Você está na página 1de 12

ENSINAR HISTÓRIA

Maria Auxiliadora Schmidt


Marlene Cainelli
editora scipione
4)
Atividades*
Faça uma síntese das idéias apresentadas nos
dois textos, as quais você considerou mais
importantes.
- Com base nessa síntese, redija um texto sobre
tv

os assuntos tratados. Procure explicitar sua opi-


nião sobre as idéias que você selecionou.

O saber
COMENTANDO BIBLIOGRAFIAS S IMENTANDO e o fazer
MELOGAARAS

BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de


aula. São Paulo: Contexto, 1997.
Alguns trabalhos apresentados no Segundo
históricos em
sala de aula
Encontro Perspectivas do Ensino de História, reali-
zado em 1996, constituem a base dos artigos desta
coletânea, que abordam questões como inserção de
novas linguagens no ensino da História, conheci-
mento histórico em sala de aula, políticas públicas
e propostas curriculares para o ensino da História.
Há, ainda, ampla discussão acerca da formação
de
professores de história.

PINSKY, Jaime (Org.). O ensino de Histó


ria e a criação
do fato. São Paulo: Contexto, 1984.
A maioria dos autores que compõe
m esta coletânea
trabalham diretamente com o tema
do ensino da O PROFESSOR DE HISTÓRIA E O
História. A temática que norteia
a elaboração dos TEOR ANO
COTIDIANO EM SALA DE AULA
artigos está voltada para a disc E O TEMA
ussão do fato histó-
rico como construção da histo
riografia. Os autores
dedicam-se, por exemplo,
aos seguintes temas:
construção da nação, ensino ossos adolescentes também detestam a Histó-
da História, tradições
nacionais e festas cívicas, Na Voltam-lhe ódio entranhado e dela se vin-
construção da
noção do
tempo histórico e presença MENDES, 1935, p. 41 gam sempre que podem, ou decorando o mínimo
dos segmentos popula-
res em textos de livros didát de conhecimento que o ponto exige ou se valendo
icos, bem como ideo-
logia em estudos sobre lestamente da cola para passar nos exames. Demos
livros didáticos.
ampla absolvição à juventude. A História como lhes
A EVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA. São é ensinada é, realmente, odiosa.
ANPUH/Marco Paulo:
Zero, n. 25/26, 1993. (Memória,
his-
tória e historiografia — Dos
siê Ensino de História). É dessa forma que a historiadora Elza Nadai ini-
Neste número da Revi ciava seu texto sobre a trajetória do ensino da
sta Brasileira de Hist
uma publicação da ória
Associação Nacional
de His- História no Brasil e completava indagando:
tória, há artigos dedica
dos ao ensino da Hist NADAI,
além de resenhas. Dis ória 1992/1993, p. 143 Terão os estudantes superado a idéia de que a
cutem-se à história
memória, a historiograf oral a História como é ensinada é realmente odiosa, e os
ia, a teoria da História
Bumas questões específi e al. professores, partido para a organização de outras
cas do ensino da Hist
ória. práticas pedagógicas mais significativas?

28 29
A interrogação suscitada pressupõe uma refle- dades não resolvidas. Ele deve entender que o co-
xão acerca da predominância, ainda hoje, de uma nhecimento histórico não é uma mercadoria que
metodologia do ensino da História baseada na se compra bem ou mal.
repetição enfadonha dos conteúdos pelos alunos. A aula de história é o [- Assim, a aula de história é o espaço em que um
Pelo que parece, pode-se verificar uma mudança momento em que, ciente do
embate é travado diante do próprio saber: de um
conhecimento que possui,
na forma de pensar o ensino de modo geral e o o professor pode oferecer a lado, a necessidade de o professor ser o produtor
ensino da História em particular. Essas mudanças seu aluno a apropriação do do saber, de ser partícipe da produção do conhe-
estão sendo mediadas por um conjunto de fatores
conhecimento histórico por
cimento histórico, de contribuir, pessoalmente,
um esforço e uma atividade
que rompem a sala de aula, estimulando a constru- com a qual ele retome a para isso; de outro, a opção de se tornar tão so-
ção e o compartilhamento de conteúdos por pro- atividade que edificou mente eco do que já foi dito por outros.
esse conhecimento
fessores e alunos. Assim, O que se procura é uma A sala de aula não é apenas o espaço onde se
prática docente distanciada o mais possível da ima- transmitem informações, mas o espaço onde se
gem do “professor-enciclopédia”, detentor do estabelece uma relação em que interlocutores
saber, buscando a construção de um “professor- constroem significações e sentidos. Trata-se de um
que contribui para a construção do espetáculo impregnado de tensões, no qual se
consultor”,
conhecimento de seus alunos em sala de aula. torna inseparável o significado da relação entre
teoria e prática, entre ensino e pesquisa. Na sala de
É na sala de aula que se realiza um espetáculo
aula, evidenciam-se, de forma mais explícita, os
cheio de vida e sobressaltos. Cada aula é única.
dilaceramentos da profissão de professor e os
Nesse espetáculo, a relação pedagógica é, por
embates da relação pedagógica.
essência, plural; uma relação em que “o professor
SNYDERS, 1995, p. 109
No tocante ao fazer histórico e ao fazer pedagó-
fornece a matéria para raciocinar, ensina a racioci-
gico, um dos desafios enfrentados pelo educador
nar, mas, acima de tudo, ensina que é possível
na sala de aula é o de realizar a transposição
raciocinar”.
didática dos conteúdos e do procedimento histó-
Nesse sentido, o professor de história ajuda o
rico. A transposição didática é
aluno a adquirir as ferramentas de trabalho neces-
O INRP, 1989, p. 1á [...] um processo de transformação científica, didáti-
sárias para aprender a pensar historicamente,
[Tradução das autoras.] ca até sua tradução no campo escolar. Ela permite
saber-fazer, o saber-fazer-bem, lançando os germes
pensar a transformação de um saber científico e
do histórico. Ele é o responsável por ensinar ao social que afeta os objetos de conhecimento em um
aluno como captar e valorizar a diversidade das saber a ensinar, tal qual aparece nos programas,

