Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DESPORTIVOS
COLETIVOS:
investigação e prática pedagógica
~~~.rli~~~.ll\..~~~*-',lÂ
1------'-1---' ---'-,---------
i
VALMOR RAMOS
MICHEL ANGILLO SAAD
MICHEL MILlSTETD
Organizadores
A Coleção Temas em Movimento é uma publicação da Editora da UDESC,
composta por um conselho editorial interinstitucional, que objetiva divulgar
as pesquisas realizadas sob diferentes perspectivas na área de Educação Física
e Esportes, para aprofundar aspectos conceituais e metodológicos da profis-
são, bem como contribuir para a aproximação entre a comunidade científica e
à prática pedagógica em diferentes contextos de intervenção.
Conselho Editorial
Adriana Coutinho Azevedo Guimarães - UDESC
Christi Noriko Sonoo - UEM
Flávio Medeiros Pereira - UFPEL
Joice Mara Facco Stefanello - UFPR
Luiz Sérgio Peres - UNIOSTE
Marcos Augusto Rocha - UEL
Viktor Shigunov - UFSC
Zenite Machado - UDESC
ISBN: 978-85-8302-008-0
Inclui Bibliografia
Introdução
107
o processo de desenvolvimento e formação
de jovens futebolistas, na perspectiva de rendi-
mento, implica que as instituições de fomento
da prática esportiva (clubes, escolas, projetos
sociais, iniciativas privadas e estatais) façam in-
vestimentos, principalmente na construção de
infraestruturas e na contratação de profissio-
nais visando propiciar as condições necessárias
para que os jovens jogadores aperfeiçoem as
suas capacidades e, concomitantemente, sejam
~ capazes de integrar as equipes profissionais.
Na prática, todo esse esforço empreendedor
é orientado pelas expectativas e projeções
JOGOS DESPORTlVOS COlETIVOS: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA NO fUTEBOL
CELANI, 2001). Dentre as exigências, a percepção e a in- 997;2006; GRECO, 1998b). Assim, o desempenho motor
terpretação da informação essencial do contexto de jogo, e os recursos técnicos utilizados pelo jogador, durante uma
juntamente com a resposta apropriada às suas exigências, partida, são condicionados pela simultaneidade das ações
constituem-se, de acordo com a literatura, no aspecto cha- individuais e coletivas realizadas em congruência com as
ve do desempenho em esportes coletivos, como o Futebol ações dos adversários. Pelo fato de reunirem muitos fatores
(BAKER; CÔTÉ; ABERNETHY, 2003; GARGANTA, 2006; interdependentes, são reduzidas as chances de se executar
GRÉHAIGNE; GODBOUT; BOUTHIER, 1997; MCPHER- ações de sucesso que levam ao gol, o que implica, na maioria
SON, 1994). Baseados nestes motivos, e pela vantagem das vezes, uma supremacia da defesa sobre à ataque.
de facilitar a tomada de decisão e a organização coletiva Para Júlio e Araújo (2005), essa supremacia pode ser
da equipe, os autores supracitados têm sugerido que as es- explicada pelo fato da organização defensiva se beneficiar
truturas dos treinos devem se basear em aspectos táticos dos erros e das ações defasadas do objetivo dos adversá-
e em princípios de jogo.
rios e também pela defesa conseguir, em alguns momen-
tos, ser mais eficaz em suas ações coletivas e táticas. Para
eles, seria também mais fácil atingir os objetivos se as
Futebol: um jogo de essencialidade tática equipes fossem encorajadas a serem menos previsíveis e
110 mais inventivas na procura da criaçãode maiores dificul-
Cientificamente, a expressão popular "caixinha de 111
dades à defesa adversária.
