Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desenvolvimento
Econômico
• David Ricardo (1772-1823) ocupou-se tanto da formação da riqueza nacional, como de sua distribuição
entre capitalistas, trabalhadores e proprietários de terras.
• Segundo ele, o grande problema do crescimento econômico estava na agricultura, incapaz de produzir
alimentos baratos para consumo dos trabalhadores; isso elevava os salários nominais e os fundos de
salários, necessários para adquirir meios de produção e aumentar o nível do produto.
• Na verdade, a grande preocupação de Ricardo era determinar as leis que regulam a distribuição do
produto entre proprietários, capitalistas e trabalhadores na forma de renda, lucros e salários. Essa
distribuição dependerá, sobretudo, da fertilidade do solo, da acumulação de capital e do crescimento
demográfico, bem como “da habilidade, engenhosidade e dos instrumentos empregados na agricultura”.
Esta seria a principal questão da Economia Política (Ricardo, 1982).
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• A massa salarial (𝑤𝐿), sendo o principal item de custo, recebeu de Ricardo um tratamento especial.
Se o custo da alimentação se elevar, os salários sobem e o fundo de salários precisar aumentar mais
do que proporcionalmente ao acréscimo do emprego; com isso, comprime-se a taxa de lucro e a
acumulação de capital.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Ricardo não enfatizou o valor em si, mas os fatores que afetam as variações do valor. Continuava com
a ideia smithiana de que os preços das mercadorias são proporcionais ao volume de trabalho
incorporado. A tecnologia, afetando a produtividade, faz variar o valor de um bem. Porém, ela
também afeta os custos do capital, o que influencia o preço do bem final.
• Na margem extensiva de cultivo, determina-se o valor pelos custos marginais formados pelos salários,
tendo em vista que a renda da terra se torna nula. O nível dos lucros fica determinado pelos custos
salariais.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Quando a economia passa a ocupar terras menos produtivas, os salários sobem, porque fica mais caro
produzir alimentos para consumo dos trabalhadores. Por outro lado, os salários se reduzem com a
queda do preço dos alimentos, em função do abandono de terras marginais, graças à importação de
gêneros alimentícios mais baratos.
• A função de produção ricardiana apresenta uma diferença fundamental em relação à de Adam Smith,
pois incorpora a hipótese de que o volume da produção está sujeito a produtividade marginal
decrescente. Isso ocorre em virtude da necessidade de aumentar-se a produção de alimentos, pelo
crescimento demográfico, o que leva a economia a utilizar terras cada vez menos férteis, estendendo a
fronteira agrícola.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Essa produtividade marginal decrescente ocorre principalmente na agricultura, uma vez que o setor
secundário está sujeito a economias de escala.
• Na margem extensiva, para um mesmo volume de capital e de trabalho obtém-se quantidade menor
de produto. Em cada tipo de terra, com um único fator variável, a produtividade marginal do referido
fator decresce. A lei dos rendimentos decrescentes implica o aumento dos custos de alimentos na
margem extensiva, elevando a taxa de salários, o que afeta a taxa de lucro.
• Nesse processo, ocorrem modificações na distribuição do produto do produto social em favor dos
proprietários de terra, em detrimento dos trabalhadores e capitalistas, definidos estes últimos como
empresários/arrendatários.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Ricardo defendia a concentração da renda em favor dos capitalistas, porque são eles os responsáveis
pela acumulação de capital e o desenvolvimento econômico. Enfatizava que as elites agrárias
embolsam uma renda que é gasta no consumo supérfluo, em detrimento da acumulação de capital.
• A expansão contínua da produção de alimentos, com mais eficiência, era necessária para alimentar os
novos trabalhadores e evitar o aumento do custo de vida. A elevação dos salários refletia-se na queda
da taxa de lucro, reduzindo a acumulação de capital. Essa renda auferida pelos proprietários,
derivava da utilização de terras cada vez menos férteis e mais distantes do mercado, em face do
crescimento demográfico acelerado.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Com o crescimento demográfico, explicado por diferenciais positivos entre o salário de mercado e o
salário de subsistência, cresce a demanda de alimentos; maiores preços possibilitam a utilização de
terras de fertilidade inferior e mais distantes do mercado consumidor.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• As terras do tipo A, com fertilidade uniforme, mas de melhor qualidade em relação às terras de outros
tipos, são utilizadas em primeiro lugar e nesse local surgem as cidades. Nessas terras, dada a maior
produtividade e a proximidade do mercado, há um incentivo natural para uso intensivo de capital,
como máquinas e equipamentos, fertilizantes e corretivos, aumentando ainda mais o rendimento e o
lucro do produtor. As terras do tipo A correspondem à margem intensiva de cultivo.
