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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

PROFª KARIN MARIA LUDWIG

DOENÇAS PARASITÁRIAS CAUSADAS POR HELMINTOS

1. ESQUISTOSSOMOSE
Sinonímia:
Esquistossomíase; bilharioze intestinal; bilharíaze. No Brasil, a doença é conhecida popularmente como
“xistose”, “barriga d`água” ou “mal-do-caramujo”.

Agente infestante:
Schistosoma mansoni (Filo Platyhelminthes, classe Trematoda, família Schistosomatidae)

Biologia do agente
São vermes esbranquiçados, alongados e dióicos, isto é, há indivíduos machos e fêmeas e o dimorfismo
sexual é acentuado.
O macho é foliáceo, enrolado sobre si mesmo no sentido da largura, com cerca de 1 cm de comprimento;
ventralmente apresenta um sulco longitudinal, o canal ginecóforo, onde se aloja a fêmea durante a fecundação.
A fêmea é cilíndrica, afilada nas extremidades; mais longa que o macho, mede cerca de 1,2 a 1,6 cm de
comprimento.

O ovo mede cerca de 150 µm de comprimento por 60 µm de largura, com formato oval e na parte mais
larga apresenta um espículo voltado para trás. O que caracteriza o ovo maduro é a presença de um miracídio
formado, visível pela transparência da casca. O ovo maduro é a forma usualmente encontrada nas fezes.

O miracídio apresenta forma cilíndrica, com dimensões médias de 180 µm de comprimento por 64 µm de
largura. Apresenta cílios, que permitem o movimento no meio aquático, até que encontrem os moluscos.

As cercárias apresentam comprimento total de 500 µm e cauda bifurcada. Apresentam ventosas através
das quais fixa-se na pele do hospedeiro no processo de penetração. A cauda é uma estrutura que se perde no
processo de penetração e serve apenas para a movimentação da larva no meio líquido.

Habitat:
Os vermes adultos vivem no sistema porta, principalmente na veia mesentérica inferior (um dos ramos da
veia porta), quando os esquistossômulos atingem o fígado e começam a se desenvolver. Com a maturação
sexual, em torno de 25 dias, migram para os ramos terminais da veia mesentérica inferior, principalmente na
altura da parede intestinal do plexo hemorroidário, onde se acasalam e, em torno do 35º dia, as fêmeas iniciam a
postura dos ovos.

Hospedeiro definitivo:
Homem e outros mamíferos.
Hospedeiro intermediário:
Os mais comuns são os moluscos do gênero Biomphalaria, com três espécies representativas: B.
glabrata; B. tenagophila e B. straminea. São moluscos de água doce e dotados de concha.

Ciclo evolutivo do Schistosoma mansoni:


Esta espécie desenvolve sua fase adulta como parasito na luz dos vasos sanguíneos do homem e de
outros mamíferos, habitando preferencialmente as vênulas do plexo hemorroidário e os ramos das veias
mesentéricas, onde põe os ovos.
Depois de atravessarem a mucosa intestinal, os ovos são eliminados com as fezes e, quando chegam em
tempo útil a uma coleção de água doce superficial (riachos, rios, córregos, açudes e barragens), liberam suas
larvas, os miracídios, que nadam durante algum tempo até encontrarem os moluscos do gênero Biomphalaria.
Penetrando nos tecidos do moluscos de uma espécie adequada, o miracídio transforma-se em um novo
tipo larvário, o esporocisto, que, por poliembrionia, gera esporocistos-filhos e, depois, larvas infectantes para os
hospedeiros vertebrados, as cercarias. Várias gerações de esporocistos podem suceder-se, todas elas
produzindo durante algum tempo suas cercarias.
Voltando ao meio líquido, as cercarias que abandonaram o hospedeiro invertebrado ficam nadando na
água (no máximo 60 horas), quase sempre em direção à superfície, até que tenham a oportunidade de entrar em
contato com a pele do hospedeiro vertebrado (homem ou outro animal suscetível), através do qual penetram
ativamente. Aí a cercaria que consegue sobreviver transforma-se logo em esquistossômulos, última forma
larvária do parasito.
Os esquistossômulos que não forem destruídos na pele ganham a circulação geral e vão ter ao coração,
depois aos pulmões (onde também podem ser retidos e destruídos) e, em seguida ao fígado.
Somente os que chegam ao sistema porta hepático podem completar seu desenvolvimento e alcançar a
fase adulta. Os vermes adultos acasalam-se e migram para as vênulas da parede intestinal.

Sintomas:
A esquistossomose caracteriza-se por perturbações gástricas (diarréia, prisão de ventre), circulatórias,
sanguíneas (anemias) e pulmonares (obstrução da rede arteriolar, determinando insuficiência respiratória e,
conseqüentemente, problemas cardíacos); hepato e esplenomegalia, determinando aumento do volume do
abdome (“barriga d`água”).
São freqüentes as obstruções de vasos sanguíneos, determinadas por parasitos adultos mortos. A
evolução rápida da moléstia, provocando a morte, não é comum.
Normalmente a esquistossomose evolui em três etapas clínicas:
1. Fase de infestação:
Penetração das cercárias na pele, determinando lesão e prurido que termina por caracterizar-se em dermatite
urticariforme.
2. Fase aguda:
Migração dos parasitos ao fígado onde atingem a maturidade. Acasalamento nas veias mesentéricas e posturas
dos ovos. Febre, dores musculares, prostração, falta de apetite, hemorragias, discreta hepato e esplenomegalia.
3. Fase crônica:
Acentua-se a sintomatologia da fase aguda; hepato e esplenomegalia bem evidentes (“barriga d`água”),
profundas perturbações circulatórias, pulmonares e digestivas.
Observações:
- Os indivíduos parasitados vão gradativamente perdendo sua vitalidade e a capacidade de trabalho; - a
esquistossomose, não tratada a tempo, leva o doente à morte.

Contaminação:
Ocorre de duas maneiras:
a) pela ingestão de água e alimentos contaminados;
b) penetração ativa das cercárias na pele e mucosas;
As cercarias penetram mais freqüentemente nos pés e nas pernas por serem áreas do corpo que mais
ficam em contato com águas contaminadas.
Os locais onde se dá a transmissão mais freqüente são os focos peridomiciliares: valas de irrigação de
horta, açudes (reservatórios de água e local de brinquedo de crianças), reservatórios para pesca.