surpresa", utilizada pelos torcedores para mencionar a im-
Por esses motivos, não é raro assistir um jogo e per-
previsibilidade do jogo de Futebol, pode ser explicad., pelo
ceber que a equipe que se sobressaiu técnica e taticamente
fato do Futebol se desenvolver em um contexto de relações
durante o mesmo foi derrotada ou a equipe que passou
abertas, nos quais a ação de um jogador' é consequência da
maior parte do tempo com a posse de bola marcou menos
interação das suas capacidades táticas, técnicas, físicas e
gols. Por vezes é possível observar uma equipe atingir a
psicológicas, que coordenadas juntamente com todas as
vitória no jogo com menos posse de bola e com um único
ações de outros jogadores (adversários e companheiros),
chute a gol, simplesmente porque aproveitou o momen-
possibilitará recuperar, conservar e mover a bola para
to de desequilíbrio ou de perturbação na organização da
atingir o objetivo do jogo.
equipe adversária.
êxito dessa ação dependerá, em grande escala, da Diante de um contexto de evolução permanente,
precisão com que os diferéntes intervenientes se relacio-
o Futebol atual requer um ritmo mais acelerado e exige
nam com as distintas intenções e atuações dos participan-
dos jogadores um empenho permanente para se tomar
tes, das situações características de confronto competitivo,
as decisões, pelo fato das crescentes exigências implica-
do nível de conhecimento e de experiências similares vivi-
rem maior velocidade de processamento da informação
das até o momento (BUSCÀ; RIERA, 1999; GARGANTA,
e de execução (GARGANTA, 1999; RAMOS, 2006). Estas
JOGOS DESPORTlVOS COLETIVOS: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA INVESTlGAÇAO E PRÁTICA PEDAGÓGICA NO FUTEBOL
defensiva) e as transições de jogo (ataque-defesa e defesa- Princípios Táticos do Jogo de Futebol
-ataque). Principios Gerais Tentar criarsuperiorídade numêrica Evitar a igualdade numenca Não permitir a inlenoridade numérica
Os princípios táticos possuem certo grau de Fases Ataque (com~possedebola) Defesa(sempossede bola) -I
Conservara bola Jmpediia progressãodo ecversénc
Principios consms- ações creosrves Recuzu () espaço de jOgo eovesãnc
generalização das movimentações e relacionam-se com as õperactonats Progredir pelo can'lp(! de Jogo advefSátio Proteçer a baliza
Criar situações de finalizllção Anular as ssuações de fina/ilação
ações dos jogadores, com os mecanismos motores e com :;~::~obahZa adversâna : I. i-,~~."'~n!~;n=~,,:::2.'.:::bo~"c......-------:,----I
. Desestebfizer a organização defensiva advefsána,: -Dsninuir o espaço de ação ofensiva do portador dl..bola,
a consciência e o conhecimento tático (CASTELO, 1994). - Atacar dlfetarrw:nte () eoversénc ou a reaza;
-críer snueçôes \lllntajosas para o ataque em
-Oneraer a croeressêo do pottador da bola
_Parar ou atrasar o ataque ou contra-ataque ecverséoc:
e:
Para Garganta e Pinto (1994), os princípios táticos podem
termos nurnericos espiICiais
éob&rtur3 Ofensiv.;·' . _~~_e__~,_ ~-_. :
.,: _Propciar rneor tempo para organização delensrva;
Restnnglf as possibilidades de passe a outro Jogador
-Der apoio ao portador da bola oferecendo-lhe : adversàrjo,
'" o~ões para a SêQuencia do jOgO', : _ Evitar o drfb!e que favoreça prGgress30 pelo campo de}09o em
ser definidos como uni conjunto de normas sobre o jogo ~ ;!:~IOtJ:r a pressão edverséna sobre o portador da: direção ao gol
da situação de jogo que defrontam. Por possuírem esse 'g eove-sana, : O portador da bola. !
rante uma partida, para que sua aplicação facilite a concre- equipe,
·Expandir as dislânciaslpoSJClonamenlos entre os
:
: ro
.Rf!Cuperar ou afastar a bola da zona onde ela se encontra.
