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Análise de Investimentos em Distribuição


Utilizando Opções Reais
no Novo Ambiente do Setor Elétrico Brasileiro
J. W. Marangon Lima, UNIFEI, J. C. Caminha Noronha, UNIFEI,
T. G. Leite Ferreira, UNIFEI, P. E. Steele dos Santos, UNIFEI e J. Miranda Filho, ESCELSA

Resumo-No novo ambiente do setor elétrico bra- Palavras-chave—Análise de Investimentos em


sileiro, o grande desafio das empresas é concili- Distribuição, Opções Reais, Planejamento da
ar a busca pela maximização do lucro com a Distribuição
realidade de uma atividade regulada, onde o
órgão regulador monitora tanto a qualidade do
I. INTRODUÇÃO
serviço quanto a receita auferida pela empresa.
Com o advento da Lei 10848/04 e do Decreto No novo ambiente do setor elétrico brasileiro, o
5163/04, a atividade de comercialização fica grande desafio das empresas é conciliar a busca
completamente banida dos objetivos das distri- pela maximização do lucro com a realidade de
buidoras, passando a focar exclusivamente no uma atividade regulada, onde o órgão regulador
serviço regulado de transporte a varejo da e- monitora tanto a qualidade do serviço quanto a
nergia elétrica. Sob esta nova ótica, a Análise receita auferida pela empresa[1].
de Investimento deve incorporar a ação do re- Uma das culturas implantadas pela gestão pri-
gulador que avalia: se o investimento é “pru- vada, e que vem se tornando uma constante nas
dente”; a parcela que vai pertencer à base de empresas, é a realização de análise de investimen-
remuneração; e, o corte devido à economia de tos do tipo custo/benefício, através da qual é pos-
escala traduzido pelo fator X. Esta nova reali- sível avaliar a viabilidade de novos projetos. Esse
dade agrega incertezas adicionais às tradicio- tipo de análise, apesar de muito difundida no setor
nais como, por exemplo, a incerteza no cresci- privado, não vinha sendo utilizada com freqüência
mento da carga, a incerteza do mercado finan- quando o controle das distribuidoras ainda estava
ceiro para captação de recursos, etc. Este tra-
sob a administração pública. O objetivo, na análi-
balho apresenta a técnica de opções reais que
se de alternativas de investimento, se restringia
modela as incertezas na construção do fluxo de
apenas à minimização de custos visto que havia o
caixa dos investimentos em distribuição e in-
corpora as possíveis flexibilidades associadas à repasse automático às tarifas através da filosofia
tomada de decisão ao longo do projeto de in- da regulação pelo custo do serviço.
vestimento. A análise de investimentos, tanto em um seg-
mento regulado quanto em um não regulado, exi-
ge, a priori, a elaboração da estimativa de um flu-
xo de caixa que considere as despesas advindas de
Este trabalho foi apoiado parcialmente pela Espírito Santo um novo investimento, como também as receitas
Centrais Elétricas S.A. através de um projeto de P&D, su-
pervisionado pela ANEEL. incrementais geradas após a sua entrada efetiva
J. W. Marangon Lima trabalha na Universidade Federal em operação. Depois de estabelecido o fluxo de
de Itajubá (e-mail: marangon@iee.efei.br). caixa passa-se à aplicação de métricas para a aná-
J. C. Caminha Noronha conclui doutourado na Universi- lise de investimentos já existentes e amplamente
dade Federal de Itajubá (e-mail: julia@iee.efei.br).
T. G. Leite Ferreira inicia mestrado na Universidade Fe- difundidas, como o VPL, TIR, “Payback”, etc.
deral de Itajubá (e-mail: tiago@iee.efei.br). A primeira etapa para a formação do fluxo de
P. E. Steele dos Santos conclui doutourado na Universi- caixa consiste na identificação e quantificação dos
dade Federal de Itajubá (e-mail: steele@iee.efei.br).
benefícios trazidos pelo projeto. Grande parte das
J. Miranda Filho trabalha na Espírito Santo Centrais Elé-
tricas S.A. (e-mail: jacques@notes.escelsa.com.br). técnicas utilizadas para identificar e quantificar os
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benefícios já são conhecidas e aplicadas no setor, caixa de um investimento no sistema de distribui-


