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{Caracterização, Controle e Avaliação: Limitações e Possibilidades no Â}mbito


do Treinamento Desportivo

Article · January 2007

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Jonato Prestes
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6 João Paulo Borin; Jonato Prestes; Nélio Alfano Moura
Revista Treinamento Desportivo / 2007
Volume 8 • Número 1 • Página 06 a 11

Caracterização, Controle e Avaliação:


Limitações e Possibilidades no Âmbito
do Treinamento Desportivo
JOÃO PAULO BORIN*, JONATO PRESTES*, NÉLIO ALFANO MOURA*

*Núcleo de Performance Humana, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Metodista de


Piracicaba, Piracicaba, São Paulo.

RESUMO ABSTRACT
Nos últimos anos, nota-se no contexto do treinamento In the last years, it’s been noted in the physical training context
desportivo crescente número de estudos apontando para di- a growing number of issues about different aspects, since the
ferentes aspectos, desde a seleção e orientação na formação selection and orientation in sports formation to methodological
desportiva até questões metodológicas referentes à sessão de questions referring to the training session. In this direction, a
trabalho. Nesse sentido, verifica-se a necessidade de apresen- necessity to present and discuss some important points that
tar e discutir alguns pontos relevantes que podem contribuir may contribute to the understanding between the athletic
para estreitamento entre o binômio teoria e prática desportiva, practice and theory binomius is verified, like: i)
como: i) caracterização das ações executadas e capacidades Characterizations of executed actions and biomotor capacities
biomotoras que predominam nas diferentes modalidades, ii) that are predominant on different sports modalities, ii)
métodos e formas de controle das cargas prescritas aos atletas methods and control forms of prescribed loads to the athletes
nas diferentes etapas do processo de treinamento, tanto no in different periods of training, even in the formation period
período de formação como no alto desempenho e, por fim, iii) as in the high performance and iii) The discussion on evaluate
a discussão de se avaliar os resultados através de diferentes the results though different physical capacity indicators
indicadores de aptidão física sem considerar as intervenções without considering the interventions in tactics and technical
no âmbito técnico e tático. Parece assim, que a compreensão ambits. It seems like, the understanding of the game model,
do modelo de jogo, controle da carga de treinamento e avali- training load control and evaluation of different training
ação em conjunto das diferentes variáveis do treinamento si- variables are priming items to be taken in consideration for
tuam-se como itens essenciais a serem considerados por aque- those who are inside the physical training.
les que atuam no treinamento desportivo. Keywords: training context, load control and physical capacity.
Palavras-Chave: contexto desportivo, controle de cargas e
aptidão física.

INTRODUÇÃO estar em constante transformação e atualmente, os as-

A
organização e estruturação do treinamento pectos teóricos do treino estão sendo questionados prin-
desportivo são fundamentais na planificação cipalmente levando-se em consideração o sistema de
tanto no início da temporada de trabalho como competição existente.
no processo de formação do jovem atleta. Nesse senti- 2
Segundo Borin et al. , raros são os estudos que rela-
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do, Gomes e Teixeira alertam que o planejamento con- cionam a performance desportiva com os aspectos
siste exatamente em conseguir que os elementos resul- organizacionais do treinamento, tornando possível su-
tantes da atividade organizada se destaquem, facilitan- por que as indagações de ordem estrutural, financeira e
do o controle das diferentes variáveis e o resultado final administrativa ainda não estão totalmente esclarecidas.
que se almeja alcançar. O início do processo se constitui Particularmente cabe aqui destacar, que o modelo
na análise da situação ocorrida no ano ou período ante- de atleta contemporâneo nas suas diferentes caracterís-
rior, abrangendo desde análise de rendimento do gru- ticas morfofuncionais se alteraram bem como as das
po e dos atletas tanto nos aspectos físico, tático e técnico partidas. Nesse sentido, o entendimento do que se pode
até as questões administrativas. Tais aspectos são ob- chamar de modelo do jogo, é constituído por indicado-
servados devido ao processo de treinamento desportivo res como: número de arremessos, saltos realizados em
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Caracterização, Controle e Avaliação: Limitações e Possibilidades no Âmbito do Treinamento Desportivo 7