Profilaxia:
- Condições adequadas de saneamento básico (água tratada, instalações sanitárias, tratamento dos esgotos
sanitários, dentre outras);
- Saneamento das zonas de infestação;
- Medicina sanitária e campanhas de esclarecimento;
- Exterminar os moluscos que atuam como hospedeiros intermediários.

Distribuição geográfica e prevalência:


O número de casos tem sido estimado entre 5 e 6 milhões de pessoas infectadas, variando as taxas de
prevalência de estado para estado e no decorrer do tempo. A esquistossomose continua a expandir
geograficamente, em função da extensão das zonas agrícolas e das áreas irrigadas, sem que melhorem as
condições de vida dos trabalhadores rurais.
As áreas endêmicas importantes são: Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. Focos isolados são encontrados no Pará, Maranhão, Ceará, Rio de
Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
2. TENÍASE E CISTICERCOSE
Agente infestante:
Taenia solium e Taenia saginata. (Filo Platyhelminthes, classe Cestoidea, família Tenídeos).
Popularmente chamadas de Solitária.
O cisticerco da Taenia solium é conhecido como Cysticercus cellulosae e do Taenia saginata conhecido
como Cysticercus bovis.

Caracterização:
Teníase: infestação intestinal humana por cestódeos adultos do gênero Taenia.
Cisticercose: quando o homem é infectado por ovos de Taenia solium. Forma grave de parasitismo devido
às localizações no sistema nervoso e no globo ocular.

Habitat
Tanto a Taenia solium como a Taenia saginata, na fase adulta ou reprodutiva vivem no intestino delgado
do homem.
O Cysticercus cellulosae é encontrado no tecido subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral e no olho de
suínos e acidentalmente no homem e no cão. O Cysticercus bovis é encontrado nos tecidos dos bovinos.

Hospedeiros
Hospedeiro intermediário:
Na fase larvária, a Taenia solium parasita habitualmente o porco, mas pode aparecer em cães, gatos e
carneiros. A Taenia saginata parasita os bovinos domésticos e búfalos e mais raramente outros ruminantes
silvestres como rena, girafa, lhama, etc.
Hospedeiro definitivo:
Homem como único hospedeiro definitivo. A Taenia solium pode viver no intestino humano em média 3
anos, mas pode atingir 25 anos, enquanto a Taenia saginata vive em média 10 anos e pode atingir 30 anos.

Biologia do agente:
Ovos:
Microscopicamente, é impossível diferenciar os ovos das duas tênias. São esféricos e medem 30 µm de
diâmetro; são constituídos por uma casca protetora denominada embrióforo, formada de quitina. Dentro do
embrióforo encontra-se a oncosfera ou embrião hexacanto com dupla membrana e 3 pares de acúleos.

Vermes Adultos:
A Taenia saginata e Taenia solium são divididas morfologicamente em escólex ou cabeça, colo ou
pescoço e estróbilo ou corpo.
O escólex é um órgão adaptado para a fixação do verme na mucosa do intestino delgado. Apresenta 4
ventosas formadas de tecido muscular, arredondadas e proeminentes. A Taenia solium possui um rostelo ou
rostro armado com uma fileira de 25 a 50 acúleos; a Taenia saginata não possui tal rostelo.
O colo está situado imediatamente abaixo do escólex, não tem segmentação, mas suas células estão em
constante atividade reprodutora, dando origem as proglotes jovens. È conhecido como zona de crescimento ou
de formação das proglotes.
O estróbilo é o corpo do helminto, formado pela união de proglotes ou proglótides (anéis), podendo ter de
800 a 1000 proglotes e atingir 3 metros na Taenia solium ou ter mais de 1000 proglotes e atingir 8 metros na
Taenia saginata. Como cada proglote tem a sua individualidade alimentar (difusão de alimentos) e reprodutora
(órgãos masculinos e femininos), podemos dizer que o corpo de uma tênia é formado pela justaposição de vários
indivíduos (proglotes). As proglotes são divididas em jovens (início do desenvolvimento dos órgãos sexuais),
maduras (possui os órgãos genitais masculinos e femininos desenvolvidos e aptos para a fecundação) e grávidas
(aquelas que apresentam o útero cheio de ovos).
Taenia sp adulta Escólex T. solium Escólex T. saginata

Cisticercos:
O Cysticercus cellulosae, larva da Taenia solium é constituído de escólex com 4 ventosas, rostelo, colo e
uma vesícula membranosa contendo líquido no seu interior. O Cysticercus bovis é a larva da Taenia saginata e
apresenta a mesma morfologia do Cysticercus cellulosae, diferindo apenas pela ausência do rostelo. Estas larvas
podem atingir até 12 mm de comprimento (tamanho de uma ervilha), após 4 meses de infecção. São comumente
conhecidos como “canjiquinhas” ou “pipoca”.

Ciclo evolutivo
O homem parasitado elimina as proglotes grávidas cheias de ovos para o meio exterior. Em alguns casos,
a proglote pode romper-se dentro do intestino e os ovos serem eliminados nas fezes. Mais freqüentemente, a
proglote se rompe no meio exterior, liberando os ovos no solo. Um hospedeiro intermediário próprio (suíno para a
Taenia solium e bovino para a Taenia saginata) ingere os ovos. No trato digestivo sofrem ação de enzimas e sais
biliares se rompem e liberam as oncosferas, que são ativadas. Uma vez ativadas, as oncosferas penetram nas
vilosidades com auxílio dos acúleos. Permanecem nesse local por 4 dias para se adaptarem às condições
fisiológicas do novo hospedeiro. Em seguida, penetram e atingem a corrente sanguínea e são transportados a
todos os órgãos e tecidos do organismo. As oncosferas desenvolvem-se para cisticercos em qualquer tecido
mole (pele, músculos esqueléticos e cardíacos, olhos, cérebro, etc). No interior dos tecidos perdem os acúleos e
cada oncosfera se transforma em um pequeno cisticerco delgado e translúcido, que começa a crescer e atinge
no final de 4 ou 5 meses de infecção 12 mm de comprimento. Permanecem viáveis nos músculos por alguns
meses.
A infecção do homem pelos cisticercos se dará pela ingestão de carne crua ou mal cozida de porco ou boi
infectado. O cisticerco ingerido sofre ação do suco gástrico, evagina-se e fixa-se através do escólex, na mucosa
do intestino delgado, onde tranforma-se em tênia adulta. Três meses após a ingestão da larva, inicia-se a
eliminação de proglotes grávidas (ânus e boca). Durante toda a vida do verme adulto, várias proglotes grávidas
se desprendem diariamente do estróbilo. Em Taenia saginata, há liberação de 8 a 9 proglotes e na Taenia solium
de 3 a 6, de cada vez. O colo, produzindo novas proglotes, mantém o parasito em crescimento constante.

