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J.J. Bola fala das pressões que moldam a masculinidade — Gama Revista https://gamarevista.uol.com.br/semana/homens-e-agora/j-j-bola-fala-das...

Luísa Zardo
Homens, e agora?

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C ONVERSA S

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J.J. Bola: 'Vivemos num mundo onde a


violência entre os homens é mais
comum do que o afeto'
Escritor britânico nascido no Congo, autor de ‘Seja Homem’ fala
sobre as pressões que moldam desde cedo a masculinidade e as
possibilidades de transformação

Leonardo Neiva
07 de Maio de 2023

@GAMAREVISTA / COMPORTAMENTO / FEMINISMO / MASCULINIDADE / SOCIEDADE

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C ONVERSA S

J.J. Bola: ‘Vivemos num


mundo onde a violência
entre os homens é mais
comum do que o afeto’
Leonardo Neiva
07 de Maio de 2023

@GAMAREVISTA / COMPORTAMENTO / FEMINISMO / MASCULINIDADE / SOCIEDADE

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Luísa Zardo

Escritor britânico nascido no Congo, autor de ‘Seja Homem’ fala


sobre as pressões que moldam desde cedo a masculinidade e as
possibilidades de transformação

Numa tarde de sábado, o então adolescente J.J. Bola passeava pelas ruas do bairro
londrino de Tottenham High Road ao lado de seus “tios” — como costumava chamar
os membros adultos da comunidade congolesa onde cresceu. Alto e com porte
atlético, a aparência de Bola inspirava um certo respeito entre os garotos da sua
idade. No entanto, enquanto caminhava em direção à casa de um dos “tios” — onde
almoçaria um banquete tradicional da culinária do Congo, sua terra natal — algumas
práticas comuns em sua comunidade começaram a incomodá-lo: em particular, as
vestes coloridas e espalhafatosas de seus companheiros e o fato de andar de mãos
dadas com um deles.

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“Isso é perfeitamente normal na cultura congolesa e na cultura africana francófona”,


diz na introdução de seu livro, “Seja Homem: a masculinidade desmascarada”
(Dublinense, 2020), onde narra essa lembrança. “É uma maneira dos homens se
unirem e demonstrarem a�nidade, assim como carinho um pelo outro.” Mas não foi
dessa forma que um dos jovens moradores de seu conjunto habitacional enxergou a
situação. “‘Tá de mão dada, é isso?’, ele disse, e a turma de apoio primeiro riu
baixinho, para depois explodir em gargalhadas. Ainda lembro da dor, da pontada no
meu coração”, Bola conta na obra.

Esse é apenas um dos muitos exemplos das visões estereotipadas sobre o que
signi�ca ser homem na nossa sociedade que o autor traz no livro — e de como essas
pressões acabam exercendo impactos signi�cativos nos próprios homens e em todos
ao seu redor. “Essas regras que atingem os homens desde a infância acabam
sempre se manifestando na forma de vergonha. É uma tática poderosa usada para
silenciar muita gente”, conta em entrevista a Gama. “É uma estratégia para garantir
que as pessoas se adaptem e mantenham certos ideais que nos possibilitam
pertencer à sociedade. A história que eu conto no início de ‘Seja Homem’ re�ete isso.”

Nascido no Congo e radicado em Londres, o escritor evoca no livro, além das próprias
memórias, tradições sociais, culturais e estudos da área para apontar como a ideia
atual de masculinidade mantém os privilégios masculinos e afeta a sociedade. Com
prefácio de Emicida, a obra propõe maneiras de descontruir a noção que temos do
“homem de verdade” para forjar uma nova masculinidade menos nociva, sugerindo
métodos e ferramentas concretos para essa transformação.