Concenlraç1io
joceocres ecversênos. i Õ' -Aumentar a proteção ao gol,
tização de objetivos que conduzam à marcação de um gol .Drtcunar as ações de marcação
ecversana,
da eqcme :
:
c _Condicionar o jogo ofensivo adversário pata zonas de menor
nsco do campo de jogo
114
ou ao seu impedimento
Para facilitar a transmissão
(TEOLDO et al., 2009a).
dos princípios por parte
·FacMar as ações olensivas da eoupe
~~::hn;~=·a ;a~:~~
dar secuérca ao JOgo;
:Procurar opç~
=:~P:::;:,
~e
mais. seguras,. através
1
do ~
para ~
i»
ffi !
.ProplClar aumento de pressão no centro de iogo,
E !~;~~:; ~::~:elenderemunidadeouem«cec
·Garantir estaoãõaoe espacial e stocrcnta dinâmica erre as
6!
linhas longitudinai~ e transversas da equipe em ações ofensivas.
115
referir e caracterizar os princípios táticos (CASTELO, 1994; L, •. , !-Pfopicrar que mais jogadores se pcsccnem no centro do jogo
JOGOS DESPORTlVOS COLETIVOS: INVESTIGAÇÃO E PRATICA PEDAGÓGICA INVESTIGAÇÃO E PRATICA PEDAGÓGICA NO FUTEBOL
de princípios - operacionais, fundamentais, e específicos A quarta categoria de princípios refere-se aos prin-
(TEOLDO et al., 2009A). Assim, as regras de ação destes cípios específicos. Estes princípios, como o próprio nome
princípios são pautadas em três conceitos advindos das diz, advêm de uma forma específica de se jogar e conceber
relações espaciais e numéricas entre os jogadores da equi- o jogo, estando diretamente relacionados com as ideias de
pe e os adversários nas zonas de disputa pela bola; sendo jogo do treinador/professor e com o modelo de jogo ado-
eles: i) não permitir a inferioridade numérica, ii) evitar a tado por uma equipe. Assim, não há contornos definitlvos
igualdade numérica e iii) procurar criar a superioridade que permitem organizá-Ios e classificá-los como os demais
numérica (GARGANTA; PINTO, 1994; QUElROZ, 1983). princípios presentes nas primeiras três categorias (gerais,
Os princípios operacionais"se relacionam a conceitos operacionais, fundamentais). Os princípios táticos espe-
e atitudes pré-definidas e comuns para as duas fases do cíficos terão sua gênese no conhecimento e entendimen-
jogo, sendo na defesa: i) anular as situações de finaliza- to de jogo dos intervenientes de uma equipe (jogadores,
ção, ii) recuperar a bola, iii) impedir a progressão do ad- treinadores, dirigentes, entre outros), e sua construção
versário, iv) proteger a baliza e v) reduzir o espaço de jogo se dará, em primeiro momento, em uma forma mais ele-
adversário; e no ataque: i) conservar a bola, ii) construir mentar, mas que, posteriormente, ficará enriquecida pe-
ações ofensivas, iii) progredir pelo campo de jogo adversá- las qualidades individuais de todos os envolvidos na sua
rio, iv) criar situações de finalização e v) finalizar a baliza aplicação em jogo e em treino.
