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Título original: Midnight Pleasures With a Scoundrel

Copyright © 2009 por Lorraine Heath


Copyright da tradução © 2018 Feita por Fãs.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem
autorização por escrito dos editores.

tradução: Feita por Fãs


preparo de originais:Feita por Fãs
revisão: Feita por Fãs.
diagramação: Star Books Digital
capa: Star Books Digital
imagem de capa: Star Books Digital
adaptação para ebook: Star Books Digital

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

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Heath, Lorraine
Prazeres a Meia-Noite [recurso eletrônico] / Lorraine Heath [tradução de
Feita por Fãs]; Rio de Janeiro, 2018.
recurso digital (Órfãos de Saint James; 4) Tradução de: Midnight Pleasures With a
Scoundrel Sequência de: O Nobre e a Plebeia Continua com: O Último Canalha
Perverso
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide
Web
ISBN 978-00-6195-974-5 (recurso eletrônico) 1.Romance de Época. 2. Livros
eletrônicos. I. Título. II. Série.

E-book distribuído sem fins lucrativos


É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou qualquer uso comercial do presente conteúdo
Dedicatória
Para as espertinhas
Alice, Franny, Jane, Jo, Jolie,
Kay, Sandy, Suzanne, Tracy,
A vida é muito mais divertida com vocês damas
entornando o vinho.
Prólogo

Do diário de James Swindler.


A escuridão paira dentro de mim. Escuridão nascida no dia em que vi meu pai sendo enforcado.
Um enforcamento público, com um ar festivo nas ruas, uma perda que era somente minha, como se
o objeto roubado justificasse a destruição tanto da sua vida quanto da minha.
Eu havia nascido apenas oito anos antes, e com a minha chegada tinha vindo a despedida da
minha mãe deste mundo. Foi assim que, com a morte de meu pai, eu me tornei um órfão sem ter
para onde ir e ninguém para me levar.
Dentre a multidão eufórica de curiosos havia dois rapazes que observavam as lágrimas
escorrendo pelo meu rosto sujo enquanto outros zombavam e riam, sem dúvida contando a minha
história. Meu pai me disse para ser forte. Ele até piscou para mim antes que colocassem o capuz
negro sobre sua cabeça. Como se sua posição na forca fosse uma brincadeira, um pouco de boa
diversão, algo que iria rir mais tarde.
Mas não era uma brincadeira, e se meu pai está rindo agora, é só o diabo que o ouve.
Eu não era forte naquele dia, mas tenho mostrado força desde então.
Os rapazes confortaram-me como os meninos estão acostumados a fazer: com um toque no
braço e com lábios rígidos dizendo “força companheiro”. Daí me convidaram para ir com eles. Jack
era o mais velho, com sua arrogância e ares de confiança. Luke estava com os olhos arregalados, e eu
suspeitava que fosse a primeira execução que ele já tinha testemunhado. Conforme fizemos o nosso
caminho através da multidão fervilhante, seus dedos ágeis roubavam muitas moedas e lenços.
Quando a escuridão caiu, eles me levaram através das ruas labirínticas através dos cortiços até a
porta de um homem que atendia pelo nome de Feagan, que acolhia crianças para treiná-las como
criminosos. Ele tinha pouca utilidade para mim, até receber os preciosos despojos de seus
trabalhadores. Todos meninos. Apenas uma menina entre eles. Uma menina com cabelo vermelho
vibrante e olhos verdes suaves. O nome dela era Frannie. Depois que eu percebi que Jack e Luke
tinham me trazido para um antro de ladrões, perdi todo o entusiasmo em ficar. Eu não tinha
vontade de pertencer a um lugar que certamente me levaria diretamente para a forca. Mas eu tinha
um forte desejo em não perder de vista a menina. Então eu lá permaneci.
Tornei-me muito hábil em desenterrar informações e ajudando a planejar fraudes. Eu não era tão
talentoso quando se tratava de roubo. Fui pego em mais de uma ocasião e escapei da punição como
meu pai tinha me ensinado, com firmeza e uma piscadela.
Como resultado, eu me tornei muito familiarizado com o fato de que o sistema jurídico não era
justo, e muitas vezes a inocência foi o custo a pagar. Comecei a prestar muita atenção em como a
justiça era conduzida. Por que uma criança era punida com dez chicotadas por roubar um lenço de
seda, enquanto outro foi transportado para as colônias carcerárias na Nova Zelândia? Como as
evidências foram obtidas? Como é que se determinava a culpa? Mais importante, como provar a
inocência?
Com o tempo, comecei a trabalhar secretamente para a Polícia Metropolitana. Eu não tinha medo
das sombras ou o lado mais sombrio de Londres. Mesmo quando eu trabalhava abertamente para a
Scotland Yard, visitei os lugares onde outros não tinham coragem de pisar.
Eu me confortava em saber que nunca havia prendido um inocente. Dependendo da gravidade
do crime, com frequência liberava o culpado depois de um mero tapa no pulso e um aviso de que eu
estava observando, sempre observando. Que importância havia no roubo de um lenço de seda
quando um homem poderia ter sido morto nas ruas? Eu estava muito mais interessado e fascinado
por crimes terríveis.
Isto atraía à escuridão que para dentro de mim, e é por isso que eles ganharam minha atenção
ardente ...
E, eventualmente, levou-me a ‘ela’.
Capítulo Um

Londres, 1852
A vingança não era para os fracos de coração. Consumida pela necessidade em alcançá-la pouco
incomodou Eleanor Watkins que em nenhum momento duvidou em dar qualquer outra
consideração, era sua meta de vida. Pois desde que ela encontrou e leu o diário de sua irmã e soube
os horrores pelos quais passou quando viajou para Londres na temporada passada, dedicou pouco
tempo para outra coisa senão traçar a melhor forma de vingar Elisabeth. Eleanor determinou que o
homem que tinha conduzido desde a doce inocência à brutalidade carnal iria pagar tão caro por seus
pecados como sua irmã o tinha pela ingenuidade dela.
Sua busca por vingança controlava cada ação, cada pensamento, a partir do momento em que
acordava com a canção da cotovia a até que ela deitasse a cabeça no travesseiro para então aguentar
mais uma noite de sono inquieto e pesadelos terríveis alimentada por cada golpe da caneta de sua
irmã quando ela descrevia a vergonha que sofreu nas mãos do Marquês de Rockberry.
A necessidade obsessiva de Eleanor por vingança foi a razão para agora ela estar vagando por
Cremorne Gardens tarde da noite, hora em que qualquer mulher respeitável sairia de cena. Mesmo
os homens decentes já teriam se recolhido aos seus lares, mas, o homem que seguia dificilmente
poderia ser declarado respeitável, embora fosse uma boa imitação de um. Ela tinha ouvido que os
fogos de artifício que estouravam no ar todas as noites nos jardins eram espetaculares. Mas, claro, ele
não tinha chegado a tempo para desfrutar de tão simples prazer como ver os flashes de luzes
brilhantes pintarem o céu. Não, seus prazeres se inclinavam em direção a uma natureza mais
sombria e maus presságios.
E assim, Lorde Rockberry, havia esperado até que as pessoas de bem se dispersasse pelos jardins
e o depravado não pudesse ser notado por eles antes de fazer sua aparição surpresa. Sua risada
sinistra ecoou pelos jardins, enquanto periodicamente parava para falar com um e outro. Alto e
magro, ele passeou rapidamente através da multidão, sua capa esvoaçante atrás dele, aumentando a
sensação de que entre os ímpios ele considerava-se rei. Mas, mesmo com a sua altura e chapéu alto,
ela teve dificuldade em mantê-lo sob suas vistas, e estava determinada a fazê-lo de tal forma que ele
não tomasse conhecimento dela. Não cairia vítima de seus encantos persuasivos como sua irmã o
tinha. Se qualquer um deles caísse em encantamento, determinou que fosse ele por ela.
Esta noite ela visualizara deslizar um punhal em seu coração, assim todo o mundo iria ver
exatamente como pútrido era, mas sabia que não era o momento certo, nem o lugar. Tinha que ser
cuidadosa ao executar o plano, para que não fosse pendurada na forca. Mesmo que amasse muito
sua irmã, não estava completamente pronta para juntar-se a ela, embora se sua vida fosse o custo da
vingança, ela iria pagar. A partir do momento em que pôs os pés neste caminho, tinha tido
conhecimento de que poderia, eventualmente, levá-la à prisão de Newgate. Não se arrependeria,
desde que isso também levasse Rockberry para o inferno.
— Gostaria de um pouco de companhia?
O jovem que se postou à sua frente deu um sorriso encantador. Suas roupas eram bem alinhadas
e ela suspeitava que se tivesse alguém para apresentá-la adequadamente na sociedade, poderia dançar
com ele em um baile.
— Não, obrigado. Vou me encontrar com alguém.
— Sujeito sortudo. Se ele não apar...
— Ele vai — ela mentiu, interrompendo-o e o contornando, apressando-se na penumbra,
desejando ter um momento para apreciar a beleza dos jardins.
Droga! Agora, onde tinha ido Rockberry? Apressou o passo e deu um suspiro de alívio quando o
viu falando com uma mulher rechonchuda, cujo vestido era indecentemente baixo, dando a todos os
presentes um vislumbre do que ela tinha para oferecer. Aparentemente, ela não era o que Rockberry
procurava, porque continuou sem olhar para trás. Não, ele preferia senhoras de inclinação mais
inocente. Por sua vida, ela não conseguia entender por que ele tinha vindo aqui, onde o
comportamento impertinente era tolerado, inclusive esperado. Rockberry tinha uma propensão para
o intolerável, forçando sua irmã a realizar atos depravados do pecado e da devassidão.
Durante seis dias catalogara seus hábitos e rituais, mapeara seu padrão de vida. Trabalhou para
determinar a melhor forma de acabar com a vida de Rockberry sem sacrificar a própria.
Infelizmente, sua vida em uma pequena vila perto do mar mal tinha proporcionado a educação ou
experiência para fazer o jogo de gato e rato, e frequentemente temia que se tornasse a presa e não a
predadora neste jogo mortal. Especialmente porque ela teve a sensação crescente de que enquanto
seguia Lorde Rockberry, alguém a seguia.
Com os caramanchões de lavanda perfumando o ar ao redor dela, Eleanor resistiu a olhar para
trás, para não dar qualquer indicação de que estava ciente de seu perseguidor. Havia percebido o
homem em seu rastro duas noites atrás, depois que Rockberry havia visitado à Scotland Yard.
Deveria ter sido mais discreta. Ela poderia assustá-lo com sua ousadia, fazendo-o consciente de sua
presença, esperava que ele começasse a questionar sua própria sanidade. Se enlouquecesse e tirasse a
própria vida, tanto melhor. Iria salvá-la de ter que matá-lo. Em vez disso, era possível que ele a
entregasse à polícia.
Ela ainda não tinha avistado seu perseguidor esta noite, mas estava certa de que ele estava lá,
porque os cabelos de sua nuca eriçaram, enviando arrepios gelados através dela.
Não ajudava estar tão perto do Tâmisa, onde a névoa espessa rolava silenciosamente, levando a
cor de tudo o que a rodeava. A iluminação suavizava a neblina que se estendia sobre a noite,
estranhamente se esforçando para iluminar o que muitos preferiram esconder. Atrás dos olmos e
álamos, de recessos sombrios, vinham os murmúrios de cavalheiros e risos sedutores de mulheres.
Ela já não estava mais certa do que esperava conseguir seguindo Rockberry a um lugar tão
questionável, mas precisava saber o que ele fazia, quando agia, para que pudesse determinar o
melhor momento para atacar. Teria que ser meticulosa.
Ele rondou a noite como se fosse uma fera voraz, mas ela sabia que não era comida que
procurava, mas prazeres decadentes. O diário da irmã havia revelado detalhes íntimos e comoventes
de como a tinha seduzido, não só para a gratificação dele, mas para a diversão de outros. Como se
ela não tivesse importância e seus sonhos pudessem ser destroçados. Rockberry tinha destruído
Elisabeth muito antes de ela se atirar do penhasco para o mar turbulento.
Lutou contra as lágrimas, agora não era o momento de sucumbir à sua tristeza, reforçou sua
determinação em ver Rockberry pagar por sua parte na morte da irmã que tinha apenas dezenove
anos de idade.
O homem repugnante desapareceu em uma curva. Diabos! Estava muito distraído para perceber
que estava sendo seguido, então deve ter algum encontro em mente. Ela se perguntou se ele já tinha
escolhido a sua próxima vítima. Se fosse esse o caso, então ela poderia muito bem terminar o jogo
esta noite, porque não podia ficar parada e deixar uma outra mulher sofrer como Elisabeth havia
sofrido.
Ela contornou as árvores e parou cambaleante, seu caminho estava bloqueado por três
cavalheiros com sorrisos lascivos.
— Olá, doçura, — o do meio disse, dando a impressão de que ele era o único confiável.
As luzes nesta área eram extremamente fracas, e a névoa cinza não ajudava a situação. Ela poderia
dizer pouco sobre ele, exceto que era loiro, e se não fosse por seu sorriso zombador, poderia até
mesmo tê-lo considerado bonito. Seus amigos eram morenos, um distinguível por seu nariz bulboso
pouco atraente, e outro pela lamentável falta de queixo, como se de alguma forma ele tivesse caído
em seu pescoço. A maneira que seus olhares vagavam sobre ela fez sua pele arrepiar, e isso era tudo
o que podia fazer para não se encolher diante deles. Eles usavam boas roupas, juntamente com as
expectativas de um grande momento, desfrutando da juventude, enquanto ainda pertenciam a eles.
Quanto a ela, com a morte de Elisabeth, havia envelhecido bem além de seus vinte anos.
— Por favor, desculpe-me. — Ela fez um movimento para ir em frente, mas eles barraram seu
caminho. Seu coração acelerou, imitando o ritmo do trem que a levara a Londres, batendo e
sacudindo e ameaçando sair do trilho a qualquer momento. Ela deu um passo para trás, e o Sem
Queixo tentou impedir sua fuga. De repente, ela se viu cercada. Seria preciso muito pouco para os
homens arrastá-la para as sombras mais escuras do jardim onde não existiria nenhuma esperança
para manter sua dignidade.
Ela tentou abrir sua bolsa para encontrar o punhal que levava como sua única fonte de proteção,
mas o Sem Queixo tomou-a de supetão, quase arrancando seu braço fora no processo.
— Não! — Ela gritou.
— Vamos lá, seja uma boa menina — o homem loiro disse, colocando um braço ao redor dela,
levantando-a sobre as pontas dos dedos dos pés.
Aterrorizada ela lançou um grito ensurdecedor. Mas tudo o que pode ouvir foram os risos
enquanto começaram a levá-la em direção ao abismo escuro. Ela não iria sucumbir facilmente ao que
planejavam. Iria lutar até o fim.
— Espere, senhores! A senhora está comigo.
Todos os homens foram surpreendidos pela voz confiante obviamente dirigida tanto a eles como
a ela. Eles se separaram um pouco, permitindo ver através de uma abertura estreita a silhueta
sombria de um homem grande, com ombros largos, mais alto do que qualquer homem que já tinha
visto.
De repente, ele abriu caminho, passou o braço em volta da cintura dela e puxou-a de seu captor,
usando o braço livre para empurrar um dos outros homens de lado.
— Não farei mal nenhum, — ele murmurou rapidamente, em voz baixa, tranquilizador. — Se
você quiser sobreviver a esta noite com sua virtude intacta, eu sugiro que venha comigo.
Tudo sobre ele foi perdido para as sombras escuras que acompanhavam o denso nevoeiro. Seu
cabelo era escuro, mas ela não podia dizer seu tom exato. Ela podia sentir o poder que emanava
dele, sua força, bem como sua confiança. Instintivamente sabia que era um homem que não forçava
as mulheres. Ele não tinha necessidade. Algo nele irradiava uma atmosfera protetora, e percebeu que
era o homem que a vinha seguindo, o homem da Scotland Yard. Ela acreditava que ele não temia ao
diabo, e teve um pensamento louco que talvez pudesse ajudá-la a lidar com Rockberry. Mas mesmo
enquanto pensava nisso, percebeu que não podia confiar em um estranho mais do que ela poderia
confiar em um amigo. Não sobre este assunto, não quando muito, quando tudo, estava em risco.
Seu olhar se desviou para longe dela, e só então ela se lembrou que eles tinham plateia. Os três
jovens estavam olhando para eles.
— Olhe aqui, meu velho. — disse o líder. — Nós a encontramos primeiro.
— Como eu já disse, ela está comigo.
— Fomos informados de que ela estava disponível.
— Foi informado incorretamente.
Com seu braço firmemente ao redor dela, ele começou a se afastar. Ela teve que mover os pés
rapidamente para acompanhá-lo. Mas antes que eles se aproximassem do caminho principal, os três
homens tentaram impedir sua saída. Ela ouviu o suspiro cansado dele.
— Vocês realmente querem lutar esta noite, sabendo que não podem ganhar?
— Há três de nós e apenas um de você. Gosto de nossas chances.
— Minhas chances são melhores. Eu cresci nas ruas, lutando com maior número que o de vocês.
— Você fala como um cavalheiro.
— Mas luto como o próprio diabo. — A ameaça subjacente de suas palavras reverberou através
de sua voz.
Parecia que os homens não eram apenas irritantes, mas também estúpidos. O Nariz Bulboso
deferiu um soco.
Ela foi rapidamente empurrada para trás por seu protetor, foi assim que começou a pensar nele,
enquanto ele repelia o golpe e mandou o Nariz Bulboso para o chão. Os outros dois atacaram.
Enquanto ele usava seu ombro para desviar do Sem Queixo que cambaleou para trás, seu protetor
acertou com o punho no estômago do homem loiro, que com um gemido, dobrou e caiu de joelhos.
Em seguida, seu protetor se virou para Nariz Bulboso enquanto este se levantou e tentava recuperar
o equilíbrio.
O som de pele contra a pele quando os nós dos dedos de seu protetor atingiram o homem sob o
queixo ecoou. Nariz Bulboso cambaleou para trás, tentando manter o equilíbrio com os braços. Ele
caiu desajeitadamente no chão, imóvel. Enquanto seus companheiros estavam tentando chegar a
seus pés, seu protetor teve pouco trabalho em desferir dois socos rápidos e retornaram todos para o
chão.
— Fiquem parados até que saiamos. — Seu protetor ordenou, antes de estender a mão para ela.
— Vamos agora?
Se quisesse fazer mal, ela pensou, ele não tinha motivo para tirá-la daqui. Embora indecisa sobre
o que fazer, se encontrou assentindo com a cabeça. Ela já tinha tido muito deste lugar, e sabia que
encontrar Rockberry agora estava além de suas escassas habilidades de rastreamento. Ela deu um
passo em direção ao seu protetor, então se lembrou.
— Minha bolsa. Um deles pegou.
Com o pé, ele rolou Nariz Bulboso para o lado, recuperando sua bolsa, e parou para olhar o cabo
do punhal que despontava para fora.
— Para proteção. — ela murmurou, pegando sua bolsa e fechando-a sobre o punhal.
— Pouco serviu para você. Venha comigo. Fique perto. Vou contratar um coche para levá-la em
segurança para casa.
Ela não tinha escolha a não ser deixá-lo acompanhá-la e segurá-la junto a ele, porque percebeu
que estava tremendo pelo susto agora que tudo estava acabado. Como podia ter sido tão tola para
acreditar que conseguiria proteger-se neste lugar por simplesmente não aceitar o que poderia
acontecer?
— Você tem um nome? — Ele finalmente perguntou.
— Eleanor Watkins. — Ela disse sem pensar, e, em seguida, perguntou se deveria ter fornecido
um nome falso. Ela tinha dedicado tanto pensamento em seus planos, e agora corria risco de serem
desvendados.
— O que você estava fazendo vagando pelos jardins esta hora da noite, Senhorita Watkins?
— Receio ter me perdido. — Ela olhou para ele, incapaz de determinar se ele acreditou. —
Parece, senhor, que eu deveria saber o nome do homem que me salvou.
— James Swindler. — Na Kings Road eles encontraram um coche esperando na calçada.
Inclinando-se, ele abriu a porta e a ajudou a subir. — Que instruções darei ao condutor? —
Perguntou.
Relutante, ela deu o endereço de sua pensão. Ele passou a informação e as moedas ao condutor.
— Tome cuidado no futuro, Senhorita Watkins. Londres pode ser um lugar muito perigoso para
uma mulher sozinha.
Antes que ela pudesse responder, o condutor colocou o coche em movimento. Olhando para
trás, ela viu o Senhor Swindler ainda de pé na rua. Grande e imponente, muito parecido com o
homem que ela vislumbrou a seguindo.
Se ele era um homem de Rockberry, por que ele a deixaria ir? E se não fosse, por que ele estava
seguindo-a?

— O nome dela é Eleanor Watkins.


— A irmã de Elisabeth. Eu devia ter adivinhado. Há uma estranha semelhança.
James Swindler não se virou para reconhecer o murmúrio tranquilo a partir do canto sombreado
após pronunciar o nome da mulher que havia encontrado no Cremorne Gardens, depois de tê-la
espionado por dois dias.
Seu superior, Sir David Mitchum, sentou-se atrás da mesa em frente à qual permanecia de pé
Swindler. Como a chama no abajur estava baixa, não conseguia iluminar suficientemente os cantos,
Swindler supôs que devia fingir que não estava ciente de que outra pessoa estava na sala. O homem
cheirava a sândalo, tabaco de boa qualidade, e um suor nervoso fez dele um pouco difícil de se
misturar ao ambiente. O fato de que ele havia falado, aparentemente surpreso com sua informação,
tornou ridículo fingir que Swindler e Sir David estavam sozinhos na sala.
Ao contrário do homem no canto, Swindler tinha o dom estranho de se misturar sempre que
necessário. Ainda assim não deu nenhuma indicação de que estava ciente da presença do outro. Ele
poderia fingir com o melhor deles. Embora achasse inconcebível que o homem acreditasse que sua
identidade fosse um segredo, especialmente quando a investigação sobre a mulher tinha começado
na residência de Sua Senhoria. Ele suspeitou que o Marquês de Rockberry fosse um idiota vaidoso.
— O que mais você conseguiu descobrir sobre a mulher? — Perguntou Sir David.
Depois de colocar a mulher no transporte para casa, Swindler tinha tomado outro coche,
seguindo a uma distância discreta e ordenando ao cocheiro para deixá-lo em uma rua perto da
pensão da Senhorita Watkins. Ele caminhou rapidamente o restante do caminho, aproximando-se
mais um pouco apenas quando ela tinha entrado pela porta da frente. Esperou até que viu uma luz
suave aparecer em um canto da janela. Ao colocar algumas moedas na mão gorducha da senhoria
dela que tinha aberto a porta, ele foi capaz de discernir mais alguns detalhes.
— Ela tem um quarto alugado. Ela só pagou para o mês e tem estado em Londres há uma
semana. É extremamente silenciosa, nunca causa perturbação, não visita os outros residentes, e não
tem namorado. Muitas vezes toma a sua refeição em seu quarto.
O silêncio se estendeu entre eles até Sir David perguntar: — Mais alguma coisa?
— Receio não ter mais nada a acrescentar. Minhas instruções eram para segui-la e não me
aproximar. No entanto, como alguns jovens a abordaram com intenções pervertidas pensei que seria
prudente ignorar a segunda parte das minhas ordens. Alegaram que alguém informou que ela estava
"disponível". Eu não acho que teremos alguma ideia de quem esse alguém poderia ter sido.
— Não seja ridículo — veio a voz do canto, confirmando as suspeitas de que havia sido o
próprio Rockberry a ter aconselhado os jovens senhores a abordá-la e se aproveitarem dela.
Aparentemente, a paciência não era o forte de Rockberry.
— Uma senhora vagando por Cremorne Gardens tarde da noite, sozinha, certamente terá
problemas, — disse Sir David. — Teve sorte que você a estava vigiando. Parto do princípio de que
ela não é nenhuma sábia a respeito de sua tarefa. — Se ele nutria a mesma desconfiança que
Swindler em relação Rockberry, não demonstrou.
— Ela não sabe nada sobre o meu verdadeiro propósito. Eu compartilhei com vocês tudo o que
a senhoria dela foi capaz de revelar. Bem, exceto pelo fato de que a Senhorita Watkins chegou com
um grande baú e parece ter uma preferência pela cor rosa. Honestamente, poderia dizer, a partir das
minhas observações iniciais, que a Senhorita Watkins não é ameaça para ninguém.
— Sua Senhoria não concorda.
Por esse motivo que Swindler tinha sido requisitado. Para determinar o que pretendia a dama. Até
agora, ela tinha seguido Rockberry através do Jardim Zoológico e Hyde Park. Ontem à noite, ela o
tinha seguido ao seu clube, o Dodger's, um dos locais mais exclusivos de Londres onde os
cavalheiros desfrutam de lazer e vícios. Hoje à noite, Cremorne Gardens. Se fosse um crime seguir
alguém, Swindler apodreceria na prisão de Pentonville.
— Com todo o respeito, senhor, eu acredito que eu posso servir melhor em outro lugar. Ouvi
que alguém relatou um assassinato em Whitechapel esta noite e...
— Eu sei que você prefere resolver crimes depois de terem sido cometidos, Swindler, mas o
nosso dever em primeiro lugar é evitar a prática de crimes.
Esse era o lema do policial, o seu credo. Prevenção. A razão que tantos patrulhavam as ruas. Mas
Swindler acreditava que nada impediria alguém que tinha a intenção de cometer transgressões. Ele
era mais obcecado em garantir justiça e que a pessoa correta pagasse o preço pelos crimes
praticados. Ele não tinha nenhum desejo de lidar com um lorde mimado que estava preocupado
com uma mulher cuja cabeça mal alcançava o centro de seu peito. Deus o ajudasse, ele se sentiu um
gigante desajeitado ao lado dela.
— Ajudaria senhor — disse Swindler — saber que crime esperamos que ela cometa.
— Eu acredito que ela tenha a intenção de me matar — veio a voz do canto, demonstrando
nervosismo.
Sir David arqueou a sobrancelha escura em direção a Swindler, que lutou para não demonstrar
sua impaciência com essa situação. Estava muito próximo do momento em que ele mesmo gostaria
de estrangular o lorde.
— Por que acredita que a Senhorita Watkins poderia desejar mal?
Seu superior dirigiu o olhar para o canto. Swindler ouviu o suspiro impaciente antes que a voz
retumbasse.
— Elisabeth Watkins foi apresentada a Sociedade na última Temporada. Dançamos em algumas
ocasiões. Nada mais.
Havia sempre mais.
— Devo concluir, então, que Lady Elisabeth e Lady Eleanor...? — Perguntou Swindler.
— Não, seu pai é apenas um visconde. Ela é Senhorita Eleanor Watkins, simplesmente.
Apenas? Então o homem ali presente classificava as pessoas pela posição social e subestimava as
classes inferiores.
Cansado desta situação, Swindler virou-se. Podia ver uma perna estendida e uma bota de boa
qualidade e bem polida cujo brilho mal chegava à luz. O restante da pessoa estava perdido na
escuridão, mas Swindler sabia a quem pertencia, pois, a trilha tinha começado na residência de Sua
Senhoria. Não era muito velho. Ele era, no entanto, extraordinariamente bem-apessoado, inspiração
para os poetas que muito discorria sobre as maravilhas do amor. Swindler ficou terrivelmente
tentado a dirigir-se a ele pelo seu nome, mas por alguma razão desconhecida continuou naquele
jogo, afinal jogo é para ser jogado, e Sir David o estava tolerando, o que significava que o homem
tinha amigos muito mais poderosos que Sir David, ou ele tenha testemunhado Sir David fazendo
algo que não deveria.
— Se foi Elisabeth que chamou a sua atenção na Temporada passada, porque Eleanor agora
desejaria fazer mal?
O silêncio saudou sua pergunta.
— Sua Senhoria, eu não posso ser de muita ajuda se você não for mais franco. Não sou dado a
fofocas. Você poderia até mesmo confessar que desfruta de atos sexuais dos mais depravados... —
mesmo com a distância que os separava, Swindler sentiu uma onda de tensão que emanava do canto.
— ...conhecidos pelos homens, que eu não contaria a ninguém.
O silêncio foi tenso e se prolongou. Sobre o que se tratava então? Alguns atos depravados que
agora assombravam Sua Senhoria?
Rockberry finalmente limpou a garganta.
— A Senhorita Elisabeth Watkins teve um fim prematuro. É bem possível que sua irmã me ache
responsável, o que é ridículo, sendo que eu não estava nem perto quando ela encontrou sua morte.
Senhorita Eleanor Watkins nunca me confrontou. Ela não fala comigo. Ela simplesmente me
espreita. Perto de um poste de luz ou do lado de uma árvore no parque. Sempre tenho a sensação de
estar sendo espionado. Eu olho para trás e lá está ela, observando... sempre observando. Quando
tento aproximar-me dela para descobrir o seu propósito, ela se afasta, desaparece no meio da
multidão, e fico me perguntando se realmente a vi. Devido a extraordinária semelhança entre as
duas, eu estava começando a acreditar que Elisabeth tinha voltado para me assombrar. Mas como eu
disse, nós somente dançamos, por isso não posso encontrar um motivo para este jogo irritante.
Com seu repetido “nós somente dançamos”, Swindler se perguntou a quem Sua Senhoria estava
tentando convencer: a ele ou a si mesmo.
— Portanto, você continuará a segui-la, Swindler, descubra o que ela pretende — Sir David disse
cortante em um tom que significava que ele não iria tolerar outros argumentos sobre este assunto.
Swindler retornou sua atenção ao seu superior. Ele gostava de Sir David, o admirava, mas este
assunto era inaceitável.
— Já que fui forçado a aproximar-me, eu suponho que você não terá nenhuma objeção em que
me aproxime dela novamente.
— Lide com esta questão como você considerar melhor.
Swindler ouviu a frustração e irritação na voz de Sir David. Não estava mais feliz com esta
situação do que ele mesmo. Se pudesse fazer do seu jeito, ele faria o assunto desaparecer pela
manhã.
Capítulo Dois

Na tarde seguinte Swindler seguiu discretamente a Senhorita Watkins desde de sua pensão até o
Hyde Park. Segurando uma sombrinha rosa sobre o ombro esquerdo, ela usava um vestido rosa
pálido e um chapéu com fitas correspondentes. Seu traje possuía um toque de inocência. Ele não
podia imaginar o que ela tinha contra Lorde Rockberry, independentemente de quão irritante ele
achava o homem. Se a jovem estava ciente da presença de Swindler, não deu nenhuma indicação.
Como de costume, o parque estava repleto de damas e cavalheiros desfilando suas roupas finas,
sua arrogância, sua crença inabalável de que eles eram melhores do que qualquer homem comum.
Swindler tinha pouca tolerância com a classe alta, exceto quando envolvia seus amigos que
ascenderam as fileiras da nobreza com uma regularidade alarmante. Vários anos atrás tinham
descoberto que desde o nascimento Lucian Langdon tinha sido destinado a se tornar o Conde de
Claybourne. No ano passado Jack Dodger tinha tomado uma duquesa viúva como esposa. E sua
querida Frannie, a única mulher que Swindler amou verdadeiramente, tinha recentemente se casado
com o Duque de Greystone. Swindler estava sinceramente feliz por ela. Ele sempre foi altruísta em
relação à Frannie, mas o altruísmo veio com um preço exorbitante. Seu pai tinha ensinado uma dura
lição, e Swindler vinha pagando por ela desde então.
Mesmo que seus amigos não o discriminassem por sua origem, por não virem dos mesmos
círculos sociais, não se importavam da sua ascensão da sarjeta, mas também reconheceu que seria
sempre conhecido como o filho de um ladrão.
Ele havia amado seu pai como nunca amaria ninguém mais, exceto Frannie. No entanto, seu pai
deixou com uma carga pesada para suportar. Quando ele era menino, algumas noites chorou sob o
peso dessa carga. Durante outras, a fúria o havia controlado e destruído qualquer um que atravessava
seu caminho. Perdera a conta de quantas vezes Frannie cuidou de suas feridas, envolvendo
gentilmente seus nódulos ensanguentados. Suas mãos constantemente doíam com o abuso que as
tinha submetido. Suas feições tinham resistido às lutas também, deixando cicatrizes leves e um perfil
menos do que perfeito. Ele não era o que se consideraria bonito, mas esperava que houvesse pelo
menos força em seu rosto.
Não que houvesse esperado atrair alguma dama com ele. Frannie era a única que ele tinha
realmente desejado. Embora ela tivesse casado recentemente, já havia passado quase um ano desde
que ela entregara seu coração para Greystone. Swindler não pensava buscar outra senhora. Ele tinha
dado a Frannie seu coração, e com ela, permaneceria. Tudo o que precisava agora era uma mulher
ocasional para satisfazer suas necessidades mais básicas. Era conhecido por dar às mulheres toda sua
atenção e prazer, incluindo aquelas que nunca o haviam experimentado antes. Não tinha dificuldades
em encontrar mulheres que desejassem passar uma noite em sua companhia. Mesmos aquelas
acostumadas a cobrar raramente aceitavam uma de suas moedas.
No entanto, enquanto ele satisfazia as mulheres, nenhuma o satisfazia, suas ações eram
mecânicas, derivadas do hábito. Sempre ficava um vazio no peito, sem dúvida resultado de já não
possuir um coração. Embora, Deus o ajudasse, ele não conseguia se lembrar da última vez que tinha
levado uma mulher para a cama.
A Senhorita Eleanor Watkins o salvou de seus profundos pensamentos, quando ela se postou ao
lado de uma árvore que dava uma visão clara de Rotten Row, sem dúvida, esperando a chegada de
sua presa em seu belo cavalo. Enquanto se supunha que Swindler estaria focado na dama, havia feito
algumas investigações sobre Rockberry. Agora sabia, como provavelmente ela também, que Lorde
Rockberry passeava pelo parque todas as tardes a cinco e meia da tarde.
Ninguém parecia prestar qualquer atenção a ela. As outras damas estavam ocupadas procurando
atrair a atenção dos homens, e eles estavam mais interessados nas damas que queriam ser vistas. Era
tudo parte do ritual para encontrar um cônjuge. Ao aproximar-se poderia colocar em risco a
reputação dela, mas ele estava ansioso em avançar com este trabalho.
Swindler começou a caminhar em direção à Senhorita Watkins. Ele tinha refletido
consideravelmente como iria se aproximar dela. Assumiria o papel de cavalheiro interessado,
ganharia a sua confiança, e depois discerniria sobre os motivos de sua fascinação por Rockberry,
bem como exatamente o que ela pretendia com relação aos disparates do lorde.
Por aproximar-se pelas costas dela, Swindler foi atingido pelo perfume de rosas exalado por ela.
Não se lembrava desta fragrância da noite passada. Talvez fosse porque agora era cedo ainda e a
água de rosas só foi recentemente aplicada. Atormentava seu nariz como nunca havia feito o
perfume da maioria das mulheres.
— Senhorita Watkins?
Ela virou-se. Os olhos dela, da cor de um céu sem nuvens, se ampliaram e seus lábios rosados e
carnudos se entreabriram ligeiramente. Ela rapidamente recuperou o controle.
— Senhor Swindler, não é? Que surpresa. Eu não esperava vê-lo novamente.
As palavras que havia planejado dizer para desarmá-la se amontoaram em sua mente como dados
ruidosos. Á luz do dia ela era uma criatura totalmente diferente. Muito esteve oculto pelas sombras
da noite. Sua pele era notavelmente perfeita, cremosa como alabastro, com um toque de rubor se
curvando sobre as maçãs salientes do seu rosto. Seus olhos refletiam inocência, uma suavidade que
não tinha notado antes. O cabelo dela que espreitava por debaixo de sua touca era um luar pálido,
quase branco.
Ele estava olhando para a mesma mulher que tinha confrontado na noite passada, mas era mais
adorável do que se lembrava. Algo sobre ela na luz do dia conseguiu dar uma forte pancada no peito,
tornando-se difícil respirar, o qual ele queria desesperadamente fazer e não por nenhuma razão
diferente do que poder apreciar o cheiro dela mais uma vez.
Ela ofereceu um sorriso enigmático.
— Você não está me seguindo, não é?
Negou energicamente com a cabeça e limpou a garganta, se dando tempo para recuperar o juízo.
As mulheres não tinham esse poder sobre ele. Nunca. A sedutora mais qualificada poderia converter
seu corpo em purê, mas nunca sua mente.
— Não — ele finalmente respondeu, esperando encantá-la com um de seus mais calorosos
sorrisos.
Quando criança, ele havia colecionado uma série de expressões que poderiam ajudá-lo a
conseguir o que precisava. Olhos tristes quando estava com fome, esperando por um pedaço de
comida de uma mercearia ou um cozinheiro na porta dos fundos de uma residência, lágrimas quando
ele precisava para se aproximar de uma senhora, a fim de furtar algo de seus bolsos. Arrogância
quando se justificava. Humildade para angariar um prêmio. Houve momentos em que havia decidido
que era um vasto terreno agreste sem emoções, exceto por aqueles em seu arsenal que poderia
evocar sob seu comando.
— Bem, sim, suponho que esteja de certa forma. Encontrei algo que pensei que gostaria de ter.
Eu estava indo levá-lo até a sua pensão quando vi você andando pela rua. Decidi entregá-lo
pessoalmente, em vez de deixá-lo com a sua senhoria. — Enfiando a mão no bolso da jaqueta, tirou
um mapa dobrado de Londres e estendeu-o para ela. — Para que você não volte a se perder
novamente.
Seu rosto se iluminou com a surpresa e ela riu, um som leve e gracioso que competia com os
pássaros cantando nas árvores. Quando ela pegou o mapa, os dedos enluvados roçaram os dele, e
suas entranhas apertaram com o pensamento de ela roçando algo completamente distinto. Engoliu
em seco, se esforçando para recuperar os bons modos. Ela era só uma mulher, simplesmente isso.
Um alvo. E sua fachada tinha sido cuidadosamente elaborada somente para ela, isso não refletia o
seu verdadeiro eu. Isto, ele mostrava apenas para pouquíssimas pessoas.
— É muito atencioso. — A expressão dela era aberta quando levantou o olhar para ele. Como
em nome de Deus alguém poderia pensar que ela poderia fazer mal a uma mosca, quanto mais a um
homem? — Você deve ter tido muito trabalho para encontrá-lo!
Não tinha sido nada trabalhoso. Ele o tinha comprado no ano passado, quando os cartógrafos
haviam inundado a cidade com mapas, antecipando que Londres receberia muitos visitantes, a fim
de ver a Grande Exposição1. Isso deu a ele uma combinação ousada de humildade e confiança.
— O esforço é parte de um presente.
Odiou as falsas palavras que proferiu. Antes nunca havia ficado incomodado em enganar alguém
a fim de descobrir algo. Mas, ele temia que quisesse mais dela do que informações. Ele a queria em
seus braços. A queria levantando-se nas pontas dos pés enquanto ele abaixasse a cabeça para
encontrar seus lábios em um beijo apaixonado. Queria que ela compartilhasse sua cama, sussurrando
palavras maliciosas em seu ouvido, mesmo duvidando que seu vocabulário incluísse palavras
vulgares sobre as quais estava pensando. Mas ele poderia ensiná-la, suspeitava que ela fosse boa
aprendiz.
Mas ainda havia mais, ele desejava tê-la sentada ao lado dele, ouvindo como foi seu dia,
oferecendo palavras de consolo quando ele fosse testemunha da brutalidade e crueldade do homem.
Foi o último destes desejos que pareceu impraticável, porque os horrores que presenciava não
tinham lugar no mundo seguro ou na mente inocente dela.
Deu a si mesmo uma forte sacudida mental. O que estava errado com ele para ter tais
pensamentos fantasiosos? Não era próprio dele pensar em tais termos poéticos. Era realista. Prático.
— Eu realmente não tenho ideia de como pagar sua amabilidade. — disse ela.
— Talvez você pudesse amavelmente dar uma volta pelo parque comigo. Ela olhou rapidamente
ao redor, e se perguntou se estava à procura de Rockberry ou se esforçando para garantir que
ninguém a visse com ele.
— Suponho que não vá causar qualquer dano à minha reputação. Afinal, você não pode tirar
vantagem aqui.
Ela era inocente. Porque se acreditava que as mulheres necessitavam de damas de companhia?
Um homem sempre se aproveita das oportunidades quando elas se apresentavam. Especialmente
quando uma dama era tão atraente quanto ela.
Ele galantemente ofereceu o braço. Quando sua pequena mão enluvada pousou sobre ele, sentiu
um formigamento por todo seu corpo. Como parte de sua tentativa em ganhar a confiança dela,
havia se vestido como um perfeito cavalheiro: luvas, chapéu, uma elegante jaqueta, colete e gravata.
Preferia roupas um pouco mais simples, mas vestia-se melhor quando seu alvo era uma mulher. As
mulheres pareciam apreciar um homem bem vestido. E ele precisava de toda vantagem que
conseguisse reunir. Ao lado dela, se sentia um pouco desajeitado, em vez de um detetive brilhante e
talentoso da Scotland Yard.
— Você parece ter se recuperado muito bem do calvário que enfrentou ontem à noite. —
Swindler disse, esforçando-se para manter sua mente na tarefa em mãos, em vez de seus devaneios
fantasiosos.
— Sim, bastante. Graças inteiramente aos seus esforços.
— Nenhum efeito colateral?
— Não, nem mesmo uma contusão. Foi uma terrível tolice minha sair tão tarde. Não tenho
certeza do que estava pensando. Certamente tomarei mais cuidado no futuro.
— Estou aliviado em ouvir isso. Você está em Londres há muito tempo? — Perguntou Swindler.
— O que dá a impressão que eu não cresci na cidade? Inclinando a cabeça, ele deu um sorriso
irônico.
— Você se perdeu.
Ela corou, suas bochechas se tornando mais rosada.
— Ah sim. Verdade. Estou na cidade há apenas uma semana.
— Houve algum motivo especial para trazê-la a Londres? Ela negou com a cabeça.
— Eu queria conhecê-la. — Ela olhou para o céu como se à procura de respostas. — Minha irmã
a visitou no ano passado. Ela estava muito encantada com a paisagem. Então eu pensei em vir neste
verão.
— Uma pena que ela não veio com você. Talvez não tivesse se perdido. Ela voltou seu olhar para
ele.
— Ela morreu recentemente.
Controlando seu rosto para não dar nenhum indício de que a informação não era nova para ele,
colocou a mão sobre a dela, que repousava em seu braço. Quando apertou sua mão, pretendia dar
conforto, possivelmente seu primeiro gesto honesto direcionado para ela.
— Minhas condolências por sua perda.
Ele notou sua hesitação antes que ela revelasse: — Nossa casa é perto do mar. Ela vagou... vagou
muito perto dos penhascos e caiu para sua morte.
Um fim prematuro, de fato. Recordando as palavras de Rockberry, perguntou-se qual o papel que o
homem tinha desempenhado no triste fim da garota. Ele estava tentado a confessar tudo a Senhorita
Watkins e simplesmente perguntar o seu verdadeiro objetivo, e por que estava seguindo Rockberry.
Em vez disso continuou com o ardil, preocupado que ela pudesse fugir dele se suspeitasse que
estivesse ali por dever.
— Mais uma vez, minhas condolências por sua perda. Ela levantou um ombro delicado.
— Pouco depois meu pai ficou doente e faleceu também. Tem sido uns meses muito difíceis.
— Então você veio para Londres. Ela sorriu suavemente.
— Minha irmã falou de todas suas maravilhas. Ela possuía um diário. Eu o li depois que morreu,
e tive bastante inveja de tudo o que tinha visto, e por isso estou aqui.
— Uma mulher viajando sozinha? Você é muito corajosa.
— Você me lisonjeia, senhor, mas sobre este assunto tenho pouca escolha. Não tenho tias que
possam me acompanhar, e tampouco dinheiro para contratar uma acompanhante. E minha mãe já
não vive entre nós. Elisabeth veio primeiro e eu vim logo depois. Infelizmente, creio que foi demais
para minha mãe.
— Então você e sua irmã eram próximas em idade?
Ela deu um sorriso caloroso.
— Apenas alguns minutos nos separavam.
Elas eram gêmeas. Então não era incomum que Rockberry tivesse ficado perturbado pela mulher
que o seguia, pois acreditava que fosse um fantasma.
— Eu espero que não me considere muito curioso, mas me pergunto por que você não veio para
Londres com sua irmã no ano passado.
— Meu pai só podia pagar a viagem de uma de nós. Elisabeth era a mais velha, mesmo que fosse
por apenas por alguns minutos. Ela teve sua apresentação em sociedade. Uma prima distante
proporcionou uma introdução à Sociedade. Era a esperança de nosso pai que ela pudesse conseguir
um bom casamento e então eu teria a minha vez.
— Então você está aqui para sua Temporada.
— Não, eu... não. Não posso pagar uma Temporada. Simplesmente vim para Londres, a fim de
conhecê-la.
— Esta prima não vai ajudá-la?
— Meu pai não iria querer perturbá-la mais uma vez, — ela negou com a cabeça — as coisas não
saíram bem para a minha irmã. Não vou me aproveitar de minha prima novamente. Podemos falar
de outra coisa?
A impaciência repentina em sua voz o alertou de que ele estava perigosamente perto de interrogá-
la. Normalmente, era mais sutil, mas de repente queria saber tudo sobre ela, e não só por causa do
dever. Ela era corajosa, e talvez um pouco imprudente para viajar sozinha. No entanto, ainda
admirava sua determinação em não requerer companhia, a fim de fazer o que quisesse.
— Minhas desculpas por invocar um assunto tão doloroso. A tensão no seu rosto suavizou.
— Você não tinha como saber.
E igualmente rápido a tensão regressou, seu corpo endureceu, seus passos vacilaram. Ele seguiu a
direção de seu olhar e viu Rockberry montado sobre sua negra montaria. Quando Swindler voltou a
olhar para ela, estava pálida e todo o brilho tinha abandonado seus olhos, deixando somente tristeza
e uma dor profunda.
— Senhorita Watkins? Você está bem?
— Sim, eu sinto muito... eu... eu sinto muito.
Ele olhou na direção para onde Rockberry tinha ido.
— Você conhece Lorde Rockberry?
A suspeita surgiu rapidamente nos olhos da Senhorita Watkins.
— Como o conhece? Você o considera um amigo? — Perguntou ela. Ele sabia que precisava agir
com muito cuidado.
— Eu o conheço, porque tenho amigos que se movem no mesmo círculo que ele, e em uma
ocasião fui o suficiente infeliz ao ser convidado para uma de suas reuniões. E quanto a ser um
amigo, não. Aqui entre nós, eu não gosto muito deste sujeito.
— Eu não gosto dele também.
— Então talvez devêssemos caminhar, antes que ele nos note e venha até aqui. Você é uma bela
mulher, e pelo que sei ele não consegue resistir a mulheres encantadoras.
E embora ele soubesse que Rockberry havia dançado com sua irmã, assim como sabia que a
Senhorita Watkins estava observando Rockberry, Swindler não podia deixar transparecer que
conhecia qualquer um desses detalhes. Tinha que manter o foco em seu plano para convencê-la a
revelar tudo para ele.
Outro rubor tentador subiu por suas bochechas antes que ela concordasse. Swindler não estava
certo de ter conhecido uma mulher que ruborizasse tão facilmente ou tão favorecedoramente, mas,
obviamente, a maioria das mulheres que conheceu foram endurecidas pela vida, e tinham aprendido
há muito tempo a não dar o menor sinal de seus sentimentos. Ele achou que a Senhorita Watkins
poderia ser a primeira pessoa genuína a cruzar seu caminho. Completamente ingênua. Qualquer que
fosse o mal que a possuía para seguir Rockberry, não poderia levar a nada mais que aborrecimento.
Não estava na natureza dela ser cruel ou calculista.
Ela estava apenas seguindo um lorde e o irritando. Por que Sir David não podia perceber que a
Senhorita Watkins era inofensiva? Ela logo se cansaria de provocar Rockberry. Ninguém estava em
perigo aqui, e Swindler tinha assuntos mais importantes para o qual se dedicar. Esta atribuição era
um absurdo insignificante.
Ainda assim, Swindler os virou para uma direção que os levaria para longe de Rockberry e
forneceria ao marquês apenas uma visão de suas costas. Swindler não confiava que Rockberry tivesse
o bom senso de não os abordar e revelar o seu propósito. Enquanto Rockberry esperava um
desfecho rápido, Swindler queria resolver nos seus termos.
— Então como você conheceu Rockberry? — Ele perguntou depois de vários momentos de
silêncio, quando teve certeza de terem passado sem se fazer notar pelo homem odioso.
Ela balançou a cabeça.
— Não o conheço pessoalmente. Eu nunca me encontrei com ele.
— Mas você já ouviu falar dele?
Ela assentiu com a cabeça, e ele podia ver que estava angustiada.
— Senhorita Watkins, se ele a prejudicou de alguma maneira, eu devo...
— Não, não a mim. A minha irmã. Ele brincou com Elisabeth, então eu quis conhecê-lo. Pouco
depois de ter chegado a Londres, perguntei a alguém que o apontou para mim.
Ela parou por um momento, como se querendo tomar cuidado com suas palavras, com o que
revelasse, e ocorreu que talvez ambos estivessem fingindo. Infelizmente para ela, ele era o mestre e
acabaria por discernir seja o que fosse que ela quisesse esconder, enquanto ela iria descobrir muito
pouco sobre ele.
Estava bastante certo de que já sabia a resposta. Rockberry tinha, sem dúvida, arruinado sua irmã,
e Elisabeth havia se atirado do penhasco em vez de viver com a vergonha. Ela, era para se casar bem
e ajudar sua irmã a ter sua própria Temporada falhou miseravelmente. Quanto a Eleanor, talvez ela
estivesse se esforçando para descobrir se Rockberry foi merecedor do afeto de sua irmã.
Quaisquer que fossem suas razões, ele encontrou-se intrigado com o desafio que ela representava.
Ele geralmente se entediava rapidamente com mulheres que se revelavam muito facilmente, e
enquanto averiguava quais eram os planos e motivos dela, não via razão para que a busca não fosse
agradável para ambos.
— Eu... eu sinto muito, Senhor Swindler. — ela finalmente disse. — Vi bastante do parque.
Devo voltar aos meus aposentos. Obrigado por me presentear com o mapa. Lhe darei um bom uso,
eu garanto.
— Você vai me permitir acompanhá-la até sua pensão? Eu posso ver que você está indisposta.
Eu gostaria de garantir que você chegue em segurança.
Ela piscou como se suas palavras não fossem o que esperava, ou talvez não fosse o que queria.
Por fim, ela concordou.
Enquanto caminhavam em silêncio, ela estava muito consciente do olhar de Senhor Swindler
fixos nela. Ela se perguntou o que ele estava pensando, se estava inesperadamente atraído por ela
como ela estava por ele. Foi surpreendida pela forma como a sua presença no parque a tinha
afetado. Suas feições eram fortes, quase ásperas, parecidas com seu amado litoral, que poderia
parecer bonito em um momento e mortalmente perigoso no próximo.
Ela podia imaginá-lo de pé no convés de um navio, pernas levemente afastadas. Seus músculos
tensos sob o tecido de sua jaqueta. Apesar de sua altura, havia uma delicadeza nele, quase uma
brincadeira. No entanto, ele também possuía um lado mais obscuro, que ela vislumbrou em seus
olhos. Pensou que deveria tê-la assustado. Em vez disso, a intrigava.
Se alguém perguntasse, até a um ano atrás, o que ela faria se fosse concedida a oportunidade de
visitar Londres, inocentemente, e talvez ingenuamente, teria respondido que pretendia participar de
bailes gloriosos, jantares fabulosos e alguma ópera ocasional. Ela poderia até mesmo mencionar que
esperava se apaixonar. Doze meses antes, não, apenas nove meses antes, ela tinha acreditado que
Londres era o local onde a filha de um insignificante visconde poderia encontrar a felicidade, poderia
realizar seus sonhos em encontrar um marido amoroso, fazer um bom casamento, e ser feliz. Ela
tinha pensado que a nobreza era para ser admirada, não tinha considerado que alguns entre eles eram
terrivelmente perigosos. Que alguns, como o Marquês de Rockberry, encontraria prazer em atrair
jovens damas para o fogo do inferno.
Com a leitura do diário de sua irmã, sua vida e sua razão para vir a Londres tinha tomado um
rumo drástico.
A pensão surgiu a sua frente. Era modesta, com dois aposentos pequenos, mas confortável.
— Obrigada por me escoltar para casa. — disse ela.
— Foi um prazer. — Ele deu a ela um sorriso que poderia ter sido tanto provocativo, como
poderia ter sido um aviso. — Espero que esta noite você não vagueie pelas ruas sozinha. Eu ficaria
extremamente perturbado, se alguma coisa desagradável acontecesse a você.
— Eu pretendo me recolher mais cedo. — Ela o assegurou.
— Fico feliz em ouvir isso. Espero vê-la no parque amanhã, talvez um pouco mais cedo.
Digamos por volta das duas da tarde?
Seus impressionantes olhos verdes vagaram lentamente sobre ela como se pudessem ver dentro
de sua alma. Sua tonalidade lembrava a grama verdejante no meio do verão, e nas muitas vezes em
que havia corrido descalça sobre ela quando era uma menina. Mas ela não viu nenhuma suavidade
em seu olhar, nada que acariciaria a planta de seus pés. Era imperativo que ela não se perdesse
naqueles olhos. Se perguntou quantas mulheres tinham se perdido neles. Era sua característica mais
marcante. Através deles, ela quase podia ver a astúcia de sua mente. Dava a impressão de que estava
relaxado, à vontade, mas ela podia ver as engrenagens girando.
Ruborizando-se, ela desejou que seu propósito em vir para Londres fosse diferente. Tentou não
pensar que se tivesse sido a primeira a chegar à cidade, não teria cometido os mesmos erros de
Elisabeth. Ela até havia jogado na cara de Elisabeth os erros dela, antes de descobrir o diário e ter
começado a entender tudo o que sua irmã tinha suportado. Agora não deveria desfrutar da atenção
de um homem, mas parecia incapaz de evitar isso.
— Um passeio amanhã seria muito bem-vindo. Eu provavelmente estarei lá, sim.
— Até amanhã, então. — Ele tirou o chapéu e começou a se afastar.
Ela se apressou a subir os degraus e abriu a porta com a chave que a Senhora Potter, a sua
senhoria, tinha dado. Entrou pela porta da frente e foi imediatamente recebida pela fragrância de
cera para móveis e flores frescas.
A Senhora Potter surgiu na sala, enxugando as mãos na bainha de seu avental. Os cabelos negros
tinham começado a se transformar em prata, seu rosto tinha perdido a firmeza da juventude. Ela
tinha uma propensão por olhar para fora das janelas, uma ainda maior por incitar a fofoca.
— É ele, Senhorita Watkins, o homem de quem falei, que tem feito perguntas sobre você.
— Então é ele? — Ela tinha suspeitado quando a Senhora Potter o descreveu.
— Ele me deu uma coroa para não dizer, mas a minha lealdade é para com meus inquilinos,
especialmente quando você está sozinha. Ele é um pretendente?
— Se eu for afortunada, sim. Você me contará se o ver novamente, não é?
— Oh, com toda a certeza.
— Obrigada. — Ela subiu as escadas.
Dentro de seu quarto, ela foi até a janela e olhou por entre as cortinas. Não viu o Senhor
Swindler. Perguntou-se se ele tinha se afastado e regressaria depois para vigiar seu quarto a partir de
uma posição mais vantajosa. Agora estava bastante convencida de que ele era um dos homens de
Rockberry, que foi enviado para segui-la. Se queria fazer algum mal, certamente já teria feito.
Ela retirou de sua bolsa o mapa que o Senhor Swindler dera. Um homem inteligente por
conceber tão doce desculpa para se aproximar dela. Mas, ainda assim, não planejava subestimá-lo.
À luz do dia, ela tinha sido surpreendida pela sua altura e a largura dos ombros. Mas era mais do
que o seu tamanho que o tornava perigoso. Era o que ela tinha visto em seu rosto. Ele parecia ser
um homem que poderia matar alguém simplesmente por desejar vê-lo morto. Não era alguém a
quem se pudesse enganar, e ainda assim ela planejava fazer exatamente isso, enganá-lo. Enganá-lo
até fazer amizade com ela, até desejá-la, até que ele fizesse qualquer coisa para protegê-la, até mesmo
cair sobre sua própria espada.
Capítulo Três

— Eu odeio ser um incômodo.