embora esse trabalho traga algumas inovações ção. Uma para os anos entre a realização do inves-
nesse aspecto. Numa segunda etapa, procede-se à timento e o ano da primeira revisão tarifária após
determinação das fronteiras temporais de cada be- a data do investimento, onde são consideradas al-
nefício. A análise de investimentos tradicional gumas receitas adicionais, mas como o ativo ainda
muitas vezes considera as receitas adicionais de não está inserido na base de remuneração, não es-
certos benefícios em todo o horizonte de análise, o tá sendo remunerado nem reintegrado. Já a segun-
que não é fato quando se trata de um ambiente da abordagem, contempla os anos subseqüentes à
regulado. Sendo assim, é possível através da in- primeira revisão periódica após a realização do
serção dos efeitos da atuação regulatória na análi- investimento, e leva em consideração a inserção
se, determinar os períodos em que de fato deter- do ativo na base de remuneração e a absorção de
minados benefícios resultam em receitas adicio- algumas das receitas adicionais, que ocorre no
nais à empresa. momento da revisão tarifária.
Nas atividades reguladas, a formação da receita Em suma, a adequação do fluxo de caixa de um
adicional advinda de um investimento está rela- novo projeto ao atual regime de regulação econô-
cionada diretamente às tarifas aplicadas, que são mica aplicado pela ANEEL, exige uma tradução
repactuadas através de mecanismos chamados de todo o arcabouço regulatório definindo as me-
movimentos tarifários. Com isso, torna-se neces- todologias de cálculo de receitas e tarifas, como
sário para formação do fluxo de caixa identificar também seus componentes. Dessa forma torna-se
os movimentos tarifários existentes e seus impac- possível avaliar investimentos de forma eficaz,
tos. No contexto atual do setor elétrico brasileiro, consolidando a maximização do lucro à realidade
o movimento tarifário mais importante para a ati- regulatória, e trazendo assim maior segurança aos
vidade de distribuição de energia elétrica é a Re- investidores.
visão Tarifária Periódica. Nesse momento o regu-
lador procede ao cálculo da receita suficiente ao II. LEI 10848 E DECRETO 5163
equilíbrio econômico-financeiro das distribuido- A atividade de Distribuição está muito susceptí-
ras, além de homologar as tarifas justas que, apli- vel às regras impostas pelo Governo e pelo Órgão
cadas ao mercado, resultará na receita calculada. Regulador inclusive agora com o advento da Lei
10848/2004 e do Decreto 5163/2004. A atividade
No momento da revisão tarifária, grande parte de distribuição passa a ser orientada para o serviço
dos ganhos adicionais provenientes de um inves- de rede e de venda de energia somente a consumi-
timento na rede de distribuição é absorvido, mas dores regulados (cativos). Esta venda será coorde-
em contrapartida os novos ativos passam a com- nada pelo CCEE e as distribuidoras serão obriga-
por a base de remuneração. A partir de então, os das a estabelecer contratos multilaterais com todos
benefícios auferidos em virtude da realização do os geradores vencedores dos leilões realizados
investimento passam a ser a remuneração do in- pela ANEEL para compra de energia tanto no cur-
vestidor autorizada pela ANEEL, a quota de rein- to como no longo prazo. Os distribuidores não
tegração também definida pela ANEEL e os bene- poderão comercializar energia para consumidores
fícios de não pagamento de multas. livres. Para esses, terão apenas a função de prove-
As variações de receita provenientes de aumen- dores de rede e por esse serviço receberão valores
to de carga, aumento ou redução de perdas, au- definidos nas Tarifas de Uso do Sistema de Dis-
mento ou redução de custos com operação e ma- tribuição (TUSD).
nutenção são absorvidos no momento da revisão. A partir do início da implantação das diretrizes
Ou seja, no caso de aumento de custos, esses cus- impostas pelo Decreto 5163/2004, mesmo na vi-
tos serão repassados às tarifas, enquanto no caso gência dos atuais contratos de concessão que con-
de receitas adicionais, essas receitas resultam em templam o “self-dealing”, as atividades de gera-
abatimento nas tarifas. ção e distribuição deverão ser segregadas, deven-
Sendo assim, torna-se possível definir duas a- do as empresas de distribuição constituir empresas
bordagens distintas para a formação do fluxo de próprias para abrigar essas unidades, estabelecen-
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do contratos bilaterais que cubram o período hoje ol. A relatividade entre as tarifas de aplica-
abrangido pelo contrato de “self-dealing” vigente. ção será definida pelo MME.
Findos esses contratos, não será mais admitido Será garantido o repasse integral ao consumidor
aqueles que detenham geração para atendimento final da tarifa de aplicação associada ao suprimen-
próprio, permitindo-se apenas os contratos de to. Além disto, considerando que as datas de rea-
compra e venda entre partes relacionadas, quando juste tarifário são diferentes para cada concessio-
decorrentes de processo de contratação via CCEE, nário, prevê-se a instituição de mecanismo que
ou seja, através de leilões promovidos pela assegure efeito econômico equivalente a todos os
ANEEL. distribuidores, independentemente da data de rea-
A atual metodologia de cálculo tarifário dos dis- juste tarifário. Continuará a existir, portanto, a
tribuidores utilizada pela ANEEL continua a vigo- conta gráfica CVA dos distribuidores.
rar onde o nível é estabelecido através das revi- A tarifa de aplicação será ajustada anualmente
sões e reajustes tarifários e a estrutura é baseada levando-se em conta:
nos custos marginais de fornecimento. A ANEEL • O reajuste previsto para a receita anual rela-
continua a disponibilizar e publicar as tarifas e tiva aos contratos da CCEE;
dados utilizados na sua definição considerando as • A incorporação de novos geradores e mer-
tarifas com e sem eventuais subsídios cruzados. cados;
Consumidores regulados com demanda maior • Os excedentes ou déficits financeiros even-
que 1 MW deverão assinar com os distribuidores tualmente gerados no processo de contabili-
contratos de consumo de energia pelo prazo mí- zação e liquidação das diferenças contratu-
nimo de 1 ano, com recontratação anual. Esse ais do ano anterior;
contrato deverá prever multa por ultrapassagem • Variação dos custos operativos previstos no
em termos de consumo e demanda. As faturas de planejamento da operação no ano anterior;
energia para os consumidores cativos deverão, • Variação no custo estimado para as perdas
necessariamente, discriminar as parcelas relativas de transmissão imputado aos geradores do
à compra de energia, uso de transmissão e distri- pool (contratados de energia nominal); e,
buição, encargos e impostos. Neste caso, mesmo • Outros excedentes financeiros eventualmen-
para os consumidores cativos, fica explicito que a te gerados pela operação otimizada do sis-
comercialização está excluída da atividade de dis- tema.
tribuição. Há um repasse direto do efeito da co- Cumpre observar que com estes comandos, a
mercialização nas tarifas através da Parcela A en- Lei e o Decreto são bastante claros e, por conse-
quanto que o transporte é visto como custos ge- guinte a forma tradicional de construção do fluxo
renciáveis, ou seja, Parcela B. de caixa deve ser revista pelas empresas de distri-
A tarifa de suprimento do pool ou tarifa do ACR buição. A componente de energia, normalmente
será o valor unitário que o conjunto de distribui- considerada na receita adicional devido a um novo
dores pagará pela compra de energia adquirida no investimento, deve ser retirada, pois a distribuido-
pool através da CCEE (tarifa de referência - TR). ra não aufere nenhum benefício adicional. A se-
As tarifas que serão aplicadas a cada concessioná- guir serão explicitados os cuidados necessários
ria individualmente poderão refletir políticas pú- para a construção do fluxo de caixa associado a
blicas, explicitamente definidas, alterando o custo um investimento em distribuição.
da parcela de geração entre os diversos distribui-
dores. III. FLUXO DE CAIXA INCREMENTAL
Pode-se dizer, então, que existirá: A análise de qualquer investimento requer como
• uma tarifa de referência que representa a passo inicial a construção do fluxo de caixa espe-
média de todas as compras de energia efetu- rado associado ao projeto. Normalmente, os flu-
adas no âmbito do pool; e, xos de caixa livres são determinados a partir da
• uma tarifa de aplicação, que representa o receita bruta abatendo os custos, impostos, etc., da
custo unitário que cada distribuidor irá pa- empresa como um todo. Para destacar o efeito do
gar pela energia comprada no âmbito do po-
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investimento, deve-se avaliar os fluxos de caixa incremento de carga pode ser devido a uma carga
global da empresa inserindo e não inserindo o in- nova ou a um aumento de uma carga existente.
vestimento. A diferença entre estes dois fluxos irá Quando o investimento possibilita um aumento de
representar o fluxo de caixa associado ao investi- carga e é realizado em um nível de tensão mais
mento, denominado de fluxo de caixa incremental elevado, pode-se obter diretamente dos clientes
(FCI). É sobre este fluxo que se deve avaliar a (que deverão ser em número reduzido nesse caso)
pertinência ou não de um determinado investi- a pretensão da ampliação da planta e a forma com
mento. que esse crescimento se dará ao longo dos anos
Alguns cuidados devem ser observados na cons- (curva de crescimento de carga).
trução do FCI quando se trata de uma empresa de Já em níveis de tensão mais baixos, devido ao
distribuição regulada. Um dos pontos principais grande número de consumidores, deve-se levantar
que norteiam a análise do fluxo é o momento da o histórico de crescimento de mercado, unicamen-
revisão tarifária. Pode-se, então, definir dois mo- te para a área afetada pela realização do investi-
mentos para a construção do fluxo: um momento mento.
pré-revisão e outro momento pós-revisão. Um ou- No caso de um investimento que não proporcio-