cada posição das modalidades, deslocamentos executa- movimentos ofensivos no basquetebol feminino entre a
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dos e distância total percorrida nos diferentes períodos categoria adulta e juvenil , nota-se diferença significante
de jogo, tempo de permanência no ataque e defesa e entre ambas mostrando que os valores devem ser ade-
eficiência das ações, entre outros. Ainda nesta linha, é quados a cada faixa etária.
fundamental destacar que o entendimento de tais vari- Verifica-se assim, que informações específicas de-
áveis pode auxiliar especificamente na prescrição e con- vem estar presentes nas planilhas da comissão técnica
trole da carga de treinamento, bem como na adequação das diferentes modalidades para se adequar às cargas
dos meios e métodos de treinamento. de trabalho de acordo com as necessidades das diferen-
tes faixas etárias, períodos de treinamento ou competi-
CARACTERIZAÇÃO DAS AÇÕES NAS ção.
MODALIDADES DESPORTIVAS
Nesta direção, verificam-se poucos estudos que po- CONTROLE DAS CARGAS DE
dem de maneira efetiva contribuir para o entendimento TREINAMENTO
do jogo sob estes aspectos. Cabe aqui ressaltar, que vá- Outro ponto relevante nesta linha volta-se ao con-
rios trabalhos são realizados no sentido de informar di- trole a ser utilizado durante todo o processo de treina-
ferentes aspectos como: parâmetros fisiológicos (VO mento desportivo, pois considerado em longo prazo,
2
máximo, concentração de lactato, frequência cardíaca possui características sistêmicas e auto-organizadas
máxima), antropométricos (% de gordura, peso corpo- apresentando períodos, etapas e fases, mutuamente de-
ral, estatura, índice de massa corporal, somatotipia), pendentes, que se sucedem de maneira estruturada .
8

porém a grande limitação que se observa, é que a maio- Dessa maneira, pode ser considerado um processo ob-
ria das publicações remete informações de como o atle- jetivo, pois se espera que seus resultados possam ser
ta se encontra no início da competição e raramente nos previstos a partir do conhecimento das características
demais períodos da temporada ou mesmo da vida apresentadas inicialmente pelo indivíduo e das diferen-
desportiva do jogador. Alguns ensaios isolados em nos- tes intervenções realizadas.
so meio, têm procurado caracterizar as ações nas dife- 9 10
rentes modalidades desportivas, como por exemplo, no Pila-Telena e Arbeit afirmam que o processo de
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basquetebol Borin et al. procurando caracterizar o me- desenvolvimento do atleta de alto rendimento situa-se
tabolismo predominante, através das zonas de intensi- ao redor de dez anos, e que somente depois desse perí-
dade do esforço, tendo como referencia o modelo pro- odo seria possível desempenhar de forma consistente
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posto por Zakharov e Gomes , indicam que a modali- em alto nível. Essa “Lei dos Dez Anos” não se aplica
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dade situa-se na zona mista, ou seja, aeróbio-anaeróbio. apenas aos esportes: Gibbons e Foster acreditam que,
Ainda no basquetebol, procurando conhecer quantos para se tornar um especialista dentro de um grupo
movimentos de ataque realizavam as equipes durante a talentoso, esse período de prática intensa e sistemática
4
Liga Nacional, Vianna et al. demonstraram que, em é necessário. Tais afirmações dão suporte à frase origi-
média, as equipes realizam 188 (± 17,5) movimentos nal de Herbert A. Simon, ganhador do prêmio Nobel
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ofensivos durante uma partida. No voleibol, Esper in- em economia em 1978, segundo o qual “são precisos 10
vestigou a quantidade e número de saltos que jogado- anos de prática extensiva para se ter sucesso em qualquer
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res executam em uma partida, apontando para valores coisa” . Gambetta , considera que o planejamento em
de 89 por set, sendo em média 39 de bloqueio, 28 de longo prazo da carreira do atleta é uma das mais im-
ataques e 12 outros. Em outro trabalho, o mesmo autor portantes tendências do treinamento desportivo contem-
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aponta para tempo de jogo e pausa, tanto no feminino porâneo. Já Platonov , procura identificar alguns prin-
como masculino, revelando valores nas mulheres de 0 a cípios da preparação em longo prazo e discute aspectos
5 segundos em 50,1 % do total e, na pausa, 43,5% entre interessantes relacionados ao número de etapas, dura-
11 a 15 segundos e 30,4% de 16 a 20 segundos. Já no ção e conteúdo de cada uma, destacando ainda que não
masculino, 71,3% das ações duram de 0 a 5 segundos é conveniente aplicar volume, intensidade, meios e mé-
enquanto que a pausa de 16 a 20 segundos ocupa 33,6% todos de treinamento do atleta de alto rendimento com
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do total e de 21 a 30 segundos, 40,4 % . iniciantes, a fim de não exaurir precocemente a reserva
de adaptação desses últimos.
Nesta linha, o que se pretende apontar para refle-
xão é que muitos treinadores com o intuito de intensifi- Nesse sentido, a organização das cargas de treina-
car os esforços dos desportistas realizam grande quan- mento ao longo de um ciclo de duração determinada
tidade de exercícios com uma duração e intensidade (por exemplo, um ano) torna-se um ponto relevante, e
acima do que o atleta pode suportar. Nota-se assim, tem sido elaborada de acordo com diferentes modelos
necessidade de produção de diferentes trabalhos no sen- propostos na literatura. O primeiro, chamado “modelo
tido de apontar para diferenciação de valores nas di- de periodização” a ser apresentado de maneira bem or-
versas categorias, pois a maioria dos estudos mostra ganizada foi o proposto por Matveiev ainda nos anos
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valores no âmbito adulto e o que se observa é a simples 60, em seguida, vários autores como Verkhoshanski ,
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transposição de tais escores para as categorias menores Bondarchuk e Tschiene , sugeriram outros modelos,
(mirim, infantil e juvenil) devendo assim adequá-los as alguns que podem ser aplicados de forma geral e outros
suas exigências. De fato, ao observar os valores de destinados a populações específicas.
8 João Paulo Borin; Jonato Prestes; Nélio Alfano Moura

