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UNIVERSIDADE EVANGÉLICA DE GOIÁS- UniEvangélica

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Docente: Regina Célia Cunha

Discente: Ana Laura Bueno, Raquel Rosa, Renata Cunha

Livro base para o trabalho de medicalização e medicação: Loucos-e-degenerados-


uma-genealogia-da-psiquiatria_230525_205043[1].pdf

O tratamento moral e o poder disciplinar:

No capítulo V, Pinel discute as antigas estratégias de tratamento utilizadas nos


asilos psiquiátricos, considerando-as obsoletas e desnecessárias. Ele enfatiza a
importância de libertar os pacientes das correntes, com base em estudos empíricos
realizados em Salpêtrière, que demonstram a eficácia dessa prática em certos casos. O
capítulo IV aborda a "Polícia interior e regras a seguir no estabelecimento", onde Pinel
define um plano geral para a distribuição dos espaços no asilo. Ele detalha os meios de
repressão admitidos e os diferentes métodos para restabelecer as regras que foram
desrespeitadas. Além disso, ele descreve os cuidados necessários na distribuição e
preparação dos alimentos, assim como a realização de exercícios físicos e trabalhos
mecânicos. O tratamento moral exige uma reorganização interna do espaço asilar, com a
distribuição cuidadosa dos diferentes tipos de pacientes e definição de tempos
específicos para as atividades e tratamentos, levando em consideração cada tipo de
doença. As regras são protegidas e cada estratégia disciplinar busca contrastar a loucura
com a racionalidade e o equilíbrio, representada pelo conhecimento médico. Essa
abordagem define o modelo que deve ser internalizado por meio da ortopedia moral nos
asilos. No capítulo IV, Pinel discute a reorganização interna dos asilos, estabelecendo
um plano detalhado para a distribuição dos espaços e descrevendo as medidas de
repressão e reestabelecimento de regras. Ele também destaca a importância do
tratamento moral, que requer uma distribuição cuidadosa dos diferentes tipos de
pacientes no espaço do asilo.

O controle do tempo também é enfatizado, com atividades e tratamentos


específicos designados para cada tipo de doença. As regras são protegidas de antemão,
com o objetivo de contrapor a loucura à racionalidade e à moderação representadas pelo
conhecimento médico. Esse modelo de ortopedia moral governa os asilos, buscando a
recuperação dos pacientes. No texto fornecido, Pinel discute as estratégias de tratamento
utilizadas nos asilos psiquiátricos. No capítulo V, ele critica métodos como mergulhar
em água gelada, golpes, torturas e sangrias, considerando-os obsoletos. Ele destaca a
importância de libertar os pacientes das correntes, com base em seus estudos na
Salpêtrière, que exerceu a eficácia dessa prática em certos casos. No capítulo IV, Pinel
aborda a "polícia interior" e as regras a serem seguidas no asilo, incluindo a distribuição
dos espaços, meios de repressão e restauração das regras violadas, cuidados na
distribuição e preparação de alimentos, exercícios físicos e trabalhos mecânicos.

O tratamento moral é enfatizado, tendo a reorganização interna do espaço


asilar, a distribuição cuidadosa dos pacientes e estabelecimento de tempos específicos
para atividades e tratamentos de acordo com cada tipo de doença. As regras são
predefinidas, buscando contrapor a loucura à racionalidade e à moderação,
representadas pelo saber médico. Esse modelo disciplinar busca a recuperação dos
pacientes nos asilos. No texto, Pinel discute duas questões principais. No capítulo V, ele
analisa as estratégias antigas de tratamento nos asilos, argumentando que técnicas como
imersão em água gelada, tortura e sangrias são obsoletas. Ele destaca a importância de
libertar os pacientes das correntes, com base em estudos empíricos que mostram a
eficácia dessa prática em certos casos.