fontes e dos pontos de vista históricos, levando-o manuais, na palavra do professor, considerados não
somente científicos. [...] Isso significa, então, um
a reconstruir, por adução, o percurso da narrativa
verdadeiro processo de criação e não somente de
histórica. Ao professor cabe ensinar ao aluno como
simplificação, redução. [...]
levantar problemas, procurando transformar, em
cada aula de história, temas e problemáticas em Necessitam ser esclarecidas algumas questões
narrativas históricas. referentes ao processo de vivência da transposição
Ensinar História passa a ser, então, dar condi- didática pelo professor. É comum, no dia-a-dia do
ções ao aluno para poder participar do processo magistério, serem consideradas sinônimos determi-
de fazer o conhecimento histórico, de construí-lo.
nadas palavras e expressões, como procedimento
O aluno deve entender que o conhecimento histó- histórico, método ou abordagem didática, técni-
rico não é adquirido como um dom, como comu- cas de ensino, recursos didáticos, materiais e
mente ouvimos os alunos afirmarem. O aluno que estratégias de ensino. Todas elas, é claro, referem-
se a um conjunto de ações necessárias às ativida-
declara “eu não sirvo para aprender História” evi-
des didáticas que não têm o mesmo significado.
dencia a interiorização de preconceitos e incapaci-
31
30
Etimologicamente, a palavra método vem do
grego méthodos — meta, “através” e hodós, “cami- ativa do saber-fazer e das informações, reproduzir os conhecimentos numa situa-
apresenta evidentes limites metodológi- ção diferente daquela da aula. Muito liga-
nho”. Em didática, essa palavra pode significar os cos. Mesmo que se apóie sobre uma pro- da à concepção descritiva da História,
meios colocados em prática, racionalmente, para blemática eficaz e respeite as exigências essa exposição propicia ao professor deri-
obtenção de um resultado determinado. No ensino de clareza na exposição, a aula magistral var para uma perspectiva factual do pas-
sado, que passa a ser lido com base em
da História, esses mencionados meios podem ser sempre mantém o aluno numa posição
de assistente. Nada indica que ele possa um modelo determinista.
relacionados, também, com a aplicação de méto-
dos de aprendizagem por repetição ou por desco-
brimento, métodos etnográficos ou descritivos,
métodos de resolução de problemas, como o estu-
do de caso, e os métodos de investigação. Muito usada no ensino fundamental, no do a ganhar a participação e o interesse de
O conceito de método é mais amplo que o de terceiro e no quarto ciclos, esta exposição seus alunos. Na maioria das vezes, o pro-
fessor realiza questionamentos, que são o
técnica. Esta é o instrumento ou a ferramenta para consiste em fazer o aluno participar, de
forma constante, da aula. Interrogado com coração desse método, o que o leva a res-
o processo de ensino-aprendizagem. Trata-se, ponder rapidamente a suas próprias inter-
questões individuais ou coletivas, mobili-
igualmente, de um recurso didático, como a utili- zado no contexto de comentário de docu- rogações sem deixar tempo aos alunos
zação de um filme por meio de sua exibição pelo mentos ou no planejamento, o aluno é para reflexões e sem retomar seus even-
videocassete. Recursos são os materiais disponí- levado a empregar ativamente os conheci- tuais erros. Além disso, pode colocar ques-
mentos informativos ou metodológicos tões fechadas que apelam a um tipo de
veis para a ação didática. Entre eles, estão os recur-
adquiridos em trabalhos anteriores. Atra- conhecimento, e não a uma reflexão, ou
sos humanos, dentre os quais se destaca o profes- tivo por ter caráter interativo, que dá a colocar questões que não possam ser iden-
sor. Podem ser denominadas estratégias de ensi- impressão de a classe participar da cons- tificadas com um conjunto de problemáti-
no todas as formas de organizar o saber, didatica- trução de seu próprio saber, esse método cas. Essa exposição traz o risco de dar ao
tem limites. Ele pressupõe, para ser eficaz, aluno uma concepção positivista da His-
mente, por meios como o trabalho em grupo e a plena colaboração da classe, que, muitas tória, que significa mais a restituição cole-
aula expositiva. vezes, prefere assistir, passivamente, às tiva de uma pseudoverdade histórica que a
Em relação à transposição didática do procedi- intervenções do professor, o qual é obriga- reconstrução hipotética do passado.
mento histórico, procura-se uma significação dife-
rente. Busca-se a realização, na sala de aula, da ati-
vidade do historiador, a articulação dos elementos
constitutivos do saber histórico com os do fazer
O objetivo desta exposição é fazer o aluno em um comentário de documento segun-
pedagógico. Assim, o objetivo é fazer o conheci- do regras precisas (observação, classifica-
ser o ator de sua formação. Privilegiando
mento histórico ser ensinado de tal forma que dê a auto-aprendizagem experimental em ção e estabelecimento de relações), dirige-
ao aluno condições de participar do processo do detrimento da transmissão de saber já pro- se a uma idéia geral, que produz o texto
fazer, do contar e do narrar a história. duzido, esse método permite ao aluno escrito. Eficaz sob o ponto de vista meto-
apropriar-se de processos intelectuais. Ele, dológico, essa exposição é discutível do
Os principais métodos ou as principais maneiras ponto de vista epistemológico, pois pres-
igualmente, faz o professor levar em conta
de ensino na sala de aula são a aula ou a exposi- a classe real, e não aquela com que possa supõe que o documento tenha uma verda-
ção magistral, a aula ou a exposição dialogada, e a sonhar. Além disso, o professor trabalha de objetiva, que fará um questionamento
exposição construtivista. baseado em problemas metodológicos e orientado, inevitavelmente, surgir. A expo-
lacunas nocionais dos alunos, bem como sição hipotético-dedutiva supõe a defini-
explorando suas representações e expec- ção preliminar de um modelo teórico
tativas. Baseado ainda, mais que os prece- explicativo, cuja exploração de um ou
dentes, na exploração de “suportes peda- mais documentos pode ou não confirmar;
Trata-se de um método tradicional, que e superior. Além da magia da voz, o pro- gógicos” (em especial nos documentos, obriga, então, a elaboração de uma nova
permite transmitir muitas informações fessor também pode recorrer a alguns chamados mediadores), esse método apre- grade de leituras. Esse procedimento é o
em pouco tempo. Dirigido a alunos documentos para atrair a atenção dos senta duas variantes: exposição indutiva e mais próximo do utilizado pelo historia-
motivados, mobiliza perfeitamente os alunos e ilustrar seus propósitos exposição hipotético-dedutiva. A primeira dor, que constrói seu conhecimento por
pré-requisitos nocionais e metodológi- esse método, que privilegia a transmissão vai do concreto ao abstrato e, com base meio de questionamentos preliminares.
cos. É mais utilizado nos ensinos médio do conhecimento em lugar da aquisição
Esses métodos apresentam vantagens e desvan-
tagens. É importante escolher o mais eficaz em
of função das necessidades da classe e seguir algu- Qualquer que seja seu tipo, é Não existe verdadeira produção
mas recomendações fundamentais, como: o professor quem controla pelo aluno. Ele passa a ter a
diretamente o que será registrado. sensação de que a História
* recusar exaustivamente a erudição em prol de Os tipos de abordagem ou
Facilita o tratamento de certos consiste em copiar. Podem-se
métodos foram analisados
uma recomposição didática fundada na escolha por AUDIGIER, 2001 aspectos delicados ou polêmicos. alternar fases de tomar notas, de
de saberes e do saber-fazer essenciais, de docu- [Tradução das
escutar explicações ou de
manipular documentos.
mentos esclarecedores e de problemáticas per- autoras.]