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Particularmente, Tous-Fajardo afirma que o modelo disso, a avaliação periódica do estágio de desenvolvi-
de Matveiev - conhecido como tradicional por apresen- mento das diferentes capacidades biomotoras fornece
tar ao longo dos períodos de treinamento alternância informações indispensáveis para um planejamento ade-
entre volume e intensidade - continua sendo o mais in- quado.
dicado para atletas jovens, enquanto o de Verkhoshanski b) Efeito do treinamento (controle das adaptações
- modelo contemporâneo, por se caracterizar por cargas orgânicas): A meta final do treinamento desportivo é a
concentradas com determinada ênfase e mantidas por melhora do rendimento em competição. Para que isso
cerca de 5 a 10 semanas - seria adequado para atletas
possa ser obtido, são estabelecidos objetivos para diver-
em processo de especialização, por levar a adaptação
sos fatores que determinem esse resultado e então se
acentuada no momento das competições mais impor-
18 elabora programas de treinamento para desenvolvê-los.
tantes. Autores como Frankel-Kravitz , Siff e
19 20 Ao término de determinado período, há necessidade de
Verkhoshanski e Matveiev afirmam que todos os
avaliar os efeitos desse treinamento sobre o estado do
modelos de periodização devem contar com algumas
atleta, para que qualquer eventual correção possa ser
características comuns, como: i) variação sistemática do
realizada. Uma seleção adequada de testes de controle
volume e intensidade do treinamento; ii) alternância óti-
válidos, reprodutíveis e fidedignos normalmente é con-
ma entre trabalho - recuperação; iii) dinâmica
siderada suficiente para resolver essa tarefa. Geralmen-
ondulatória da carga de treinamento e, por fim, iv) ca-
te, vários dos testes utilizados para controlar o estado
ráter cíclico do processo de treinamento.
do atleta podem ser usados ao longo do tempo para con-
Tais características se manifestam de maneira espe- trolar também os efeitos do treinamento. O conhecimen-
cífica, de acordo com cada um dos períodos de treina- to dos resultados esperados de um determinado pro-
mento e embora os períodos sejam distintos, em função grama de treinamento e do fenômeno EPDT - Efeito
19,23
do modelo adotado, entende-se que cada um deles cum- Posterior Duradouro do Treinamento são fundamen-
pre objetivos diferentes, são ordenados de maneira ló- tais para a compreensão dos dados obtidos nas avalia-
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gica e exigem estratégias específicas de avaliação. ções. Por outro lado, Viru e Viru afirmam que os índi-
Considerando o treinamento desportivo um proces- ces de rendimento não revelam as adaptações que ocor-
so objetivo, sistêmico e de longo prazo, as decisões to- rem no interior do organismo do atleta, e sugerem o uso
madas em campo pelos treinadores ou preparadores fí- de controles metabólicos, particularmente daqueles que
sicos devem também se fundamentar em informações reflitam a síntese adaptativa de proteínas estruturais e
objetivas, pois cada uma delas poderá potencialmente enzimáticas, que seria a base para o desenvolvimento
afetar todo o processo. Tais informações constituem um morfofuncional da célula.
