um pobrezinho sem defesa,
(indignação) exposto às malévolas acusações de um PERVERSO. Quando se é honesto, o lucro
não interessa. Com permissão de V. Ex.ª, vou interrogar o acusado. Aproxima-se, meu amigo.
Você me entende? Vamos, fale!
TEOBALDO: (mais triste, depois indignado) Bééé. Béééé. Béé. Bééé. Béééé. Béé.
PATHELIN: Sempre a mesma coisa. Você não está vendo que os seus interesses estão em jogo?
Responda direito.
JUIZ: (acordando de sobressalto, abre a câmera e começa falando rapidamente depois vai
desacelerando aos poucos, até encerrar a fala bem lentamente) O senhor tem razão. Este
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GUILHERME: (ênfase) JURO que V. Ex.ª se engana. (ênfase) JURO que esse patife tem mais
bom senso do que eu.
JUIZ: Por que não? Se o senhor, além de louco, não diz coisa com coisa, e ele é um enfermo
mental?
GUILHERME: SUPLICO a V. Ex.ª que me deixe ao menos expor minhas conclusões. JURO-LHE
que em tudo que disse não houve mentira nem desejo de caçoada.
JUIZ: O que prova que o senhor é realmente louco e eu não estou aqui para perder tempo
com loucos.
JUIZ: O senhor não acha que já fez o tribunal perder muito tempo?
JUIZ: Adiada? Para que? O senhor é um louco e esse rapaz um sandeu. Com tal gente é
impossível um processo.
PATHELIN: V. Ex.ª diz bem. Não é possível lidar-se com tais pessoas, por isso peço a quitação
do meu cliente.
JUIZ: Com toda razão. (a Teobaldo) Vá, você está livre. O tribunal reconhece a sua inocência.
Não se preocupe mais com as calúnias levantadas contra sua pessoa, não volte nem que um
oficial de justiça vá intimá-lo.
GUILHERME: (revoltado) Mas isto não pode ser, senhor juiz! Esse pastor é um TRATANTE, um
LADRÃO... Eu posso... (Para Pathelin com raiva e choroso) O senhor devia ter vergonha e não
falar mais comigo, ouviu? MEEEEU tecido, (ênfase) ONDE ESTÁ ELEEEE?
JUIZ: Vamos, eu tenho mais que fazer do que estar ouvindo loucuras... Doutor Pedro, o
senhor quer jantar comigo?
GUILHERME: (muito aborrecido) Ah, doutor Pedro, que O DIABO me leve se O SENHOR não é
o MAIOR trapaceiro do mundo! Então... meu tecido, meu dinheiro...ahhhhh...grrrrrr...
PATHELIN: (com cinismo, ironia e falsa suavidade) Sempre a mesma coisa. O senhor devia
mudar de nota, porque já está monótona.
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GUILHERME: (fala choroso) Ahhhhh, vou já já à sua casa buscar MEEEEEU rico dinheirinho...
(fecha a câmera)
PATHELIN: É isto, vá buscar, vá sim (Ri muito. Para, chama Teobaldo) Então
Teobaldo...Teobaldo... teve ou não teve sucesso a minha ideia?
PATHELIN: Ahhh, aí está você. Então, Teobaldo, teve ou não teve sucesso a minha ideia?
TEOBALDO: Béé!
TEOBALDO: Béé!
PATHELIN: Que é isso? Você quer fazer graça COMIGO??? O homem mais esperto desta
cidade? Vamos, meu dinheiro, (ênfase) JÁ! Senão vou buscar um soldado.
TEOBALDO: Béé!
PATHELIN: Será possível que EU tenha caído NA MINHA PRÓPRIA ARMADILHA??? E que um
camponês, uma CRIANÇA, UMA RAPOSINHA, grrrr, engana uma velha raposa matreira? Espere
um pouco, miserável, eu vou buscar quem faça você falar. Olá, soldado! Olá, Soldado! (Sai e
fecha a câmera)
TEOBALDO: Béé!
F I M.