tinentes;
colocar o aluno, o mais possível, em situações
em que ele seja participante da construção de
Situação de aulas sequenciais
seus saberes, pois o professor, hoje, não mais dá O professor intercala explicações, atividades e
aula à classe, mas baseado nela e com ela; produções de texto escrito. Certas fases podem ser
transmitir, com paixão e competência, o interes- dialogadas.
se por uma matéria indispensável à formação
de um cidadão esclarecido.

Com base nos métodos expostos, algumas situa


Atividades com participação dos Risco de desmobilização e
ções de sala de aula podem ser analisadas: alunos. A variedade de situações indiferença se o aluno não
permite mais facilmente prender a identificar claramente a relação
Situação de explicação continua Classificações baseadas atenção dos alunos. Possibilita entre a atividade e a produção
no trabalho de SALINERO esclarecimentos e trocas entre escrita. As fases subsequentes
O professor conduz a explicação com O auxílio FRANÇOIS & THILLAY, 1996 aluno e professor devem ser bem preparadas.
eventual de documentos; os alunos acompanham a
Numerosos suportes podem ser Certos instrumentos exigem muito
explicação e copiam a lição
utilizados, e o retorno decorrente tempo e seu uso ultrapassa 10 ou
de seu uso é imediato. Os temas 15 minutos, tempo que pode durar
trabalhados e os documentos uma sequência de trabalho do
devem ser curtos, constituindo um aluno. Abordar um só aspecto de
Registram, mas sem aprendizagem Possibilita “fazer rápido”, mas sem conjunto particularmente coerente determinado documento complexo
particular. Situação tranquila suscitar atividades cognitivas nem pode fragmentar a aprendizagem.
de esclarecimento
fornece um conjunto coerente ao criar situações
aluno, que procura aprender e Também não possibilita fazer Maneira de estar mais perto da Exige grande trabalho de
reproduzir emergir o saber-fazer e as atividade de cada aluno e de preparação. E mais difícil ser
dificuldades do aluno exercer seu papel nos momentos realizada por professores iniciantes.
de esclarecimento. Situação menos
O contato entre o aluno e O fatigante, mas difícil de ser
Documentos de natureza variada
podem ser utilizados pelo professor doc umento € pouco ou quase realizada em classes numerosas
Para abordar documentos mais nenhum
difíceis, é uma solução perfeita Pode ser feita seguindo os mais Dificuldade em dividir a
Nesse caso, deve ser tão somente variados procedimentos. Mas deve aprendizagem relacionada com a
uma fase do trabalho sempre estar relacionada com as produção de texto escrito em
atividades dos alunos e limitar-se a sequências equilibradas. A obstinação
de ensino constante e ser produto de seu trabalho em equilibrar a aprendizagem
Permite avançar com os programas, Atividade
fatigante Assim, durante cada sequência do curso
concluir, se necessário for, uma particularmente
não deve conduzir a escolhas
lição, ou abordar um ponto essa situação não pode ser
sma classe artificiais e à monotonia.
delicado, novo para os alunos reproduzida em uma me
Situação tranquila para o professor de modo contumaz
| Situação de trabalho com dossiês
) T : a
4 O professor, após fornecer as regras aos alunos, Texto
orienta-os em seu trabalho sobre um dossiê, que Zadig, o sábio da Babilônia, também o mais belo cavalo do rei
comportará, ou não, produção escrita. estava decepcionado com seu casa- fugira para as Campinas da Babilô-
mento e procurou se consolar com o nia. Os perseguidores do cavalo, tão
estudo da natureza. Segundo ele, nin- esbaforidos quanto os da cadela, en-
guém poderia ser mais feliz do que contraram-se com Zadig e pergunta-
O aluno deve exercer grande Dificuldades em trabalhar com um “um filósofo que lê o grande livro ram-lhe se não vira passar o animal.
esforço durante um longo período conjunto de documentos, de
aberto por Deus diante dos nossos O sábio respondeu, explicando:
Suas atitudes de desvio ou de fuga respeitar as regras, de procurar em olhos”. Fascinado por essas idéias, e “É o cavalo que melhor galopa
da concentração durante as livros. Essa situação não é
atividades podem ser rapidamente como a esposa se tornara mesmo [...), tem 5 pés de altura e os cascos
tranquila para o aluno, mas
