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REFLETOMETRIA NO DOMÍNIO DO TEMPO Page 1 of 11

MEDIÇÕES EM CABOS COAXIAIS

IMPEDÂNCIA CARACTERÍSTICA

REFLETOMETRIA NO DOMÍNIO DO TEMPO

COEFICIENTE DE REFLEXÃO

RELAÇÃO DE ONDAS ESTACIONARIAS

rev. 09-12-2013

Por PY4ZBZ

Mostrarei a seguir duas formas de medir a impedância característica Z0 de um cabo coaxial.

Parte 1
- A primeira é baseada no fato de que a impedância característica de uma linha de transmissão é
igual a sua impedância de entrada, se a linha tiver um comprimento infinito. Neste caso, o gerador
nunca vai "enxergar" o final da linha, que pode estar em curto ou aberta, ou com qualquer carga, não
importa. O gerador portanto somente vai alimentar eternamente a impedância característica da linha,
pois a sua energia nunca chega ao final da linha , onde estaria realmente a carga. Portanto, o gerador tem
como carga a impedância característica da linha de transmissão.

Como na pratica não existe linha com comprimento infinito, resolvemos o problema aplicando à linha de
comprimento finito L um pulso de duração d mais curta que o tempo que este leva para chegar ao fim da
linha. Portanto, durante a existência (duração) do pulso no gerador, o final da linha não é atingido, e o
gerador "acha" que está ligado a uma linha infinita. Mas isto é verdade somente neste intervalo de tempo
menor que o tempo para chegar ao final da linha. Estudaremos depois (parte 2) o que acontece quando o
sinal chega ao final da linha, em refletometria no domínio do tempo.

A figura seguinte mostra a montagem utilizada. Observe o osciloscópio ligado ao gerador através de
cabo muito curto, afim de poder visualizar e medir corretamente a tensão do gerador:

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O pulso de menor duração que consegui com o gerador de funções Hewlett-Packard modelo 3312A, é da
ordem de 25 ns (nanosegundos), como pode ser visto na figura 1, que mostra o pulso gerado em circuito
aberto, e com E = 2V. Sabemos que o tempo tp que a corrente elétrica leva para percorrer um
comprimento L de cabo é igual ao comprimento do cabo dividido pela velocidade de propagação Vp
neste cabo: tp = L/Vp. O cabo usado no teste é um RG058, cuja Vp é 66,7% da velocidade da luz, ou
seja , 200000 km/s.

Deduzimos que para o pulso de 25 ns, o cabo devera ter um comprimento maior que:

L = d Vp = 25 x 10E-9 x 2 x 10E+8 = 5 metros.

Foi usado um cabo de 55 metros, no qual o tempo de propagação da corrente de inicio ao final do cabo
seria de :

55 / 2e+8 = 275 ns.

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O principio da medição simplesmente é baseado na medição da força eletromotriz E do gerador (em


circuito aberto) e da tensão V do gerador quando este está ligado à uma carga R. Aplicando a lei de
Ohm, temos que:

V = E R / (Ri + R)

onde Ri é a resistência interna do gerador (no caso do 3312A, Ri = 50 ohms). Podemos deduzir que

R = Ri V / (E-V)

Por exemplo, ligamos um resistor de 75 ohms ao gerador. A figura 2 mostra que a tensão V do gerador
agora é de 1,2 V. O valor de E (figura 1) é de 2 V. Usando a formula anterior, temos R = 50x1,2/(2-1,2)
= 75 ohms.

Ligamos então o cabo no lugar do resistor. Observamos na figura 3 que a tensão V do gerador agora é de
1 Volt.

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Calculamos R = 50x1/(2-1) = 50 ohms, que é a impedância característica deste cabo RG058.

A figura 4 mostra a tensão no gerador quando se liga nele um capacitor; a figura 5, quando se liga um
indutor, e a figura 6 quando se liga o gerador a um circuito LC paralelo ou serie.

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Observe que nestes casos o pulso é deformado. No caso do capacitor, o pulso é alongado de forma
exponencial, pois o pulso do gerador, que carrega o capacitor, é seguido da descarga deste capacitor,
com a mesma polaridade de tensão. O capacitor se descarrega na resistência interna do gerador.

No caso do indutor, aparece um pulso negativo com queda exponencial, após o pulso do gerador, que
corresponde a energia devolvida pelo indutor e que tem polaridade de tensão invertida (lei de Lentz).

O circuito LC proporciona, como era de se esperar, uma descarga oscilante amortecida. Nos três casos,
TODA (desprezando-se as perdas) a energia do pulso do gerador foi devolvida ao gerador, pois circuitos
L e C são elementos conservativos de energia, ou seja, não dissipam energia, mas a armazenam para
depois devolvê-la, conservando-a.