Transmissão
O homem adquire a teníase por Taenia saginata ingerindo carne de boi crua ou mal cozida infectada pelo
Cysticercus bovis. A teníase por Taenia solium é adquirida pela ingestão de carne de porco crua ou mal cozida
infectada pelo Cysticercus cellulosae.
A cisticercose humana é adquirida pela ingestão acidental de ovos viáveis da Taenia solium. Os métodos
possíveis de infecção do homem pelos ovos da Taenia solium são:
− auto-infecção externa: o homem elimina proglotes e os ovos de sua própria tênia são levados à boca pelas
mãos contaminadas ou pela coprofagia.
− auto-infecção interna: durante vômitos ou movimentos peristálticos do intestino, as proglotes poderiam ir até o
estômago e depois voltariam ao intestino delgado, liberando as oncosferas.
− heteroinfecção: o homem ingere, juntamente com os alimentos e água, os ovos de outro paciente.

Sintomatologia
Teníase:
- perturbações digestivas: alterações do apetite (sensação de fome ou anorexia), náuseas, vômitos, dores ilíacas
do tipo apendiculares ou difusas, dor epigástrica conhecida por “dor de fome”, diarréias e perda de peso.
- prurido anal e sintomas alérgicos como urticária e alterações de pele.
- inflamação da mucosa intestinal no local da fixação do escólex.
- no caso de localização ectópica, tal como a presença de proglote no apêndice, provoca apendicite.
Cisticercose:
De localização variada, os cisticercos podem ocorres:
- no tecido subcutâneo (dores musculares);
- nas fibras cardíacas (miocardites);
- no cérebro (fenômenos psíquicos graves, cefaléia, epilepsia, loucura);
- nos olhos (cegueira).
Podem restringir-se a determinadas áreas (língua e pescoço) ou se disseminar por todo o organismo.
A principal é a neurocisticercose.

Diagnóstico
Parasitológico:
- pesquisa de proglotes;
- pesquisa de ovos de tênia nas fezes (fita gomada e sedimentação);
- para diagnóstico específico, fazer a tamização de todo o bolo fecal, recolher as proglotes e identificá-las pela
morfologia.
Clínico:
- muito difícil, mas está mais associado a cisticercose;
- em casos de localização no sistema nervoso central ou infecções maciças na musculatura esquelética, o
diagnóstico é radiológico, mas os cisticercos precisam estar calcificados. Pode-se usar tomografia
computadorizada.
Imunológico:
- detectar anticorpos anticisticercos no soro, líquido cefalorraquidiano e humor aquoso (olho).

Profilaxia
Teníase:
− impedir o acesso de suínos e de bovinos às fezes humanas:
• construção de pocilgas para abrigar os animais;
• uso de latrinas ligadas às redes de esgoto ou fossas sépticas, tornando inacessíveis aos suínos e bovinos os
excrementos do homem;
• melhorar os serviços de água, esgoto ou fossa sanitária.
− tratamento em massa dos casos humanos positivos;
− destruição pelo fogo dos exemplares de tênias adultas eliminadas, impedindo a infecção dos hospedeiros
intermediários;
− as carnes devem ser submetidas a cuidadosa inspeção;
− orientar a população para não comer carnes cruas, mal cozidas ou mal assadas (os cisticercos não resistem a
temperaturas acima de 56ºC e morrem à temperatura de congelamento da carne; a salga e parcial dessecação,
como preparação do charque, tornam a carne inócua);
− limpeza do local freqüentado pelos hospedeiros intermediários é imprescindível, já que os ovos das tênias
sobrevivem várias semanas no esterco úmido, nos esgotos, na água e sob a relva.

Cisticercose:
− todas as medidas sanitárias referentes à teníase;
− normas de higiene pessoal;
− tratamento dos indivíduos portadores das tênias;
− impedir a contaminação da água e alimentos pelos ovos e/ou proglotes das tênias.
3. ASCARIDÍASE OU ASCARIDIOSE
Agente infestante
Ascaris lumbricoides (classe Nematoda, família Ascaridae). Popularmente denominado lombriga. É um
parasito de distribuição cosmopolita, sendo o maior nematódio intestinal do homem.

Biologia do agente
Usualmente são vermes longos, robustos e cilíndricos, apresentando as extremidades afiladas. No
entanto, deve-se observar que o tamanho dos exemplares de Ascaris lumbricoides está na dependência do
número de formas albergadas pelo hospedeiro e pelo estado nutricional destes.
Apresenta coloração leitosa ou amarelo-rosada.
Vermes Adultos:
O macho adulto mede cerca de 20 a 30 cm de comprimento (podendo ter 15 a 30 cm) por uma largura
máxima de 4 mm. Tem uma extremidade posterior afilada e encurvada ventralmente sob a forma de gancho.
A fêmea mede de 35 a 40 cm de comprimento com largura máxima de 5 mm. Apresenta a extremidade
posterior cônica e retilínea, o que facilmente a distingue do macho.

Ovos:
Tem cor castanha (por absorver pigmentos biliares das fezes), são grandes, arredondados ou ovais,
medindo cerca de 50 µm de diâmetro, com cápsula espessa e muito típica, em razão da membrana externa
rugosa ou mamilonada que é secretada pela parede uterina e é formada por mucopolissacarídeos.
Os ovos expulsos com as fezes não são infectantes para o homem, pois mesmo eliminados fecundados
não são embrionados. Os ovos viáveis (férteis) contém uma célula (ovo) grande, fertilizadas e não-segmentada,
retida por membrana vitelina muito resistente, o que pode permitir sua viabilidade por meses e até anos.
Os ovos inférteis são comumente provenientes da infecção humana exclusiva por fêmeas de Ascaris
lumbricoides ou da infecção pela qual sofreram ação medicamentosa. São geralmente alongados, rodeados por
membrana delgada e às vezes ausente.