— Bom Deus, Jim, — Lucian Langdon, o Conde de Claybourne, disse enquanto servia uísque em
dois copos. — Eu te incomodo com suficiente frequência.
— Você é um lorde, é seu direito.
Claybourne franziu o cenho. Eles haviam crescido juntos nas ruas, trabalhando para Feagan, até
que se descobriu que Luke era o herdeiro perdido de um título. Swindler nunca se sentira
confortável em torno dos aristocratas, mas ele se sentia confortável em torno de alguns. Era um
cético quando se tratava em confiar nas boas intenções dos demais. Sem dúvida isso era resultado
das boas intenções de seu pai que o havia deixado com uma alma ferida que ainda, após todos tantos
anos, se recusava a curar.
Claybourne entregou uma taça de vinho para sua esposa, Catherine. Ela era uma mulher adorável.
Seu cabelo loiro recordava o de Eleanor Watkins, embora o da Senhorita Watkins o fizesse pensar
em raios de luar entrelaçados. Imaginava que seu cabelo seria suave por entre seus dedos ásperos.
Imaginava esses mesmos dedos abrasivos deslizando por sua pele delicada dando prazer. Para
poupar algum desconforto, em sua carne mais sensível, ele usaria sua boca, sua língua...
— Jim?
Ele despertou dos sonhos que tinham começado a persegui-lo desde seu encontro com a
Senhorita Watkins no parque e levou à boca o copo que Claybourne oferecia.
— Obrigado.
Claybourne se sentou no sofá ao lado de sua esposa esticando o braço sobre seus ombros, de
modo que os dedos poderiam casualmente acariciar seu braço nu. Swindler acreditava que ele não
teria sido tão informal se seu convidado fosse um lorde. Ou talvez o tivesse se sua amizade tivesse
sido tecida na miséria que foram criados.
— Você tem algumas perguntas a fazer a Catherine? — Claybourne cutucou. Swindler tomou um
gole de uísque, saboreando o gosto e a queimação. Ele sentiu os músculos começarem a relaxar. Os
tinhatensos desde que havia escoltado a Senhorita Watkins a sua pensão. Na noite passada, foi
surpreendido ao descobrir que ela não estava hospedada em um dos melhores locais de Londres. Sua
própria pensão não era tão diferente da dela, ele estava bem ciente das acomodações oferecidas lá.
Eram adequados, mas nada luxuosa.
— Sim. Estou curioso sobre a Senhorita Elisabeth Watkins. Ela era filha de um visconde.
— Watkins? — As delicadas sobrancelhas de Catherine se encurvaram. — Eu acredito que ouvi
menção a um Visconde Watkins, mas temo que saiba muito pouco sobre ele. Sterling poderia dizer
mais, embora seja difícil nesse momento. Certamente ele não regressara a Londres senão dentro de
alguns dias.
Swindler considerou o que ela dizia, que o homem estava no sul da França fazendo amor com sua
esposa, com Frannie. O que surpreendeu Swindler foi que o pensamento dela com outro homem
não trouxe a costumeiro sentimento de perda. Desde seu encontro com a Senhorita Watkins, esta
tarde, ela tinha sido a única a ocupar sua mente, como se ninguém mais importasse.
— Eu me contentarei com qualquer coisa que você saiba. — Swindler assegurou , na esperança
de recolher mais algumas informações sobre Senhorita Watkins através de seu pai.
— Se ele é o homem que estou pensando, raramente vem a Londres. Não tem sequer uma
residência na cidade.
Nem sequer havia corrido rumores sobre seu falecimento entre a Sociedade?
— Ao que parece, Elisabeth teve sua introdução na Sociedade na Temporada passada. —
Swindler disse a ela.
Catherine distraidamente deu uma palmadinha na coxa de Claybourne.
— Eu temo que na Temporada passada eu estava muito absorta em meus próprios assuntos para
prestar muita atenção a alguém da Sociedade. Eu sinto muito.
A mão de Claybourne cessou a caricia e fechou em torno de seu braço, oferecendo apoio. Foi a
época em que suas vidas tinham se tornado irrevogavelmente entrelaçadas.
— Você poderia consultar a esposa de Jack. — Catherine continuou. — Foi antes de Olívia
entrar em luto. Ela pode ter encontrado a Senhorita Watkins no início da Temporada.
A duquesa viúva de Lovingdon causou um escândalo ao se casar antes que o período adequado
de luto tivesse passado. Um escândalo ainda maior causou ao escolher como marido, Jack Dodger.
Podia ser que fosse rico, mas possuía um clube exclusivo de cavalheiros que era quase tão infame
quanto ele mesmo.
— Aparentemente Elisabeth chamou a atenção de Lorde Rockberry. — Swindler disse, na
esperança de estimular alguma memória. Certamente eles não tinham ficado fora das rodas de
fofocas.
Catherine fez uma careta.
— Ele acha que é um bom partido para o matrimônio, mas eu nunca soube que propôs a
ninguém. Ele se aproveitou dela?
— Porque você pensa isso?
— Se seu pai é como eu ouvi, sem recursos, é improvável que ela viesse com um dote substancial.
Ela poderia estar desesperada o suficiente para acreditar nas promessas de um canalha. Eu temo que
nem todos os cavalheiros são na verdade “cavalheiros”.
Rockberry certamente se enquadra na categoria de um “não cavalheiro”.
— Elisabeth aparentemente encontrou um fim trágico. Sua irmã, Eleanor, está em Londres. Ela
está seguindo Rockberry por toda cidade. Suspeito que ela o considere responsável de alguma
maneira, e ele têm o aspecto de um homem que guarda segredos obscuros e culpa.
Uma vez que Swindler possuía o mesmo semblante, podei reconhecer isso quando via nos outros.
— Oh, pobres meninas. — disse Catherine. — Elisabeth e Eleanor. Quem está agindo como
benfeitora de Eleanor para apresentá-la à Sociedade?
— Ela não está aqui para ser apresentada à Sociedade, mas sim para enfurecer Rockberry.
— Isso é muito perigoso. Rockberry não vai tolerar isso por muito tempo. Talvez eu devesse
falar com ela.
Swindler não deveria ter sido surpreendido pela sua oferta. Sua natureza para ajudar as pessoas
com problemas tinha a levado para a vida de Claybourne. Ele não sabia como responder. Ele só
sabia que tudo o que a Senhorita Watkins necessitasse, ele queria ser a pessoa a fornecê-la.
— É provavelmente muito cedo para envolvê-la. Eu falarei com ela. Não acredito que seja uma
verdadeira ameaça. Ela pode irritar Rockberry, mas acho que seja incapaz de infligir a alguém
qualquer dano sério.
— Não se ofenda, Jim, mas suspeito que você subestime a determinação das damas aristocráticas
quando decidem tomar o assunto em suas próprias mãos.
— Muito teimosas. — Claybourne resmungou, e ela o cutucou nas costelas.
Em vez de ficar bravo com ela, Claybourne deu um olhar ardente que mesmo Swindler pode
interpretar como uma promessa de que pagaria muito caro, mais tarde, em seu quarto. Ele não
queria pensar sobre a cama em que dormiria sozinho esta noite. Poderia procurar companhia, mas
pensou que qualquer mulher que não fosse a Senhorita Watkins iria deixá-lo insatisfeito. Não que ele
tivesse qualquer plano para atrai-la para sua cama. Ela era, afinal, uma dama, mas isso não significava
que já não tivesse dedicado algum tempo pensando no prazer que experimentaria se a tivesse ali. Ele
podia muito bem imaginar as mãos dela deslizando sobre seu peito nu, com a boca o mordiscando...
— Certo, então. — ele disse, colocando o copo de lado e levantando-se antes que pudesse
envergonhar a si mesmo. — Terei sua oferta em mente se tiver que fazer futuras negociações com a
Senhorita Watkins sobre Rockberry.
Levantando-se, Claybourne ajudou Catherine.
— Por favor, pense. — disse ela.
— Eu o acompanho até a porta. — Claybourne disse enquanto depositava um beijo rápido no
rosto de Catherine, fazendo mais promessas do que aconteceria mais tarde.
Swindler não invejava o que seus amigos tinham, mas pela primeira vez ele sentiu falta de não ter
o que eles possuíam.
No corredor, Claybourne disse: — Se você acredita que esta situação é perigosa, eu apreciaria se
não envolvesse Catherine nela. Minha esposa tem o coração e a coragem de uma leoa. Eu não sei se
meu coração suportaria vê-la em perigo novamente.
— Eu suspeito que Rockberry ladra mais do que morde. Caso contrário, ele teria resolvido seu
próprio assunto. E quanto a Senhorita Watkins... acho que ela simplesmente quer irritá-lo por um
tempo. Então suponho que regressará para sua casa.
Não estava muito certo de por que se sentia triste ao pensar nesta possibilidade. Não era como se
pudesse existir algo entre eles. Ela era filha de um visconde, pelo amor de Deus. Ele, o filho de um
ladrão.
— Como você está bem ciente, eu recentemente fui aceito pelos meus pares. — disse
Claybourne. — Eu poderia fazer algumas perguntas discretas, descobrir algo.
— Provavelmente seja melhor manter este assunto o mais secreto possível por enquanto. Não
duvido da sua capacidade de discrição, mas como me designaram esta tarefa, eu me encarrego das
investigações.
— A Scotland Yard está fazendo você seguir a garota por aí? Você deve estar bastante desejoso
de passar para assuntos mais importantes.
Estranhamente, após o encontro no parque, ele não estava tão frustrado com este dever como
tinha estado na noite passada.
— Somo responsáveis em prevenir a criminalidade. Rockberry acredita que ela pretende matá-lo.
Um lampejo de pesar caiu sobre o rosto de Claybourne. Certa vez, ele tinha matado um homem
que havia ferido Frannie.
— Talvez eu devesse falar com a dama. Mesmo quando o assassinato é justificável, não é fácil de
conviver com isso.
— Se você não o tivesse matado, eu teria. Claybourne sacudiu a cabeça.
— Ainda assim, sua dama deve saber que a vingança vem acompanhada de um alto preço.
— Não acho que ela tenha a intenção de matá-lo.
— Espero que esteja certo. Se não está se queixando sobre a atribuição de segui-la, com certeza, a
dama deve estar mantendo você interessando.
— Eu a julguei mal na primeira vez que a vi. Não é um erro que eu cometa muitas vezes.
— Eu nunca soube que você julgasse mal uma pessoa. Mas havia julgado. De alguma forma ele o
tinha feito.
Claybourne deu ao ombro de Swindler um firme e forte aperto.
— Sabe que estaremos aqui se você precisar de nós.
Não tinham se passado dois minutos que Claybourne tinha pedido para não os envolver nisso, e
agora parecia que havia reconsiderado sua posição. Swindler sabia que se pedisse, eles o ajudariam.
As crianças de Feagan sempre permaneciam juntas, mesmo quando suas vidas estavam separadas.
— Na verdade, eu tenho um favor a pedir.
— Peça, e se está dentro do meu poder o farei.
— Pode me emprestar uma carruagem para amanhã? Uma aberta se o dia estiver ensolarado.
Fechada, se não estiver.
Claybourne sorriu.
— Querendo galantear um pouco? Swindler deu de ombros.
— Se eu tiver que suportar essa atribuição, não vejo razão para não experimentar um pouco de
prazer ao executá-la.
Swindler estava quase na porta de sua pensão quando se virou e começou a subir a rua. Não sabia
por que estava tão inquieto esta noite. Talvez porque mesmo com a promessa de Eleanor, ele não
chegou a confiar nela para ficar dentro de casa. Sabia que não poderia manter os olhos nela vinte e
quatro horas por dia, mas tampouco queria que ela seguisse Rockberry. Não quando ele sabia que
não podia estar perto. Ele não confiava que o homem não tomasse o assunto em suas próprias mãos
e a prejudicaria.
Já passa das dez e meia da noite. Quando Swindler se aproximou da pensão dela, ele viu sua
silhueta delineada pela pálida luz através de sua janela. Alívio inundou-o porque ela não estava
metendo-se em problemas com Rockberry. Parou sob a sombra de uma árvore e inclinou-se contra
ela.
Parecia que ela estava escovando os cabelos. Meu Deus, quão longo era? Com base em seus
movimentos, o comprimento devia chegar abaixo de sua cintura. Uma mão deslizava a escova
através de uma das mechas, enquanto a outra seguia, alisando-os. Ele imaginou a escova em sua
própria mão, a seda de seus cabelos sobre o colo dele enquanto se sentava atrás dela. Escovando,
acariciando. Reunindo os fios e enterrando seu rosto na abundante suavidade. Houve pouca
suavidade em sua vida, e ele sempre se absteve de admitir quão desesperadamente queria isso.
As mulheres em sua vida nunca ficavam por muito tempo, porque ele não podia dar o que elas
queriam. Preocupava-se com elas demais para fingir que as amava, assim, não ficavam tempo
suficiente para realmente amá-las.
A Senhorita Watkins não estaria em sua vida por muito tempo também. Ele lentamente ganharia
sua confiança, lentamente, porque de repente não estava com nenhuma pressa de se livrar dela, e
quando ela confidenciasse tudo, ele iria convencê-la a deixar Rockberry em paz. Ou talvez,
dependendo das circunstâncias, ele se encarregaria do assunto para ela. Mas só depois que
acreditasse que ele se importava o suficiente com ela é que se abriria com ele. Assim que a
convenceria de que possuía um carinho por ela. Não seria uma falsidade. Ele sentia uma mescla de
sentimentos por ela, ainda que não fosse um profundo sentimento que uma dama como ela merecia.
Ela inclinou a cabeça para frente e puxou o cabelo para ambos os lados, o que fez parecer uma
cortina na frente de seu rosto. Ele esfregou a nuca, sua atenção focada na dela que estava descoberta.
Ele quase podia sentir a pele dela sob seus lábios enquanto ele deslizava a boca ao longo de sua
coluna, enquanto pressionava um beijo contra a pele macia próximo da orelha. Arrastaria a língua ao
longo da concha, mordiscando seu lóbulo. Girando-a em seus braços, continuaria a jornada até
provar sua garganta, e então pousaria sua boca sobre a dela para um longo e persistente beijo que
suavizaria o corpo dela ao mesmo tempo que endureceria o seu.
Ela jogou a cabeça para trás e começou de novo o processo de alisamento dos fios que havia
desordenado. A noite havia se tornado inusitadamente quente. Pensou em tirar a jaqueta, mas
mesmo enquanto pensava nisso, percebeu que congelaria com o ar frio. Não era a noite que estava
fazendo seu corpo suar ou sua respiração se tornar difícil. Era a ninfa na janela. Quase podia
acreditar que ela sabia que a observava, que estava oferecendo um espetáculo privado para ele.
Ele olhou para cima e para baixo da rua. Era tarde. Não havia ninguém por perto. Seu olhar
varreu os edifícios. Se alguém estava acordado e assistindo, ele não podia vê-los. Uma coisa boa,
pois, de repente sentiu um desejo possessivo e selvagem de bater nas portas e ameaçar qualquer um
que pudesse tê-la vislumbrado.
Que diabo estava errado com ele? Era nada mais do que o incômodo de um lorde ocioso, ela
estaria fora da vida de Swindler em um piscar de olhos.
Como foi que ela conseguiu trazer esses pensamentos bárbaros de fazer o que fosse necessário
para protegê-la? Sua natureza era defender os inocentes, mas seus sentimentos por ela estavam
raspando o fundo de sua alma, não permitindo manter o comportamento distante, e que permitisse
agir sem emoção. Ele precisava manter a cabeça fria para que nada atrapalhasse sua objetividade.
Swindler voltou sua atenção para ela. Como havia terminado de escovar os cabelos, ela estava
apenas parcialmente visível agora. Ele foi incapaz de determinar onde ela estava. O que estaria
pensando? Se ele a visitasse agora... Balançou a cabeça com o pensamento absurdo. Certamente não
poderia bater na porta da frente. Mas desde que era um rapaz, tinha desenvolvido uma habilidade
para escalar. Era bem possível que ele pudesse chegar à sua janela.
E fazer o que?
Pelo amor de Deus, acreditava que ela abriria a janela e permitir -ia a entrada? Achava mesmo que
ela ia conceder licença para que pegasse a escova e a deslizasse pelos seus cabelos uma centena
vezes?
Esticando-se, ela fechou as cortinas. Devia ter sido menos torturante sem ela visível. Em vez
disso, imaginou-a se enfiando debaixo dos lençóis e se acomodando para dormir, e se imaginou
deslizando ao seu lado e a abraçando.
A luz na janela desapareceu, e o ar pareceu abandoná-lo. Será que ela dormia de bruços, de
costas, ou de lado encurvada? Se ele estivesse em sua cama, ela se aconchegaria contra ele? Era um
momento estranho para recordar que ele nunca havia dormido com uma mulher em seus braços.
Quando a negociação terminava...
Negociação? Era tudo o que isso tinha sido para ele? Estaria enganando a si mesmo em acreditar
que tivesse sido atencioso com as mulheres, que isso fosse algo mais do que um pouco de diversão,
uma maneira de passar algumas horas em uma noite solitária?
Cristo, de onde esses pensamentos saíram? Ele queria somente alguma evidência de que ela não
estava fora rondando pelas ruas. Já tinha. Ela se encontrava agora perdida no sono. Estava na hora
de fazer o mesmo também. Mas diabos, ele sabia que passaria longas horas antes que seu corpo
tenso relaxasse o suficiente para que o sono chegasse.

Seduzi-lo.
As palavras eram uma ladainha sem fim sussurrando em sua mente com a constância do mar,
sempre correndo para a praia, apenas para recuar e voltar novamente.
Seduzi-lo.
Deitada na cama, ela olhou para as sombras dançando no teto.
Seduzi-lo.
O que ela sabia de sedução? Ela conheceu os jovens da vila, mas nunca incentivou suas
pretensões, porque tinha a esperança de vir a Londres, ter uma Temporada e assim encontrar um
marido adequado. Sempre planejou observar as outras mulheres nos salões de baile para imitá-las.
Sempre pensou que quando chegasse o momento, seus instintos femininos viriam à tona e ela
saberia exatamente o que fazer para atrair as atenções de um homem.
Esteve inquieta durante toda a tarde. Tinha lido por um tempo, mas não conseguiu se concentrar
nas palavras. Passou um tempo bordando, mas não tinha sido ficado satisfeita com os pontos.
Finalmente desdobrou o mapa que o Senhor Swindler dera e passou uma hora traçando seu dedo
sobre as várias ruas. Era um mapa que servia como suvenir. Ele mostrava onde o Crystal Palace foi
construído em Hyde Park para exibir a Grande Exposição. Ela se perguntou se ele tinha caminhado
por ali e visto todas aquelas maravilhas. Se perguntou o que ele estava fazendo esta noite. Estava
com amigos ou sozinho? Estava na companhia de uma dama?
Não gostou do mal-estar que se agitou dentro dela com o pensamento dele com outra mulher.
Era tola por se sentir tão possessiva com um homem que tinha acabado de conhecer.
Eventualmente, preparou-se para a cama e decidiu escovar o cabelo perto da janela em uma
tentativa de relaxar. Em casa, muitas vezes ela se sentava próxima à janela de seu quarto de dormir,
escovava os cabelos e ficava a ouvir as águas do mar bater contra os rochedos. Mas esta noite não
ouviu as ondas batendo. Tudo o que ela ouviu foi a promessa do Senhor Swindler de encontrá-la no
dia seguinte.
Se perguntou o que poderia surgir entre eles se não fosse seu desejo de vingança. Ele era bonito
de uma maneira severa. Amável, mas forte. Às vezes parecia que ele restringia a si mesmo, que
queria tocá-la de maneiras impróprias. Precisava explorar qualquer paixão que ela houvesse inspirado
nele. Tal pensamento tanto a excitava quanto a aterrorizava.
Perguntou-se se Elisabeth se sentiu assim em relação à Rockberry. Elisabeth tinha escrito sobre
como ele havia estimulado suas paixões, e então ele usou essas mesmas paixões para trai-la da pior
maneira imaginável.
Ela rolou na cama, trouxe os joelhos para cima e deslizou uma mão sob sua bochecha. Ao
escovar seu cabelo, ela teve a sensação de que estava sendo observada, e ficou a imaginar que fosse
James Swindler desejando estar com ela. Fechando os olhos, ela sabia que o sono não chegaria por
um tempo, mas ela não estava com pressa. Se James Swindler ocupasse seus pensamentos tempo
suficiente, talvez ocupasse também seus sonhos e afastasse os pesadelos que frequentavam seu sono
regularmente.
Talvez em seus sonhos ele até a beijasse.
Perigosos, pensamentos perigosos. Nada podia existir entre eles, mesmo se quisesse, porque, no
final, não importa o que acontecesse entre eles, ele iria desprezá-la.
Ela tinha uma horrível e profunda sensação que também se desprezaria.
Capítulo Quatro

Era uma tremenda estupidez de sua parte estar a ponto de explodir de nervoso, Swindler disse a
si mesmo. Já havia inspecionado cada polegada da carruagem. Não possuía um único arranhão. O
assento de couro era grosso e confortável. O cocheiro e o lacaio, esplendidamente vestidos com o
uniforme de Claybourne, estavam quase combinando perfeitamente com o par de cavalos cinzentos.
Parado em frente à pensão da Senhorita Watkins, teve que se esforçar para não andar de um lado
para outro. Verificou se sua gravata ainda estava adequadamente no lugar e se seus botões estavam
alinhados. Usava a mesma jaqueta e as calças do dia anterior, mas havia trocado o colete, agora usava
um verde escuro e a gravata de um amarelo pálido. Antecipou a ida até Claybourne para pegar a
carruagem, isso permitiu que houvesse tempo suficiente para que o criado dele cortasse seu cabelo e
unhas, bem como fazer a barba. Não era um homem acostumado a incertezas, nem geralmente era
tomado por vaidade, mas ambos o perseguiam nos calcanhares enquanto a hora de seu encontro
com a Senhorita Watkins se aproximava.
Havia considerado ficar esperando no hall de entrada, mas não achou que conseguiria ficar
parado. Tinha enviado o lacaio para fazer algumas perguntas discretas na porta de serviço, desse
modo sabia que a dama ainda não tinha se dirigido ao parque. Perguntou ao cocheiro pela décima
vez as horas. Desde quando a tarde tinha começado a passar tão lentamente?
A dama deveria fazer sua aparição a qualquer momen...
A porta se abriu em um sonoro clique, e ele focou toda sua atenção ali, como se a rainha em
pessoa fosse sair por ela.
Com um suspiro de supressa, a Senhorita Watkins congelou a meio caminho do alpendre. Então
seu lindo rosto floresceu em um belo sorriso que fez o peito de Swindler inchar de satisfação. Nunca
em sua vida tinha cortejado uma mulher, nem mesmo Frannie, porque ele sabia que nunca
corresponderia aos seus sentimentos, porque ela preferia Claybourne e Jack acima dele. E agora,
embora ele não estivesse envolvido em um cortejo, pensou que poderia definitivamente sentir o
apelo de agradar uma mulher solteira acima de todos os outros.
Sempre havia dedicado pequenas cortesias a Frannie, embora ela tivesse percebido suas atenções
ele sempre soube que, apesar de seus melhores esforços, nunca possuiria seu coração. Com a
Senhorita Watkins, por outro lado, não queria seu coração, mas ele não conseguia explicar a
satisfação inesperada que o dominou com o prazer óbvio dela. Estava mais uma vez vestida de rosa
pálido, a sombrinha na mão, que oscilava por seu pulso, sua touca amarrada sob o queixo com um
perfeito laço rosa. Exalava elegância e graça. Seu pai pode ter sido apenas um visconde, mas, sem
dúvida, tinha sido criada para estar entre a aristocracia. Disse a si mesmo que precisava se concentrar
em sua missão, que ela estava muito acima dele, que era inatingível, mas foram seus próprios desejos
egoístas que o fizeram querer que suas descobertas sobre ela fossem prazerosas para ambos.
Seus olhos azuis se viraram para a carruagem, para o cocheiro, o lacaio e os cavalos antes de
voltar a se fixar outra vez sobre Swindler, como se ao considerá-lo totalmente havia descoberto que
ele não possuía nenhum defeito. Finalmente fechando a porta atrás dela, desceu os degraus e se
deteve ao lado dele, com a cabeça inclinada para trás para que pudesse sustentar seu olhar.
— Que bela carruagem você tem, Senhor Swindler.
— Devo confessar que eu simplesmente peguei emprestado de um amigo. Do Conde de
Claybourne. Você tinha mencionado que gostaria de conhecer Londres. — Ele abriu a porta da
carruagem. — Vamos?
Ela olhou na direção do parque.
— Ele ainda vai estar lá amanhã. — disse ele calmamente, percebendo sua hesitação, sabendo
que seus pensamentos estavam focados em Rockberry.
Ele não podia negar a faísca de ciúme que ameaçava incendiar sua alma. E se tivesse interpretado
mal o interesse dela por Rockberry? E se ela quisesse substituir o papel de sua irmã em sua vida,
qualquer que seja esse papel?
Ela sorriu para ele, o calor e a sinceridade dela foram suficientes para conter os seus próprios
sentimentos equivocados, que neste momento foi vencido pelo desejo oculto.
— É claro que estará. — disse ela. — Que tolice seria da minha parte pensar por um segundo no
parque quando tenho uma linda carruagem à minha disposição.
Ela pôs sua mão na dele e ele ajudou-a a subir. Uma vez que se acomodaram em seu interior
partiram.
— Suponho que se eu conhecesse alguém em Londres, minha reputação estaria completamente
arruinada com este pequeno passeio. — disse ela timidamente.
— Eu nunca entendi muito bem essa prática de acompanhantes. Nos cortiços, onde cresci, as
meninas iam e vinham como desejavam.
— E quanto a reputação delas? Ele deu um sorriso enviesado.
— Essas também iam e vinham. — Apesar de milhares de pequenas vozes em sua cabeça
incitando-o a não o fazer, ele envolveu sua mão enluvada em torno da dela. — Se você estivesse se
movendo na Sociedade e fosse conhecida, eu teria trazido uma acompanhante. Eu ainda posso trazer
uma se quiser.
Ele não duvidava de que Catherine aceitaria seu pedido.
O rubor familiar que ele começava a gostar de ver na face da Senhorita Watkins apareceu.
— Não, não realmente. Além disso, considero que seja desnecessário, não é?
— Seria de fato, então relaxe e aproveite seu passeio por Londres. —
Enquanto isso ele tinha toda a intenção de desfrutar de todas as facetas dela.
Evitando o Hyde Park, Swindler ordenou ao cocheiro para seguir rumo a outros parques. Estava
achando cada vez mais difícil manter os olhos longe da Senhorita Watkins. Seu rosto revelava um
prazer delicado e maravilhado, com os lábios continuamente curvando-se em um sorriso, profundos
olhos azuis brilhando com prazer.
Como regra geral, Swindler não era de falar em demasia, mas a Senhorita Watkins estava
fascinada com tudo, e fazia perguntas ocasionais.
"Ele já visitara o Museu de Madame Tussaud?" Ele não tinha.
"O interior da Abadia de Westminster era tão impressionante quanto seu exterior?"
Sim, era.
Finalmente ordenou ao cocheiro para parar em um local perto de um rio, onde barcos a remos
foram alugados. Depois de algumas tentativas ele conseguiu descobrir a essência de lidar com os
remos, então agora deslizavam perfeitamente pelas águas mansas. Alguns outros casais estavam em
barcos próximos. Ocorreu a Swindler que nunca tinha tido tempo para simplesmente desfrutar de
Londres. Em sua juventude, tinha lutado para sobreviver. Quando ficou mais velho, se esforçou
para aprender. Como homem, ele se tornou obcecado com sua ocupação, em ser o melhor no que
fazia. Parecia estranho encontrar-se de repente fazendo nada mais do que apenas olhar para a mulher
no barco com ele. Ela tinha aberto a sombrinha rosa para que pudesse fornecer alguma sombra
contra o sol da tarde. Parecia serena, como se tivesse deixado seus problemas na margem do rio.
No entanto Swindler não conseguia parar de imaginar Rockberry com a irmã dela, observando-a,
apreciando sua fascinação com tudo.
— Sua irmã. Vocês eram exatamente iguais? — Ele se arrependeu de suas palavras assim que
saíram de sua boca porque ela ficou melancólica.
— Exatamente. Mas era mais do que as nossas feições. Os nossos maneirismos e interesses, eram
os mesmos. Ninguém conseguia nos diferenciar, nem mesmo nosso pai.
Então Rockberry havia visto exatamente o mesmo que ele viu quando olhou para a dama. E
Rockberry tinha se aproveitado da garota. Infelizmente, Swindler conseguia entender isso também,
porque ele estava achando muito difícil estar perto da Senhorita Watkins e não a tocar, não se
inclinar e beijá-la.
— É engraçado você me perguntar sobre Elisabeth. — ela disse, sua atenção nos raios do sol por
entre as folhas que os cobria em alguns trechos.
— Eu estava aqui sentada lamentando por um cavalheiro nunca ter acompanhado Elisabeth em
um passeio a remo. Pelo menos ela não escreveu sobre isso em seu diário. É um passeio bastante
agradável.
— Devo concordar. Eu nunca remei antes. Ela deu um sorriso travesso.
— Percebi, mas você aprendeu com uma rapidez surpreendente.
— Eu costumo aprender rápido. Quando se cresce nas ruas, aprende-se rápido para sobreviver. É
uma necessidade para enfrentar o inesperado.
A língua dela saiu para tocar o lábio superior, e seu estômago apertou. Ele se perguntou que
sabor teria seus lábios.
— Você mencionou que tomou emprestado a carruagem de Lorde Claybourne e também que às
vezes frequenta os altos círculos. Como é que sabe tanto sobre a nobreza se você cresceu nas ruas?
— Você está familiarizada com a história de Lorde Claybourne?
— Não, meu pai nunca se sentiu confortável em torno da aristocracia. Acho que é porque suas
finanças nunca foram comparáveis à maioria. Ele sempre se via exatamente como era: um lorde
empobrecido. Não se misturava com os outros lordes. Então eu temo que eu nada saiba sobre Lorde
Claybourne.
— Muito bem. Ele tem, ou teve uma reputação escandalosa. Aquietou-se um pouco desde que se
casou com Lady Catherine, irmã do Duque de Greystone, mas você provavelmente não conhece ela
também. — Especialmente por Catherine ter adiantado que nada sabia sobre Eleanor. — Seja como
for, Claybourne viveu nas ruas como eu. Seus pais foram assassinados e ele ficou perdido por um
tempo.
— Que horrível!
— Sim, foi. Terrível. Embora você não vá ouvi-lo queixar-se. Teve uma vida diferente de
qualquer outro lorde. Quando crianças vivíamos com um homem que atendia pelo nome de Feagan.
Através dele nós aprendemos a nos destacar em roubo. Quando Claybourne tinha quatorze anos, ele
se deparou com um problema e foi preso. — Ele não viu necessidade em revelar que o problema
tinha envolvido o assassinato de um homem. — Como resultado, ele chamou a atenção do Conde
de Claybourne, que o declarou como seu neto desaparecido há muito tempo. Quando o tomou
como seu neto, ele tomou seus amigos também. Então, por um tempo eu morei em St. James e fui
ensinado a ter a aparência de um cavalheiro.
— Você escolheu suas palavras com cuidado, Senhor Swindler. "Aparentar" ser um cavalheiro?
Você não se considera um?
Ele sorriu.
— Só quando serve ao meu propósito. Muitas vezes sou mais um canalha que um cavalheiro,
Senhorita Watkins.
O calor nos olhos dele fez seu coração galopar. Oh, ela estava pisando em terreno muito perigoso
aqui, e ela sabia disso.
— Isso era o que você estava fazendo tão tarde em Cremorne Gardens? Canalheando?
Sua risada sonora e escura ecoou em torno deles. Ela pensou que era um som tão maravilhoso
quanto o som do mar rugindo na costa. Se ela não fosse cuidadosa, temia que pudesse encontrar-se
ainda mais encantada por ele.
— Isso é mesmo uma palavra? — Perguntou.
— Estou simplesmente tentando determinar se foi uma providência ou simplesmente pura sorte
que o trouxe para o meu resgate.
— Será que realmente importa como nossos caminhos se cruzaram? Ela sorriu para ele.
— Não, eu acho que. Conte-me algo mais sobre você, Senhor Swindler.
Algo mais? Subitamente ele ficou sem palavras. Não podia contar a ela sobre o assassinato em
Whitechapel.
Porque o sono tinha escapado na noite passada, ele tinha ido ao necrotério onde haviam
recolhido o corpo de uma mulher que encontraram em Whitechapel. Apesar das ordens de Sir
David, ele tinha sido incapaz de deixar sem resposta uma morte sem pelo menos tentar determinar a
história. A mulher tinha sido espancada e desfigurada dificultando seu reconhecimento. Foi
encontrada deitada no beco vestindo apenas uma gargantilha de prata. Swindler tinha passado muitas
das primeiras horas da manhã interrogando as pessoas na área onde ela foi encontrada, esforçando-
se, pelo menos, em determinar um nome para a vítima, no entanto seu pensamento estava em outros
lugares. Não era típico dele estar distraído da tarefa que tivesse a mão.
Mas esta manhã, toda mulher de cabelos loiros o levara a pensar na Senhorita Watkins. Cada
pergunta que ele fazia o tinha induzido a se questionar que perguntas deveria fazer sobre ela. Cada
pessoa ali presente devia estar tentando sondar do por que ele estava lá, lembrando-o de sua
responsabilidade em concluir o caso do irritante Rockberry. Ele estava se esforçando para resolver
um assassinato que não era sua atribuição, e ele tinha sido distraído pela lembrança da Senhorita
Watkins: seus sorrisos, seu riso, sua inocência.
Mas ele não poderia dizer nada disso. Nem poderia discutir quaisquer outros assassinatos que ele
tinha investigado. Enquanto eles o fascinavam, sem dúvidas a alarmariam. Sua vida de repente
parecia terrivelmente sombria. A única esperança que ele tinha de uma conversa interessante viria
dela.
— Assim como você nunca esteve em Londres, eu nunca saio de Londres. — ele finalmente
disse a ela. — Fale-me de seu lar.
— Você nunca esteve fora de Londres? Swindler escutou a incredulidade em sua voz.
— Não. Será que eu preciso de um mapa?
Ela riu, e ele queria capturar o som agradável e armazená-lo em uma caixa de madeira, para ser
ouvido sempre que ele levantasse a tampa. Ele não foi sempre tão cheio de pensamentos fantasiosos,
mas ela o encantava com pouco mais do que sua presença.
— Eu ouso dizer, que certamente precisaria, embora as ferrovias tornem a viagem um pouco
mais fácil.
— Então me fale sobre a sua casa.
— É uma pequena casa de pedra construída perto dos penhascos. O som do mar é um refrão
constante, mas não é tão barulhento como a cidade. Acho que isso me surpreendeu mais, todos os
sons diferentes que acompanham. Nunca é quieto. Mesmo com o mar próximo da casa, sempre me
encontrei capaz de pensar sem interferência do barulho, os sons constantes não me incomodam. Às
vezes eu mal posso pensar aqui. Bem, exceto por agora, é claro. É muito agradável no rio.
— Estranho. Eu não percebo os ruídos a que você se refere. Eu não sei se gostaria de estar à
beira-mar se isso dá a um homem muito tempo com seus pensamentos.
— Você não gosta de seus pensamentos, Senhor Swindler?
Às vezes, eles são muito perturbadores, também ameaçadores, mas ele não compartilharia isso
com ela. Em vez disso ele procurou colocar seus pensamentos de volta ao curso.
— Estou surpreso por sua casa ser pequena. Eu pensei que todos os aristocratas viviam em
grandes residências.
— Quando meu pai entrou para a aristocracia nosso quinhão era bastante humilde. Mesmo assim
ele sonhou o melhor para suas filhas. Acho que esse é o desejo de todo pai. Seu pai ainda está vivo?
Ele deveria ter esperado a pergunta com base em suas próprias indagações. Considerou mentir.
Considerou dizer apenas uma parte da verdade, mas decidiu que, embora doesse dar a resposta, ele
poderia alcançar mais coisas com a verdade, construir um alicerce frágil para a confiança.
— Não. Ele morreu na forca quando eu tinha oito anos.
A tristeza apareceu nas linhas de seu rosto fazendo-a parecer estranhamente mais bela, porque
suas emoções eram claras e verdadeiras. Ele havia calculado erroneamente o caminho mais sensato.
Tinha pensado que a desarmaria, ao invés disso ele foi o único pego com a guarda baixa. Estava
atraída por algo que ele escondia profundamente dentro si. Emoções que havia trancado há muito
tempo queriam sair da escuridão, mesmo que por apenas um momento.
— Sinto muito. — disse ela, sua voz transbordando de necessidade em oferecer conforto. Se ela
se importava profundamente por um homem que ela só recentemente conheceu, qual seria a
profundidade do seu amor por uma irmã... ou um marido? — Qual foi o crime dele?
Lembrou-se que representava um papel ali, e que tudo o que se desenvolvesse entre eles seria
desgastado com a falsidade e debilitada pelos enganos. Suas palavras saíram sem emoção, sem
permitir tocar sua alma.
— Foi acusado de roubo. Me deixou órfão. Como a sua, a minha mãe morreu no parto.
Aparentemente fui um bebê extraordinariamente grande.
— É por isso que foi viver com esse Senhor Feagan, certo?
— Sim, tive sorte que ele tenha me levado. Eu não tinha família. Você e eu somos parecidos
nisso, suponho.
Remou em silêncio por vários minutos, absorvendo uma tranquilidade que ele nunca tinha
notado antes. Viu como ela olhava em volta, perguntou-se se tinha revelado muito, estava curioso
para saber o que ela estaria pensando.
De repente, ela fechou a sombrinha e o depositou no fundo do barco. Em seguida, muito
lentamente, polegada por polegada, ela começou a descalçar sua luva direita, revelando a pele que até
aquele momento ele só tinha sido capaz de imaginar. Seu corpo se apertou como se tivesse soltado
os botões do seu corpete. Ela puxou um dedo, depois o próximo, e o próximo, e com cada puxão
sua boca tornava-se notavelmente mais seca.
Finalmente a luva foi completamente removida, expondo uma mão cremosa e suave como o
rosto, unhas cortadas curtas e bem cuidadas. Uma mão de uma verdadeira dama, mãos que diziam
que tinha servos para fazer o trabalho duro. Inclinando-se ligeiramente, ela mergulhou a mão na
água e a sua expressão se tornou mais serena do que antes, mais do que ele já tinha visto em alguém.
— Eu sinto falta do mar. — disse ela calmamente. Ela olhou através de seus cílios. — Você sabe
nadar, Senhor Swindler?
Ele começou a responder, e percebeu que tinha um nó em sua garganta e teve que pigarrear.
— Não.
— É maravilhoso. Você deveria aprender.
— Suponho que é muito parecido com tomar um banho. Ela riu.
— É muito mais que isso. Elisabeth só atravessava as ondas, mas há uma enseada perto da nossa
casa, onde a água é calma, e muitas vezes eu ia nadar por lá. Não estive lá desde que ela morreu. Foi
onde meu pai a encontrou. — Ela balançou a cabeça. — Me desculpe. Não era minha intenção me
tornar sentimental e arruinar esta tarde adorável.
— Está tudo bem. Sei como é difícil quando se perde alguém que ama. Mesmo agora, muitas
vezes eu penso no meu pai.
— Há alguma outra pessoa a quem você amou em sua vida?
— Não. — Ele não iria contar a ela sobre Frannie. Seus sentimentos por Frannie, era um
sentimento precioso que guardava somente para ele.
— Você já amou um cavalheiro? Ela balançou a cabeça.
— Não. — Levantando sua mão, ela jogou água nele. — Estamos ficando muito sentimentais,
Senhor Swindler.
— É mais interessante do que falar de sua casa. Onde fica, a propósito? — Ele cutucou,
arqueando sua sobrancelha, dando apenas um vislumbre de um sorriso maroto.
Ela pareceu refletir, como se não conseguisse se lembrar. Ou talvez simplesmente não esperasse a
pergunta.
— É ao norte, perto do mar, como já mencionei. A propriedade de meu pai é pequena, mas
adorável. Sou feliz lá.
— Para quem ficará agora que morreu? Eu espero que você não tenha um primo horrível ou um
tio para expulsa-la de lá. — Ou pior ainda, usá-la para seu próprio benefício. Talvez houvesse
alguma coisa a mais quanto a não ter alguém para mostrar Londres.
Ela balançou a cabeça.
— A terra não tem nenhum vínculo com o título. Assim, a casa é minha. O título não era
hereditário. Foi dado a meu pai pelos serviços prestados à Coroa. Infelizmente não veio com nada,
exceto o título, mas meu pai não era homem de reclamar.
— Você não me parece que é de reclamar também. Ela deu outro sorriso travesso.
— Eu posso ser teimosa quando quero.
Ele tão pouco podia vê-la como alguém teimosa, embora admitisse que sua forma de se
comportar atualmente fosse um pouco imprudente. O que ela realmente queria ganhar seguindo
Rockberry?
Uma casa à beira-mar parece ser um dote digno. Tem interesse em se casar com um lorde?
— Eu suspeito que eles não tenham interesse em mim.
Ele parou de remar. Atreveu-se a roçar os dedos enluvados ao longo de sua bochecha,
amaldiçoando o tecido que impedia sua pele de tocar a dela. Seus olhos se arregalaram ligeiramente,
e logo escureceram, e se perguntou se ela estava imaginando o mesmo que ele: suas mãos
acariciando mais que o rosto dela. Rapidamente pegou o remo antes que ele perdesse todo o senso
de decoro.
— Eu acredito que eles demonstrariam um grande interesse se a conhecessem.
— Mas isso nunca acontecerá.
— Poderia acontecer.
Ela parecia tão surpresa com suas palavras quanto ele próprio. Em que pensava para fazer tal
declaração? Ele não queria vê-la nos braços de outro homem, também não desejava que ela perdesse
seu tempo em Londres em busca de algum tipo de vingança mesquinha contra Rockberry. Na
verdade, o que ela poderia fazer senão irritar o homem? Ele não valia seu tempo ou atenção, e isso
irritava Swindler por saber que ela dedicava os dois a Rockberry.
Observando-a novamente, estava mais convencido de que sua primeira impressão havia sido
correta: ela não era um perigo para Rockberry. O homem, sem dúvida, reagia à culpa por seu
próprio comportamento abominável para com sua irmã. Ele devia ser açoitado. Swindler queria
açoitá-lo. Não seria a primeira vez que ele teria feito justiça com aqueles que a lei considerava fora de
alcance. Seria essa a razão de Sir David incumbir esta tarefa? Não tanto para vigiar a dama, mas para
vigiar o cavalheiro?
— Eu não... vim aqui para a Temporada. — ela finalmente balbuciou.
— Então por que você veio a Londres?
— Para dar um rosto ao nome, para ver Londres, para... Que horas são?
— A julgar pelo sol, quase cinco.
Ela parecia surpreendida por suas palavras.
— Você não possui um relógio?
— Não.
Sua resposta foi sucinta, como se quisesse encerrar este capítulo, e ela ficou intrigada em saber o
havia por trás dessa história. Ela começou a colocar a luva novamente.
— Você me trouxe a este passeio para garantir que eu não estivesse no parque às cinco e meia?
O que ganharia ao torturar-se com a presença de Rockberry no parque?
— Não tenho certeza. Toda vez que o vejo, é como um punhal no meu coração.
— Temo ter arruinado sua tarde.
Seu sorriso foi suave, mas reconfortante.
— De modo algum. Em vez disso, eu acho que você conseguiu me convencer a desfrutar de
Londres enquanto estou aqui. Mas está ficando tarde. Eu provavelmente deveria voltar a minha
pensão.
Ele piscou para ela.
— Se eu conseguir nos levar de volta à margem. Ela riu levemente.
— Obrigado pela tarde agradável, Senhor Swindler. Parece que estou mais uma vez em dívida
com você.
— Posso visitá-la novamente amanhã? Ela deu um sorriso recatado.
— Eu gostaria muito.
Capítulo Cinco

