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TSP III – BEHAVIORISMO

PASSO 4
Definições Morfológicas e Funcionais do Comportamento

Objetivos: 1) Responder perguntas sobre duas diferentes maneiras de se descrever


comportamentos ​(morfológica e funcional); 2) Identificar e dar exemplos desses
tipos de definição.

Ao descrever um comportamento, dois aspectos são de grande relevância: o


morfológico e o funcional.
Morfologia diz respeito à forma do comportamento, isto é, à postura,
aparência e movimentos apresentados pelo organismo (Danna e Matos, 1982, p.110).
Um termo bastante utilizado para referir-se à forma do comportamento é o termo
"topografia". Esta palavra se origina das palavras gregas “topos” (lugar) e “grafia”
(escrita) e, quando aplicada à descrição de comportamento, enfatiza referências a
posições assumidas pelas partes do corpo em relação a outras partes do corpo ou em
relação a referenciais externos.
Dois elementos são também importantes para descrever comportamento do
ponto de vista morfológico: postura e movimento. Postura é uma posição do corpo, e
pode ser descrita em detalhes ("o caranguejo estava com suas pinças abertas,
apontadas para o nariz do invasor com seus olhos para fora dos encaixes"). Várias
posturas comuns têm nome, como por exemplo: agachado, ajoelhado, posição fetal.
Os movimentos também podem ser descritos em detalhes ("a surucucu levantava a
cabeça até uns 15 cm do chão, na posição vertical, virava a cabeça para um lado, abria
a boca e soltava um ruído baixo, como o de um sopro de ar, antes de abaixar
novamente a cabeça e arrastar-se na direção de um arbusto próximo, serpenteando
mais alguns centímetros, repetidas vezes, até que o cabo da enxada..."). Nessa
descrição, o modo de arrastar-se não foi descrito em detalhe, mas apenas nomeado:
“serpenteando”, pois “todos sabem” que serpenteando é o deslocar-se da cobra
conseguido com o longo corpo contraindo-se em curvas, o ventre no chão. Como dito
acima, vários comportamentos são conhecidos pelo nome, como dar um passo à
frente, piscar, andar etc. Tanto posturas como movimentos são descritos em termos
de estruturas, ou partes do corpo e do ambiente, e suas posições relativas (perto,
embaixo etc).
O termo "função" diz respeito aos efeitos produzidos pelo comportamento no
ambiente, ou seja, às modificações que produzimos no nosso ambiente quando nos
comportamos. Na nossa vida diária, o interesse pelo comportamento se origina muito
mais pelos seus resultados, do que por sua topografia. Na linguagem comum,
referimo-nos, amiúde, diretamente aos resultados, sem darmos atenção explícita
para a topografia, cuja relevância é maior quando estamos aprendendo uma dada
tarefa. "Ir para casa", "Virar a página", "Trocar um pneu", ​são expressões que
apontam para os resultados, não para a forma​. Quais os resultados de cada
um dos exemplos? Qual a situação do livro ​antes e depois de você “virar a página”?
E do carro ​antes e depois de você “trocar o pneu” furado? Tente descrever em
detalhes as situações mencionadas em termos de ​conseqüências ou efeitos das
ações​.
Note também, que posso ir para casa andando ou de ônibus, virar a página
pegando-a pelo canto superior entre o indicador e o polegar ou por baixo, apoiando o
polegar e erguendo-a. Trocar um pneu envolve uma série de movimentos, mas pode
ser feito até, simplesmente, pedindo-se a alguém para trocar. Ou seja, diferentes
formas ou topografias de respostas (morfologia) podem gerar as mesmas
conseqüências ou efeitos no ambiente (função).
Quando você relata que o professor está com os ombros caídos, ou que abaixa
a cabeça, você está focalizando os aspectos morfológicos dos comportamentos
apresentados pelo professor (uma postura: ombros caídos; e um movimento: abaixar
a cabeça). Mas quando diz que o monitor acendeu a luz, que o mágico estalou os
dedos, ou que o monitor abriu o livro, você está apontando as conseqüências dos