aspecto fundamental e primordial do desporto moder- c) Cargas de treinamento (volume, intensidade,
no, que é o controle, que nos permite conhecer o estado carga total e interna, comparação do programado com
atual dos atletas, fazer prognósticos de rendimento, cor- o realizado): Como se pode deduzir da abordagem aci-
rigir programas de treinamento, entre outros. ma, a seleção da carga de treinamento tem importância
21
Segundo Verkhoshanski , são três os objetos de con- fundamental em todo o processo: a partir do conheci-
trole no processo de treinamento desportivo, que atu- mento do estado atual do atleta, das características de
am de forma interdependente: sua especialidade e dos objetivos individualmente esta-
a) Estado do atleta (controle do estado atual e da belecidos, prescreve-se determinada carga. Após algum
evolução da condição): Na prática do treinamento, é tempo, determina-se o efeito de tal carga sobre o orga-
comum chegar à pista, quadra ou piscina com a progra- nismo do atleta e faz-se as alterações necessárias. Mas
mação da sessão, cuidadosamente elaborada, levando- como mensurar de maneira fidedigna a carga de treina-
se em conta os numerosos aspectos envolvidos no pro- mento? Essa questão é muito mais complexa do que pode
cesso de treinamento. No entanto, deve-se sempre estar parecer à primeira vista.
pronto para qualquer adaptação nesse programa, que Já há muito tempo se procura por meios de
seja exigida por circunstâncias não previstas. Um dos quantificação da carga de treinamento. Pode-se qualificá-
fatores que mais nos obrigam a modificar o plano de la por diferentes fatores: volume, intensidade, freqüên-
treinamento é o estado do atleta. Treinadores, intuitiva- cia, densidade e dificuldade, entre outros. Normalmen-
mente, têm se dado conta dessa necessidade, e aqueles te, quantifica-se sem grandes problemas algumas gran-
que conversam com os atletas no início da sessão na dezas externas, mas são poucos os instrumentos fide-
verdade buscam pistas que lhes mostrem quais são as dignos para estimativa do impacto que essas cargas efe-
adaptações necessárias para aquele dia. Algumas ferra- tivamente têm sobre o organismo dos atletas (cargas
mentas (escalas de sensação subjetiva de bem estar, tes- internas). Uma das tentativas de resolver esse proble-
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tes de salto vertical, freqüência cardíaca em repouso) ma foi apresentada por Foster e envolve o uso da esca-
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podem ser usadas para tornar esse procedimento mais la de percepção subjetiva do esforço CR-10 , aliada ao
objetivo. Medidas bioquímicas, voltadas à avaliação das tempo da sessão de treinamento. Com essas informa-
sessões de treinamento e dos microciclos, podem dar ções, o autor procura estimar a carga interna de cada
informações sobre o estado de fadiga do atleta, permi- dia e da semana (em unidades arbitrárias, representan-
tindo correções pontuais nas cargas de treinamento, e do o produto da duração da sessão pela graduação da
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consequentemente a prevenção do overtraining . Além dificuldade segundo a escala), a monotonia (média das
Caracterização, Controle e Avaliação: Limitações e Possibilidades no Âmbito do Treinamento Desportivo 9