Depois de mais um dia em sua companhia, Swindler ainda desconfiava que Senhorita Watkins
perseguisse Rockberry sorrateiramente. Então, depois de acompanhá-la até a porta, pediu ao
cocheiro para parar logo após a esquina, desceu e o dispensou para que voltasse à residência de
Claybourne. Ele, então, assumiu o posto de vigília.
Não sabia o que o havia possuído para revelar tanto de seu passado para ela. Depois de todos
estes anos, a raiva pela injustiça da punição dada ao seu pai ainda o rasgava por dentro. Precisava
conter a fúria. Precisava esfriar a cabeça para lidar com a Senhorita Watkins.
Mas isso era pedir demais. O que havia sobre ela que o intrigava tanto? Era inocente, mas
também possuía determinação. Como ele, ela procurava justiça. Como poderia ignorar sua
necessidade de vingar sua irmã, quando tudo o que ele próprio fazia era em nome do seu pai?
Se este fosse um assunto particular, se tivesse sido pessoalmente contratado por Rockberry para
espionar a Senhorita Watkins, lidaria com as coisas de forma muito diferente. Mas como ele tinha
sido forçado a segui-la, sua posição exigia um pouco mais de discrição. Não podia simplesmente ir à
residência de Rockberry e dar um bom corretivo.
Swindler esperou até que a noite chegasse. Ele viu a luz fraca por entre as cortinas de sua janela.
Observou a silhueta dela passar em frente à janela e parar. Em seguida continuou. Se perguntou se
ela iria escovar o cabelo novamente esta noite. Se deveria continuar a vigília.
Olhou em volta. Não passava ninguém por ali. Muito menos ele deveria estar. Então começou a
caminhar pela rua. Iria vê-la novamente amanhã. Pela primeira vez em um longo período de tempo,
ele ansiava pelo dia seguinte.
Swindler acordou com batidas à sua porta. Rolou para fora da cama, vestiu as calças e a abotoou
enquanto cruzava a pequena sala de estar e indo até a porta. Abriu-a, dando um passo para trás
quando Sir David adentrou o recinto.
— Ela o seguiu até Dodger's novamente. Você deveria manter os olhos sobre ela. — disse Sir
David sem preâmbulos.
Swindler lutou para suprimir seu bocejo.
— Eu mantive a guarda em sua pensão até depois do anoitecer. Ela estava lá quando eu saí. Deve
ter saído mais tarde.
— Que horas você saiu? Swindler deu de ombros.
— Talvez uma hora após o acendimento das lâmpadas a gás pelas ruas.
— Você não viu que horas eram, não é? Porque você não leva um maldito relógio consigo. Por
Deus homem! Se você não fosse tão bom no que faz, eu não iria tolerar suas peculiaridades.
— Se sou tão bom, então por que me deu uma tarefa que não requer nenhuma das minhas
habilidades?
— Rockberry pediu por você. Aparentemente, ele viu seu nome no Times por um crime
resolvido.
— Então por que atender a seus caprichos?
— Porque ele é poderoso e influente. Agora sobre a garota...
— Eu tenho que dormir em algum momento.
Sir David passou as mãos por seus cabelos pretos. Ele não era tão mais velho do que Swindler,
mas já tinha o cabelo grisalho nas têmporas.
— Muito bem.
— Sir David, Rockberry fez mais do que dançar com Elisabeth. Ele brincou com ela.
— Pode ser imoral, mas não é um crime. Ele está seguro de que a Senhorita Eleanor Watkins
quer causar algum mal.
— Ela não é um perigo para ele.
Sir David acalmou-se e examinou Swindler.
— Tem certeza disso?
Teria ele essa certeza? Se dissesse sim, a atribuição muito provável chegaria ao fim. E se
Rockberry descobrisse que ninguém estava olhando por ela, poderia decidir tomar o assunto em suas
próprias mãos. Além disso, Swindler repentinamente descobriu que queria passar mais tempo com
ela, muito mesmo.
— Certo, então. — disse Sir David, como se ele tivesse lido todos os pensamentos que
atravessavam a mente de Swindler. — Fique de olho nela, e pelo amor de Deus, mantenha-a longe
de Rockberry.
— Sim senhor.
No final da tarde Swindler novamente pegou emprestada a carruagem de Claybourne, e a dama
estava novamente vestida de rosa. Ele se perguntou se a partir de agora iria se lembrar dela como
sendo a dama de rosa. Não tinha dúvida de que, na sua velhice, quando se relembrasse de seus casos
mais fascinantes, ela viria à sua mente. Não que representasse ser este um caso para uma reflexão
mais aprofundada, mas a dama em questão era.
Ela trouxe um pouco de frescor a sua vida. Uma vida que a muito tinha se tornado insípida por
tudo o que ele havia testemunhado.
Ele pensou em perguntar a ela sobre a perseguição noturna a Rockberry ao Dodger's e avaliar sua
reação, mas estava demasiado cansado de Rockberry, mesmo que ele fosse apenas o assunto para
uma conversa. Queria egoisticamente o dia de hoje somente para si e para Eleanor. Queria dar a
impressão de que era um pretendente e um pretendente não falaria de outro homem. Mesmo que
soubesse que nunca poderia ser um verdadeiro pretendente para ela, poderia ter este parco tempo
com ela.
Adorava assistir o jeito que apreciava os jardins por onde a carruagem passava. Ela ria quando ele
não sabia os nomes das flores. Apontava suas favoritas, mas mesmo que não apontasse ele saberia.
Rosa e lavanda. Cores pálidas. Suavidade. Sem brilho. Delicadas.
Em seguida, ela o surpreendeu com a pergunta: — Vai me levar ao lugar em Londres onde você
cresceu?
Ela poderia muito bem ter jogado um balde de água fria sobre ele. Estava considerando seduzi-la,
mas a sujeira que havia sido sua vida quando menino faria qualquer mulher se contorcer com
desgosto ao pensar em suas mãos a tocá-la.
— Não é tão bonito quanto os jardins. — disse ele, na esperança de dissuadi-la de prosseguir
nesse caminho.
— Mas isso iria me contar um pouco mais sobre a sua vida.
Sabia que deveria ter ficado lisonjeado por ela demonstrar interesse em seu passado, no que
poderia ser considerado um interesse nele. Enquanto sabia que nunca poderia deixar isso para trás
completamente, aquilo que era hoje foi o fruto do que viveu, e não desejava de jeito nenhum que ela
conhecesse os detalhes.
— Permita-me pintar um quadro: era sujo, degradado, e lotado de gente.
— Tenho notado que grande parte de Londres é suja, degradada e cheia.
— Não como os cortiços. Lá a esperança está ausente. Não é um lugar que permita sonhar. É
sombrio.
Ela o olhou como se ele tivesse aberto o peito e mostrado o coração.
— Você tem vergonha de seu passado.
— Sinto nojo dele, isso sim.
Zangado com ela e suas palavras, ele desviou o olhar. Como ela conseguira tomar o controle da
conversa e direcionar o foco para ele?
Ele estava ciente de sua mão pequena e punho fechado sobre a coxa. Apertava suavemente.
— Você superou sua origem positivamente, Senhor Swindler. Isso é para ser admirado. Embora
se escute histórias sobre os cortiços, sem vê-los realmente, não há apreciá-los.
Ele virou o olhar para ela sabendo que seus olhos e voz transmitiam um toque de determinação e
implacabilidade.
— Esse é o ponto, Senhorita Watkins. Não há nada para apreciar.
Se perguntou o que ela estava pensando enquanto estudava seu rosto, e perguntava-se o quanto
ele estava revelando. A dureza da vida que levara? Como ao se tornar mais velho e mais experiente,
começou a abominar a vida que havia vivido? Como ele se sentiu orgulhoso pela primeira vez foi
quando levou um policial a um menino que tinha roubado uma bolsa de dinheiro, a fim de que o
menino inocente que tinha sido preso pelo crime fosse libertado? Ou como um bando de outros
garotos o havia espancado por ter denunciado ao companheiro deles, e por isso tinha aprendido a
ser discreto nas suas relações com a polícia?
Mesmo os erros e acertos na vida não foram cristalinos. Acordos foram feitos para o bem maior.
O problema era: quem decide qual era o bem maior?
Teve a audácia em mais de uma ocasião em acreditar que fosse ele que pudesse decidi-lo. Mesmo
agora, enquanto procurava ganhar a confiança dela para descobrir seus planos, não estava certo de
que iria fornecer essa informação a Sir David ou Rockberry.
— Você é um homem complicado, Senhor Swindler. — ela finalmente disse.
— Não complicado em tudo. — Ele ergueu o seu punho, virou a mão, e entrelaçou os dedos nos
dela. — Tudo que eu preciso é de uma encantadora dama que me regenere.
Ele observou o efeito de suas palavras enquanto ela engolia em seco.
— Você alegou ser um canalha.
Deu um de seus sorrisos mais encantadores.
— A noite está apenas começando, Senhorita Watkins.
Ele tinha planejado ficar em sua companhia apenas por um par de horas, mas no final daquele
tempo ainda não estava pronto para deixá-la ir. Além disso, se estava determinada a procurar
Rockberry à noite, então seria obrigado a mantê-la ocupada. Ele não tinha descoberto nada, caso
fosse uma mulher perspicaz, e ele tinha pouca dúvida de que era, ela teria descoberto muito.
Incomodava-o que ele poderia facilmente revelar parte de sua alma para ela. Mas apenas partes,
pedaços e peças que ela nunca seria capaz de encaixar corretamente, a fim de entender o conjunto.
Nem sequer podia dizer que se conhecia completamente.
Quando se tornara um dos rapazes de Feagan, tinha escolhido um novo nome: Swindler2.
Embora sua natureza fosse de enganar os outros, ultimamente estava começando a suspeitar que
talvez estivesse se enganando ao acreditar que seu único interesse na mulher resultou de sua
fascinação por Rockberry. Caso contrário, em vez de levá-la para casa, por que ele a estava levando a
Cremorne Gardens?
— Por que me trouxe aqui? — Ela perguntou quando o cocheiro parou a carruagem em Kings
Road.
— Você já viu o pior dos jardins. Achei que você deveria ver o melhor. — Ele saiu da carruagem
e estendeu a mão para ela. — Vamos sair muito antes que a grande massa comece a chegar.
Sua irmã tinha escrito em seu diário sobre os jardins e sobre a espetacular exibição das luzes
estourando no céu.
— Podemos ficar até depois dos fogos de artifício?
Ele deu um sorriso generoso que roubou todo o ar de seu corpo. Oh, ele era perigoso para o seu
coração. Tinha pensado em tirar vantagem, e em vez disso ela estava fascinada por ele.
— Se agrada. — ele ronronou ternamente.
— Muito.
— Então ficaremos.
Depois que ele ajudou descer da carruagem, deu ordens ao condutor para retornar às nove. Na
entrada, ele pagou um xelim por cada um deles, enroscou o seu braço em torno do dele, e levou-a
através dos portões de metal para os jardins. A multidão era densa. Damas e cavalheiros passeavam
de braços dados. Ela suspeitava que a maioria fosse casada e aqueles que não eram tinham
acompanhantes por perto. Até mesmo algumas crianças poderiam ser vistas. Era o momento para as
famílias, para as pessoas apropriadas estarem ali.
Isto era o que Elisabeth tinha visto, o que escrevera no seu jornal.
— Sua irmã visitou os jardins? — Perguntou o Sr. Swindler.
Ela ergueu a cabeça e segurou o familiar olhar verde, vendo a compaixão e a compreensão lá.
Como foi que ele conseguiu lê-la tão bem?
— Sim. Ela escreveu sobre os fogos de artifício com riqueza de detalhes.
— Então, embora estivesse perdida na outra noite, você sabia onde estava?
— É possível perder-se, mesmo quando você sabe onde está. — ela disse com dureza.
— Você está perdida, Senhorita Watkins?
Sua pergunta continha uma corrente, como se ele percebesse que ultimamente ela mal reconhecia
a si mesma, tinha momentos em que ela se sentia à deriva no mar. Às vezes, pensava que vir a
Londres foi um erro. Ela não estava confortável ali. Isso a enclausurava. Ou talvez fosse apenas sua
busca pela vingança que a deixava desconfortável com o seu entorno.
— Desde a morte da minha irmã e depois do meu pai, sim, muitas vezes me sinto perdida.
Desorientada. — Estas palavras eram tão verdadeiras que isso a assustou ao pensar que poderia falar
com ele com tanta facilidade. Ela queria confiar tudo a ele, completamente, implicitamente, mas
sabia que não podia. Muito estava em jogo. — Você acha que poderíamos fazer um pacto, pelo
menos por esta noite, para falar sobre nada, exceto o futuro?
— Como podemos falar do que não sabemos ainda?
— Do presente, então. Parece uma eternidade desde que me preocupei só com o presente.
— Então, esta noite vamos nos concentrar no aqui e agora. Por onde devemos começar?
Tanto para escolher, ela mal sabia por onde começar. Então seu estômago a envergonhou
fazendo um pequeno rumor, tirando a escolha dela.
— De repente percebi que estou bastante faminta. Ele sorriu.
— Uma mulher perfeita para mim. Vamos ver o que podemos encontrar.
Enquanto ele a conduzia através de uma multidão no salão de banquetes, ela pensou em que
outras circunstâncias diferentes ela seria de fato uma mulher perfeita para ele. Ele era forte, amável e
solícito. A agradava nas pequenas coisas. Ele trouxe seus sorrisos de volta quando pensou nunca
mais sorrir.
Não tinha vindo a Londres para encontrar a felicidade, e, no entanto, ela pairava, como uma
borboleta provando a pétala de uma flor selvagem. Mas, não importava o quanto ela desejasse, não
ficaria ali por muito tempo.
— Segure-me, Senhor Swindler, querido Deus, por favor segure-me.
As palavras foram sussurradas com medo, misturadas com constrangimento. Ela parecia ser a
única em pânico enquanto o balão subia. Os outros passageiros emitiram algumas exclamações
abafadas de receio e admiração.
Quando o braço do Senhor Swindler a rodeou, segurou-se na lapela de sua jaqueta e enterrou o
rosto no canto de seu ombro. Era tão robusto quanto os penhascos e soou tão reconfortante
quando murmurou: — Você está perfeitamente segura, Senhorita Watkins. Não vamos a lugar
nenhum.
— Nós estamos subindo.
Ela mal podia acreditar que estava de pé em uma cesta... em uma cesta! Flutuando em direção ao
céu. Ela temia que pusesse a torta de carne quente que comera mais cedo para fora de seu estômago.
Não tinha considerado que ver a terra se afastar faria sua cabeça girar.
Passeios de balão de ar quente eram uma ocorrência semanal nos jardins. O balão foi amarrado
para que sua subida fosse controlada. Uma vez que os passageiros dessem uma boa olhada ao redor,
eram trazidos para baixo e substituídos por outro grupo. Do chão parecia mais divertido. Não sabia
por que a ideia de subir a incomodava. Ela tinha contemplado os penhascos toda a sua vida, mas eles
não oscilavam, não se moviam. Firmes e fortes, podiam apoiá-la. Poderia a cesta segurar o peso de
todos dentro dela? Ou encontrar-se-iam em queda livre tão logo o peso de todos não fosse
suportado pela aparente leveza do transporte?
— Escute, Senhorita Watkins. Este é o som que você desejava? — Ele perguntou suavemente.
Ela ouviu então. O barulho da multidão recuou. Não havia nenhum zumbido de rodas de
carruagem ou barulho de cascos de cavalos. Eles estavam acima do barulho. Ela quase pensou que
podia ouvir Elisabeth sussurrando para ela. Quão perto estavam do céu?
O cesto deu um pequeno solavanco. Ela soltou um pequeno grunhido e apertou o punho na
jaqueta dele, como fosse o suficiente para sustentá-la caso o balão começasse a cair.
— Está tudo bem; nós simplesmente chegamos ao fim da corda de sustentação. — Swindler
sussurrou próximo de sua orelha. Se não estivesse tão aterrorizada, ela poderia ter desmaiado com
sua proximidade. — Abra seus olhos. — disse Swindler.
— Acho que não posso — sussurrou ela, esperando que nenhum dos outros quatro passageiros a
escutasse.
— Não olhe para baixo. Basta olhar para frente. Confie em mim, Senhorita Watkins.
Engolindo com dificuldade, mal abriu um olho. Podia ver as copas das árvores. Então, abriu o
outro e soltou uma risada nervosa. Podia ver telhados.
— Oh, olha, lá está o Tâmisa.
Não sabia por que se surpreendeu ao vê-lo. O jardim fora construído às suas margens. Algumas
pessoas chegavam a seus pés e atracavam à beira do rio. Sua proximidade era uma das razões pelas
quais o jardim fosse tão verde e a vegetação tão diversificada. O sol estava começando a desaparecer,
criando uma vista espetacular inundada de laranja e lavanda. O que mais há para ser visto além desta
pequena área? Como sua casa pareceria do alto? Ela se viu admirando os pássaros.
— Estou quase desejando que o balão alcance voos mais distantes. — Ela voltou seu olhar para
Swindler. Ele não espreitava a terra espalhada abaixo deles como uma tapeçaria elaborada. Seus
olhos estavam sobre ela. — Você está perdendo a vista.
Seus lábios lentamente se transformaram em um sorriso sensual.
— Eu não acredito que estou perdendo qualquer coisa.
Ela perguntou-se como seria o sabor e a sensação de sua boca. Que estranho pensamento.
Percebeu que queria experimentar seu beijo, desesperadamente. Como queria que ele a desejasse.
Mesmo sabendo que seu interesse por ela poderia ser influência de sua associação com Rockberry,
que ele não a queria por ela mesma, mesmo assim ainda se viu atraída por ele. Esperava distraí-lo de
seu propósito em servir Rockberry, e naquele momento era a única distraída.
Com a língua, ela tocou os lábios, imaginando que os dele o fariam formigar e inchar. O olhar
dele mergulhou em sua boca, e ela se perguntou se seus pensamentos estavam viajando pelo mesmo
caminho que os dela. Os olhos dele escureceram e se estreitaram. Sob as mãos dela que descansavam
em seu peito, ela podia sentir a mudança nele, a tensão aumentando como se ele lutasse alguma
batalha interior e estivesse muito perto de perder qualquer controle que possuísse. Então, ele
respirou fundo.
Ele desviou o olhar para o Tâmisa, e ela se perguntou se as pequenas e insignificantes ações dela
haviam agitado suas paixões. A julgar pelos sulcos profundos em sua testa e a rigidez em sua
mandíbula, ele ficou incomodado com alguma coisa. Fascinada, ela não deveria se surpreender com
seu interesse quando tudo sobre ele a intrigava.
Voltando sua atenção para o cenário desejou que eles pudessem ficar levitando naquele balão
para sempre. Que mundo diferente era, olhando para baixo em vez de para cima. Quase podia
esquecer o motivo de sua ida a Londres, a necessidade de vingança que a incomodava. Ali em cima
podia imaginar que o amor era possível.
Uma pena que seu coração soubesse a verdade da questão. Em um prazo muito curto estaria
sacrificando qualquer chance que pudesse levá-la a ter uma vida feliz.
Eleanor tinha pedido para não viver no passado, para por algumas horas se concentrassem
apenas no presente. Desejou de coração atender ao seu pedido. E por àquelas horas em sua
companhia ele esqueceu que era filho de um ladrão condenado, um órfão criado por um ladrão.
Esqueceu que passou sua juventude criando formas nada honestas a fim de obter ganhos que
enchessem o bolso de Feagan. Esqueceu que essa era sua marca, o seu dom. Apenas pensava na
mulher que caminhava ao seu lado, desfrutando dos pequenos prazeres oferecidos pelos jardins. Ela
estava tão entretida pelos acrobatas como estava pelos bonecos. Seu sorriso raramente abandonava
seu rosto e seus olhos brilhavam com mais intensidade do que as luzes das lâmpadas a gás que
estavam sendo acesas com o cair da noite que cobria os jardins.
Uma orquestra tocava animadamente. De vez em quando, enquanto ele e Eleanor caminhavam,
ela balançava ligeiramente como se estivesse presa ao ritmo do som que ecoava pelos jardins. Pensou
em levá-la até a plataforma de dança, mas levá-la em seus braços e deslizá-la sobre o piso de madeira
era suscetível de levá-lo ao desastre, porque vinha se esforçando como o diabo para manter as mãos
longe dela. O passeio no balão tinha sido pura tortura com ela grudada nele. Tinha sentido os
pequenos tremores que a atravessavam. Se ele achasse que poderia tê-la levado para baixo através de
uma das cordas que mantinha o balão amarrado, a teria colocado sobre seu ombro e a colocado com
segurança no chão. No entanto, tudo o que havia sido capaz de fazer era oferecer distrações.
Enquanto ela se distraia, ele falhava miseravelmente nesse quesito. Tinha olhado em seus olhos azuis
e tudo que queria era ter um momento privado com ela. Não, não um momento privado, mas mil
deles. Os dois sozinhos onde a intimidade pudesse florescer, onde ele pudesse realmente esquecer o
passado e não considerar o futuro, onde o tempo presente não interferisse e todas as
responsabilidades ficassem para trás.
Eleanor distraiu-se do propósito dela. Ele trouxe-a de volta ao cenário de seu primeiro encontro,
porque pretendia suavemente revelar o motivo verdadeiro de abordá-la naquela noite. Precisava que
ela confiasse nele o suficiente para que pudesse chegar ao fundo desta questão. O policial dentro
dele sabia disso, mas o homem dentro de si tinha outras ideias. Ele abraçou a intenção dela de
desfrutar o presente, e isso significava garantir que ela estivesse gostando, que não haveria nenhum
interrogatório sutil, nada de bisbilhotar.
Um boom soou com a primeira explosão de fogos de artifício que encheram o céu. Com o braço
entrelaçado ao dele, ela usou a mão livre para apertar seu braço quando exclamou.
— Oh!
Os fogos de artifício podiam ser vistos a quilômetros de distância, e em muitas noites, enquanto
caminhava por Chelsea ele havia visto, até que se tornou imune a sua magnificência. Mas
observando Eleanor, se lembrou da primeira vez que ele havia visto eles espalhados por todo o
negrume de veludo e como tinham tirando o fôlego. Vê-la assistir este espetáculo, embevecida, era
incomparável.
Sua cabeça estava inclinada para trás ligeiramente, os olhos arregalados, os lábios entreabertos em
maravilha. Seu cabelo não tão arrumado como esteve quando tinham começado a passeio da tarde a
apenas horas atrás. Algumas mechas soltas de cabelo emolduravam o belo rosto. Queria tocá-los.
Ansiava em remover seu chapéu, soltar todas presilhas e ver seu cabelo cair pelas costas. Desejava
puxá-la mais para trás, para as sombras. Queria usufruir de sua reputação de canalha. Queria seduzi-
la e revelar seus segredos, queria seduzi-la para revelar seu corpo.
O céu estava novamente iluminado pelo brilho de estrelas brancas que disparavam em todas as
direções antes de desaparecer na noite. Eventualmente, ela iria desaparecer de sua vida. Mas, naquele
momento particular, ainda estava ali, vibrante e adorável, um toque de inocência, um toque de
ousadia.
— Meu Deus, mas eles são bonitos. — ela sussurrou reverentemente.
— Não tão bonita quanto você.
Sua atenção voltou-se do céu para ele. Havia prometido que não iriam embora até depois dos
fogos de artifício, mas ele estava criando suas próprias faíscas. Havia sombras em abundância e,
quando o próximo boom soou, ele passou o braço pela cintura e a afastou da multidão reunida e das
lâmpadas a gás. Ela ofereceu apenas resistência simbólica, sem dúvida esquecendo que eles não
deveriam ser influenciados pelo passado esta noite. A impaciência o fez erguê-la nos últimos passos,
e então estava abrigado pelo céu: o perfume de rosas dela enchendo suas narinas, seu gosto
tentando-o a procurar mais quando sua boca se moveu para se encaixar perfeitamente contra a dela.
Como uma espécie de videira aderente, seus braços enlaçavam o pescoço dele, os dedos dela
raspando seu couro cabeludo, ficando enredado em seu cabelo. Foi surpreendido por quão
desesperadamente a desejava.
Quase uma semana se passara desde que ele se deu conta de sua existência e, no entanto, sentiu
como se a conhecesse toda a vida. Era inconcebível que pudesse abrigar sentimentos tão fortes por
uma mulher de quem ele sabia tão pouco.
Com um gemido silencioso, ela apertou seu corpo mais perto do dele, seus seios achatados contra
seu peito. Por vontade própria deles, as suas mãos deslizaram pela lateral do corpo dela até os
quadris, puxando-a contra sua ardente e tortuosa excitação. Ele estava consciente da ligeira rigidez
dela, como se estivesse surpresa com o que ele não tinha capacidade de esconder dela. É claro que
ela ficaria desarmada. Era uma dama no verdadeiro sentido da palavra.
Com uma maldição grosseira, ele separou sua boca da dela e retrocedeu ainda mais para as
sombras.
— Senhor Swind...
— Cristo, Eleanor, eu pensaria que depois deste beijo intenso nós poderíamos dispensar as
formalidades.
— Você está zangado.
— Não com você. Vá e termine de assistir os fogos de artifício. Eu me juntarei a você daqui a
instantes. — Uma vez que aquela dor horrenda o deixasse em paz.
— Posso vê-los daqui.
— Eleanor. — ele determinou, esperando que a impaciência em sua voz fosse suficiente para
afastá-la.
— James.
Seu nome sussurrado de forma tão sensual e com tanto desejo foi quase sua ruína. Ela era muito
inocente para entender o tormento que poderia tão facilmente infligir a ele. O que em nome de
Deus, ele estava fazendo com ela?
Ele sentiu um toque leve em sua bochecha, estava ciente do ligeiro tremor em seus dedos. Cobriu
a mão dela com a sua, virou o rosto para a palma da mão e apertou um beijo no centro. O
arrependimento o inundou. Arrependimento por seu passado. Lamentava por sua verdadeira razão
para estar com ela. Lamento que poderia tão facilmente redefinir suas ordens e seduzi-la sem pensar
em como se sentiria depois, quando ela percebesse que ele estava ali por causa do dever. Cristo! Ele
não era melhor do que Rockberry.
Swindler não tinha dúvidas de que Rockberry usara sua irmã para seus próprios fins. Ele sim era
culpado. Mesmo quando refletia, rezava para que alguma causa nobre o guiasse. Prevenção,
proteção. Tinha ido trabalhar para Scotland Yard porque ele queria salvar as pessoas como não havia
sido capaz de salvar seu pai.
A tensão deixou seu corpo, a dor se dissipou. Ele a atraiu para dentro do círculo de seus braços,
guiando-a para que não se afastasse dele. Onde momentos atrás desejara ver o cabelo dela solto de
seus confins, agora ele deu as boas-vindas a sua nuca descoberta pressionando um beijo leve lá antes
de sussurrar perto de sua orelha.
— Você me tenta, Eleanor.
— Pensei que você fosse um canalha.
— Um com uma consciência, parece-me.
— E se eu não quiser que você tenha consciência?
— Então iremos para o céu ou seremos condenados ao inferno.
Capítulo Seis

A carruagem deslizava rapidamente pelas ruas, ela não queria que essa noite mágica acabasse.
Apoiando-se contra James, com a cabeça em seu ombro, sentia-se pecaminosa, e ainda assim ela
parecia incapaz de evitar isso. Queria o braço dele ao seu redor, mas sabia que era demais. Bastava
que ele segurasse a mão enluvada na sua.
Sempre que ela tinha imaginado um beijo, nunca antes envolvia um homem invadindo sua boca
com sua língua, explorando cada polegada como se fosse o dono. O beijo de James fez um calor
invadir seu ventre e seguir para as pontas dos dedos das mãos e pés.
Oh, ele era muito habilidoso na arte de seduzir. No entanto, enquanto despertava prazer nela, era
como se este mesmo prazer revelasse coisas sobre si mesma também. Era forte, confiante,
acostumado a ter o que queria, contudo, ele adquiriu o que queria não pela força, mas pela
persuasão. Ela pensou que poderia facilmente desaparecer nas sombras atrás das árvores com ele,
nunca voltar e nunca se arrepender.
O beijo a sacudiu até o âmago. A julgar por sua reação, tinha feito o mesmo para ele.
Rockberry teria feito isso com Elisabeth? Ele a tinha encantado, beijado, a empurrado para longe,
apenas para atrai-la de volta?
Ela não queria que Rockberry interferisse em seus pensamentos esta noite, não quando eles
estavam tão cheios de James. Ela queria ter vindo para Londres com outro propósito, desejava ter
sido a primeira filha enviada, desejava que ela e James tivessem cruzado caminhos há um ano,
quando não estaria consumida pela dor e pela necessidade de vingança. Era horrível odiar alguém
como odiava Rockberry. Manchou até mesmo os momentos mais gloriosos, fez ela se sentir como se
não os merecesse, porque sua irmã nunca os tinha experimentado.
— O que está pensando? — Ele perguntou calmamente.
Mais uma vez ficou admirada com a maneira como ele sempre parecia saber quando falar e
quando ficar em silêncio.
— Como eu era diferente antes da morte de Elisabeth. Como gostaria que você me conhecesse
àquela época.
— Gosto muito de você agora.
— A tragédia nos muda, nem sempre para melhor, eu acho.
— Pode dar um propósito à nossa vida. Ela olhou para ele.
— Foi isso que fez com você?
— Depois que meu pai morreu, sim.
— Você se tornou um ladrão. Dificilmente uma ambição a ser recomendada.
— Procurei sobreviver da melhor maneira possível. Fazemos o que devemos fazer.
Será que ele entenderia se ela explicasse o que deveria fazer?
— Você deve ter ficado muito grato quando Lorde Claybourne levou-o para sua casa.
— Não no início. — James deu uma risadinha baixa, que se fixou no ar noturno e provocou seu
bom senso, fazendo-a sorrir. — Ele insistiu em que estivéssemos limpos, banhados todas as
semanas, em vez de uma vez por ano. Pensei com certeza que estávamos acabados, que todos
ficaríamos doentes e morreríamos. Mas nós não morremos. Ele nos comprou roupas que cabiam.
Ele contratou tutores. Eu fiquei apavorado, então não ousei desobedecer.
— Ele bateu em você?
— Não. — ele disse sucintamente. — Nunca levantou a mão para nenhum de nós, exceto,
possivelmente, seu neto. Eu nunca entendi completamente porque ele nos tomou como sua
responsabilidade. Talvez por causa de seu amor por seu neto. Nós éramos seus amigos. Talvez ele
não o quisesse sozinho em seu novo ambiente.
— Quantos anos você tinha?
— Dez. O mais jovem.
— Então, mais cedo, quando disse que queria ver onde você cresceu, suponho que me
equivoquei. Não era em cortiços. Era na casa de Lorde Claybourne.
— Não, cresci muito mais em cortiços do que com Claybourne. É um mito que a idade é
determinada por anos. Eu não fiquei com Claybourne por muito tempo. Alguns anos. Quando Jack
Dodger e Frannie foram embora, eu também fui.
— Quem são eles? — Gostava de ouvi-lo falar. Queria saber cada detalhe de sua vida, mesmo
quando ela não estava disposta a compartilhar a dela.
— Jack Dodger, um canalha da mais alta ordem. Um muito rico. Ele é dono do Dodger’s. Um
exclusivo clube de cavalheiros.
Onde Rockberry era membro. Ele já tinha ido lá duas vezes desde que ela chegou a Londres.
James se deteve para estudá-la, e se perguntou o que ele estava procurando? Se soubesse que ela
estava bem familiarizada com Dodger’s e o que representava.
— E Frannie... ela recentemente se tornou a Duquesa de Greystone. — James finalmente
continuou.
Ela sentiu um profundo carinho em sua voz quando falou de Frannie. Uma faísca de ciúme
queimou suas entranhas, e ela lutou bravamente para afastá-lo de si. Que direito tinha de reagir a um
nome, a uma mulher que poderia representar mais para ele do que ela jamais representaria?
— Ela é especial para você.
Ela desejou ter reprimido as palavras. O que tinha aquela noite que facilitava vir à superfície tudo
o que acontecera com eles? Por mesmo que ela estava fazendo todas essas perguntas quando sabia
que ele nunca iria ter um lugar permanente em sua vida?
— Ela era... é.… especial para todos nós. Sempre foi como uma espécie de mãe, mesmo sendo
compatível com nossas idades. Quando crescemos, ela procurou outros órfãos, e então construiu
um orfanato para eles. O supervisiona. Planeja construir outro.
— E é uma duquesa. É quase como um conto de fadas, não é? Uma filha das ruas convertendo-
se uma duquesa.
— Suponho que o seu pai esperava isso para você e sua irmã. Um cavalheiro com título.
Ela acreditou ouvir algo mais em suas palavras, pela inflexão, um lembrete de que ele próprio não
possuía um título. E ainda que soubesse que seu eu pai queria que ela se casasse com um homem da
nobreza, somente disse: — Acho que ele queria que nós nos casássemos bem, e para o meu pai, eu
acredito que isso significava casar com um homem que nos fizesse felizes.
— O que te faria feliz, Eleanor?
Felicidade era passageira, ela havia descoberto. Algumas horas atrás, ela estava transbordando de
felicidade com ele, e agora estava escorrendo pelos seus dedos como o ar que havia escapado do
balão para que pudessem retornar à Terra. Quanto mais perto estavam de sua pensão, mais a
realidade começava a empurrar de lado sonhos e possibilidades.
— Esta noite me fez muito feliz, James.
Estava consciente de ele examinando-a quando eles passaram sob os postes de luz, e sabia que ele
intuitivamente entendeu o que estava subentendido. Eles se acomodaram em silêncio, como se
ambos soubessem que estavam destinados a fazer escolhas que iria deixá-los cada vez mais sozinhos.
Quando o cocheiro parou a carruagem em frente à sua pensão, o condutor desceu e abriu a porta,
guiando para baixo. James se juntou a ela e levou-a até a porta da frente.
— Quanto tempo você ficará em Londres? — Perguntou.
— Eu não estou certa.
— Se eu trouxer a carruagem para um segundo passeio amanhã, você me concede o prazer de ir a
um piquenique comigo?
Ela sorriu calorosamente.
— Sim.
Erguendo a mão, ele deu um beijo em seus nódulos, e apesar das luvas, ela sentiu o calor de sua
boca através do tecido.
— Amanhã então.
Tomando a chave, abriu a porta e ficou na varanda até que ela fechou a porta. Enquanto subia as
escadas, pensou que seus passos deveriam estar leves. Em vez disso, estava pesado de culpa e
decepção. E ela se perguntou quando chegaria a hora de se afastar dele.
Swindler não era um homem que cometia erros muitas vezes, mas quando cometia estes eram
grandes e lamentáveis. Durante a semana passada, ele tinha organizado uma série de passeios para
Eleanor e acompanhou-a em cada um: Madame Tussaud, uma ópera, piquenique nos jardins e outra
visita a Cremorne Gardens para os fogos de artifício que tanto a tinham encantado. Começava cada
dia com a melhor das intenções, para deduzir o propósito dela em relação ao Lorde Rockberry, mas
ele se tornou protetor de seu tempo com ela. Ele não queria conhecer seu propósito que tanto
preocupava Rockberry.
Swindler estava mais interessado em saber tudo o que podia sobre a própria dama, e sua mente
estava ainda mais ocupada se esforçando para determinar como ter momentos privados a sós com
ela, a fim de garantir mais um beijo. Tinha pensado seduzi-la, e ele era aquele que estava sendo
seduzido. Mas tinha chegado o momento de enfrentar suas responsabilidades. Antes, porém, ele
queria proporcionar boas lembranças a Eleanor, uma noite para ela lembrar por muito tempo,
mesmo que viesse a desprezá-lo depois.
Foi a razão para ele ter vindo à casa do Duque e da Duquesa de Greystone, que sabia que haviam
retornado de sua viagem de lua-de-mel com vários dias de antecedência.
— Jim!
De pé no sofisticado hall de entrada, Swindler virou-se ao chamado do seu nome e olhou para a
escadaria grandiosa que Frannie descia. Ele havia esperado que ao vê-la pela primeira vez desde seu
casamento com Greystone seria estranho, que sentiria a pequena sacudidela em seu coração que
sempre sentia quando a via, sabendo que ela nunca seria dele.
Mas seu coração não começou a doer ou seu peito apertar. Ele não tinha nenhuma das reações
habituais que muitas vezes o acompanhou quando estava em sua presença. Sentiu alegria ao vê-la,
mas nada mais. Nada, nenhum desejo além da amizade.
Ela apareceu como sempre fazia: elegante, com o cabelo vermelho vibrante preso acima e seu
rosto iluminado de alegria. Seu vestido, no entanto, era mais elegante do que qualquer coisa que ela
tinha usado quando trabalhava como contadora no clube de cavalheiros Dodger’s. Seu vestido verde
era de seda e rendas, condizente com uma duquesa.
Seu marido a seguia de perto. Ele era leal, carismático. Seu manto era seu título. Ele poderia não
estar usando nada e ainda inspiraria respeito, ainda teria chamado a atenção quando entrasse em uma
sala.
Parando diante de Swindler, Frannie tomou suas mãos grandes entre seus dedos delicados e
apertou-as firmemente. Tendo sido brutalizada quando criança, ela sempre foi extremamente
reservada com seus abraços, então ele não esperava um de boas-vindas. O que o surpreendeu foi que
ele não desejava um. Parecia que quando pensava em uma mulher abraçando-o, a única imagem que
veio à mente foi a de Eleanor.
— Sua Graça. — ele disse para ela, então acenou com a cabeça para Greystone.
— Oh, Jim, por favor, eu ainda sou Frannie. Não seja formal comigo. Vou considerar isso um
insulto.
— Você é duquesa agora.
— Sou sua amiga, não sou?
Ele podia ver nas profundezas de seus olhos verdes quão importantes era sua resposta.
— Sim, claro que é.
Ela sorriu feliz para ele.
— É tão bom vê-lo.
— Você está muito bem. — Ele teria achado que fosse impossível, mas seu sorriso aumentou.
— O sul da França é maravilhoso. Sterling e eu passamos dias maravilhosos.
Mesmo sabendo que os dias maravilhosos teria incluído fazer amor, Swindler não sentiu ciúme.
Não sentia nada mais que alegria por Frannie estar tão obviamente feliz.
— Retornamos para casa há alguns dias — disse Frannie. — Eu temia que... Estou feliz que você
tenha vindo nos visitar. Vamos para a sala de estar?
Ela não esperou por uma resposta, se dependurando em seu braço e liderando o caminho.
— O que posso oferecer para beber, Swindler? — Perguntou Greystone enquanto caminhava
para uma mesa com decantadores.
— Nada, obrigado. Receio que não seja exatamente uma visita social.
— Scotland Yard mandou você aqui? — Perguntou Frannie enquanto se sentava no sofá.
Swindler sentou-se em uma cadeira em frente a ela enquanto Greystone tomou o lugar ao lado
dela.
— Não intencionalmente. Mas eu preciso de uma pequena ajuda com um caso em que estou
trabalhando.
— Que tipo de ajuda? — Perguntou Frannie.
— Sei que darão um baile amanhã à noite.
— Sim, Sterling considera essencial para a nova Duquesa de Greystone sediar uma festa assim
que voltássemos da nossa viagem de lua-de-mel. Catherine está lidando com os detalhes.
— Gostaria que convidasse a Senhorita Eleanor Watkins. Seu pai era um visconde, então não
será impróprio que ela participe.
— Bom Deus, Jim, poderia ser uma lavadeira, e se você tem interesse por ela, eu a convidarei.
Vou convidá-lo também.
— Sim, se você não se importar. Ela também pode precisar de um vestido.
— Ela não está aqui para a Temporada?
— Não, eu acredito que ela está aqui por uma vingança.
— Vingança soa como algo que colocará minha esposa em perigo. — disse Greystone. — Se for
esse o caso, então não podemos ajudá-lo.
— Sterling...
— Eu quase perdi você uma vez, Frannie. Não vou arriscar novamente. Com diversão, Swindler
observou a batalha silenciosa de vontades.
Aparentemente, o duque ainda tinha que descobrir que sua duquesa possuía um tipo raro de
teimosia.
Ela finalmente voltou sua atenção para Swindler.
— Conte-me sobre a dama.
Respirando fundo, ele se inclinou para frente, cravando os cotovelos nas coxas. Explicou como a
tinha conhecido.
— Ela simplesmente me fascina, mas nunca contei o meu verdadeiro propósito, o que pretendo
obter dela. Às vezes, sinto-me como se estivesse outra vez sob as ordens de Feagan, trabalhando tão
duramente para roubar alguém sem que perceba.
— Você está fazendo o seu trabalho.
— Esta é a questão, Frannie. Não estou fazendo, não realmente. Estou simplesmente
desfrutando da companhia dela. Esperava que quando confiasse em mim, me falasse de seus planos
com relação a Rockberry. Mas ela evita discuti-lo sempre. Chegou a hora de concluir este assunto.
Devo confrontá-la, e quando o fizer, qualquer sentimento terno que tenha em relação a mim
certamente azedará. Gostaria muito de dar uma noite em um baile, como um presente, por assim
dizer, antes que descubra que eu a venho enganando.
Frannie posou a mão sobre a dele.
— Você a tem enganado, Jim?
— Já não tenho mais certeza. Estou interessado por ela, mas devo dizer a verdade sobre o que sei
e o que preciso saber. Temo que ela não fique satisfeita em saber a verdade.
Rockberry se aproveitara de sua irmã. Provavelmente pensaria que Swindler tinha feito o mesmo.
Ele temia o confronto e esperava que uma última noite de felicidade suavizasse o golpe que deveria
dar .
— Senhorita Watkins! Senhorita Watkins!
A retumbante batida fez tremer a porta e ranger as dobradiças de seu quarto.
Eleanor o mais rapidamente possível abriu-a.
— Sim, senhora Potter?
A mulher estava respirando pesadamente, com o rosto corado de excitação.
— Você tem um visitante. A Duquesa de Greystone. Quanta honra. — Ela apertou a mão no
peito arfante. — A nobreza na minha sala de estar. Eu nunca imaginei... acha que devo preparar um
chá? Oh, não importa. Vou preparar cada sabor que tenho. Eu gostaria de ter feito um bolo.
Biscoitos parece tão banal. Rápido. Você não deve manter Sua Graça esperando.
Quando a senhoria dela correu pelo corredor em direção à escada, Eleanor seguiu-a em um ritmo
mais calmo, seu estômago tremendo de nervosismo. Porque a duquesa tinha vindo visitá-la?
No momento em que ela chegou no final das escadas, recuperou o controle de sua respiração e
acalmou os tremores que atravessavam seu corpo. Entrou na sala e a duquesa se levantou
graciosamente da cadeira. Uma jovem, obviamente, uma criada, também chegou a seus pés.
A duquesa sorriu levemente.
— Senhorita Watkins. Eleanor fez uma reverência.
— Sua Graça.
Não sabia o que dizer além disso. Deveria ser franca e perguntar por que ela tinha vindo visitá-la
ou simplesmente esperar? Elisabeth teria sofrido por esses momentos de insegurança, por não saber
o comportamento exato que se esperava? Foi assim que Rockberry conseguira atraí-la para o
inferno? Eleanor lutou para não mostrar a raiva que sentia de seu pai ao pensar nisso. Se ao menos
as tivesse trazido a Londres, se ao menos as tivesse exposto mais ao mundo, Elisabeth ainda poderia
estar viva, todos poderiam ser mais felizes. Ela própria poderia ter tido a oportunidade de ser
corretamente cortejada também.
— Devo pedir desculpas por ter chegado em uma hora inapropriada, mas temia que se eu
esperasse até a tarde, não teria tempo suficiente para realizar tudo o que eu desejasse. Venho pedir
um favor. — disse a duquesa.
— Não sei como poderia ajudá-la.
Inesperadamente, a duquesa deu um passo à frente e tomou as mãos de Eleanor.
— Sou amiga muito querida de James Swindler. Acho que mencionou nossa amizade. Crescemos
juntos nas ruas. Sei que ele está visitando você. Estou oferecendo um baile esta noite. Convidei o
Senhor Swindler. Espero que você me dê a honra de participar também.
Participar de um baile, para ser mais exata o baile de uma duquesa. Eleanor mal sabia o que dizer,
além da verdade.
— Receio não ter nada para vestir.
— Pensei que poderia ser o caso. Jim mencionou que você não tem acompanhante e não estava
fazendo visitas. Ele também descreveu você para mim, com bastante precisão, se me permite dizer,
então tomei a liberdade de selecionar um dos meus vestidos que acho que ficaria lindo com sua tez.
Você é um pouco menor do que eu, mas Agnes, minha criada, é bastante hábil com uma agulha.
Poderia fazer os ajustes necessários.
— Oh. — Mais uma vez ela mal sabia o que dizer. Foi só então que notou a grande caixa
descansando no sofá.
A duquesa apertou as mãos de Eleanor, ela não desistiria.
— Espero que me perdoe. Posso estar bancando a casamenteira. Jim nunca me falou de outra
mulher antes, por isso sei que deve ser muito especial.
O estômago de Eleanor se contraiu em um nó doloroso. Isso era o que ela queria, mas agora que
o momento se aproximava...
A duquesa pareceu sentir sua hesitação.
— Por que não damos uma olhada neste vestido? Se não agradar, podemos selecionar outro.
Como não agradaria? Eleanor pensou enquanto Agnes o puxava para fora da caixa e ergueu o
vestido branco bordado em cetim rosa com minúsculas flores de cetim que adornando a saia.
— Deixa-me sem ar de tão adorável.
— Pensei que você gostaria. — disse a duquesa.
— Eu mal sei o que dizer.
— Diga que vai comparecer.
Eleanor não conseguiu deter seu sorriso exultante.
— Vou comparecer.
A Senhora Potter se juntou a elas alguns minutos depois com chá e bolos. Embora não fosse seu
hábito se impor quando seus inquilinos recebiam convidados, ela parecia incapaz de acreditar que
tinha uma duquesa sentada em seu salão, tomando chá, mordiscando um bolo e conversando como
se fossem amigos próximos. A duquesa possuía modos tão despretensiosos que Eleanor tinha pouca
dúvida de que ela encantava qualquer pessoa que encontrasse. Para alguém que não nasceu na
aristocracia, a duquesa se adaptou muito bem à sua posição elevada na sociedade. Eleanor se
perguntou se poderia ter se adaptado também, se fosse ela a escolhida, em vez de Elisabeth, para ser
enviada a Londres primeiramente. Ou teria sido tão ingênua quanto Elisabeth e seguisse seus passos
para o desastre?
— Gostei muito da visita, — disse finalmente a duquesa — mas temo que deva ir. Eu deixarei
Agnes com você, para que ela possa ajustar o vestido conforme necessário. — Ela se levantou e
todas se puseram em pé também. — Estou deixando uma carruagem para Agnes e enviarei uma para
você às oito e meia, se isso agradar.
— Isso me agrada muito — disse Eleanor. Mais uma vez, a duquesa pegou as mãos.
— Acho que vai agradar a Jim também.
Depois que a duquesa partiu, Eleanor e Agnes se retiraram para o quarto. O vestido exigia
poucos ajustes, a duquesa estava certa. Agnes era hábil com a agulha. Duas horas mais tarde, quando
o trabalho estava terminado, Eleanor estava em frente ao espelho cheval, admirando seu reflexo. O
corte baixo do vestido sem mangas revelou um bocado seu colo atraente. A duquesa tinha fornecido
longas luvas que passavam pelos cotovelos de Eleanor e sapatilhas cor-de-rosa.
— Eu poderia arrumar seu cabelo antes de eu sair, — Agnes ofereceu. Eleanor sacudiu a cabeça.
— Não, obrigado. Provavelmente tirarei uma pequena soneca antes de começar os preparativos
finais. Esses bailes costumam durar até tarde da noite, não é?
— Sei que os de Lady Catherine duram até bem depois da meia-noite. Ela tem ajudado Sua Graça
com os preparativos, então suspeito que este também.
Eleanor sorriu para si mesma no espelho. Perguntou-se se Lorde Rockberry teria sido convidado.
Se ela o encontrasse em seu caminho esta noite, seria a noite em que obteria sua vingança.
Capítulo Sete

