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O programa proposto para as duas aulas sobre direção de arte dentro do curso

Cinema Online da AIC é uma abordagem introdutória sobre o grande universo da


direção de arte audiovisual.
As aulas de direção de arte foram estruturadas para que sejam prazerosas.
Desejo que o contato com esse grande universo estético, conceitual e plástico
venha rechear vosso repertório visual e histórico, ao fornecer ferramentas para
não somente identificar elementos visuais específicos constituintes da imagem
audiovisual, mas também para lapidar o olhar perante a realidade cotidiana.
Fiz um recorte focado nas demandas de profissionais que poderão usar a direção
de arte não somente como o ofício em si – criar o universo visual de uma obra
audiovisual – mas também pensando na direção de arte como ferramenta de
criação: para servir como inspiração para a criação de universos narrativos em
sua riqueza de detalhes e sentidos, seja sua escolha focada na escrita, na
direção, na construção visual (direção de arte, de fotografia e caracterização), na
crítica ou mesmo como espectador/a atento/a e sensível.
A abordagem será composta por explicações teóricas e práticas, de maneira
indissociável, que é como eu vejo esse ofício ao longo da minha carreira como
diretora de arte e professora. Serão utilizados exemplos visuais para
contextualizar os assuntos abordados, além de excertos de documentos dos
processos criativos em direção de arte, com foco na dramaturgia de ficção.
A direção de arte ajuda a narrar uma história visualmente ao criar contextos para
os personagens existirem e suas histórias serem contadas, ou seja, é a matéria-
prima para a mise-en-scène 1 , um recurso estético, material e plástico
responsável pela construção da visualidade de uma obra audiovisual – filme,
série, comercial (e por que não, game).
Um bom projeto visual deve ser coerente com os anseios do roteiro e da direção,
com a estrutura da produção (orçamento e cronograma) e com as intenções
visuais pensadas em conjunto com a direção de fotografia: a direção de arte
depende da fotografia para se realizar por completo; a fotografia depende da
direção de arte como a base para receber o desenho de luz. Esse jogo conjunto
entre arte e fotografia é responsável pelo “clima” e pela “atmosfera” do filme.
Seja locação ou estúdio, interna ou externa, “dias de hoje” ou “de época” (uma
época que não a atual), a equipe de direção de arte trabalha para tornar possível
a visualidade planejada para a história a ser contada, criando realidades
pensadas em cada detalhe humano e material, com o objetivo de concretizar o
contexto para se desenvolver a narrativa e engendrar experiências subjetivas em
quem assistirá o filme acabado.
A concepção e o planejamento do projeto de direção de arte são minuciosos e
sua execução, rigorosa, para que a ambientação pareça espontânea, a ponto de
inserir o máximo possível os espectadores no universo que está sendo
apresentado, favorecendo o despertar de estados afetivos, seja pelo
reconhecimento ou estranhamento, sempre alinhado com as escolhas conceituais
e temáticas previstas pelo filme.
A direção de arte é a responsável pela unidade visual do filme, pela sua
linguagem plástica, e para tanto, utiliza-se dos códigos das diversas linguagens

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Mise-en-scène: termo francês que define o processo inteiro da direção de um filme, incluindo a encenação, a montagem e a trilha
sonora. Ou seja, a mise-en-scène compreende todos os aspectos da filmagem sob a direção do cineasta: a interpretação, o
enquadramento, a iluminação e o posicionamento da câmera, e tudo isso acontece dentro de um espaço físico - o set. A direção de
arte de um filme vai construir essa espaço físico, esse "mundo narrativo" para que a mise-en-scène aconteça.
visuais - pintura, moda, fotografia, arquitetura, desenho - e claro, da realidade que
nos rodeia. Ela não é uma obra em si mesma, ela existe em função de algo: dá
vida, conteúdo, ajuda a “tridimensionalizar” determinado roteiro. E para tanto, tem
a seu dispor uma diversidade de ferramentas, materiais e técnicas.

O(a) diretor(a) de arte não trabalha sozinho(a), mas sim, liderando uma equipe, a
equipe de arte, que forma o departamento de arte de um filme. Nesse departa-
mento, há outros profissionais que trabalham em conjunto com o(a) diretor(a) de
arte: cenógrafo(a), produtor(a) de arte, produtor(a) de objetos, pintores de arte,
cenotécnicos, aderecistas, assistentes, contrarregra, efeitistas.

O departamento de arte também engloba o figurino e a maquiagem, cujos profis-


sionais são os responsáveis pela caracterização de cada personagem. Tanto o(a)
figurinista quanto o(a) maquiador(a) têm autonomia nos encaminhamentos de
seus processos, mas atuam sempre dentro do projeto estético da direção de arte.