• As terras do tipo B, menos férteis e mais distantes do mercado, tornam-se viáveis com o aumento dos
preços. Como consequência, crescem os valores dos arrendamentos das terras do tipo A. Por
suposição, a distância do mercado e a fertilidade são decrescentes em direção das terras do tipo B, C,
D, E etc.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Nas áreas do tipo M, localizam-se as piores terras cultivadas e mais distantes do mercado,
constituindo a margem extensiva de cultivo. À medida que terras de qualidades inferiores e mais
distantes do mercado vão sendo utilizadas, as terras mais férteis e mais próximas do centro urbano
tornam-se mais valorizadas; essa valorização adicional transforma-se em renda fundiária, embolsada
pelos proprietários das terras.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• A renda decorre, portanto, da utilização adicional de terras de menor fertilidade. O custo de produção
da pior terra, na margem extensiva, define o preço natural. Por conseguinte, as terras melhores
apresentam renda diferencial.
• A renda que Ricardo admitiu existir corresponde à que Marx (1890) denominou de renda diferencial,
produzida pelas idênticas quantidades de capital e de trabalho nas mesmas dimensões de terras, com
fertilidades diferentes. “Essa renda é a porção do produto da terra paga a seu proprietário pelo uso das
forças originais e indestrutíveis do solo” (Ricardo, 1982).
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Ricardo também considerou a existência de renda em função de vantagens locacionais: “Se todas as terras
tivessem as mesmas características, se elas fossem ilimitadas na quantidade e uniformes na qualidade, seu uso
nada custaria, a não ser que possuíssem particulares vantagens de localização” (Ricardo 1982).
• Ele também previu a formação de renda das terras de mesma fertilidade natural e idêntica distância ao
mercado, pelo uso mais intensivo de capital, como mecanização, benfeitorias, fertilizantes, irrigação etc.
• Seguindo o mesmo raciocínio de Ricardo, Marx (1890) distingue a renda diferencial do tipo 1 da renda
diferencial do tipo 2. A renda diferencial do tipo 1 é aquela que surge pelas diferenças de produtividade do
solo, ou de vantagens de localização em relação aos mercados, sendo uniforme a aplicação de capital em todos
os tipos de terra.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Esse excedente () constitui o que denominou renda absoluta, que não altera os valores relativos das
rendas diferenciais nas melhores terras (Marx, 1890). Desse modo, a renda absoluta pode existir em
todos os tipos de solo, se o preço de mercado () for superior ao preço de produção, ou preço natural (),
determinado na pior terra, em função de sua fertilidade e, portanto, dos custos marginais.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• O liberalismo comercial ricardiano encontra aqui sua justificativa econômica, que é reforçada pela teoria das
vantagens comparativas, segundo a qual cada país deveria especializar-se naquelas produções que apresentassem
vantagens comparativas de custo, proporcionando, portanto, vantagens para todos os países envolvidos no comércio
mundial.
• “Num sistema comercial perfeitamente livre, cada país naturalmente dedica seu capital e seu trabalho à atividade que
seja mais benéfica. Essa busca de vantagem individual está admiravelmente associada ao bem universal do conjunto
de países. Estimulando a dedicação ao trabalho, recompensando a engenhosidade e propiciando o uso mais eficaz das
potencialidades proporcionadas pela natureza, distribui-se o trabalho de modo mais eficiente e mais econômico;
enquanto pelo aumento geral do volume de produtos difunde difunde-se o benefício de modo geral e une-se a
sociedade universal de todas as nações do mundo civilizado por laços comuns de interesse e intercâmbio. Este é o
princípio que determina que o vinho seja produzido na França e em Portugal, que o trigo seja cultivado na América e
na Polônia, e que as ferramentas e outros bens sejam manufaturados na Inglaterra” (Ricardo, 1982).