Eleanor aceitou meu convite. Eu prometi uma carruagem para ela às oito e meia. Talvez você prefira fazer as
honras.
F.
Swindler sabia que Frannie conquistaria Eleanor. Para o rapaz que tinha entregado a mensagem,
ele simplesmente disse: — Diga a ela que me encarregarei disso.
Então enviou uma mensagem a Claybourne dizendo que precisava pegar emprestado sua
carruagem naquela noite, sabendo muito bem que Claybourne usaria seu coche para chegar ao baile.
Ele sempre escoltava sua esposa no coche, porque era maior e digna da dama que ele amava.
Swindler então teve muito cuidado em preparar-se para a noite. Embora tivesse preferido que
seus amigos o deixassem para trás, ele sabia que não o faria e que, mais cedo ou mais tarde, seria
convidado para um de seus grandes eventos sociais. Então, meses atrás, ele havia visitado um dos
melhores alfaiates de Londres.
Agora ele estava de pé diante do espelho admirando o corte do fraque preto, colete de brocado
de seda verde caçador, uma camisa branca pregueada e um lenço branco. Não estava tão rude
quanto de costume. Se ele fosse honesto consigo mesmo, teria de admitir que parecia muito
elegante. Se encaixaria bem com os cavalheiros que estariam se pavoneando. Não queria admitir que
se importava como Eleanor o veria, que não se importasse com o quão atraente parecer -ia aos seus
olhos. Tinha poucas dúvidas de que seu cartão de dança se encheria poucos minutos depois de
entrar no salão de baile. Frannie estava proporcionando uma oportunidade de ser vista, de ser
informalmente introduzida na sociedade. Se ela possuísse os sonhos de uma jovem, isso poderia ser
suficiente para desviar sua atenção de Rockberry.
Foi somente quando suas mãos começaram a doer que Swindler olhou para baixo e percebeu que
estavam espremidas apertadamente em punhos. Ele não queria pensar nela nos braços de outro
homem, valsando com um, sorrindo para outro, dando sorrisos, encantando-o com seu riso.
Embora o título de seu pai não fosse hereditário, ela ainda fazia parte da aristocracia. Ela tinha todo
o direito de esperar que o filho de algum lorde a escolhesse — um segundo filho, um terceiro filho,
até mesmo um décimo filho de um segundo filho seria mais digno dela do que Swindler.
Mas a realidade em relação à sua falta de posição não o impediu de querê-la. Procurara ganhar sua
confiança para saber por que ela estava obcecada por Rockberry e o que esperava conseguir ao
segui-lo, e tudo o que conseguira fazer foi desejá-la como nunca desejou qualquer outra mulher, nem
mesmo Frannie. Desejava Eleanor em sua cama, seu corpo batendo contra o dela, seus gritos
ecoando ao redor dele. Ele queria a mulher que cheirava a rosas e não teria receio de regá-la com
sorrisos sedutores.
Ele ajustou suas luvas brancas, compreendendo a sabedoria em usá-las. Se sua pele nua tocasse a
dela, não tinha certeza de que seria capaz de se controlar. Estava cansado de seu dever, dessa tarefa.
Ele não tinha descoberto nada de valor para a Scotland Yard. Sabia apenas que cada momento
passado na presença de Eleanor era tanto o céu como o inferno.
Talvez esta noite deixasse o dever de lado, colocasse em primeiro lugar suas próprias
necessidades e desejos. Ao fazê-lo, talvez descobrisse se a moça estava tão consciente dele como
homem quanto ele era dela como mulher. E finalmente ganhar o que ele estava procurando por
tanto tempo: a razão por trás de seu interesse em Rockberry.
Uma vez que tivesse essa informação, talvez pudesse dar outro motivo para ficar em Londres.
Era o vestido mais requintado a tocar sua pele. Mesmo os dois vestidos que seu pai pagou
generosamente para Elisabeth empalideciam em comparação a este. Enquanto olhava para seu
reflexo no espelho cheval, com o cabelo preso e adornado com uma presilha de diamante que seu
pai dera, ela pensou que nunca tinha ficado tão bonita.
A vaidade era uma ferramenta do diabo, sabia disso muito bem, mas ela parecia incapaz evitar
isso. Se não fosse pelo fato de que as lágrimas iriam arruinar toda a face, teria chorado. Havia
desejado desesperadamente ter uma Temporada, para participar de um baile. Não merecia esta noite
e, no entanto, não podia se negar a isto.
Pegou a pequena bolsa que encontrara na caixa. Parecia que a duquesa tinha pensado em tudo.
Não era de admirar que James pensasse tão bem dela, referindo-se a ela como uma jovem mãe.
James. Ela nunca deveria ter começado a pensar nele como algo diferente de Senhor Swindler.
James criou uma intimidade que deveria ter sido proibida entre eles, e ainda assim parecia tão
certo. Ela não podia explicar o que estava sentindo. Intrigada, encantada, apaixonada. Desejava os
beijos e o toque dele. Elisabeth tinha escrito sobre estes mesmos sentimentos e eles a tinham levado
à sua queda.
E agora ela temia que estivesse indo pelo mesmo caminho.
Antes que pudesse convencer-se de que não deveria sair naquela noite, ela saiu correndo de seus
aposentos. No alto da escada, ouviu uma voz masculina profunda ressoando. Ela teria reconhecido
aquela voz em qualquer lugar, a mil metros de distância. Seu corpo ficou lânguido, sabia que ele iria
buscá-la.
Quando chegou ao pé da escada, o olhar dele passou pela Senhora Potter e pousou sobre ela.
Seus olhos escureceram e suas narinas dilataram. Ela podia ver a profunda satisfação refletida em
seus olhos, junto com um pouco de possessividade. Qualquer outra mulher poderia ter se ofendido,
poderia ter se ressentido com a implicação de que ela pertencia a ele, mas como ela poderia se
ressentir se sabia que era verdade, pelo menos hoje à noite?
Estava tão extraordinariamente bonito em seu fraque preto. Ao vê-lo vestido como estava,
ninguém questionaria suas origens, ninguém sequer consideraria por um momento que não era um
cavalheiro do mais alto nível. Possuía tanta confiança. Ele podia ficar perturbado por suas origens,
mas esta noite isto não era evidente de maneira alguma. De pé diante dela estava um homem que
havia saído da sarjeta, e nada na terra jamais o mandaria de volta para a sujeira.
E, a julgar pelo calor que ardia em seus belos olhos verdes, ele a desejava desesperadamente. Não
podia negar que o desejava em igual medida.
— Oh, você está linda. — disse a Senhora Potter, quebrando o feitiço.
Ela sentiu o calor esquentar suas bochechas, mas seus olhos nunca o deixaram.
— Obrigado.
— Tenho algo para você. — Ele murmurou, sua voz rouca, como ela imaginava que um homem
que acabara de acordar de uma noite de amor intenso poderia soar. Estendeu uma caixa de veludo
em sua direção.
Sem sequer abri-la, ela disse: — Oh, eu não posso aceitar algo assim.
— Você nem sabe o que é ainda.
— Parece ser uma joia. Seria impróprio.
— Não é para você ficar com ela, só é emprestada.
— É da Duquesa de Greystone?
Sua boca se curvou em um sorriso provocante.
— Pode ser, se isso facilitará que abra a caixa.
O riso quase irrompeu dela, porque sabia que ele pensava que ela estava sendo tola. O que
importava de onde veio? Só que ele se se importava. Especialmente se vinha da parte dele. A mão
dela tremia quando pegou a caixa, abriu a tampa e olhou para o lindo colar de pérolas.
— Eu pensei que possivelmente você não possuísse joias para usar esta noite. — ele disse
calmamente.
— Não posso aceitar isso. — repetiu ela.
— Como eu disse, é apenas um empréstimo. Uma dama não deveria ir a um baile sem suas
pérolas, deveria, Senhora Potter?
— Penso que não. — A senhoria dela deu um passo à frente e sorriu gentilmente. — É uma
noite especial, Senhorita Watkins. Não vejo nenhum mal nisso.
Antes mesmo de concordar, James estava tirando o colar da caixa. Suas mãos estavam nuas, para
que seus dedos pudessem controlar melhor o fecho. Sua pele morna roçou ao longo de seu pescoço
sensível, causando vontade de segurá-lo junto a si. Ela pensou que se fosse uma vela, certamente se
fundiria em uma piscina de cera derretida.
Ele retirou as mãos e disse: — Assim como eu pensei. São tão perfeitas quanto você.
Olhando ao seu redor, ela foi até o espelho na entrada. Elas eram perfeitas, descansando logo
acima da cavidade de sua garganta. Ela sentiu uma necessidade absurda de chorar.
— Eu me sinto como uma princesa.
— Talvez você seja.
— Eu nunca imaginei você como o um tipo fantasioso, Senhor Swindler. Quase não sei o que
dizer por um presente tão precioso, mesmo que só seja meu por algumas horas.
De repente, sem fazer um som, ele estava parado atrás dela, prendendo o olhar dele ao seu
através do espelho.
— Reserve uma dança para mim.
— Você pode tê-las todas.
— Isso, querida, criaria um escândalo.
Uma emoção vacilou sobre seu rosto muito rapidamente para que ela tivesse certeza do que era,
mas se pudesse adivinhar, poderia dizer que algo o estava incomodando, e se perguntou o que era,
parecia que ele não estava inteiramente confortável com ela.
— Nós devemos ir. — disse ele, como se tivesse decidido que precisava colocar distância entre
eles.
— Divirta-se, Senhorita Watkins. — disse a Senhora Potter. — E Senhor Swindler, diga a sua
irmã que na próxima vez ela simplesmente deve entrar também.
Quando ele a conduziu pela porta, voltou-se e disse: — Obrigado, Senhora Potter, o farei. Como
eu disse, ela é um pouco tímida.
Uma vez que estavam fora, ela disse: — Eu não sabia que você tinha uma irmã.
— Não tenho. Não queria que a Senhora Potter pensasse que você estava viajando na carruagem
sem uma acompanhante.
— O que você vai dizer às pessoas no baile?
— Não acho que alguém vá perguntar. Frannie está levando você sob sua asa, e ela está casada
com um dos lordes mais poderosos da Grã-Bretanha. Você poderia entrar vestindo um trapo e
todos a elogiariam.
O riso que borbulhou de sua garganta serviu para acalmar seus nervos. Estava assustada por fazer
de si uma tola esta noite. Mas ocorreu que com James ao seu lado, ela poderia passar por qualquer
coisa.
Quando a carruagem estremeceu até parar, um lacaio que estava no veículo abriu a porta e a
ajudou a sair. James rapidamente a seguiu, colocou a mão sob seu cotovelo e a escoltou até a grande
residência. Carruagens estavam deixando outros casais e eles estavam caminhando rapidamente em
direção às portas abertas.
Mas ela queria retardar a entrada, para absorver todas as facetas da noite.
— É quase como um palácio, não é? — Ela sussurrou.
— Um pouco grande demais para o meu gosto. — disse James. Ela olhou para ele.
— Concordo plenamente, mas mesmo assim e bom visitá-lo.
Ele a conduziu através das portas duplas abertas do hall de entrada, onde um enorme lustre
brilhava. Um lacaio pegou sua peliça3 e o chapéu de James, depois os conduziu para uma saleta.
— Mas todos estão subindo as escadas. — ela disse calmamente para James.
— Está tudo bem. Somos especiais.
Na sala, um cavalheiro de cabelos escuros e uma linda dama de cabelos louros se adiantaram.
— Ah, você deve ser Eleanor. — disse a dama. — Sou Lady Catherine e este é meu marido,
Lorde Claybourne.
O cavalheiro apertou um beijo no dorso de sua mão enluvada.
— Um prazer.
— James me contou sobre você. — disse ela à Lorde Claybourne.
— Espero que coisas boas.
Não podia imaginar que aquele homem tivesse crescido nas ruas. Nobreza era evidente em seu
comportamento.
— Eu não disse nada para fazê-la pensar menos de você. — disse James.
— Então a conversa sobre mim deve ter sido muito curta. — disse Claybourne com um sorriso.
— Frannie nos disse que você viria. — disse Lady Catherine. —Não achamos que Jim traria uma
acompanhante, então nós faremos esse papel, se você não fizer objeções. Não faz sentido iniciar
fofocas desnecessárias.
— Eu ficaria honrada.
— Vamos, então?
Assentindo, ela pensou na prima distante sem ligações reais que trouxera Elisabeth para Londres.
Como as coisas poderiam ter sido diferentes se uma condessa estivesse apoiando sua irmã.
— Me atrevo a dizer, que você e Jim formam um casal adorável. — disse calmamente a condessa
enquanto subia a pomposa escada, com os cavalheiros as seguindo.
O calor aqueceu suas bochechas, e ela não conseguiu pensar em nenhuma resposta adequada.
— Desculpe se eu a envergonhei. — disse a condessa. — Jim é um amigo querido. Estou muito
contente em vê-lo feliz. Ele é diferente de qualquer outro que eu já conheci. A maioria deles são
canalhas.
— Canalhas?
Ela riu ligeiramente.
— É como eu penso em meu marido e em seus amigos. Eles se tornaram respeitáveis, mas uma
pequena parte canalha ainda permanece neles. Não deixe isso alarmar você. Pode ser bastante útil às
vezes.
A meio caminho, eles se viraram para um patamar que terminava em um grande salão. As pessoas
estavam esperando na fila para serem anunciadas.
Seu coração batia forte enquanto olhava para as senhoras elegantes e cavalheiros bonitos. Todos
pareciam tão confiantes, tão confortáveis, sorrindo, conversando e rindo. Antecipando a noite.
— Você é tão boa quanto qualquer um deles. — James sussurrou perto de sua orelha.
Virando-se e sorrindo para ele, ela assentiu.
— Eu não posso imaginar uma Temporada inteira disso.
— Acho que seria rapidamente tedioso. Ela balançou a cabeça.
— Não, acredito que cada noite seria maravilhosa.
Quando se aproximaram da porta, Catherine falou com um homem ali. Ele assentiu. Então sua
voz ressoou: — Lorde e Lady Claybourne, Senhorita Eleanor Watkins, Senhor James Swindler.
Ela olhou para o grande salão de baile e pensou que nunca tinha visto algo tão magnífico em sua
vida. Vinda de uma pequena aldeia, pensou que era quase como entrar em um sonho. Não era de
admirar que Elisabeth tivesse caído pelos encantos de Rockberry.
Enquanto deslizava pelos degraus, sentia-se grata por ter uma mulher experiente ao lado dela. Na
parte inferior da escada, Catherine cumprimentou seu anfitrião e anfitriã.
— Frannie, Sterling, espero que estejam satisfeitos com tudo.
— Querida irmã, — disse o duque, — eu nunca tive dúvidas de que você nos daria uma noite
memorável. E esta deve ser a Senhorita Watkins. Minha esposa a visitou esta tarde. É um prazer tê-la
em nossa casa.
Ela fez uma reverência.
— É um prazer estar aqui, Sua Graça. — Ela se voltou para a duquesa. — Sua Graça, muito
obrigado pelo empréstimo do vestido.
— Você pode mantê-lo. Tenho muitos. E quem sabe? Depois desta noite você pode necessitar
dele novamente.
— Você é muito generosa.
— Divirta-se.
— Oh! Eu vou.
Olhando para trás, encontrou o olhar de James e viu em seus olhos verdes que esta noite era dela,
toda sua. Enquanto Catherine a escoltava, ela de repente se encontrou sendo apresentada a um
cavalheiro após outro.
Ao contrário de Elisabeth, ela não ficaria em um canto. Apesar das maravilhas e excitação que a
cercavam, sentiu um momento de tristeza, porque sua irmã não tinha experimentado nada parecido
com essa atenção. Então, toda sua tristeza esvaiu-se quando o primeiro cavalheiro a escoltou a área
de dança.
Swindler ainda tinha que dançar com Eleanor. Desde o momento em que ela havia descido as
escadas do grande salão, capturou a imaginação e a atenção de todos. Não que ele pudesse culpá-los
ficarem fascinados por ela. O vestido que usava acentuava cada curva. Desejava desesperadamente a
oportunidade de colocar as mãos em sua cintura, puxá-la para perto.
Ele pegou uma taça de champanhe de um dos lacaios que passavam e bebeu de um só gole.
— Preparando-se para ir para a batalha?
Dando a Claybourne um olhar penetrante, aceitou com gratidão o copo de uísque que oferecia e
tomou-o tão rapidamente quanto o champanhe.
— Beba com calma, Jim, você parece que está a ponto de matar alguém. É melhor se acalmar.
Você sabe que o uísque só serve para deixá-lo mais furioso.
De todos os rapazes de Feagan, Swindler sempre admirou mais Claybourne. Talvez porque suas
origens provinham da classe alta da sociedade, ele nunca pareceu realmente pertencer ao grupo
heterogênea de ladrões de Feagan.
— Eu não estou furioso.
— Pois você está fazendo uma boa imitação.
Claybourne era quase tão alto quanto Swindler, mas tinha uma estrutura esbelta e aristocrática.
Ele também era a única pessoa, além de Frannie, que Swindler realmente confiava.
— Não esperava que todos esses sujeitos a estivessem bajulando.
— Por que não? Ela é uma mulher linda. — Palavras mais certas do que estas nunca foram
pronunciadas. — Sua raiva está impedindo que você veja a situação claramente — Claybourne disse
sombriamente, entregando a Swindler seu próprio copo de uísque.
Swindler jogou o líquido pela garganta, saboreando a queimação lenta que se espalhava por seu
peito.
— Eu disse que não estou furioso.
— Ciúmes, então.
Maldição. Swindler assentiu.
— Talvez.
— Ela não tem interesse em nenhum dos outros homens. Swindler soltou um riso desdenhoso.
— Como não? Ela pode não ter um título, mas este é o mundo dela. Dançou com um duque,
dois marqueses, quatro condes, e tantos malditos segundos filhos que eu perdi a conta.
— Não pensei que você conhecesse tanto da nobreza.
— Eu estava perto quando eles se alinharam como indigentes na esperança de uma tigela de
mingau. O pior de tudo, ela dançou com Dodger, sem dúvida o homem mais rico de toda Londres.
— Que também está muito feliz casado.
— Deus, essas são palavras que jamais pensei que ouviria quando falássemos dele. — Queria
outro gole de uísque, vodca, rum, gim. Não importava desde que tivesse a capacidade de queimar
esse poderoso tormento que o envolvera.
— E por que não dançou com você? — Swindler segurou a língua.
Claybourne o acotovelou nas costelas.
— Porque ainda não pediu a ela?
— Eu queria que esta noite fosse especial para ela. A irmã teve a oportunidade de vir a Londres e
Eleanor não. Eu queria dar isso.
— Ela não está gostando de dançar com outros homens, sabe. Você não notou que o olhar dela
nunca permanece neles por muito tempo? Ou como seu olhar vagueia ao redor do salão como se
estivesse procurando por alguém? Seu sorriso é tão congelado que seus maxilares devem estar
doendo. Convide-a para dançar.
— Seu cartão de dança provavelmente está cheio.
— Isto não me impediria se eu quisesse dançar com Catherine.
Normalmente nada teria impedido Swindler tampouco. O que diabos estava errado com ele? Se
perguntou. Culpa por estar enganando-a. Devia dizer a verdade, mas mesmo quando pensava nas
palavras, sabia que tudo entre eles mudaria assim que fossem pronunciadas. Seu afeto por ele se
tornaria ódio. Seu interesse nele desapareceria como uma rosa arrancada da videira e deixada por
muito tempo sem água. Os sons finais de um violino ecoaram no silêncio. Eleanor nem sequer teve
de deixar a pista de dança quando seu próximo parceiro ansioso substituiu o anterior.
Swindler entregou o copo de volta para Claybourne e, sem dizer uma palavra, caminhou por entre
a multidão para a área onde os dançarinos estavam começando a andar para se alinhar para a música.
Ele bateu no ombro de Lorde Milner. O homem parecia tão surpreso quando jogava no Dodger's e
possuía uma boa mão.
— Sinto muito senhor, mas esta dança é minha.
Se fosse um homem maior, Lorde Milner poderia ter desafiado Swindler. Em vez disso, ele se
desculpou. Antes que a batida seguinte da música soasse, Swindler tinha Eleanor entre seus braços e
a levava dançando através do salão.
Ela esperou a noite inteira por este momento.
— Por que demorou tanto?
Ele deu a ela um sorriso irônico.
— Eu não tinha certeza se você gostaria de desistir de uma dança por um homem que tem pouco
a oferecer, exceto dois pés desajeitados.
— Você se subestima, James. Você é um excelente dançarino.
— Como você, Eleanor.
Eles circularam o salão como se não houvesse ninguém mais. Ocorreu que estavam mais perto do
que era apropriado, mas ela não se importava.
Mais cedo um de seus parceiros de dança mencionou que ela o lembrava de uma senhorita que
tinha dançado na última estação. Ele não conseguia se lembrar do nome dela. “Era ela?”, ele
perguntou. A tristeza a inundara porque sua irmã esteve em Londres e ninguém se lembrava dela
claramente. Assim como estava certa de que ninguém se lembraria dela também após esta noite.
Iria fazer parte da vida dessas pessoas por apenas um momento fugaz. Amanhã à noite haverá
outras parceiras de dança para eles, enquanto ela ficaria com preciosas lembranças. E aquela que
estava sendo criada agora com James seria a mais preciosa de todas — ou pelo menos de todas
daquele baile.
Quase não se falavam. Era como se não houvesse necessidade de palavras entre eles.
Conversavam com o olhar, um aperto de mão, um roçar de sua coxa. Quando a dança terminou, ele
removeu seu cartão de dança de seu pulso, enfiou-o em seu bolso, e reivindicou a dança seguinte
como sua. Não protestou. Era o que o queria, mais do que respirar.
Durante a terceira dança, ele perguntou: — Você vai deixar a última dança para mim?
— Estou perfeitamente bem com esta seja a última dança da noite.
— Você está pronta para ir para casa? — Ele perguntou.
— Não. — disse ela, perguntando-se de onde vinha a voz sussurrada. — Mas estou pronta para
ir com você.
Quando a música terminou, eles disseram boa-noite ao seu anfitrião e anfitriã. Fora da casa o ar
estava fresco. Enquanto ele colocava a peliça sobre os ombros dela, era sua proximidade mais do
que o tecido que a aquecia.
Quando se acomodaram na carruagem, ele disse, fingindo surpresa: — Bem, me pergunto aonde
minha irmã foi. O que acontecerá entre nós sem uma acompanhante?
Ela embalou o rosto com as mãos enluvadas.
— Tenho esperança, James, que nos beijemos.
Quando a carruagem deslizou para longe, teve sua esperança concretizada quando ele esmagou
sua boca contra a dela, e ela separou seus lábios para receber o que ele oferecia. Mais uma vez, se
maravilhou com seu gosto. Nada de torta de carne. Em vez disso, era precioso, suave e
decididamente escuro. Nada de champanhe. Tinha bebido outra coisa, algo forte, algo que atrairia
um homem. O que quer que fosse, ela gostou, apreciou o sabor em sua língua quando ele acariciou a
dela.
Os braços dele passaram por suas costas e quadris, e ela se viu puxada para seu colo. Quase
imediatamente o ângulo do beijo se mudou e aprofundou, como se ele estivesse determinado a tocar
seu coração. Como poderia dizer que ele já o tinha, de muitas maneiras sutis, como novelo de fios
que se juntaram para criar um todo intrigante? O empréstimo das pérolas, os fogos de artifício, os
passeios por Londres. Conversas e valsas. Um convite para um baile. Tinha vindo a Londres com
um objetivo, e ele se introduziu lentamente em sua vida até que ela achasse difícil lembrar quais eram
seus planos iniciais.
Egoisticamente, para sua culpa eterna, Rockberry parecia insignificante quando comparado com o
que poderia ter se ela retirasse seu foco do homem vil.
A ardente boca de James acariciou a curva de sua mandíbula, então viajou por sua garganta,
deixando uma névoa úmida em seu rastro. Sua peliça caiu de seus ombros, desnudando-os para ele.
Sem hesitar, começou a mordiscar a pele exposta. Seus dentes mordiscaram levemente sua clavícula,
antes que sua língua ternamente se desculpava.
Contorcendo-se em seu colo, ela apertou as pernas, saboreando os pequenos tremores de prazer
que pareciam surgir lá e se espalhar para fora. Ela nunca tinha experimentado algo assim. Era como
se ao tocá-la em um lugar, ele tivesse a habilidade de criar esse toque sobre todo o seu corpo. Tudo
queria enrolar-se, apertar e expandir.
Sua respiração áspera ecoou através dos limites da carruagem quando as mãos grandes dele
viajavam sobre ela. Ela sentiu a dureza saliente dele contra seu quadril. Os gemidos roucos dele
enchiam os seus ouvidos antes que ele voltasse a boca dela com uma fome que excedia a sua.
Ela não tinha dúvida de que ele a desejava, que era dela para comandar, que ela era sua para
entesourar.
A carruagem parou, e ele soltou um gemido baixo quando retirou sua boca da dela e pressionou
uma testa contra a outra. Sabia que deveria ter se afastado dele, tinha certeza de que ele também
sabia que devia ter se afastado.
Mas, em vez disso, agarravam-se um ao outro, como se ambos estivessem se afogando num mar
tempestuoso. Mesmo quando o lacaio abriu a porta, James não afrouxou seu abraço.
— Dê-nos um momento. — ele desse roucamente.
A porta fechou-se imediatamente, bloqueando o mundo que exigia acompanhantes e decoros,
encerrando-os em seu próprio mundo onde o comportamento era ditado por eles mesmos.
— Foi a noite mais mágica da minha vida. — ela sussurrou, seu coração batendo tão forte que
estava certa de que ele podia ouvi-la. — Eu não quero que isso termine, não aqui, não assim.
Ele recuou e, nos confins sombrios da carruagem, sentiu mais do que viu, seu olhar vagando por
seu rosto como se estivesse procurando por uma explicação de suas palavras.
— O que está querendo dizer, Eleanor?
— Quero passar a noite com você.
Capítulo Oito

Ele sabia que era uma péssima ideia, mesmo quando a levou para sua pensão e a conduziu até a
escada para seu quarto. Mas ele também a desejava desesperadamente, e mesmo comprometendo
sua própria integridade, não deu a mínima. Teria uma conversa com Sir David e consertaria na parte
da manhã, corrigiria tudo de uma forma que deixaria satisfeitos a Scotland Yard e Rockberry.
O capuz da peliça de Eleanor escondia o rosto. Swindler não tinha o hábito de trazer jovens
inocentes para seus aposentos, embora a senhoria dele estava acostumada que chegasse tarde. Ela
raramente deixava de se recolher à espera de sua chegada. Hoje à noite, graças a Deus, não foi
exceção.
Com sua chave, ele rapidamente abriu a porta de seus aposentos e conduziu Eleanor para dentro.
Apenas tomando o tempo de fechar e trancar a porta atrás dele, puxou-a para dentro de seus braços.
Deus o ajudasse, jamais tinha desejado tão desesperadamente uma mulher, nunca quis tanto sentir o
corpo dela pressionado contra o seu, nunca quis beber tão apaixonadamente de sua boca. Ela mal
havia entrado no quarto, e já deixava seu perfume de rosas se apropriar dos aposentos, misturando-
se com o perfume mais terroso da colônia que ele usava com moderação.
A boca dela se abriu ansiosamente para a dele, e entrelaçou seus braços ao redor dele como uma
rosa procurando seu lugar em uma treliça. Sem timidez, sem dúvidas, simplesmente necessidade e
desejo estimulando-a. Ele baniu suas próprias dúvidas de estar a desonrando. Se estava tão disposta
a se entregar esta noite, poderia muito possivelmente oferecer mais. Onde isso os levaria era
discussão para outra hora. Por enquanto, o que importava era que tudo o que havia sido construído
dentro dele desde que a beijou pela primeira vez em Cremorne Gardens estava prestes a ser
concretizado.
Se pudesse suportar, apenas resistir a suas próprias necessidades. Então não permitiria que a
primeira vez de Eleanor fosse manchada por sua incapacidade...
Sua mente deu uma parada impressionante, assim como o beijo. Sempre deu atenção às damas,
mas esta noite queria dar mais do que ele já tinha dado ninguém, porque ela significava mais para ele
do que qualquer outra pessoa. Com dedos ágeis que nunca serviram bem como batedor de carteiras,
rapidamente abriu os fechos de sua peliça. Na escuridão, ele ouviu o farfalhar do tecido quando ele
caiu aos pés dela.
Arrancando as luvas, atirou-as em direção a uma cadeira próxima, mas com base no baque,
pousaram no assoalho. A luz fraca da rua se embrenhava timidamente para dentro do quarto,
mostrando-os em silhueta, sem fornecer detalhes. Agora, ele pensou, com a escuridão fornecendo
seu próprio refúgio, deveria explicar a ela como entrara em sua vida. Deveria dizer que foi por
Rockberry, mas que garantiria que o homem pagasse o que fizera a Elisabeth. Ele seria seu aliado.
Mesmo quando considerava que agora era o momento de revelar tudo, não queria que nada
diminuísse esse momento. Mais tarde, depois de ter falado com Sir David, contaria tudo a ela, uma
vez que pusesse as coisas em movimento, mas esta noite era só deles. Não queria Elisabeth ou
Rockberry ou Sir David invadindo este momento, tornando-se parte desta memória. Assim como
naquela noite no Cremorne Gardens quando ela não quis discutir o passado, então agora ele, egoísta
e avidamente queria esse momento para se concentrar no presente, neles, sobre o que poderiam
compartilhar um com o outro. Delicadamente, ele tocou sua bochecha.
— Não é tarde demais para mudar de ideia.
Ele provavelmente ficaria dolorido de desejo se ela mudasse de ideia, mas nunca havia forçado
uma mulher, e não estava prestes a começar agora, especialmente com ela.
Ele podia ver seu doce sorriso.
— Eu não quero. Você quer?
Rindo, ele a levantou em seus braços e caminhou para seu quarto.
— Nunca. Eu quero você desde aquela primeira tarde no parque.
— Você mostrou um controle admirável.
— Você não faz ideia.
Ele a desceu ao lado da cama, antes de se virar para a mesa de cabeceira e acender um fósforo. O
pavio da lamparina acendeu-se.
— Na escuridão não seria melhor? — Ela perguntou.
— Não. — Mas ele reduziu a chama até que restasse apenas sombras suficientes para fornecer a
intimidade que ela exigia.
— Sua cama é grande. Nunca vi uma como esta. — Ele ouviu o nervosismo em sua voz.
— Eu a mandei fazer especialmente para que acomodasse a minha estatura. Mas é apenas uma
cama, Eleanor, e nada vai acontecer nela se você não desejar. — Ele detectou um leve
estremecimento nela. Com ambas as mãos, tomou seu rosto para chamar sua atenção de volta para
ele. — Não vou te machucar.
— Eu sei. Confio em você sem reservas, James. Mais do que alguma vez confiei em alguém.
Ele levou sua boca de volta para a dela e beijou-a profundamente. Provando o sabor persistente
de champanhe, ele rezou para que a bebida inebriante não estivesse afetando a decisão dela. Mas ela
não estava se balançando, não como um bêbado. Se ele continuasse, ela não demoraria muito a
sucumbir. Estava bêbada com seus beijos, com suas caricias.
Arrastou sua boca ao longo de seu pescoço, sentindo o pulso dela acelerando contra seus lábios.
Com um suspiro e suas mãos apertando as mangas de seu casaco, ela deixou cair a cabeça para trás,
dando melhor acesso a tudo o que ele poderia querer saquear. Seu cabelo primeiro, pensou ele,
enquanto se endireitava. Deslizou os nós dos dedos ao longo de sua garganta.
— Você tem um pescoço muito sedutor.
— É a minha melhor característica, você não acha?
— Um tanto convencida, Eleanor? Ela franziu a testa.
— Não, eu só... estou nervosa, eu suponho. Não quero que você se decepcione.
— Não há absolutamente nada sobre você que possa me decepcionar.
Ele viu em seus olhos o prazer que suas palavras trouxeram. Foi apenas o primeiro lampejo de
prazer que ele pretendia oferecer . Depois de remover habilmente os grampos do cabelo, os
observou caírem em torno de seus ombros e por suas costas. Era mais glorioso do que tinha
parecido à distância. Quase confessou sobre a noite em que a observou se penteando na janela, mas
então teria que explicar por que estava do lado de fora de sua casa. Ele não queria que nada a
distraísse de suas atenções.
Pegou-a pela mão e começou a deslizar a luva pelo braço dela até que estivesse em seu pulso. Seu
polegar tocou sua pulsação e a sentiu saltando sob seu toque. Ela observou-o, e ele se perguntou o
que estava procurando, esperava que ela pudesse ver o quanto ele estimava esses momentos com ela.
— Eu poderia fazer isso. — ela sussurrou, sua voz rouca.
— É um prazer fazê-lo. — Ele puxou cada dedo até que eles estivessem todos livres para que
pudesse terminar de remover a sua luva. Jogou-a displicentemente no chão, e deslizou seus dedos
sobre sua mão.
— As luvas pertencem à Duquesa de Greystone. Eu deveria ter mais cuidado. — disse ela.
— Ela não vai se importar. Comprarei pares novos se for necessário.
Ele começou a remover a outra luva. Com a mão descoberta, ela tocou sua bochecha, deslizou
seus dedos em seus cabelos. Era a primeira vez que o acariciava com a mão nua. Embora fosse
apenas seu rosto e seus cabelos, um arrepio de prazer percorreram-no. Ele queria seu toque em toda
parte. Descartou a segunda luva com igual abandono. Muito lentamente, virou-a.
Ela não esperava que fosse tão metódico em suas ações, com sua delicadeza, aprendeu
rapidamente que ele era uma surpresa constante, a fazia se sentir linda, desejada. Viu em seus olhos
que mesmo algo tão simples como tocar seu cabelo o agradava.
Agora, ele voltou sua atenção para um ombro. Então começou a retirar seu vestido. Ela sentiu o
primeiro botão se abrindo, em seguida, o segundo. Tentou se lembrar de quantos botões havia,
quanto tempo levaria para que o vestido fosse removido completamente. Antes que terminasse o
pensamento, já estava fora de seus ombros.
Ele tocou a boca em seu pescoço, e foi como se tivesse derramado cera quente em suas veias.
Calor circulou através dela.
Ela sabia que era errado estar ali, deixar as coisas irem tão longe, mas a morte de Elisabeth tinha
ensinado que nunca se sabia quando tudo de mais valioso poderia ser roubado. James era dela esta
noite. Ela não tinha esperanças de que continuaria sendo dela pela manhã.
A felicidade era passageira. O amor uma ilusão.
Aproveitaria o máximo de tempo que tivesse com ele, apreciá-lo-ia, rezaria para que nunca se
arrependesse.
Ela deixou para trás pensamentos de Elisabeth e Rockberry. Por esse pequeno espaço de tempo,
ela não queria que nenhuma tristeza se intrometesse, nenhuma busca de vingança. Egoísta, ela iria
tomar tudo o que James oferecia e guardaria na memória para as noites solitárias que sem dúvida a
esperariam.
Sem pressa, tão lentamente que sua pele ficou mais sensível, ele tirou algodão, seda, rendas.
Desamarrou as fitas, soltou os botões, afastou o tecido. Cada peça foi descartada sem cuidado, até
que nada permaneceu exceto as pérolas, enquanto seus dedos deram o maior cuidado e atenção para
a pele dela. A boca dele seguia os dedos, tocando e provando, mexendo com sua libido até que
pensou que enlouqueceria por deseja-lo.
Girando para encará-lo, ela julgou sua reação, esperando que ele não ficasse desapontado por não
estar agindo recatadamente. Queria essa noite com ele, queria tanto que daria sua alma por isso. Sem
dúvida, ela já o havia feito.
A respiração dele tornou-se curta e superficial, enquanto seu olhar vagava do alto da cabeça dela
até as pontas dos dedos dos pés.
— Você é tão linda. — Sua voz era rouca e ríspida, seus olhos enevoados de desejo, traços rijos
agora tão familiares e ainda assim tão diferentes, como se cada parte dela de alguma forma
conseguisse remodelá-lo.
— Devemos guardar as pérolas para não quebrarem. — disse ela.
— Não, deixe-as. Elas de alguma forma se adequam a este momento. Ela ficou surpresa por ele
ter parado de tocá-la.
— Eu não quebrarei. — ela o assegurou enquanto tirava a gravata.
— Minhas mãos são ásperas.
— Eu gosto do jeito que estão. — disse ela, pegando uma e trazendo aos lábios. Ela rodeou sua
língua em torno de seu centro e ele soltou um gemido estrangulado e baixo.
— Está me atormentando — ele murmurou com voz rouca. Surpreendeu a si mesma ao soltar
uma breve risada.
— Eu? Não sou eu que ainda está usando roupas.
Ele a recompensou com um de seus raros e sensuais sorrisos enquanto seu fraque se unia à pilha
de roupas. Seguiu-se o colete e a camisa, depois todo o resto, até que ficassem apenas as calças. Ele
era magnífico. Pedra esculpida não poderia ser mais perfeita.
Movendo as mãos por seu peito, ela sentiu os músculos dele se retesaram e relaxar enquanto
viajava sobre eles. Para um homem de seu tamanho, ele era esbelto e musculoso. Aproximando-se
dele, ela roçou os seios contra seu peito.
— Cristo! — Ele rosnou enquanto tomava sua boca com uma urgência que a surpreendeu.
Swindler esperara o maior tempo possível para tocá-la, sabendo que, uma vez que o fizesse,
aquela valsa lenta acabaria. Ele já não seria capaz de conter-se. Ele a desejava muito.
Seus braços o rodearam, acariciavam suas costas com um toque leve, mas fugaz. Ele sentira seu
toque e logo em seguida não mais. Era uma estranha sensação de contato, depois de ausência. Ele
nunca deixara qualquer outra mulher deslizar suas mãos sobre suas costas. Sempre as distraía de uma
maneira ou de outra, muitas vezes simplesmente segurando suas mãos longe de seu corpo. Mas com
ela, queria experimentar tudo, estava disposto a arriscar perder tudo, porque ele não queria ela em
meias medidas. Não conseguia explicar, mas desejava saber tudo sobre ela, até seu mais ínfimo
segredo e sua menor imperfeição. Por alguma razão, era importante que ela conhecesse a dele.
Repentinamente ela se afastou do beijo, seu rosto em uma carranca.
— O que aconteceu aqui?
— Não é nada.
Ele não a deteve quando ela o rodeou.
— Oh, meu Deus. — Olhando o entrecruzamento de cicatrizes nas costas dele, sentiu lágrimas
nos olhos. — Quem fez isso com você?
— A lei.
Endireitando-se ela o estudou, olhou-o verdadeiramente, além do belo exterior para o homem
ferido.
— Eu não era muito hábil no roubo. — explicou. — Geralmente eu era chicoteado em vez de
passar um tempo na prisão.
— Quantos anos você tinha? — ela sussurrou, incerta do por que esse fato particular era
importante. O que ele tinha suportado não deveria ter sido infligido a ninguém.
— Oito na primeira vez, nove na segunda. Feagan me avisou que se fosse pego mais uma vez, eu
me veria num navio com destino à Nova Zelândia.
— Deportado. — Ela nunca tinha dedicado qualquer pensamento para a punição que os
criminosos recebiam. Oh, ela tinha ouvido sobre isso, mas era como ouvir alguém explicando o
enredo de um romance que não tinha interesse em ler. Eram simplesmente palavras, sem alma, sem
coração. — Eu sinto muito.
— Não sinta. Elas não doem. As mais grossas não sinto mais nada. — Ele tocou sua bochecha
— Eu nunca as compartilhei com mais ninguém. Jamais deixei nenhuma mulher tocá-las. Você é
diferente. O que sinto por você é diferente. Não quero segredos entre nós.
Ela quase chorou pela sinceridade em sua voz. Se ele não a tivesse puxado para seus braços e a
beijado, teria contado tudo sobre Elisabeth, mas sabia que se fizesse isso, o beijo cessaria, e ela o
desejava mais do que queria respirar, mais do que queria vingança. Eles caíram sobre a cama, em um
emaranhado de braços e pernas, a ação separou-os, terminando o beijo.
— Você ainda tem suas calças. — ela disse, como se ele não estivesse ciente de que ela estava
completamente despida enquanto ele ainda mantinha um pouco de modéstia.
— Temo que se eu tirar minhas calças qualquer controle que tenha demonstrado até o momento
se vá com elas.
Ela apertou as mãos em ambos os lados de seu rosto, os polegares contra seus lábios.
— Remova-as.
— Eleanor... — Ele deu um riso sarcástico. — Eu não tenho certeza de que você saiba
exatamente o quanto estou me controlando.
— Você quer fazer amor comigo desesperadamente, e sem as calças não há nada para impedi-lo.
— Exatamente.
— Quero fazer amor com você desesperadamente também. Remova-as.
Antes de ela terminar de tomar seu próximo fôlego, as calças tinham ido embora, deixando-a sem
ar e preocupada se ela nunca mais seria de capaz de respirar novamente. Era grande em tudo, seu
James.
Seu corpo nu cobriu o dela enquanto ele deslizava entre suas coxas, e ela pensou que jamais tinha
sentido nada tão maravilhoso. Sua pele era lisa e aveludada em alguns lugares, grossa e peluda em
outros, mas ela adorou cada polegada, cada textura.
Mais uma vez ele uniu suas bocas. Ela pensou que nunca se cansaria de seus beijos. Cada um era
diferente, e ainda assim o mesmo. Cada um fazia que o desejo crescesse dentro dela. Seu peso se
abateu sobre ela, mas não havia nenhum desconforto. Apesar de suas estruturas, da delicadeza dela e
do corpo musculoso dele, era como se eles se encaixassem perfeitamente.
Com sua caricias, ele era muito mais ousado do que ela. Arrastou a boca para baixo de seu corpo
até que alcançou seus seios. Beijou a parte interna de um e depois o outro. Seu corpo reagiu
fortemente, querendo mais. Ele girou a língua ao redor do mamilo, provocando-a, provocando-a,
provocando-a...
Ela enterrou as unhas nos ombros dele, enquanto seu corpo se curvava.
— O que você quer, Eleanor? — Ele perguntou roucamente.
— Não fale, por favor, não fale.
— O que você quer? — Ele insistiu.
Ela queria chorar, quando a respiração dele flutuou sobre o seu mamilo até transformá-lo em
uma pedra.
— Eu não sei. Alguma coisa.
— Isto. — ele rosnou, antes de sua boca se fechar sobre seu seio e começar a sugar.
Ela pensou que ia sair da cama, como um balão de ar quente liberado de suas amarras. Ela se
curvou para ele.
A mão dele deslizou ao longo de seu estômago até chegar a seu ninho de cachos. Ela sentiu o
dedo dele se deslizar dentro de seu interior, profundamente dentro dela.
— Você está tão molhada, tão quente, tão pronta. — ele sussurrou.
E ela estava. Quase tão pronta quanto ele. Cada músculo do corpo dele estava tenso e vibrando.
Seu coração batia tão forte que ele pensou que poderia realmente estourar. Adorava tê-la debaixo
dele, a suavidade de sua pele, o aveludado de sua feminilidade. A desejava tanto que era um
testemunho de seu controle que ele ainda não tivesse tomado posse dela. Quando seu dedo deslizou
para dentro dela e sentiu sua estreiteza.
— Ao final das contas pode ser que eu te machuque. — ele murmurou com pesar.
— Eu não me importo. — Ela passou as mãos sobre o seu peito e costas, como se ela não se
cansasse de tocá-lo.
Todo lugar que ela acariciava lamentava perder seu contato quando mudava seu toque para outro
lugar. O corpo dele estava gritando com ele mesmo, gritando para ele tomá-la agora. Para possui-la.
Ela estava molhada, muito molhada. Quente, muito quente.
Ele desejou que tivesse considerado este momento, mas nunca tinha possuído uma virgem antes.
Deveria ter oferecido um uísque.
Tarde demais agora. Se moveu e agora ele pairava sobre ela.
Ela pensou que deveria estar assustada, mas não estava. Seja qual for o desconforto que sentiria,
sabia que era algo natural, não culpa dele. Ele a havia preparado com suas mãos e boca, dedos e
língua.
Ela o sentiu sondando delicadamente. Lutando para não a assustar. Ela concentrou-se na
sensação de seus ombros sob suas mãos, no suor pelo esforço por negar a sua satisfação, o
tensionamento de seus músculos enquanto se preparava para uni-los.
Quando ele entrou nela, sentiu dor. Ela não podia negar isso, e podia dizer pela tristeza que tocou
os olhos dele que tinha feito um péssimo trabalho em mascarar isso. Seus braços tremiam, ele se
acalmou quando ela sabia que ele queria se libertar das amarras e voar.
— Eu estou bem. — assegurou ela.
— Não estou com pressa. — Ele abaixou a cabeça e beijou um canto de sua boca.
— Mentiroso. — E, em seguida, o outro canto.
— Nós temos tempo. — assegurou. Não tanto quanto ele poderia pensar.
Ela mexeu-se embaixo dele. Beijando o queixo, ele lentamente começou a balançar-se contra ela.
A dor começou a diminuir, como se seu corpo, depois de se esticar para acomodá-lo, estivesse se
adaptando a chegada bem-vinda. Outras sensações começaram a substituir a dor. Ela começou a se
concentrar nessas enquanto começava a abafar todas as outras.
Ele era como o mar, tão forte como quando batia contra a costa, tão calmo quanto se retirava
com a promessa de voltar. Uma promessa que manteve, voltando uma e outra vez, batendo com
força contra ela, levando-a para cima em direção a mais alta crista das ondas. Foi glorioso, viver a
tempestade de prazeres com ele. Sensações giraram e espiralaram.
Quando alcançaram a crista da onda, ela cravou seus dedos em suas nádegas e arqueou as costas
para encontrá-lo. Ela nunca tinha conhecido nada tão poderoso, tão excitante, tão incrivelmente
maravilhoso. Até que ele começou a se mover mais rápido, se sacudindo, seus gemidos ecoando ao
redor. Ela se agarrou a ele, observando os músculos contorcerem sua face.
— Eleanor! — Ele grunhiu com os dentes cerrados, enquanto seu corpo se convulsionava e num
último impulso, se fosse possível, golpeou mais profundamente do que os anteriores.
Desmoronou em cima dela, sua respiração difícil, ele deu um beijo em seu ombro antes de rolar e
puxá-la de encontro a ele Tinha sido a experiência mais importante de sua vida, e ainda assim tudo o
que ela queria fazer era chorar.
Capítulo Nove

Distraidamente, Swindler deslizou a mão para cima e para baixo no braço de Eleanor. Nunca em
sua vida tinha experimentado nada tão intensamente gratificante. Eleanor o havia tocado mais
intimamente do que qualquer outra mulher. O prazer a havia estremecido com uma força que o
surpreendeu, e se fosse honesto, admitiria que seu orgulho masculino havia sido acariciado.
Ela era facilmente despertada e não tinha medo de compartilhar o que estava sentindo,
experimentando, pensando. Ainda que houvesse disfrutado da companhia de muitas damas, com
Eleanor ele sentiu que não havia engano entre eles. Suas reações foram todas honestas, seus gemidos
todos sentidos. Ela era diferente de qualquer mulher que conheceu. Não queria que ela deixasse sua
cama.
Teria que fazê-lo em mais algumas horas, antes que o sol nascesse, antes que alguém estivesse de
pé para vê-la sair da pensão dele. Tinham tido uma noite ilícita, mas nada parecia ter sido proibido.
Parecia a coisa mais natural do mundo. Eles se pertenciam. Depois do que haviam compartilhado,
ele não tinha mais dúvidas.
Durante vários minutos, ela ficou descendo lentamente o dedo pelo centro do seu peito e
voltando a subir. Ocasionalmente, ela traçava um oito em torno de seus mamilos. Podia ser que
estivesse se recuperando, não realmente tentando excitá-lo, mas em todo caso seu corpo estava
reagindo.
— O que você está pensando? — Ele finalmente perguntou.
— Em Elisabeth. Gostaria de saber se isso era o que Rockberry tinha prometido a ela, ou pelo
menos o que esperava.
— Ele a engravidou?
— Não, acho que não. Se estivesse grávida, não era óbvio ao olhá-la. Chegou em casa em julho e
caiu dos penhascos em setembro. Certamente teríamos notado.
Ele não queria falar de sua irmã, porque isso iria manchar as lembranças que ela guardaria desta
noite. Uma vez que conversasse com Sir David e determinasse um plano de ação, ele faria uma visita
e explicaria não só o que estava fazendo na noite em que a conheceu, mas como ele planejava se
encarregar da situação envolvendo Rockberry. Mas até então ele não queria que nada estragasse o
que compartilharam, e tinha pouca dúvida de que sua reação inicial ao fato de que a estava seguindo
não ia ser bem recebida.
Não queria que ela se enfurecesse, o que estava certo de que aconteceria em sua pensão. Nem na
dela. Encontrar um lugar apropriado estava sendo um bocado preocupante. E ele estava certo de
que um escândalo estava próximo. As damas tendiam a olhar desfavoravelmente para os cavalheiros
que não tinham sido honestos em suas relações com elas, mesmo quando a desonestidade não era
sua escolha.
— Você se lembra de Cremorne Gardens quando confessou que não queria que a noite fosse
arruinada por...
— Por falar no passado?
— Sim.
— Eu tampouco deveria deixar isso estragar esta noite também. — Ela pressionou um beijo em
seu peito, e ele imediatamente endureceu.
Ficaram em silêncio por vários momentos, simplesmente absorvendo a proximidade um do
outro. Ele se perguntou como iria se comportar sem ela em sua cama, em sua vida, se fosse o caso.
Ela ainda era aristocrática de nascimento. Certamente ela tinha percebido no baile que poderia
encontrar um bom partido em Londres. Ele tinha sido egoísta por tão voluntariamente acatar suas
palavras quando ela indicou que queria passar a noite em seus braços.
— Eu odeio essas cicatrizes em suas costas. — ela disse suavemente.
Seu estômago se retorceu e apertou. Ele as mantinha longe das vistas de todos, exceto dela, e de
Frannie, que cuidara delas.
— Sei que são horríveis.
— Não. Não, elas não são. — Ela se levantou sobre os cotovelos e manteve seu olhar. — Elas
são um testemunho da sua... capacidade de sobreviver. Você poderia ter terminado enforcado como
seu pai.
Ele não achava que seu estômago pudesse se apertar mais. Estava errado.
— Se não vamos falar sobre o seu passado, prefiro não falar sobre o meu. Com um aceno de
assentimento, ela apoiou a cabeça no centro do seu peito.
— Posso ouvir seu coração bater. Eu gosto desse som.
— Sempre bate mais rápido quando você está perto. Ela enterrou o queixo em seu peito.
— Ai!
— Não me faça falsas lisonjas, Senhor Swindler.
— Nunca o faria, Senhorita Watkins.
Ela se esticou e mordiscou seu queixo. Ele gostava desse lado brincalhão dela. Seu caráter possuía
tantas facetas diferentes que ele achava que precisava de uma vida inteira para conhecê-las todas.
— Seus aposentos me surpreenderam. — disse ela. — Especialmente o seu quarto. Estava
esperando algo um pouco mais ... decadente sendo um autoproclamado canalha.
— O que você tinha em mente? Talvez eu possa providenciar. Ela enrugou o nariz.
— Não sei. Algo um pouco mais... vermelho.
— O marrom me serve.
— Não se destaca.
— Eu não sou daqueles que procura se destacar. Além do mais, há algo no meu quarto que todos
os canalhas de má fama devem ter.
Sua testa franziu em concentração, ela olhou ao redor do quarto: na mesa, na cadeira, no
amontoado de roupas.
— Não consigo imaginar o que poderia ser. Ele deu um sorriso provocante.
— Uma mulher linda que não consegue afastar as mãos de mim.
Ela soltou um gritinho quando ele a girou até que ela estivesse debaixo dele.
— Além disso, Senhorita Watkins, o que tenho no meu quarto não é tão importante quanto o
que posso fazer com ela.
Então ele levou os dois para o paraíso.