Habitat
Intestino delgado do homem, principalmente o jejuno e íleo, mas em infecções intensas, podem ser
encontrados em toda a extensão do intestino delgado.

Ciclo biológico
É do tipo monoxênico.
O ovo fecundado, eliminado pelas fezes, exige certas condições do meio externo para seu completo
desenvolvimento: temperatura em torno de 30 a 35ºC, certo grau de umidade e oxigênio. Os ovos do Ascaris
lumbricoides são resistentes ao frio, morrendo, ao contrário, em aproximadamente 1 hora se exposto à
temperatura constante superior a 45ºC, resistem de certo modo a dessecação, principalmente se não submetidos
à temperatura muito elevada, pois retomam a sua cadeia evolutiva desde que recolocados em meio úmido; são
também resistentes a uma variedade de agentes físicos e químicos.
Encontrando o ovo condições favoráveis ao seu desenvolvimento, em cerca de 12 dias desenvolve-se no
seu interior uma primeira larva, a larva rabditóide, que dentro de uma semana, sofre mutação para uma segunda
e terceira larva rabditóide; essa larva, que retém a cutícula como uma bainha é a larva infectante.
Os ovos ingeridos pelo homem atravessam o estômago, e as larvas se liberam no intestino delgado,
apresentando, nessa ocasião um esôfago filiforme. Atravessam a parede do intestino e, penetrando na circulação
através dos vasos linfáticos e das vênulas mesentéricas, são levados ao coração direito e deste aos pulmões,
permanecendo nos alvéolos por alguns dias, durante os quais sofrem duas mudas; passam, então, aos
bronquíolos, brônquios e a traquéia, chegando à epiglote, sendo eliminadas com a saliva ou deglutidas; nesta
circunstância, vão ao esôfago, estômago e intestino onde se alimentam de seu conteúdo semidigerido e sofrem
uma quarta muda. Esta migração larvária leva cerca de 10 dias e, ao retornarem ao intestino, as larvas,
resistente aos sucos digestivos, medem aproximadamente 10 vezes o seu tamanho original, atingindo então 2
mm de comprimento.
Decorridos aproximadamente 2 meses a dois meses e meio desde o momento da infecção, os parasitos
atingem sua plena maturidade, sendo capazes de reiniciar o ciclo evolutivo.

Transmissão
- O homem é capaz de infectar-se ao ingerir água ou alimentos contaminados com ovo contendo a larva
infectante (L3). Existe um grande número de casos de contaminação das águas de córregos que são utilizadas
para irrigação de hortas, levando a contaminação de verduras com ovos.
- As crianças, freqüentemente mais infectadas do que os adultos, podem também contaminar as mãos no solo
poluído, levando, desta maneira, os ovos à boca através dos dedos ou ainda pelo hábito da geofagia, freqüente
nas de menor idade.
- Poeira e insetos (moscas e baratas) são capazes de veicular mecanicamente ovos infectantes.
- Já foi verificada a contaminação do depósito subungueal (material presente debaixo das unhas), com ovos.
- Os ovos de Ascaris lumbricoides podem ser encontrados em móveis, piscina, frutos, vegetais, banheiros
públicos, papel-moeda e moedas.
A ascaridíase é conseqüência da contaminação do solo com dejetos humanos contendo ovos e de
hábitos de higiene inadequados.

Sintomatologia
A sintomatologia da ascaridíase é variada e está ligada ao número de nematódios que parasitam o
indivíduo e o local da infestação.
As infestações leves (número reduzido de parasitos) podem passar desapercebidas. Às vezes, entretanto,
um único verme pode determinar alterações patológicas: distúrbios intestinais, cólicas, perda de apetite,
irritabilidade, emagrecimento.
Nas infecções com maior número de parasitos (até mil) os transtornos orgânicos são graves. Nestes
casos, a ascaridíase pode determinar:
- oclusão intestinal (ao nível da válvula íleo-cecal); - asfixia (bloqueando vias respiratórias); - peritonite
(ulcerações intestinais); - apendicite (inflamação do apêndice vermicular); - liberação de parasitos pela boca
(vômitos); - lesões pancreáticas e hepáticas (abcessos); - pneumonia; - transtornos nervosos (toxinas liberadas
pelos parasitos); - perfuração do tímpano; - inflamação dos condutos lacrimais.

Diagnóstico
É feito pelo reconhecimento do parasito nas fezes ou no material vomitado ou, pela detecção de ovos na
matéria fecal. As técnicas mais indicadas para o diagnóstico coproscópico são de sedimentação, destacando-se
a de Lutz (Hoffmam, Pons e Janer) e a de Kato-Katz.

Tratamento
O tratamento da ascaridíase se impõe, mesmo na presença de número reduzido de helmintos, devido às
possibilidades de complicações graves, especialmente devido às migrações anômalas. Drogas como: sais
piperazina, sais de tetramisol ou levamisol; pamoato de pirantel; mebendazol; albendazole.
Profilaxia
Sendo o ovo extremamente resistente aos desinfetantes usuais e o peridomicílio funcionando como focos
de ovos infectantes, as medidas que têm efeito definitivo são:
- educação sanitária;
- construção de fossas sépticas;
- lavar as mãos antes de tocar em alimentos;
- tratamento em massa da população periodicamente (após exame coproscópico), durante 3 anos consecutivos;
- proteção de alimentos contra insetos;
- providências devem ser tomadas para evitar a recontaminação de indivíduos já tratados e realizar o
saneamento das áreas contaminadas;
- fazer campanhas para desenvolvimento de hábitos de higiene adequados (cuidados com a higiene pessoal, da
habitação e dos alimentos).
4. ANCILOSTOMÍASE OU ANCILOSTOMOSE
Caracterização
Duas espécies de ancilostomídeos parasitam com freqüência o homem e são responsáveis por uma
doença tipicamente anemiante, a ancilostomíase: o Necator americanus e o Ancylostoma duodenale.
Em regiões onde só ocorre, ou onde predomina, o Necator americanus, o mais freqüente dos
ancilostomídeos humanos, usam-se os termos necatoríase ou necatorose, que devem ser entendidas como
sinônimos de ancislostomíase, dada a semelhança dos quadros clínicos.
Popularmente, a doença é conhecida no Brasil por “amarelão” ou “opilação”.

