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ABORDAGENS FILOSÓFICAS EM

EDUCAÇÃO

UNIDADE II
Rineu Quinalia Filho

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Introdução
Assista ao vídeo de introdução desta Unidade:

https://player.vimeo.com/video/799266552

O que é ensinar, que significa aprender?


Desde a Antiguidade encontramos várias formas de pensar a educação e a
aprendizagem.
Vamos aqui propor a ideia de um modelo de educação participativo com a
psykhagogia, ou condução da alma, esse conceito foi estruturado e proposto pelo
filósofo grego Platão.
Eis alguns pontos que compõem o nosso conteúdo:

O que é a pedagogia participativa?

Qual a relação da pedagogia participativa e que podemos chamar de pedagogias


transmissivas.

É possível pensar a realidade da psykhagogia participativa no ambiente escolar.

Ao longo da história muitos modelos de educação foram voltados para educar as


crianças para serem reprodutoras de conteúdos e não criadoras e reflexivas.
Nas últimas décadas uma grande revolução copernicana da educação aconteceu,
começando uma efervescência de modelos educacionais que buscam dar autonomia e
emancipação aos educandos.
Essas formas de pensar a educação, por consequência, se mostra, talvez inconciliável
com os padrões mais conservadores e mercadológicos que visualizamos nas
pedagogias transmissivas. Nota-se que a ideia de uma pedagogia transmissiva parte
da premissa de que as ideias e conhecimento são pontos mais importantes da
educação e, como consequência, a experiência fundamental que o estudante deve
viver para alcançar seus objetivos é a de “receber” o que o professo e/ou o livro
oferece.

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Assim, como podemos dar as crianças o direito de participar efetivamente de seu
processo de aprendizagem?

A participação vai além de dar pequenas falas em uma aula, já que se ocasionou
pensar a participação ligada a aulas dialogadas. A participação dos educandos inicia-
se quando se é observado e direcionado uma condução a partir do contexto social e
histórico que proporcionam as vivências de cada um. Não é possível trazer a criança
para um aprendizado ativo ignorando o seu entorno e a sua forma de perceber o
mundo.

Se o aprendizado deve ser feito em conjunto, o papel do educador deve ser conduzir
os educandos de suas experiências primárias paras experiências mais sofisticadas.
Mas deve-se partir da experiência e das curiosidades individuais. Tratar os educandos
como indivíduos singulares, sendo estes formadas a partir de realidades sociais e
culturas diversas, é trata-los como um ser detentor de direito.
É tendencioso que os educadores queiram “professorar” assumindo as aulas e
buscando interferir em todo o processo. Porém, o nosso papel, é conduzir a partir das
curiosidades e perguntas iniciais. Para tanto, deve-se esperar, observar e deixar que
os educandos busquem hipóteses e façam as investigações.
Talvez seja razoável pensarmos que nessa perspectiva transmissiva, buscava-se
alcançar a todos usando de uma mesma linguagem em um mesmo tempo. Não se
considera as diferenças culturais e sociais e o tempo apropriado e necessário que cada
um necessita.
A problematização se dá no momento que que notamos que esse modo de educação
não se importa com as diferenças culturais, as idiossincrasias e a necessidades
singulares, mas pretende-se impor uma única forma, uma única verdade e uma única
cultura.

Educação Participativa
Vamos construir mais uma imagem.

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Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/12/10/ce-debatera-o-desmonte-da-politica-
nacional-de-educacao-ambiental-nesta-terca

Como um agricultor, o educador deve saber como semear e plantar as sementes.


Esse deve escolher que tipo de plantação e, por consequência, de colheita que deseja
ter. Deseja plantar monoculturas, priorizado a uniformidade de espécie e a
produtividade, ignorando os prejuízos pela degradação do solo e do uso inadequado de
fertilizantes? Ou será inteligente ao promover uma agroecologia, buscando uma
diversidade de plantas, atentando-se individualmente ao cuidado próprio de cada uma,
deixando que elas mesmas providenciam todos os nutrientes necessários para um
ecossistema saudável e sustentável?
A comparação entre a educação e a agricultura é muito antiga e parte da noção que
para exercê-las tanto o cuidado como a atenção é necessária. O filósofo Platão, no
século IV. a. C propõe uma forma de pensar a aprendizagem que parte do indivíduo e
que seja construído em conjunto com ele: em outras palavras podemos ver um embrião
de uma proposta de aprendizagem participativa.
Para que existir uma boa condução a um aprendizado o professor deve ser um
semeador. Antes de colher um fruto, é necessário plantar uma semente na alma do
educando e esperar o tempo oportuno para seu crescimento.
Às vezes o processo do brotar leva mais tempo, de acordo com o solo de cada um.
Tudo irá depender de como o educando recebe o aprendizado, tal como as condições
certas do solo para que a semente possa desenvolver.
Para saber mais assista ao vídeo:

https://player.vimeo.com/video/799266621

Assim, um agricultor inteligente busca guardar suas boas sementes para plantar em
um lugar apropriado, não desperdiçando em um pequeno jardim. Para tal àquele que
semeia deve buscar cuidar bem de suas sementes, plantando-as em um bom terreno –
sabendo qual o tipo de adubo usar e como arar, pois diferentes tipos de sementes
necessitam de cuidados distintos; e sobre a necessidade de esperar um tempo para
elas brotarem- pois diferentes tipos de sementes terão tempos distintos para aflorarem.
Além disso, o processo de colheita é demorado, exige tempo e esforço em cuidar da
planta em crescimento.

