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ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL: NÍVEL CENTRAL E LOCAL

O Poder Central
O poder central corresponde ao Governo da República de Moçambique que exerce o
seu poder em todo o território nacional.

Estrutura do Poder Central


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Em termos constitucionais, são órgãos centrais do Estado os órgãos de soberania, o
conjunto dos órgãos governativos e as instituições a quem cabe garantir a prevalência
do interesse nacional e a realização da politica unitária do Estado – ver artigo 138.

De acordo com a Constituição, no seu artigo 7, a República de Moçambique organiza-


se territorialmente em províncias, distritos, postos administrativos, localidades e
povoações.

Órgãos Locais do Estado – artigo 262 CRM


Os órgãos locais do Estado têm como função a representação do Estado ao nível local
para a administração e o desenvolvimento do respectivo território e contribuem para a
integração e unidade nacionais.

Nos termos constitucionais temos órgãos locais do Estado nos escalões de provincia,
distrito, posto administrativo e localidade.

 Ao nível de província temos como órgãos da administração pública: o


Governador Provincial e o Governo Provincial.

O Governador Provincial é o representante do Governo, representa a
autoridade central da administração do Estado.
O Governo Provincial é o órgão encarregado de garantir a execução, no escalão da
província, da política governamental centralmente definida e dispõe de autonomia
administrativa no quadro da descentralização da administração central.

Para esta circunscrição territorial, a Constituição prevê a existência de um órgão de


representação democrática – as assembleias provinciais – cujas competências são:

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 fiscalizar e controlar a observância dos princípios e normas estabelecidos na
Constituição e nas leis, bem como das decisões do Conselho de Ministros
referentes à respectiva província;

 aprovar o programa do Governo Provincial, fiscalizar e controlar o seu


cumprimento.

GOVERNAÇÃO LOCAL

O Poder Local - artigo 271 CRM

Introdução

Ao nível local, todos sabemos que há problemas próprios de cada região, situações
que são específicas de cada comunidade e que as populações locais conhecem bem,
porque as vivem, sentem e gostariam elas próprias de as resolver, porque têm
consciência de que detêm soluções alternativas eficientes e eficazes para a superação
de suas necessidades e dificuldades. Mas não têm poder e meios para isso: faltam lhes
os meios humanos, técnicos e financeiros, bem como o poder político e administrativo.
Em 1996, através da Lei n.º 9/96, de 22 de Novembro, a Assembleia da República
aprovou, por consenso, uma emenda constitucional para a criação do quadro jurídico
básico para a municipalização no nosso país. Com efeito, a Constituição da República,
na altura, consagrou o Cap. IV referente ao Poder Local e a consequente criação das
autarquias locais.

As autarquias locais, nos termos do previsto no artigo 273 da CRM, são:

 Municípios que correspondem às Cidades e Vilas e as


 Povoações que correspondem às Sedes dos Postos Administrativos
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Descentralização é a passagem de poder de decisão do poder central para os órgãos


locais, através dos representantes democraticamente eleitos pelas populações. Esses
órgãos são representantes dos habitantes locais, que conhecem bem as necessidades
e expectativas dos grupos que os elegeram, estão muito próximos deles no quotidiano
e, por isso mesmo, sentem-se mais comprometidos e mobilizados para gerir os
problemas comuns.

A descentralização permite:

a) Reforçar a democracia:
- os responsáveis locais são directa e regularmente eleitos pelos
cidadãos, e estes vão poder controlar e fiscalizar a sua gestão;
- cada cidadão, pode participar mais directamente na gestão e decisão
dos problemas da sua comunidade.

b) reforçar a Reconciliação Nacional:


- através duma maior participação na resolução dos problemas colectivos, os
moçambicanos de todas as origens, convicções e ideologias terão a possibilidade de
dialogar e juntar esforços para resolver os problemas, que em conjunto os afectam.
Unir esforços e fortalecer a coesão.
c) promover o desenvolvimento:
- uma administração mais próxima pode ser mais rápida na identificação das causas
dos problemas e mais eficaz na sua resolução;
- como os responsáveis são eleitos pelas populações, a sua conduta pessoal e técnica
vai ter mais qualidade se quiserem ser eleitos outra vez.
Às vezes é muito difícil fazer chegar a voz das populações mais distantes à capital, nos
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órgãos centrais, onde são tomadas as decisões. Com a descentralização, algumas
decisões já não precisam esperar tanto tempo pelas respostas que vêm de longe e
demoram muito tempo.

Nas 43 autarquias locais já implementados e em funcionamento, as próprias


comunidades, através de seus representantes, assumem a gestão de seus problemas.

A descentralização está sendo gradual e dependente da consolidação das autarquias


já existentes e das capacidades e potencialidade das Cidades, Vilas e Postos
Administrativos ainda não contemplados.

O grande desafio agora é o desenvolvimento das competências para gerir com eficácia
e efectividade, para captar recursos e para assegurar a sustentabilidade dos
programas e projectos implementados.
Com pessoas capazes e com recursos próprios, o poder local tem as melhores
condições para resolver adequadamente os problemas locais.