Agente infestante
A família Ancylostomidae é dividida em várias subfamílias, destacando:
• Ancylostominae - espécies que apresentam dentes na margem da boca: Ancylostoma duodenale e
Ancylostoma ceylaminicum.
• Bunostominae - espécies que possuem lâminas cortantes circundando a margem da boca: Necator americanus.
São do Filo Nematelmintos e classe Nematoda.

Biologia do agente
Ancylostoma duodenale:
Adultos machos e fêmeas cilindriformes, com a cápsula bucal profunda, com 2 pares de dentes na
margem interna da boca. Em ambos os sexos, a cor é róseo-avermelhada, quando a fresco e esbranquiçada,
após mortos por soluções fixadoras. Os machos medem de 8 a 11 mm de comprimento por 400 µm de diâmetro
e as fêmeas medem 10 a 18 mm de comprimento por 600 µm de diâmetro.
Necator americanus:
Adultos de forma cilíndrica, com a extremidade cefálica recurvada dorsalmente; com a cápsula bucal
profunda, com 2 lâminas cortantes, seminulares na margem interna da boca. Espécimes de coloração róseo-
avermelhada (a fresco) e esbranquiçada (após fixação). , Macho menor do que a fêmea, medindo de 5 a 9 mm
de comprimento por 300 µm de diâmetro. As fêmeas medem 9 a 11 mm de comprimento por 350 µm de
diâmetro.

A. duodenale N. americanus Ovo

Distribuição geográfica
Os ancilostomídeos têm ampla distribuição geográfica.
O Ancylostoma duodenale, considerado o ancilostoma do Velho Mundo, é predominante de regiões
temperadas, embora ocorra também em regiões tropicais, onde o clima é mais temperado.
O Necator americanus conhecido como ancilostoma do Novo Mundo, ocorre em regiões tropicais, onde
predominam temperaturas altas.

Habitat
O ancilóstomo é um endoparasito que ataca a mucosa intestinal com os dentes da cápsula bucal,
produzindo lesões e hemorragias. Alimenta-se principalmente do sangue que é consumido em quantidade
significativa.
O Necator americanus é um endoparasito do intestino delgado (do duodeno ao jejuno) e em casos de
grande infestação são encontrados também no íleo e no ceco.

Ciclo Biológico
É do tipo monoxênico.
Durante o desenvolvimento, 2 fases são bem definidas: a primeira, que se desenvolve no meio exterior, é
de vida livre, e a segunda, que se desenvolve no hospedeiro definitivo, é obrigatoriamente de vida parasitária.
Os ovos dos ancilostomídeos depositados pelas fêmeas (após a cópula), no intestino delgado do
hospedeiro, são eliminados para o meio externo através das fezes. No meio exterior, os ovos necessitam de um
ambiente propício, principalmente boa oxigenação, alta umidade (>90%) e temperatura elevada (21 a 27ºC para
o Ancylostoma duodenale e 27 a 32ºC para o Necator americanus).
Em ambiente favorável ocorre o desenvolvimento dos estádios de vida livre. Em tais condições, forma-se
a L1 (larva rabditóide) no ovo e ocorre a eclosão em 12 a 24 horas; a L1 se transforma em L2, em 3 a 4 dias; e a
L2 muda para L3, após 5 dias, que é a única forma infectante para o hospedeiro.
A infecção pelos ancilostomídeos para o homem só ocorre quando as L3 (larva filarióide ou infectante)
penetram ativamente, através da pele, conjuntiva e mucosas ou passivamente, por via oral.
Quando a infecção é ativa, as L3 iniciam o processo de penetração que dura cerca de 30 minutos.
Alcançada a circulação cutânea, linfática ou sanguínea, elas são levadas ao coração e ao pulmão, onde chegam
em 3 a 5 dias. Dá-se então a passagem ativa dos parasitos do interior dos capilares pulmonares para a luz dos
alvéolos pulmonares. Nos pulmões ocorre a 3ª muda, que produz larvas do 4º estádio (L4), que tem cápsula
bucal provisória. Arrastadas pelas secreções da árvore respiratória e os batimentos ciliares da mucosa dos
brônquios, bronquíolos e traquéia, elas sobem até a laringe e faringe do hospedeiro, completando o ciclo
pulmonar. Deglutidas com o muco, as larvas vão para o intestino. Completam sua migração, sofrendo a 4ª muda
para L5 e se transformam em vermes com a cápsula bucal definitiva. Isso ocorre após 30 dias da infecção.
Crescendo e amadurecendo sexualmente, passam a constituir os helmintos adultos, machos e fêmeas.
O período que vai da penetração das L3 até a eliminação dos ovos pelas fezes varia de 35 a 60 dias para
o Ancylostoma duodenale e 42 a 60 dias para o Necator americanus.
Quando a infecção é passiva, a penetração das L3 é por via oral, principalmente através da ingestão de
alimentos ou água, e as L3 perdem a cutícula externa no estômago depois de 2 a 3 dias da infecção, e migram
para o intestino delgado. Na altura do duodeno mudam para L4 após 5 dias e em seguida voltam à luz do
intestino, se fixam à mucosa e iniciam o repasto sanguíneo, devendo mudar para L5 no transcurso de 15 dias da
infecção. Com a diferenciação de L5 em adultos, a cópula tem início e os ovos em seguida começam a ser
postos, sendo eliminados pelas fezes.
A fêmea de Ancylostoma duodenale elimina 20 a 30 mil ovos/dia e a fêmea de Necator americanus
elimina em torno de 9 mil ovos/dia.

Vias de transmissão ou infecção


A infecção por Ancylostoma duodenale se estabelece quando as larvas infectantes (L3) penetram por via
oral (alimentos ou água contaminada) ou transcutânea.
A infecção por Necator americanus ocorre quando as larvas penetram por via transcutânea.

Sintomatologia
A sintomatologia do “amarelão” (a doença do Jeca Tatu) é complexa, dependendo do grau de infestação e
do estágio da moléstia.