tro aspecto importante se refere à definição das na crescimento de carga direto, mas de forma indi-
variáveis relevantes e o seu grau de imprevisibili- reta em virtude, por exemplo, de uma melhoria
dade, ou seja, é necessário quantificar a volatili- nos perfis de tensão, o mesmo deve ser levado em
dade destas variáveis para melhorar o grau de in- consideração na análise do benefício local.
formação imprescindível à escolha de um deter- Normalmente, a previsão de carga com deta-
minado projeto. lhamento envolvendo a localização espacial é
Dessa forma, esse item visa determinar e des- mais difícil de obter, principalmente para períodos
crever quais variáveis são relevantes na avaliação mais longos, ou seja, acima de 5 anos. Entretanto,
do fluxo de caixa incremental. Além disto, são nestes períodos, a empresa já fica exposta às revi-
apontados os níveis de incerteza associados a elas, sões tarifárias tornando desnecessária a informa-
os quais merecem tratamento mais elaborado. Para ção do benefício local do investimento conforme é
esse tratamento é necessário dispor dos dados his- visto a seguir.
tóricos dessas variáveis para, através de técnicas Esta abordagem de avaliação do benefício local
estatísticas ou outras mais adequadas, inferir sobre é a tradicionalmente utilizada pelo planejamento
o comportamento futuro das mesmas. Essas técni- de rede de distribuição. No entanto, é importante
cas não serão abordadas neste trabalho. observar que este enfoque é válido apenas no pe-
A. Mercado ríodo pré-revisão enquanto o órgão regulador não
incorpora este incremento de carga para definir a
O crescimento de mercado, entendido aqui co-
tarifa da distribuidora.
mo a demanda ou carga de energia elétrica, é de
grande importância, tanto no período antes da re- •
Mercado Global
visão quanto após a revisão. No período pré- No período pós-revisão tarifária não existe mais
revisão, o crescimento de carga a ser considerado
a necessidade do conhecimento do mercado local
está restrito aquele afetado pelo investimento, ou
adicionado em função do investimento para apu-
seja, deve-se considerar o efeito local do investi-
ração do benefício associado. Isto se deve ao fato
mento. No período pós-revisão, a carga local é de que, na legislação, se prevê a compensação
englobada no mercado total da distribuidora per-
desse investimento através de uma remuneração
dendo-se a idéia do incremento local de carga. estabelecida no momento da revisão tarifária. Os
• Mercado Local componentes do investimento são incorporados na
base de remuneração através de um conjunto de
A determinação do crescimento do mercado as-
critérios descritos na Resolução 493/02. A base de
sociado a um investimento requer inicialmente
remuneração é um item importante na definição
uma abordagem individual e normalmente associ-
do nível tarifário da concessão de distribuição e é
ada a uma região. Em função do investimento, o
refletido em todos os postos tarifários em função
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da estrutura adotada. Esta estrutura que representa com a tarifa de compra da energia, existe uma
o rateio da receita permitida entre os usuários da contaminação da estrutura da tarifa de uso na par-
rede de distribuição define a Tarifa de Uso do Sis- cela de energia. Isto se deve à distorção atual das
tema de Distribuição. Desta forma, a distribuição tarifas entre os diversos níveis, ou seja, existe um
dos montantes relativos à Quota de Reintegração e subsídio cruzado no valor da energia de uma
à Remuneração do Investidor está sujeita não só mesma distribuidora, o que faz com que consumi-
ao nível de tensão onde o investimento foi reali- dores de classes de tensão mais elevadas paguem
zado, mas também nos níveis à jusante. uma tarifa de energia inferior ao custo da energia,
Para que se possa determinar a evolução da re- e os de classes de tensão inferiores paguem uma
ceita obtida por um investimento no período pós- tarifa de energia superior ao custo da energia. Isto
revisão, torna-se necessário o conhecimento tanto significa dizer que, para o consumidor em mais
do crescimento global do mercado da distribuido- alta tensão, o preço da energia é contaminado pelo
ra, como também da evolução da estrutura tarifá- preço mais baixo do transporte ou do “fio”. No
ria por nível de tensão. Pode-se concluir que antes caso do consumidor de BT, este deve pagar natu-
da revisão o investimento atende as cargas real- ralmente mais pelo transporte da energia, mas não
mente afetadas pela obra e deve ser remunerado pela energia comprada.
em função do benefício deste atendimento. Após a Portanto, ao determinar o fluxo de caixa associ-
revisão, existe uma “socialização” dos custos des- ado à atividade “fio” é necessário observar o re-
se investimento fazendo com que todos os usuá- flexo da parcela de energia na tarifa que muitas
rios da rede daquela distribuidora passem a pagar vezes pode gerar surpresa indesejável.
parte desses custos. D. Taxa de Retorno (WACC)
B. Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição Um dos dados importantes na avaliação de in-
A receita da distribuição é estimada em função vestimento é a taxa de retorno que influencia o
do mercado e da tarifa de uso do sistema de distri- cálculo das principais métricas utilizadas para va-
buição (TUSD). A TUSD é definida pelo regula- loração dos projetos. Entre essas métricas pode-
dor nos processos de revisão tarifária ordinária e mos citar o Valor Presente Líquido (VPL), o tem-
extraordinária e no reajuste tarifário. O processo po de retorno do capital (“pay-back”), a taxa in-
de revisão tarifária representa um marco para a terna de retorno (TIR), etc. Para o cálculo destas
empresa e, como já foi mencionado anteriormente, métricas deve ser usado o valor da taxa que a em-
afeta o fluxo de caixa não só em termos quantita- presa de distribuição consegue captar no mercado
tivos mas principalmente na forma como as variá- financeiro incluindo o recurso de terceiros e o re-
veis são utilizadas. Este processo representa uma curso dos acionistas. Neste caso, o melhor parâ-
fonte de incerteza quanto ao índice de reposicio- metro é o WACC (“Weighted Average Cost of
namento tarifário (IRT) que será obtido pela em- Capital”) da empresa, pois ele exprime o custo
presa. real do capital a ser empregado no projeto de in-
No que se refere ao reajuste tarifário, a incerteza vestimento.
é somente devido ao índice acordado. No caso O problema que aparece, no entanto, é quando o
brasileiro, este índice tem sido o IGP-M, mas está órgão regulador estabelece uma taxa de remunera-
prevista a troca por um índice setorial. Um pro- ção básica para incidir sobre a base de remunera-
blema ocorrido recentemente foi a incorporação ção no momento da revisão tarifária. Esta taxa se-
do IGPD-I no cálculo do fator X, o que demonstra gundo a NT SRE-ANEEL 025/00 é calculada a-
a tendência do governo atual em alterar o IGP-M. través de uma média das taxas de empréstimos
C. Tarifa Média de Compra de Energia conseguidos pelo setor e de uma remuneração
média estimada para os acionistas as quais se
Apesar da atividade de comercialização não fa-
compõem através de uma média internacional pa-
zer parte da atividade de distribuição de acordo
ra o setor elétrico. Por exemplo, a ANEEL adotou
com os ditames da Lei 10848/04 e do forte propó-
nas últimas revisões uma composição de 50% para
sito em separar completamente, inclusive explici-
o capital de terceiros e 50 % para o capital pró-
tado na conta de energia elétrica, a tarifa de uso
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prio. índice.
Conclui-se que, a partir da revisão tarifária, os Este índice é, portanto, importante para a defi-
fluxos de caixa associados aos projetos de inves- nição dos fluxos de caixa incrementais de um in-
timentos deverão ser construídos a partir da taxa vestimento após a revisão tarifária. A sua lei de
de retorno definida pela ANEEL. Isto implica que formação deve ser estudada para fazer uma avali-
as receitas originadas pelo projeto, já menciona- ação do seu comportamento no futuro. Como este
das anteriormente, são, na realidade, um produto índice depende também do mercado futuro da
desta taxa de retorno. Definidos os fluxos de caixa concessionária existe uma correlação com esta
associados aos projetos, passa-se a utilizar o variável.
WACC real da companhia.
A taxa de retorno da ANEEL apresenta uma va- F. Ganhos de Qualidade
riabilidade pequena e normalmente é estabelecida
Uma outra fonte de custos imputados às distri-
em cada ciclo das revisões tarifárias. Há uma ten-
buidoras é a penalidade relativa aos níveis de con-
dência de manter o maior tempo possível inaltera-
fiabilidade da rede de distribuição definida pela
da para evitar questionamentos das distribuidoras
Resolução ANEEL 024/01. A medida de confiabi-
que concluem o processo de revisão em momentos
lidade é feita através dos índices DEC, FEC, DIC
diferentes. Desta forma, o WACC da ANEEL pos-
e FIC. Além destes existe o Tempo Médio de A-
sui pouca volatilidade e está mais relacionado não
tendimento (TMA) que está associado à presteza
a um risco de mercado, mas a um risco regulató-
de atendimento da concessionária frente a uma
rio. Portanto, a incerteza relacionada a esta taxa
reclamação do consumidor. Os quatro índices de
pode ser desprezada. Entretanto, a incerteza asso-
continuidade (DEC, FEC, DIC e FIC) estão rela-
ciada ao WACC real da distribuidora deve ser con-
cionados diretamente à rede de distribuição desde
siderada em função das questões macro-
a forma como ela foi planejada como a forma co-
econômicas e do mercado financeiro. Dentro do
mo ela é operada. Além dos índices de continui-
mercado financeiro podemos distinguir dois mer-
dade podemos acrescentar os índices de confor-
cados que afetam diretamente as empresas distri-
midade definidos pela Resolução ANEEL 505/01.
buidoras: o mercado de crédito e o mercado de
Estes índices estabelecem a forma do perfil de
capitais. O primeiro está associado ao empréstimo
tensão desejado como a quantidade de harmônico
normalmente de curto e médio prazo que a empre-