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O método que estamos elucidando valoriza os aspectos não somente éticos, mas
também estéticos contemplativos e da beleza para o educando. Para acontecer a
aprendizagem é necessária uma abertura anterior e essa não é possível se aquilo que
está sendo ensinado não partir daquilo que lhe é familiar.
Dessa forma, para além de conhecer bem a alma do educando e saber o discurso
apropriado para este tipo de alma, é necessário que o educando esteja aberto para
conhecer.
Percebemos que o filósofo Platão desenvolve um método de como conduzir as almas,
ou seja, de como fazê-las chegar a um aprendizado.
Sem um método, como ele diz, o discurso seria como um caminhar de um cego – ou
seja, sem saber para onde está indo. Nesse sentido dois pilares devem ser muito bem
estruturados:

a alma deve estar aberta e disposta a se deixar


a.
conduzir;

b. o discurso deve se atentar aos casos particulares.

O educador agricultor deve ter cuidado com suas sementes, estar atento à obra não
somente os frutos.
Conheça mais sobre as influências de Platão na educação assistindo ao vídeo:

https://player.vimeo.com/video/799266790

Veja o resumo desta Unidade assistindo aos vídeos:

https://player.vimeo.com/video/799266993

https://player.vimeo.com/video/799267098

Conclusão
A partir do que desenvolvemos na
Introdução e no Desenvolvimento cabe
concluirmos com mais perguntas: porque
estamos articulando saberes filosóficos e
pedagógicos e também porque a arte de
fazer perguntas nos a entender e querer
saber sempre mais. É por meio de

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questionamentos que conseguimos nos
forçar a nos aproximar profundamente determinadas questões que até então, podem
passar desapercebidas para nós:
Podemos tentar pensar o conceito filosófico da psykhagogia participativa no ambiente
escolar nos dias de hoje?
Pensando nos dias atuais, poderíamos aplicar a arte de condução das almas ao
modelo pedagógico da participação?
É bem clara a analogia quando pensamos que o educador em seu papel está
conduzindo os seus educandos de um lugar para outro. Mas como fazer isso de forma
que todos cheguem ao mesmo ponto?
É necessário que todos caminhem juntos em direção ao mesmo lugar?
O educador é aquele que pega na mão do educando e o leva a força ou aquele que
apenas o ajuda a caminhar?
Como podemos pensar isso, se tratando de uma realidade qual o educador está
lidando com uma sala de 30 a 40 educandos?
Não sendo possível um discurso direcionado a cada um e nem havendo um único tipo
de discurso ideal a todos os educados, podemos fazer essa analogia, buscando uma
aproximação desse educar levando em consideração a realidade dos educandos, a
saber: a faixa etária, a classe social e o tipo de vivências que eles pertencem.
Devemos partir, assim, da realidade do educando, daquilo que faz sentido em seu
mundo, de suas vivências e aprendizados prévios. Em outras palavras, a
aprendizagem deve participar de sua vida e de seu cotidiano.
A preparação de nossas aulas, as sequências didáticas e a metodologia que
usaremos, deve ser apropriado a cada tipo de turma e pensada em conjunto com suas
participações. Sabemos que mesmo havendo especificidades próprias de cada
educando, as turmas tendem a ter uma “personalidade” própria, sendo inapropriado,
nessa ótima psicagógica, a aplicação de uma mesma aula em todas as turmas. Cada
sala necessitará e construirá em conjunto um modo próprio, segundo suas
necessidades e especificidades. Para tanto que se faz necessário a construção
conjunta com os educandos, pois somente assim, o educador entenderá como melhor
conduzi-los.
Implicado nessa análise o educando deve estar aberto no momento de aprendizado, ou
seja, deve ser interessante e chamativo para ele. Como pensar uma condução ativa
sem essa premissa?
Do contrário pensaríamos em um momento que o educando se colocaria apenas como
um receptáculo vazio, obrigado a se preencher pelo “conhecimento” transmitido em
aula, levando-o a um aprendizado desinteressante, e, acima de tudo fora da realidade
prática de sua vida. Esse tipo de aprendizado transmissivo comina em um ensino
parcial, uniforme e momentâneo.
Vejamos, se o educador deve partir da realidade do educando, isso pressupõe assim,
que este já possui várias vivências e conhecimentos prévio. Invertendo a lógica de uma
educação fracassada, qual o professor é detentor de um conhecimento e o aluno
apenas aquele que recebe, pensar a educação como psykhagogia participativa é
entender que o educador é apenas um mediador do conhecimento, a saber, aquele

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que propõe caminhos a partir das escolhas individuais. E por meio desses
conhecimentos particulares que ele busca auxiliar, pelas beiradas, o caminho que o
educando trilha.
Usando-se de metodologias ativas e fugindo da clássica aula expositiva, se buscaria
inverter essa lógica transmissiva que foi enraizada no ensino. Além do mais, pensando
em necessidades individuais, o educador, visto aqui como um orientador, conseguiria
direcionar conteúdos e leituras a alguns educandos que mostram mais interesse, da
mesma forma que daria mais atenção a aqueles que tem mais dificuldade de entender
algum conceito. Ainda temos muito o que caminhar quando pensamos a aplicação de
uma educação participativa na realidade das escolas de ensino básico no Brasil.
Iniciamos propondo uma mudança de ótima sobre os educandos, não mais visto como
seres sem luz e necessitados de conhecimento, mas tratando-os como detentores de
direitos e que possuem várias vivências próprias e que podem ser usados em conjunto
com seu processo de aprendizado.

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CRÉDITOS
Imagem da capa: Imagem de https://br.freepik.com/fotos-gratis/menininha-fazendo-
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