interrompidas pelo professor rapidamente ele vai adquirindo a “difícil de aturar”, o sábio recolheu-se muito pequenos; sua cauda mede 3
postura de recorrer ao professor e a uma casa de campo e não se ocu- pés de comprimento e as rodelas de
aceitar não apenas respostas, mas pou, por exemplo, em “calcular quan- seu freio são de ouro de 23 quilates;
indicações sobre como encontrá-las tas polegadas de água correm por usa ferraduras de prata de 11 dená-
segundo sob os arcos de uma ponte, rios”.
Abordar todos os tipos de Essa situação supõe que o ou se no mês do rato cai uma linha “Que caminho tomou ele?”,
documentos e programar professor exija, se não os
cúbica de chuva a mais que no mês perguntou então um dos oficiais do
numerosas atividades. Os alunos resultados, pelo menos um
do carneiro”. Tais cálculos não o cati- rei, “Não sei”, respondeu Zadig, “não
podem trabalhar em grupos ou trabalho contínuo, e demanda que
individualmente. Ambiente de vavam; o que lhe interessava era, o vi nem nunca ouvi falar nele”.
o aluno preste conta das atividades
classe bem livre: pode-se olhar um sobretudo, o estudo das propriedades Zadig foi preso, suspeito de ter
a cada intervalo regular das aulas
mapa, procurar num globo dos animais e das plantas. Zadig aca- roubado a cadela da rainha e o cava-
terrestre. Demonstra ser útil para bou adquirindo tal sagacidade que lo do rei. Os animais, todavia, apare-
remediar as lacunas ou a conseguia apontar “mil diferenças ceram logo em seguida, livrando-se
inexistência de trabalhos em casa onde os outros homens só viam uni- assim o moço da acusação. Apesar
formidade”. disso, os juízes aplicaram-lhe a multa
Grande disponibilidade para ajudar Exige grande trabalho de
cada aluno a avançar, conforme O moço entrou logo em apuros — “por dizer que não vira o que tinha
preparação, supondo que o
seu ritmo. Meio para conhecer professor pesquise o que os alunos por causa disso. Certo dia passeava na visto”. Paga a multa, os magistrados
cada aluno podem fazer, de forma razoável, orla de um bosque quando viu apro- finalmente resolveram ouvir as expli-
em 30 minutos ou em uma hora ximarem-se, esbaforidos, um eunuco cações do sábio da Babilônia:
da rainha e vários oficiais. Os homens [...] “Juro-vos [...] que nunca vi
Uma revisão em cada aula é As aulas não devem ser repetitivas
necessária.
pareciam à procura de alguma precio- a respeitável cadela da rainha, nem o
Mas todos os tipos de para os alunos permanecerem
produção de texto
sidade perdida. Com efeito, o cunuco sagrado cavalo do rei dos reis. Aqui
escrito são motivados. O que precisa ser
possíveis. À medida que avance na perguntou a Zadig se ele não tinha está o que me sucedeu: andava eu
retido, ou não, deve ser indicado
produção, o aluno ou o grupo visto o cachorro da rainha, que estava passeando pelo bosque onde depois
claramente no estatuto de cada
pode preparar um trabalho sobre a desaparecido; este respondeu-lhe
documento e, no caderno, devem encontrei o venerável cunuco e o
lição com base em um plano e em com uma correção: tratava-se de uma muito ilustre monteiro-mor. Percebi
ser registrados os elementos que
regras dados pelo professor cadela, e não de um cachorro. E pros-
precisarão ser retidos na areia pegadas de um animal, e
seguiu: “E uma cachorrinha de caça facilmente concluí serem as de um
que deu cria há pouco tempo; man- cão. Leves e longos sulcos, visíveis
A RELAÇÃO DO MÉTODO COM
O
queja da pata dianteira esquerda e nas ondulações da areia entre os ves-
tem orelhas muito compridas”. “Viu-a tígios das patas, revelaram-me tratar-
O ENSINO DA HISTÓRIA então?”, tornou a perguntar, impacien-
MA TEME
Tuma se de uma cadela com as tetas pen-
te, o eunuco, “Não”, respondeu Zadig, dentes e que, portanto, devia ter
Com um episódio, pode-se refletir “nunca a vi e nem mesmo sabia que a
acerca de dado cria poucos dias antes. Outros
alguns caminhos metodológicos poss rainha tinha uma cadela”. traços em sentido diferente, sempre
íve is, como o
método indutivo e os indícios Justamente naquela ocasião, marcando a superfície da areia ao
utilizados nesse
método para chegar ao conhecime nto hist por um desses caprichos do destino, lado das patas dianteiras, acusavam
órico.