Ancylostoma duodenale
A exposição cutânea às larvas filarióides promove a contaminação. Lesões cutâneas e a migração da
larva determinam a erupção rastejante, com dermatite pruriginosa.
Durante a passagem pelo coração e pulmões, são freqüentes as perturbações circulatórias e pulmonares
(lesões do pulmão, tosse, dispnéia, vertigens e anemia).
No trato digestivo intestinal, a presença dos parasitos determina lesões na mucosa intestinal e
hemorragias (diarréia sanguinolenta).
Nos casos graves e nos estágios avançados da doença, ocorrem cefaléias intensas, fortes dores
abdominais e vômitos.
Língua saburrosa, inapetência e falta de ar também são características do amarelão.
A patogenia depauperante da moléstia determina a intensa depressão física e mesmo mental que
acomete os indivíduos portadores dos ancilóstomos.

Necator americanus
Penetração da larva: lesão cutânea, ardor, prurido, pápulas e vesículas.
Larva migrando pelos tecidos: erupção rastejante.
Larvas nos vasos e coração: perturbações circulatórias, aumento do coração.
Larvas no pulmão: hemorragias alveolares, pneumonia.
Parasitos no intestino: lesões e hemorragias (anemia).
São freqüentes dores de cabeça, náuseas, tosse, cansaço, cólicas abdominais, diarréia, emagrecimento,
fraqueza, vertigens, apatia. Em crianças determina o atraso físico e mental.

Profilaxia
- Evitar a poluição do solo com dejetos humanos;
- Evitar o contato direto com solo poluído (usar calçados para proteção dos pés);
- Tratamento em massa das populações contaminadas;
- Educação sanitária.
5. ENTEROBÍASE OU ENTEROBIOSE OU OXIUROSE
Agente infestante
Enterobius vermicularis, com denominação anterior de Oxyuris vermicularis. Caracteriza-se por seu um
pequeno nematóide da ordem Oxyuroide, conhecidos popularmente como oxiúro.
Verminose intestinal, cuja infecção costuma ser benigna, mas incômoda, pelo intenso prurido anal que
produz e por suas complicações, sobretudo em crianças.

Biologia do agente
O Enterobius vermicularis apresenta nítido dimorfismo sexual, entretanto, alguns caracteres são comuns
aos dois sexos: cor branca, filiformes.
Na extremidade anterior, lateralmente à boca, notam-se expansões vesiculosas muito típicas, chamadas
“asas cefálicas”. A boca é pequena, seguida de um esôfago também típico: é claviforme.
A fêmea, mede cerca de 1 cm de comprimento, por 0,4 mm de diâmetro. Cauda pontiaguda e longa.
O macho mede cerca de 5 mm de comprimento, por 0,2 mm de diâmetro. Cauda recurvada em sentido
ventral, com um espículo presente.
O ovo mede cerca de 50 µm de comprimento por 20 µm de largura. Apresenta o aspecto grosseiro de um
D, pois um dos lados é sensivelmente achatado e o outro é convexo. Possui membrana dupla, lisa e
transparente. No momento em que sai da fêmea, já apresenta no seu interior uma larva.

Fêmea Macho Ovo

Habitat
Os vermes adultos vivem na região cecal do intestino grosso humano e no apêndice cecal. Machos e
fêmeas são encontrados aderidos à mucosa ou livres na cavidade, alimentando-se do conteúdo intestinal. As
fêmeas repletas de ovos (5 a 16 mil ovos), são encontradas na região perianal. Em mulheres, às vezes, pode-se
encontrar esse parasito na vagina, útero e bexiga.

Ciclo biológico
É do tipo monoxênico.
Após a cópula os machos são eliminados junto com as fezes e morrem. As fêmeas, repletas de ovos se
desprendem do ceco e dirigem-se para o ânus (normalmente à noite), principalmente para o reto e o períneo do
paciente.
Com a oviposição, que se dá na região perianal, completa-se a vida do helminto adulto, que não tardará a
morrer. Outras vezes, ao chegarem ao períneo, as fêmeas morrem, ficam ressecadas e se rompem, liberando
então vários milhares de ovos cada uma. A duração de sua existência é estimada em 35 a 50 dias.
Na ausência de reinfecção, o parasitismo cessa, espontaneamente, em poucas semanas.
No interior do ovo encontra-se uma larva já formada, por ocasião da postura, e completa seu
desenvolvimento na atmosfera (com oxigênio).
Na temperatura da pele (cerca de 30ºC), a maturação do ovo faz-se em 4 a 6 horas. No solo, o processo
é mais lento.
Assim que completa a evolução no meio externo, os ovos tornam-se infectantes e, ao serem ingeridos,
vão eclodir no intestino delgado do novo hospedeiro (ou do próprio paciente, já parasitado). Aí as larvas irão
alimentar-se, crescer e transformar-se em vermes adultos, enquanto migrarem para o ceco.
No habitat definitivo, copulam e reiniciam seu ciclo biológico, que é completado em 1 ou 2 meses.
Transmissão
Os mecanismos de transmissão que podem ocorrer são:
• heteroinfecção: quando os ovos presentes na poeira ou alimentos atingem novo hospedeiro;
• indireta: quando os ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospederio que os eliminou;
• auto-infecção externa ou direta: a criança ou o adulto levam os ovos da região perianal à boca;
• auto-infecção interna: processo raro no qual as larvas eclodiriam ainda dentro do reto e depois migrariam até o
ceco, transformando-se em vermes adultos;
• retroinfecção: as larvas eclodem na região perianal (externamente), penetram pelo ânus e migram pelo intestino
grosso chegando ao ceco, onde se transformam em vermes adultos.

Sintomatologia
Na maioria dos casos, o parasitismo passa despercebido pelo paciente. O paciente só nota que alberga o
parasito quando sente ligeiro prurido anal (à noite, principalmente) ou quando vê o verme (popularmente
chamado de “lagartinha”) nas fezes. Em infecções maiores, pode provocar enterite catarral por ação mecânica e
irritativa. O ceco apresenta-se inflamado e, às vezes, o apêndice também é atingido. A alteração mais intensa e
mais freqüente é o prurido anal. A mucosa local mostra-se congesta, recoberta de muco com ovos e, às vezes,
fêmeas inteiras. O ato de coçar a região anal pode lesar o local, possibilitando infecção bacteriana secundária. O
prurido ainda pode provocar perda de sono, nervosismo e irritabilidade. Devido à proximidade dos órgãos
genitais, pode levar à masturbação e erotismo, principalmente em meninas. A presença nos órgãos genitais
femininos pode levar à vaginite, ovarite, etc.