permitida, o desnível permanente e transitório
sa utiliza para fazer frente aos seus custos corren-
permitido, etc.
tes e investimentos, enquanto que o segundo se
Os investimentos na rede de distribuição afetam
relaciona à capacidade da empresas de captar re-
tanto os índices de continuidade como os índices
cursos através dos seus acionistas ou futuros acio-
de conformidade podendo representar uma dimi-
nistas. Este tipo de captação normalmente está
nuição de custo para a empresa se ela vem pagan-
associado a recursos de longo-prazo e com parce-
do multa devido à ultrapassagem dos padrões es-
ria no empreendimento.
tabelecidos pela ANEEL à empresa ou uma “sim-
E. Índices de Aproveitamento ples” melhoria da qualidade ao consumidor quan-
Segundo a Resolução ANEEL 493/02, que trata do a empresa já vem atendendo aos padrões. Por-
dos critérios de inclusão dos ativos na base de re- tanto, quando os padrões das empresas estão abai-
muneração, os terrenos, edificações e subestações xo dos exigidos existe um ganho financeiro asso-
sofrem a aplicação de um percentual que retrata o ciado ao investimento em termos de diminuição
aproveitamento do ativo na atividade sob conces- do custo operacional, mas o mesmo não ocorre
são, denominado de Índice de Aproveitamento quando os índices já estão satisfazendo os crité-
( IA493 ). Com isso, torna-se primordial para o cál- rios da ANEEL. Neste último caso, deverá existir
culo dos montantes de remuneração e reintegração um trabalho junto ao órgão regulador no sentido
dos investimentos que serão considerados na base de sensibilizá-lo à necessidade de melhoria da
de remuneração, realizados entre a última revisão qualidade de transporte da energia para que incor-
e a nova revisão tarifária, a determinação desse pore este investimento na base de remuneração,
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ou seja, que a ANEEL qualifique o investimento preço é uma fonte de incerteza, pois é necessário
como “prudente”. Ainda, neste caso, os ganhos só prever o seu valor no futuro.
serão percebidos após a revisão tarifária. Outro ponto importante se refere à posição do
Os índices de continuidade e de conformidade regulador quanto ao montante de perda permitido
já são intrinsecamente de natureza aleatória, ou de ser repassado ao consumidor. Este limite de
seja, eles representam uma média no número de repasse varia de distribuidora a distribuidora e é
ocorrência de falhas (FEC), uma média na dura- normalmente definido nos contratos de concessão
ção de falhas (DEC), uma média de nível de ter- e atualizados nos processos de revisão tarifária.
ceiro harmônico, etc. A quantificação destas mé- Diferente do caso dos índices de DEC e FEC, os
dias de forma preditiva requer a execução de um investimentos que proporcionam uma diminuição
programa computacional de simulação de falhas no nível de perdas, geram sempre um benefício se
no sistema de distribuição ao nível NH3[2]. Uma a concessionária está acima ou abaixo do nível
outra forma, porém menos precisa, é levantar o permitido pela ANEEL.
histórico de quantidade de obras e seus respecti-
vos níveis de confiabilidade expressos, por exem- IV. OPÇÕES REAIS
plo, pelos índices de DEC e FEC. A partir de um As métricas do VPL, TIR, “Payback” e outras
processo de regressão onde o volume de investi- similares adotadas para análise de investimento
mento representa a variável explicativa e o índice não podem capturar a flexibilidade administrativa
a variável explicada pode-se prever o efeito do de adaptar e rever decisões mais tarde em resposta
investimento na variação do índice. Este procedi- às mudanças inesperadas e ao desenvolvimento do
mento é adotado pelos programas de planejamento mercado. Essas métricas são de caráter estático,
agregado em usos pelas empresas de distribuição que deixa de levar em conta muitas opções que se
brasileiras[3]. apresentam à gerência no tocante a um projeto de
Em função da forma como a qualidade é tratada investimento. Entre tais opções, estão a de expan-
na regulação brasileira, observa-se que em muitos dir ou prolongar o projeto, se os resultados forem
casos não é vantajoso investir na rede de distribui- melhores que o esperado, ou reduzi-lo ou abando-
ção com o propósito de melhorar os índices de ná-lo, se os resultados forem piores do que o espe-
qualidade visto que não há ganho direto na tarifa e rado. Quando exercidas de forma otimizada, todas
nem na diminuição de multas quando o índice já essas opções proporcionam flexibilidade que au-
satisfaz as metas estabelecidas pela ANEEL. menta o valor do projeto[4].
G. Ganhos na Diminuição de Perdas Portanto, a inclusão das incertezas nas variáveis
que compõem o fluxo de caixa aliado à incorpora-
Outra variável importante na definição dos in-
ção das flexibilidades na tomada de decisão ao
vestimentos é o nível de perdas na rede de distri-
longo da vida útil do projeto, incorpora uma gama
buição. Neste trabalho, serão consideradas apenas
de informações que podem representar o diferen-
as perdas técnicas, ou seja, aquelas dissipadas na
cial na comparação de alternativas de investimen-
própria rede, onde o investimento pode ocasionar
to. No atual momento do setor elétrico, caracteri-
uma diminuição no nível. Normalmente, os inves-
zado pela mudança, incerteza e interações compe-
timentos em novos alimentadores, subestações ou
titivas, freqüentemente a realização dos fluxos de
em compensação reativa, tendem a melhorar o
caixa previstos irá provavelmente diferir do que é
carregamento do sistema e conseqüentemente o
esperado inicialmente pela administração. À me-
perfil de tensão diminuindo as perdas na rede de
dida que novas informações chegam e a incerteza
distribuição.
sobre as condições do mercado e o futuro do fluxo
Definido o montante de perdas que se consegue
de caixa é gradualmente melhor compreendido, a
minimizar através da implantação de uma obra,
administração pode ter uma flexibilidade valiosa
necessita-se obter os ganhos financeiros. Para tal,
para alterar sua estratégia operacional para capita-
é necessário valorar estas perdas através do preço
lizar oportunidades futuras favoráveis ou diminuir
da energia que deixou de ser contratada ou da e-
perdas.
nergia comprada no mercado de curto prazo. Este
Numa empresa, em geral, podem-se observar as
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seguintes opções relativas a um projeto de inves- aplicam para o caso da distribuição, como: a pos-
timento[5]: sibilidade de expandir a capacidade inicialmente
• expandir suas atividades no futuro (“growth prevista para um projeto e a possibilidade de adiar
option”); o início de um projeto. A possibilidade de aban-
• abandonar o investimento a qualquer mo- dono do projeto que a princípio seria interessante
mento (“exit option”) em função da possível tende a apresentar um valor residual baixo visto
entrada de novos competidores ou de altera- que os equipamentos já empenhados normalmente
ções relativas à expectativas; são de uso exclusivo para a atividade de distribui-
• investir para aprender e entrar em determi- ção. O investimento para aprendizado ou associa-
nado setor (“learn option”); do à troca do processo de produção, em geral, não
• adiar determinado desembolso de capital se aplica, pois o setor de distribuição é tradicional
(“defer option” ou “option to wait”). Dentro não incorporando vantagens imediatas em função
de uma análise de investimento deve-se con- de inovações. No item seguinte é apresentado um
templar as possibilidades de investir imedia- exemplo real onde se incorpora na análise a flexi-
tamente, caso as condições sejam favorá- bilidade quanto ao adiamento da construção de
veis, ou de adiar a data de início da aplica- uma nova Subestação.
ção de capital para um momento futuro mais
propício. Essa possibilidade de espera deve V. EXEMPLO: ADIAMENTO DE NOVA
SUBESTAÇÃO
ser precificada;
• trocar ou flexibilizar o processo de produção Para exemplificar o uso da teoria de opções re-
(“option to switch”); ais, aplicada ao setor de distribuição, utilizar-se-á
• combinar diversas flexibilidades diferencia- o caso da Subestação Paulista, na área de conces-
das (“multiple interacting options”); são da Escelsa, cuja construção estava prevista
Projetos que apresentam valor presente negativo para 2004, face à entrada de novos clientes.
podem ser eventualmente viáveis, caso não te- Será avaliada a opção de adiamento (diferimen-
nham sido contempladas as flexibilidades embuti- to) de investimentos para construção da SE Pau-
das no processo de avaliação. lista, englobando:
Enquanto opções financeiras são baseadas em • Instalação de um transformador 69/13,8 kV
ativos de referência negociáveis no mercado de - 6,67 MVA;
capitais (ações, índices, moedas, etc.), as opções • Construção de um novo bay de 15 kV;
reais são baseadas nas oportunidades estratégicas • Construção e recondutoramento de 11,95
embutidas nos projetos de investimento. As nego- km de rede área em cabo 4/0 AWG.
ciações das flexibilidades são decorrentes da im- O desenvolvimento da análise de investimento
plementação dos projetos e da negociação desses associado a essa SE será feito em quatro etapas
projetos entre agentes. que normalmente são seguidas quando se incorpo-
A utilização do modelo de opções reais torna-se ram opções reais:
interessante: • Calcular o valor presente sem flexibilidade,
• quando o investimento admite revisões du- aplicando o método do fluxo de caixa des-
rante sua vida útil; contado;
• quando as oportunidades estratégicas são • Modelar a incerteza aplicando árvore de e-
mais importantes do que o fluxo de caixa em ventos;
si; • Incorporar as flexibilidades criando as árvo-
• quando existem decisões contingenciais; res de decisões;
• quando for interessante esperar por mais in- • Calcular o valor da opção real.
formações; Apesar da abrangência deste trabalho indicar
• quando a flexibilidade gerencial é evidente, que se deve combinar a metodologia de opções
numa condição altamente incerta. reais com a nova formação do fluxo de caixa, nes-
Dentre as opções acima descritas, algumas se te exemplo é considerada apenas a incerteza no
9