Criado no limiar entre as culturas congolesa e britânica, Bola conheceu desde cedo
dois tipos de masculinidade, a um mesmo tempo semelhantes e diversas. “Na cultura
congolesa, é normal e até um símbolo de masculinidade se apresentar de forma
muito colorida na aparência e maneira de se vestir. É o oposto da cultura britânica,
em que isso é visto como um hábito feminino”, conta. Essas diferenças estiveram
entre os fatores que levaram o escritor a compreender que não existe uma ideia
universal do que é masculino. “Signi�ca que é possível incentivar uma versão
mais idealizada e positiva da masculinidade.”

Num bate-papo com Gama, Bola, também autor do romance “O Involuntário Ato de
Respirar” (Dublinense, 2022), comenta a proliferação de grupos que atacam
mulheres nas redes sociais, a participação masculina na luta feminista e diz se é
possível a homens com histórico de violência de gênero transformar seus hábitos. X

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G| Falamos muito sobre as mudanças na masculinidade, especialmente


na relação com as mulheres. Mas estamos realmente vendo alterações
signi�cativas no que signi�ca ser homem, ou é um processo que ainda
está engatinhando?

JJ Bola | As mudanças continuam sendo graduais e geracionais, como sempre foram.


Algumas coisas estão avançando numa direção positiva e outras nem tanto. Uma das
mudanças signi�cativas que vivenciamos é que os jovens, os adolescentes,
estudantes etc. estão muito mais versados e têm um conhecimento bem maior do
que no passado sobre questões relacionadas à masculinidade, patriarcado e
igualdade de gênero. Sim, entre eles, muito ainda são suscetíveis às in�uências
negativas e infelizmente tendemos a nos focar nessas histórias. Porém, há muitas
outras, pelo menos em mesmo número, sobre mudanças positivas ocorrendo no
mundo inteiro dentro desses movimentos. Deveríamos começar a falar sobre elas
muito mais do que temos feito.

G| Quando você fala em in�uências negativas, se refere a movimentos


conservadores que se enxergam como uma resistência a essas
mudanças? De onde eles surgem?

JJ | Para falar a verdade, esses movimentos sempre existiram. A internet e as mídias


sociais só deixaram expostas o que costumavam ser ideias à margem, posicionando-
as no centro dessas discussões. Além disso, você vai descobrir que, durante períodos
de insegurança, pessoas em posições privilegiadas vão continuar condenando ao
ostracismo grupos marginalizados, numa tentativa de manter suas posições de
privilégio e permanecer no controle.

G| Mas como explicar o surgimento de grupos, inclusive aqui no Brasil,


que se unem com o propósito de diminuir e atacar mulheres? As redes
sociais também motivaram o crescimento desse tipo de violência?

JJ | As redes sociais adicionam uma camada de anonimato da qual talvez seja difícil X

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escapar nos dias de hoje. Então você vê esse garotos ou homens atacando mulheres
online, trollando e usando os discursos mais desprezíveis como forma de perpetuar a
misoginia. Mas não acho que seja nada diferente do comportamento misógino que
já vemos na sociedade; é o tipo de representação à qual somos expostos e que
introduzimos a uma geração de crianças através de �lmes, programas de TV,
músicas, normas e valores transmitidos por meio de nossas escolas e religiões. Aí
a gente se surpreende ao ver que essas crianças cresceram para se tornar adultos
que perpetuam a misoginia. Para que tudo o mais possa mudar, o que precisamos é
desmantelar esses sistemas hierárquicos que permitem que homens oprimam e
dominem as mulheres, entre outros gêneros marginalizados, usando a violência.

G| Na sua visão, os homens devem ter uma participação importante na


luta feminista?

JJ | A participação dos homens na luta feminista é incrivelmente importante. Acredito


que também seja nossa responsabilidade falar e educar outros homens sobre quais
comportamentos são prejudiciais. Precisamos nos educar a respeito do que é o
privilégio masculino e ensinar a outros homens que o feminismo não atua contra
eles. Na verdade, trata-se de criar igualdade e equidade, ajudar a libertar mulheres e
os próprios homens das expectativas violentas e perigosas depositadas sobre todos
nós por esse sistema patriarcal sob o qual vivemos.