Na década de 1930, na produção do longa "E o vento levou" (dir. Victor Fleming,
1939), surge o termo Production Design, cunhado pelo produtor do filme David O.
Selznick. Durante a produção do filme, William Cameron Menzies, foi o respon-
sável a desenhar a visualidade do filme e orientar toda a equipe de arte, criando
e mantendo o desenho do filme fiel ao projeto ao longo da produção. Antes, o tra-
balho de Menzies era conhecido como "design de interiores de filmes". Seu reco-
nhecimento foi tão valioso que a Academia criou uma categoria no Oscar especi-
almente “por sua maravilhosa realização no uso da cor para aprimorar o clima
dramático”.

Já no contexto da produção cinematográfica brasileira, o uso do termo direção de


arte é bastante recente, sendo que a primeira vez que um profissional aparece
creditado com este termo foi no longa-metragem "O beijo da Mulher Aranha", diri-
gido por Hector Babenco, com direção de arte de Clovis Bueno. Isso foi em mea-
dos dos anos 1980, e antes desse filme, não existia essa função, cuja responsabi-
lidade é criar o desenho visual do filme, articulando o projeto dos ambientes ao
projeto da caracterização (figurinos e maquiagem), acompanhamento dos eventu-
ais efeitos visuais digitais (VFX), dentro de uma estrutura de produção.

A Direção de Arte é um departamento dentro de uma produção audiovisual forma-


do por vários subdepartamentos.

De um lado, temos o que chamo de direção de arte "total" e de outro, as especifi-


cidades do departamento de arte. Eu associo esse conceito da DA TOTAL ao tra-
balho do Production Designer – termo usado em países anglófonos2 com tradição

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No hemisfério norte, a estrutura de produção dos filmes e séries é um pouco diferente, e o trabalho
das equipes, mais segmentado. A equipe de arte é formada pelo production designer (responsável pela
criação do conceito visual e universo narrativo) e com ele trabalham diretamente o art director (responsável
pela execução e entrega dos sets), o set decorator (responsável pela pesquisa, criação e entrega dos
na produção cinematográfica, sobretudo EUA e Canadá. No Brasil, ainda não é
comum o uso deste termo, mas na prática, é o mesmo tipo de trabalho que nós
diretore/as de arte fazemos em projetos grandes e estruturados.

A direção de arte é a responsável pela proposta e definição do CLIMA do fil-


me/obra audiovisual, pela sua ATMOSFERA, ou seja, a concepção da VISUALI-
DADE, a definição do conceito visual.

Para isso, o(a) diretor(a) de arte se relaciona artisticamente com a direção, com a
direção de fotografia e com a produção, e essa relação eu chamo de direção de
arte total: o desenho do projeto como um todo, a partir do roteiro, levando em
consideração as necessidades narrativas, dramáticas, e dentro de uma estrutura
de produção existente - locações, prazos, equipe e orçamento.

Outro ponto importante, é questão da COERÊNCIA: conceitual, estética, plástica,


e estrutural. A ideia central é que o projeto de direção de arte mantenha coerên-
cia ao longo de todo o processo narrativo, entre a história que está sendo contada
e como isso se manifesta através das sensações ao se ler um roteiro, e das sen-
sações ao se pesquisar e escolher determinada(s) imagens para fazer parte da
pesquisa (coerência conceitual e estética); como essas sensações podem inspirar
a construção física do universo narrativo, por meio das cores, dos volumes, dos
materiais e da construção do espaço cênico e personagens (coerência estética e
plástica), e tudo isso dentro de uma estrutura de produção específica, e de seu
orçamento.

Para a criação desse universo visual da obra audiovisual, é feita uma rica pesqui-
sa, de conteúdo e de iconografia (imagens), levantamento das locações, dese-
nhos, listas de todas as necessidades (cenografia, objetos) por cena e tudo isso é
organizado num documento, o PROJETO DE DIREÇÃO DE ARTE.

móveis e objetos para a ambientação dos sets) e o props master (responsável pela pesquisa, criação e
entrega dos objetos que tem manuseio pelos atores/personagens).
Esse projeto vai nortear a pesquisa de figurino e caracterização e também as
eventuais intervenções na pós-produção, como a construção de elementos ceno-
gráficos em 3D. Esse projeto também será a base para que seja alcançado o look
previsto para o filme (após captação das imagens, correção de cor e marcação de
luz pela fotografia).