O sol estava apenas começando a afastar o nevoeiro quando ele a acompanhou para fora de seus
aposentos. Felizmente, a carruagem ainda estava esperando por eles. Como era maravilhoso que ter
amigos com meios que pudesse atender a inconvenientes como aquele.
Enquanto a ajudou a subir e se acomodar no banco, e lutou para não ter arrependimentos.
Quando seu braço a rodeou, ela escondeu o rosto em seu ombro, inalando a fragrância que o
representava. E então ela se lembrou de seu presente.
— Ah, eu esqueci o colar. Pode me ajudar a removê-lo?
— Pegue. É seu.
Ela se afastou para encará-lo.
— Mas você disse que era emprestado.
— Eu menti. Achei que você não iria aceitá-lo de outra forma.
— É muito caro para um presente. Seria impróprio.
— Eleanor, passamos a noite inteira sendo impróprios. Não seja hipócrita.
Ela lutou para não mostrar como a dureza em sua voz a tinha magoado, mas ele deve ter
percebido, porque seu rosto suavizou e colocou o dedo embaixo do seu queixo, forçando-a a olhar
para ele.
— Não tenho ninguém na minha vida para quem eu possa comprar presentes, e dinheiro não
significa nada para mim. Por favor, aceite-o como um símbolo da minha estima.
Ela não devia, sabia que não deveria, mas a verdade era que o amava.
Tocou os dedos no colar, e disse tão graciosamente quanto possível.
— Obrigada.
— O prazer é meu.
Não disseram mais nenhuma palavra, mas, a viagem foi curta. Algumas ruas apenas. De pé diante
dela na porta, com a mão sem as luvas, embalando seu rosto, ele falou novamente.
— Quero ver você esta noite. — Ela sorriu para ele e balançou a cabeça.
— Sei que você tem preocupações, — disse em voz baixa, — porque sua irmã veio a Londres e
caiu em desgraça, mas não será assim entre nós. Eu prometo a você Eleanor. Nós nos conhecemos
há pouco tempo, mas o que sinto por você não pode ser medido.
Lágrimas quentes queimaram seus olhos. Ele se inclinou e beijou o canto de cada olho.
— Até hoje à noite.
Tomando a chave, abriu a porta e conduziu-a para dentro. Ele não a seguiu. Simplesmente
fechou a porta. Ela encostou-se nela, ouvindo o som de cascos e o zumbido das rodas levá-lo, cada
vez mais longe dela.
Swindler decidiu aproveitar a carruagem de Claybourne. Ele a enviaria de volta mais tarde. Por
enquanto, tinha assuntos que precisavam de sua atenção. Voltou para seus aposentos, onde teve o
cuidado em preparar-se para se encontrar com Sir David. Não quis dar qualquer evidência do que
sua noite tinha implicado. No entanto, nas primeiras horas da manhã, enquanto Eleanor estava em
seus braços, decidiu que era hora de colocar um fim nesse absurdo.
Quando entrou no escritório de Sir David, não deu ao homem a oportunidade de dizer qualquer
coisa antes que começasse a explicar seus planos para concluir o assunto.
— Estou bastante convencido de que a Senhorita Eleanor Watkins não é nenhuma ameaça a
Rockberry. Se há qualquer coisa, ele que é o culpado. Tenho a intenção de confrontá-lo esta manhã,
e pedir que esclareça exatamente o que o leva a acreditar que a Senhorita Watkins iria querer vê-lo
morto, tenho a intenção de interrogá-lo cuidadosamente, a fim de determinar com precisão o que ele
fez à irmã dela. É onde eu acredito que o crime reside, e tenho a intenção de chegar ao fundo da
questão.
Sir David recostou-se na cadeira, seu rosto uma máscara de inflexível.
— Isso pode ser um pouco difícil, Swindler, uma vez que Rockberry foi assassinado na noite
passada.
Capítulo Dez

Olhando para seu superior, Swindler sentiu como se Sir David o tivesse golpeado no peito. Havia
sido designado para protegê-lo, e ele aparentemente tinha falhado miseravelmente.
— Assassinado? Você tem certeza?
— Estou muito familiarizado com o aspecto de um homem morto.
— Não, senhor, não estava questionando que ele esteja morto, mas talvez seu coração
simplesmente falhou.
— Isto aconteceu. Após o punhal tê-lo penetrado. Sua Senhorita Watkins acaba de ser trazida
para depor.
— Não pode ter sido ela.
— Temo que seja. O irmão de Rockberry aparentemente tinha voltado para a residência depois
de uma noite de prazeres nos jardins, e viu a Senhorita Watkins indo para a biblioteca. Algum tempo
depois, quando desceu para se servir de um pouco de conhaque, dirigiu-se a biblioteca e encontrou
seu irmão imerso em seu próprio sangue, a Senhorita Watkins não estava à vista.
A raiva percorreu através de Swindler. Seu pai tinha sido enforcado por um crime que não
cometeu. Ele seria condenado antes de permitir que o mesmo acontecesse a Eleanor.
— Ele está mentindo. A Senhorita Watkins esteve comigo, até o amanhecer.
As sobrancelhas escuras de Sir David dispararam para cima.
— Não tenho dúvida de que o irmão de Rockberry matou-o a fim de herdar seus bens e está
tentando colocar a culpa sobre a Senhorita Watkins. — disse Swindler. — Ele, sem dúvida, sabia que
ela estava seguindo Lorde Rockberry, e provavelmente estava ciente de que tínhamos sido
informados desse fato. Ele usou esse conhecimento para seu próprio benefício.
— Deus, espero que você esteja equivocado. Sua Majestade não vai ficar satisfeita ao saber que os
seus nobres estão se comportando mal.
— É bem possível que exista outra explicação, mas eu asseguro, a Senhorita Watkins não está
envolvida. A partir do momento que cheguei a sua pensão para acompanhá-la ao baile da Duquesa
de Greystone, ela nunca saiu da minha vista.
— Você aposta sua reputação nisso?
— Minha vida, senhor
Enquanto estava sentada em frente a uma mesa na sala sombria, ela pensou nunca ter se sentido
tão aterrorizada em toda sua vida. Dois homens estavam esperando por ela na sala de estar de sua
pensão. Surgiram poucos segundos depois de ouvir a carruagem partir. Eles tinham um mandado
para sua prisão, acusando-a de assassinar Rockberry.
Enquanto proclamava sua inocência, percebia que não acreditavam nela. Claro, ela não tinha
fornecido a eles um álibi, pois se recusou a revelar onde havia estado toda a noite e por que estava
chegando ao amanhecer. Não tinha certeza de que era apropriado fazer isso, e considerando os
olhares hostis que tinham dado a ela, estava convencida de que não teriam acreditado nela de
qualquer maneira, seus rostos estavam severos. Nem sequer permitiram uma oportunidade de trocar
de vestido antes de escoltá-la.
Assim que surgisse uma oportunidade, enviaria uma mensagem para James. Certamente ele falaria
por ela.
A porta se abriu de repente e uma silhueta familiar encheu o limiar. Com um suspiro de
reconhecimento, ela pulou para fora cadeira, correu através da sala e agarrou-se ao homem. Seus
braços a rodearam, oferecendo conforto e força.
— Oh, meu Deus, James. Eles acham que eu matei Lorde Rockberry.
— Eu sei. — disse ele em tom baixo, com aquela voz profunda e rouca que transmitia a
confiança de um homem que nunca duvidava, que jamais questionava a capacidade de lidar com
qualquer tipo de situação. — Expliquei a Sir David que você não pode tê-lo matado, porque estava
comigo... até o amanhecer.
Com uma sensação de pavor a percorrendo, ela inclinou a cabeça para trás e o olhou nos olhos
dele. Esperava ver repulsa ou vergonha. Em vez disso, viu preocupação, compaixão e gentileza.
Muita gentileza, como se estivesse revelando seu coração.
— Sei que sua reputação está agora em frangalhos, mas eu decidi sacrificar a sua reputação ao seu
pescoço. — Como se para enfatizar seu ponto, acariciou o pescoço dela, até onde repousavam as
pérolas que ele tinha dado. Apesar de seu terror, ela estremeceu em resposta.
Ela sentiu as lágrimas descendo dos olhos. Com a mão grande, ele embalou a parte de trás de sua
cabeça e apertou o rosto contra seu peito robusto, onde ela podia ouvir o bater lento e constante de
seu coração. O dela estava vibrando como um pássaro lutando para não cair do céu, e dele
permanecia calmo, confiante.
— Não se preocupe, Eleanor. Me encarregarei de que sua reputação não permaneça arruinada
por muito tempo.
A suavidade de sua promessa provocou mais lágrimas. Ela derramaria baldes de água em pouco
tempo, se ele continuasse com sua compreensão e gentileza.
Colocando-a a seu lado, de braços dados, ele disse: — Vou levá-la para casa.
Ela recuou para olhar para ele.
— Desse jeito? Eles vão me deixar ir?
— Você tem um dos inspetores mais respeitados da Scotland Yard assegurando sua inocência,
Senhorita Watkins.
Ela ouviu uma voz vinda do fundo, e se virou para ver um dos homens que a tinham interrogado
mais cedo. Sir David. Ele não tinha apenas a interrogado, mas foi aquele que a trouxe até esta sala
com tanta determinação que sua boca ficou seca.
— Apresse-se ao acompanhá-la, Swindler. — disse Sir David. — Se ela não assassinou
Rockberry, precisamos determinar quem o fez, e rapidamente. Afinal, ele é um par do reino. A
rainha não ficará satisfeita com a sua morte.
— Sim senhor. Vou encontrá-lo na residência dele, logo que eu leve a Senhorita Watkins para
casa.
A carruagem que tinha usado na noite passada estava esperando por eles no meio-fio. Ela supôs
que ele não tinha tido a chance de devolvê-la a seu amigo antes que recebesse a notícia sobre
Rockberry. James entrou na carruagem depois dela e a manteve perto.
— Eu nunca fiquei tão aterrorizada em minha vida, — disse ela, com a voz trêmula. Mesmo com
ele segurando-a, parecia incapaz de parar de tremer. — Por que você acha que eles suspeitam de
mim?
— Ao que parece o irmão dele estava na residência e afirma tê-la visto chegar à meia-noite. Disse
que Rockberry estava na biblioteca com você. O irmão foi para a cama, em seguida, decidiu que
necessitava de uma bebida. Afirma que encontrou Rockberry esparramado no chão, um punhal no
coração. Eu suspeito que o irmão seja o culpado. Não é o primeiro a matar a fim de ganhar um
título. Estava ciente de que você estava seguindo Rockberry. A Scotland Yard sabia. Então ele
pensou usar o conhecimento para obter vantagem. Agora só preciso provar isso.
— Você pode fazer isso? Provar que foi o irmão de Rockberry?
— Possuo uma boa reputação por resolver assassinatos. Depois de analisar a cena do crime eu
devo ter uma melhor noção do que exatamente aconteceu. Por agora minhas suposições são
prematuras. Não deveria tê-las revelado a você. Mas eu queria que soubesse que não tem nenhum
motivo para se preocupar. — Ele acariciou sua têmpora os seus lábios. — Tudo vai ficar bem,
Eleanor.
O coração dela se contraiu e seu peito apertou dolorosamente. Havia tanta coisa que queria dizer
a este homem, e não podia.
Eles seguiram o resto da viagem em silêncio, com ela enrolada no casulo de seu abraço
reconfortante. Quando chegaram aos aposentos dela, ele se inclinou para baixo. Deslizou o dedo
sob o seu queixo e ergueu a cabeça para cima. Em seguida, ele deu o mais gentil dos beijos, o que a
fez querer começar a chorar novamente.
Quando se afastou, segurou seu olhar.
— Eu quero que você descanse um pouco, esqueça tudo isso. Preciso investigar o assassinato de
Rockberry. Quando eu concluir, voltarei para você. — Ele deu um sorriso terno. — Então
cuidaremos da sua reputação.
— James...
— Shh, Eleanor. — Ele tocou seus lábios com os dedos. — Vou fazer o certo por você, minha
querida.
Ele a conduziu para dentro, e embora a Senhora Potter tivesse aparecido para ver se precisava de
algo, sentiu-se imediatamente sozinha quando ele partiu. Lentamente fez seu caminho para o quarto.
Uma vez ali, tudo o que ela queria fazer era enrolar-se como uma bola na cama e chorar.
Capítulo Onze

Swindler não podia negar o alívio que o inundou quando entrou na biblioteca de Rockberry com
Sir David e não sentiu o familiar perfume de Eleanor. Mesmo sabendo que era impossível para ela
ter estado lá, de ter cometido o crime, algo o incomodava. Ela tinha estado em seus braços desde a
partida para o baile de Frannie.
Ele desejou ter chegado antes de o corpo ser removido. Poderia ter dito muito a ele. Mas,
aparentemente, quando Sir David tinha vindo procurá-lo, ainda estava passeando por Londres com
Eleanor, beijando-a na carruagem antes de eles decidirem voltar para seus aposentos.
Sangue marcava o tapete. Duas taças de vinho sobre a mesa lateral. Isso o incomodava.
— Que horas você disse que viu a dama entrar? — Swindler perguntou ao novo Lorde
Rockberry. Swindler tinha sido surpreendido ao descobrir que ele era o homem de cabelo loiro que
havia abordado Eleanor em Cremorne Gardens.
— Poucos minutos depois da meia-noite.
— E você tem certeza de que foi a Senhorita Watkins?
— Sim.
— A mesma Senhorita Watkins que você atacou em Cremorne Gardens?
— Não a ataquei. — disse ele, impaciente. — Meus amigos e eu estávamos apenas nos divertindo
com ela. Sabia que estava seguindo meu irmão. Ele não ficou nada satisfeito com a polícia por não
tomarem medidas mais eficazes. Pensamos em assustá-la.
— Nós temos uma testemunha que diz que a Senhorita Watkins estava com ele na noite passada.
— disse Sir David.
— Então sua testemunha está mentindo. — o novo Rockberry disse com confiança.
Swindler e Sir David trocaram olhares. Ele não viu nenhuma dúvida nos olhos de Sir David. Não
havia considerado que quando colocou a reputação de Eleanor em risco que também estava
colocando a sua própria.
— Eu acredito que tem razão. — disse Swindler. — Alguém está mentindo, mas eu suspeito que
seja você.
— Por quê? — Perguntou o jovem Rockberry.
— Para ganhar o título.
— Não seja idiota, homem. Eu não queria isso. Ele vem com responsabilidades, deveres. Meu
irmão me dava um generoso subsídio, e sou um verdadeiro boa vida. Não me importo com o título.
— Por que você acha que a Senhorita Watkins queria matá-lo? — Perguntou Swindler.
— Algo a ver com a irmã dela. Meu irmão... tanto quanto me dói dizer isso, não querendo falar
mal dos mortos, nem sempre foi gentil com as mulheres.
— Ele se aproveitou de Elisabeth Watkins?
— Com toda a probabilidade, sim.
— Obrigado, meu senhor. — disse Swindler. — Eu não tenho mais perguntas neste momento.
Após o marquês sair, Sir David perguntou: — O que acha, Swindler?
— O irmão é o que mais tem a ganhar com a morte dele, ainda que se possa supor que há outra
mulher injustiçada e que tenha buscado vingança. O novo Lorde Rockberry então somente se
enganou ao identificá-la.
— Você está bastante certo de que não foi a Senhorita Watkins?
— Desde o momento em que eu dançava com ela, perto das dez horas, ela nunca deixou meus
braços.
— Antes disso?
— Nunca a deixei fora de minha visão.
— Quando vocês deixaram o baile?
— Onze e meia.
— Espero que este assunto desagradável não ponha sua palavra contra a do jovem Rockberry.
— Farei tudo ao meu alcance para garantir que isso não aconteça. Concordando, Sir David
suspirou.
— Certo. Então, qual é o seu plano?
— Fazer perguntas, ver se encontro essa mulher misteriosa. Se nada prosperar, então suspeito
que prenderemos o novo Lorde Rockberry.
— Antes de fazermos isso, deve provar que ele é o assassino.
— Sim senhor. Eu provarei.
— Eu sei, mas achei que vale a pena repetir. Esta situação precisa ser tratada muito
delicadamente, Swindler.
Swindler passou mais duas horas na residência de Rockberry, fazendo esboços do aposento,
tentando perceber qualquer coisa que parecesse fora do lugar. Ele questionou os criados. Ninguém
viu uma dama chegar, por isso a única maneira que ela poderia ter entrado era se um dos lordes
Rockberry a recebesse.
Seu próximo passo seria ver se poderia encontrar uma outra dama que tivesse sido enganada por
ele. Era sempre possível que ela não fosse da nobreza. Teria que dar mais atenção aos papéis e
documentos da Rockberry. Alguma pista poderia estar escondida entre eles. Também iria falar com
Catherine. Ela tinha sido de pouca ajuda quando se tratava de Elisabeth Watkins, mas poderia saber
de outra dama.
Mas antes de se seguir com a investigação, queria ver Eleanor novamente. Queria confortá-la,
tranquilizá-la. Também pediria sua mão em casamento. Não podia negar que fosse uma proposta
apressada, que em parte era para poupar sua reputação, mas ele também teve que admitir que nunca
ficou tão atraído por uma mulher quanto por ela. As horas que ela passou na sua cama parecia muito
pouco. Ele pensou que muito provavelmente poderiam ter uma boa vida juntos.
Ainda de posse da carruagem de Luke, fez o caminho para a pensão de Eleanor e bateu
rapidamente na porta.
Quando a Senhora Potter abriu, ele não esperou por um convite, simplesmente passou por ela.
— Por favor, informe a Senhorita Watkins que estou aqui? A Senhora Potter fechou a porta.
— Eu temo que ela se foi, senhor.
Ele poderia muito bem imaginar Eleanor precisando andar, precisando esquecer o susto que
passou naquela manhã quando foi presa. Ela iria encontrar conforto no parque, sem dúvida. Ou
talvez tivesse ido a outro lugar. Ele poderia ir encontrá-la ou simplesmente a esperar. Não tinha
dúvida de que não teria ido há muito tempo. Ele encarou a Senhora Potter. — Se a senhora não
tiver nenhuma objeção, vou esperar na sala de estar por seu retorno.
— Receio que você espere um longo tempo. Não acho que ela está planejando voltar, senhor.
Fez as malas. Disseme para não se preocupar com os dias restantes que havia pago, que eu poderia
passar o quarto para outra pessoa. Que ela não precisava mais dele. Deixou dois pacotes.
Atordoado além da medida, sentindo como se seu corpo tivesse se transformado em pedra,
Swindler observou-a ir para a sala. Olhou para as escadas. Para onde precisava ir. Ele precisava...
— Venha, senhor!
Como se alguém controlasse suas pernas, caminhou até a sala de estar.
— A caixa maior é destinada à Duquesa de Greystone. Acredito que seja o adorável vestido que
trouxe para Senhorita Watkins. E então, ela deixou isso para você. Suspeito que saiba o que é.
Swindler abriu a caixa de veludo e olhou para as pérolas que naquela manhã tinha adornado o
adorável pescoço de Eleanor. Sentiu como se um dos agressores dos cortiços tivesse acertado o
punho em seu estômago.
— Você está completamente certa de que ela se foi para sempre?
— Sim senhor. Ela contratou dois rapazes para carregar seus baús.
Ela se foi? Depois de tudo o que tinham compartilhado, ela tinha ido embora?
As palavras continuaram ecoando em sua cabeça, bloqueando todos os outros pensamentos.
Ela se foi.
À medida que o trem avançava sobre os trilhos, Eleanor olhou para seu reflexo na janela. O
assunto estava encerrado. Devia ver satisfação no próprio rosto. Em vez disso, apesar de seus
melhores esforços, ela via traços de remorso. Desviou o olhar para outro reflexo, um
extraordinariamente semelhante à dela.
— Porque está cara triste, Emma? — perguntou ela.
— Eu comecei a apaixonar-me por ele, Eleanor.
— Bem, isso foi uma coisa tola de se fazer, não é?
Emma corou, mas, isso acontecia com bastante facilidade. Era a única área em que elas diferiam,
mas ninguém em Londres saberia disto desde que nenhuma delas havia visitado a cidade antes de
um mês atrás. Elas não conheciam ninguém em Londres, quando chegaram. Vantagem de ter um pai
solitário que nunca tinha se sentido merecedor de seu título.
— Qual seria o inconveniente de eu ficar? — Perguntou Emma.
— Uma palavra descuidada, Emma, um passo em falso, e nós duas nos encontraríamos
penduradas na forca. Uma vez que percebemos que o Senhor Swindler nos seguia, e você
encontrou-o no parque, o curso natural foi o de usá-lo. Devia ser grata pelo pouco tempo que
tiveram juntos.
Silenciosamente Emma acenou com a cabeça antes de deixar cair os olhos para as mãos
enluvadas cerradas no colo. Ele parecia ser a resposta às suas orações.
Ela seguiu o homem que estava seguindo Eleanor através de Cremorne Gardens. Como Eleanor, ela acreditava
que ele era um homem de Rockberry.
Para o bem ou para o mal, porém, ela não poderia dizer. Ela o viu pela primeira vez numa noite em que
Rockberry tinha ido a Scotland Yard. Ela e Eleanor sempre mantiveram um olho sobre a outra, tomando extremo
cuidado em nunca mais serem vistas juntas, mas sempre tentando manter a outra dentro de seu campo de visão.
Quando ela contornou a curva, teve um vislumbre de Eleanor cercada por três homens que de repente puxaram-na
para as sombras. Seu coração saltou para a garganta. Começou a correr e a gritar quando viu o perseguidor acelerar o
passo. Até o momento ela estava em uma posição para ver melhor o que estava acontecendo, este colocou seu braço
protetor em torno de Eleanor, obviamente, afastando-a do perigo.
Então, um dos homens deu oscilou...
Ela nunca tinha visto uma briga antes, nunca tinha testemunhado uma briga corporal. O homem grande teve
pouco trabalho com os agressores, e depois seu braço estava novamente em torno de Eleanor, levando-a para longe dos
homens que se contorciam no chão.
Seu coração estava batendo por um motivo diferente agora, não por causa do medo com a segurança de Eleanor,
mas porque ela nunca tinha visto alguém tão magnífico como o homem que veio para resgatar sua irmã.
Seguindo-os para fora dos jardins, mantendo-se sempre nas sombras, sempre vigilante, viu que ele ajudando
Eleanor a entrar em um coche. Ela viu Eleanor partir. Em seguida, o homem subiu em outro cabriolé e ordenou:
— Segui-a em um ritmo discreto.
Quando o cocheiro pôs o veículo em movimento, ela correu de seu esconderijo e disse palavras semelhantes ao
cocheiro do cabriolé quando entrou.
— Siga-o.
Assim como ele fez, ela desembarcou em outra rua. Foi cuidadosa no caminho para a pensão, mantendo-se
novamente nas sombras, até que o viu observando o edifício. Eventualmente, ele foi até a porta.
Depois que ele partiu, ela permaneceu à espera do sinal na janela, as cortinas cerradas para indicar que a Senhora
Potter tinha se recolhido. Era seguro entrar.
Uma vez dentro de seu quarto, ela abraçou Eleanor firmemente.
— Você foi abordada. Eu vi.
— E fui resgatada. Você o viu? — Perguntou Eleanor, soltando-se do abraço de Emma.
— Sim, claro.
— Seu nome é James Swindler.
— Você saiu com ele! Você sabe o quão perigoso isso é quando não sabemos nada sobre ele?
Eleanor se sentou em uma cadeira de balanço, olhando para a lareira vazia.
— Ele é o homem que está me seguindo?
— Sim. Mas isso não importa. Temos de parar com essa loucura de tentar vingar Elisabeth por nossa própria
conta. Deveríamos ir à polícia.
— Ele pode muito bem ser da polícia. Você não vê como isso funciona a nosso favor? Se ele te seguir enquanto eu
executo a vingança, teremos o nosso álibi. Não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. É o que nós tínhamos
planejado o tempo todo, só que melhor. A palavra de um policial vai ser irrepreensível. O crime perfeito.
Então, elas decidiram tentar seduzi-lo, para trazê-lo ainda mais perto. Mas foi Emma que tinha
sido seduzida. Quando o trem a levou para longe de Londres, ela se perguntava como podia não ter
sabido o quanto viria a se apegar a James em um tempo tão curto.
Tentou imaginar a reação dele quando chegasse à casa da Senhora Potter, e descobrisse que
Emma, ou Eleanor como ele a conhecia, se fora. Mesmo a Senhora Potter não tinha conhecimento
que havia duas irmãs partilhando os mesmos aposentos. Cronometravam suas idas e vindas para que
ninguém soubesse. Elas teriam ficado em diferentes hospedagens, mas o dinheiro era escasso e
parecia desnecessário gastar um dinheiro que não precisava ser gasto.
Junto com Elisabeth, tinham enganado as pessoas, brincavam fingindo-se passar uma pela outra
ou fazendo outros se questionar quem realmente tinham visto, quem era quem.
Tinha sido incrivelmente fácil em Londres porque seu pai nunca havia levado as três filhas lá, e,
aparentemente, nunca sequer anunciou que foi agraciado com três filhas. Como elas não eram
meninos, ele tinha considerado isso insignificante.
Até que chegou a hora de enviar uma delas para a cidade para uma Temporada. Então, de repente
ele teve esperanças de um bom casamento e recursos disponíveis para as suas outras filhas. Emma
havia amado seu pai muito, mas sua cabeça estava sempre nas nuvens. Ela nem sabia exatamente o
que ele tinha feito para a Coroa para ser homenageado com um título.
Agora, observando as colinas passando, perguntou-se se James iria pensar nela. Foi tão difícil
dizer adeus a ele, sabendo que era para sempre, sabendo que ela nunca mais iria provar seu beijo ou
sentir seu toque. Sabendo que nunca mais ouviria sua voz ou olharia em seus olhos.
— E se ele tentar encontrar-nos, Eleanor? O homem da Scotland Yard disse que ele era o
melhor.
— Você disse a ele que vivemos no Norte, não é? — A irmã dela deu de ombros. — Vai
demorar muito tempo antes que ele decida olhar para o sul.
Será que ele desistirá? Será que procurará por ela? Ou simplesmente aceitará que ela o tinha
deixado?
Emma tornou-se boa em viver uma vida de mentiras. Inclusive mentiu para Eleanor com
tamanha facilidade que tinha sido quase assustador. Até onde Eleanor sabia, ela e James
simplesmente passearam por Londres na carruagem até o amanhecer. Sua irmã não fazia ideia de que
ela havia sacrificado sua virgindade ou que passou a noite na cama de James.
Apertou a mão em seu estômago, se perguntando se poderia estar grávida de James, surpreendeu
ao descobrir que o pensamento trouxe uma grande dose de alegria. Pensou que nunca sentiu por
outro homem o que ela sentia por ele.
Ele foi generoso. Estava grata por cada segundo que passou na companhia de James Swindler.
Ainda assim, apenas uma vez mais Emma teria gostado de tê-lo ouvido sussurrar o nome dela.
Capítulo Doze

— Ela se foi.
Foi a primeira vez que Swindler pronunciava as palavras em voz alta, desde que havia começado a
ecoar em sua mente há dois dias. Falando em voz alta, soava incrédulo.
— Perdão? — Perguntou Sir David, inclinando-se para trás na cadeira.
— A Senhorita Watkins. Ela arrumou suas coisas e partiu de sua pensão.
— O que você acha disso?
Swindler suspirou, a verdade da situação era difícil de admitir.
— Eu posso ter sido enganado, senhor. Sir David arqueou uma sobrancelha.
— A dama não esteve com você naquela noite?
— Esteve.
— Então talvez ela estivesse simplesmente assustada com o assassinato de Rockberry e temesse
ser presa.
— Pode haver mais do que isso, senhor.
— Explique-se.
— Na biblioteca de Rockberry havia duas taças de vinho inacabadas, o que me leva a crer que
Rockberry poderia conhecer o seu assassino.
Sir David concordou.
— Continue.
— Fui ao necrotério estudar o corpo. O punhal que matou Rockberry, eu o vi isso antes. Naquela
noite, no Cremorne Gardens.
— Pertencia a um dos janotas que atacaram a Senhorita Watkins?
— Não senhor. Pertencia a Senhorita Watkins. Receio, senhor, que ela pode ter tido um
cúmplice.
— Caramba, homem! Como você deixou escapar isso?
— Eu estava concentrado na dama. Acreditava que, enquanto ela estava dentro de minha visão,
Rockberry estava seguro. Acredito que é imperativo encontrá-la, e minha investigação deve me levar
para fora de Londres.
Sir David passou seu polegar e o dedo indicador pelo bigode.
— Ainda poderia ser o irmão. Ele pode ser o cúmplice.
— Possivelmente, mas eu sei que preciso encontrar a dama. — Se não fosse pelo crime, seria por
si mesmo. Não fazia sentido para ele que ela o deixasse a menos que estivesse tentando esconder
alguma coisa.
— Você deve fazer o que for preciso, Swindler. Informar-me quando tiver algo.
— Sim, senhor. — Ele se virou para ir embora.
— Swindler? — Ele olhou para trás. — Você não está parecendo você mesmo. Faça o que for
necessário para voltar a si. Eu preciso do meu melhor homem afiado.
Seu melhor homem. Se Sir David soubesse quão facilmente o seu melhor homem tinha sido
enganado, teria exigido que deixasse a Scotland Yard.
Como se lesse seus pensamentos, Sir David acrescentou: — Você não é o primeiro a ser
enganado por um rosto bonito.
Swindler não teve nenhum consolo naquelas palavras. Foi mais do que seu rosto bonito. Tinha se
enganado em tudo sobre ela.

— Propriedade do Visconde Watkins, você disse?


Swindler observou quando a testa de Greystone franziu. Não se conformava que precisasse vir ao
marido de Frannie pedir ajuda, apesar de respeitar ao Lorde mais do que a qualquer outra pessoa.
Greystone provou seu valor, colocando sua vida em risco por Frannie no ano passado.
— Infelizmente, até recentemente, eu estava tão absorvido pelos meus próprios desejos, que dei
pouca atenção a qualquer pessoa fora da esfera de influência do meu pai. Posso fazer algumas
perguntas. Alguém deve saber onde sua propriedade se encontra.
— A terra não era vinculada, de modo que pode ser difícil descobrir.
— Ainda assim, alguém tem que conhecê-lo.
— Eleanor me disse que vivia no norte, perto do mar. Eu suspeito que a totalidade ou parte disto
seja mentira. — Que outras mentiras ela dissera? Seus sentimentos por ele foram falsos também? Se
não, então como ela poderia tê-lo deixado?
— Eu poderia perguntar à rainha. — disse Greystone.
— Eu prefiro não envolver Sua Majestade. Greystone deu de ombros.
— Eu posso ser discreto.
— Você devia permitir que ele pergunte Jim. — disse Frannie. — Agora não é o momento de ser
teimoso. Se ela estivesse em Londres, já a teria encontrado. Ninguém pode seguir melhor um rastro
do que você.
— No que se refere a ela, estou dando voltas, Frannie. Não consigo pensar em nenhuma razão
lógica do porque ela partiu tão abruptamente como fez.
— Ela pode ter ficado muito perturbada por ter sido presa. Talvez ela simplesmente estivesse
com medo.
Ele balançou sua cabeça.
— Ela estava comigo. Não tinha nenhuma razão para temer ser presa novamente.
— Talvez ela simplesmente quisesse ir para casa. Swindler levantou-se abruptamente da cadeira.
— Sem sequer me deixar um bilhete? — Caminhou agitadamente em direção à janela, parou,
passou as mãos pelos cabelos. — Desculpe-me.
— Está tudo bem. — Frannie parou atrás dele e colocou a mão em suas costas. — Ela se
importou com você. Até eu pude ver o quanto durante o baile. Sente-se. Diga-nos como podemos
ajudar.
Ele olhou para ela.
— Prefiro continuar andando. Ela sorriu.
— Tudo bem. Então, em que pé anda as coisas?
— Eu não tive sorte em encontrar os rapazes que contratou para carregar suas coisas. Suspeito
que ela tomou o trem. Tentei desenhar um retrato dela, para perguntar no guichê se alguém a tinha
visto, mas eu nunca fui hábil em desenhar pessoas. Eu posso esboçar uma sala nos mínimos detalhes
para me ajudar a resolver um crime, mas Eleanor ... eu não consigo desenhá-la mesmo que
dependesse disso para salvar a minha vida.
— Sterling pode. Ele é um artista. Você se lembra dela, Sterling?
— Sim, eu acredito que sim. — Seu marido levantou-se, deu a volta à mesa, e abriu uma gaveta.
Depois de retirar um papel, se sentou e imediatamente começou a esboçar.
Swindler pensou que este podia ser o primeiro descanso que teve em dois dias. Ele focou sua
atenção em Frannie.
— Notou qualquer coisa que pudesse ser útil enquanto você estava com ela?
— Receio que não. Eu só conversei com ela na sala de estar. — O rosto de repente iluminou-se.
— Oh.
— O que?
— Agnes foi até os aposentos dela para ajustar o vestido.
Cinco minutos depois, uma Agnes muito nervosa estava em pé na frente de Swindler torcendo as
mãos.
— Você notou alguma coisa? — perguntou Swindler.
— Como o quê?
— Qualquer coisa fora do comum.
A jovem balançou a cabeça, em seguida, franziu a testa.
— Bem, havia uma coisa que pensei ser estranho. Ela trocou o vestido na sala de estar dos
aposentos. A porta do seu quarto estava fechada. Nós não fomos para lá. Mas então, quando eu
estava acabando com a costura, ela abriu a porta e foi olhar-se no espelho.
— Você viu mais alguém lá dentro?
— Não, mas... pude ver um vestido sobre uma cadeira no canto. A peça parecia exatamente igual
ao vestido no sofá na sala de estar que ela tinha tirado. Eu pensei que talvez fosse seu vestido
favorito, então teria dois deles.
— Você provavelmente tem razão. Obrigado, Agnes. Isso é tudo, — disse Swindler. Ele foi até a
janela e olhou para a noite lá fora.
— O que você está pensando? — Perguntou Frannie.
— Eu não sei o que pensar. Você tem vestidos que se parecem?
— Antes de me casar, quando eu passava as minhas noites no Dodger's, meus vestidos eram
muito parecidos.
Ele se lembrava. Sem graça e deprimentes.
— Jim, e se Elisabeth não morreu como Eleanor afirmou? — Frannie perguntou em voz baixa.
Ele negou com um gesto de cabeça.
— Não, a tristeza pela perda de sua irmã não era falsa. Eu reconheço a verdadeira dor quando
vejo. — Ele tinha visto isso em seus próprios olhos, muitas vezes quando era um rapaz.
— Aqui está. — Greystone disse, estendendo um desenho.
A semelhança era inquietante. Swindler sentiu como se alguém tivesse enfiado a mão no peito e
arrancado de seu coração o que tinha começado a crescer ali.
— Perfeito, — disse ele, que podia jurar que a temperatura na sala caiu vários graus.
— O que você vai fazer, Jim? — Perguntou Frannie.
— Vou encontrá-la, mesmo que leve o resto da minha vida.
Capítulo Treze

De pé perto da borda dos penhascos, Emma Watkins observava as ondas esbranquiçadas do mar
e o céu escurecendo anunciar a tempestade que se aproximava. Com o vento em torno dela, inspirou
e absorveu a fúria da tempestade. Quase teve vontade de jogar-se nas águas turbulentas apenas para
ser cercada por algo que não fosse a monotonia, uma calma sombria que havia se tornado sua vida
desde que retornou de Londres.
Era como se ela e Eleanor tivessem deixado para trás seu riso, sua alegria, sua própria essência,
como se fossem pouco mais do que conchas vazias em seus rituais diários, só porque não os fazer
seria ir de encontro a uma morte lenta.
Alimentos não continham qualquer sabor, cumprimentava o dia sem alegria. O sono era
sobressaltado. Nas duas semanas que se seguiram desde que chegaram à sua pequena casa, tinha
perdido o controle do número de noites que ouviu Eleanor gritar quando finalmente encontrava o
sono.
O medo que as descobrissem a atingira. Emma pensou que seria um alívio enfrentar o que elas
tinham feito, mas não, para sua surpresa eterna, o remorso as estava consumindo. Onde uma vez
tinham rido e compartilhado segredos tolos, agora compartilhavam um segredo obscuro que pesava
nos ombros. Todas as manhãs, Emma começava seu dia escrevendo uma carta para James,
explicando por que ela o tinha deixado. A carta que ela nunca enviou. Lutou para não imaginar a
expressão no rosto dele quando voltasse para seus aposentos e descobrir que ela não estava mais lá.
Tentou se convencer de que ele merecia essa traição. Desde o início ela sabia que sua intenção era
seduzi-la para confiar nele. Mil vezes desejou ter sido seduzida.
Após o baile, durante as horas que passou em seus braços, decidiu que podia confiar nele com
qualquer coisa. Rezou para que Eleanor não possuísse força para realizar sua parte no plano.
Quando voltou ia tentar convencer sua irmã a contar tudo a James, que ele as ajudaria a fazer justiça.
Mas quando foi presa, sabia que era tarde demais. O ataque foi feito, o curso foi tomado.
James a desprezaria por seu papel na morte de Rockberry. Como não poderia?
Então, ela e Eleanor tinha embalado suas coisas. Emma tinha ido para a rua e contratou dois
rapazes para transportá-los. Então pediu a Senhora Potter para preparar uma refeição para a viagem,
e enquanto a Senhora Potter estava na cozinha preparando, Eleanor tinha furtivamente saído.
Simples. As três irmãs sempre tinham encontrado facilidade em trocar de papéis, mas jamais Emma
lamentou tanto essa habilidade.
Com um suspiro arrancado pelo vento, se virou e começou a caminhar de volta para o chalé.
Algumas poucas ovelhas, vacas e galinhas passeavam por ali. Elas tinham há muito tempo vendido
os cavalos. O único lugar que precisavam ir era para a aldeia, que ficava a uma hora de caminhada.
Elas tiveram um pequeno cabriolé para viajar quando seu pai e Elisabeth estavam vivos, mas agora
elas não o usavam, assim como seus sorrisos.
Abrindo a porta da sala, sentiu a solidão da casa ainda mais. Talvez esta noite ela escrevesse uma
carta para James e agradeceria a maravilhosa vez que ele tinha mostrado Londres a ela, mesmo que
seu objetivo final não tivesse sido impressioná-la com seu charme, ele deu lembranças preciosas que
nunca esqueceria. Talvez desta vez ela enviasse.
Remorso e culpa corroíam sua alma, e se perguntou se James havia deduzido tudo. Quanto
tempo levaria para perceber que tinha sido enganado? E quando descobrisse, querido Deus, ela não
compartilhava a convicção de Eleanor de que ambas estavam seguras.
Andou pela sala de jantar e pela cozinha.
— Bem, eu acredito que temos uma tempestade chegando. —Ela deu uma parada abrupta com a
visão de Eleanor bombeando água na pia, em seguida, raspando uma escova áspera sobre as mãos
com força. — Oh, Eleanor, — Emma disse ao vir correndo e arrancou a escova agora manchada de
vermelho pelo sangue de sua irmã.
— Não consigo limpar o sangue, Emma. Não importa o quão forte eu esfregue. Minha pele
parece escorregadia e suja.
— Não é o sangue dele, querida. É seu. — Cautelosamente, ela guiou Eleanor a uma cadeira na
mesa. — Sente-se enquanto eu busco umas coisas.
Depois de reunir panos e unguento, ela se juntou a sua irmã e com muito cuidado pegou a mão
dela. Então, o mais suavemente possível, ela limpou as feridas.
— Não é o meu sangue, é o dele. — Eleanor insistiu.
— Estou limpando, colocarei o unguento em suas mãos e enfaixarei. O sangue não vai voltar
mais.
— Você disse a mesma coisa ontem. Emma levantou os olhos para Eleanor.
— Eu vou fazê-lo corretamente desta vez, mas você não deve remover os curativos até que as
feridas cicatrizem.
— As mãos começam a coçar e queimar. Elas doem.
— Quando isso acontece, venha a mim e eu vou cuidar delas. Concordando, Eleanor virou a
cabeça para olhar pela janela.
— Oh, meu Deus, Emma, ele está aqui.
Emma não teve que perguntar quem. Ela ouviu o desespero na voz de Eleanor. E quando se
atreveu a olhar pela janela, seu coração saltou com a visão de James montado em um grande cavalo
castanho. Quantas vezes tinha o imaginado chegar e levá-la para longe e em seus braços? Com a
mesma rapidez, seu coração bateu na boca do estômago. Se ele fosse levá-la a algum lugar, seria em
direção a prisão.
Swindler tinha outra dívida com Greystone. O esboço que Greystone forneceu tinha permitido a
Swindler seguir a trilha de Eleanor da estação de trem para esta simpática casa de pedra, perto das
colinas. Também ajudou o fato de que Greystone tivesse feito algumas perguntas a seus pares e
conseguido descobrir a localização da residência do Visconde Watkins.
Swindler tinha tomado o trem, em seguida, alugou um cavalo para o restante da viagem. Foi
numa aldeia vizinha que tinha conseguido reunir indicações precisas para o seu destino.
Ele precisava ter sangue frio para questionar Eleanor. Neste momento, só possuía suspeitas sobre
sua duplicidade. Estava esperançoso de que existisse outra explicação, que ela não tinha de fato
planejado o assassinato de Rockberry e o usado como seu álibi. Mas se não fosse isso, por que o
deixou? Ficou envergonhada por ter ido para a sua cama? Era sua reputação que estava se
esforçando para proteger?
Sua cabeça e seu orgulho mantinham uma briga constante. Ele não era um homem propenso a
emoções, mas se debatia entre raiva fervente e desapontamento esmagador. Primeiro iria se recordar
da maravilha de tê-la entre seus braços, antes de se lembrar que ela havia destruído a frágil confiança
que estava se desenvolvendo entre eles.
Então, havia a questão do punhal. Ele só tinha pegado um vislumbre do que era nas sombras.
Talvez sua memória não estivesse clara. Mas aprendeu sozinho ao longo dos anos a prestar atenção
aos detalhes. Era improvável agora que ele se tornasse descuidado.
Mal havia se aproximou quando ela abriu a porta. Ela usava um vestido simples de cor rosa, seu
cabelo mantido no lugar com uma fita também rosa.
Quando desmontou, as emoções o arrasaram como algum tipo de tempestade. Estava com raiva,
mas ainda a desejava. Ele queria o gosto, o cheiro e a sensação dela. A desejava nua sob ele. Queria
que ela pedisse seu perdão, queria compartilhar seus segredos. Desejava os braços dela enrolados em
volta de seus ombros, com os dedos em seus cabelos, as pernas dela ao redor de seus quadris, seus
olhos segurando os dele.
Ele mal se lembrava como chegou até a porta, mas de repente ela estava em seus braços, a boca
dela avidamente dava boas-vindas a sua. Estava à procura dela fazia uma quinzena, e cada minuto de
cada dia tinha sido um inferno, sabendo o que o seu dever exigiria dele quando a encontrasse,
egoisticamente temendo nunca mais pôr os olhos nela. O desespero se agarrou a ele, agora, ansiava
tê-la para sempre e sabia que não podia.
Ela ainda cheirava a rosas. Isso ao menos era real. Ela gemeu suavemente enquanto aprofundava
o beijo. Não havia mentiras ali. Seu corpo se moldado contra o dele como se pertencesse a ele, e
diabos se ele não queria que fosse assim.
Mas ela o traiu, traiu sua confiança.
Respirando com dificuldade, ele separou sua boca da dela e segurou seu rosto entre as mãos.
— Por que em nome de Deus que você fugiu? — Ela apenas balançou a cabeça. — Você fez
isso, não é? — Perguntou ele. — Planejou o assassinato. Tinha um cúmplice. Você me usou para
estabelecer sua inocência.
Ela balançou a cabeça apenas um pouco desta vez.
— Não minta para mim, Eleanor. Pelo amor de Deus, diga... —Um movimento o atraiu pelo
canto dos olhos, levantou a cabeça e viu uma mulher que estava um pouco além da porta. A
semelhança entre as duas mulheres era extraordinária. Frannie tinha razão. — Elisabeth. — ele
sussurrou.
— Não. — a mulher em seus braços, disse em voz baixa. — Eleanor.
Ele estudou mais intensamente a mulher que segurava. Tudo nela era familiar. O sabor, o aroma,
a sensação dela em seus braços, a maneira como ela moldava-se contra ele. Balançou a cabeça.
— Não, você é Eleanor.
— Não, eu sou Emma. Sempre fui Emma.
Lembrou-se do primeiro encontro deles em Cremorne Gardens, como havia resgatado a mulher,
e mesmo assim ansioso para terminar sua missão. Quando durante a luz do dia na tarde seguinte ela
tinha roubado o fôlego, como ele tinha ficado impressionado que houvesse notado algo diferente
nela.
— Então você me enganou desde o início?
— Você me enganou, — disse ela com sarcasmo. — Alegou ser um canalha. Não revelou que
trabalhava para a Scotland Yard.
— Sou um canalha. Mas nunca menti para você. Não sobre tudo.
Três irmãs. Havia três irmãs idênticas!
Swindler não estava certo de já ter ouvido falar de tal coisa.
A fúria disparou em seu interior quando a profundidade do ardil delas se revelava. Não suportava
olhar para nenhuma das mulheres, então decidiu olhar o cavalo, para dar-se algum tempo de se
acalmar. Não conseguia se lembrar de alguma vez ficar tão furioso antes, saber que as irmãs tinham
planejado usá-lo, pensar como as ações de Elean... não, Emma havia planejado atrai-lo para sua
armadilha cuidadosamente arquitetada. Garota mentirosa!
A ironia não escapou dele. Ele, que era muito hábil em planejamento e execução de fraude, foi
efetivamente enganado.
Removendo a sela de seu cavalo, pendurou em um dos lados do estábulo, perto de onde ele
anteriormente pendurou a rédea. Tendo raramente montado, não era um cavaleiro habilidoso. Na
realidade também não possuía nenhuma experiência em cuidar desses animais. Esperava que, pelo
menos pudesse encontrar um cavalariço que pudesse cuidar dele. Bateu levemente no pescoço do
cavalo. Ele recuou para longe dele. Quanto mais perto eles chegavam perto do mar, mais arisco se
tornou.
Ele foi em busca de aveia. O estábulo era pequeno, necessitava de reparo. Não parecia haver
criados em qualquer lugar. Talvez Emma não tivesse mentido sobre suas circunstâncias. Ela não
tinha os meios para ter uma Temporada adequada.
Embora ele já houvesse sentido simpatia pela grave situação financeira dela, não estava mais certo
do que sentia agora. Amaldiçoou Rockberry por envolver a Scotland Yard em sua confusão pessoal.
Amaldiçoou Sir David por decidir que Swindler era o melhor homem para o trabalho. E ele se
amaldiçoou por ter falhado miseravelmente em garantir que um lorde não fosse morto.
Não tinha dado crédito às reivindicações ou medos de Rockberry. Eventualmente seu dever havia
se tornado secundário ao seu desejo de estar com a dama. Colocou seus próprios desejos e
necessidades em primeiro lugar. Finalmente localizou uma saca quase vazia de aveia. Depois de
derramar um pouco em um saco para alimentação, caminhou outra vez ao estábulo onde havia
deixado o cavalo. Estava no processo de deslizar o saco sobre a cabeça do cavalo quando ele ouviu
um grande estrondo de trovão. O cavalo relinchou e empinou. Tinha ficado tão distraído com o
pensamento na mulher que agora ele conhecia como Emma, que ele demorou a reagir. Quando se
virou...
Sua cabeça explodiu em dor aguda, cegando-o. Escuridão.

— O que acha de suas intenções?


Eleanor perguntou enquanto ela e Emma fechavam e protegiam as janelas da casa externamente.
Elas haviam começado a tarefa após James dizer entre dentes, “preciso cuidar do meu cavalo” e
levou o grande animal para o pequeno estábulo.
Por um breve momento, quando a tomou em seus braços e colocou a boca sobre a dela, Emma
ousara acreditar que ele estava ali por outro motivo. Mas o beijo tinha sido por castigo, seus braços
como barras de ferro em torno dela. Estava furioso. Não que ela o culpasse. No entanto sabia
também que era bondoso e gentil, e mais, ele entendia de justiça. Ela tinha visto, havia tocado as
cicatrizes em suas costas. Se alguém conhecia da injustiça do sistema judiciário criminal, seria ele.
— Eu suspeito que ele tenha a intenção de nos levar para Londres, onde devemos pagar pelos
nossos pecados.
— Se for esse o caso, então ele só precisa levar a mim. — Eleanor disse teimosamente. — Afinal
de contas, eu sou a única que realmente executou o plano.
Ela amava sua irmã ainda mais por se esforçar em poupá-la.
— Estamos nisto juntas.
Com um suspiro, Eleanor marchou em torno da parede para fechar a janela seguinte. Emma
começou a segui-la, em seguida, mudou de ideia. Ela precisava falar com James sozinha. Estava a
meio caminho para o estábulo quando viu seu cavalo pastando nas proximidades. Se perguntou se
James não teve sorte em encontrar grãos para o cavalo. Acelerando o passo, entrou no estábulo.
Seu coração falhou no peito ao vê-lo deitado perto de uma baia cheia de palha.
— Meu Deus.
Correndo, ajoelhou-se ao lado dele. Podia ver sangue entre seus cabelos. Muito gentilmente,
afastou os fios para o outro lado. Tinha um corte fundo no lado da cabeça. O cavalo deve ter
atingido.
Os olhos de James se abriram. Ela soltou um suspiro surpreso. As paredes giraram
vertiginosamente em torno dela quando a agarrou e virou-a de costas na palha antes de lançar-se
sobre ela como uma fera selvagem. Começou a golpeá-lo com os punhos, mas ele agarrou os pulsos
e prendeu as mãos acima de sua cabeça. Seu rosto mostrava dor, mas ela achou que fosse mais uma
dor emocional do que física. Sua respiração pesada ecoou ao redor dela.
Então seu rosto suavizou, quase como se contra a sua vontade. Ele segurou os pulsos com uma
das mãos, enquanto usou a outra para acariciar sua bochecha.
— Eleanor. — ele murmurou, uma riqueza de emoção envolta numa única palavra. Ela mal podia
suportar ouvir o nome de sua irmã proferida por seus lábios.
— Emma. — ela corrigiu suavemente.
— Emma. — Ele abaixou a cabeça até que sua respiração estive flutuando acima de sua
bochecha como a primeira brisa da primavera, suave, determinada a ser mensageira na mudança das
estações. — Emma.
Ela não protestou quando sua boca cobriu a dela, mas o beijo foi muito parecido com o que ele
tinha dado na porta, com mais força, quase desesperado, como se quisesse recuperar o que tinham
vivido em Londres, mas saber o que ela fez tornava tudo perdido para eles. Ele estava certo. O que
quer que eles tenham tido foi construído sobre mentiras e enganos. Não poderia suportar a
tempestade de traição. Ele sabia, e se possuísse sequer um pingo de misericórdia, permitiria que ela
fosse arrastada para o mar.
Mas naquele momento ela sentiu que não havia misericórdia nele. Sua mão apertou em torno de
seus pulsos até que os dedos dela começaram a entorpecer. No entanto, ela não disse para parar,
porque fazê-lo significaria mover a boca longe da sua, e ela ainda não estava pronta para desistir
disso. Como saberia qual carícia de sua língua seria a última? Quando os seus lábios parariam de
moldar-se aos dela?
Sua grande mão acariciou um lado dela, deslizou para baixo, e a abraçou-a mais firmemente. O
peso dele era muito bom. Ele era resistente como uma rocha ao longo da costa, que a onda, não
importa a quão poderosa, não poderia mover. Ele cheirava um pouco diferente do que havia sentido
em Londres. Agora exalava cheiro de cavalo, couro, e sal a partir do ar marítimo que havia soprado
sobre seu cabelo enquanto ele viajava para encontrá-la. No entanto, por baixo disso tudo, ela
detectou a essência própria dele. Tudo nele era maravilhoso. Tudo sobre ele que em breve seria
levado para longe dela e reduzido a lembranças que iriam assombrar o resto de sua vida.
— Bem, o que temos aqui?
Emma assustou-se com a voz de Eleanor ecoando através do estábulo. James levantou a cabeça,
em seguida, ficou muito quieto. Podia ver a confusão nos olhos verdes que ela adorava, e imaginou
se o golpe na cabeça o tinha desorientado. Raiva e decepção nublaram seu olhar antes que ele rolasse
de cima dela. Com um gemido baixo, ele sentou-se contra o lado da baia e colocou a mão na parte
de trás de sua cabeça.
— Eu acho que o cavalo deve tê-lo escoiceado. — disse Emma, seu rosto ficando quente com o
embaraço. Lutando para se levantar, ela quase perdeu o equilíbrio. Tinha esquecido quão fraca suas
pernas tornavam-se sempre que ele a beijava. Ficavam como geleia quando tentava apoiá-las. — Ele
tem um corte profundo.
— Sim, eu vi seu cavalo lá fora. — disse Eleanor. — Por esta razão decidi investigar.
— Você deve vir até a casa para que eu possa te costurar. — Emma ofereceu calmamente.
— Eu terminarei de cuidar de seu cavalo. — disse Eleanor.
— Nem pense em fugir. — James ordenou com voz severa. — Não há nenhum lugar na terra
que você possa ir que eu não a encontre.
Eleanor jogou os ombros para trás e levantou o queixo.
— Neste caso, o seu aviso é falho, Senhor Swindler, há uma tempestade que se aproxima. Só um
tolo iria fugir durante uma tempestade.
A julgar pelo olhar duro e intransigente que James deu a Eleanor, Emma era da opinião de que só
um tolo não iria fugir quando o predador estava próximo.
Capítulo Quatorze