cargas dividida pelo desvio-padrão) e a demanda dessa Em outra direção, aspecto não menos importante a
carga sobre o organismo do atleta (produto da carga ser discutido aponta para avaliação dos diferentes indi-
semanal pela monotonia). Cada um desses aspectos au- cadores de aptidão física em diferentes modalidades,
xilia na explicação de episódios de doenças infecciosas situando-se como fundamental para performance hu-
em patinadores, que podem estar associados a uma que- mana e atlética, tanto para a capacidade funcional como
da na atividade do sistema imunológico provocada por para apropriada prescrição dos exercícios.
uma carga interna acima dos valores desejáveis. Consi- Ao analisar os fatores constituintes da performance
derando que a demanda da carga, chamada de strain, física, como, capacidade de liberação energética de um
parece ser o melhor preditor de overtraining, o autor su- indivíduo (processos aeróbios e anaeróbios), função
gere que uma mesma carga total semanal, quando me- neuromuscular (força muscular, coordenação e técnica),
lhor distribuída, resulta em um strain diminuído, e mobilidade articular e fatores psicológicos (motivação
consequentemente, em um menor risco de experimen- e tática), nota-se que nos diferentes aspectos, um item
tar essa situação indesejável. predomina, dependendo da natureza da performance
31
Outros estudos validaram o uso do método de Foster .
para estimativa da carga interna de treinamento em di- Nesse sentido, verifica-se que ao observar produ-
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ferentes modalidades, como ciclismo e basquetebol e ção científica na área do treinamento desportivo pode-
27 28
futebol . Snyder et al. também usaram a escala de Borg se perceber nos diferentes periódicos nacionais e inter-
na tentativa de identificar o over-reaching durante o trei- nacionais, de uma maneira geral, ausência do
namento intensivo, desta vez associado com medidas detalhamento de todo o treinamento aplicado, referen-
de concentração de lactato sangüíneo, abordagem simi- tes às intervenções físicas, técnicas, táticas e psicológi-
29
lar à utilizada por Lagally et al. , que demonstraram cas, tendo em vista que, para analisar os resultados dos
que o uso tradicional da escala, sem a correção pela processos sob avaliação torna-se necessário a inclusão
duração da sessão, tem se mostrado uma alternativa de todos estes fatores. Na ótica da evolução dos proces-
válida para a monitoração do treinamento. sos de prescrição de fases especiais e cargas concentra-
22
Viru e Viru propuseram uso do controle bioquímico das, seria importante elucidar todos os procedimentos
do treinamento, ressaltando, porém que deve ser feita à utilizados e suas relações, pois a partir de resultados
busca pelo menor número possível de medidas, que re- obtidos poderiam ser discutidas as possíveis influênci-
sultem na produção da maior quantidade de informação as do treinamento específico da modalidade avaliada.
válida. As mensurações devem ser específicas para as As respostas para diferentes problemáticas obser-
necessidades e características de cada atleta. Apontam vadas no interior do treinamento desportivo caminham
ainda que, a análise da excreção de 3-metilhistidina e da na direção da sistematização das informações de forma
dinâmica da concentração de uréia sangüínea pós-exer- integral e alguns fatores influenciadores na performance
cício seriam instrumentos importantes para tal controle. desportiva tem sido investigados, porém de forma iso-
O exercício físico e principalmente o treinamento promo- lada como: capacidades biomotoras de condicionamen-
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vem alterações na competência do sistema imunológico to e de coordenação (resistência, força, velocidade, mo-
e os conhecidos efeitos sugerem que sua monitoração bilidade e destreza); qualidades pessoais (capacidades
pode se apresentar como um indicador importante de intelectuais, qualidades morais e físicas); habilidades
carga interna e equilíbrio imunológico dos atletas. técnico-táticas; fatores constitucionais e higiênicos (de
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O controle do volume do treinamento tem sido o saúde), entre outros .
parâmetro objetivo mais freqüentemente considerado no 15
Cabe aqui destacar que, Verkhoshanski afirma que
crescimento da dinâmica das cargas, devido às dificul- a ausência ou carência de conhecimentos científicos e a
dades metodológicas para controlar os outros fatores. tradicional atuação dos treinadores baseada apenas na
São muito comuns as publicações que nos mostram vo- intuição pessoal não pode, em muitas circunstâncias,
lumes anuais ou por período de cada um dos grandes resolver com eficácia os complexos problemas do trei-
grupos de exercícios utilizados nas diferentes modali- namento. Além disso, salienta que as elevadas cargas
dades. As recomendações quanto ao crescimento ano a do treinamento atual podem colocar em risco a saúde
ano, embora variem de autor para autor, também não do atleta. Na elaboração de programas de preparação
são difíceis de encontrar. Tais medidas de cargas exter- física em qualquer modalidade esportiva, torna-se ne-
nas, no entanto, não se correlacionam de maneira cessário o estabelecimento de alguns componentes que
satisfatória com as cargas internas. O uso das escalas são aplicáveis ao desenvolvimento do exercício a serem
de percepção subjetiva do esforço se apresentam como 33
realizados .
alternativa para minimizar esse problema, embora apre-
sentem também suas limitações. A utilização em massa
AVALIAÇÃO DOS DIFERENTES
de medidas simples como as apresentadas acima, em
INDICADORES DE APTIDÃO FÍSICA
conjunto com a coleta de dados bioquímicos que reve-
lem as atividades e adaptações enzimáticas, hormonais, Desta maneira, vários parâmetros fisiológicos po-
imunológicas e energéticas, podem tornar o processo de dem ser utilizados para determinação do índice de es-
treinamento mais adequado, seus resultados mais forço realizado; geralmente tem-se utilizado a ventila-
reprodutíveis e eficientes. ção pulmonar, unidade metabólica (METs), consumo de
10 João Paulo Borin; Jonato Prestes; Nélio Alfano Moura