Os efeitos produzidos em pós são geralmente esboçados ao longo do processo


de pré-produção e filmagem, e finalizados em etapa posterior às filmagens. Esse
processo começou a ser recentemente acompanhado pelo/a diretor/a de arte. Nos
EUA, esse processo geralmente não é acompanhado pelo/a Production Designer.
O Brasil tem encontrado e criado aos poucos as metodologias e processos de
trabalho.

O trabalho da direção de arte requer tempo de pesquisa, discussão, concepção e


muito projeto, e para isso tem que dispor de uma boa pré-produção, a fim de pre-
ver com antecedência as necessidades do projeto e suas soluções, bem como
criatividade e jogo de cintura para os imprevistos que surgirão em cima da hora
ou mesmo no set. Por mais planejada que a filmagem esteja, e afinada que a
equipe esteja, imprevistos acontecem, e no set, as equipes lidam com eles, e têm
que ter uma resposta rápida para solucionar um plano, ou uma cena inteira.

Em um projeto de filme/série de época, que não a atual, a direção de arte faz não
somente uma pesquisa acerca dos ambientes, mobiliário e vestuário, mas tam-
bém acerca dos costumes ao longo do tempo. Nos próximos módulos, vamos nos
dedicar a levantar casos que exemplificam esses processos de pesquisa.

E para tanto, é de grande importância o conhecimento prático, vindo do “fazer”, o


conhecimentos dos materiais e de suas possibilidades, noção de construção e
funcionalidade, é de grande importância também o conhecimento teórico, sobre-
tudo em História da Arte e História do Audiovisual (cinema, vídeo) e os diversos
movimentos artísticos, artistas, cineastas. Formação constante de repertório pes-
soal, visual, conceitual, histórico, humano e audiovisual.

A narrativa – a história em si e como os encadeamentos se articulam no roteiro -


leva à criação de um conceito geral, que muitas vezes vem da direção, pois é a
pessoa que geralmente está há mais tempo no projeto, e muitas vezes, é o(a) ro-
teirista também. Em séries, esse conceito geral pode vir do/a roteirista e/oudo/a
showrunner (o/a criador/a da série). Esse conceito geral alimenta-se da história
em si, e diretrizes da direção, anseios e expectativas. A narrativa, e o conceito
geral alimenta a criação de um conceito visual pela direção de arte, e reflete no
projeto dos cenários, e da caracterização dos personagens.

Como diretora de arte, eu criei um gráfico simples que serve de base para
estruturar a criação do conceito visual de uma obra audiovisual:
As escolhas da direção de arte estão totalmente relacionadas as escolhas da di-
reção e da direção de fotografia, como uma troca sem hierarquia, do ponto de vis-
ta do conceito visual e da linguagem a ser usada na filmagem. No gráfico abaixo,
eu dou continuidade ao esquema usado anteriormente:
Outro grande item do gráfico acima é a linguagem, cuja premissa vem da direção,
que traz direcionamento em relação à estética da decupagem (como essa história
será contada através dos planos e futura montagem) e da interpretação (como
serão dirigidos os atores para a construção de cada personagem). Essa lingua-
gem influencia e é influenciada pelas linguagens visuais da direção de arte e da
direção de fotografia, num jogo combinado e afinado.

O roteiro, que vocês conhecem bem, é um texto técnico que traz uma narrativa
dividida em cenas, com descrição das (principais) ações, com os diálogos de ca-
da cena (quando existirem), com indicações de algumas características dos per-
sonagens, e dos ambientes (quando se fazem necessárias). Ele é a premissa que
será trabalhada pelas equipes de todos os departamentos para que seja trans-
formado em uma obra audiovisual. Portanto, esta seção se baseará não somente
na pesquisa da direção de arte, mas na relação intrínseca entre roteiro e visuali-
dade.

A relação entre roteiro e visualidade é muito íntima, não somente dentro do pro-
cesso criativo da direção de arte ou da direção de fotografia (departamentos ma-
joritariamente “visuais” dentro de uma produção) e da direção geral. O processo
criativo de escrita de roteiro bebe muito da fonte de pesquisa visual - pictórica e
fílmica. Realizadores audiovisuais geralmente são pessoas com grande repertório
dentro das artes visuais - pintura, fotografia, cinema, vídeo -, da literatura, do tea-
tro e da música.

Uma das primeiras etapas do processo da direção de arte, é primeira leitura do


roteiro, atenta e concentrada, o que eu chamo de leitura da sensação, pois essa
leitura vai nos introduzir ao universo dramático e narrativo da obra audiovisual.
Isso não é uma regra, pode acontecer do profissional fazer uma primeira leitura
menos concentrada apenas para saber sobre o que se trata da história, e se tem
interesse em fazer parte do projeto, entretanto, após anos de ofício, mesmo essa
leitura menos concentrada pode nos levar ao encontro com sensações e ideias
embrionárias que são absorvidas como início da pesquisa visual, e são exatamen-
te essas primeiras sensações que levam à proposta de atmosfera visual, e das
primeiras propostas para a(s) palheta(s) de cor.