G| Você começa o livro “Seja Homem” contando uma passagem da sua


adolescência, em que sentiu vergonha quando seus colegas te viram de
mãos dadas com um membro da sua comunidade. Por que os homens
sofrem desde cedo tantas pressões sobre esse tipo de demonstração de
afeto?

JJ | Essas regras que atingem os homens desde a infância acabam sempre se


manifestando na forma de vergonha. É uma tática poderosa usada para silenciar
muita gente, numa conformidade que mantém o status quo. A vergonha é uma
estratégia para garantir que as pessoas se adaptem e mantenham certos ideais que
nos possibilitam pertencer à sociedade. A história que eu conto no início de “Seja
Homem”, sobre a vergonha que senti, re�ete isso. Foi a descoberta de que eu seria
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julgado por ser diferente, por me mostrar alguém diverso do que se esperava que

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eu fosse. Muitos homens passam por experiências como essa. E alguns mantêm
uma falsa bravata, um certo chauvinismo misógino, porque entendem de forma
implícita que, se não agirem dessa forma, serão relegados ao ostracismo e
banidos. Ou seja, não vão mais pertencer a uma masculinidade patriarcal se não
apresentarem certos tipos de comportamentos, geralmente misóginos. Só quando
passarmos a rejeitar esses hábitos, esse sentimento de vergonha, e adotarmos nossas
representações autênticas da masculinidade, é que �nalmente seremos livres.

G| Na sua escrita, você se refere com frequência a essa posição central


que ocupa entre a origem congolesa e a criação britânica. Como essas
duas culturas e formas de vivenciar a masculinidade te in�uenciaram?

JJ | Em relação à masculinidade, as duas culturas têm similaridades, mas também


são diferentes. O Congo é uma sociedade hierárquica patriarcal da mesma forma que
a Inglaterra, em que os homens costumam ocupar posições de poder,
particularmente quando falamos de riquezas e status social. Mas foi nas diferenças
culturais que essas duas coisas colidiram dentro de mim. Na cultura congolesa, é
normal e até um símbolo de masculinidade se apresentar de forma muito colorida na
aparência e maneira de se vestir. É o oposto da cultura britânica, em que isso na
verdade é visto como um hábito feminino. No Congo, também é bastante comum
que os homens dancem, com movimentos de quadril particularmente sensuais, o
que não acontece na Inglaterra. Tudo isso me permitiu compreender que a
masculinidade é �uida e não existe uma ideia universal do que é ou não
masculino. O que é considerado masculino em um lugar pode não ser em outros.
Signi�ca que é possível incentivar uma versão mais idealizada e positiva da
masculinidade, que seja restaurativa e útil para todos.

G| É importante desmascarar primeiro como a masculinidade funciona


hoje para só depois visualizar novas formas de ser homem?

JJ | Para mim, não é só sobre construir outras formas de ser homem. Signi�ca nos
libertar completamente das ideias rígidas e opressivas de uma masculinidade
patriarcal hegemônica. Viver e existir na liberdade e �uidez de uma masculinidade
completa, que não dependa de subjugar um outro gênero, mas seja satisfatória e
livre. Minha visão ideal é que possamos simplesmente ser e existir, sem comparar X

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constantemente o que é e o que não é um homem. Quero que sejamos capazes de


vivenciar a completude da nossa imaginação e autenticidade, que possamos nos
olhar no espelho e nos orgulhar de quem somos. Não são muitos os homens que
conseguem isso. Nem muitas pessoas em geral, na verdade.

G| Homens são os principais causadores de violência física e psicológica


contra mulheres e até contra eles mesmos, pensando nas altas taxas de
suicídio masculino. Essa violência está conectada à construção histórica
da masculinidade?