116 117
adversária. Esta categoria também apresentará os princípios as-
Já os princípios fundamentais representam um con- sociados à subprincípios e sub-subprincípios, de forma a
junto de regras básicas que orientam espacialmente as facilitar a orientação e compreensão por parte dos jogado-
ações dos jogadores e da equipe nas duas fases do jogo (de- res. Por exemplo, se em uma equipe o treinador adota para
fesa e ataque). Eles objetivam desequilibrar a organização a fase defensiva o princípio de marcação pressão por zona,
da equipe adversária, promover a organização da própria com o objetivo de condicionar, direcionar e pressionar a
equipe e permitir que os jogadores intervenham de ma equipe adversária para facilitar a recuperação da posse de
neira apropriada nos espaços mais críticos do campo, que bola através do erro adversário e/ou potencialização das
dizem respeito ao local onde estão a bola e o centro de jogo qualidades defensivas da sua equipe. Para este princípio, o
(CASTELO, 1994; GARGANTA; PINTO, 1994; HAINAU'I'; treinador poderá ter como subprincípio fazer a marcação
BENOIT, 1979; QUEIROZ, 1983; WORTHINGTON, 1974), pressão por zona, através da organização posicional dos
Os princípios fundamentais são: i) contenção, ii) cobertu Jogadores ou pelo direcionamento do adversário ou pres-
ra defensiva, iii) equilíbrio, iv) concentração e v) unidade ionando diretamente o adversário. Nestes três subprincí-
defensiva, para a fase defensiva; e: i) penetração, ii) mohl pios mencionados, o treinador poderá estabelecer alguns
lidade, iii) cobertura ofensiva iv) espaço e v) unidade ofen ub-subprincípios, de forma a facilitar a compreensão e
siva, para a fase ofensiva. vimentação por parte dos jogadores. Por exemplo, para
JOGOS DESPORTIVOS COLETIVOS: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA NO FUTEBOL
o subprincípio "organização posicional dos jogadores", o através da disseminação e compreensão dos seus con-
treinador poderá ter os seguintes sub subprincípios: fe- ceitos, os alunos sejam capazes de aprender o jogo e de-
chamento de Espaços tanto em largura quanto em pro- senvolvê-lo em contexto formal e informal (GALLAHUE;
fundidade e ocupação de espaços dentro e fora do centro OZMUN, 1998; PIAGET, 1964).
de jogo. Já para o subprincípio "pressionando diretamen- Na sequência, os princípios fundamentais do jogo
te o adversário", o treinador poderá ter os seguintes sub devem ser introduzidos no processo de ensino do j~go
subprincípios: pressão em função dos momentos/situações de Futebol. Como estes princípios requerem pensamento
(bola nos corredores laterais, passes errados, más recep- abstrato e testagem de hipóteses para o preenchimento de
ções, passes em trajetórias aér~as, entre outros) ou por espaço e movimentação em campo, os mesmos devem ser
organização coletiva, intersetorial, setorial, grupal ou in- ensinados por volta dos 12/13 anos, quando o estágio de
dividual. desenvolvimento cognitivo da criança já estará maduro ou
Uma vez conhecidas estas quatro categorias de prin- em fase final de maturação (GALLAHUE; OZMUN, 1998;
cípios, o professor deve, então, organizar os seus conteú- PIAGET,1964).
dos para o processo de ensino nas diferentes fases de for- O ensino das regras de ação destas três categorias de
mação dos jovens jogadores. Assim, recomenda-se que os princípios permitirá aos jovens jogadores uma base sólida
princípios gerais sejam ensinados a partir dos 6/7 anos de de conhecimento sobre a lógica do jogo e sobre a movi-
118 119
idade, quando as crianças em seus processos maturacional
mentação e preenchimento dos espaços de jogo. A partir
e de desenvolvimento motor, cognitivo e social, deixam a
da compreensão destes aspectos, os jogadores estarão
fase egocêntrica e passam para a uma fase de maior so-
mais aptos a aprender e a incorporar o modelo de jogo de
ciabilidade (GALLAHUE; OZMUN, 1998; PIAGET, 1993).
equipes específicas, ou seja, estarão melhor preparados
Como estes princípios têm por base conceitos que neces-
para iniciar o processo de aprendizagem dos princípios tá-
sitam da presença de outras crianças (colegas/ companhei-
ticos específicos.