Diagnóstico
Clínico: O prurido noturno e continuado pode levar a uma suspeita clínica de enterobiose.
Laboratorial: Os exames de fezes só revelam 5 a 10% dos casos de parasitismo. O melhor método é o da fita
adesiva ou método de Grahan, comumente conhecido por: Método do Swab Anal ou Fita Durex.

Tratamento
Drogas como: sais piperazina,; pamoato de pirantel; mebendazol; albendazole.

Profilaxia
- banhos matinais diários, preferencialmente de chuveiro;
- lavagem cuidadosa das mãos, após a defecação, antes de comer e antes de preparar alimentos;
- manter as unhas curtas e combater a onicofagia;
- evitar a coçagem direta da região perianal (para as crianças pequenas, usar macacões para dormir e aplicar
pomada antipruriginosa);
- mudar freqüentemente as roupas de baixo, as roupas de dormir, os lençóis de cama e as toalhas e fervê-las;
- evitar a superlotação dos quartos e alojamentos, que devem ser amplamente arejados durante o dia;
- dispor de instalações sanitárias adequadas e assegurar limpeza do ambiente;
- limpeza doméstica com aspirador de pó;
- educação sanitária deve ser promovida nas escolas, nas instituições que abrigam crianças, nos clubes e nos
domicílios.
6. TRICURÍASE OU TRICOCEFALÍASE
Agente infestante
Trichuris trichiura, com denominação anterior de Trichocephalus trichiurus.
Nematóide de distribuição cosmopolita e alta prevalência na população humana, apresentando uma forma
típica semelhante a um chicote.

Biologia do agente
Os vermes adultos apresentam a porção anterior mais fina e longa que a posterior.
Os machos são menores que as fêmeas e medem de 3 a 4,5 cm de comprimento e sua extremidade
posterior apresenta-se enrolada em espiral. O canal ejaculador termina em um espículo.
As fêmeas medem 3,5 a 5 cm de comprimento e sua extremidade posterior termina em ponta
arredondada.
Os ovos são característicos: medem 50 µm de comprimento por 25 µm de largura, possuem forma de
bandeja ou limão com 2 saliências polares transparentes. São de cor castanha. Necessitam de 15 dias de
permanência no solo para se tornarem larvados e aptos para infectar o homem.

Adultos ovo

Habitat
Os vermes adultos são parasitos do intestino grosso do homem. Em infecções moderadas estão
localizados principalmente no ceco e cólon ascendente. Nas infecções intensas ocupam também o cólon distal,
reto e porção distal do íleo.
É considerado por muitos autores como parasito tissular, pois toda a região esofagiana do parasito
penetra na camada epitelial da mucosa intestinal do hospedeiro, onde se alimenta de restos alimentares. Devido
a presença de sangue no esôfago de vermes adultos, sugere-se a utilização de sangue do hospedeiro como
fonte alimentar. A porção posterior permanece exposta no lúmem intestinal, facilitando a fecundação e a
eliminação dos ovos.

Ciclo biológico
É do tipo monoxênico.
Fêmeas e machos que habitam o intestino grosso se reproduzem sexuadamente e os ovos são
eliminados para o meio externo juntamente com as fezes. A fêmea fecundada elimina de 3.000 a 20.000 ovos por
dia. O embrião contido no ovo recém-eliminado se desenvolve no ambiente para se tornar infectante. No meio
externo começa a segmentação da célula-ovo, que leva a formação de uma larva ao fim de 2 a 3 semanas ou de
meses, em função da temperatura e outros fatores como umidade. A larva não abandona a casca, nem sofre
ecdises aí, porém o ovo embrionado passa a ser infectante para o homem. Os ovos infectantes podem
contaminar alimentos sólidos e líquidos, e, assim, ser ingeridos pelo homem. Após cerca de 1 hora da ingestão
dos ovos que sofrem ação de sucos digestivos, a larva eclode através de um dos poros presentes nas
extremidades do ovo. Essa larva se desenvolve em vermes adultos passando pelos 4 estágios larvais típicos do
desenvolvimento dos nematódeos. Completando seu desenvolvimento, os vermes adultos se fixam à mucosa,
onde mantêm mergulhada a extremidade cefálica, e decorridos 70 a 90 dias, depois da ingestão do material
infectante, completa-se o ciclo biológico com aparecimento de ovos nas fezes do novo hospedeiro.

Transmissão
Os ovos eliminados com as fezes do hospedeiro infectado contaminam o ambiente, em locais sem
saneamento básico. Como os ovos são resistentes às condições ambientais, podem ser disseminados pelo vento
ou pela água e contaminar os alimentos sólidos ou líquidos, sendo então ingeridos pelo hospedeiro.
Os ovos também podem ser disseminados por mosca doméstica, que transporta os ovos na superfície
externa do corpo, do local onde as fezes foram depositadas até o alimento. Para crianças, as mais importantes
fontes de infecção são prática de geofagia e alimentar-se com as mãos sujas.

Sintomatologia
O quadro clínico está diretamente relacionado com a carga parasitária. Em crianças e adultos portadores
de pequeno número de vermes, a infecção é geralmente assintomática. Nas crianças com infecção moderada, a
sintomatologia se manifesta de forma variada, sendo a diarréia crônica o sintoma mais comum, acompanhada de
cólicas intestinais, náuseas e vômitos. Pode determinar dor abdominal localizada no quadrante inferior direito,
simulando apendicite. Nas infecções severas, a diarréia pode ser substituída por disenteria aguda, com
evacuações mucossanguinolentas, tenesmo (reflexo de defecação mesmo na ausência de fezes no reto) e
enterorragia, acompanhada por anemia.
Em crianças com infecções maciças freqüentemente ocorre prolapso retal devido ao esforço para
defecção.

Diagnóstico
Demonstração de ovos nas fezes pelos métodos de Lutz (Hoffmam, Pons e Janer) e a de Kato-Katz.

Tratamento
Anti-helmínticos como: oxipirantel; mebendazol; albendazole.

Profilaxia
Cuidados gerais como:
- saneamento básico;
- educação sanitária da população;
- uso de instalações adequadas para eliminação das fezes;
- lavagem de frutas e vegetais crus;
- lavagem das mãos antes das refeições;
- tratamento dos indivíduos parasitados.
7. FILARIOSE OU BANCROFTOSE
(Elefantíase se refere à fase avançada da parasitose)

Agente infestante

Helmintos das espécies: Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori (classe Nematoda, ordem
Filariidea).
Essa parasitose tem grande importância em saúde pública, pois é endêmica em várias regiões tropicais,
sendo estimada em 1 bilhão a população que vive em áreas de risco de contrair a infecção e 120 milhões o
número de parasitados. Destes, 90% são portadores de Wuchereria bancrofti e 10% portadores de Brugia malayi
ou Brugia timori.