JJ | Como homens, sofremos de uma profunda socialização da violência. Somos


ensinados desde muito jovens que a violência, a raiva e a agressão são as línguas que
precisamos falar para sermos ouvidos, respeitados e compreendidos. Aprendemos
cedo na escola, no playground que o garoto maior e mais forte é aquele que é mais
respeitado. Que o menino que consegue lutar e não dá sinais de medo é um
homem de verdade. Não somos ensinados que o garoto que cuida dos outros,
demonstra empatia ou é mais amoroso é um homem de verdade. Vivemos num
mundo onde a violência entre os homens é mais comum do que o afeto. Achamos tão
fácil assistir a homens lutando entre si que até criamos esportes e espetáculos
baseados nisso, e torcemos ao mesmo tempo em que achamos profundamente
desconfortável quando homens dizem “eu te amo” uns aos outros.

G| Você publicou recentemente um livro infantil, “Fly Boy”, que ilustra a


importância de discutir saúde mental com crianças. Esse debate vem
avançando dentro das famílias, em especial no que se relaciona à
masculinidade tóxica?

JJ | O estigma da saúde mental é algo que ainda limita os diálogos sobre o tema. Mas,
de forma resumida, acredito que as coisas estejam mudando a cada nova geração. Sei
que essas conversas não eram comuns na geração dos meus pais, mas são mais
habituais hoje em dia e devem ser ainda mais normalizadas na próxima geração e na
que virá depois dela. Sou muito otimista e acredito que as coisas estejam mudando
para melhor nesse sentido.

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G| No Brasil, existe o Grupo Re�exivo para Homens, que promove


encontros para educar e habilitar homens que tenham cometido
violência doméstica. Na sua opinião, homens que realizaram atos de
violência podem se transformar?

JJ | Projetos de reabilitação são muito importantes e necessários, mas precisam ser


realizados com base em boas intenções. A transformação é possível, mas também
acho que ninguém é capaz de mudar realmente sem algum tipo de justiça
restaurativa ou reparação. Como isso vai acontecer depende da pessoa ou da
comunidade que foi afetada. Contudo, é preciso diálogo para ajudar a reparar os
danos e injustiças que aconteceram no passado e pavimentar o caminho para um
futuro melhor.

G| O campo da política segue sendo bastante desigual em termos de


gênero no mundo inteiro. Mas, para gerar uma mudança real nas
maneiras de governar, simplesmente colocar mais mulheres em posição
de poder é su�ciente?

JJ | Não acredito que aumentar o número de mulheres vai mudar as formas de


governar porque elas também podem perpetuar os mesmos sistemas e
comportamentos opressivos. É possível que mulheres mantenham pensamentos
misóginos, assim como os homens. Da mesma forma que minorias étnicas podem
ter ideais racistas que posicionam o privilégio branco no topo da hierarquia, ou
que pessoas LGBTQIA+ podem ajudar a perpetuar ideais heteronormativos. É
incrivelmente importante ter pessoas de diferentes origens e experiências em
posições de poder — para ser honesto, precisamos desmantelar esse poder e criar
uma sociedade mais equânime e equilibrada –, mas elas devem operar de forma a
não sustentar os sistemas hierárquicos da supremacia branca, do patriarcado, do
capitalismo ou imperialismo. Devemos usar essas origens para nos informar e
educar sobre nossas experiências de vida diversi�cadas, ajudando a compreender
melhor as batalhas de cada um para que não sejamos forçados a repetir as mesmas
estruturas de opressão que se perpetuam há séculos.

G| O capítulo de conclusão de seu livro sugere uma série de ferramentas


X
e estratégias de transformação. Mas quem são os homens que realmente

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querem mudar? E como começar?

JJ | Os homens que querem mudar são aqueles que já estão se olhando no espelho e
se questionando a respeito de tudo. Aqueles que enxergam que algumas coisas não
fazem sentido, que podem existir outras maneiras de agir. Esses homens existem e
estão por aí. Precisamos per�lá-los. Devemos focar nossos esforços nas coisas
positivas que queremos ver, em vez das negativas que não queremos. Isso já
começou, está acontecendo, basta abrir a janela e dar uma olhada lá fora.

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