Swindler sentou-se em uma cadeira perto da janela do quarto no andar superior de frente para
Eleanor, não, Emma, tivesse melhor luminosidade para trabalhar, e porque havia fechado as janelas
no andar de baixo. Ele não podia negar que sua irmã tinha razão. Podia ver pesadas nuvens escuras à
distância, obstruindo a luz do sol. Tentou concentrar-se no tempo, mas parecia incapaz de se
concentrar em outra coisa senão nos dedos finos de Emma gentilmente separando seu cabelo.
Sentiu-se tolo por permitir que ela o atraísse, por desejá-la. O pior de tudo foi que ela não precisava
nem mesmo tentar.
— Isto provavelmente vai doer. — ela disse suavemente.
— Como você está bem ciente, eu já passei por sofrimento pior. Basta seguir em frente.
Enquanto ela costurava sua carne, apertou a mandíbula, mas todo o resto permaneceu imóvel
como pedra. Bem, não exatamente tudo. Seu coração batia de forma irregular com sua proximidade.
Emma. Estranho, mas o nome combinava com ela.
— Conte-me sobre sua irmã. — ele comandou.
— Eleanor pode ser um tanto teimosa...
— Não Eleanor. Elisabeth. Três de você nasceu no mesmo dia.
— Sim. Eu disse a verdade. Elisabeth foi a primeira, eu a última e Eleanor veio entre nós. Nossa
mãe morreu no parto. Nós fomos demais para ela. A sua morte quase destroçou o coração do meu
pai, eu acho. Ele contratou uma senhora da aldeia para cuidar de nós, mas deu-nos pouco de seu
tempo. Assim são as coisas, eu suponho. O que os homens entendem de crianças? O seu pai
ignorou você?
Não queria pensar em seu pai, não queria falar sobre seu passado, mas mesmo assim ele
respondeu.
— Não. Ele e eu éramos muito próximos. Só tínhamos um ao outro. Oh, às vezes ele passava a
noite na cama de uma mulher, e eu dormia em algum lugar próximo, me perguntando se ela era
como minha mãe, esperando que ele pudesse ficar com aquela, mas era apenas uma noite, talvez
duas, e então ele seguia em frente. Eu sou como ele a esse respeito. Nunca fico muito tempo com
uma mulher com quem já tenha dormido. Maldição!
— Desculpe-me. A agulha escorregou.
Não, não tinha sido isto. Estava bastante certo de que ela perdera a concentração com suas
palavras e enterrou mais fundo do que havia pretendido. Não sabia por que disse aquilo. Só sabia
que não queria que ela percebesse o quão importante tinha se tornado para ele, o quão devastado
ficara por sua traição, sua fuga. Porque tinha estado interessado em ficar com ela por mais que
algumas noites. Estupidamente começou a planejar em ficar com ela para sempre. A ideia de tê-la
sempre nos braços à noite e acordar e encontrá-la em sua cama trouxera quase tanto prazer quanto o
ato de fazer amor com ela. Agora percebeu que tudo o que sabia dela era o que queria que ele
soubesse. Sem mover a cabeça, olhou ao redor do quarto o quanto pôde.
O papel de parede verde pálido pontilhado com as rosas cor-de-rosa minúsculas decorava as
paredes. Uma colcha rosa estava sobre a cama. Cortinas cor de rosa adornavam as janelas que davam
para os penhascos.
— Estes são os penhascos...
— Sim. — ela respondeu antes que pudesse terminar a pergunta. Embora não pudesse ver seu
rosto, podia sentir a tensão irradiando dela.
— Este é o seu quarto? — Perguntou.
— Sim. — Ele sentiu a tensão drenar dela.
— Você gosta de rosa.
— Eu adoro rosa.
O quarto indicava intensa feminilidade. Mesmo o mobiliário branco tinha um ar delicado. Tudo
no quarto dele era escuro, como sua alma. Mas o dela era leve e arejado. Irradiava alegria e sonhos.
— Foi Eleanor que resgatei naquela noite no Cremorne Gardens.
— Sim, mas eu estava lá, nas sombras. Nós nunca saíamos sozinhas, sempre nos mantivemos a
vista uma da outra. Eu vi como você a protegeu.
— Por isso me reconheceu na tarde seguinte no Hyde Park.
— Sim. — Ele ouviu o corte da tesoura, sentiu o puxão quando ela finalizou o trabalho manual.
Começou então a envolver uma atadura em volta de sua cabeça. — Como você sabe com certeza
que era eu no Hyde Park?
— Algo em você estava diferente. Eu pensei que era um reflexo da luz do sol. — Ele se sentia
um tolo romântico dizendo isso a ela. Deveria ter simplesmente mantido seus pensamentos para si
mesmo.
— A única vez que nós duas não saímos juntas foi quando começou a levar-me por Londres.
Eleanor estava com medo que você pudesse nos pegar e tudo estaria perdido.
Improvável que ele tivesse notado, odiava admitir para si mesmo. Toda a sua atenção, todo o seu
foco, tinha estado sobre a adorável dama em sua companhia.
— Pronto. — disse ela com um toque leve como uma pena em sua cabeça. —Você deveria tentar
dormir até que a dor de cabeça vá embora.
Sua cabeça latejava impiedosamente e ele estava se sentindo desorientado, levantou-se,
aproximou-se da cama e se inclinou contra o colchão.
— Ela matou Rockberry. — Emma deu um aceno rápido, desviando os olhos quando fez isso.
— Ficou comigo naquela noite deliberadamente para fornecer um álibi. Você sabia o que ela
pretendia.
Ela olhou para o chão, como se esperasse que o chão se abrisse e pudesse fugir dali.
— Sim — ela sussurrou antes de levantar o olhar para ele e dizer com mais força, — e não.
Eleanor decidiu saudar a duquesa quando ela veio fazer o convite para o baile. Eu estava na cama
com uma terrível dor de cabeça. Quando Eleanor percebeu a oportunidade de assistir a um baile,
decidiu que era a noite perfeita para terminar o que tínhamos começado. Assumiu que mais cedo ou
mais tarde Rockberry voltaria para casa, e quando o fizesse... ela se encontraria com ele. A minha
parte era ficar com você até o amanhecer. Mas eu queria estar com você. Eu quis... — Ela lambeu os
lábios. — ... por desejar você.
— Me perdoará por não acreditar nessa parte, uma vez que você fugiu.
— Percebi que não havia uma escolha. Você é muito inteligente. Mais cedo ou mais tarde eu
poderia ter dito algo para nos prejudicar.
— Você pensou que eu simplesmente a deixaria ir?
— Eu esperava... que sim. Não estava tão confiante quanto Eleanor que você simplesmente se
afastaria de minha vida.
— Por que eu? — Com um suspiro, ela se aproximou da janela e olhou para fora. Ele podia ouvir
o vento. Uma tempestade realmente estava se formando, mas nunca poderia competir com a que se
movia dentro dele. — Por que eu? — Ele repetiu com mais dureza.
— Eleanor e eu mantivemos uma vigilância constante em Rockberry, sempre cuidando que ele só
visse uma de nós de cada vez. Nós quase desistimos quando ele foi para Scotland Yard. Pouco
tempo depois, tomamos conhecimento de que nos seguia, e presumimos que você era o resultado de
sua visita à polícia. Eleanor pensou que poderíamos aproveitar a situação.
— E tirou proveito de mim. — Não podia conter a fúria que escapava. Ela virou-se.
— Não sabe o que ele fez para a nossa irmã. Estávamos determinadas a vingá-la. Você não pode
sequer imaginar o que é perder alguém injustamente.
Oh, ele poderia. Ele pensou em seu pai.
— Naquele dia, em Hyde Park, quando me aproximei, por que decidiram que seria você a me
envolver... na trama de vocês?
Ele a ouviu engolir.
— Isso foi simplesmente coincidência. Se tivesse chegado vinte minutos depois, teria sido
Eleanor quem você seguiria. Mas depois de ter me conhecido, tomamos cuidado para ter certeza de
que era sempre eu quem estaria com você. Nós dois conversávamos sobre muitas coisas... Eleanor
tinha medo de que ela inadvertidamente dissesse alguma coisa para fazer com que você questionasse
com quem estava.
Eles tinham falado sobre tantas coisas. A facilidade com que ele conversara com ela o
surpreendera. Nunca tinha sido tão falante com as damas. Ele se comunicava de outras maneiras.
Mas tudo com ela tinha sido diferente de tudo que já tivesse experimentado com outras. Que ela
pudesse trai-lo tão facilmente...
— Eu trouxe um pouco de uísque do meu pai. — Eleanor anunciou enquanto adentrava no
quarto.
Seu vestido era de um azul pálido adornado em azul mais escuro. Ele não parecia se adequar a ela,
mas supôs que estava vendo-a através de um caleidoscópio de assassina. Estranho como ele a via,
como a mais astuta das duas irmãs, como ela não mexia em nada dentro dele, exceto desgosto.
Sua cabeça ameaçava explodir, se ele fosse mais capaz de pensar, poderia ter recusado a bebida,
mas no estado que estava, pensou que o uísque poderia aliviar a dor, aguçar seu pensamento. Ele
bebeu, saboreando o gosto e o calor que explodiu em seu peito.
— Quer que eu traga um pouco mais? — Perguntou Eleanor.
— Não, isso resolve por agora.
Eleanor observava-o com ávida e óbvia curiosidade. Perguntou-se o quanto Emma tinha
compartilhado com a irmã sobre ele. Lembrou-se de que quando começou a segui-la, pensou que ela
nada tinha de especial. Mesmo na primeira noite no Cremorne Gardens, quando foi em sua defesa, o
fez porque estava em sua natureza proteger os inocentes. Mas na tarde do dia seguinte, tudo mudou,
algo estava diferente nela. Ele não tinha sido capaz de determinar exatamente o que era. Havia
percebido apenas que, quando seus dedos tocaram os dela ao entregar o mapa, queria que ela tocasse
tudo nele.
De uma grande distância, ele ouviu-se dizer: — Explique as circunstâncias que levaram à morte
de Elisabeth.
— Discutir as escolhas da nossa irmã com você parece uma espécie de traição. — disse Eleanor.
— Eu poderia ser capaz de ajudá-la se entendesse tudo. — Suas palavras soaram arrastadas e de
repente ele cambaleou.
— Deite-se, Senhor Swindler. — Eleanor disse, tomando seu braço e guiando-o para a cama.
— Eleanor, o que você fez? — Emma perguntou.
— Dei a ele algo para fazê-lo dormir enquanto nós decidimos a melhor forma de lidar com isso.
Como se sua mente tivesse deixado seu corpo, estava ciente apenas delas acomodando-o na
cama. Suas pálpebras ficaram pesadas. Ele não podia mantê-las abertas. Queria explicar que nada iria
impedi-lo de seu propósito, salvo a morte, mas sua boca parecia travada.
Cedendo à tentação reconfortante do sono, ele fechou os olhos. Um cobertor foi colocado sobre
seu corpo, e a doce fragrância de rosas o rodeou. Queria puxar Emma para seus braços, mas estes
não respondiam ao seu comando. Tudo o que ele fez foi se entregar à escuridão.
— Como você pôde fazer isso com ele? — Emma retrucou.
— Como eu não poderia? Nós temos que pensar muito cuidadosamente sobre o que queremos
que ele saiba.
— Devemos contar tudo.
— Absolutamente não. Ele vai usá-lo contra nós.
— Eleanor, é tarde demais para negar o que nós fizemos. Se nós explicarmos o porquê disso, ele
pode ser capaz de nos ajudar.
— E se tivermos que explicar o porquê disso em nosso julgamento? Preferia enforcar-me a
desgraçar Elisabeth diante de toda a Londres. — Eleanor saiu do quarto.
Emma se abaixou e pressionou um beijo na testa de James.
— Eu sinto muito.
Então, enquanto ele dormia e Eleanor não estava por perto, ela tocou seu cabelo sobre a
bandagem. Quando chegou estava todo revolto pelo vento, dando uma aparência quase bárbara.
Passou os dedos em torno de seu rosto, relaxado agora, mas a face áspera que ela tanto amou dava
uma dureza a suas características. Quando ele saltou de seu cavalo, sua fúria combinava com a pior
tempestade enfrentada por elas naquela terra. Não tinha certeza do que esperava dele. Que ele a
tivesse tomado em seus braços a tinha aterrorizado e emocionado.
Descansando a mão na garganta dele, sentiu o pulsar de seu sangue. Ela queria bater em Eleanor
por ter dopado. Elas não haviam feito o suficiente a ele?
Encante-o, seduza-o, o distraia, havia dito Eleanor. Emma havia achado a tarefa tanto o céu
quanto o inferno. Ela desfrutara cada momento em sua companhia, mesmo quando se sentia cheia
de culpa.
Sabia que cada vez que ele começava a fazer perguntas estava determinando o seu propósito.
Quantas vezes ela quis confessar tudo, saber sua opinião, compartilhar suas dúvidas. Eleanor estava
convencida de que um par do reino ficaria impune apesar de seu comportamento abominável. Elas
precisavam tomar as coisas em suas próprias mãos, tinham que fazê-lo pagar pelo que havia feito a
Elisabeth, e talvez a outras.
Emma tinha concordado que Rockberry tinha que responder. Mas ela nunca quis magoar James.
Naquela noite, em entre seus braços, sabia que não importava o quão desesperadamente desejasse o
contrário, ela traria dor.
Tomando a mão, ela a levou aos lábios e apertou um beijo em seus nós dos dedos.
A vingança não era para os fracos de coração, mas ela descobrira tarde demais que nem era para
ela.
Quando Swindler acordou, a escuridão caiu e o vento uivava, um som melancólico ecoou de seu
próprio coração. Sabendo tudo o que sabia sobre a conspiração de Emma, como pode mais uma vez
permitir que ela o enfeitiçasse? Como ela ainda podia parecer tão inocente? Em seus olhos, podia
jurar que via arrependimento, mas também ternura e um poderoso desejo que combinava com o
dele.
Ele rolou, balançando as pernas para fora da cama e sentou-se. Foi assaltado por uma tontura, e
deu um momento para passar. Sua cabeça latejava, suspeitava que fosse mais pelo que Eleanor
tivesse posto no uísque do que do coice do cavalo. Desejou que pudesse apenas levá-la de volta para
Londres e deixar Emma aqui, mas como explicar o álibi que tinha dado? De qualquer maneira, seria
visto como um tolo, mas, pelo menos, a verdade não iria destruir sua reputação, somente a
mancharia. Sem Emma ele seria visto como um mentiroso, seus dias de trabalho com a Scotland
Yard acabariam.
Ele tinha trabalhado duramente para sair da sarjeta, para não mais ser visto como o filho de um
ladrão. Recusou-se a deixar todas as suas lutas em vão para nada. Embora estivesse morto, seu pai
merecia um filho mais digno. Swindler tinha se determinado a não o desapontar.
Levantando-se, ele foi até a janela e olhou para fora na escuridão. A chuva batia contra as
vidraças. Com a luz de um relâmpago, ele viu as cristas brancas do mar turbulento distante e árvores
balançado com a força do vento. Uma trovoada ensurdecedora rasgava o céu. Viver tão perto do
mar não era para aqueles assustavam facilmente pela força e poder da natureza. Não é de admirar
que Emma fosse tão valente. Ela, sem dúvida, fora moldada por estas tempestades, conhecia a força
da natureza, sabia suportar sua arremetida.
Emma. Apenas o pensamento dela o encheu de reações mistas: querer e aversão. Ela e sua irmã
tinha tomado a justiça em suas próprias mãos. Dane-se tudo, ele seria um hipócrita em não admitir
que tinha feito o mesmo na ocasião. Ele sempre justificava suas ações, acreditando que sabia o que
constituía a justiça porque já tinha visto muita injustiça em sua juventude. Bastardo arrogante. Emma
estava fazendo-o enfrentar suas próprias deficiências e ele não gostava muito disso.
Afastando-se da janela, ele caminhou até a porta, girou a maçaneta, e descobriu que estava
trancada. Pressionando a testa contra a madeira, riu sombriamente. Aparentemente, mesmo depois
de tudo o que tinham compartilhado durante seu breve tempo juntos, Emma não possuía
absolutamente nenhuma ideia com quem estava lidando.
Na cozinha, Emma dobrou cuidadosamente o guardanapo de pano que iria colocar na bandeja
que estava preparando para James. Era uma tolice, realmente, mas queria que tudo fosse perfeito,
especialmente para ele não acordar de mau humor por Eleanor ter adulterado seu uísque.
— Eu sei que você está furiosa por causa do sonífero. — Eleanor começou enquanto cortava o
carneiro.
Fazia quase uma hora, desde a última vez que tinham se falado. Enquanto Eleanor começava os
preparativos para o jantar, Emma cuidava dos animais, recolhendo-os no estábulo antes da
tempestade chegar.
— Estou mais do que furiosa. Ele não fez nada para merecer tal desconfiança. — Emma
respondeu, começando a perder a paciência com sua irmã e sua incapacidade de compreender que
elas ultrapassaram os limites outra vez. Não ia tornar isso em hábito.
— Ele veio para nos prender e eu estive pensando muito sobre isso. Nosso melhor caminho é
convencê-lo de que deve deixá-la aqui. Na verdade, o que de bom pode vir se nós duas formos
enforcadas? A ideia foi minha, afinal. Você somente me seguiu porque é de sua natureza.
— Minha lembrança sobre nossa conversa é de sua sugestão de que devíamos matá-lo e, em
seguida, a nossa discussão foi sobre qual de nós teria a honra de fazê-lo.
Os lábios de Eleanor se contraíram.
— Eu acho que você não precisava ser convencida sobre o que devíamos fazer com ele.
— Não mesmo. Eu também li o diário de Elisabeth.
— Então talvez eu devesse lê-lo. — A profunda voz ecoou através do aposento.
Com pequenos gritos, Emma e Eleanor se viraram. Estavam paradas perto o suficiente para que
se unissem, abraçadas, como se o diabo tivesse ressurgido do inferno, a fim de reivindicá-las. Mas
era apenas James, enchendo a porta, parecendo incrivelmente bonito, apesar de seu estado um tanto
desgrenhado. Ele tinha removido o curativo em torno de sua cabeça, mas não se preocupou em
colocar seu colete e jaqueta ou desamassar sua camisa. Sua garganta e um estreito V de seu peito
eram visíveis, mas foi o suficiente para fazer as mãos de Emma coçarem para tocá-lo. Se Eleanor
não a estivesse apertando com tanta força, Emma poderia ter ido até James e feito exatamente isso:
o tocado, o acariciado, o abraçado.
Um canto de sua boca puxou para cima com aquele sorriso arrogante que ela amava.
— Você não acreditou honestamente que uma porta trancada me manteria naquele quarto, não é?
— Ele levantou um pequeno grampo amarelado, e Emma reconheceu como aquele que ela tinha
usado em seu cabelo na noite do baile, o que ela tinha esquecido em seu quarto. — Fui criado entre
ladrões e batedores de carteira. Uma trava é brincadeira de criança.
Emma conseguiu libertar-se dos braços de sua irmã e olhou para ela.
— Você trancou a porta?
Eleanor deu um olhar teimoso.
— Enquanto você estava fora cuidando dos animais. Eu queria ter certeza de que não nos
incomodaria se ele acordasse repentinamente enquanto nós fazíamos planos.
— Eleanor... — Antes que ela pudesse continuar, Eleanor olhou para James.
— Ele foi rude em nos assustar assim. — disse sua irmã, sua voz afiada o suficiente para cortar a
carne de carneiro.
Emma sabia que sua acidez ocultava seus medos, pois ela já não estava no controle da situação.
Eleanor foi a conspiradora, a planejadora, a única com grandes esquemas e projetos. Uma vez, elas
se concentraram em como adquirir o melhor marido; ultimamente, estavam centradas sobre a
melhor forma de evitar a forca.
— Sua hospitalidade é bastante questionável. — disse James.
— Suponho que você espera que eu me desculpe por tê-lo feito dormir. Ele balançou a cabeça.
— Não, eu não espero nada de você.
Suas palavras continham uma riqueza de significado, como se Emma e Eleanor fossem as mais
baixas possível, serpentes, como aquelas que eles tinham visto no jardim zoológico, que rastejavam
em suas barrigas, porque eram demasiadas vis para serem dadas os meios de ficar de pé.
— Estava preparando uma bandeja... o seu jantar. — disse Emma, com a voz trêmula. Ela estava
ansiosa para mudar de assunto, para fazer algum tipo de oferta de paz.
— Sou capaz de comer na mesa. Não necessito de cuidados. Emma assentiu com altivez.
— Bem, então, vamos servir o jantar em meia hora.
Seus olhos lentamente vagaram sobre ela, antes de seu olhar cair sobre Eleanor.
— Coloque algo na minha comida ou bebida novamente e será melhor que espere que isso me
mate, porque quando eu acordar você vai sofrer o peso da minha ira, e confie em mim, não será
nada agradável.
Ele saiu da cozinha sem dizer mais nada.
— Eu não serei capaz de jantar com ele sentado à mesa. — disse Eleanor.
Emma tampouco poderia, mas suspeitava que seus motivos fossem muito diferentes de Eleanor.
Apesar de tudo, não queria nada mais do que estar mais uma vez nos braços dele.
Capítulo Quinze

O vento continuava a uivar lá fora, trancando-os todos dentro do casulo da sala de jantar. Com a
tempestade, a escuridão tinha chegado mais cedo. Velas cintilavam sobre a mesa. Pratos foram
passados ao redor, carne de carneiro, batatas e feijão postos sobre a mesa, e o silêncio reinou, com
exceção da raspagem ocasional de prata sobre a porcelana.
O que surpreendeu Emma era que James tinha vindo para a mesa barbeado, vestindo o colete,
gravata e jaqueta. Não importava como ele aparentasse, como um rufião ou um cavalheiro, a visão
dele fazia coisas estranhas em seu estômago, revirava-o.
Ele sentou-se na cabeceira da mesa enquanto ela e Eleanor estavam de cada lado dele. Seu pai
nunca tinha comandado aquele assento como James fez, tão naturalmente como se ele fosse um rei.
Ela lutou para não imaginar como seria gratificante ver James naquele local todas as noites. Ele não
foi feito para a vida tranquila da costa. Embora nesse momento, a noite fosse qualquer coisa menos
tranquila.
— Há a uma remota chance desta casa ser levada para o mar? — Perguntou ele calmamente.
— Não. — assegurou Emma. — Como o vento está vindo do mar, eu suponho que se fosse
levá-la para algum lugar, seria para a aldeia.
Os olhos dele brilharam com diversão. Ela quase podia duvidar que ele estava aqui por uma razão
nada divertida.
Ela lutou para não se perguntar, se caso tivesse sido a filha escolhida para ir a Londres na última
Temporada, poderia ter se encontrado com ele em qualquer baile. Teria olhado para o outro lado do
salão e a notado? Teria ele a convidado para dançar? Será que a atração entre eles seria mais forte
que o mistério que os cercava?
Ele a estudava agora sobre a borda de sua taça de vinho. Mais cedo havia trazido uma garrafa
fechada do porão, abriu-a, derramou-a, e não permitiu que sumisse de sua vista. Lentamente, quase
suspeitosamente, ele enfocou sua atenção em Eleanor, então devolveu à Emma.
— Quando interroguei a sua senhoria, ela só sabia que havia uma dama no quarto alugado.
— Não diga nada, Emma. — ordenou Eleanor severamente. — Até este momento ele tem
pouco mais do que especulação e conjecturas. Não pode provar nada. Não há evidências de que você
esteve alguma vez em Londres.
Seu olhar inflexível se fixou mais firmemente em Emma.
— Porque onde quer que você fosse, o que quer que fizesse, você afirmava ser Eleanor. Eu
acredito que você sempre planejou estar em algum lugar, com alguém, enquanto Eleanor cuidava da
ação. Eu me encaixava bem em seu pequeno esquema.
— Sim. — Ela subiu o tom de voz com um quê de arrependimento. Esperava usar alguém do
tipo de Rockberry, não tão horrível quanto ele, mas um homem que merecia ser usado. Ela nunca
esperou alguém como James, com uma bússola moral que sempre apontou para decência, honra e
princípios. Com o dedo, ele bateu lentamente na taça de vinho, tap, tap, tap, como se estivesse
montando peças de um quebra-cabeça. Seu dedo se acalmou, estendido como se ele precisasse
estabelecer um ponto.
— Poderia ter funcionado... se você não tivesse fugido incrivelmente rápido, sem sequer um
adeus. — Os calores em seus olhos quase combinavam com o do fogo da pequena lareira. —
Especialmente depois... da intimidade que compartilhamos.
Ele queria machucá-la, queria jogar na cara o que ela fizera. Ela podia ver isso em seu olhar, e
supôs que merecia.
— Que intimidade poderiam ter em uma carruagem? — Perguntou Eleanor.
Bom Deus, ela não fazia nem ideia. Emma não ia fornecer detalhes, especialmente porque a maior
parte da intimidade não tinha ocorrido na carruagem.
— Eu queria esperar, queria vê-lo novamente, mas estava com medo de que você veria a verdade
em meus olhos.
Ele não perguntou qual verdade: a verdade de que ela havia ajudado a tirar a vida de um homem,
a verdade de que tinha se apaixonado por ele, a verdade de que sua última noite com ele tinha sido a
mais gloriosa de sua vida.
Talvez ele tenha entendido suas razões para fugir, porque voltou sua atenção para a comida.
Durante alguns minutos, o silêncio e o incomodo voltaram. Ela suspeitava que todos refletiam sobre
a gravidade de suas vidas entrelaçadas. A decepção não fornecia uma base sólida sobre a qual
construir qualquer coisa duradoura. Até mesmo seu relacionamento com Eleanor se tornara tenso
desde que voltaram de Londres.
— Então vocês cresceram nesta região.
Sua voz súbita no silêncio foi como um trovão. Emma assustou-se e Eleanor deixou cair o garfo
no prato. Ele não tinha formulado sua frase como uma pergunta, mas Emma achou que precisava de
alguma resposta. Olhou para Eleanor, que tinha recuperado seu garfo e estava ocupada movendo
sua comida de um lado para o outro.
— Sim. — ela disse. — Nós nascemos nesta casa. Tem sido da família por duas gerações, quase
nada se você considerar quanto tempo a Inglaterra existe.
— Não tem criados?
— Nós os dispensamos antes que nosso pai falecesse. Tínhamos uma cozinheira, uma
arrumadeira e um criado que servia como mordomo. — Ela sabia que ele estava sondando. Por que
se preocuparia com os detalhes sobre seus criados? Mas mal podia tolerar a tensão e estranheza que
emanavam dela e de Eleanor. James, por outro lado, estava distante, mas parecia confortável.
— Você está tentando nos dizer que a comida está horrível?
— Já comi pior.
Limpando suas mãos úmidas no guardanapo, lembrou-se de que ele nunca estivera fora de
Londres. Teria adorado estar ao seu lado quando ele adentrasse no campo.
— Você apreciou a vista enquanto saia de Londres?
— Eu mal notei.
— Uma pena. É uma região adorável. Talvez eu possa compartilhar um pouco dela antes de
você... nós voltarmos para Londres.
— Pelo amor de Deus! — Eleanor estourou, levantando-se. — Podemos parar com a cortesia?
Ele quer nos ver enforcadas, Emma. De minha parte não quero mostrar nada.
Atirando o guardanapo sobre a mesa, saiu da sala, imitando a tempestade que se agitava lá fora.
Ao vê-la partir, Emma não pôde deixar de sentir um pouco de alegria por ter mais tempo sozinha
com James.
Ela limpou a garganta.
— Você deve perdoá-la. Não tem sido ela mesma ultimamente.
— Como é que você pode estar tão calma? Planeja usar de tuas artimanhas para me convencer a
esquecer suas transgressões?
— Não, cansei de mentir para você. Sinceramente, ao enfrentarmos o que fizemos será um
pouco de alívio. Não durmo nada desde que saímos de Londres. Mal me alimentei. Não me
arrependo de que ele esteja morto. Mas há momentos em que lamento que fomos nós a fazê-lo.
Você tem algum arrependimento, James?
Ele levantou-se da cadeira e veio se ajoelhar ao lado dela. Seus preciosos olhos verdes
demonstravam compaixão enquanto embalava seu rosto e tocava com os polegares as lágrimas em
suas bochechas, que ela nem percebeu que tinha começado a derramar.
— Eles guiaram toda minha vida, Emma.
Seus lábios tocaram os dela, tão gentilmente, tão docemente. A paixão sempre parecia rugir
através deles, como se ambos soubessem que seu tempo juntos era curto, e uma vez que passasse,
desapareceria para sempre. Agora estava oculta, mas ainda podia sentir as brasas do desejo lutando
para não morrer, esforçando-se para renascer tão ardentes e altas com o haviam sido uma vez.
Quando se afastou, disse: — Quero ler o diário de Elisabeth.
Por um momento maravilhoso, ela pensou, esperou, que ele tivesse esquecido que era um policial
com um dever. Mas suspeitava que seus deveres jamais ficavam longe de sua mente, assim como
seus pecados nunca estavam distantes dos dela. Limpando as lágrimas, ela assentiu.
— Vou buscá-lo para você.
Ela não poderia ter ficado mais surpresa quando ele a ajudou a limpar a mesa. Enquanto lavava
os pratos, ele os secava.
— Não estou acostumado a um cavalheiro na cozinha — disse ela. — Meu pai sempre saiu da
mesa e foi para o escritório dele para desfrutar de um pouco de conhaque com seu cachimbo.
— Não posso deixar de desconfiar que sua irmã tenha colocado veneno na bebida. Quanto ao
cachimbo, há bastante ar ruim em Londres. Não preciso de mais nos meus pulmões. Gosto do
cheiro do ar daqui.
Ela sorriu.
— Espere até a tempestade passar. Então será realmente muito agradável.
Como se não quisesse contemplar o que aconteceria quando a tempestade passasse, ele disse: —
Quando eu morava com Feagan, todos nós tínhamos nossas tarefas. O meu era lavar pratos. A
maioria dos rapazes não se importava de uma forma ou de outra, mas eu não suportava o cheiro de
comida rançosa.
— Não posso culpá-lo.
— Me lembrava muito o cheiro de Newgate quando fui visitar meu pai antes que eles o
enforcassem. — Sua voz era sombria, e ela ouviu nela a agitação de lembranças desagradáveis.
— Parece que ainda sente falta dele.
— Todos os dias. Faz pouco mais de vinte anos agora. — Ela entregou o último prato.
— Na realidade é bom não se esquecer. Às vezes é como se Elisabeth ainda estivesse comigo.
Agora vou pegar o diário para você. Encontre-me na sala de estar.
Eleanor se recusou a deixar o seu quarto. Emma não se importou. Isso a deixava as sós com
James na sala de estar. Entregou o diário, explicando que as partes pertinentes começavam em junho
passado, quando Elisabeth chegou a Londres. Em uma ação típica de sua meticulosidade, a qual ela
já começava a reconhecer, ele abriu o diário na primeira página e começou a lê-lo.
Estranhamente, ela não estava impaciente com a sua leitura. A julgar pelo tempo que levava antes
de virar a página, não era um leitor rápido. Se pretendia ler todo o diário antes de partir, então ela e
Eleanor teriam alguns dias adicionais de liberdade para acertar as coisas. Elas teriam que tomar
providências para que alguém cuidasse dos poucos animais que possuíam. Havia também a questão
da casa. Podiam trancá-la, mas eventualmente teria de pedir para alguém a arejar uma vez ou outra.
Ou talvez devessem vendê-la. Precisariam de dinheiro para um advogado, e aqueles com dinheiro
também se sairiam melhor na prisão.
Enquanto ele lia, Emma o observava. James tinha acendido o fogo na lareira antes de ela chegar,
portanto, a sala estava agradável e acolhedora. Aparentemente decidindo que Eleanor não tinha
batizado toda a bebida da casa, ele serviu-se do conhaque de seu pai. Uma taça pela metade
repousava sobre a mesinha ao lado da cadeira em que estava sentado. Emma se sentou em uma
cadeira do outro lado da pequena mesa para que eles compartilhassem uma lamparina. Ela estava
perto o suficiente para sentir o seu perfume, ouvir o crepitar do papel quando virava a página.
Estes momentos eram como os que ela havia sonhado ao imaginar sua vida quando era jovem,
anos mais tarde, quando se via casada e com filhos. Mas os anos que a aguardavam não teria
momentos como este. Sua boca ficou seca e sua língua parecia pouco disposta a cooperar.
— Você acha que há alguma chance de que eles nos deportarem ao invés de nos enforcar?
Ele levantou os olhos do diário, o rosto inexpressivo.
— É isso o que você prefere? Ela queria engolir, mas a secura continuou.
— Não sei. Eu diria que qualquer tipo de vida é preferível à morte, inclusive uma pena dura.
— É mais do que dura. É brutal.
Ela assentiu com a cabeça. Nunca tinha conhecido alguém que tivesse sido deportado. Na
verdade, a única pessoa que conhecia que já tinha ido a prisão era James e ela viu o que tinham feito
a suas costas quando ele era uma criança. Não conseguia imaginar o quanto mais dura a punição
seria para um adulto.
Como se estivesse ciente dos pensamentos angustiantes que remoíam através de sua mente, ele
disse: — Não me preocuparia tanto com isso, se eu fosse você.
— Tem toda a razão. Eu deveria aproveitar ao máximo o tempo que tenho, enquanto estamos
aqui. — Ela estudou o bordado desajeitadamente em seu colo. — Nem sei por que estou me
incomodando com isto. Não vou conseguir terminá-lo antes de partirmos. Duvido...
— Emma.
Sua voz era firme, mas gentil, e atraiu-a da mesma forma que tudo sobre ele o fazia. Encontrava
conforto na sua proximidade mesmo sabendo que ele seria a sua morte.
— Diga meu nome outra vez. — Ela não entendia a luta que viu nas feições dele. Ele estava
sentindo aversão por ela, pelo pensamento de seu nome pronunciado por seus lábios?
— Emma. — ele finalmente murmurou.
— Você não pode imaginar quantas vezes eu ansiava por ouvi-lo dizer meu nome em vez de
Eleanor. — Ela olhou para baixo, porque não queria que ele visse as malditas lágrimas que desciam
mais uma vez. — O quanto você me despreza por minha traição?
Parecia que vários minutos passaram antes que ele finalmente dissesse.
— Provavelmente não tanto quanto você despreza a si mesma.
Ela olhou para ele, surpresa com sua franqueza, mas ainda assim aliviada por suas palavras.
Embora a julgar pelo quanto odiasse a si mesma, talvez a aversão dele por ela fosse maior do que
podia imaginar.
— Você é muito sábio, James Swindler.
— Minha vida tem atraído todos os tipos de pessoas. Alguns culpados. Outros inocentes. Alguns
merecedores do que o destino reservou. Outros não. Houve um certo menino, há muito tempo, um
bastardo arrogante. Ganancioso também. Queria tudo o que se punha diante de seus olhos. Um dia
ele viu um cavalheiro colocar um relógio de ouro no bolso. Era muito brilhante. O menino pensou,
“Oh, eu gostaria de ter isso, e o terei.” Então, ele roubou , mas não era muito bom nisso. O
cavalheiro que perdeu seu relógio, começou a gritar para um policial. O menino ficou com medo.
Seu pai estava por perto, então deixou cair no bolso de seu pai. Suponho que foi o olhar surpreso no
rosto de seu pai que fez a polícia revistá-lo. E o lorde, bem, ele era um lorde, não gostou de ter seu
relógio roubado. Ele sabia que o homem seria enforcado por esta ofensa dentro de uma quinzena.
Nem uma vez o pobre homem declarou sua inocência. Nem uma vez dirigiu a culpa para o filho.
Subiu os degraus para a forca como se ele não lamentasse o ocorrido. Os arrependimentos foram
deixados para seu filho.
O peito dela doía como se fosse demasiado pequeno para conter seu coração.
— Você era o filho.
Ela viu a resposta refletida em seus olhos. Vinte anos vivendo com arrependimento.
— Meu pai me disse que estávamos fazendo uma brincadeira, estávamos burlando com a justiça.
Quando Feagan me acolheu, assumiu um desconhecido, ele fez o menino mudar de nome. Swindler
parecia apropriado a um menino que havia conseguido fazer com que seu pai fosse enforcado em
seu lugar.
Apesar de todos os anos que se passaram, o coração dele ainda era o de um menino, embora
estava sentado diante dela um homem.
— Oh, James, ele não queria que você vivesse com arrependimentos. Ele sabia o que estava
fazendo. Os pais se sacrificam por seus filhos o tempo todo.
— Não faz com que seja mais fácil viver com isso, Emma.
— Essa é a razão que você não tem um relógio.
— Não podia comprar um, embora eu agora possa me permitir isso.
Como se só estivessem falando sobre o tempo, ele voltou a ler o diário. Ela não conseguia pensar
em nada de significativo a dizer para confortá-lo.
Capítulo Dezesseis

Tendo em conta que havia dormido excessivamente naquela tarde, graças ao lamentável episódio
que Eleanor proporcionou, era estranho como o nome que uma vez havia adorado agora o irritava,
Swindler estava longe de estar cansado quando o relógio sobre a lareira soou dez horas. Emma, por
outro lado, havia murchado. Ela disse para dormir em seu quarto, pois planejava dormir com
Eleanor. Se o sono chegasse.
Embora ciente de que parecesse um fanfarrão sem modos, não se moveu quando Emma se
levantou da cadeira. Sabia que caso se levantasse, nada na terra iria impedi-lo de se aproximar dela,
tomá-la nos braços e levá-la para a sua cama. Se é que conseguiria se segurar. Seu corpo doía tanto
por estar em sua presença que era bem possível que a possuiria ali mesmo, antes de deixar a sala.
Então ele ficou onde estava, deu a ela um distraído boa noite, sem nunca tirar os olhos do diário. Foi
um inferno se sentar tão perto dela, sem tocá-la.
Para piorar a situação, revelou seu segredo mais profundo e obscuro como se fosse um conto de
fadas. O que foi que o possuíra para confessar seus pecados a respeito de seu pai? Agora ela sabia
que, também, foi responsável pela morte de um homem. Ele podia muito bem ser considerado o
assassino de seu pai, ao permitir que o enforcassem. A culpa tinha corroído sua alma por vinte anos,
deixando nele feridas que nunca cicatrizaram. Ninguém sabia sobre elas, nem mesmo Frannie, mas
com Emma parecia ser incapaz de guardar segredos.
Era muito depois da meia-noite quando Swindler pôs o diário de lado. Ele queria ter conhecido a
moça para que pudesse entender melhor tudo o que tinha acontecido e que pudesse tê-la afetado.
Talvez um pouco dele também estivesse à procura de dicas sobre Emma. Não queria acreditar que
tivesse sido completamente mentirosa enquanto esteve em Londres. Ela havia compartilhado seu
verdadeiro eu com ele, mesmo que seu nome e seus motivos não tivessem sido honestos. Droga, ele
não queria perdê-la, perde a mulher que conhecera em Londres, que o intrigava, o fazia rir, que o
deixava feliz ao se levantar pela manhã, dando razão para antecipar o dia.
Pensou que a mulher que conheceu em Londres era mais Emma do que a mulher que o
observava ali, aquela com suspeitas e preocupação nos olhos. Ele não podia culpá-la por quaisquer
dúvidas que poderia estar abrigando. Não estava certo de que poderia explicar todas as razões que o
tinham levado até ali. Orgulho ferido, porque tinha permitido que um assassino escapasse de suas
garras. Honra, porque a sua palavra poderia facilmente ser posta em dúvida. Mas era mais do que o
trabalho. Muito mais do que não podia explicar.
A tempestade ainda rugia lá fora. Swindler não estava certo de que seria capaz de dormir com
todos os uivos e barulhos. Mesmo a chuva era mais estrondosa do que qualquer coisa que ele tenha
ouvido falar em Londres. Esfregando o pescoço, decidiu que com as duas damas na cama, o que ele
realmente precisava era de um banho quente.
Anexa à cozinha encontrou um quarto de banho. Sem dúvida, uma adição recente. Bombeou
água para encher a banheira, porque a preferia quase fervendo e gostava dela cheia para seu prazer,
levou algum tempo para obter água para sua satisfação. Tinha apenas puxado a camisa sobre a
cabeça quando a porta se abriu.
Seu coração galopava quando se virou, e rapidamente abrandou.
— Eleanor.
Soltando uma risada suave e segurando o xale mais firmemente sobre sua camisola, deu dois
passos em direção a ele.
— Oh, James, não posso te dizer como me dói que você não me reconheça. Sou eu. Emma.
— Aos diabos que é. — Ignorando-a, tomando cuidado para manter as costas fora de sua visão,
ele mergulhou a mão na água. Ainda quente o suficiente, mas não por muito tempo.
— Não posso acreditar nisso depois de tudo que compartilhamos...
Girando, agarrou seu pulso antes que ela pudesse tocar seu ombro nu. Ele não tinha certeza do
que seu rosto revelava, mas a julgar pelo alargamento dos olhos dela, era exatamente o que ele estava
pensando.
— Deixe-me em paz. Eu não quero nada com você.
Ela encolheu como se toda a sua vida tivesse sido drenada.
— Você realmente pode nos diferenciar. Ninguém jamais foi capaz de fazer isso. Nem mesmo
nosso pai. Como pode ter certeza que não sou Emma?
Liberando-a, ele se afastou.
— Seus olhos.
— São o mesmo tom de azul.
— O mesmo tom, talvez, mas as almas que revelam são muito diferentes.
Ela lançou um riso de escárnio.
— A minha é mais dura, suponho. Ele mereceu, você sabe. E verá. Uma vez que termine de ler o
diário. Emma disse que deseja ler tudo. Não faz muito sentido. Foi o verão passado que a destruiu.
— Lidarei com este assunto como eu achar melhor. — Mergulhando os dedos na água
novamente, ele apontou para suas mãos enfaixadas. — O que aconteceu?
Ela esfregou-as.
— Não consigo limpar o sangue dele. Eu continuo tentando, mas há sempre um pouco que não
sai.
— Banhe-as com vinagre. Dissolverá o sangue.
— Verdade?
Não, mas o ajudou após o enforcamento de seu pai. Quando Feagan levou-o, Swindler esfregava
as mãos tentando tirar o sangue que só ele podia ver. Levou anos até Feagan perceber o que
precisava dizer para fazê-lo acreditar e parasse de raspar o sangue imaginário de suas mãos. Mas os
pesadelos eram algo que Swindler tinha sido forçado a entrar em acordo consigo mesmo. Eles ainda
o visitavam, geralmente no aniversário da morte de seu pai.
— Eu já vi isso funcionar. — foi tudo o que disse.
— Tentarei isso na parte da manhã. Agora vou deixá-lo tomar o seu banho. — Ela virou-se para
ir, em seguida, olhou para trás. — Ela queria permanecer em Londres, para ficar com você. Eu a
convenci que apenas estaríamos seguras se nós ficássemos juntas. Deve ser o suficiente que apenas
uma de nós seja presa. Encarregue-se de que não seja ela. Não seria capaz de viver comigo mesma
de outra maneira.
Viu-a ir embora. Ainda não confiava nela, mas estava bastante certo de que amava suas irmãs. Ele
não desculpou o que tinha feito, mas foi um pouco mais compreensível.
Com um aceno de cabeça, e nenhuma solução para seu dilema, ele voltou sua atenção para seu
banho. Sua água estava demasiado morna agora, então ele começou a aquecer outra panela. Uma vez
que tinha a água novamente a seu gosto, removeu o restante de suas roupas e entrou na banheira. A
água quente girava em torno dele quando se sentou nos limites apertados. Sentiu falta da banheira de
cobre grande que tinha feito especialmente para acomodar o comprimento do seu corpo. Mas pelo
menos a água quente em que estava embebido afastou um pouco da sua tensão.
Não tinha certeza do que esperava encontrar quando começou sua jornada até aquele lugar. A
mulher que conhecera em Londres, certamente, mas ele não sabia se queria que ela fosse a mesma
ou diferente da dama que tinha levado para sua cama. Se fosse diferente, ele poderia contar com a
raiva para entregá-la à justiça. Se fosse a mesma, cada etapa da viagem seria um inferno.
Ele inclinou a cabeça para trás. Era um inferno.
Queria selar o cavalo que tinha alugado e deixá-la ali. Voltar para Londres. Explicar a Sir David
que ele, o melhor em resolver crimes, foi enganado e que o assassinato do Lorde Rockberry
permaneceria sem solução. O currículo perfeito de Swindler não seria mais perfeito.
Mas deixá-la aqui, significaria nunca mais voltar a vê-la, porque seria muito mais difícil mentir
sobre o crime com ela ao seu lado. Era até possível que a culpa a corroesse lentamente, destruiria o
que ele tinha vindo a amar. Estava mais magra do que quando esteve em Londres, seu passo mais
pesado, como se agora carregasse um grande peso em seus ombros. Seus olhos estavam fundos,
rodeado de círculos escuros, embaçados. Ela era a mulher que tinha conhecido em Londres e ainda
assim não era.
Ele conhecia o poder da culpa. Tinha sido sua companheira todos estes anos. Se não tivesse
roubado o relógio. Se apenas tivesse o jogado de lado em vez de colocá-lo no bolso de seu pai. Seu
pai sempre pareceu maior que a vida, capaz de lidar com qualquer situação. Ele encontrava trabalho
quando os outros não conseguiam, manteve um teto sobre suas cabeças e comida em seus
estômagos. Mas nunca houve dinheiro para itens extras, apenas o essencial. O relógio de ouro
parecia tão bonito.
Swindler empurrou os pensamentos escuros de volta para o canto escuro onde eles pertenciam.
Pensar sobre eles só servia para distrai-lo de seu propósito. Além disso, a água tinha esfriado. Era
hora de se concentrar em outras coisas. Esfregou-se rapidamente. Saiu da banheira, esgotado, pôs as
calças. Não viu necessidade de colocar mais nada. Eleanor tinha certamente voltado para a cama
agora.
Depois de arrumar o quarto de banho, pegou uma lamparina e andou pela casa, certificando-se de
que não havia lamparinas acesas. Então subiu as escadas para seu quarto.
Colocou a lamparina sobre a mesa de cabeceira. Tirando a roupa, se arrastou para a cama, apagou
a chama, e se acomodou. A fragrância de rosas de Emma o rodeava. Ele tentou não pensar dela
aninhada nesta mesma cama.
Concentrou-se na janela, com as cortinas afastadas. Os relâmpagos brilhavam e pensou nos fogos
de artifício que tinham visto em Londres, no beijo...
Cada maldita coisa o lembrava de Emma, do quanto ele gostou de tê-la em sua vida. Cada maldita
coisa lembrou que ela não era mais uma parte feliz de sua vida, agora era uma suspeita. Mais do que
isso, era aquela que tinha de prender.
Eleanor podia ter executado o plano, mas Emma tinha desempenhado seu papel na morte de
Rockberry. Por mais que quisesse, não poderia ignorá-lo. Esteve com ele, não podia ignorar que ela
não tivesse confiado nele, o havia usado, o tinha traído.
Era tão fácil esquecer todos os erros quando estava olhando para ela, estudando-a, quando estava
perto o suficiente para tocá-la. Era também impossível saber o quanto do seu verdadeiro eu revelara
para ele em Londres. Ela o enganara uma vez. E ele não tinha a intenção de cair em sua armadilha
novamente.
James despertou para ver o céu carregado. A chuva tinha parado. O sol estava se esforçando para
brilhar através das nuvens cinzentas que permaneceram. A casa estava incrivelmente silenciosa.
Emma tinha razão. Nunca houve tanto silêncio em Londres.
Abruptamente se sentou. Talvez estivesse tão quieto porque elas tivessem fugido. Saiu da cama
rapidamente, vestiu-se e correu escada abaixo. Ouviu atividade na cozinha. Quando chegou lá, viu
apenas Eleanor sovando a massa de pão.
— Onde ela está? Eleanor olhou para ele.
— Bom dia para você também, senhor.
— Onde diabos está Emma?
Enxugando as mãos no avental, Eleanor passou por ele.
— Venha comigo. — Ela levou-o a porta do fundo, abriu-a e saiu. — Siga esse caminho que ele
o levará a...
— Para a enseada.
— Sim.
Ele caminhou ao longo da borda da trilha de terra, onde a grama tornava a passagem menos
barrenta. Poças abundavam. Em um ponto ele considerou tirar as botas, em seguida, decidiu ficar
com elas, mais tarde as limparia, pelo menos, ocuparia suas mãos no final do dia.
O caminho acabou o levando para baixo e em uma área onde as águas criavam uma piscina. Um
pequeno fogo ardia nas proximidades. Mas o que chamou sua atenção foram os braços nus delgados
que cortavam através da água.
Emma era pura beleza e graça. Ela girou sobre as costas, chutando seus pés. Ele não sabia como
conseguia se manter à tona. Usava pouco mais do que uma camisa que se agarrava ao corpo. Podia
ver o contorno de seus mamilos tensos e a sombra entre as coxas. Estava bem familiarizado com a
visão de seu corpo. Embora soubesse que deveria desviar o olhar, não conseguia. Lembrou-se do
sabor, da textura, da visão que agora estava mal-escondida.
Mas o que mais o maravilhou foi seu rosto em repouso. Não sabia se já a tinha visto com
absolutamente nenhuma preocupação.
Com um impulso, ela de repente se endireitou e começou a nadar em direção à praia. Quando
estava perto o suficiente, se ergueu. Segurando seu olhar recatadamente, ela avançou em direção a
ele, até que finalmente deixou a água. Pegando um cobertor que ele nem sequer notara, ela
envolveu-o em torno de si e sentou-se ao lado do fogo.
Só então ele percebe que seus lábios estavam azuis e que estava tremendo incontrolavelmente.
— Meu Deus, o que você fez? — Ele perguntou enquanto se aproximava e a abraçava puxando-a
contra seu peito, esfregando os braços. — Você está tentando se matar?
— Eu tenho nadado na piscina durante anos. Faz-me saudável.
Ele continuou a segurá-la até que seus dentes pararam de bater, então simplesmente aconchegou-
a em seus braços. Ela se inclinou para ele.
— Eu não queria trair você. — ela sussurrou com voz rouca. Contra sua vontade, seus braços
apertaram ao redor dela.
— Mil vezes eu desejei que nosso pai me tivesse enviado primeiro e que tivesse conhecido você
no verão passado, quando eu ainda estava cheia de inocência e só conhecia a felicidade. Houve
momentos, quando estava com você, que eu conseguia esquecer de Eleanor enquanto nós
passeávamos juntos por Londres. Depois me sentia culpada por não me concentrar em vingar
Elisabeth. Desde aquela tarde, quando você se aproximou de mim no Hyde Park, tudo se tornou
muito mais complicado. Eu não queria gostar de você, mas você fez com que esse desejo se tornasse
impossível.
Ele estava ciente de seu tremor, mas sabia que tinha pouco a ver com o frio.
Ela estava chorando. Ouviu-o na borda áspera de sua voz.
— Depois da noite passada... em Londres... com você e quando retornei para a pensão, rezei para
que Eleanor não possuísse força suficiente para acabar com ele. Ia dizer a ela para confiar em você.
Que eu confiava. Que eu achava que você faria justiça se soubesse a verdade. Mas era tarde demais.
— Por que você não veio até mim depois? — Ele disse com os dentes cerrados. Era torturante
saber como ela sofreu, ouvi-la falar de seu tempo juntos, mas ela o havia abandonado. Ele não podia
ignorar isso. — Por que não me contou a verdade, então? Por que não confiou em mim para
protegê-la?
Ela virou-se em seus braços e tocou seu rosto.
— Você é tão orgulhoso. Como conseguiria não me odiar pelo que fiz? Como não poderia
pensar que cada palavra pronunciada, cada toque, cada beijo, eram simplesmente ferramentas para
seduzi-lo a fazer o meu jogo?
— Como você pôde simplesmente se afastar depois de tudo o que estava acontecendo entre nós?
— Porque eu não podia suportar a ideia de vê-lo decepcionado. Não queria ver a repulsa em seus
olhos quando percebesse o que tinha feito. E estava preocupada com Eleanor. Parece tão forte, mas
eu podia ver que ela ficou arrasada com o que tinha conseguido fazer.
Ele desejava acreditar nela, queria perdoá-la. Queria que tivessem de alguma forma ter
conseguido capturar isso na noite passada, mas ele sabia que tinha passado o momento.
— Você vai nos levar de volta a Londres, não é? — Ela perguntou.
— Não tenho escolha.
Ela deu um aceno de cabeça firme.
— Acho que a tempestade não passou completamente. Provavelmente ainda teremos um pouco
mais de chuva.
— Nós partiremos quando terminar o diário.
Passando o cobertor mais firmemente em torno de si mesma, ela saiu do seu abraço.
— Devo ir para casa agora, vestir roupas secas.
— Eu vou ficar e apagar o fogo. Ela deu um sorriso trêmulo.
— Há tanta coisa que quero te dizer, mas não estou certa de que você acreditaria. Pode pensar
que estou tentando convencê-lo a não cumprir com seu dever, mas não estou.
— Então não diga. — Viu dor nos olhos dela, mas naquele momento ele estava lutando com
seus próprios demônios, incerto de que poderia confiar em si mesmo para fazer a coisa certa.
Ela levantou-se graciosamente e caminhou para longe da enseada. Sentou-se ao lado da fogueira e
olhou para o mar. Ela estava errada. Nunca estaria completamente silencioso ali. Ele podia ouvir as
ondas golpeando os penhascos, a água deslizando até a enseada, espirrando contra a praia. Mas era
rítmica e pacífica. Fazia um homem desejar pensar.
No entanto, tudo o que podia pensar era que não restava boas opções.
Capítulo Dezessete