desempenhos, isto é, os efeitos produzidos no ambiente (luz acesa ou apagada, ruído
característico do estalar dos dedos, ou livro aberto, respectivamente).
As definições comportamentais podem focalizar aspectos
morfológicos, aspectos funcionais, ou ambos, sendo, neste último caso,
denominadas de definições mistas.
Em uma definição morfológica, devemos utilizar como referencial o próprio
corpo da pessoa. Ou seja, ao descrever um movimento, devemos indicar a direção e
sentido do mesmo, tomando como referência as partes do corpo (cabeça, tronco, pés
etc) ou suas regiões (região central; regiões laterais: direita e esquerda; região
anterior e posterior); devemos ainda complementar a definição utilizando
referenciais externos ("A osga estava imóvel na parede, com a pata dianteira direita
para a frente, a esquerda para trás, estendida quase no sentido vertical, com a cabeça
para cima").
Na definição funcional, em geral, o referencial utilizado é o ambiente externo
(físico e/ou social), ressaltando-se as alterações decorrentes da resposta em
descrição, e não o próprio corpo (posturas e movimentos).
A seguir, apresentamos exemplos onde o mesmo comportamento é descrito
morfologicamente, funcionalmente, e morfo-funcionalmente (descrição mista).
Descrição Morfológica: A monitora estava com o dedo indicador orientado na
posição horizontal, com a ponta do dedo em contato com a extremidade superior do
botão do interruptor da lâmpada, que estava mais alta em relação à parede, e moveu
o dedo para a frente.
Descrição Funcional: A monitora acionou o interruptor. A monitora ligou a
lâmpada.
Descrição Mista: A monitora pressionou o botão do interruptor com o dedo
indicador da mão direita estendido, ligando a lâmpada.
Em situações cotidianas, somos levados a enfatizar os aspectos funcionais ou
morfológicos do comportamento dependendo do que é importante para as
circunstâncias específicas. Por exemplo, se você está ensinando a uma criança os
primeiros passos de ballet clássico, além de servir como modelo, você poderá
descrever o comportamento a ser emitido pela criança com ênfase nos aspectos
morfológicos, ou seja, destacando as posturas e os movimentos que devem ser
executados (ficar sobre as pontas dos pés com os braços abertos e girando o corpo).
Se, entretanto, você está ensinando a alguém como fazer um bolo, provavelmente
você fará descrições dos comportamentos a serem emitidos enfatizando os aspectos
funcionais (alterações a serem produzidas tais como colocar trigo ali, misturar a
massa até que fique homogênea, colocar ovos etc) sem se importar muito com quais
as possíveis topografias que poderão gerar estes resultados. Na maioria dos casos,
entretanto, lançamos mão de descrições mistas ou seja, enfatizamos posturas,
movimentos e resultados envolvidos no comportamento.
Na prática de pesquisa também é assim, ou seja, dependendo dos objetivos da
pesquisa em andamento, podemos enfatizar na descrição de comportamentos os
aspectos morfológicos, funcionais ou ambos. O importante para você cumprir o
presente passo teórico é identificar aspectos funcionais e/ou morfológicos em
descrições de comportamento, mesmo que elas não sejam essencialmente
morfológicas ou funcionais.
Bibliografia Complementar
Catania, C. A (1999). ​Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e Cognição​. Porto
Alegre: ArtMed. Danna, M. F. e Matos, M. A. (1982). ​Ensinando observação: Uma
introdução.​ S.Paulo: Edicon. Fagundes, A. J. F. (1981). ​Descrição, definição e registro
do comportamento.​ S. Paulo: Edicon

Questões de Estudo:
1. Quais são os elementos importantes das descrições morfológicas do
comportamento?
2. Defina o termo topografia de resposta.
3. Qual é a topografia da resposta que o barqueiro emite repetidamente usando o
remo?
4. Liste cinco expressões comuns que se referem aos resultados do comportamento,
e cinco que se referem à forma.

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