36
ter ela orelhas muito grandes; e como, Em seguida, Zadig explicou aos
Ouvindo histórias de outras épocas
além disso, notei que as impressões juízes admirados como, usando o mes-
de descrever o A inglesa Maria Graham esteve no Brasil durante os anos de 1821 a 1823 e,
de uma das patas eram mais fundas mo método, fora capaz

que as das outras três, deduzi que a cavalo do rei sem tê-lo jamais visto. no decorrer de suas viagens pelo nosso país, escreveu um diário em que relata, dia
da nossa augusta rainha man- a dia, fatos interessantes que vivenciou.
cadela CHALOUB, Sidney. Visões da
quejava um pouco” Le liberdade. São Paulo: Companhia 29 de setembro de 1823.
das Letras, 1990. p. 48
Fui ao asilo de órfãos, que é também o hospital dos expostos. Os rapa-
zes recebem instrução profissional em idade adequada. As moças recebem
um dote de 200 mil réis que, apesar de pequeno, as ajuda a se estabelece-
rem. A casa é extremamente limpa, como também o são as camas para as
crianças expostas. Um melhoramento parcial já foi feito e ainda mais amplia-
Atividade ções deverão ser realizadas. Há grande falta de tratamento médico. Muitos
expostos são colocados na roda, cheios de doenças, com febre ou, mais fre-
Escolha um dos encaminhamentos metodológi- quentemente, com uma espécie terrível de comichão, chamada sarna, que
relacione-o com O
cos apresentados no texto e lhes é frequentemente fatal.
método de ensino da História. GRAHAM, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1990. p. 365

APLICANDO O MÉTODO CURIOSIDADES


EM SALA DE AULA A “roda dos expostos” era um local onde as mulheres que não podiam criar
seus filhos os deixavam para que fossem criados por outras pessoas. O costume de dei-
xar as crianças nas rodas foi trazido pelos portugueses para o Brasil no século XVIII.
Proposta de aula recomendada Os governantes criaram a roda com o objeti-
para a 4.º série vo de salvar a vida de recém-nascidos aban-
donados. As mães, pelo lado de fora, deixa-
vam as crianças na roda, depois a giravam,
e assim a criança era recolhida pelo lado de
dentro. Isso ajudava a manter o anonimato
de quem abandonava as crianças
“Exposto” era o nome dado às crianças
deixadas na roda

|
Mulher colocando um recém-nascido |
na roda dos expostos. |

Atividade

Reprodução fac-símile das páginas 26 e 27 da obra Historiar — fazendo, con- Discuta com sua turma sobre as anotações do diário de Maria
tando e narrando a História. São Paulo: Scipione, 2000. v. 4, de onde esta pro Graham. Registre seu comentário sobre elas.
posta foi retirada