crescimento da demanda para efeito de melhor 11,5 e sobe, em média 3,7% nos próximos anos
compreensão. A análise real requer a consideração até atingir 16 MVA em 2013. Para processar a
de outras incertezas mencionadas no Item 3 que simulação Monte Carlo do projeto, é necessário
variam em função do período de revisão tarifária. calcular a sua volatilidade. Dependendo da volati-
Dado que o mercado é indiferente à revisão tarifá- lidade, a demanda no último ano deverá situar-se
ria, o seu efeito não foi avaliado neste exemplo. no seguinte intervalo de confiança de 95%:
Em função destas simplificações, o resultado aqui
obtido não deve ser levado em consideração, pois
[
D2013 = D2004 e 9 x 3,7% − 2σ 9 , D2004 e 9 x 3,7%+ 2σ 9 ]
(2)
tem o objetivo meramente didático. A estimativa gerencial do intervalo de confiança
Para efeito do exemplo deste trabalho, será con- de 95% é obtida indiretamente, indagando:
siderado um investimento de R$ 3529,80 mil, ou
Dado que a demanda média esperada para o úl-
seja, cerca de R$ 3,5 milhões para construir a Su-
timo ano é 16 MVA, qual é o valor mínimo de de-
bestação.
manda que poderá ser atingido em um intervalo
A. Valor Presente sem Flexibilidade de confiança de 95%?
Supondo um crescimento de carga de 3,7% e Supondo que a gerência forneceu uma estimati-
dado que a capacidade do sistema atual para aten- va de 12 MVA, a volatilidade das demandas foi
dimento da região é de 12,5 MVA, o investimento calculada pela equação:
só se torna efetivo quando a carga da região ultra- n
 D inf erior 
∑ ri − ln T  9 × 3,7% − ln 12 
passa essa capacidade. Será considerado como i =1  D =  11,5  = 4,84% (3
receita incremental o produto da diferença entre a σ =
0