ros de equipe e adversários) para sua operacionalização e
Este momento do processo de ensino dos princípios
compreensão, seria improdutivo tentar ensinar-lhes du-
táticos específicos coincidirá com a fase de direção preco- .
rante a fase egocêntrica (da criança).
nizada pela literatura para a formação esportiva de um jo-
Aliados aos princípios gerais, os princípios operacio-
gador (GRECO; BENDA, 1998) e também com a estrutura
nais também devem ser ensinados nos primeiros anos de
esportiva disponível nos clubes de futebol que prevê, a
experimentação esportiva da fase de maior socialização
partir da categoria sub-14, uma melhor estrutura de for-
da criança; isto porque as regras de ação presentes nes-
mação (comissões técnicas específicas para cada categoria,
tas duas categorias de princípios são responsáveis por fa-
cilitar a compreensão da lógica do jogo. Por se tratar de
alojamento nos clubes, staff médico e social) para os jo-
JOGOS DESPORTlVOS COLETIVOS: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA NO FUTEBOL
i-·" """T
Avaliação do comportamento tático no futebol aceder, com maior especificidade e objetividade, às infor-
mações que refletem comportamentos táticos desempe-
A concepção de um instrumento de avaliação do nhados pelos jogadores em situações de jogo (TEOLDO
comportamento tático se fazia necessária para o Futebol, et al., 2011). A sua estrutura conceptual está alicerçada
uma vez que os métodos e instrumentos disponíveis na nos princípios táticos fundamentais do jogo de Futebol
literatura que permitiam descrever aspectos táticos do (TEOLDO et al., 2009b; WORTHINGTON, 1974). Estes
jogo estavam centrados em quatro pontos principais: i) princípios foram eleitos por representarem os aspectos
na descrição e quantificação de eventos de jogos (REILLY; centrais do processo de ensino e treino das capacidades
THOMAS, 1976); ii) na descrição e avaliação de com- táticas. Além disso, esse conjunto de princípios possui
portamentos específicos do jogador (MEMMERT, 2002; medidas objetivas da movimentação dos jogadores conso-
SUZUKI;NISHIJIMA, 2004); iii) na quantificação e des- ante à gestão do espaço de jogo por eles realizada. Além
crição da interação dos jogadores ou dos sistemas de jogo disto, a presença destes princípios na estrutura central
(FRENCKEN;LEMMINK,2009; SHESTAKOVet al., 2007; do FUT-SATajuda a compreender a organização tática do
TENGAet al., 2009); e iv) na junção de indicadores multi- jogo, uma vez que a dinâmica das suas interações e aplica-
fatoriais do jogo para a construção de índices de desempe- ções operacionaliza e caracteriza tanto o modelo quanto o
nho (GRÉHAIGNE;MAHUT;FERNANDEZ,2001; OSLIN; nível de jogo das equipes.
120 Assim, o FUT-SAT é um instrumento que permite 121
MITCHELL;GRIF;FIN,1998).
Contudo, apesar dos diversos focos de análise dos as- a avaliação dos comportamentos e desempenhos táticos
pectos táticos e também do desempenho desportivo, uma dos jogadores de futebol em situações de jogo. Permite,
corrente de pesquisadores tem afirmado que os instru- ainda, a avaliação da qualidade dos comportamentos rea-
lizados, o local de realização das ações no campo de jogo e
mentos disponíveis na literatura possuem limitações no
seus respectivos resultados para a equipe.
que se refere à descrição e quantificação dos indicadores
O teste de campo utilizado neste sistema pode ser
táticos que expressam o desempenho no Futebol (OLSEN;
aplicado em quaisquer situações de configuração, partindo
LARSEN,1997). Além disso, Gréhaigne e Godbout (1998)
sempre da configuração mínima de GR+3 VS. 3+GR (golei-
salientam a necessidade de desenvolvimento de instru-
ro + 3 jogadores VS. 3 jogadores + goleiro) até a máxima de
mentos que permitam estabelecer uma conexão entre os
GR+11 VS. 11+GR (goleiro + 11 jogadores VS. 11 jogadores
conteúdos ministrados no processo de ensino e treino e os
+ goleiro). Na maioria das vezes, este teste é aplicado com
comportamentos desempenhados pelos jogadores no jogo
sua configuração mínima GR+3 VS. 3+GR e em um espaço
de Futebol.
