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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ

CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA


GEOGRAFIA AGRÁRIA - PROFESSOR LÁZARO TELES

Belém, 20 de março de 2020

Antonio Rodrigo Rocha Pereira - 20170831197


Laura Stefanie Ferreira Cardoso - 20170831247

A RENDA DA TERRA

Resenha acerca do texto:

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. A Renda da Terra. In: ______. Modo de Produção


Capitalista, Agricultura e Reforma Agrária. Cap. 6, A Renda da Terra. São Paulo: FFLCH,
2007, p. 46 - 65.

1. Introdução

Em sua obra, o autor discute acerca das diversas “rendas da terra” identificadas no
campo. De forma simplificada a renda da terra é uma fração da mais-valia produzida no
campo.

“[...] a renda da terra é uma fração da mais-valia, ou seja, é, mais precisamente,


componente e específico da mais-valia. Para Karl Marx, mais-valia é, no modo
capitalista de produção, a forma geral da soma de valor (trabalho excedente e
realizado além do trabalho necessário que por sua vez é pago sob a forma de salário)
de que se apropriam os proprietários dos meios de produção (capitalistas e ou
proprietários de terras) sem pagar o equivalente aos trabalhadores (trabalho não
pago) sob as formas metamorfoseadas, transfiguradas de lucro e de renda fundiária.”
(OLIVEIRA, 2007)

Assim, a renda da terra é um componente da mais-valia relativo ao campo, e obtida


através do excedente além da produção necessária para o pagamento do salário. Oliveira
disserta acerca de nove tipos de renda da terra: Renda da terra diferencial I, Renda da terra
diferencial II, Renda da terra absoluta, Renda da terra de monopólio, Renda da terra Pré-
Capitalista, Renda da terra em trabalho, Renda da terra em produto, Renda da terra em
dinheiro, e Renda da terra Pré-Capitalista: O preço da terra. As Rendas da terra podem ser
exemplificadas por meio da tabela abaixo:
2. Renda da terra diferencial I

A renda da terra diferencial I é dividida em duas partes: Fertilidade das terras, e


Localização das terras. A Fertilidade das terras é definida como a renda diferencial obtida
através do monopólio do solo mais fértil. Isto pode ser analisado na parte B da tabela.

O terreno A produz 50 sacas, o terreno B produz 45, e o terreno C produz 40. Na


coluna “Renda da terra diferencial I Total”, o dono do terreno A obteve uma renda de
1.000,00, o dono do terreno B 570, e o dono do terreno C ficou com sua renda da terra
praticamente nula. A explicação para isto é simples: o dono do terreno A possui o solo mais
fértil. Consequentemente sua produção é melhor, e ele consegue pagar todas as despesas da
produção, pagar os funcionários, repor o que foi gasto, e tomar para si uma fração da mais-
valia: a renda da terra. O mesmo ocorre com o dono do terreno B, apesar de não possuir um
solo tão fértil quanto o do proprietário anterior, sua produção é o suficiente para pagar
despesas e funcionários, repor o que foi gasto, e obter a renda da terra, ainda que um pouco
menor. O dono do terreno C possui o pior solo. Por conta disso, não consegue extrair Renda
da terra de sua mais-valia, o dinheiro obtido é utilizado para o pagamento de salários e
despesas, e a reposição. O lucro fica para si, porém sem a fração da mais-valia.

A localização das terras pode ser definida como a Renda diferencial obtida através da
localização das terras. Indo para a parte C da tabela, observa-se que além de possuir o melhor
solo, o dono do terreno A também tem sua propriedade localizada a pouca distância do
mercado. Graças a essa vantagem, não gasta tanto em fretes, preservando a alta renda
diferencial ao final da produção. O dono do terreno B tem sua propriedade localizada a uma
distância mediana, e o dono do terreno C enfrenta uma enorme distância para levar seu
produto ao mercado. Como resultado disso, paga um alto valor com fretes, afetando
intensamente sua renda da terra diferencial. A renda da terra diferencial I independe do
investimento de capitais na produção específica. É esta sua diferença em relação à Renda
diferencial II.

3. Renda da terra diferencial II

A Renda da terra diferencial II é aquela que depende diretamente de capitais na


produção específica. Digamos que o dono do terreno C busque táticas para aperfeiçoar sua
produção. Seu solo não é tão fértil, então ele investe capitais em fertilizantes para aumentar
sua produção. Ao final da colheita, ele passa de 40 para 50 sacas, igualando-se ao dono do
terreno A. Não satisfeito, ele investe ainda mais em sua produção, e já consegue 60 sacas na
colheita seguinte. Este é um exemplo de Renda da terra diferencial II. A fração da mais valia
foi retirada do investimento direto de capitais na produção específica.