2 T 2 9
carga e a capacidade anterior à entrada da nova )
subestação e a tarifa vigente. Note que este proce- O intervalo de confiança em torno do nível de
dimento é pertinente somente antes da revisão ta- demanda esperado para cada ano considerado no
rifária, mas neste exemplo será considerado válido modelo é construído por:
durante o período de avaliação do projeto que,
neste caso, é de dez anos.
Lim d [Dt ] = D0 e ∑ ri − 2σ t −1 = 11,5e (t −1)×3, 7% − 2×4,84 t −1
Com as receitas e descontando os custos de im-
postos e encargos associados, é calculado o VPL (4)
do projeto para uma taxa de 12 % ao ano. O valor
calculado é de R$ 270 mil. Pelos métodos tradi- Limu [Dt ] = D0 e = 11,5e (t −1)×3,7%+ 2×4,84 t −1 (5
∑ ri + 2σ t −1

cionais de análise de investimento, para um VPL )


positivo o projeto é aceito. Desta forma, o nível mais baixo de carga na re-
gião para o ano de 2013 (10 anos após) é de 12
B. Análise de Monte Carlo para Determinação
MVA e para o nível mais alto é de 21,5 MVA. A
da Volatilidade do Projeto
Figura 1 apresenta o gráfico das projeções de de-
A planilha original do estudo foi modificada e
manda.
processada no programa Crystal Ball para
Demanda Max Prevista na SE: Faixa de Incerteza
realização da análise Monte Carlo necessária para
determinar a volatilidade do projeto, conforme a 25,0