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• A utilização de terras cada vez menos férteis provoca crescimento de três variáveis: preços, salários
monetários e renda da terra; cinco se reduzem: rendimento físico da produção por área cultivada,
salário real, lucro absoluto, lucro real e taxa de lucro. Continuando o processo, chega-se no longo
prazo ao estado estacionário, quando a margem de cultivo se estende às terras do tipo M.
• Neste caso, serão nulos os lucros absolutos, os lucros reais e a taxa de lucro (os salários pagos
absorvem toda a renda monetária líquida) e a renda da terra é máxima, Antes, porém, de a economia
chegar no ponto M, a variação de um dos elementos considerados constantes () deslocará o estado
estacionário para o futuro. O modelo de desenvolvimento ricardiano apresenta, portanto, oscilações
de longo prazo. Os rendimentos decrescentes aceleram a chegada a chegada do estado estacionário,
enquanto o progresso técnico e as importações de alimentos e matérias-primas exercem efeito oposto.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• No processo de crescimento, pode-se utilizar mais trabalho com as mesmas quantidades de capital e
de terra. Porém, com estes fatores fixos, o produto total cresce a taxas decrescentes, ao mesmo tempo
em que se elevam os salários monetários, reduzindo os lucros. Já o crescimento econômico com
mudanças tecnológicas expande a produção por hectare e por trabalhador, reduzindo o preço dos
alimentos e a taxa de salários.
• Os lucros elevam-se porque diminui o tempo de trabalho e os custos de produção, na margem. Assim,
enquanto a função de produção de Adam Smith exibia rendimentos crescentes, com a expansão do
mercado e da divisão do trabalho aumentando a produção indefinidamente, a de Ricardo incorpora
implicitamente a variável estoque de conhecimentos (S) e introduz a hipótese da produtividade
marginal decrescente:
• 𝑌 = 𝑓(𝐾, 𝐿, 𝑁, 𝑆)
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Por suposição, as produtividades marginais dos fatores capital, , trabalho , terra e recursos naturais,
𝑁, e do próprio progresso técnico, 𝑆, são decrescentes. Embora a oferta da terra seja fixa ( 𝑑𝑁/ 𝑑𝑡 =
0), ela varia em qualidade, piorando em direção à margem extensiva. A adoção de inovações
tecnológicas (𝑑𝑆/𝑑𝑡 > 0) eleva as produtividades marginais dos fatores de produção, 𝐾, 𝐿, 𝑁,
reduzindo os efeitos perversos dos rendimentos decrescentes sobre o produto, os salários e os lucros.
• Os efeitos parciais sobre o produto, com base em variações do estoque de cada fator, são
decrescentes, chegando a um ponto em que a produção torna-se máxima.
• Quanto maiores forem os salários pagos no mercado, em relação ao salário de subsistência, tanto mais
a população crescerá e tanto maior será o número de trabalhadores procurando emprego.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Salário de Subsistência
• Adam Smith definiu o salário de subsistência como aquele que mantém a população constante.
Porém, o que foi mínimo de subsistência no século XVI já não satisfazia às necessidades do
trabalhador do século XIX. Da mesma forma, o mínimo da Inglaterra diferia do mínimo para um
trabalhador africano. Assim, para Ricardo esse salário é uma variável temporal que depende da
produtividade da terra, , e do meio sociocultural, .
• A suposição de salário de subsistência variável é muito importante na análise de Ricardo. Como ele
depende da produtividade marginal da agricultura, será função de variáveis como tecnologias,
estrutura fundiária, migrações campo-cidade, crescimento demográfico etc. Do lado institucional, ele
dependerá também do poder de barganha dos trabalhadores e de leis que possam protege-lo como a
do salário mínimo.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Salário de Subsistência
• Constata-se que o salário de subsistência, , para Ricardo, dado o marco institucional, é o salário pago
na margem extensiva de cultivo, refletindo o estado da tecnologia e as condições socioeconômicas em
um dado momento. O salário de mercado, , fica estabelecido no mercado pela interação da oferta e da
demanda de trabalhadores:
Os salários monetários de mercado, , subirão sempre que a demanda de trabalhadores crescer mais que
do que a oferta e baixarão quando ocorrer o contrário. No longo prazo, isto é, no estado estacionário, o
equilíbrio entre a oferta e a demanda do trabalho implicará a igualdade entre os salários de mercado e os
de subsistência. A demanda de trabalho , varia em proporção de acumulação de capital, , no período .