4. Renda da terra absoluta

Como se deve imaginar, grandes proprietários de terra possuem variados tipos de


terreno, tanto dos mais produtivos quanto dos menos. Sua renda é obtida mediante a elevação
dos preços dos produtos agrícolas acima do preço de produção geral o lucro extraordinário
obtido, não sendo fração do trabalho excedente, mas sim, fração da massa de mais-valia
global dos trabalhadores em geral da sociedade. Ou seja, toda a sociedade é obrigada a pagá-
lo. “Na base, portanto, a renda da terra absoluta resulta da posse privada do solo e da oposição
existente entre o interesse do proprietário da terra e o interesse da sociedade como um todo,”
Como resultado, a exemplo da “Parte C” na tabela a base de custo do preço dos
produtos de origens das melhoras terras e/ou com menores distancias (terrenos A e B), são
equiparados ao custo do terreno menos produtivo. Pois o monopólio das três terras tira a
necessidade de uma oferta competitiva.

5. Renda da terra de monopólio

Quando se tem controle de algum produto com características especiais que o tornam
único, o seu produtor é considerado como tendo o monopólio dele. Ou seja, diferente de uma
produção de um bem de consumo necessário para a população, e que, portanto, teria pressão
social de precificação, a renda de uma terra de monopólio é determinada apenas pelo desejo e
pela capacidade de pagamento dos compradores, não dependendo, portanto, do valor dos
produtos (quantidade de trabalho necessário para ser produzida) ou mesmo do preço geral de
produção.

6. Renda da terra pré-capitalista

Também denominada de não capitalista, camponesa, é diretamente produto excedente.


Nasce, portanto, diretamente na produção, ao contrário da renda da terra capitalista, que
nascendo na circulação é sempre sobra acima do lucro médio, ou seja, fração da mais-valia. A
renda da terra pré-capitalista aparece em três formas distintas: renda da terra em trabalho,
renda da terra em produto e renda da terra em dinheiro. Porém, não se trata de uma forma de
renda que não pode aparecer sob o capitalismo. Não sendo produzida sob relações
especificamente capitalistas de produção, baseadas, pois no trabalho assalariado, mas sim, é
produzido através de relações não capitalistas de produção.

6.1. Renda da terra em trabalho

É a forma mais simples da renda da terra, pois o camponês, produtor direto com a
família e com os instrumentos de trabalho que lhes pertencem de fato ou de direito, durante
algum período, trabalha as terras de outrem recebendo em troca apenas o direito de lavrar
parte dessas terras para si próprio. É o caso dos dias de trabalho (corvéia) que os camponeses
servos, tinham que pagar ao senhor feudal no modo feudal de produção. Para que estas
relações ocorressem era necessário que existissem relações pessoais de dependência, de
subordinação pessoal, ou, como preferiu Karl MARX (1986), "servidão no verdadeiro sentido
da palavra". Ou seja, o senhor só lhes podia extrair o trabalho excedente mediante a coerção
extra econômica.
6.2. Renda da terra em produto

Origina-se do fato de que o camponês cede parte de sua produção ao proprietário da


terra, pelo fato deste (o proprietário) ter cedido o direito para que ele cultivasse a terra. Como
se pode observar, nessa forma da renda da terra pré-(não)-capitalista a coerção (elemento
fundamental da renda em trabalho) é substituído pelo direito, muitas vezes, expresso em
contratos (orais ou escritos). Assim, estas formas de renda em trabalho, renda em produto e
renda em dinheiro, tiveram as suas existências (origem, portanto), condicionadas pelos
diferentes estágios de desenvolvimento da sociedade feudal em particular. Refletem, portanto,
diferentes graus de desenvolvimento das relações sociais no interior de uma sociedade, onde
sob o capitalismo, o pagamento do tributo não é feito mais de forma natural, mas
condicionado por um acordo, por um contrato ou por lei.

6.3. Renda da terra em dinheiro

A renda da terra em dinheiro origina-se da conversão, da simples metamorfose da


renda da terra em produto (que por sua vez é oriunda da transformação da renda da terra em
trabalho em produto) em renda da terra em dinheiro. Ela difere, pois da renda capitalista da
terra, que sempre é excedente acima do lucro médio, por ser caracterizada pelo pagamento por
parte do camponês ao proprietário da terra, de uma certa quantia estipulada previamente, em
contrato ou não, em dinheiro. Assim a renda da terra em dinheiro é resultado da conversão por
parte do camponês de uma parcela da sua produção (em geral familiar) em dinheiro, para
entregá-la ao proprietário da terra. Por isso é fundamental que os produtores diretos
convertam sua produção em mercadoria, ou, por outras palavras, é necessário que estes
trabalhadores sejam produtores diretos de mercadorias. É deste processo que decorre a relação
necessária com o desenvolvimento da sociedade, sendo, pois, a renda da terra em dinheiro a
forma de renda pré-(não)-capitalista da terra mais desenvolvida.

6.4. O Preço da Terra

O preço da terra no modo capitalista de produção (para proprietários de terra e para os


capitalistas) aparece, portanto, como juro do capital com que compra a terra e, por
conseguinte, o direito à renda. Por isso, o preço da terra é regulado, de um lado, pelo
montante da renda da terra e, de outro, pela taxa média de juro no mercado de capitais. Desta
maneira, o preço da terra varia com as oscilações da taxa de juro no mercado de capitais.
Quando esta taxa sobre, o preço da terra baixa, quando, ao contrário, a taxa baixa, o preço da
terra eleva-se. Dessa forma, o comportamento do preço da terra é inversamente proporcional à
taxa de juro.

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