oxigênio (VO2máx.), depleção de substratos, freqüên- processo de treinamento (exercícios de preparação físi-
cia cardíaca, índice de esforço percebido e limiar ca geral e especial, técnica e tática etc.); relações entre os
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anaeróbio, entre outros . Em adição aos mesmos, é evi- parâmetros da carga do treinamento (características
dente a importância do controle da dinâmica da altera- quantitativas e qualitativas do treinamento e competi-
ção de diferentes capacidades biomotoras através de ção); sucessão das diferentes ligações do processo (ses-
testes específicos para cada uma delas como: Força (for- sões isoladas e suas partes, micro-etapas, etapas, macro
ça de salto vertical, força de lançamento e potência); ciclos), cuja estruturação possibilita o desenvolvimento
velocidade (velocidade de deslocamento máximo e la- de momento ótimo de forma desportiva, observada uma
23
teral); resistência (membros superiores e inferiores) e, perspectiva temporal .
finalmente, testes de habilidade técnica (arremesso, passe Contudo, parece razoável que o entendimento glo-
e recepção) e psicológica. bal do processo de avaliação da aquisição desportiva
A velocidade de execução do exercício específico de depende de todos os fatores apresentados acima e, por-
competição é o principal, critério para avaliação da efi- tanto, o esclarecimento e o registro destes dentro de to-
ciência do processo de treinamento .
35
das as etapas anuais é fundamental para avaliar as reais
causas e os melhores resultados obtidos através de tes-
Quanto à análise da técnica desportiva nota-se a
tes e observações.
busca em determinar um modelo ou sistema que per-
mita estabelecer questões básicas como distância exis- Parece assim, que a compreensão dos três aspectos
tente entre a execução do desportista (modelo indivi- aqui apresentados: conhecimento do modelo de jogo,
dual) e as características do modelo ideal ou ótimo; evo- controle da carga de treinamento e avaliação em con-
lução de cada um padrões de eficácia no modelo indivi- junto das diferentes variáveis do treinamento situam-se
36
dual . como itens essenciais a serem considerados por aqueles
que atuam na prática no âmbito do treinamento
Quanto à análise qualitativa da técnica, nota-se que desportivo.
a metodologia observacional é a mais utilizada, cuja
experiência prática do treinador baseia-se em critérios
subjetivos como observar a execução e identificar possí-
veis erros; estabelecer uma ordem de prioridades nos
erros e, por fim, ministrar instruções ao executante.
Neste processo torna-se interessante estabelecer mode- REFERÊNCIAS
los de análise baseados na relação causa-efeito, ou seja,
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Ciências Esp 1999; 2-3: 119- 125.
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análise biomecânica tem contribuído de forma positiva
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Caracterização, Controle e Avaliação: Limitações e Possibilidades no Âmbito do Treinamento Desportivo 11

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