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Salário de Subsistência
Salário de Subsistência
• O capital é constituído pelo capital fixo e pelo capital circulante (fundos de salários e matérias-
primas) e cresce pela existência de fundos não consumidos, isto é, poupados. Assim, a acumulação de
capital, diferentemente de Adam Smith, é função do diferencial entre a taxa de retorno do capital e a
taxa mínima de lucro e do lucro absoluto na margem extensiva. Esse lucro depende também da
produção líquida , do salário de subsistência e, por extensão, da oferta de alimentos e do meio
sociocultural (Adelman, 1972).
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Salário de Subsistência
• Quanto maior o diferencial entre a taxa de lucro do mercado e a taxa de lucro mínima e quanto mais
elevado for o lucro absoluto na margem extensiva ), tanto mais crescerá o estoque de capital, , no
período . A definição da tenda líquida considera que na margem extensiva de cultivo a renda da terra
é nula e também não leva em conta outros abatimentos da renda líquida, como juros eventualmente
pagos.
• Havendo apropriação pelo proprietário da terra de renda proveniente do emprego de mais capital
(renda diferencial do tipo 2) e da venda do produto a preços mais elevados do que o preço de
produção (renda absoluta), o arrendatário fica, obviamente, com menos recursos para investir na
expansão da produção.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Salário de Subsistência
• Quanto maior a produtividade da terra na margem extensiva, tanto maior será a disponibilidade de
alimentos, o nível de salário de subsistência e o lucro absoluto. Em última análise, nos sistema de
Ricardo, a acumulação de capital fica determinada pelo salário de subsistência da margem de cultivo.
• A acumulação de capital pode, portanto, ser bloqueada pela redução do excedente ), pela queda da
taxa de lucro ou pela elevação da taxa de juro e dos riscos. O capital amplia-se pelo aumento chega-se
à importante conclusão de Ricardo (1982) de que os lucros dependem da produção de alimentos para
o sustento dos trabalhadores e, institucionais .
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Salário de Subsistência
• A taxa de lucro, r, subirá sempre que as inovações tecnológicas elevarem a produtividade da terra ou
da mão-de-obra, reduzindo os preços dos alimentos na margem extensiva, que diminuem os salários
pagos, , de sorte que:
Salário de Subsistência
• Como o crescimento demográfico provoca a utilização de terras menos férteis, elevam-se os custos
marginais e a taxa de lucro declina no longo prazo. O progresso tecnológico reduz essa tendência,
afastando o estado estacionário, mas ele não será suficiente para evitar o declínio da taxa de lucro,
tendo em vista a elevação dos custos das inovações. Em outras palavras, o próprio progresso
tecnológico está sujeito à lei de rendimentos decrescentes (Ricardo, 1982).
Salário de Subsistência
• A equação do crescimento do produto, no longo prazo, fica determinada pela substituição do termo da
equação anterior no lugar do termo da equação (Adelman, 1972).
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Estado Estacionário
• No sistema de Adam Smith, o crescimento econômico se reduz no longo prazo pela diminuição do ritmo da
acumulação do capital, em face da concorrência entre os empresários, que faz declinar a taxa de lucro 𝑟.
• A explicação de Ricardo é diferente: a taxa de lucro cai porque o salário natural, 𝑤∗, se eleva, devido aos
rendimentos decrescentes da agricultura, que aumentam os preços dos alimentos.
• A tendência à queda da taxa de lucro no longo prazo, com a aproximação do estado estacionário, “é
felizmente contida, a intervalos que se repetem, pelos aperfeiçoamentos das máquinas usadas na produção de
gêneros de primeira necessidade, assim como pelas descobertas da ciência da agricultura, que nos permitem
prescindir de uma parcela do trabalho antes necessário, e, portanto, reduzir para o trabalhador o preço
daqueles bens” (Ricardo, 1982).