38 59
ordem do nascimento determinava o futuro dos
Proposta de aula recomendada
vê para a 6.º série
filhos. Menino ou menina, o primogênito herda-
ria a empresa familiar. Os outros poderiam, even-
tualmente, estudar. Se fosse menina e se tornasse
Registrando a História da chefe da empresa familiar, corria o risco de ficar
sociedade européia solteira por toda vida.
A única herança que as famílias operárias
Na Europa, a partir do século XIV, os histo- podiam deixar para os seus filhos era o emprego.
riadores já tinham encontrado documentos que Assim, em muitas fábricas que surgiram na França
indicavam a relação dos jovens e das crianças durante o século XIX, os pais procuravam empre-
com o mundo do trabalho. gar seus filhos e ensinar a eles os macetes e os
No século XIV, na França, algumas jovens, segredos do ofício. Nas indústrias metalúrgicas, as
como Catarina de Siena (que veio a ser conheci- crianças atuavam primeiramente como serventes;
da como Santa Catarina), filha de um tintureiro e depois, por volta dos doze anos, trabalhavam
vigésima quarta de uma família de 25 filhos, recu- como ajudantes ao lado dos afinadores de metal.
saram-se a casar e foram obrigadas a trabalhar Já no século XX, uma das transformações
como cozinheiras para as famílias. que se consolidaram no mundo do trabalho foi a
Nessa época, era comum as meninas cola- sua passagem da esfera privada — do espaço
borarem nas atividades domésticas, fazendo o Acima e ao lado, reprodução
fac-símile das páginas 25,
doméstico — para a esfera pública — o espaço da
pão, cozinhando, lavando e arrumando a casa, fábrica. Assim, as regras, como aquelas relativas
26 e 27 da obra Historiar —
costurando e bordando. Isso acontecia nos dife- ao funcionamento e aos direitos e deveres, torna-
fazendo, contando e
rentes segmentos sociais, mas era comum nas
narrando a História ram-se, gradativamente, constitutivas dos acordos
famílias mais pobres, como entre os camponeses São Paulo: Scipione, 2002. coletivos.
Ao mesmo tempo, toda a vida dos jovens e das v. 6, de onde esta proposta No começo do século XX, havia uma gran-
crianças era controlada pelo pai. Ele determinava foi retirada de diferença entre trabalhar na própria casa ou na
até em que lugar deveria ser colocada a cama casa dos outros. O ideal para uma jovem era ficar
para os jovens dormirem. O pai decidia também na casa dos pais sem trabalhar. Se precisasse, o
qual era o ofício que os meninos deveriam seguir melhor era que permanecesse trabalhando na
No século XVIII, na França, as crianças, em casa dos próprios pais, por exemplo, costurando
sua maioria, ainda eram tratadas como adultos
por encomenda. Era somente nas camadas mais
Desde pequenas, eram colocadas como aprendi-
baixas da escala social que as jovens iam traba-
zes de algum ofício ou tinham de ajudar os pais
lhar fora de casa, na fábrica, na oficina ou na casa
nas tarefas cotidianas. Dessa forma, elas viviam a
de alguém, como doméstica.
experiência e o ritmo do mundo do trabalho, com
Ainda nessa época, trabalhar em casa tam-
seus rigores e suas imposições. Além disso, nas bém correspondia a outras duas situações distin-
comunidades em que viviam, muitas crianças le-
vavam recados e prestavam pequenos serviços tas: trabalhar em casa para outra pessoa, como os
Assim, elas participavam trabalhadores em domicílio, ou trabalhar por
tanto da vida pública —
da comunidade — como da vida conta própria, como os trabalhadores indepen-
o privada — da dentes.
família.
Por volta do século XIX, em muitas famíl Entre muitas famílias de camponeses,
ias comerciantes e artesãos, a família era uma unida-
francesas as crianças eram treinadas
para as de de produção, uma verdadeira célula econômi-
imposições e a disciplina do traba
lho industrial
ajudando o pai e a mãe nas atividades ca. Todos os seus membros eram mobilizados
de tecela-
gem que eram realizadas pela famíli para trabalhar na lavoura, no artesanato ou no
a. Na França,
durante esse século, a indústria comércio, participando da produção. Assim, no
artesanal de tece-
lagem ainda reunia a maior parte campo, os meninos ajudavam os velhos a levarem
do trabalho
operário. Nessa família-oficina. as “vacas para pastar”, as meninas trabalhavam no
em que o lugar de
morada se confundia com o local estábulo e nos galinheiros. Toda a família ajudava
de trabalho, a
a tocar o sítio ou a loja. Esse tipo de família de-

40
sempenhava um papel determinante
na educação das crianças e dos jovens.
Proposta de aula recomendada
Com o desenvolvimento e a para 5.º a 8.º séries
expansão do trabalho externo (fora de
casa) e assalariado, a família foi per- Constituição da República
dendo essa função econômica, o que Federativa do Brasil
diminuiu também parte da responsa-
Reproduzimos alguns artigos referentes aos direi-
bilidade de educar os filhos, que foi
tos de crianças e adolescentes para serem analisados.
assumida pela escola.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do
Baseado em: DUBY, Georges. Quadros Estado assegurar à criança e ao adolescente, com ab-
a vida privada dos notáveis toscanos soluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimen-
In: DUBY, Georges (Org). História da vida tação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
privada — da Europa feudal à Renascença cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à con-
São Paulo: Companhia das Letras, 1990
vivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
v. 2. p. 228; FARGE, Arlette. Famílias: a hora e
salvo de toda forma de negligência, discriminação,
o sigilo. In: CHARTIER, Roger (Org). História
exploração, violência, crueldade e opressão.
da vida privada — da Renascença ao Século
das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, [...]
1991. v. 3. p. 587-8; PERROT, Michelle
8 1.º O Estado promoverá programas de assis-
A juventude operária. Da oficina à fábrica tência integral à saúde da criança e do adolescente,
In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude admitida a participação de entidades não governa-
(Orgs.). História dos jovens — a época mentais e obedecendo os seguintes preceitos:
contemporânea. São Paulo: Companhia Ei
das Letras, 1996. v. 2. p. 98-99; PROST, $ 2.º A lei disporá sobre normas de construção
Antoine. Fronteiras e espaços do privado dos logradouros e dos edifícios de uso público e da
In: PROST, Antoine; VINCENT, Gérard (Orgs.) Foto de família. O destilador manda tirar fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim
História da vida privada — da Primeira este retrato na frente de seus alambiques de garantir acesso adequado às pessoas portadoras
Guerra a nossos dias. São Paulo: Companhia Trabalho e família confundem-se numa de deficiência.
das Letras, 1992. v. 5. p. 21, 26 e 28 mesma identidade. 8 3.º O direito à proteção especial abrangerá
os seguintes aspectos:
I — Idade mínima de quatorze anos para
admissão ao trabalho [...)
Atividades II — Garantia de direitos previdenciários e tra-
balhistas.
1. Organize um quadro para sistematizar as informações II — Garantia de acesso do trabalhador ado-
do texto lescente à escola [...]
pode usar os elementos a seguir.
VII — Programas de prevenção e atendimento
especializado à criança e ao adolescente dependente
de entorpecentes e drogas afins.
8 4.º A lei punirá severamente o abuso, a vio-
lência e a exploração sexual da criança e do adoles-
cente.
$ 6.º Os filhos, havidos ou não da relação do
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer designações dis-
Reprodução fac-símile das
2. Explique o significado de trabalho criminatórias relativas à filiação.
como atividade privada e pública, páginas 21 e 22 da obra
$ 7.º No atendimento dos direitos da criança e
trabalho domiciliar e trabalho inde Historiar — fazendo,
pendente. contando e narrando a do adolescente, levar-se-á em consideração o dispos-
3. Tendo como
rência conce refe História. São Paulo: to no Art. 204.
ção Industrial e ie E) como trabalho assalariado, Revolu- Art. 228. São penalmente inimputáveis os me-
Ro anização da família, + Construa
cons
Scipione, 2002. v. 5, de
histórica sobre o trabalho do jove uma argumentação onde foi retirada esta nores de dezoito anos, sujeitos às normas da legisla-
m na Europa no século XIX. proposta ção especial.