Emma estava certa em relação ao tempo. O vento apareceu no fim da tarde e a chuva começou a
cair. Eles estavam fechados na casa. Após o jantar, os três se retiraram para a saleta da frente, as
damas com seus bordados e Swindler com o diário.
Embora ele estivesse lendo as palavras de Elisabeth, podia ver claramente Emma em cada uma
delas. Recolhendo conchas, alimentando as gaivotas. E viu coisas que não foram escritas. Imaginou-
a correr descalça para cumprimentar seu pai quando voltava da cidade. Podia vê-la perseguindo
galinhas e rindo em um balanço.
— Como você foi trabalhar para Scotland Yard, Senhor Swindler? — Eleanor perguntou, nunca
levantando seu olhar do bordado.
— Eu reportava a eles aqueles que cometiam crimes nas espeluncas, dava as descrições aos
policiais para que pudessem prender os infratores.
Seus dedos pararam quando ela ergueu seu olhar para ele.
— Entendo. Então você fazia o trabalho para que as pessoas apropriadas fossem punidas.
— Acredito na justiça, Senhorita Watkins. — Assentindo com a cabeça, ela voltou-se para o
bordado. — Exatamente como você fez isso? — Ele perguntou.
Sua cabeça se ergueu tão rapidamente que ele ouviu seu pescoço estalar.
— Fiz o que?
— Matar Rockberry.
Os olhos de Emma se arregalaram com alarme.
— Não a force a passar por isso novamente.
— Se você não quer ouvir, saia, mas eu tenho perguntas e quero respostas. Emma estendeu a
mão e envolveu a mão de Eleanor.
— Não vou deixar a minha irmã sofrer sozinha.
As entranhas de Swindler se apertaram com o conhecimento de que ela iria alegremente para a
forca com sua irmã, e ao fazê-lo ela o deixaria em paz. Era tão corajosa e temerária quanto sempre
acreditou. Ele voltou sua atenção para Eleanor.
— Você tomou uma taça de vinho com ele.
— Sim. Eu o encontrei quando chegava na residência. Convidou-me para entrar. Disse que eu o
lembrava de Elisabeth, só que mais bonita. Nenhum cavalheiro jamais me disse que eu era bonita
antes. Para minha vergonha eterna, comecei a sucumbir aos seus encantos.
— Mas você não terminou seu vinho.
— Não. Ele me levantou da cadeira e tentou me beijar, ao mesmo tempo dizendo inverdades
horríveis sobre Elisabeth. Eu tinha o punhal e o usei.
— Só uma punhalada.
— Sim.
Ele se confortou pelo fato de que ela não estava se regozijando. Tinha a sensação de que estava
presa entre o remorso por ter tirado uma vida e a satisfação de que o homem que tinha desgraçado
sua irmã já não estava respirando.
— Ele morreu imediatamente?
— Você precisa fazer isso? — Perguntou Emma.
— Está tudo bem, Emma. — disse Eleanor. — Não. Ele se contorceu um pouco e depois ficou
quieto. E eu fui embora.
— Você deveria ter levado o punhal com você.
— Pensei nisso mais tarde, mas eu só queria ir embora. E certamente não queria tocá-lo.
Algo sobre aquele crime o incomodava, algo que não parecia correto a época. Estava certo de que
chegaria a isto.
— Se você tivesse que fazer... — ele começou.
— Eu faria de novo. — ela disse sucintamente. — Termine de ler o diário, Senhor Swindler. É
bem possível que você venha a desejar ter tido a oportunidade de usar um punhal nele.
Ele voltou à sua leitura. Em vez de voltarem aos seus bordados, as damas foram preparar-se para
dormir. Baseado nos sons que ouviu percorrendo o corredor, ele só podia assumir que nesses
preparativos estavam incluídos banho.
Como poderia concentrar-se nas palavras quando sua mente estava de repente cheia de imagens
de Emma mergulhada na banheira, gotas de água rolando sobre sua pele? Deus o ajudasse, queria
juntar-se a ela, banhá-la, secá-la, segurá-la.
Ele lutou para limpar sua mente de tudo, exceto do diário. Cada página pintava um retrato de
uma menina se tornando mulher com sonhos de encontrar o amor, de formar uma família, de ser
feliz. Havia inocência em suas descrições, alegria pela vida, e emoção aguardando cada dia. Elisabeth
Watkins tinha sido pura doçura.
Ela tinha sido muito parecida com Emma.
Muito tempo depois de as damas ir para a cama e a casa estar tranquila, exceto pela tempestade lá
fora, Swindler preparou outro banho para si mesmo. Não era incomum para ele tomar banho várias
vezes por semana.
Pensou nas mãos de Eleanor. Algumas coisas, não importa quantas vezes ou quão duramente
você limpe, estavam sempre lá, logo abaixo da superfície esperando para surgir.
Seguindo o ritual que tinha começado na noite anterior, ele pegou uma lamparina e saiu pela casa
antes de subir as escadas para o quarto.
Ele sabia que Emma estava lá no momento em que abriu a porta, antes mesmo que tivesse
entrado totalmente no interior e a luz iluminasse o quarto. Tinha detectado a presença de rosas
como se as pétalas tivessem se soltado, não um cheiro persistente, mas fluido e forte. Seu estômago
apertado com a fragrância inebriante encheu suas narinas.
Girando em sua direção, ele encontrou-a de pé junto à janela, vestida em uma camisola, cabelo
pálido solto, convidando seus dedos a penteá-los. Imaginou que se não houvesse tempestade, ela
estaria delineada pelo luar, mas o vento e a chuva continuavam lá fora.
— Quanto tempo estas tempestades costumam durar? — Ele perguntou em voz baixa.
— Nós nunca conseguimos prever as tempestades. Feche a porta.
Se fosse um cavalheiro, teria deixado aberta. Em vez disso, ele fechou-a, o clique dela
bloqueando-os do resto do mundo reverberou pelo quarto como uma bala disparada de uma pistola.
Com dois passos, ele colocou a lamparina sobre a mesinha ao lado da cama. Com mais quatro ele se
juntou a ela na janela e embalou seu rosto.
— Emma.
— Como você sabe que eu não sou Eleanor? — Ela sussurrou.
— Porque não é Eleanor que possui o meu coração. — Ele ouviu um pequeno suspiro, viu seus
olhos se arregalarem e se encherem de lágrimas. — Droga, Emma, por que não confiou em mim, em
Londres.
Raiva e frustração o levou a puxá-la para seus braços e fechar sua boca na dela. Algo mais forte
do que carinho, algo que ele não queria realmente reconhecer ou dar nome, obrigou-o a gentilmente
tomar sua boca. Ela tinha tomado posse de seu coração lentamente, com sorrisos e gargalhadas e um
toque de inocência, como ele nunca tinha experimentado.
Ele soube então que era diferente de qualquer outra mulher que conhecera. Ela o intrigava.
Mesmo se não tivesse sido condenado a segui-la, a teria perseguido até os confins da terra se fosse
necessário. Ele poderia reivindicar tudo o que desejasse para procurar incansavelmente por ela, a fim
de trazê-la à justiça, mas a verdade era que ele estava obcecado em encontrá-la, porque estava
obcecado por ela.
Depois que tinha estado em seu apartamento, de repente se tornou incrivelmente solitário sem a
presença dela lá. Assim que se tornou parte de seus dias e noites, sua vida não parecia valer a pena
ser vivida sem ela.
Avidamente ele arrastou a boca sobre o queixo e ao longo do pescoço dela até que alcançou a
doce concha de sua orelha.
— Vá agora a menos que você queira acabar na minha cama. — Sua voz era dura, sua respiração
irregular, seu corpo esticando além da resistência de reclamá-la de novo, para enchê-la, para ser
cercado por ela.
— Está é minha cama. — disse ela com voz trêmula, e ele ouviu a mesma necessidade crua na voz
dela que estremeceu através da sua.
Ele riu, nunca tinha esperado rir de novo, desfez-se um pouco da tensão nele quando se abaixou
e levantou-a em seus braços.
— Então, permita-me levá-la para sua cama.
Enquanto acariciava seus dedos sobre os ombros nus dele, enquanto sua boca voltava para a dela,
enquanto seus passos longos levavam-na para a cama, Emma sentia a alegria crescer através dela
achando que nunca sentiria isso novamente. Ela esperou até que Eleanor adormecesse antes de sair
da cama e vir até ele. Estava esperando nervosamente por sua chegada. Uma dúzia de vezes pensou
em voltar para o quarto de Eleanor, mas se sua vida estava acabada e fosse deportada para o outro
lado do mundo, onde ela nunca veria novamente James, então queria ser dele novamente, e por isso
esperou impacientemente, antecipando o prazer.
E não se decepcionou quando ele entrou pela porta de peito nu e másculo, maior que a vida,
arrojado e confiante. Ele era tudo o que ela não era. Nunca duvidava do que queria. Jamais
questionava suas próprias ações. Ela tinha visto isso na maneira graciosa em que ele se movia pelo
quarto, a percepção do fogo nos olhos dele quando ele se aproximou.
Seu coração quase explodiu com uma esmagadora gratidão quando ele murmurou o nome dela
como se entendesse o quanto ela precisava ouvir seu nome nos lábios dele naquele exato momento.
Cada momento passado com ele em Londres tinha sido agridoce, sua voz sussurrando o nome da
irmã foi doloroso de ouvir. Sua decepção aumentando sua miséria. Em Londres, ela se disfarçava de
Eleanor.
Aqui, pela primeira vez, sem sombra de mentira entre eles. Era o seu nome que ele sussurrou.
Agora dentro de seu quarto a honestidade reinava. Ele era dela e ela era dele, completa e
absolutamente. Independentemente do que o amanhã ou o dia seguinte pudesse trazer, esta noite
seria tão simples e tão deslumbrante como qualquer um deles poderia fazê-lo.
Sem retirar a boca da dela, ele baixou seus pés para o tapete estampado ao lado da cama. Ela
pensou que deveria se afastar, deveria remover seu vestido, mas parecia incapaz de parar de correr as
mãos sobre seu peito nu, ombros e braços. Os músculos dele tremeram em antecipação. Ela fazia
isto com ele, tinha poder sobre ele. Observou o rosto dele enquanto seu olhar seguia os movimentos
dos dedos enquanto eles rapidamente libertavam um botão após o outro em sua camisola,
afastando-a de seu corpo. Enquanto isso, sob os dedos, ela sentiu os músculos crescerem tensos,
podia sentir, bem como podia ouvir a respiração dele se tornando mais irregular.
Suas mãos deslizaram dentro da camisola dela, passando por suas costelas, os polegares
sedutoramente roçando a parte inferior dos seios. Um passo à frente, ele colocou a boca aberta em
seu pescoço onde o pulso dela se agitava freneticamente. Apreciou o calor de sua língua rodando
sobre sua carne enquanto ele afastava de lado o tecido até que alcançou seu seio e fechou a boca
sobre ele. Erguendo-se na ponta dos pés, envolvendo os braços ao redor dele, ela apertou a parte
inferior do corpo em direção ao dele, enquanto arqueava as costas, perdida nas sensações que ele
conseguiu trazer à tona com aparentemente tão pouco esforço.
Ele lentamente moveu a boca pelo vale entre seus seios antes de dar a mesma atenção para o
outro. Seu grunhido baixo e gutural ecoou entre eles, e ela gemeu em resposta, antes de se endireitar.
Ele levantou a cabeça e seus olhos capturaram os dela. Com apenas o fogo baixo na lamparina para
fornecer luz, o verde sumiu, mas não o desejo intenso dentro de suas profundezas. Ela passou as
mãos pelo seu peito, sentiu os músculos do estômago tremerem em antecipação enquanto seus
dedos deslizaram sobre eles até que ela alcançou suas calças. Os olhos dele escureceram e os
músculos de seu rosto ficaram tensos. Muito lentamente, atormentando a ambos, ela libertou um
botão. Observou os olhos dele se fecharem, os músculos da garganta se contraírem. Quando ele
abriu os olhos, ela podia ver a tensão testar sua paciência.
— Emma. — ele murmurou, — pelo amor de Deus. Se mova um pouco mais rapidamente. Você
está me torturando.
— Diga meu nome novamente.
— Emma.
Ela libertou um botão.
— Emma. Outra vez.
— Querida e doce Emma.
O último botão soltou-se assim como seu tormento. Ela envolveu seus dedos ao redor do calor
aveludado. Com um gemido baixo, ele puxou seu rosto e trouxe sua boca de volta para a dele,
beijando-a com uma ferocidade que combinava com a tempestade batendo contra o chalé. Ela mal
tinha consciência deles descartando o que restava de suas roupas antes de cair juntos na cama.
Com suas mãos e bocas, eles se tocaram, se exploraram, aprenderam de novo o que tinham
descoberto, em Londres.
Swindler percebeu que ela tinha perdido mais peso do que pensava, quando espalmou seus seios.
Quando ele a abraçou, tinha sido capaz de sentir cada costela. Observou outras mudanças: quadris
mais estreitos, mais osso em locais onde deveria ter mais carne. Mas nada reprimiu seu esmagador
desejo por ela. Seu corpo o encantava porque era ela. Mas seu recurso favorito continuava a ser seus
olhos, a maneira pela qual eles vagavam sobre ele, inicialmente com timidez, em seguida, ganhando
coragem se sentindo mais confortável com sua nudez. Ele se perguntou se seria sempre assim entre
eles. Alguns batimentos cardíacos de hesitação antes que se perdesse no prazer que poderiam dar um
ao outro.
Nenhuma mulher em sua história poderia se comparar a ela. Nenhuma mulher em seu futuro
poderia substituí-la. Ela era o que ele queria agora, neste momento e no próximo, e aqueles que se
seguiria até o fim de suas vidas. Ele tornaria isso possível, por Deus. Iria mantê-la com ele. Não
sabia como. Mentiria, enganaria, roubaria. Se necessário, mataria. Havia confessado que ela possuía
seu coração. Ele ainda precisava dizer que ela possuía sua alma.
Tinha enganado a si mesmo quando começou aquela jornada acreditando que procurava justiça.
O tempo todo o que ele buscava era ela. Agora que a tinha encontrado de novo, iria matá-lo desistir
dela. Iria encontrar uma maneira de salvá-la nem que fosse a última coisa que fizesse.
Mas, por enquanto tudo o que desejava era saborear a doçura de sua boca e carne. Tudo que ele
queria era sentir seu prazer desenfreado. Tudo o que ansiava era possuí-la e viajar com ela para o
reino da paixão.
Ela gemeu e suspirou com cada deslize de suas mãos, cada golpe de sua língua, cada pressão em
seus lábios. Pairando sobre sua forma delicada, ele devia se sentir como um grande idiota, mas ela
tinha a capacidade de fazê-lo sentir-se poderoso, sem a habitual intimidação que o acompanhava. Ela
possuía sua própria força, sua própria determinação. Por Deus, havia viajado para uma cidade
estranha repleta de desconhecidos, a fim de buscar vingança pela morte de sua irmã, e não pediu
ajuda a ninguém além de uma irmã que compartilhava o mesmo propósito. Elas compartilharam sua
crença na justiça. Em muitos níveis era igual a ele, em alguns aspectos, era melhor, de forma alguma
ela era menos.
Mas aqui, debaixo dos lençóis, foi onde eles foram mais felizes. Ele lutou contra o medo distante
que, apesar de seus melhores esforços, perderia isso, iria perdê-la. Juntou a boca na dela, beijando-a
profundamente, avidamente, como se fosse o primeiro beijo, como se fosse o último. Postou-se
entre suas coxas, deslizou a mão debaixo dela e levantou seus quadris. Com um longo e seguro golpe
ele enterrou-se em seu abrigo os unindo até o punho.
Um estremecimento de prazer absoluto percorreu-o enquanto soltava um grunhido baixo,
arrancou sua boca da dela e enterrou o rosto na curva de seu ombro. Se ele se mexesse,
provavelmente derramaria sua semente antes que ela alcançasse sua própria satisfação.
Ela apertou seu corpo em torno dele, e ele gemeu.
— Você é uma bruxa.
— Eu amo isto, amo a maneira como se sente quando estamos ligados como agora.
Engolindo em seco, levantou a cabeça e olhou para ela, viu a admiração nos olhos dela, porque
apesar de tudo ele ainda queria.
— Emma, como eu poderia não a querer?
Emma sentiu as lágrimas surgirem nos olhos porque ele sabia, sabia, as dúvidas que a
atormentavam, as perguntas que a bombardeavam. Ele respondeu sem ela dar voz, como se
estivessem ligados por algo que ia além da carne, além dos corações. Como se suas almas se
pertencessem.
Quando ele começou a balançar-se contra ela, falou o nome dela. Continha uma riqueza que não
tinha notado antes. Adorou o som de seu nome vindo dos lábios dele. O nome dela. Emma.
Era ela que ele possuía, ela que ele tocava, nela que ele se mexia. Os movimentos dele se
tornaram mais frenéticos e seu corpo reagiu, encontrando seus golpes, construindo a pressão para
liberação. Sua pele, seus músculos, apertados e enrolados.
Abrindo os olhos, ela se perdeu no seu olhar. Correu os dedos pelos cabelos, os ombros, as
costas dele. Ela sentiu os músculos esticados pelo esforço. Suor dos seus esforços escorriam em suas
peles.
— Emma. — ele disse com os dentes cerrados quando o auge do prazer o embalou, embalou-a.
Ela emitiu um pequeno grito, antes de sua boca cobrir a dela e absorver o som. Ela tremia, na
esteira do cataclismo, sentiu os tremores ondulantes através dele.
Ele desmoronou para o lado, puxou seu corpo contra o dele, passou uma de suas pernas sobre
seu quadril. Ainda unidos, eles se encararam, respirando pesadamente, encharcados de suor.
Inclinando-se, ele trouxe o lençol e um cobertor por cima deles para afastar o frio, para criar um
casulo de calor, enquanto seus corpos se deleitavam com a letargia.
Gentilmente, segurando seu olhar, ele espalmou sua bochecha e acariciou seu polegar em um
círculo em seu rosto. Ela moveu os dedos sobre suas costas. Lentamente, sua respiração se acalmou,
estabeleceu-se, não mais difícil, não mais bloqueando o tamborilar da chuva batendo no telhado.
Mesmo quando ela ficou sonolenta, teve que encarar a verdade.
Tinha sido um erro vir aqui, para tê-lo novamente e, em seguida, alegremente enfrentar o que o
futuro reservava a ela.
— Não pense no amanhã. — disse ele calmamente.
— Como é que você sempre sabe o que está em minha mente?
Ele não respondeu com palavras. Simplesmente deu um sorriso terno e um beijo em sua testa
antes de voltar a posicionar-se para que ele pudesse vê-la mais claramente.
— Contei a você sobre o relógio que eu roubei. — disse ele.
Ela assentiu com a cabeça, querendo advertir que agora não era o momento para remorso,
mesmo que ela quisesse que ele desabafasse suas mágoas. Enquanto ela era capaz, iria fornecer a
força que possuía.
— A ironia é que roubei aquilo porque meu pai não tinha um. Era seu aniversário.
Ela o viu piscar os olhos. Que esta recordação pudesse levar este homem grande e forte às
lágrimas rasgou o coração dela.
— Oh, James.
Ele balançou a cabeça como que para afastar seus pensamentos sombrios.
— Eu contei essa história só para que você entendesse como a justiça é importante para mim.
Era um maldito relógio. Um valor que não era maior que a vida do meu pai. Um ano de prisão,
talvez, algumas chibatadas, mas não sua vida. E a vida de Rockberry não vale a sua. Eu não vou
deixar você..., — ele tocou os lábios com o polegar — ou Eleanor sejam enforcadas.
— Você não pode controlar os tribunais.
— Não subestime minha influência. Não estou dizendo que você não terá que prestar conta de
suas ações, mas juro que não a verei sendo enforcada.
Ela lutou para dar um sorriso tranquilizador. Queria acreditar nele. Realmente queria. Mas ele não
era Deus. Não era rei. Ele não era da nobreza. Era um inspetor da Scotland Yard. O filho de um
homem que tinha sido enforcado por roubo, independentemente da sua inocência.
Ele era simplesmente um homem, mesmo que fosse o homem que ela amava.
Capítulo Dezoito

Quando Emma acordou, seu primeiro pensamento foi que tinha dormido, surpreendentemente
bem, um sono profundo e sem sonhos. Seu segundo pensamento era que estava só na cama, mas
não sozinha no quarto. Ela sentiu sua presença antes que o localizasse sentado em uma cadeira perto
da janela, a lamparina nas proximidades fornecendo luz suficiente para ler o diário em seu colo.
Embora apenas o perfil dele fosse visível, ela poderia detectar o sulco profundo em sua testa
enquanto ele absorvia os relatos de sua irmã, de sua vida e tempo em Londres. Com o cotovelo
pousado no braço da cadeira, proporcionando apoio, ele segurava o queixo e com o dedo indicador
acariciava logo abaixo do lábio inferior, um lábio que ela tinha um desejo urgente de mordiscar.
Além da janela o escuro da noite ainda pairava. A tempestade continuava, a chuva tamborilava
suavemente, o vento ecoava num gemido silencioso.
Emma estudou James enquanto ele lia. Ele tinha colocado a calça. Que pena. Ela nunca se
considerou uma mulher que preferisse um homem em toda a sua gloriosa nudez, mas James era
realmente um belo espécime masculino. A fazia se sentir pequena, mas forte. Tinha poder sobre ele.
Desejava-a. Não pode parar o pequeno sorriso se formando. Ele conseguia distingui-la de Eleanor,
coisa que ninguém nunca tinha sido capaz. Supôs que fosse estranho sentir prazer com essa
descoberta, mas isso fazia com que se sentisse especial. Toda a sua vida todas as três irmãs haviam
lutado para serem vistas como indivíduos. As pessoas pensavam que elas deviam usar as mesmas
roupas, que deviam se esforçar para serem idênticas, mas cada uma delas possuía suas peculiaridades,
suas pequenas diferenças, e em alguns casos, grandes. Eleanor era teimosa, se alterava rapidamente,
imediatista. Emma analisava demais. Elisabeth aventureira. Foi esta a razão de seu pai ter decidido
que ela seria a primeira a enfrentar Londres. Que catástrofe que tinha sido!
No entanto, isto pôs em prática uma série de eventos por meio do qual ela conheceu James. Se
não fosse pelo fato que tinha custado a vida de Elisabeth, poderia ter sido grata. Culpa, uma pequena
parte dela estava feliz por James, mas o preço tinha sido muito caro.
Como se subitamente consciente de seus pensamentos, James colocou o diário de lado, levantou-
se e caminhou em direção à cama, tirou as calças enquanto se aproximava, revelando toda a sua
glória masculina. O sorriso que ele concedeu a ela quando deslizou na cama ao seu lado fez seu
coração tropeçar.
— Eu pensei que você nunca fosse acordar, — ele rosnou, antes de levá-la em seus braços,
fazendo-a corresponder aos seus carinhos.
15 de junho de 1851
Esta noite, a prima Gertrude me acompanhou até meu primeiro baile. Não sei muito bem como ela está
relacionada na Sociedade Londrina, mas eu diria que meu pai poderia ter me dado uma melhor introdução na
Sociedade da que ela fez. Não desejo menosprezar seus esforços, mas posso jurar que ela não conhece uma alma que
tenha qualquer importância. Como conseguiu atrair Lady Chesney para nos convidar está além de meu entendimento.
Mas os convites foram enviados, então aceitamos. Passei a primeira hora sentada ao lado da prima, enquanto os
cavalheiros me olhavam de longe, não tinham certeza do que fazer comigo, tenho certeza.
Finalmente, na segunda hora, nossa anfitriã apresentou-me ao Senhor Samuel Bentley que pediu a honra de uma
dança. Ele não era o tipo de virar a cabeça, mas muitas cabeças se viraram quando me levou para a pista de dança.
Ele era o quarto filho de um visconde, desesperado o suficiente para conseguir fundos perguntou-me imediatamente qual
o tipo de dote que meu pai estava me concedendo. Riu da quantia, então pediu desculpas por sua grosseria. Ele me
assegurou que eu teria tempo de garantir um marido.
Não duvidei de suas palavras enquanto passava mais uma hora me familiarizando com minha cadeira. Para
minha vergonha, até amaldiçoei nosso pai por ter me enviado a Londres. Eu estava preparada para flertes e exalava
confiança. A verdade era que não passava de uma moça do interior circulando em um lugar estranho, cheio de
sofisticação e confiança sem restrições.
Supliquei à prima que nos permitisse partir, mas ela não quis saber disso. Suspeitei que ela estivesse encantada
com aquela alegria, que era tão nova para ela quanto para mim.
E então ele se aproximou. Eu nunca tinha visto um homem tão bonito, um homem tão encantador. O Marquês de
Rockberry. Ele me levou para uma valsa, e a noite mais chata da minha vida de repente se tornou a mais memorável,
em um piscar de olhos.
17 de junho de 1851
Mal posso segurar corretamente a minha caneta para escrever de forma legível. Meus dedos, toda a minha pessoa,
estão tremendo de tanta excitação. Lorde Rockberry me visitou hoje. Trouxe-me uma dúzia de rosas e uma caixa de
chocolates. Prima Gertrudes foi surpreendida por sua generosidade. Ela me garante que ele é um dos senhores mais
respeitados de Londres e que está em posição para selecionar sua esposa sem considerar seu dote. Eu não poderia estar
mais feliz, dessa forma havia esperança de fazer um bom casamento e ser capaz de fornecer os meios para as minhas
irmãs terem suas próprias Temporadas e assegurarem as suas próprias felicidades.
21 de junho de 1851
Lorde Rockberry visitou-me novamente. Levou-me para um passeio em sua carruagem aberta. Prima Gertrudes
nos acompanhou. Uma vez que chegamos ao Regent Park, desembarcou para que fossemos caminhar, ter um pouco de
privacidade e falar sem que a prima ouvisse cada palavra. Lorde Rockberry está à procura de uma esposa com um
espírito aventureiro e acredita que eu poderia atendê-lo. Ele provocou-me dizendo que desejava testar sua teoria. Sem a
prima saber fazer planos de nos encontrar à meia-noite do dia seguinte. Estou sem fôlego em antecipação.
01 de julho de 1851
Lorde Rockberry voltou. Eu disse à prima Gertrudes para informá-lo que estava doente.
05 de julho de 1851
Lorde Rockberry visitou-me novamente. Ainda estou na cama.
10 de julho de 1851
Pedi à prima Gertrudes para fazer os arranjos para que eu pudesse voltar para casa.
15 de julho de 1851
Estou em casa.
20 de julho de 1851
Eu posso ver a preocupação nos olhos das minhas irmãs, especialmente Emma. Ela sempre foi a mais sensível.
Falhei com a minha família. Não sei quanto tempo mais posso viver com a vergonha do que aconteceu durante aquela
noite de “aventura” com Lorde Rockberry.
05 de agosto de 1851
Eu não tenho nenhuma vontade de comer.
08 de agosto de 1851
Eu não tenho nenhuma vontade de respirar.
20 de agosto de 1851
Fui até a beira do penhasco hoje. Quão fácil seria simplesmente dar um passo para o nada. Mas iria quebrar os
corações de minha família e por isso devo continuar.
01 de setembro de 1851
Os penhascos estão me chamando novamente. Eu não sei quanto tempo mais posso resistir à paz que eles oferecem.
Mas sei que não posso partir desta terra sem falar da “aventura”, como Lorde Rockberry tão alegremente nomeou.
Talvez ao fazê-lo, encontre a paz que procuro.
À meia-noite eu me esgueirei para fora da residência da prima Gertrude sem que vissem. No beco, Lorde
Rockberry me beijou rapidamente e me guiou até sua carruagem. Excitação zumbia através de mim. Ele sussurrou
palavras para fazer-me sentir bonita, desejada. Explicou que era um discípulo de Eros, o deus do desejo sexual. Que
era membro de uma sociedade secreta que iniciava as mulheres na arte do amor. Que num belo ritual me reivindicaria
como sua. Seduziu-me com suas palavras, seus beijos. No caminho, ele me dava vinho. Suspeito agora que havia algo
nele para me desorientar. Não me lembro. Ele certamente não agiu sozinho.
Chegamos a uma residência. No interior, duas senhoras me levaram e começaram a me preparar. Tiraram minhas
roupas. Filigrana4 de prata bonita circulava seus pescoços. Cobriram-me com uma seda macia e explicaram o que seria
exigido de mim. Eu queria protestar, mas minha boca parecia incapaz de formar palavras coerentes. Minha vontade
não era mais minha.
Eles me levaram para uma sala escura onde a única luz vinha de velas tremeluzentes. Travesseiros estavam
empilhados em todos os lugares. Havia outras mulheres nuas vestindo a mesma prata em suas gargantas. Homens com
capas vermelhas oscilaram dentro e fora da minha visão como as duas senhoras escoltando-me até Lorde Rockberry.
Ouvi sons, um canto.
As senhoras tiraram minha seda. Estava diante dele totalmente exposta. Eu sabia que deveria estar
envergonhada, mas estava alheia aos acontecimentos. O mundo desapareceu. Ele me pediu para ajoelhar-me diante
dele. Quando o fiz, ele colocou a prata em volta do meu pescoço e me disse que eu era agora uma nova irmã da
luxúria. Colocou-me em cima de um monte de travesseiros e me tomou.
Houve aplausos e risos ecoando em torno de mim mesmo quando eu tentei afastá-lo. A dor era indescritível, a
intimidade bárbara. A sala explodiu em loucura, caos, enquanto os outros, homens e mulheres, me tomaram. Lembro-
me tão pouco, exceto a agonia e a humilhação. Pensei que acordaria e descobriria que tudo tinha sido um sonho ruim.
Mas o pesadelo era real. E embora eu tenha voltado para casa, pareço incapaz de escapar dele.
07 de setembro de 1851 Perdoe-me.
Capítulo Dezenove

Quando Swindler acordou, o sol estava atravessando a janela e estava sozinho. Depois que fez
amor com ela pela terceira vez, Emma saiu do quarto enquanto ele permanecia adormecido. Ela
queria ter certeza que estaria na cama de Eleanor antes que a irmã acordasse.
Ele rolou de costas, colocou as mãos atrás da cabeça, fazendo uma careta quando bateu no
ferimento, e olhou para o teto. Acabara de ler o diário nas primeiras horas da manhã. Tinha ouvido
rumores de sociedades secretas que praticavam a depravação, já ouvira dizer que os membros
participavam de orgias, de modo que isso não era novidade para ele. Parecia que Rockberry
procurou trazer um novo elemento, supostamente emocionante para as festividades. Uma inocente.
Uma virgem para ser sacrificada.
O sangue de Swindler fervia quando pensou sobre o que Rockberry tinha feito, as pessoas que ele
prejudicou e a dor que havia causado. Desgraçado, bastardo arrogante. Se já não estivesse morto,
teria estrangulado Rockberry com suas próprias mãos.
Claybourne matou um homem por estuprar Frannie quando tinha doze anos. Swindler tinha
pensado que não veria nada mais vil novamente. Estava errado.
Ele não tinha conhecido Elisabeth antes de ler seu diário, mas lamentava sua morte agora.
A tempestade lá fora havia cessado, mas dentro dele uma tempestade maior estava se formando.
Saiu da cama e foi até a janela. Seu coração quase parou com a visão de Emma na borda do
penhasco. Não sabia como tinha certeza de que era ela. Tudo o que podia ver era suas costas e o
manto esvoaçando atrás dela. O pouco vento remanescente da tempestade brincava com seu cabelo.
Cristo! Certamente ela não estava pensando em seguir Elisabeth até o fundo do mar.
Pegou sua calça e vestiu-a, egoisticamente achava que ela não poderia estar pensando em deixá-lo.
Não depois do que tinham compartilhado na noite passada, depois de fazê-la sorrir, depois de dar
prazer, depois de ela proporcionar a ele o prazer mais intenso jamais experimentado. Sim, o deixou
antes, em Londres, mas agora as coisas eram diferentes. Ela o deixou por causa de sua vergonha e
segredos. O deixou porque pensou que não tinha escolha se quisesse escapar da forca. Agora era
diferente.
Ele agarrou sua camisa, puxando-a sobre a cabeça enquanto corria para fora e descia as escadas,
quase perdendo o equilíbrio e caindo no processo. Tomando um segundo para colocar a camisa, ele
continuou e irrompeu para fora como se sua vida dependesse disso. Ignorou a dor quando seus pés
descalços pisavam nas pequenas pedras e espinhos. Com medo de assustá-la e desequilibra-la, não a
chamou. Quando estava perto o suficiente para ver que ela não estava balançando na borda como
temia inicialmente, diminuiu o passo e lutou para recuperar sua dignidade. Um pouco difícil de fazer
quando seus pés estavam descalços e sua camisa desabotoada.
Ficou surpreso que seus pés batendo contra a terra, a fim de que pudesse alcançá-la rapidamente
não tinha a alertado de sua presença. Ou talvez ela simplesmente não estivesse pronta para enfrentá-
lo. Seja qual for a razão, veio para ficar ao lado dela, ela continuou a olhar para o mar, para a água
branca como nuvem, como se ali buscasse respostas.
— Emma. — disse ele em voz baixa, querendo desesperadamente alcançá-la, puxá-la mais para
trás, retirá-la da borda.
— Às vezes, quando estou aqui eu ouço sua risada.
— De Elisabeth?
Ela assentiu com a cabeça.
— Eu gritei com ela.
— Não é crime gritar.
Ela revirou os olhos para o céu como se procurasse salvação.
— Ela não nos contou o que aconteceu em Londres. Nós só sabíamos que ela voltou para casa
sem perspectivas de casamento. Nosso pai não tinha dinheiro para enviar Eleanor e eu.
Egoisticamente, eu queria ir tão desesperadamente, encontrar um marido e ter filhos, ser esposa e
mãe. Gritei com Elisabeth, disse que ela tinha sido uma decepção para todos nós. Tive a audácia de
dizer que se o nosso pai tivesse enviado a mim, eu teria conseguido um marido que garantisse às
minhas irmãs uma Temporada e seriam bem cuidadas. Eu queria uma Temporada
desesperadamente, estupidamente. Acho que minhas palavras causaram sua...
— Não, Emma. — Os braços dele estavam ao seu redor antes que pensasse em alguma coisa.
Virando-a, ele a puxou para seu corpo, pressionou seu rosto contra o peito. — Eu li o diário dela.
Nada do que você disse causou sua morte. Rockberry é o único culpado aqui.
Ela inclinou a cabeça para trás para olhar para ele, sua delicada testa franzida.
— Se eu tivesse sido uma irmã melhor...
Ele tocou seus lábios com o dedo antes que ela pudesse terminar.
— Você não deve pensar dessa forma. Se eu tivesse sido um filho melhor... você vê? Isso não
pode ser deduzido.
Apesar de ter passado uns bons anos querendo saber quão diferente as coisas poderiam ter sido
se não tivesse roubado o relógio, se ele tivesse sido um filho melhor. Só agora, enquanto a mantinha
perto, tentando aliviar sua dor, percebeu como ele próprio se sentia com a morte de seu pai. Culpa e
remorso tinham roubado a alegria de sua vida. Esta mulher devolveu tudo a ele. Machucava seu
coração vê-la sofrer assim, com a culpa e remorso.
— Quando li as palavras de Elisabeth, o que aconteceu com ela, no começo eu não podia
acreditar. — disse Emma. — Pensei que com certeza eram boatos ou rumores sobre essas coisas
acontecendo em Londres. Chorei quando finalmente enfrentei a realidade deles. Como é que alguém
na posição de Lorde Rockberry poderia ser tão vil? Ele brincou com ela. Arrasou seu coração,
arrasou seu espírito, e no final destruiu seu corpo.
— Eu conheço pessoas de todas as esferas, do mendigo na esquina até aqueles que comeram na
presença da rainha. Em todos os níveis, vi pessoas se comportarem de maneira que reviraram meu
estômago. Mas em todos os níveis, também vi pessoas dignas de admiração. Feagan era um ladrão,
me acolheu, me ensinou a ser um ladrão. Eu teria morrido por ele. Claybourne, tem sangue em suas
mãos. O admiro mais do que qualquer pessoa. Mesmo Jack Dodger, patife como é, tira os meninos
das ruas e dá emprego, os mantém fora de problemas. A Sociedade é composta por bons e maus,
Emma. Você não pode julgar qualquer parte dela com base em alguns.
Ela deu um sorriso suave.
— Eu acho que você teria gostado de Elisabeth.
— Sei que teria. — ele beliscou seu nariz. — Mas não mais do que eu gosto de você. — Ela
lançou um pequeno sorriso, e tudo dentro dele finalmente relaxou. — Podemos sair da borda agora?
Seu sorriso cresceu.
— Você não gosta de penhascos?
— Eu não gosto de estar tão perto deles.
— São perfeitamente seguros. — A tristeza de repente contorceu suas feições. — A menos que
você não queira que sejam.
Ele não poderia pedir a ela para não pensar em sua irmã, especialmente porque havia assuntos
inacabados, mas ele suspeitou que pudesse distrair Emma por um tempo, especialmente porque já
tinha se passado muito tempo sem beijá-la. Mesmo quando tomou sua boca, mesmo quando ela a
ofereceu, ele estava grato que ela não fosse a pessoa que tinha ido para Londres na última
Temporada para garantir um marido e um futuro para suas irmãs. O pensamento de Rockberry tocar
ao menos um fio de cabelo dela fez seu sangue ferver. Parecia que Emma não era a única capaz de
parar de pensar em sua irmã.
Foi só quando ela pousou os pés sobre os seus, a fim de conseguir um pouco mais de altura, foi
que ele percebeu que ela, também, estava descalça. Como era possível que algo tão simples e
pequeno como seus pés pudesse disparar faíscas de desejo nele? Como poderia facilmente imaginar
deitá-la na grama verde, envolver seus dedos ao redor de seu tornozelo nu e deslizar as mãos ao
longo de sua coxa?
Passara apenas algumas horas desde que a tinha possuído na cama dela, mas naquele momento
ele estava tão sedento quanto um jovem inexperiente que queria experimentar a sua primeira mulher.
Afastando-se do beijo, viu o desejo em seus olhos de um azul profundo e percebeu, um tanto
assustado, que combinava com o mar ao longe. Ela pertencia àquele lugar, com seus pés descalços,
olhos azuis da cor do mar, sua gentileza. Mesmo que seus pensamentos viajassem nesse caminho, se
lembrou de que ela poderia ser tão feroz e tão mortal quanto a tempestade. Ele tinha subestimado
sua determinação em fazer justiça.
Deslizou a mão por seu braço e entrelaçou os dedos nos dela até que as palmas das mãos se
tocaram. Ele nunca tinha considerado sensual segurar a mão de uma dama intimamente. Se não
fosse o peso do que veio antes deles, poderia estar despreocupado e alegre. Ao contrário, estava
preocupado e triste.
Ela foi quem o puxou pela mão e começaram a caminhada de volta para a casa. Pensou que
poderia se acostumar a este lugar, tê-la perto. Mesmo com o inocente devaneio, com a culpa e
arrependimento, lutando dentro dele. Londres era onde ele pertencia, lutando pelos direitos dos
inocentes.
— As estradas estão barrentas. — ela disse em voz baixa, como se soubesse em que direção a sua
mente vagava. — Seria melhor atrasar a viagem, até que tenha secado.
— Quanto mais?
Ela olhou para ele, os lábios formando um sorriso travesso que o fez querer inclinar-se e beijá-la
novamente.
— Vinte, trinta anos.
O vento levou o riso para a estrada que os levaria para a aldeia, e de lá de volta a Londres. Ele
ficou sério.
— Eu gostaria que fosse assim, Emma.
— Mas você é um homem de honra, um homem da lei. É uma das coisas que admiro em você,
que acredita na justiça. Mas não vejo por que Eleanor e eu devemos pagar pelo ato de justiça.
Poupe-a. Leve-me e deixe-a aqui. Ela já sofre muito pelo que fez.
Ele parou de andar e tocou seu rosto. Houve alguém tão corajoso, tão altruísta, quanto essas duas
irmãs, cada uma disposta a assumir a responsabilidade completa pela morte de Rockberry e pagar o
preço final? Ele sabia que elas não eram uma ameaça para ninguém. Suas ações foram motivadas
pela dor e horror pelo que o marquês havia feito a sua irmã. Swindler muitas vezes tinha lançado
meninos na prisão ou não conseguira prendê-los quando seus crimes eram insignificantes. Mas
assassinato?
— Eleanor pediu o mesmo a mim, para deixar você aqui. Mas não é uma questão simples,
Emma. Se houver apenas uma de vocês, como explicarei o álibi que dei a você? Minha palavra,
minha reputação, entrará em questão. A minha posição com a Scotland Yard estará em perigo.
— Então, não leve nenhuma de nós.
— Eu nunca deixei de resolver um crime.
— Então, é seu orgulho que impulsiona você?
As palavras dela bateram nele. Nunca se considerou orgulhoso. Seu trabalho era altruísta. Trazia
um sentimento de satisfação fazer pelos outros o que esteve apavorado demais para fazer por seu
pai, fornecer evidências de que ele não era o culpado.
— Não, meus esforços são para proteger os inocentes. Corro o risco de perder a capacidade em
garantir que o culpado pague e não o inocente. Passei a minha vida lutando para expiar a morte de
meu pai. Não posso virar as costas para ele ou desonrá-lo agora, não importa o quanto eu deseje
fazer diferente.
Com um pequeno aceno de cabeça, ela se afastou de seu toque como sombras recuando quando
tocadas pelo sol. Ele não sentiu nenhuma raiva vindo dela. Decepção, talvez. Aceitação relutante de
sua decisão.
Eles começaram a andar novamente, mas já não estavam de mãos dadas. Sentiu a ausência de seu
toque com uma enorme e dolorosa brecha no peito. Como ele poderia fazê-la entender que, se ele
não estava com a Scotland Yard, não teria nenhuma finalidade em sua vida? Como justificaria a
morte de Rockberry, o homem era um animal, Swindler podia ver apenas duas opções se quisesse
salvá-la: deixar o assassinato ficar sem solução ou permitir que apenas Eleanor pagasse o preço. E
somente Eleanor pagando o preço traria complicações, como ele já tinha explicado a Emma. Ele
também estava quase certo que custaria Emma. Não iria perdoá-lo por prender sua irmã e não ela.
Verdade seja dita, ele podia ver Emma marchando para a sede da polícia e alegando que ela tinha
cometido o assassinato. As irmãs iriam trabalhar juntas para confundir os tribunais, ou ambas seriam
punidas.
Depois de ler o diário de Elisabeth, outra coisa começou a incomodar Swindler. Assunto
inacabado. Terminá-lo poderia trazer a salvação para ambas as damas, mas os perigos não podiam
ser negligenciados.
— Em seu diário, Elisabeth menciona filigranas de prata que Rockberry colocou ao redor de seu
pescoço.
Emma olhou para ele, e em seus olhos viu que ela não queria discutir os detalhes do que tinha
acontecido entre sua irmã e Rockberry. Mas, no ângulo de seu queixo, ele reconheceu sua
determinação de não se retirar do que poderia muito bem se transformar em um assunto
desagradável.
— Sim.
— Você sabe se ela o guardou? Você já o viu?
Ela corou. Facilmente se envergonhava, mesmo após a incrível intimidade que tinham
compartilhado. Ele se perguntou se Elisabeth era tão rápida para corar. Teria Rockberry sentido
prazer nisso? Teria ele notado pequenas coisas sobre ela, ou ele a tinha apenas visto como um
sacrifício à sua masculinidade brutal?
— Eleanor e eu o descobrimos entre suas coisas depois... depois...
Depois de sua morte. Uma vez que tinha lido o diário, ele não achava que elas iriam valorizar a
peça.
— O que aconteceu com ele?
Eles se aproximaram da casa. Emma parou para encará-lo como se quisesse que esta conversa
terminasse ali fora, de modo que Eleanor não teria de suportar um assunto tão doloroso. Ele não
podia deixar de notar o quão protetora as irmãs eram uma com a outra.
— Levamos conosco a Londres e entregamos ao Lorde Rockberry, juntamente com uma
mensagem.
— Quais as palavras da mensagem? — Ele cutucou.
Mais uma vez ela corou, seu rosto assumindo um tom de vermelho mais escuro do que ele jamais
tinha visto.
— Ela está morta. Logo você estará também.
— Um pouco melodramático, mas sem dúvida eficaz. Então essa foi a razão. Quando ele foi para
a Scotland Yard soou bastante confiante de que você queria matá-lo.
— Ele mostrou a carta para a Scotland Yard?
— Não é do meu conhecimento, embora seja bastante possível que ele o fez. Meu superior foi
bastante inflexível ao pedir que descobrisse o seu propósito e o informasse.
— Portanto, o seu interesse em mim foi tudo um engano.
Sua voz não carregava dúvidas. Ela não tinha feito uma pergunta, havia feito uma afirmação. Seu
olhar desafiou-o a negar a verdade, mas ele estava tão cansado de mentiras entre eles quanto ela.
Mesmo enquanto pensava, percebeu que sua vinda para seus braços na noite passada poderia ter
sido um engano, bem como, uma tentativa de envolver o seu coração para que fosse embora sem
qualquer irmã. Ele queria confiar em seus motivos, mas a dor de sua traição inicial ainda o
machucava. Perguntou-se se eles nunca confiariam completamente um no outro e se não o fizessem,
como ela podia acreditar que ele tinha realmente dado a ela seu coração?
— No começo, sim. — disse ele. — Meu plano era ganhar sua confiança, induzi-la a dizer-me
suas razões para seguir Rockberry. — Ele queria tocá-la, mas não se atreveu. De repente, ela parecia
tão frágil quanto um pedaço de vidro soprado à mão. — Mas rapidamente cai sob seu feitiço.
— Então você acha que eu o enfeiticei?
— Comecei a entender que, assim como eu a estava seduzindo, então você estava me seduzindo
também. Nós dois estávamos envolvidos, nós nos enganamos. Eu queria seduzi-la para revelar o seu
propósito; você queria me seduzir para fornecer um álibi.
— E a noite passada?
— É minha esperança que estávamos sendo completamente honestos um com o outro. Mas
também reconheço que nós dois tornamo-nos bastante hábeis no jogo duplo, e é possível que
nenhum de nós reconheça a honestidade se ela morder nosso traseiro.
Ela desviou o olhar do dele e olhou para os penhascos, o mar.
— As únicas vezes que fui honesta, foi quando eu estive com você. Gentilmente, ele moldou a
mão em torno de seu queixo e virou a cabeça para que pudesse ver o azul profundo de seus olhos.
— A única vez em que não fui honesto com você foi quando falei qual foi o meu motivo para
persegui-la.
Ela deu um sorriso trêmulo.
— Nós temos uma base muito rochosa abaixo de nós.
— Mas é uma fundação, Emma. Só nós podemos determinar o que queremos construir em cima
dela agora.
— Não seja tão fantasioso, James. Não podemos construir coisa alguma. Estamos em pontos
diferentes de uma mesma transversal. Eu cometi um crime. E você soluciona crimes.
Maldição! Como ele poderia fazê-la entender? Eles estavam indo para trás e para frente, cobrindo
um solo que já havia sido arado.
— Emma, nem tudo o que faço é dentro da lei.
— Mas você é um inspetor.
— E às vezes eu olho para o outro lado. Não posso falar sobre este assunto, porque ele é um
maldito lorde, mas posso garantir que, se as suas sentenças não forem justas, me encarregarei de que
as liberem da forca. Me encarregarei de que tenham outra vida, mas em primeiro, gostaria muito de
tentar que regressem para esta.
— Você disse que tem influência.
— Tenho um duque e um conde em meu bolso.
— Claybourne e Greystone. Ela assentiu.
— Jack Dodger poderia comprar toda a Londres, se quisesse. Eles têm poder, Emma.
— E quanto a você, James Swindler?
— Meu poder não é tão visível quanto o deles, mas tenho. Eu conquistei isso. Agora, de volta à
filigrana. Você se lembra exatamente o que parecia?
Ela assentiu com a cabeça.
— Eu acredito que sim. É muito semelhante a uma gargantilha, mas fios de prata fluíam a partir
dela. Era realmente muito lindo. Irônico que ele simbolizasse algo tão feio.
— Pode me ajudará a desenhá-lo? Ela parecia surpresa.
— Para quê?
— Porque descobrir fraudes é o meu forte, e acredito que essa é mais uma que devo descobrir
para finalizar esse assunto.
Capítulo Vinte