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Estado Estacionário
• O estado estacionário muda no tempo. Ele ocorre mais cedo com crescimento demográfico mais acelerado,
que amplia a margem extensiva de cultivo para terras menos produtivas (rendimentos decrescentes), eleva
os preços dos alimentos e os salários nominais. Ele se afasta com o progresso tecnológico e a livre
importação de alimentos, que recua a margem extensiva, eleva a taxa de lucro e permite maior acumulação
de capital.
• Na dinâmica de Smith, sendo 𝑤∗ fixo, a economia estaciona com o estancamento dos investimentos e
aproxima-se gradativamente do estado estacionário. Em Ricardo, os salários de subsistência, assim como os
lucros, modificam-se sempre que se alterar o preço dos alimentos; isso ocorre, seja pelo uso de terras menos
férteis (quando o salário de subsistência sobe), seja por modificações tecnológicas na agricultura, pela
liberação de importações (quando o salário de subsistência se contrai); desse modo, a economia apresenta
oscilações periódicas, elevando ou reduzindo o ritmo de acumulação do capital.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Estado Estacionário
• O estado estacionário ricardiano é coerente com o seu meio: aquele que corresponde à sociedade A difere
daquele da sociedade B; isso explica por que os salários naturais, 𝑤^ ∗, de cada país, diferem à medida que
refletem os fenômenos econômicos e socioculturais distintos.
• Economias com muita terra e pouca mão-de-obra teriam maiores possibilidades de crescimento: o estado
estacionário estaria mais distante no tempo, em comparação com nações superpopulosas e com produção
exígua de alimentos.
• Neste último caso, a acumulação de capital acelerada expandiria a população, aproximando o estado
estacionário. Em qualquer caso, Ricardo aponta como solução o controle da natalidade e a livre importação de
alimentos. Com isso se reduziriam as pressões de demanda e a elevação do salário natural, 𝑤^ ∗.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Estado Estacionário
• Ricardo também se mostrava favorável à abolição gradual da Lei dos Pobres existente em seu tempo. Sua
justificativa era a de que o Estado, comprometendo-se a alimentar os pobres, estaria estimulando o crescimento
demográfico.
• No mesmo sentido, entendia que os contratos de trabalho deveriam ser realizados livremente, segundo as leis de
mercado; desse modo, a oferta de trabalho se manteria no nível da demanda (Meier e Baldwin, 1968).
• Com diferenciais positivos entre a taxa de lucro dos negócios e a taxa de lucro mínima, a acumulação de capital
continuaria sendo feita, estimulando o crescimento econômico e adiando a chegada do estado estacionário. A
acumulação de capital poderia ainda ser bloqueada por impostos sobre alimentos (elevando o salário natural) e por
impostos lucros (reduzindo a taxa de lucro). Tributações sobre a renda da terra e artigos de luxo eram recomendadas
por Ricardo, por não comprometer a acumulação de capital e o desenvolvimento econômico.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Adam Smith havia considerado a expansão dos mercados externos com um dos principais fatores da riqueza
das nações; porém, foi Ricardo quem estabeleceu um argumento coerente sobre as vantagens do livre
comércio para dois países, mesmo que eles possam produzir todos os bens que necessitem.
• Essa vantagem existe não importando se um dos países não tenha vantagem absoluta na produção de qualquer
mercadoria, ou seja, mesmo que ele não produza algum bem com custos mais baixos. O centra-se nas
vantagens relativas na produção dos bens, isto é, no fato de que pode ser vantajoso para um país produzir
mais de um bem do que de outro.
• Supondo, como os clássicos, que o valor seja proporcional ao trabalho incorporado, então os preços relativos
serão idênticos à razão das horas de trabalho necessárias à produção de cada bem.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Os benefícios seriam ainda maiores se o capital e o trabalho pudessem ser transferidos de um país para outro.
Porém, Ricardo considerava inviável essa transferência, tendo em vista as dificuldades de emigração e os
riscos para o capital. Em função dessa insegurança, os capitalistas acabavam se contentando com menores
taxas de lucro em seu país (Ricardo, 1982).