42
Estatuto da Criança e do Adolescente 3. Pesquise, na Constituição Brasileira de 1988, o Artigo 204. Registre em
seu caderno o que encontrou.
Em 1990, foi elaborado o Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil.
A seguir estão transcritos alguns artigos. é. Reúna-se em grupo com seus colegas e, com base nos dois documen-
Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990
tos, elaborem uma questão sobre a situação dos direitos do adolescen-
te no Brasil. Após a pesquisa, é interessante fazer um mural com a
e 2.º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze
temática que vocês pesquisaram.
anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.

ri 5.º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido
na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos funda- SO". O MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO
ua
<m)
mentais. SAT E O ENSINO DA HISTÓRIA
[...]
Art. 13 Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra crian-
ça ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da Texto
respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
[...] A adoção da metodologia da investiga-
E)
Art. 16 O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: ção na sala de aula implica algumas posturas
I — ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressal- tanto da parte do professor quanto dos alunos.
vadas as restrições legais; Do professor, espera-se amplo domínio do con-
IH — opinião e expressão; teúdo a ser trabalhado, familiaridade com a pro-
HI — crença e culto religioso; dução do conhecimento histórico e seus méto-
IV — brincar, praticar esportes e divertir-se; dos, clara consciência dos objetivos a serem atin-
V — participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação: gidos, cuidadosa seleção dos textos e demais
VI — participar da vida política, na forma da lei; recursos de ensino-aprendizagem e consequente
VII — buscar refúgio, auxílio e orientação. organização das atividades a desenvolver. Estas
últimas devem estar amarradas entre si, dispostas
CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil e Estatuto da Criança e do Adolescente numa sequência lógica, prevendo-se momentos
Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 13 fev. 2004 de sistematização dos conhecimentos adquiridos
em cada etapa e, ao final, a elaboração de uma
síntese. Do aluno, espera-se uma postura ativa
Atividades em todo o processo, e a ele devem-se oferecer
condições para exercer tal posição, para apren-
1. Faça um estudo dos dois documentos, organizando der pela descoberta. Quais seriam os procedi-
as informações em mentos constitutivos da metodologia da investi-
um quadro como este:
gação? Primeiro, partir de problemas; depois des-
construir, reconstruir e construir discursos e, por
fim, produzir uma síntese.
Partir de problemas — O ponto de parti-
da da metodologia de investigação são as situa-
ções-problema. Para ser um problema, é preciso
que o ponto de partida seja conhecido e/ou do
interesse dos alunos. As situações-problema,
assim, são constituídas em torno de elementos da
realidade imediata dos discentes ou relevantes
em sua experiência de vida, com significância
2. ins
Procure
dé o significado
signific:
2 pe so conce :
dos conceitos para os mesmos e, geralmente, situando-se no
adE seguir,
ágil do discutindo
Atcmocss com seus cole-
presente, mas não só; elas tornam a História algo
A ide Key importância que eles têm para a organização social:
“direitosS previdenciários mais interessante porque despertam a curiosida-
e trabalhistas” e “penalmente inimputáveis”. de dos aprendizes e instigam-lhes o desejo de