reduzido de 36 metros de comprimento por 27 metros de
Neste cenário, o Sistema de Avaliação Tática no Fu-
largura, com duração de 4 minutos. Durante a sua aplica-
tebol (FUT-SAT)foi concebido com o intuito de propiciar
ção, solicita-se aos jogadores que joguem de acordo com as
aos treinadores, professores e investigadores um meio de
regras oficiais do jogo de Futebol.
T
Observação
Localização da Ação
no Campo de Jogo
r Resultado da Açi!o
paço", ou seja, eles têm de preencher espaços e jogar em Dctênsivos lVlelô Campo Defensivo Defensiva
-Ccntençãc "Ações Táticas Ofensivas 'Recuperara posse de bola
'Cobertura Defensiva
diversos locais do campo, não tendo a possibilidade de -Equiltbric
-Ações Téticas Defenaivas 'Sofrer falta, ganhar lateral
ou escanteio
-Ocncentrae -cometer falta, ceder lateral
desempenhar uma função específica nas fases defensiva e -Umdade D ou escanteio
-Continuar- sem a posse de bct ..
-Scfrer- flnalização ao gol
ofensiva e nas transições.
Em relação ao tempo de jogo, o mesmo foi estabele-
I Macro-Categoria
I
Produto
1
cido através de um estudo piloto, no qual se verificou que
quatro minutos, comparativamente
periores, seriam suficientes para que todos os jogadores
realizassem as ações relacionadas com todos os princípios
a outros tempos su-
-,
lndrce de
Pefbrmance Tática
(1FT)
Ofensivos
-Penetreção
Aç""sTáUcas
I
Fas:edo Jogo
"Fase Ofensiva
-Oceertnra Defensiva "Fase Defensiva
"Jogo
Localização da
Açd'o Relativa aos
PnncloJQs(LARP}
"Espaço -Equütbric
táticos em avaliação (TEOLDO et al., 2011; TEOLDO et -Mob ilidade "Concentração-
nidade Ofensiva -trnidade Defensiva
al., 2009b). Já sobre as dimensões do campo de jogo, as
mesmas foram calculadas com base nas medidas oficiais Figura 2: Organização estrutural das variáveis do Sistema de Avalia-
do campo de Futebol estabelecidas pela International ção Tática no Futebol.
JOGOS DESPORTlVOS COLETIVOS: INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÚGICA INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÚGICA NO fUTEBOL
Esta organização das estruturas em categorias e va-
Referências
riáveis apresenta uma vantagem no que diz respeito à
flexibilidade do sistema, uma vez que a utilização destas BAKER, J.; CÔTÉ, J.; ABERNETHY, B. Sport-Specific practice
ocorre sempre consoante aos objetivos do treinador ou and the development of expert decision-making in team ball
sports. Journal of Applied SpO'rtPsychology, Abingdon,
pesquisador. ~
Assim, no que refere as necessidades que surgem so- v.15, n.L, p.12-25, novo 2003.
bre a avaliação dos comportamentos dos jogadores de Fu- BUSCÀ, B.; RIERA, J. Orientación deportiva hacia actividades
tebol ao decorrer do tempo (treino e jogos) para se obter tácticas. Revista de Psicologia deI Deporte, Barcelona, v. 8,
informações objetivas sobre o.aprendizado tático durante n.2, p.271-276, mar. 1999.