Biologia do agente
A Wuchereria bancrofti possui diferentes formas evolutivas nos hospedeiros vertebrados (humanos) e
invertebrados (mosquito).
Macho: corpo delgado e branco-leitoso. Mede de 3,5 a 4 cm de comprimento e 0,1 mm de diâmetro.
Extremidade anterior afilada e posterior enrolada ventralmente.
Fêmea: corpo delgado e branco-leitoso. Mede de 7 a 10 cm de comprimento e 0,3 mm de diâmetro.
Microfilárias: a fêmea grávida faz a postura de microfilárias (também conhecida como embrião), que
possuem uma membrana extremamente delicada e que funciona como uma “bainha flexível”. A microfilária mede
250 a 300 µm e se movimenta ativamente na corrente sanguínea do hospedeiro. A presença da bainha é
importante, pois alguns filarídeos vistos no sangue não possuem tal estrutura, sendo este um dos critérios
morfológicos para o diagnóstico diferencial.
Larvas: são encontradas no inseto vetor. A larva de 1º estágio (L1) mede em torno de 300 µm e é
originária da transformação da microfilária. Esta larva é chamada de larva salsichoide. Essa larva se diferencia
em larva de 2º estágio (L2), 2 a 3 vezes maior e sofre nova muda, originando a larva infectante (L3), que tem
entre 1,5 e 2,0 mm de comprimento.

Hospedeiros
Hospedeiro definitivo:
- Homem
Hospedeiro intermediário:
- mosquito hematófago Culex quinquefasciatus e também mosquitos dos gêneros Anopheles, Aedes e Mansonia.

Habitat
Os vermes adultos machos e fêmeas permanecem juntos nos vasos e gânglios linfáticos humanos,
vivendo, em média, 4 a8 anos.
As regiões do corpo que normalmente abrigam as formas adultas são: abdominal, pélvica (atingindo
pernas e escroto), mamas e braços (mais raramente).

Ciclo biológico
É do tipo heteroxênico.
A fêmea do Culex quinquefasciatus, ao exercer o hematofagismo em pessoas parasitadas, ingere
microfilária que, no estômago do mosquito, após poucas horas, perdem a bainha, atravessam a parede do
estômago do inseto, caem na cavidade geral e migram para o tórax, onde se alojam nos músculos torácicos e se
transformam na larva salsichoide ou L1. Seis a 10 dias após o repasto infectante, ocorre a 1ª muda originando a
L2. Esta cresce muito e, 10 a 15 dias depois sofre a 2ª muda se transformando em larva infectante (L3), medindo
aproximadamente 2 mm, que migra pelo inseto até alcançar a probóscida (aparelho picador), concentrando-se no
lábio do mosquito. O ciclo do hospedeiro intermediário é de aproximadamente 20 dias em temperatura de 20 a
25ºC mas, em temperaturas elevadas, pode ocorrer em menor período. Quando o inseto vetor vai fazer novo
repasto sanguíneo, as larvas L3 escapam do lábio, penetram pela solução de continuidade da pele do hospedeiro
(não são inoculados pelos mosquitos), migram para os vasos linfáticos, tornam-se vermes adultos e, 7 a 8 meses
depois, as fêmeas grávidas produzem as primeiras microfilárias.
Transmissão
Unicamente pela picada do vetor e deposição das larvas infectantes na pele lesada das pessoas. Parece
que o estímulo que provoca a saída das larvas da probóscida do mosquito é o calor emanado do corpo humano.
A pele, estando úmida (suor e alta umidade do ar), permite a progressão e penetração das larvas.

Sintomatologia
Os primeiros sintomas da filariose são as reações febris, o calafrio, cefaléia e náuseas. A seguir, ocorre a
sensibilidade local ou ao longo do vaso linfático, com ingurgitamento ganglionares. No homem, a sensibilidade
pode manifestar-se basicamente na bolsa escrotal e nos cordões espermáticos. Na mulher, é nas mamas que se
manifesta a sensibilização determinada pela parasitose.
A sintomatologia geral é de perturbação do sistema linfático causada pelas filarias (larvas e adultos). É
freqüente a linfagite, isto é, a inflamação dos vasos linfáticos devido a presença dos parasitos e suas toxinas.
A inflamação enfraquece as paredes dos vasos linfáticos podendo ocorrer sua ruptura e escoamento da
linfa, determinando edemas. A presença de filarias determina, igualmente, reações retículo-endoteliais para
destruir os parasitos. Com isto, a camada endotelial torna-se espessa, esclerosa-se, enruga-se e, às vezes,
estratifica-se.
A obstrução dos vasos linfáticos determina o bloqueio da corrente linfática e conseqüente formação de
varizes linfáticas, cuja evolução culmina com a elefantíase, altamente deformante.
A filariose ocorre com mais freqüência nos membros inferiores, região inguinal, órgãos genitais externos
(escroto, pênis, vulva) e mamas.

Diagnóstico
Clinico:
É difícil devido a semelhança das alterações provocadas pela Wuchereria bancrofti e outros agentes
etiológicos com efeitos parecidos.
Numa área endêmica, a história clínica de febre recorrente associada com adenolinfagite pode ser
indicativo de infecção.
Laboratorial:
Pesquisa das microfilárias no sangue periférico.

Tratamento
O medicamento contra o parasito é o citrato de dietilcarbamazina (DEC).
Na correção de alterações iniciais: intensiva higiene local, com uso de água, sabão e cremes antibióticos,
para evitar infecções bacterianas que agravam o quadro. Deve-se regularmente exercitar o membro afetado,
para promover o fluxo de linfa. Também recomenda-se o uso de meias elásticas que, por compressão externa,
ajudarão a reduzir o edema.
Correção dos danos linfáticos pode ser feita através de cirurgia e, nos casos avançados de elefantíase de
membros, escroto ou mama, a cirurgia plástica é indicada.

Profilaxia
É realizada através de adequado tratamento médico dos portadores da moléstia e eliminação do mosquito
transmissor.

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