Para exemplificar essa relação entre roteiro e imagens da sensação e palheta de


cor esta seção usará o curta-metragem "Páginas de Menina" (2008, 35", 19'), diri-
gido por mim, com produção da Filmes de Abril, conta uma história que se passa
em 1955, quando a jovem Ingrid começa a trabalhar na livraria Machado de Assis,
e lá, conhece Silvia, a gerente. A paixão pela leitura, pela literatura e consequen-
temente pelo objeto livro transforma que poderia ter sido apenas um encontro ca-
sual numa história de amor, que vem a influenciar as escolhas que moldarão seu
futuro de forma duradoura.

O objeto livro foi uma grande referência para a construção cromática do filme,
sendo que a ideia inicial para a palheta de cor foi exatamente a imagem de livros
de capa dura dispostos numa prateleira. Além dos aspectos formais da imagem,
livros dispostos em prateleiras é uma imagem muito afetiva da minha infância na
casa dos meus avós e meus pais.

Ou seja, existe uma narrativa (a história do filme) que causa uma sensação (amor
pelos livros) que traz uma imagem sensorial e cromática (os livros de capa dura
na prateleira e suas cores).

Ao longo do processo de escrita do roteiro, e levantamento do financiamento do


projeto, entrei em contato com a reprodução de um quadro do pintor norte ameri-
cano Edward Hopper, chamado NY Movie. Essa imagem foi fundamental para o
processo criativo de criação da visualidade do curta, da sua atmosfera: essa ima-
gem é o que eu defino como uma imagem de sensação, aquelas imagens que
são capazes de nos fazer conectar e expor sensações sentidas ao longo da leitu-
ra do roteiro. A partir dessas imagens, fica mais fácil falar sobre criação visual pa-
ra todos da equipe.
NY Movie, 1939, Edward Hopper.

Imagens de sensação geralmente auxiliam a apontar caminhos visuais, conceitu-


ais, cromáticos e plásticos dentro de um projeto de direção de arte.

Lembrando que palheta de cor de um projeto pode ser estruturada de inúmeras


maneiras: por universo/ambientes de cada personagem, por personagem, por si-
tuação dramática, por acontecimento, etc… Como diretora de arte, eu estruturo
minhas palhetas de cor de acordo com a estrutura que o roteiro me traz, é um
caminho que depende do repertório artístico e profissional, mas é um caminho
muito subjetivo também, de processo criativo e de interpretação visual da drama-
turgia.

O longa "Para minha amada morta", dirigido por Aly Muritiba (2015, 140', HD) e
produzido pela Grafo Audiovisual de Curitiba nos serve de exemplo: após a morte
de sua esposa, Fernando torna-se um homem quieto e introspectivo e cria, sozi-
nho, seu filho Daniel. Todas as noites, enquanto seu filho dorme, o viúvo "revive"
a presença da esposa, tentando organizar seus pertences. Um dia, ele descobre,
em uma fita VHS, que sua esposa tinha tido um amante, Salvador. Fernando de-
cide então investigar a verdade por trás destas imagens, desenvolvendo uma ob-
sessão que consome seus dias e rotina.

A palheta de cor desse filme foi estruturada por universo dos personagens princi-
pais: Fernando e Salvador, pois eu enxerguei dois universos distintos que se an-
tagonizam na narrativa. Em linhas gerais, propus para o diretor e para o diretor de
fotografia duas grandes palhetas de cor, de certa maneira, contrastantes, uma
para cada universo de personagem.

Na imagem abaixo, um resumo visual dessa proposta cromática, à esquerda, o


universo do personagem Fernando, à direita, do personagem Salvador.
A pesquisa de referências visuais ou pesquisa iconográfica, é a pesquisa por ima-
gens de sensação, clima, atmosfera e a pesquisa por elementos mais específico
que virão a compor os ambientes da obra, e vão ajudar a definir quem são esses
personagens, visualmente. Lembrando que cada escolha da direção de arte não é
aleatória, está imersa num contexto cultural, conceitual e narrativo abrangentes.

Obviamente há escolhas intuitivas, subjetivas, mas que, ao longo do processo,


vem engrossar o caldo imagético do projeto visual, mas cada elemento colocado
no projeto de direção de arte, e posteriormente no cenário, adquire um significa-
do. Nesse sentido, vale retomar as questões relativas à semiótica. Apesar do foco
desta disciplina ser mais processual, é importante ter em mente alguns conceitos,
para que vira e mexe você lançar mão deles em qualquer projeto no qual esteja
envolvido.