este período, o Sistema de Avaliação Tática no Futebol -
FUT-SAT contempla, em grande parte, estas necessida- CASTELO, J. Futebol modelo técnico-táctico do jogo:
des. O FUT-SAT apresenta-se como um teste ecológico identificação e caracterização das grandes tendências evoluti-
e de fácil utilização, que pode ser utilizado conforme as vas das equipas de rendimento superior. Lisboa: Faculdade de
necessidades de avaliação de cada equipe/treinador/pro- Motricidade Humana. 1994.
fessor. Em outras palavras, o FUT-SAT é uma ferramenta CÔTÉ, J.; BAKER, J.; ABERNETHY, B. From play to practice:
de avaliação dos comportamentos táticos individuais e/ A developmental framework for the acquisition of expertise in 125
ou coletivos, que.serve como instrumento de acompanha- team sports. In: STARKES, J.; ERICSSON, A. Expert Perfor-
124
mento do desenvolvimento tático dos jogadores e equipes mance in Sports: Advances in Research on Sport Expertise.
ao longo do tempo. Ele permite conhecer a eficiência e a Champaign, IL: Human Kinetics Publishers, 2003, p.89-113.
eficácia do comportamento tático aprendido e desempe-
nhado pelos jogadores em um determinado período de FRENCKEN, W; LEMMINK, K. Team Kinematics of small-sided
tempo de treinamento, de forma ajustada ao modelo de soccer games. In: REILLY, T.; KORKUSUZ, F. Science and
Football VI - Proceedings on the Sixth World Congress of Sei-
jogo adotado pela equipe.
Neste contexto, é importante ressaltar que o conhe- ence and Football. London: Routledge, 2009, p.167-172.
cimento do treinador/professor é fundamental para a GALLAHUE, D.; OZMUN, J. Understanding motor develop-
aplicação, de forma adequada, dos resultados advindos do ment: infants, children, adolescents, adults. Boston: McGraw-
FUT-SAT no dia-a-dia dos treinamentos. Esta importân- -Hill, 1998.
cia advém da base teórica que permite que o treinador/
professor entenda os dados e aplique adequadamente os GARGANTA, J. Modelação táctica do jogo de futebol - es-
princípios táticos avaliados por este sistema nas sessões tudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendi-
de treino, permitindo, assim, que o jovem jogador possa mento. 1997. 312 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciências
absorver um conteúdo importante para a compreensão de do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto:
Porto, 1997.
jogo e, consequentemente, para o desempenho esportivo.
GARGANTA, J.; GRÉHAIGNE, J. Abordagem sistêmica do jogo HAINAUT, K.; BENOIT, J. Enseignement des pratiques phy-
de futebol: moda ou necessidade? Movimento, Porto Alegre, siques spécifiques: le footbaU moderne - tactique-technique-
v.5, n.10, p.40-50, jan. 1999. lois du jeu. Bruxelas: Presses Universitaires de Bruxelles. 1979.
°
GARGANTA, J.; PINTO, J. ensino do futeboL In: GRAÇA, A.; HOLT, N.; STREAN, w.; BENGOECHEA, E.. Expanding the
teaching games for understanding model: new avenues for fu-
OLIVEIRA, J. O ensino dos jogos desportivos. Porto: Centro
de Estudos dos Jogos Desportivos, 1994, p.97-137. ture research and practice. Journal of Teaching in Physical
Education, Illinois, v.21, n.2, p.162-176, jan. 2002.
GRECO, P. Revisão da metodologia aplicada ao ensino-
-aprendizagem dos jogos esportivos coletivos. Belo Hori- JÚLIO, L.; ARAÚJO, D.. Abordagem dinâmica da acção táctica 127
126
zonte: UFMG, v.2. 1998a. 39-56 p. no jogo de futebol. In: ARAÚJO, D. O contexto da decisão:
A acção táctica no desporto. Lisboa: Visão e Contextos. 2005.