Somente quando ligamos um resistor, a forma do pulso não é alterada, apenas a sua altura (tensão), o
que comprova que o resistor não devolve energia ao gerador, pois o resistor é um elemento dissipativo,
ou seja, o resistor dissipa toda a energia recebida do gerador (sob forma de calor, lei de Joule). Com isso
comprovamos um fato muito importante: a impedância característica do cabo é RESISTIVA (e não
indutiva ou capacitiva). Teoricamente, a impedância característica de uma linha de transmissão é dada
pela formula seguinte:

Onde L é a indutância serie, R a resistência serie, C a capacidade paralela e G a condutância paralela,


todos por unidade de comprimento dz, veja figura7:

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Se a linha não tiver perdas, ou melhor, perdas desprezíveis, então os termos R e G serão extremamente
pequenos em relação as reatâncias indutivas e capacitivas da linha. A formula da impedância
característica da linha fica simplificada, como mostrado a seguir, o que comprova mais uma vez a
natureza RESISTIVA desta impedância. (não tem termos com j)

Por exemplo, o cabo RG058 tem C = 101 pF/m e L = 252,5 nH/m, donde Z0 = 50 ohms.

Parte 2
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- A segunda forma de medir a impedância característica do cabo é baseada no seguinte fato:

A impedância característica de uma linha de transmissão é o valor da carga, que colocada no final
desta linha, não reflete nenhuma energia. Ou em outras palavras, é o valor da carga que proporciona
um coeficiente de reflexão zero, ou ainda, uma relação de ondas estacionárias igual a um, como
mostraremos depois.

A figura 3 anterior mostra a tensão do gerador ligado ao cabo de 55 metros, mas apenas durante um
tempo de 500 ns apos o pulso. A figura 8 seguinte é a mesma , mas mostrando agora até 800 ns apos o
pulso. Notamos que aparece um segundo pulso que não existe quando o gerador está em circuito

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aberto, portanto este pulso não é gerado pelo gerador. Isto pode ser visto também na primeira imagem
deste artigo, que mostra a montagem usada.

Este pulso nada mais é que o pulso gerado na origem pelo gerador e que, ao chegar ao final da linha
aberta, apos 275 ns, é totalmente refletido por não haver onde dissipar-se, e portanto chegando de volta
ao gerador, apos mais 275 ns.

O tempo de ida mais o tempo de volta do pulso é 2x275 = 550 ns. Observamos que o pulso chega de
volta ao gerador, mas com a sua amplitude diminuída pelas perdas no cabo. Podemos até calcular esta
perda: o pulso entra com 1 volt e retorna com 0,6V. A perda em dB é 20 log (1/0,6) = 4.4 dB. Esta perda
corresponde a duas vezes a perda do cabo, pois o pulso o percorreu duas vezes, ida e volta. Portanto, a
perda ou atenuação deste cabo é de 2,2dB. Como este pulso tem uma freqüência fundamental da ordem
de 1/2x40 ns = 12,5 MHz, concluímos que este cabo tem uma atenuação de 2,2 dB em 12,5 MHz. O
fabricante informa 9 dB/100m em 30 MHz, o que daria :

9 x (55 / 100) x (12,5 / 30) = 2,1 dB.

Este é o principio da refletometria no domínio do tempo: enviamos um pulso de curtíssima duração,


e observamos com ele é refletido. Este processo permite medir pelo menos três parâmetros do cabo:

1 - A relação de amplitude do pulso refletido pelo pulso incidente, com a linha aberta ou em curto
circuito, permite medir a atenuação desta linha.

2 - O tempo total levado pelo pulso para retornar ao gerador permite medir o comprimento L do cabo,
desde que se conheça a sua velocidade de propagação Vp, : o comprimento L = Vp Tp / 2.

3 - Ligando uma carga variável ao final da linha, e ajustando-a até que não haja mais pulso refletido, a
medição do valor desta carga nos fornece a impedância característica do cabo ou linha. A figura 9
mostra esta situação, quando o cabo foi terminado com um resistor de 50 ohms :

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A figura 10 mostra como o pulso é refletido quando a linha está com o seu final em curto-circuito.
Observamos que o pulso é novamente refletido, mas com amplitude invertida. Como não pode existir
tensão num curto-circuito, o pulso incidente, ao chegar no curto, cria outro pulso (o refletido) de
amplitude igual e de polaridade invertida, de tal forma que a soma dos dois é zero no ponto do curto-
circuito.

Podemos agora definir o coeficiente de reflexão de tensão  (ou RHO) : é o quociente da tensão
refletida pela tensão incidente , no ponto considerado:

Por exemplo, no final de uma linha:

aberta:  = 1.