Em linhas gerais, a semiótica é o estudo dos signos, que consistem em todos os


elementos que representam algum significado e sentido para o ser humano,
abrangendo as linguagens verbais e não-verbais. No nosso caso, estamos lidan-
do com linguagens visuais.

A semiótica é uma ferramenta que procura entender como o ser humano interpre-
ta as coisas dentro do ambiente que o envolve. Ou seja, como as pessoas atribu-
em significado ao que está a seu redor. E isso não é exatamente o que a direção
de arte faz? Interpreta visualmente palavras de um roteiro, e constrói realidade(s)
visível(is), pra o personagem viver suas histórias. Para isso, a direção de arte
leva em consideração o contexto cultural não somente do personagem, mas do
próprio profissional.

A pesquisa de referências visuais é, na maioria das vezes, uma pesquisa por


imagens que atravessa todo o processo da direção de arte. Partindo da pesquisa
embrionária já citada (imagens de sensação), a pesquisa por referências continua
até dar conta de todos os elementos narrativos. A pesquisa é viva e acontece ge-
ralmente partindo do macro/sensação para o micro/cada elemento, cada textura,
cada objeto narrativo. As principais fontes são pinturas, fotografias, livros, filmes,
séries, e obviamente, a realidade que nos cerca. Essa pesquisa é muito influenci-
ada pela história de vida de cada um, os repertórios pessoais, as experiências
vividas.

A pesquisa de referências é orientada pelo/a diretor/a de arte, mas recebe a con-


tribuição da equipe de arte, sobretudo assistente, cenógrafo/a, figurinista. A pes-
quisa também é influenciada pelas diretrizes da direção e da fotografia. Ou seja,
vários olhares em busca da criação de um projeto em comum, essa é uma das
maravilhas do trabalho em equipe. A soma de repertório, de saberes, e de sensa-
ções.

A pesquisa de imagens e de conteúdo visual e conceitual é o alicerce do projeto


da direção de arte, e a todo instante mescla subjetividade com pragmatismo. Essa
pesquisa de referências costuma ser organizada por assuntos, em pranchas. A
quantidade de imagens que vai para essas pranchas depende do caminho dese-
nhado pela direção de arte, não há regra a ser seguida. O que deve ser respeita-
do é a organização, de maneira que essas imagens nas pranchas sejam dispos-
tas com bom senso, afinal, é a base da pesquisa do projeto visual.

Para exemplificar, disponibilizei no material complementar / apoio a pesquisa de


referências visuais específicas feita pela Renata Rugai, diretora de arte do curta
“Páginas de Menina”. E a pesquisa de figurino e caracterização feitas por mim e
por ela.

Tendo o roteiro como premissa para a criação do universo visual de uma obra
audiovisual, geralmente partimos do macro/sensação/atmosfera até a pesquisa
mais específica que deve dar conta de cada elemento constituinte do ambiente e
do universo dos personagens.
A ideia é desnudar o processo criativo, criar uma visão "de dentro pra fora", ou
seja, uma visão bastante diferente da mera análise de filmes conhecidos. A ideia
principal aqui é que você entre em contato com os bastidores do processo.

Na aula 2, vamos falar sobre todas as etapas do processo criativo da Direção de


Arte (com outros exemplos e estudos de caso), faremos uma abordagem sobre a
construção da caracterização das personagens e também uma introdução sobre a
relação da direção de arte e pós produção da imagem – cor e efeitos (VFX).

Vocês, como diretor/as, roteiristas, diretor/as de fotografia – ou seja, profissionais


que lidam com imagem – podem usar dessa ferramenta para escrever cenas, cri-
ar situações narrativas, indicar caminhos visuais a serem construídos em parce-
ria.

BLOCK, Bruce. A Narrativa Visual. SP Ed. Campus/Elsevier, 2010.

HAMBURGER, Vera. Arte em Cena: A direção de arte no cinema brasileiro. Se-


nac, SP, 2014

LOBRUTTO, Vincent. The Filmmaker's Guide to Production Design (Paperback)


Allworth Press, 2002.

PRESTON, Ward. What an art director does : an introduction to motion picture


production design. Los Angeles : Silman-James, 1994.

“SET”- dir. Adriana Camacho (México, 2007, 74’)


https://youtu.be/una8xnK6vHw
Documentário sobre a direção de arte do longa Carandiru”, dir. Monica Delfino
(Brasil, 2003, 24’)
https://youtu.be/F_9pL2KYqJA

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