abordagem consolidada da incerteza. 20,0


Esta é a etapa mais complexa do processo de 15,0
MVA

análise, pois requer a criação de séries associadas


10,0
às variáveis sob incerteza. No caso exemplo, foi
5,0
criada a série de projeção de mercado de demanda
0,0
máxima utilizando a taxa crescimento de 3,7%, 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
conforme a seguinte equação: Mercado DemadaAnos Max Prevista MVA

D =D e 3 , 7% (1) Limite inferior


t t −1
Limite superior
A Figura 1 mostra que a demanda em 2004 é
10

Figura 1. Demanda Máxima Prevista na Subesta- Desse modo, variando-se mil vezes o valor da taxa
ção de crescimento da demanda, a distribuição das
No programa Crystal Ball, utilizando a plani- taxa de retorno resultantes é aproximadamente
lha de cálculo do fluxo de caixa, a variável de in- normal, com valor médio de 11,56%.
certeza correspondente à taxa de crescimento da
demanda foi definida como Hipótese, com uma
distribuição normal, média 3,7% e o desvio pa-
drão 4,84%.

Figura 3. Taxa de Retorno resultante da simulação


de Monte Carlo
A volatilidade do projeto (desvio padrão da taxa
de retorno) é 6,49%.

Figura 2. Variável de Hipótese na simulação de C. Árvore de Eventos


Monte Carlo A volatilidade calculada é aplicada na elabora-
A volatilidade do projeto é o desvio padrão das ção de uma árvore de eventos com base no valor.
variações percentuais do valor presente do projeto Para isso, foi desenvolvido um aplicativo em Ex-
ao longo dos anos, ou seja, a taxa de retorno do cel, para avaliar opções simples.
projeto, calculada por:
 VP + FC1 
Z = ln 1 
 VP0 
(6)
onde:
T
FC t
VP0 = ∑
t =0 (1 + WACC ) t
(7) Figura 4. Parâmetros de entrada para o cálculo da
árvore de eventos
T
FC t A opção a ser analisada é uma opção de adia-
VP1 = ∑ mento dos investimentos por um ano. A árvore de
t =1 (1 + WACC ) t −1
eventos construída tem dez estágios. Na avaliação
(8) intrínseca da opção, o valor presente do ativo-
A célula contendo o valor de z também é de- objeto deve ser igual ao preço de exercício. A taxa
finida como previsão da simulação. Durante a si- de juros anual livre de risco considerada foi 10%.
mulação Monte Carlo, a distribuição do valor de Z A taxa de juros, convertida para o regime de capi-
é obtida mantendo-se constante o valor de VP0 e talização contínua equivale a
deixando VP1 e FC1 variarem com as incertezas ln(1+r)=ln(1,10)=9,53% ao ano.
introduzidas como hipóteses. Logo: As árvores de eventos modelam o conjunto de
 VP + FC1  valores que o ativo-objeto sujeito a risco pode
Z = ln 1  (9) assumir ao longo do tempo. A árvore de eventos
 3751,8 
construída é ilustrada a seguir nas Figuras 5 e 6.
Foi executada uma simulação com mil iterações As equações do modelo binomial empregado na
(trials), cujo resultado é mostrado na Figura 3. árvore de eventos são:
11