No capítulo IV, Pinel aborda a "polícia interior" e as regras a serem seguidas


nos asilos, incluindo a distribuição dos espaços, meios de repressão e restabelecimento
de regras desrespeitadas, cuidados com alimentos, exercícios físicos e trabalhos
mecânicos. . Ele descreve a necessidade de uma reorganização interna do espaço asilar e
um controle minucioso do tempo, com atividades e tratamentos específicos para cada
tipo de doença. As regras são pré-estabelecidas, conseguindo contrapor a loucura à
racionalidade e à moderação representada pelo saber médico. O tratamento moral é
enfatizado como parte desse modelo disciplinar, buscando a recuperação dos pacientes.
No texto em questão, aborda-se a ideia de que o asilo, assim como as prisões, é um
espaço disciplinar que utiliza técnicas de organização do tempo e do espaço, regras
direcionadas ao corpo e à alma, exercícios e imposição de normas. Michel Foucault, em
"O Poder Psiquiátrico", destaca a semelhança entre as estruturas dessas instituições. No
entanto, Pinel, um dos principais representantes da psiquiatria, enfatiza a importância de
identificar os momentos de lucidez presentes na loucura, pois é a partir desses
momentos que se pode iniciar uma intervenção terapêutica. Pinel relata um caso de
tratamento moral bem-sucedido em que um paciente que se imaginava um rei escreve
uma carta ofensiva e ameaçara para sua esposa, culpando-a por sua internação. Após a
leitura da carta para outro paciente, de maneira amigável, o primeiro paciente a
reescreve com afeto e cuidado. O vigilante do hospício percebe esse momento de
lucidez e intervém de forma amistosa para questionar o paciente sobre suas pretensões
de realeza, fazendo-o sentir-se ridículo gradualmente. Esse tratamento ocorre ao longo
de quinze dias, com o objetivo de dominar as paixões e recuperar a razão, restituindo a
normalidade perdida.

Pinel entende o tratamento moral como a criação de estratégias para dominar as


paixões e recuperar a razão, buscando a restituição da normalidade perdida para
alcançar a liberdade. Nesse contexto disciplinar, o fechamento do asilo encontra sua
justificativa e razão de ser. No entanto, é importante questionar a especificidade desse
poder disciplinar que não se refira apenas aos corpos, mas também impedir a existência
de diagnósticos diferenciais. A psiquiatria de Pinel se limita a distribuir binariamente
loucura e normalidade, decidindo quem deve ser internado no asilo e quem deve
permanecer fora de seus muros. A figura do médico continua sendo a autoridade
dominante na gestão e normalização dos comportamentos dentro do asilo psiquiátrico.

A MEDICALIZAÇÃO DOS DESVIOS

Pouco a pouco, serão deixados de lado os problemas que eram centrais para a
psiquiatria clássica. Saber se o paciente tem alucinações, escuta vozes, imagina ser
UMA pessoa que não é, confunde realidade com fantasia, ou fazer com que o paciente
reconheça sua própria loucura deixarão de ser as questões articuladoras do saber e do
poder psiquiátrico. A teoria da degeneração permite que os pequenos desvios de
conduta, os estigmas físicos ou psíquicos e, em menor medida, os delírios
insignificantes se transformem em signos anunciadores de alienação mental. O
tratamento era sempre o internamento psiquiátrico; não existiam diferenças entre aquele
indivíduo que consegue levar uma vida familiar e de trabalho, mas não pode dominar a
compulsão em enunciar certas palavras, a mulher que escolhe alimentar-se
exclusivamente de comida vegetariana para evitar a violência contra os animais, e o
indivíduo que sofre alucinações e que a psiquiatria clássica caracterizaria como um
quadro psicótico.
Sobre essa identificação entre condutas cotidianas e patologia psiquiátrica foram se
construindo as bases epistemológicas da psiquiatria moderna.
No entanto, a degeneração não desaparece simplesmente do âmbito da psiquiatria; ela
sofre transformações, adota novos nomes, impulsiona novas estratégias de ação, mas
deixa marcas indeléveis na história da psiquiatria.
Seja com o nome de desequilíbrios, seja com o de predisposições hereditárias ou de
configurações patológicas, a psiquiatria continuará interessada em desvendar os mesmos
segredos que alentaram o programa de pesquisa das degenerações: a relação entre
patologias psiquiátricas e herança mórbida, a construção de uma psiquiatria preventiva
atenta ao caráter evolutivo das patologias e a busca pela localização cerebral de
sofrimentos psíquicos
A teoria da degeneração foi alvo de diversos questionamentos que destacavam a abusiva
extensão das alienações mentais a partir da introdução das patologias de degeneração.
Charpentier advertia em 1885 para as consequências de se aceitar, sem
questionamentos, uma classificação de doenças mentais que incluía as doenças
heredodegenerativas.
Para ele, a teoria da degeneração ou das patologias heredodegenerativas permite uma
extensão abusiva do domínio da psiquiatria, possibilita criar um grupo indefinido de
‘loucuras disparatadas’. Nessa lógica classificatória, cada conduta, gesto, tique passará a
ser indicativo de uma síndrome, resultando impossível diferenciar um adolescente
melancólico, pela influência da leitura de romances, das aberrações sexuais monstruosas
cometidas por um psicótico (apud Magnan, 1893). A teoria da degeneração permite e
legitima a existência de fronteiras difusas entre o normal e o patológico, possibilita a
ingerência do saber médico nos pequenos medos e angústias cotidianas, nos estados de
tristeza, nas situações de dúvida, enfim, nos pequenos desequilíbrios cotidianos.
Tanto na teoria da degeneração quanto na classificação de Kraepelin ou na psiquiatria
atual, existem fronteiras difusas entre o normal e o patológico, possibilitando a
ingerência da psiquiatria em todos os assuntos humanos.
A psiquiatria, a partir da teoria da degeneração, tenderá a observar as patologias mentais
em uma perspectiva temporal e evolutiva, tornando-se preventiva, o que significa que os
pequenos gestos e desvios de conduta passam a ser vistos como signos anunciadores de
alienação mental.