___ o Iniciação Esportiva Universal 1: Da aprendiza- p.179-189.
gem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1998b. 230 p. LAURIN, R.; NICOLAS, M.; LACASSAGNE, M. F. Effects of a
personal goal management program on school and football
GRECO, P. et al. Análise dos nível de conhecimento táctico em self-determination motivation and satisfaction of newcomers
futsal, handebol e voleibol dos III Jogos da Juventude. In: Pu- within a football training centre. European Sport Manage-
blicações Indesp. Brasília: Athenas, 1998, p.82-102. ment Quarterly, Abington, v.8, n.L, p.83-99, jun. 2008.
GRECO, P.; BpNDA, R.lniciação Esportiva Universal 2: Me- LÃZARO, J.; OLIVEIRA, M. Caracterização dos comportamen-
todologia da iniciação esportiva na escola e no clube. Belo Hori- tos pré-competitivos dos jogadores de futebol da 1 a Liga Portu-
zonte: Editora UFMG, 1998. 306p. guesa. Treino Desportivo, n.18, p.28-32. 2002.
GRÉHAIGNE, J.; GODBOUT, P. Formative Assessment in Team LEE, M.; WARD, P. Generalization of tactics in tag rugby from
Sports in a Tactical Approach Contexto Journal of Physical practice to games in middle school physical education. Physi-
Education, Recreation and Dance, Abingdon, v. 69, n. 1, cal Education & Sport Pedagogy, Abíngton, v.14, n.2, p.189-
p.46-51, jan. 1998. 207, abro 2009.
MCPHERSON, S. 'lhe Development of sport expertise: Map- RELVAS, H. et al. Youth development in elite European foot-
ping the tactical Domain. Quest, Champaing, v. 46, n. 2, ball: structure, philosophy, and working practices. In: DRUST,
B.; REILLY,T.; Williams, M. International Research in Sci-
p. 223-240, maio. 1994.
ence and Soccer: Proceedings of the First World Conference
MEMMERT, D. Diagnostik Taktischer Leistungskompo- on Science and Soccer. London: Routledge, 2010, p.29-35. 129
128 nenten: Spieltestsituationen und Konzeptorientierte Ex-
SHESTAKOV,M. et alo A Formal Description of a Spatial Situa-
pertenratings. 2002. Dissertação (Doutorado). Universidade
tion in Soccer. Research Yearbook, Warszawa, v.13, n.1,
de Heidelberg. Universidade de Heidelberg, Heidelberg, 2002.
p. 51-55, jul. 2007.
METZLER, M. Instructional models for Physical Educa-
SILVA, F.; FERNANDES, 1.; CELANI, F. Desporto de crianças e
tion. Boston: Allyn and Bacon. 2000. 494p. jovens - um estudo sobre idade de iniciação. Revista Portu-
OLSEN, E.; LARSEN, O. Use of match analysis by coaches. In: guesa de Ciencias do Desporto, Porto, v.1, n.2, p.45-55, jan.!
REILLY, T.; BANGSBO, J.; HUGHES, M. (Ed.). Science and jun.2001.
Football 111. London: E & FN Spon, 1997, p.209-220. SILVA, F. et al. Variáveis correlatas da motivação para a prática
desportiva em jovens futebolistas masculinos de 13 a 14 anos
OSLIN, J.; MITCHELL, S.; GRlFFlN, L. 'lhe Game Performance
de idade. Treino Desportivo, v.19, p.32-38. 2002.
Assessment Instrument (GPAI): development and preliminary
validation. ~ournal of Teaching in Physical Education, SUZUKI, K.; NISHIJIMA, T. Validity of a soccer defending skill
Champaign v.17, n.2, p.231-243, jan, 1998. scale (SDSS) using game performances. International Jour-
nal of Sport and Health Science, Tsukuba v.2, n.1, p.34-49,
PlAGET, J. Development and Learning. Journal of Research mai. 2004.
in Science Teaching, New York, v.2, n.3, p.176-186. 1964.