A descentralização difere da desconcentração porque aqui trata-se, isso sim,


da delegação de competências sem deslocação do poder. No caso, por
exemplo, da delegação de competências próprias do Governador Provincial a
um Director Provincial. O delegado (o Director Provincial) fá-lo em nome do
delegante (o Governador Provincial).

O Governo Municipal (Conselho Municipal)


A Estrutura dos Municípios
A estrutura nacional encontra-se reproduzida nos 53 Municípios em exercício.

Cada município possui:


a) Um presidente que é eleito numa base individual - Presidente do
Conselho Municipal;
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b) Um conselho que é um órgão executivo – Conselho Municipal;
c) Uma assembleia que é um órgão representativo e deliberativo e é eleita através do
sistema de listas de partidos políticos ou de cidadãos –
Assembleia Municipal - os eleitores escolhem um partido político ou um determinado
grupo de cidadãos e não indivíduos;

Podem também apresentar-se candidatos independentes para os cargos de Presidente


do Conselho Municipal e de Deputados da Assembleia Municipal. ( de acordo com a
legislacao base que estamos a usar nestas aulas)

Funções dos órgãos representativos e executivos


Cada município ou povoação terá órgãos políticos e órgãos não políticos.
- Os órgãos políticos são aqueles que têm uma relação directa com o eleitorado. A
sua legitimidade busca sustento na vontade dos eleitores locais, por isso não são
estáveis.
- Os órgãos não políticos são os agentes administrativos, os que prestam actividades
ligadas à administração municipal ou da povoação e regidos pelas normas da Função
Pública, nomeadamente pelo Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado
(EGFAE). São providos para os seus cargos, nos termos da Lei.

Como podem os munícipes/sociedade civil participar na vida do minicípio?


 Apresentando individualmente ou através de organizações sociais, verbalmente
ou por escrito à Assembleia Municipal o seguinte:
 Sugestões;
 Queixas;
 Reclamações/petições.
 Participando:
 Nas reuniões da Assembleia Municipal;
 Nos debates quando necessário/solicitado pela Assembleia
Municipal;
 Na tomada de decisões em relação a:
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 Planos e programas de expansão;
 Política tarifária;
 Formas de atendimento público;
 Entre outros.
 Enquadrado nas autoridades tradicionais reconhecidas pelas comunidades
locais onde podem manifestar as suas ideias e opiniões.
 Organizados em grupos de interesse ou grupos de pressão.

Conclusões
O fenómeno da descentralização percorre, hoje em dia, grande parte dos Estados,
paralelamente ao processo de implantação e/ou de aprofundamento da democracia, e
mesmo países com fortes tradições centralistas estão, de forma crescente, a
desenvolver medidas operativas e alterações institucionais para edificar sociedades
que representam comunidades nacionais agregadas pela afinidade dos cidadãos entre
si e sem destruir o sentido da identidade comum.

Trata-se de uma proposta de organização não apenas administrativa mas também


política, promotora de reformas e de criação de novas instâncias políticas a nível sub-
nacional, tendendo a clarificar e consolidar o sistema de democracia territorial.
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1. Bibliografia

2. ABC DO SIFAP, Direcção Nacional da Função Pública – Ministério da


Administração Estatal, Maputo, Outubro de 2002;

3. Bonavides, Paulo; Ciência Política, 7ª Ed., Rio de Janeiro


4. ;
5. Cistac, Gilles; Coletânea de Apontamentos de Direito Administrativo, Maputo,
1999;

6. Constituição da República de Moçambique,1990, Publicação AWEPA,


Maputo, 1997;

7. Cossa, Hortência e Mataruca, Simão; Moçambique e a Sua História – Desde as


Primeiras Comunidades à Independência Nacional, Diname, Maputo
8. Dicionário de Sociologia, Lisboa: Dom Quixote (tradução de A. J. Pinto
Ribeiro);

9. Estado, Sociedade e Administração Pública, Manual do Formador, FUNDAP,


SP, 1993;

10. Franco, João Melo e Martins, Herlander Antunes; Dicionário de Conceitos e


Princípios Jurídicos, 2ª ed. Livraria, Almedina, Coimbra, 1988;

11. Freitas do Amaral, Diogo; Curso de Direito Administrativo, Vol. 1, 2ª ed, Livraria
Almedina Coimbra, 1994; 8

12. Miranda, Jorge; Manual de Direito Constitucional, Tomo III, 3ª Edição


Reimpressão, Coimbra Editora, 1993;

13. Programa de Reforma do Sector Público – Fase II (2006 – 2011), aprovado


na 24ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, de 10 de Outubro de 2006;

14. Boletim da República (1975), Constituição da República Popular de


Moçambique, 29 de Julho, 1ª Série, nº 1, Imprensa Nacional, Maputo;

15. Boletim da República (2003), Lei nº 8/2003, de 19 de Maio, 1ª Série, nº 20,


Imprensa Nacional, Maputo;

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