• Assim, diante da impossibilidade da perfeita mobilidade do capital e do trabalho em direção dos países com
maiores vantagens absolutas, os países deveriam dedicar-se à produção dos bens para os quais apresentassem
vantagens comparativas de custo.
• Se todos os países do mundo procederem dessa forma, a produtividade total dos fatores aumentará, assim
como o produto global e o bem-estar da população, gerando maior desenvolvimento econômico para todos.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• A Lei de Say afirma que a oferta gera a sua própria demanda, ou que todo acréscimo na mesma proporção da
demanda, mantendo o equilíbrio macroeconômico. Nessa economia de livre mercado não há, portanto, possibilidade
de superprodução ou escassez de produtos.
• Para Ricardo, não ocorre superprodução porque a interação entre a oferta e a demanda estabelece automaticamente
um preço de equilíbrio, o que define a composição do produto agregado. Um indivíduo produz um bem para
adquirir outro de que necessita. Ele recebe por isso dinheiro, que usa para comprar o produto que não possua.
• A moeda não tem um fim em si mesma, constituindo um véu que não exerce efeitos reais sobre o sistema produtivo.
Ela só serve de intermediária nas trocas, não tendo nenhuma outra função. Desse modo, ninguém quer entesourá-la
e ela retorna imediatamente aos circuitos econômicos para as trocas.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Desse modo, a demanda agregada fica limitada pela produção. Assim, “ninguém produz a não ser
para vender, e jamais se efetua uma venda a não ser com a interação de comprar... Produzindo,
portanto, um indivíduo torna-se consumidor de seus próprios produtos ou comprador e consumidor
dos produtos ou comprador e consumidor dos produtos de outro...
• E, portanto, não é provável que ele continuará produzindo uma mercadoria para a qual não exista
demanda... Os produtos sempre são comprados com outros produtos ou com serviços” (Ricardo,
1982). Com esse argumento, Ricardo volta a afirmar que todo acréscimo da produção, e, portanto, de
demanda depende dos custos salariais, ou do grau de dificuldade de se produzir alimentos baratos
para consumo da classe operária.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Na mesma linha de raciocínio, há argumentos de Say. Como industrial, ele sabia “que a dificuldade
não é produzir, mas vender, e que as mercadorias sempre seriam produzidas em número suficiente,
desde que pudessem encontrar facilmente seu mercado”.
• O tecelão não quer produtos por seus tecidos, mas dinheiro; o agricultor não terá dinheiro se não
produzir e não poderá comprar tecidos para vestir-se. Contudo, no final de contas o que as pessoas
precisam é de produtos e não de dinheiro. A oferta de dinheiro pode ser facilmente aumentada pelo
crédito.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
• Uma boa safra dinamiza a economia das cidades do interior, porque o comércio vende mais do que
nos anos de colheitas menos favoráveis. Em suma, os produtos acabam sendo comprados por
produtos. Assim, afirmar que as vendas vão mal é porque a oferta de produtos está baixa. A dimensão
do mercado, em qualquer em economia, dependerá do número de produtores; e quanto maior for o
nível de produção das firmas, tanto maiores e diversificados serão mercados (Say, 1983).
• Havendo livre circulação de bens e meios de transporte eficientes, as regiões com produção em
excesso de alguns produtos podem exportá-los para regiões de escassez dos mesmos. Segundo o
mesmo princípio, um país só pode pagar pelas importações de que necessita se produzir em excesso
em relação às necessidades domésticas.
• As importações são pagas, portanto, com produtos. Quanto maior for a produção destinada às
exportações, tanto mais a economia poderá importar máquinas, insumos e bens de consumo final,
aumentando o bem-estar da população nacional. Assim, quanto maior a produção agregada, tanto
mais elevada será a demanda em geral, de sorte que: “Os produtos criados fazem nascer demandas
diversas, determinada pelos costumes, necessidades, situação dos capitais, da indústria e dos agentes
naturais do país. Os bens mais demandados são os que geram maiores lucros e pagam os melhores
salários, sendo, portanto, os produzidos em primeiro lugar (Say, 1983).
REFERÊNCIAS
42
Obrigada pela atenção!