A loucura como representação ao poder psiquiátrico

De acordo com Nikolas Rose (2007), que vem se colocando como grande seguidor de
Foucault e se faz forte desde a primeira metade do século XX, uma das formas de se
entender a subjetividade humana, visto que “especialmente no contexto das
sociedades liberais avançadas, era considerando nossos ‘eu interiores’ como amplos e
profundos territórios com áreas inacessíveis à consciência. Mesmo parcialmente,
seria a biologia humana, por meio dos vocábulos veiculados pela biomedicina, que
nos traria elementos para nossa construção de individualidade, organizando
identidades, juízos e ações.” Assim estaria instaurado uma mescla de discursos
oficiais de promoção de saúde, advindas da facilidade de difundir essa comunicação
por meios da mídia, fazendo situações de adoecimento e sofrimento, e também
efeitos psicológicos e físicos de práticas de aptidão física, hábitos alimentares,
alterações cirúrgicas, inscrições/perfurações corporais, uso de drogas lícitas e ilícitas
etc...
Produção de psicofármacos X produção de escuta ativa

Canguilhem mostra como essa paixão localizacionista atravessou saberes e


discursos, incluindo alguns trabalhos iniciais de Freud, como, por exemplo, o artigo
“Cérebro”, publicado em 1888. É verdade que será o próprio Freud quem iniciará uma
demolidora crítica a essa concepção localizacionista poucos anos mais tarde. Em 1915,
o psicanalista escreve: “todas as tentativas de encontrar na localização cerebral o lugar
dos processos psíquicos, todos os esforços por entender as representações como
inscritas nas células nervosas, fracassaram radicalmente” (Freud apud Canguilhem,
1993: 15).

Kant sugere que a saúde é um objeto alheio ao campo do saber objetivo, e é


com base nesse enunciado que Canguilhem pode sustentar sua tese de que “não há
ciência da saúde”. A saúde, dirá ele, “não é um conceito científico, é um conceito vulgar
(doxa). Isto não quer dizer trivial, mas simplesmente comum, ao alcance de todos”
(Canguilhem, 1999b: 14).

Cerca de trinta anos atrás, Canguilhem ironizava o extremismo a que chegavam


os vulgarizadores que prometiam soluções mágicas para potencializar nossas funções
mentais ou morais. Agora não há mais lugar para ironias, esse extremismo já não é
exclusivo apenas dos vulgarizadores, mas o é também dos pesquisadores, da indústria
farmacêutica e, igualmente, do próprio campo da saúde. A débil linha que separa
sofrimentos normais de patologias, competências saúde. A débil linha que separa
sofrimentos normais de patologias, competências cognitivas de déficit de atenção, é o
que permitiu a ampliação da prescrição e do uso de psicotrópicos em níveis antes
inimagináveis (Pignarre, 2001; Guimarães, 2009).

Conclusão

Para os teóricos da degeneração, as características da alienação mental


definidas por Pinel, como as ideias delirantes, as alucinações, os comportamentos
violentos ou as paixões descontroladas, limitavam-se a descrever uma ínfima parte
daquilo que deveria ser considerado objeto da psiquiatria. Para Morel ou Magnan, os
alienados que habitam o asilo psiquiátrico não são mais que o último nível que pode
alcançar a sucessão progressiva de degenerações. Ao contrário de Pinel, eles
consideravam esses sujeitos como incuráveis, dado o avançado estado atingido pela
degeneração. Por essa razão, os degeneracionistas concentraram seus esforços em
definir e classificar pequenos desvios de comportamento ou anomalias, considerados
anunciadores de quadros patológicos graves e irreversíveis (hoje falaríamos de
‘comportamentos de risco’). Ali poderia ser aguardado esse momento de lucidez que
existe em toda loucura para, pouco a pouco, iniciar um ‘tratamento moral’ capaz de
conter as paixões, dominar a vontade e recuperar o entendimento.

Os textos de Kraepelin dão origem a diversas linhas de pesquisa que se mantêm mais
ou menos inalteradas até nossos dias. A metodologia de pesquisa dos transtornos
mentais por ele inaugurada inclui um novo modo de classificar as patologias
psiquiátricas; um interesse em aprofundar os estudos de anatomopatologia cerebral; a
multiplicação de dados estatísticos

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