44 á5
tido de auxiliar os alunos
descobrir uma solução. Cumpre frisar, ainda, três argumentação sólida quanto a recusa aos “achis-
a construírem uma
aspectos importantes: primeiro, que a linguagem mos”, a posições sem a menor coerência ou con-
da formulação do problema precisa ser acessível
os discentes; em segundo sistência. Faz-se necessário, ademais, que os mes-
e/ou interessante para
lugar, que o problema pode ser gerado por um tres aceitem como válidas as visões dos alunos
que porventura sejam diferentes das que eles
artifício criado pelo professor; e, em terceiro, que
próprios defendem. Ao final do processo, portan-
as respostas para a situação-problema estão no
ou no passado, implicando a percepção to, os alunos terão reconstruído o que já foi feito
presente
quer de continuidades, quer de rupturas, quer de pela historiografia e, ao mesmo tempo, se posi-
diferenças ou semelhanças identificadas por meio cionado diante desse conhecimento.
de uma comparação relativizadora entre expe- Uma última observação refere-se à avalia-
riências históricas distintas. [...] ção: ela deve ser feita a cada etapa do processo,
Desconstrução, reconstrução e constru- com o que se permite ao professor identificar e
ção de discursos — Nesta segunda e mais longa dimensionar as dificuldades da classe, os acertos
etapa do processo, o professor, em conformidade e os erros do processo de ensino, corrigindo-os a
com os objetivos que fixar previamente, selecio- tempo e, ainda, ter uma visão mais clara sobre o
na os recursos e organiza as atividades por meio empenho e o sucesso de cada aluno.
das quais levará seus alunos a reconstruírem — VILLALTA, Luis Carlos. O ensino de História e
isto é, a construírem de novo, a elaborarem o que a metodologia da investigação. Caderno do professor
já está feito pela historiografia — o conhecimen- Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Educação/
to histórico. [...] Os recursos podem ser textos Centro de Referência do Professor
didáticos, testemunhos históricos (documentos n. 3, p. 15-22, out. 1998
escritos, objetos materiais, reproduções fotográfi-
cas de gravuras, quadros, esculturas, obras arqui-
tetônicas e outros elementos da cultura material, go
(4)
DG
filmes, depoimentos orais, tudo, enfim, o que foi Atividades '
produzido pela sociedade e época em estudo),
programas de televisão, canções e até mesmo Analise as vantagens e as desvantagens do tra-
exposições orais feitas pelo professor. [...] balho com a metodologia da investigação na
Na desconstrução, na reconstrução e na aula de história, seguindo o roteiro:
construção de discursos, é preciso pôr os alunos e atividades e atitudes dos alunos;
a raciocinarem por si, a usarem os métodos dedu-
* utilização dos documentos e do livro;
tivo e indutivo. Pelo método dedutivo, vai-se do
geral ao particular, do princípio à conclusão. Seu * atividades e atitudes do professor;
modelo é o silogismo, um raciocínio dado pela * produção de trabalho escrito.
sucessão de premissa, premissa intermediária e
Redija uma análise e uma conclusão e as entre-
conclusão. Pelo método indutivo. com base na
análise de
gue ao professor.
fatos particulares, chega-se a uma
generalização, a uma “lei”, a uma asserção-con-
clusão que explica um conjunto de fatos. [...)
k Construção de uma síntese — Além das À

sinteses parciais, feitas a cada etapa do Ne: COMENTANDO BIBLIOGRAFIAS


trabalho.
sugere-se que se conduzam os alunos a
elabora-
rem uma síntese final, retomando à questão-pro- FABREGAT, Clemente Herrero; FABREGAT, Maria Her-
blema colocada no início do processo rero. Como preparar uma aula de História. Lisboa:
e, ao
mesmo tempo, reunindo as informações Edições Asa, 1991.
e ssen-
ciais colhidas no seu transcorrer. Ne Neste trabalho, os autores pensam a sala de aula e
ssa síntese,
ademais, é crucial que os alunos
col Xquem seus como desenvolver uma aula de história no espaço
pontos de vista, elaborando uma ar
gumentação que denominam educativo. As atividades propostas
que lhes dê fundamento. Do professor,
nesse têm como pressuposto principal as técnicas e os
momento, espera-se tanto uma orientação no sen- objetivos que levam a uma aula ativa. Para tanto, os
autores estruturam o texto tendo como eixo a prá-

46 47
tica de sala de aula, os tipos de aula, os métodos e
a avaliação.

o PROENÇA, Maria Cândida. Didáctica da História. Lis-


boa: Universidade Nova de Lisboa, 1992.
O livro insere-se na categoria de manuais didáticos
para professores. Possui inúmeras sugestões biblio-
gráficas e atividades para serem realizadas em sala
de aula, sugestões de trabalho com documentos e
um ótimo capítulo sobre avaliação. Muita atenção
o
ao primeiro capítulo, em que a autora articula uma
do conhecimento constru ao
discussão entre epistemologia
histórico e educação, e também ao segundo capítu-
lo, em que são abordados temas identificados com
a relação professor-aluno e com o espaço pedagó-
O a O
gico, entre outros

j » € L e

Cc :
da História

A PROBLEMATIZAÇÃO DO
CONHECIMENTO HISTÓRICO
Recs EM SALA DE AULA

A tualmente, a preocupação com a importância


do conhecimento histórico na formação inte-
lectual do aluno faz com que um dos objetivos fun-
damentais do ensino seja o de desenvolver a com-
preensão histórica da realidade social. Assim, com-
preender a história com base nos procedimentos
históricos tornou-se um dos principais desafios
enfrentados pelo professor no cotidiano de sala de
aula. Esse desafio é um passo interessante na cons-

48
49

Você também pode gostar