y 0
∆t =
N 3458,10 3529,8
(10) 0
3319,03 3387,8
u = eσ ∆t

5
(11)
3185,55 3251,6
d = e −σ ∆t = 1 / u (12) 0
p=
(e − d )
( r −b )∆t
3057,44 3120,8
(u − d ) 4
(13) 2934,49 2995,3
onde: 3
y=prazo de expiração da opção em anos 2874,8
N=quantidade de estágios da árvore 8
r=taxa de juros anual (capitalização contínua) Figura 6. Árvore de eventos
σ=volatilidade anual do preço do ativo-objeto D. Árvore de Decisões
b=taxa de dividendos Nosso objetivo é calcular o valor da opção de
p = probabilidade do movimento ascendente adiamento de modo a avaliar o investimento com
q = probabilidade do movimento descendente maior precisão.
u = taxa de crescimento do crescimento ascen- A opção de adiamento pode ser encarada como
dente uma opção de compra americana em que o preço
d = taxa de crescimento do movimento descen- de exercício é equivalente ao valor do investimen-
dente to a ser feito[5], ou seja, o valor presente do ativo-
objeto. Isso quer dizer que a decisão de investir na
SE pode ser feita a qualquer momento dentro do
período de análise. Como neste exemplo a única
incerteza modelada é o crescimento de carga, às
vezes, é interessante não exercer a opção, ou me-
lhor, não investir naquele ano. Resta determinar,
Figura 5. Arvore de Eventos: Cálculos intermediá-
então, o valor da opção de compra em cada ano e
rios
Essa árvore pode ser construída com um proce- para cada cenário de carga. Isto é feito através da
dimento muito simples e prático. Inicialmente, o montagem da árvore de decisão.
valor presente do ativo-objeto foi introduzido no Para o exemplo citado, a partir de uma análise
step 0. Os demais elementos da diagonal da árvore “backward” sobre a árvore de decisões, é possível
são calculados multiplicando o elemento anterior determinar o valor da opção de adiamento do pro-
na diagonal por d. Cada elemento restante é ob- jeto no ano inicial do período. Neste caso, o valor
tido multiplicando o elemento da coluna anterior encontrado foi R$325,54 mil.
na mesma linha por u. Step 0 Step 1 Step 2 … Step 9 Step
Step 0 Step 1 Step 2 … Step 9 Step 10
325,54 365,67 408,00 749,57 804,12
10
3529,80 3602,9 3677,7 4245,88 4333,9 229,53 265,16 578,82 629,83
9 0 2 142,19 414,93 462,55
3458,1 3529,8 4075,13 4159,6 257,64 302,00
0 0 3 106,67 147,90
3387,8 3911,25 3992,3 0 0
5 5 0 0
3753,96 3831,8 0 0
0 0 0
3602,99 3677,7 0 0
12

0 da opção de R$325,54 mil, que totaliza


Figura 7. Árvore Binomial de Avaliação da Opção R$3.855,54 mil. Este valor é superior ao valor
A avaliação inicia pela última coluna da árvore. presente dos fluxos de caixa de ingresso do proje-
Assim, no último período, calcula-se o valor da to, que é igual a R$3.799,80.
opção: Como o custo total de investir hoje é maior que
VOR = Max[S - X ;0] o valor presente dos fluxos de caixa supondo o
(14) ingresso, é melhor esperar e manter a opção fun-
onde: cionando, ou seja, é melhor adiar o investimento.
S = VP da árvore de eventos
X = preço de exercício da opção VI. CONCLUSÃO
Ou seja, quando o valor presente calculado na A atividade de distribuição de energia elétrica
árvore de eventos (S) for maior que o valor tem características bastante particulares que im-
investido (X), isto é, o preço de exercício, a opção pedem a utilização direta de conceitos
deve ser exercida e seu valor será S-X. Caso consagrados em análise de investimentos,
contrário, a opção não deve ser exercida, e o seu inclusive aqueles associados à nova formulação
valor é zero. via opções reais. A não observância dessas
A seguir, cada step anterior é avaliado, características tem levado muitas empresas a
adotando o maior valor entre VOR = S – X ou a tomar decisão de forma equivocada,
ponderação entre os valores inferior e superior dos principalmente devido à reestruturação do setor
ramos subseqüentes da árvore de avaliação. Os elétrico brasileiro e devido à recente Lei
fatores de ponderação são p e (1-p): 10848/2004 que separa por completo a atividade

VOR =
(VOR sup × p ) + (VORinf × (1 − p) ) de comercialização da atividade de distribuição.
(15) É ainda comum em muitas empresas, a descon-
er sideração do efeito do regulador sobre o fluxo de
E. Cálculo da Opção Real caixa futuro da empresa, o que leva, mesmo numa
O valor da opção de adiamento dos abordagem tradicional sem incertezas, a um cálcu-
investimentos por um ano foi calculado na etapa lo equivocado do VPL de um determinado proje-
anterior e vale R$325,54 mil. Na análise to. A construção de um fluxo de caixa sem consi-
econômica tradicional do projeto, pelo processo derar o momento da revisão tarifária e seus efeitos
de fluxo descontado, o valor presente líquido sobre a avaliação, pelo regulador, do projeto em
obtido foi R$270 mil. Portanto, o valor presente particular, significa abandonar a realidade da ati-
líquido do projeto considerando a opção de vidade regulada de distribuição.
adiamento é de: A incorporação, em um segundo momento, das
incertezas e flexibilidades permitidas de um proje-
VPLF = VPLT + VOR =270+325,54=595,54 to proporciona uma maior dimensão à análise de
(16) investimentos em distribuição conforme foi de-
onde: monstrado no exemplo simplificado deste traba-
VPLF = Valor presente líquido final lho.
VPLT = Valor presente líquido tradicional VII. AGRADECIMENTOS
VOR = Valor das opções reais Os autores gostariam de agradecer a contribui-
O valor presente do fluxo de caixa de ingresso ção da empresa ESCELSA, na figura do Eng. João
do projeto é igual ao investimento de R$3.529,80 Bosco Anicio, recebida durante a elaboração deste
mil mais o VPL de R$270 mil, totalizando documento e pela disponibilização do Exemplo do
R$3.799,80. Item .
Investir agora implica exercer a opção, cujo va-
lor é R$325,54 mil. Portanto, o custo de investir VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
hoje é igual ao desembolso do capital de investi-
mento de R$3.529,80 mil, mais a perda do valor
13

[1] J. W. Marangon Lima; J. C. Caminha Noro-


nha, T. Leite Ferreira, P. E. Steele dos Santos,
J. Miranda Filho, "Investimentos em Distribu-
ição: Uso de Opções Reais no Novo Paradig-
ma Criado pela Lei 10848/04", Brasília, Proc.
of XVI SENDI, 2004.
[2] R. Billington, and R. N. Allan, "Reliability
Evaluation of Power Systems", London: Pit-
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France, Proc. of 14th CIRED, 1999
[4] T. Copeland, and V. Antikarov, "Opções Re-
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[5] H. G. Brasil, "Avaliação Moderna de Investi-
mentos", Rio de Janeiro: Ed. Qualitymark,
2002, p. 172.
[6] J. C. Hull, "Options, Futures and Other De-
rivatives", London: Prentice Hall Interna-
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