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em curto:  = -1.

terminada com uma carga igual a sua impedância característica:  = 0.

O coeficiente de reflexão RHO de tensão pode ser calculado, em função das impedâncias da carga Za
e da linha Zo:

Normalmente, a impedância característica da linha é resistiva, Zo = Ro, simplificando a formula de


RHO:

A relação entre o coeficiente de reflexão de tensão ou corrente e a relação de ondas estacionarias ROE,
de tensão ou corrente, SWR (Standing Waves Ratio) é:

Se a reatancia Xa da carga for nula, ou seja, se a carga for resistiva, as duas formulas anteriores
ficam ainda mais simples:

(Za-Zo) / (Za+Zo) e SWR = Za / Zo ou SWR = Zo / Za, o que for maior.

A relação de ondas estacionarias pode ser medida em regime senoidal e equivale a relação entre o
máximo Vmax e o mínimo Vmin de tensão presentes na linha:

Os máximos de tensão ocorrem em pontos da linha onde a tensão incidente está em fase com a tensão
refletida, e os mínimos onde estas duas tensões estão em oposição de fase. Como as duas tensões,
incidente e refletida, circulam em sentidos opostos e com a mesma velocidade Vp, a resultante é uma
onda parada ou estacionaria.

O calculador seguinte permite calcular parâmetros como  e SWR (ou ROE) em função de Ra, Xa e

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Ro (veja formulas anteriores). Permite verificar o efeito da perda (ou atenuação) do cabo sobre a SWR,
que é sempre melhor do lado do gerador do que do lado da carga ! (quando a perda do cabo não é
desprezível), porque a potencia refletida que chega de volta ao gerador sofreu duas vezes a atenuação do
cabo: na ida e na volta . Permite também verificar as potencias envolvidas:

1 - Dados de entrada :
Potencia do gerador : 100 W (facultativo para calcular apenas SWR e )
dB atenuação total do cabo em um sentido (0=sem
Atenuação do cabo : 0
perdas)
Impedancia do cabo Ro : 50 ohms impedância característica nominal do cabo
Ra : 50 ohms parte resistiva da impedância da carga
ohms parte reativa da impedância da carga: + = ind. ou
Xa : 0
- = cap.
2 - Clique em Calcular : Calcular
3 - Resultados :
valor absoluto do coeficiente de reflexão de tensão da
|Vr / Vi| = || :
carga.
Pr / Pi = P : coeficiente de reflexão de potencia da carga.
ou seja : % da potencia estão sendo refletidos pela carga.
Pi = Potencia incidente na
W
carga :
Pr = Potencia refletida pela
W
carga :
W ou potencia irradiada pela antena (com 100% de
Potencia dissipada na carga :
eficiência !)
SWR na carga : ou ROE, relação de ondas estacionarias, na carga.
Atenuação do retorno : dB ou Return loss, da carga.
Perda por descasamento : dB ou Missmatch loss, na carga.
ou ROE, relação de ondas estacionarias, na entrada do
SWR no gerador :
cabo.
Potencia refletida no gerador : W potencia devolvida pelo cabo ao gerador

Se Za > Zo, o coeficiente de reflexão de tensão é positivo. Com Za < Zo, o coeficiente de reflexão de
tensão é negativo.

O coeficiente de reflexão de potencia é sempre positivo e é igual ao produto do coeficiente de reflexão


de tensão pelo coeficiente de reflexão de corrente (que sempre são iguais numericamente e tem sinais
opostos) .

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Observe que se a carga for uma antena, a potencia efetivamente irradiada será igual ao valor de
"potencia dissipada na carga" multiplicado pela eficiência da antena, que é sempre menor que 1
ou 100% !

A atenuação do retorno (return loss, RL) e a perda por descasamento (missmatch loss, ML) são
dados bastante usados para especificar indiretamente a impedância de carga, em aplicações
profissionais.

A atenuação do retorno indica quantos dB a potencia refletida esta abaixo da potencia incidente. Vale:
RL= -10log(P) ou RL= -20log(||).

A perda por descasamento indica quantos dB a potencia dissipada na carga está abaixo da potencia
incidente, ou seja, abaixo da potencia que ela poderia dissipar se estivesse casada com a impedância
característica do cabo. Vale : ML= 10log(1- P).

Esses dois parâmetros só devem ser usados quando o gerador (transmissor) tem impedância interna igual
(ou casada com) a impedância característica do cabo, como acontece em todo projeto profissional de
telecomunicações, ou seja, sem o uso de acoplador entre transmissor e cabo.

Veja em arquivos um simulador de ondas estacionarias RZ3.

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