— A parte principal era uma teia de pequenos fios que se encaixavam perfeitamente ao redor do
pescoço de uma dama. — disse Emma, sentada à mesa da cozinha e observando James esboçar o
que ela descreveu.
Adorava o jeito que ele ficava quando se concentrava. Quer estivesse no papel ou nela, dava a
cada um à sua plena atenção. Ela sabia que suas ações em Londres o colocaram em uma posição
embaraçosa em relação a seus sentimentos por ela e suas responsabilidades para com os deveres
dele. Se importava com a justiça. Se importava com ela.
— E de cada lado da parte que descansava na cavidade da garganta de uma mulher, vários fios
atados pendiam. — explicou Eleanor. — O comprimento deles aumentavam quando se moviam em
direção ao centro, até que o que estava no meio fosse suficiente para balançar-se entre os...
Limpando a garganta, olhou para Emma.
— Acho que sei aonde balançava. — murmurou James, e Emma sorriu ao ver suas bochechas
ficando vermelhas. Ele não costumava mostrar desconforto, pelo menos não com ela. Era
interessante ver esse aspecto dele, e saber que se comportava diferente em relação à Eleanor de
como agia em relação à Emma. Ele não ficava tão à vontade com sua irmã. — O que mais?
— Lembra-me mais uma coleira do que uma gargantilha. — Eleanor disse.
— E o fecho era muito difícil de abrir. Acho que precisaria de ajuda para fazer isso funcionar.
— Nós não experimentamos. — disse Emma. — Nem sequer quisemos tocá-lo quando
percebemos o que era.
— Tão lindo, — Eleanor sussurrou — e um ser tão horrível. Como ele pode fazer isso com ela?
James parou de desenhar e estudou Eleanor. Emma estava fascinada observando-o, como se
realmente pudesse ver sua mente trabalhando.
— Ele disse alguma coisa para você naquela noite em sua biblioteca?
Ela poderia tê-lo beijado pelo contexto que usou, por não ter lembrado a Eleanor que ela o
matou. Emma não tinha pegado Eleanor esfregando as mãos nem uma vez hoje. Com um pouco
mais de tempo, talvez suas mãos sarassem.
Lágrimas inundaram os olhos de Eleanor e derramaram sobre suas bochechas.
— Ele me provocou. Disseme que Elisabeth gostava, queria, implorava por isso. Eu nunca odiei,
desprezei, tanto alguém em toda a minha vida. Queria que ele ao menos demostrasse remorso antes
de morrer. — Ela parecia estar enjoada. — No entanto, ele se regozijou.
Eleanor começou freneticamente a esfregar as mãos. Emma colocou a sua sobre a dela.
— Tudo bem, Eleanor. Ele não pode mais se regozijar.
— Ele era tão horrível. — Ela voltou sua atenção para o esboço. — Isso está muito semelhante a
gargantilha, não acha, Emma?
— Sim.
— Não é realmente uma gargantilha. — disse James. — É como você indicou, uma coleira. Eu já
vi uma assim antes. Em uma mulher que encontramos assassinada em Whitechapel.
— Você acha que ela fazia parte da devassidão? — Emma perguntou. Ele deu um aceno brusco.
— Com base nas perguntas discretas que fiz, acredito que existem sociedades secretas que se
envolvem em rituais como o descrito por sua irmã. Sempre assumi que eles eram compostos de
membros dispostos, e por isto não havia interesse em persegui-los. Mas naquela em que sua irmã foi
iniciada parece que as coisas foram levadas para uma direção mais obscura.
— Teriam acabado por matar Elisabeth?
— Sim, se eles pensassem que ela era uma ameaça para que os descobrissem.
— É possível... — Emma não tinha certeza sequer se queria pensar no que estava pensando. —
...que eles tenham vindo aqui e a mataram?
James se recostou na cadeira.
— É possível, mas improvável. Por causa do que ela escreveu em seu diário na noite em que
morreu, suspeito... — ela podia vê-lo lutando com as palavras — ...que ela procurava paz, e foi desse
modo que conseguiu encontrá-la.
Nesse momento ela pensou que não poderia tê-lo amado mais por não dar voz ao que sua irmã
realmente havia feito: tirou a própria vida, pecou contra Deus. A família tinha dito ao clérigo local e
aos aldeões que Elisabeth havia caído. Um terrível acidente. Mesmo entre eles, haviam sido
incapazes de enfrentar, aceitar, o que realmente acontecera.
— Então, para onde vamos a partir daqui Inspetor Swindler? — Eleanor perguntou.
Era a primeira vez que qualquer uma delas se dirigia a ele como tal, reconhecendo assim a
autoridade que tinha sobre elas. O estômago de Emma estremeceu diante as implicações disto.
Achou difícil respirar, mas não desviou o olhar, esperando sua decisão, seu julgamento.
— Rockberry feriu sua irmã, mas ele não estava sozinho ao fazê-lo. Emma e Eleanor trocaram
olhares.
— Ele foi o responsável. — disse Eleanor.
— Ainda assim os outros devem ser responsabilizados.
— Não sabemos quem são. — disse Emma. — Elisabeth só mencionou Rockberry. Acho que ela
não sabia quem eram os outros.
— Eu nem pensei em perguntar por outros nomes a Rockberry. — disse Eleanor, e Emma pode
escutar sua decepção consigo mesma.
— Ele não os teria fornecido. — disse James, exonerando-a.
— Então, como descobriremos quem são? — Perguntou Emma.
— Você se lembra daquela primeira noite em Cremorne Garden, a mulher com quem Rockberry
falou?
Eleanor assentiu.
— Ela estava usando algo que poderia ter sido isso. — ele disse, batendo no papel. — É possível
que os encontros comecem ali. Se pudermos recuperar a coleira das mãos do novo Lorde Rockberry
e encontrar uma mulher disposta a usá-lo através dos jardins, é possível que ela seja abordada...
— Estou disposta. — disseram Emma e Eleanor ao mesmo tempo antes que ele pudesse
terminar de explicar.
— Não seja ridícula. — disse Eleanor. — Sou a mais velha, eu que devo fazer isso.
— Não, você assumiu o risco de matá-lo. Agora é minha vez de fazer algo mais.
— Não vou permitir.
— Não permitirei que não o permita.
— Emma... Eleanor...Moças! — Disse James, ficando de pé. — Eu preciso de alguém com um
pouco mais de experiência com o lado mais sombrio de Londres, alguém que possa cuidar de si
mesma.
— Eles conhecem todas as damas que foram iniciadas em sua sociedade. — disse Emma. —
Você precisa de alguém que eles reconheçam. Contamos somente a Rockberry que Elisabeth estava
morta. É possível que ele não tenha dito a ninguém. E mesmo que o fizesse, se eles vissem alguém
que se parece com ela, é provável que pensem que ele estava mal informado ou mentindo. Tem que
ser uma de nós. Ele balançou a cabeça.
— Isso é uma péssima ideia. Devemos esquecê-la.
— Não podemos, porque você tem razão. — disse Emma. — Algo precisa ser feito. Estávamos
obcecadas por Rockberry. Não fomos mais longe quanto deveríamos ter ido. Em memória da nossa
querida irmã e para trazer paz à sua alma temos de terminar o que começamos.
Usando sua camisola, Emma sentou-se diante a penteadeira do quarto de Eleanor e escovou seu
cabelo. Tinham deixado pendente o assunto, sobre o que precisava ser feito, para quando
retornassem a Londres, embora James tivesse dito que ele analisaria a situação e qual seria a melhor
maneira de lidar com tudo. O amava por não querer colocar ela ou Eleanor em risco, mas havia
visto em seus olhos que ele sabia que o argumento delas tinha mérito.
— Você não tem que esperar até eu adormecer para ir até ele. — Eleanor disse se sentando na
cama, inclinando-se no monte de travesseiros. — Só espero que saiba o que está fazendo. Se você
estiver esperando um bebê, suponho que ao menos possa se defender com isso. Eles não enforcam
mulheres grávidas. Foi o que ouvi dizer.
Emma levantou-se do banco, caminhou-se até Eleanor, sentou na borda da cama e tomou suas
mãos.
— Não vão nos enforcar, Eleanor. Ele me prometeu.
— Quem o converteu em rei?
— Eu acho que ele tem certa influência. Devemos confiar nele. Eleanor apertou suas mãos.
— E você deve confiar em mim. Eu devo ser a pessoa a desempenhar o papel de Elisabeth se
continuarmos com este ardil.
— Eleanor...
— Emma...
Elas estavam em outro impasse, da mesma forma que tinha sido na cozinha, não chegaram a
nenhuma conclusão, além de dizer os nomes uma da outra, mas Emma sabia que tinha James a seu
favor. Se encarregaria de que não fosse Eleanor quem se colocaria em perigo.
— Vamos ver o que acontece quando voltarmos para Londres, está bem? Eleanor deu de
ombros.
— Muito bem. — Emma disse sucintamente. Iria encontrar uma maneira de proteger Eleanor
querendo ela ou não. Sua irmã tinha executado a parte mais perigosa da vingança, agora era a vez de
Emma. Liberando Eleanor, cruzou as mãos no colo e estudou-as, sabendo que suas bochechas
estavam ficando vermelhas. — Você poderia pelo menos se virar e fingir que está dormindo?
Felizmente, Eleanor fez o que pediu. Emma sabia que era hipócrita, mas se sentia constrangida
indo encontrar James com sua irmã sabendo disto abertamente. O que ela e James compartilhavam
era destinado a duas pessoas casadas. Algo que nunca viria a acontecer com eles. Apesar de suas
palavras corajosas para Eleanor, e as promessas de James, Emma sabia que era muito provável que a
forca esperava por elas. Com esse pensamento, estava determinada a aproveitar ao máximo do
pouco tempo que podiam ter.
Emma saiu do quarto de Eleanor e entrou no seu. Se perguntou se seu coração dançaria
selvagemente sempre que colocasse os olhos em James depois de uma breve separação. O interior
do quarto estava na penumbra, e ele estava parado junto a janela. Assim que ouviu o clique leve da
porta, cruzou-o indo em sua direção. Ela o encontrou perto da cama, oferecendo sua boca para ele.
Mas ele não aceitou a oferta. Em vez disso, passou os dedos em seu cabelo e segurou-a, estudou-a
como se algo atormentasse sua mente. Com tudo o que eles descobriram, tudo que planejaram, ela
não deveria ter se surpreendido, mas esperava que, essas poucas horas, eles pudessem fingir que
nada existia além da porta, além deles.
— Naquela noite, na minha pensão, quando eu pedi que tirasse tudo, exceto as pérolas. — disse
ele — lembrou-se do que aconteceu à sua irmã? Arruinou seu prazer?
Sentindo-se aliviada, porque algo sem importância o estava preocupando, soltou a respiração que
estava segurando.
— Não. Absolutamente não. Elas foram um presente precioso, não um símbolo de submissão.
Nada, nada sobre aquela noite, foi parecido com qualquer coisa que certamente minha irmã
suportou.
— Bom.
Ela percebeu que as mãos dele se moviam e sentiu algo pesado, suave e frio contra sua pele. Com
uma pequena exclamação, tocou as pérolas que circulavam seu pescoço e sorriu.
— Como você conseguiu... não te vi segurando-as.
— Pode ser que não tenha sido muito hábil com as mãos, mas eu aprendi uns truques aqui e ali.
Ela não podia acreditar na resposta ousada que passou pela sua cabeça. Quase guardou para si
mesma, mas era James, um homem que conhecia todos os seus segredos, bem como seu corpo.
— Acho que você tem mãos muito hábeis.
Ele deu um lento e sensual sorriso, seus olhos aquecidos pelo desejo.
— Vamos colocar a sua crença à prova, não é?
Antes que ela puxasse uma respiração, sua camisola estava flutuando para o chão e a calça dele foi
rapidamente descartada. Em seguida, ficaram carne contra carne e suas bocas ansiosamente
explorando um ao outro para descobrir novos tesouros.
O ato de amor deles era agridoce, como se ambos soubessem que uma vez que partissem para
Londres pela manhã, tudo isso ficaria para trás. Estariam de volta ao mundo do decoro. Mais
importante, eles deveriam concentrar seus esforços no plano mais do que um no outro.
Lentamente tocou-a numa reverência lenta, como se ele pretendesse memorizar cada linha e
curva para as noites que viriam, quando ela não estaria em seus braços. Passou os dedos sobre ele
com vagar como que para recordar a firmeza de seus músculos, a suavidade tensa de sua pele, a
aspereza de seus pelos.
Quando o prazer foi insuportável e a paixão reinava com uma necessidade dolorosa, eles se
uniram em uma combustão de sensações que os levaram a grandes alturas. O nome dela ecoou em
um grunhido de seus lábios, e o dele foi um grito sobrepondo o seu.
Depois, deitados, exaustos e saciados um nos braços do outro, ela não conseguiu conter as
lágrimas. Tão pouco seus sussurros de promessas de amparo impediu a chegada do amanhecer.
Capítulo Vinte e Um

Emma não esperava que assim que chegassem a Londres iriam diretamente à residência do
Duque e da Duquesa de Greystone. Ela, Eleanor e James estavam parados no hall de entrada, com
um pequeno baú atrás delas, esperando o mordomo anuncia-los.
— Deveríamos ter tentado encontrar uma pensão primeiro. — Eleanor resmungou.
Emma suspeitava que Eleanor estivesse um pouco mal-humorada, porque desde o momento em
que saíram de casa, James havia deixado bem claro que ele estava encarregado de sua pequena
expedição. Parecia a Emma que quanto mais se afastavam do chalé, mais ele se distanciava dela.
Sabia que era porque tinham que tomar decisões, mas isso não tornava a solidão mais fácil de
suportar.
— Jim!
Emma olhou para o corredor e viu a duquesa se apressando em direção a eles. Emma tinha
ficado aterrorizada de ter que revelar que não havia conhecido a duquesa até a noite do baile. Foi
Eleanor quem conversara com ela na sala de visitas da pensão. Posteriormente, Eleanor descreveu-a
com detalhe excruciante, mas mesmo sem uma descrição tão boa, Emma teria reconhecido a
duquesa pela suavidade que emergiu nos olhos de James quando ela o saldou. A mesma alegria que
ele demonstrava agora enquanto a duquesa deu um tapinha no seu ombro, antes de passar por ele
para estuda-la e a Eleanor.
— Vejo que você descobriu que havia duas delas depois de tudo. — disse ela. — São quase
indistinguíveis. Imagine o que Feagan poderia ter feito com elas.
— Você não precisa falar sobre nós como se não estivéssemos aqui. — disse Eleanor.
— E qual das duas seria você? — Perguntou a duquesa.
Quando Eleanor assumiu uma expressão de teimosia e ficou em silêncio, Emma disse: — Ela é
Eleanor. Eu sou Emma.
A duquesa examinou Emma como se estivesse procurando por algo de que sua vida dependesse.
Então ela sorriu.
— Você é a que foi ao baile, a que conquistou Jim. Mas foi Eleanor que conheci na sala de estar
da pensão.
— Ninguém consegue nos diferenciar — disse Eleanor.
— Exceto o Senhor Swindler. — Emma a lembrou calmamente.
— Fui criada para ler as sutis nuances das pessoas. — disse a duquesa. — De que outra forma eu
poderia determinar quem era o melhor para extorquir?
— Ela voltou sua atenção para James. — Então do que você precisa?
— Um lugar para elas ficarem. — disse ele.
Com base na certeza em sua voz de que ele sabia que não seria negado, Emma pensou que ele e a
duquesa também poderiam ser parentes.
— Aqui, deve ser suficiente para esse propósito. O que mais? — Perguntou a duquesa.
Depois de se instalar em seu quarto, Emma atravessou a vasta extensão do corredor para o
quarto destinado a Eleanor, que era parecido com o dela, com uma cama grande de dossel, uma
cômoda, uma mesa e uma pequena área de estar perto da janela. Estendendo-se junto a janela havia
um banco coberto com várias almofadas. Eleanor estava sentada lá, olhando para o jardim.
— Em que nos metemos, Emma? — Ela perguntou sem se virar. Emma sentou-se ao lado dela.
— Eu diria que em algo muito denso.
— Achei que a duquesa tinha se casado recentemente com o duque. Se for esse o caso, quem é o
garoto?
Olhando para fora, Emma viu o duque e um menino parados de pé na frente de um par de
cavaletes, com paletas nas mãos enquanto cada um pintava uma seção de flores em um jardim.
— James mencionou que ela havia adotado um de seus órfãos. Peter, acho que esse é o seu
nome.
— Sempre quis ter filhos.
— Você pode tê-los ainda.
— Sim, tenho certeza de que um cavalheiro ficaria encantado em se casar com uma mulher que
não tem escrúpulos em meter um punhal no coração de um homem. — Eleanor começou a esfregar
as mãos e Emma a acalmou seu gesto ao colocar as mãos sobre as dela.
— Um homem seria afortunado em ter você. Sua irmã deu um pequeno sorriso.
— Não me arrependo do que fiz, Emma. Simplesmente é um pouco mais difícil de conviver com
isto do que eu havia esperado.
— O que nós fizemos, Eleanor. Você nunca deve esquecer que fizemos isso juntas.
Eleanor assentiu com relutância e olhou pela janela.
— O duque é um homem bonito.
— E pensar que ele se casou com uma gatuna.
— E você, Emma? Você se casará com um gatuno?
— Em um piscar de olhos. — ela sussurrou. — Mas duvido seriamente que ele me proponha.
Meia-noite, em Greystone's. J.S.
A missiva foi enviada para cinco, mas apenas quatro compareceram.
— Graves envia desculpas, mas ele está atendendo à rainha. — disse Claybourne. — Ela parece
pensar que tem alguma doença que só ele pode curar. Se não pudermos fazer isso sem ele, vamos
enviar uma nova mensagem, e ele dará um jeito de vir.
William Graves era outra das crias de Feagan. Um ex-ladrão de túmulos que estava rapidamente
se tornando um dos mais notáveis médicos de Londres. Os outros na biblioteca do duque incluíam a
esposa de Claybourne, Catherine, Jack Dodger, Frannie, Greystone, Emma e Eleanor. Quando
convocou o grupo, Swindler não tinha considerado o fato de que se encontrava cercado por homens
de incrível riqueza e poder. Ele não era diferente, somente não ostentava. Dois deles possuíam a
única coisa que ele não tinha: um título.
Perguntou-se se Emma se contentaria com um homem que jamais chegaria à aristocracia. Ela já
estaria olhando para Greystone e Claybourne com o pensamento que eles eram o tipo de homens
que ela merecia casar?
— Estou supondo que você nos chamou aqui por uma razão. — disse Claybourne. — Podemos
saber qual?
— Sim, certo. — disse Swindler, juntando as mãos e inclinando-se para frente.
Ele havia propositadamente ajustado seu assento para que se sentasse em frente a Emma e
Eleanor. Ele queria uma visão clara de seus rostos, a fim de julgar suas reações e determinar o que
estavam pensando, caso decidissem que a honestidade não era o caminho a seguir.
— Como tenho certeza que vocês estão bem cientes, Lorde Rockberry deixou este mundo
recentemente. Emma e Eleanor foram responsáveis pela sua morte.
Consciente de que Eleanor se encolhia ao lado dela, preparando-se para que acusações ou
sentimentos desagradáveis pudessem vir, Emma sentiu seu próprio peito apertar. Era a primeira vez
que a verdade de suas ações tinha sido compartilhada com outras pessoas. Esperava que esse
momento trouxesse vergonha e humilhação. Em vez disso, não sabia o que fazer por causa do jeito
que James falara, a inflexão em sua voz, como se estivesse revelando algo tão comum como costurar
um botão em uma camisa.
— Considero que ele tenha merecido. — disse Claybourne, dando a impressão de que ele era o
patriarca deste incomum clã.
Quando Eleanor apertou sua mão sem piedade, um arrepio de pavor percorreu Emma.
Desprezava ter que suportar o momento em que todos ouviriam o sórdido...
James deu um aceno brusco. Claybourne assentiu em resposta.
— Certo então. Qual é o seu plano? Proporcionar novos nomes, instalá-las em outro lugar?
— Espere. — Eleanor disse, soltando seu aperto em Emma. — Isso é tudo o que vocês
precisam? Um aceno de cabeça? Que tipo de pessoas vocês são?
— As melhores que conhecerá. — James disse. — Eu não os teria chamado aqui se fosse de
outra maneira.
Mas algo pesava mais na mente de Emma do que a confiança que tão facilmente depositavam em
James.
— Quer mandar-nos para longe?
— É possível que seja o único recurso para garantir que seu adorável pescoço não esteja esticado
— disse James — mas antes de trabalharmos melhor nos detalhes de como lidar com o
desaparecimento de vocês, precisamos cuidar de outros assuntos. — Olhou ao redor, para notar que
a atenção de todos se voltava para ele — e completou: — Meus planos no momento envolvem
terminar o que as damas começaram. Rockberry não agiu sozinho. Precisamos descobrir quem são
os outros e levá-los à justiça.
— Suponho que tenha pensado nos detalhes. — disse Jack Dodger.
— Nos limites da razão, e tão longe do futuro que posso antever, o que não é muito longe.
Sem revelar nenhum dos detalhes sórdidos envolvendo o encontro de sua irmã com Rockberry,
James explicou sobre a sociedade que a atraiu. Ele então removeu uma folha de papel do bolso da
jaqueta, desdobrou-a e passou-a para Claybourne.
— Rockberry colocou isso em volta do pescoço de Elisabeth em um ritual que a recebeu em
submissão.
— É uma peça bem complexa — disse a Duquesa de Greystone, olhando para o desenho. — E
muito adorável. Onde está agora?
— Espero que na residência de Rockberry. Pretendo procurá-la amanhã à noite.
Isto era novidade para Emma.
— Dentro de sua residência? Você está louco?
James conferiu a ela uma expressão muito sombria, mas determinada.
— Se quisermos que você ou Eleanor finjam ser Elisabeth que retornou para a cidade para ter
outro gosto pelo prazer, precisamos encontrar a gargantilha. Ainda que a casa do marquês seja
enorme, as pessoas tendem a esconder coisas em lugares bastante visíveis. Dez minutos, quinze no
máximo, e eu o terei em minhas mãos. — Ele passou sua atenção para Dodger. — Pensei que talvez
pudesse convidar o novo Lorde Rockberry para um jogo de cartas em privado em seu clube amanhã,
por volta da meia-noite.
Dodger ergueu os ombros.
— Se Claybourne e Greystone estiverem de acordo.
Ambos os homens estavam, e os detalhes foram definidos enquanto discutiam a melhor forma de
manter o novo marquês ocupado enquanto James revistava sua residência. Emma não gostava disso.
Se ele fosse capturado...
— E seus servos? — Ela perguntou. — Não acha que eles perceberão que você está andando
pela casa?
— A maioria estará deitada. Serei muito discreto.
Embora ainda não estivesse gostando, rapidamente percebeu que ela e Eleanor estavam ali por
cortesia.
Os outros estavam fazendo os planos. Eles estavam tão confortáveis trabalhando uns com os
outros e com o que precisava ser feito, que ocorreu que não era a primeira vez que planejavam
juntos levar a cabo algum plano. Se ela tivesse sido sincera com James desde o início, era bem
possível que ele pudesse ter instruído ela e Eleanor no melhor método para se livrar de Rockberry
sem ser descobertas. Elas pensaram que eram tão inteligentes, mas tinham na realidade jogado um
jogo de crianças. Ela se perguntou se em algum momento eles chegaram a ser governados pela
ingenuidade. Quando os detalhes finais foram elaborados, o Senhor Dodger, Lorde Claybourne e
sua esposa se despediram. A única questão que restava era qual irmã seria colocada em perigo.
— Tem que ser eu. — disse Emma enquanto caminhava pelo jardim, o braço entrelaçado ao de
James. Ele pediu alguns minutos a sós com ela, depois do qual, também, partiria.
As lâmpadas a gás lançavam uma tênue luz sobre o caminho que percorriam. Rosas, jacintos e
outras flores perfumavam o ar ao redor deles. Em outra ocasião, Emma pensou que teria sido uma
distração relaxante antes de se deitar, mas seus nervos estavam muito tensos enquanto o silêncio
crescia entre eles.
— James?
— A situação pode ser mortal. Eleanor, pelo menos, já matou. Ela não hesitaria em fazer o que
for necessário.
— Ela pode hesitar. Como você está bem ciente, a culpa a consome. E eu não sou tão
inexperiente em uma situação perigosa...
Antes de que tivesse terminado de expor sua ideia, ele a arrebatou contra si e saqueou sua boca
como se fosse a última oportunidade que teria para saboreá-la. Tiveram poucos momentos sozinhos
na viagem. Talvez fosse essa a razão pela qual ela aceitasse seu avanço e se agarrasse a ele quase com
desespero. Não queria pensar que era porque seu tempo juntos estava chegando rapidamente a um
fim.
Após esse pequeno ardil para chegar aos outros envolvidos, ela e Eleanor ainda seriam
responsáveis pelo seu papel na morte de Rockberry. Sem se importar em qual será sua punição,
morte, exílio ou anos em uma prisão feminina, James não estaria lá com ela. Permaneceria em
Londres, resolvendo crimes e eventualmente se casaria. Não queria pensar em outra mulher deitada
entre seus braços, mas tampouco queria contemplar os anos solitários à sua frente se ele
permanecesse solteiro. Ou nos anos solitários e vazios que ela enfrentaria sem que suas mãos
deslizassem sobre as costas dele como o faziam agora, seu beijo incendiando suas paixões.
Ela desejava que pudessem se isolar em seu chalé, trancar a porta e nunca mais sair. Queria
despertar em sua cama, cercada pela fragrância almiscarada de seu cheiro. Queria sentir o calor de
seu corpo pesadamente sobre o dela.
Ele arrastou seus quentes e úmidos lábios ao longo de sua bochecha antes de mordiscar sua
orelha.
— Não me peça para correr o risco de perder você. — disse ele com uma voz torturada que fez
seu coração doer e se alegrar ao mesmo tempo.
Ela era realmente preciosa para ele. Mas, tanto quanto ele significava para ela, não poderia ser tão
egoísta a ponto de voluntariamente colocar a irmã em perigo outra vez. Era sua vez de correr o
risco.
— Não me peça para me arriscar a perder outra irmã.
Ele ficou quieto, a tensão em seu corpo em um silencioso incômodo. Quando ele a soltou, sentiu
como se algo de monumental importância tivesse mudado entre eles.
— Você desistiria de tudo o que pudéssemos ter, assim tão facilmente? — Ele perguntou.
— Não há nada fácil sobre isso, mas você deve saber que o que temos é apenas temporário. Por
mais maravilhoso que seja, James, será tirado de nós, quer queiramos quer não.
Mesmo no jardim semiescuro, a intensidade do olhar dele era desconcertante.
— Deve se recolher agora. — disse ele sem rodeios. — Durma bem. Você vai precisar de sua
inteligência quando chegar o momento.
— Você decidiu, então, será eu? — Ela não sabia se o pequeno tremor em sua voz era medo ou
excitação.
Ele não respondeu. Simplesmente se afastou, desaparecendo na escuridão.
Quando Swindler enviou uma mensagem aos seus companheiros de infância, tinha enviado uma
outra.
Ponte de Londres, as quatro horas em ponto.
Não se surpreendeu ao ver que Sir David tivesse chegado antes dele, nas margens do Tâmisa, sob
a Ponte de Londres. Eles se haviam encontrado ali muitas noites quando Swindler estava envolvido
em atividades que exigiam que não fosse identificado com alguém da Scotland Yard. Como de
costume, Sir David estava fumando seu cachimbo.
— Então, Swindler, voltou para Londres. Por que a reunião secreta? Devo supor que você não
tem a assassina de Rockberry nas mãos?
— Tornou-se bastante complicado.
— Apaixonou-se por ela, não é?
Era difícil admitir, mesmo para si mesmo, que ele se apaixonara loucamente por Emma,
especialmente quando Emma insistia em proteger sua irmã à custa de um futuro com ele. Sabia que
estava sendo egoísta, mas, maldita seja, toda sua vida adulta ele sacrificou sua própria felicidade pelos
outros. Só uma vez, queria colocar suas próprias necessidades em primeiro lugar.
Explicou tudo a Sir David, sem poupar detalhes. Emma não estava ali para se envergonhar sobre
a realidade sórdida da história.
— Bom Deus! — Disse Sir David quando Swindler terminou. — Você está certo disso?
— Sim senhor. A dama explicou tudo em seu diário, e depois tirou a própria vida. Não tinha
razão para mentir naquele momento.
— E você acha que outros nobres poderiam estar envolvidos?
— É possível. Saberemos mais em pouco tempo uma vez que definirmos a armadilha. Gostaria
que a Scotland Yard se envolvesse...
— Não. — Sir David respondeu bruscamente antes de Swindler ter terminado de dizer o que ele
tinha em mente. — Não até que saibamos quem cairá em sua armadilha.
— Você cairá nela, senhor?
O cachimbo caiu da boca de Sir David quando se virou para encarar Swindler, a primeira vez que
ele o olhou diretamente desde o início da reunião.
— Perdão? Você ficou maluco?
— Com o risco de parecer arrogante, sou seu melhor homem. No entanto, você me encarregou
da simples tarefa de seguir uma dama por Londres. Foi um desperdício de meus talentos.
— Pelo contrário, Swindler, veja o que descobriu.
— Se você suspeitava disso o tempo todo, por que não me contou? Sir David se abaixou, pegou
o cachimbo e o estudou.
— Maldição. Não posso colocar isso de volta na minha boca, certo? — Disse atirando o
cachimbo no rio. — Você não é o único que cumpre ordens, Swindler. Vamos apenas dizer que a
minha vem do alto, muito, muito alto. Nós suspeitávamos que Rockberry pudesse estar envolvido
em algo desagradável quando veio até nós. Por que ele não resolveu o assunto sozinho por seus
próprios meios é que não compreendo. Era um bastardo arrogante esperava que fizéssemos isso por
ele. O que eu suponho, em suma, com base em suas descobertas, foi para o benefício da dama no
final. Seja como for, tem havido rumores desta sociedade. Coisas repugnantes. Especialmente tendo
em conta que a Rainha Victoria e seu esposo têm um código moral tão rígido. As pessoas precisam
se comportar com muito mais decoro. — Ele limpou a garganta. — Perdoe meu discurso. Continue
com seus planos. Quando você souber quem está envolvido, fale comigo. Então decidiremos como
o assunto deverá ser tratado com o mínimo de escândalo e constrangimento.
— Sim, senhor. — Swindler virou-se para ir embora.
— Swindler?
Swindler olhou para trás por cima do ombro.
— Sim, senhor?
— Tome muito cuidado com este assunto. Não comente com ninguém ou isto se tornará
público. Mantenha tudo discreto, homem. Pode haver um título de cavaleiro para você.
— Suas ordens vêm daquele alto?
Sir David simplesmente olhou para o rio.
Capítulo Vinte e Dois

O marquês aceitou o nosso convite para um jogo particular no Dodger’s à meia-noite. Aproveite sua liberdade.
C.
De acordo com a nota de Claybourne, o novo Marquês de Rockberry poderia estar de luto pela
morte de seu irmão, mas não o suficiente para desistir de todos os seus prazeres e vícios. Swindler
tinha ouvido que o mais jovem possuía uma fraqueza para jogos de azar. E nenhum homem com
uma fraqueza tal deixaria passar uma oportunidade de demonstrar suas habilidades contra
Claybourne, Greystone e Dodger. Os homens eram lendários em suas conquistas nas mesas de
jogos, um verdadeiro espetáculo. Desde que se casaram, todos os três eram raramente vistos nas
mesas. Quem poderia culpá-los quando suas esposas eram as senhoras mais belas que Londres tinha
a oferecer?
Com a exceção de Emma, é claro, que não era realmente de Londres. Ainda assim, James pensou
que ela de longe era a mais atraente. Divertia-se agora a pensar que nunca passou por sua cabeça
alguém substituir Frannie sentimentalmente. No entanto, Emma tinha conseguido fazer exatamente
isso.
Swindler esperou por trás das sebes na residência do marquês até que viu o chacoalhar da
carruagem do homem por volta de onze e meia da noite. Então ele esperou mais meia hora para os
servos se deitarem após a partida de seu senhor antes de se dirigir à entrada de serviço. Ajoelhado,
ele removeu uma pequena vela do bolso, acendeu o pavio, estudou a fechadura, e em poucos
segundos estava dentro da cozinha.
Um item incriminador como a gargantilha estaria em um dos dois lugares: na biblioteca ou no
dormitório principal. Swindler decidiu começar com a biblioteca, lembrando da sua localização a
partir da sua visita anterior, quando veio inspecionar a cena do crime.
Usando a pequena luz de sua vela, silenciosamente, mal respirando, cautelosamente se arrastou ao
longo dos corredores, como um fantasma silencioso. Não havia criados à vista. Não esperava
mesmo ver qualquer um ali naquela hora. Quando o senhor estava ausente, o sono chegava mais
cedo para os servos.
Abrindo a porta da biblioteca, a atravessou e fechou atrás dele. Segurando a vela no ar, ele
percorreu o caminho em torno das inúmeras pequenas áreas de estar para a grande mesa no outro
lado da sala. Observou que o tapete era de um padrão diferente do que havia no seu quarto. Não
havia surpresa nisso. Sangue raramente deixava um atraente efeito decorativo. Deixando a vela sobre
a mesa, começou a abrir gavetas, procurando travas que escondessem compartimentos ocultos. O
antigo marquês não gostaria que seus segredos fossem facilmente descobertos. Isso não era
incomum na aristocracia. Daí a razão de Feagan tê-los treinado sobre os mistérios de uma mesa.
— Procurando algo, Inspetor?
Swindler levantou a cabeça para ver o novo Lorde Rockberry saindo de um canto escuro.
Pensando estar sozinho, não se preocupou em verificar alguma presença indesejada. O atual
marquês não carregava o mau cheiro que seu irmão tinha, então Swindler não havia percebido sua
presença. Infelizmente. Estava tentando conceber uma explicação lógica para a sua presença quando
Rockberry levantou a mão. A prata pendia dela.
— Isto talvez.
Swindler percebeu que estava definitivamente perdendo o jeito. Tornara-se tão obcecado em
assegurar a liberdade de Emma que estava se tornando descuidado quando era imperativo que fosse
mais instintivo, cuidadoso. Fechando a gaveta que acabara de abrir, estendeu as mãos em
aquiescência.
— Como você sabia que eu viria aqui esta noite?
— Um convite do infame Lorde Claybourne para um jogo particular com o notório Dodger, sem
mencionar um duque do mais alto calibre? Eu? Um novo marquês que ainda não abraçou
completamente seu título? Além disso, sei que todos vocês têm laços um com o outro, vindos da
sarjeta. — Ele encolheu os ombros. — Eu sou jovem, mas não sou tolo. — Suspeitei que alguém
me quisesse fora da minha residência por alguma razão.
— Então você mandou uma carruagem vazia.
— Eu realmente fiz. Devo dizer que achei muito inteligente da minha parte. — Ele deu um passo
para mais perto. — Sei que não menti sobre o que vi naquela noite, quando meu irmão foi
assassinado, o que significa que você mentiu sobre a mulher que está com você.
— Também não menti.
— O que significa que você estava com ela e a ajudou a matá-lo. Talvez você tenha empunhado o
punhal. Bom para você. Sirva-se de uma bebida. É bem merecido. Como eu descobri recentemente,
meu irmão foi tão vil como disseram. Não vou levar a culpa por um assassinato que não cometi, mas
farei o que puder para tirar você e a dama do país.
— Eu não menti sobre minha dama não estar aqui naquela noite. E posso provar isso.

— Gêmeas! — Rockberry exclamou, olhando e soando espantado.


— Trigêmeas — Eleanor disse acidamente — até que seu irmão destruiu a nossa irmã.
Swindler tinha levado Rockberry até Greystone’s, sabendo que as damas estariam acordadas,
esperando para ver se ele obtivera sucesso em encontrar a joia. Os cavalheiros também estavam na
biblioteca, suspeitando de problemas retornaram quando Rockberry não apareceu para o jogo
particular.
Na aparência, Rockberry era diferente de seu irmão em muitos poucos aspectos. Ele era magro,
não tão alto. Seus traços faciais não eram prejudicados pela arrogância. Ele olhou para Swindler.
— Eu encontrei seu diário. Escreveu sobre suas façanhas vergonhosas nos mínimos detalhes. Por
que ele mantinha uma prestação de contas a respeito de seu comportamento abominável está além
do meu entendimento. — Ele virou-se para as damas. — Para qual de vocês devo um pedido de
desculpas por Cremorne Gardens?
— A mim — disse Eleanor, com seu tom mordaz de costume.
— Ele me disse que era uma prostituta que se recusava a deixá-lo em paz. Disse aos meus amigos
que podíamos nos divertir com você.
— E você pensou que me assediar seria divertido?
O marquês se mostrou envergonhado, abaixando os olhos para seus sapatos.
— Talvez eu não seja tão diferente do meu irmão, afinal.
— Você é muito diferente. — disse Swindler enquanto se aproximava de uma mesa, colocou
uísque em um copo e depois o entregou a Rockberry. — Você ainda tem o diário?
Rockberry pareceu surpreso com a pergunta.
— Não, fiquei muito feliz em queimá-lo. Existe uma maneira de evitar que esta situação chegue
ao Times?
— Sente-se. — disse Swindler.
Embora sua ordem fosse para o marquês, todos os outros seguiram o exemplo. Ele desejou ter
estado mais perto de Emma para poder se unir a ela no pequeno sofá. Em vez disso, ela agora se
sentava ao lado de Eleanor, segurando sua mão. Queria ser aquele que a confortasse. Estava zangado
com ela quando insistia em colocar-se em perigo, ao invés de sua irmã. Agora ele só queria abraçá-la.
Inclinando-se para frente, com os cotovelos nas coxas, Swindler perguntou a Rockberry.
— Seu irmão revelou onde as reuniões aconteciam?
— Não. Pelo que pude discernir era que sempre acontecia em lugares diferente. As noites, no
entanto, eram as mesmas. Quarta-feira. As damas, se você pode chamá-las assim, deveriam ir ao
Cremorne Gardens, usando sua prata. Cada uma seria abordada por um cavalheiro que as levaria a
uma carruagem. Acho que os cavalheiros sabiam a localização, mas as damas não. Suponho que
quanto menos soubessem, melhor.
— O diário citou algum nome? Rockberry tomou um gole de uísque.
— Não. Meu irmão estava muito mais interessado em descrever os rituais e a orgia do que os
detalhes de como tudo era organizado. Eu sei que eles iniciavam periodicamente as mulheres na
sociedade e que essas mulheres nem sempre estavam dispostas. Eles usavam chantagem, coerção,
medo e vergonha para impedir que as mulheres falassem sobre isto. Ele também escreveu sobre... —
Sua voz se apagou e ele balançou a cabeça.
— O que ele escreveu, milorde? — Swindler cutucou. Rockberry terminou o uísque, segurando o
copo em um aperto que deixou seus dedos brancos. — Milorde?
Rockberry voltou a estudar seus sapatos.
— Ele... ele matou alguém. Foi muito agressivo com ela. Eu não tivesse estômago para ler os
detalhes. Fizeram-me mal. — Ele olhou para Swindler.
— O que pretende fazer com essa informação?
— Pretendemos encontrar os outros envolvidos. E se quarta-feira é a noite em que se encontram,
então será amanhã.
— Estou disposto a ajudar da maneira que eu puder.
— Então empreste-nos a prata.
— Sem problema. Qual é o seu plano?
Swindler supôs que não podia culpar o homem por seu interesse. Explicou como pretendiam
montar uma armadilha.
Eleanor estava ciente de Emma enrijecida ao lado dela quando Swindler anunciou que seria ela a
atravessar Cremorne Gardens na noite seguinte. Era justo. Afinal, era a mais velha das duas, mesmo
que apenas por alguns minutos.
Se ele não a tivesse escolhido, teria que dar a Emma um sonífero. Não ia permitir que sua irmã
mais nova fosse colocada em perigo. Especialmente quando Emma tinha um cavalheiro muito
interessado nela. Era bem possível que o Senhor Swindler fizesse com que Emma não pagasse por
aquilo que aconteceu com o antigo Lorde Rockberry.
Depois que os detalhes foram explicados, enquanto as pessoas começavam a partir, Eleanor saiu
para o jardim. Ela não ficava confortável ou confiante em torno destas pessoas como Emma. Ela
simplesmente queria que todo o assunto fosse resolvido.
— Senhorita Watkins?
Ela tinha acabado de chegar aos jacintos quando seu nome foi chamado. Reforçando sua
determinação, se virou lentamente, com os ombros para trás, queixo erguido, para encarar
Rockberry.
— Milorde.
— Você foi quem tirou... a capacidade do meu irmão de respirar.
— Poderia ter sido minha irmã.
Ela não sabia por que tinha dito isso. Até aquele momento estava orgulhosa de suas ações, mas
então, até aquele momento ela não tinha enfrentado alguém que poderia ter se preocupado com o
canalha. Nunca considerou que ele possuía família ou amigos. Tudo que havia pensando é que era
um homem que havia tirado alguém que amava.
— Não. Seus olhos contêm uma dor mais pesada que a dela. Sua voz era suave, compassiva e,
por alguma razão, a irritava.
— Você me interpretou mal, milorde. Não me arrependo pelo que fiz. Seu irmão forçou minha
irmã a se submeter. Quando ele terminou com ela, permitiu que outros a usassem como se não fosse
melhor do que um pedaço de carne a ser jogada aos cães. Meu único arrependimento é que ele tenha
morrido rapidamente.
Um pesado silêncio construiu-se entre eles, como se ele não soubesse como responder à essa
acusação.
— Podemos? — Ele perguntou finalmente, indicando o caminho de paralelepípedos.
Ela ficou grata por começar a caminhar novamente, e ele se postou ao lado dela.
— Você age corajosamente fingindo que não se importa, mas eu não acho que o assassinato
esteja em sua natureza, — ele disse calmamente.
— Você não sabe nada sobre minha natureza, milorde.
— Meu Deus, acho que você poderia ter apunhalado meu irmão até a morte com somente a sua
língua.
— Como se atreve! — Ela cuspiu, virando-se para ele, seus braços agitados, seus punhos batendo
em seu ombro. — Você não tem ideia do que ele fez!
Agarrando seus pulsos, ele os pressionou contra seu peito. Apesar de sua própria agitação, ela
podia sentir o batimento rápido do coração dele.
— Eu sei exatamente o que ele fez, e provavelmente com mais detalhes do que você. Meu irmão
não foi econômico nos detalhes que escreveu.
Toda a luta a deixou. Ela odiava que outros soubessem exatamente que destino tinha levado sua
irmã.
— Obrigada por queimar o diário.
— Não foi tão difícil. Não se pode comparar com os perigos que você enfrentará amanhã à noite.
— Não posso suportar a ideia de alguém sofrer o que Elisabeth sofreu.
— Não acho que você seja tão cruel como finge ser.
Ela não percebeu que ele tinha soltado seus pulsos até que a mão dele estava nas suas costas,
atraindo-a para que se apoiasse em seu ombro. Tentou, mas não conseguiu segurar as lágrimas que
teimavam em cair, grandes gotas quentes que escaldaram suas bochechas.
— Sinto muito se você o amava. — disse ela.
— Eu não o amava. Não depois de ler seu diário... como alguém poderia? Estou feliz por ele
estar morto, Senhorita Watkins. Só lamento que você tenha sido aquela a cuidar da questão.
Sua voz estava sufocada, como se tivesse de forçar as palavras saírem, e se perguntou se ele,
também, estava chorando.
— Eu encontrarei consolo nessas palavras, milorde, quando minha sentença for decretada.
Ele recuou e, na luz suave do jardim, ela pôde ver a umidade da tristeza cintilando em nas
bochechas dele, enquanto deslizava os polegares sobre o rosto dela para capturar suas lágrimas.
— Não tenha tanta pressa em ser enforcada, Senhorita Watkins. Muitos assassinatos não são
resolvidos. Suspeito que este seja um deles.

Emma não tinha falado uma única palavra quando James anunciou que seria Eleanor a participar
da armadilha. Ela possuía demasiada dignidade para dar um escândalo na frente de pessoas que mal
conhecia, especialmente quando muitas dessas pessoas eram da nobreza.
No entanto quando se preparava para dormir, estava inquieta. James tinha se despedido com
pouco mais do que um “boa noite”. Por mais que ela quisesse falar com ele, tinha certeza de que não
poderia demovê-lo de sua decisão. Já tinha usado de suas artimanhas com ele uma vez. O delicado
equilíbrio de seu relacionamento iria tombar se ela tentasse seduzi-lo para dar o que queria.
Ainda assim, não podia negar sua decepção de que ele se importasse tão pouco com seus desejos
a ponto de ignorá-los completamente.
Uma ligeira batida em sua porta a surpreendeu. Provavelmente era Eleanor, incapaz de dormir,
ou querendo discutir sobre o plano. Ou talvez Eleanor quisesse sua opinião sobre o novo Lorde
Rockberry. Emma não havia ignorado como os dois ficaram olhando um para o outro, ou o quanto
sua irmã estava corada após retornar de um passeio pelo jardim com ele. Não se parecia muito com
o irmão, mas ela não conseguia ignorar como ele havia tratado Eleanor naquela primeira noite no
Cremorne Gardens. Não gostava que sua irmã pudesse desculpar tão facilmente a ofensa.
Seu fôlego recuou em seus pulmões quando a porta se abriu e viu James.
— Sei que está zangada comigo, mas ...
— Só vou ficar zangada com você se não a trouxer de volta em segurança.
— Eu prometo que vou fazer tudo o que estiver em meu poder...
— E se isso não for suficiente?
— Por favor, confie em mim, Emma. Cresci fazendo esse tipo de coisa, planejando fraudes e
artimanhas. Mesmo depois de ir morar com o avô de Luke, com frequência eu costumava escapar
para ajudar Feagan com uma coisa ou outra.
— Confio em você, mas eu... não posso perdê-la, James.
Ele acenou com a cabeça, como se fosse tudo o que poderia oferecer , um reconhecimento
silencioso do que ela pedia.
— E eu não quero perder você também, não quero que nada aconteça. — disse ela.
— Quanto a isso, também, farei tudo o que estiver ao meu alcance para evitar.
Eles ficaram ali quietos por um momento. Ouviram o som do relógio no corredor. Dois gongos.
— Penso que todos já estão em suas camas. — ela finalmente disse. Ele deu seu sorriso familiar.
— Eles estão.
Ela deu um olhar severo.
— Suponho que não deram uma chave para esta casa.
— Não, mas na realidade nunca precisei de uma. — Ele acariciou sua bochecha. — Eu sei o
quanto estou pedindo a você e sua irmã, Emma. Gostaria muito de te abraçar esta noite.
Com um sorriso recatado, convidou-o para sua cama.
Alguns minutos mais tarde, enquanto ela estava deitada entre seus braços, disse: — Ontem à
noite, houve aquela conversa de nos mandar embora. Tive a impressão de que era algo que vocês já
tinham discutido antes.
Preguiçosamente, ele acariciou seu braço.
— De vez em quando, ajudamos pessoas merecedoras a começar uma nova vida, às vezes
tirando-as da prisão antes de cumprirem a sua sentença.
Ela se levantou sobre o cotovelo para olhar para ele. Seu cabelo estava bagunçado, seu rosto
precisando ser barbeado. Ele exalava um perfume almiscarado por ter feito fazer amor. Ela
simplesmente o queria novamente.
— Antes, você mencionou sua influência. Ele encolheu os ombros.
— Eu tenho acesso a registros, documentos, sentenças e prisões. Se acho que alguém foi
condenado injustamente, se acredito que a intervenção é justificada, eu os removo da prisão ou
substituo-os por alguém que é merecedor do crime. Na prisão de Pentonville os prisioneiros não
têm permissão para falar e devem usar capuzes sobre suas cabeças a qualquer momento em que
deixam suas celas. E, claro, o transporte sempre oferece possibilidades de trocar uma pessoa por
outra.
— Você faz disso um hábito?
— Raramente, mas quando as circunstâncias são propicias... Frannie tem uma mão habilidosa.
Pode forjar qualquer documento ou assinatura. Eu diria que ela poderia me fazer um duque e até
mesmo a rainha não seria capaz de detectar que não era a sua assinatura no documento. Dodger
muitas vezes esconde as pessoas em seu clube de jogos ou dá um emprego. Limpos, vestidos
corretamente, com um novo nome em uma área de Londres, onde ninguém os conhece... eles estão
seguros. Graves, que você ainda não conheceu, foi um ladrão de túmulos em sua juventude. Se
alguma vez precisarmos de um corpo, ele é nosso homem. Claybourne fornece qualquer
financiamento necessário e é aquele que normalmente serve como intermediário. Ele é muito bom
em lidar com os níveis superiores da sociedade, bem como os mais baixos. Trabalhando todos
juntos, podemos dar a alguém a oportunidade de começar de novo.
— Isso foi o que eles pensaram em fazer com Eleanor e comigo.
Ele deslizou os dedos ao longo de seu rosto, eventualmente levando alguns fios de seu cabelo e
torcendo-o em torno de seu dedo.
— Ainda é uma possibilidade. Minha esperança é que, encontrando os outros envolvidos nesta
sociedade, a transgressão anterior de vocês possa ser ignorada.
Ela pousou a cabeça no centro do seu peito.
— E se não forem encontrados?
— Vamos para a América. Ela levantou a cabeça.
— Você iria com a gente?
— Eu sei o que é ter você na minha vida. Sei o que é tê-la saindo dela. Farei o que for preciso
para você não sair novamente.
Lágrimas queimaram os olhos dela.
— Amanhã, deixe-me ir, em vez de Eleanor.
— Não posso. — Quando ela fez um movimento para afastar-se dele, ele acalmou suas ações
enfiando os dedos pelos cabelos e segurando-a no lugar.
— Ela está sofrendo, Emma. Eu sei que você pode vê-lo. Ela precisa ser aquela que vai para
Cremorne Gardens.
Não podia negar a sabedoria das palavras dele, mas não gostou. Ela se afastou e rolou para seu
lado na cama. Ele a rodeou com seus braços, a mantendo próxima, as costas dela contra seu peito.
— Confie em mim, Emma. Por favor, confie em mim.
— Eu confio. — ela sussurrou. Mas, enquanto o coração dela absorvia as palavras, sua mente
continuava a se preocupar.
Enquanto estudava o seu reflexo no espelho na noite seguinte, Eleanor não podia negar que
havia uma excitação antecipada que a acompanhava, que combinava muito com o que ela sentira na
noite em que enfrentou Rockberry. Um pouco de perigo, um pouco de risco, um pouco de
incerteza. Independentemente de como ela tentasse antecipar todos os cenários, sempre era possível
que algo que não tinha previsto surgisse no meio do caminho.
— Você deveria levar alguma arma — disse Emma, parando ali perto, examinando cada aspecto
do vestido vermelho que a duquesa emprestara a Eleanor.
— O Senhor Swindler disse que me daria uma quando eu entrasse na carruagem. — Ela estudou
a sobrancelha franzida de sua irmã, a linha tensa de sua boca. — Por favor, não se preocupe, Emma.
— Eu deveria pelo menos ir junto, estar lá no caso de ser necessária. Virando-se do espelho,
Eleanor abraçou Emma.
— Eu ficaria preocupada se você estivesse em qualquer lugar perto dos jardins. Estou certo de
que o Senhor Swindler também. Pelo menos desta forma ele vai se concentrar na tarefa em suas
mãos.
— Você poderia chamá-lo de James, sabe disso. — Não era frequente que Emma soasse
petulante.
— Ele é seu pretendente, Emma, não meu. — Eleanor caminhou até a penteadeira espelhada. Já
era tempo. Ela respirou fundo. — Você pode colocar a gargantilha em volta do meu pescoço?
Emma foi até ela com cautela, como se temesse olhar novamente o que Rockberry tinha dado a
sua irmã.
— Como pode algo tão belo ser tão ruim? — Ela perguntou.
— Não sei, — disse Eleanor.
Ambas as irmãs simplesmente olharam para a intrincada e delicada joia por vários minutos,
nenhuma delas a pegando, nenhuma fazendo o que deveria ser feito.
— Se não fosse tão bonito, realmente se assemelharia a uma coleira, algo para indicar submissão,
— disse Emma.
— Eu o odeio — disse Eleanor.
— Então não use.
— Não serei abordada se não o usar. Venha, vamos acabar logo com isso.
Com um aceno brusco, Emma levantou o colar e colocou-o cuidadosamente em volta do
pescoço de sua irmã. Eleanor ficou surpresa o quão pesado era, apesar de delicado. Emma lutou
com o fecho por alguns minutos, e finalmente Eleanor ouviu-a encaixar no lugar.
— Tudo pronto.
— Pensei que você tentaria me enganar e colocá-lo em seu pescoço, — Eleanor disse.
— Eu quase o fiz. Mas não vi sentido. James simplesmente o tiraria.
— Acho que ele gosta muito de você, Emma.
Emma acenou com a cabeça e estendeu a mão para ela, mas não antes de Eleanor ver as lágrimas
em seus olhos.
— Por favor, seja sempre muito cuidadosa, — ela sussurrou. — Eu não serei capaz de suportar
perder outra irmã.
— Não se preocupe. Eu não planejo nenhum heroísmo.
Mas quando ela saiu do quarto, Eleanor sabia que as coisas nem sempre saiam como planejado.
Capítulo Vinte e Três

Emma desfez seu bordado. Não sabia por que se preocupava. Nunca tinha tido mãos hábeis
quando se tratava de agulha e linha. Bem, exceto por uma vez quando ela costurou o corte na cabeça
de James.
Sentada na sala, podia ouvir o tique-taque, do relógio sobre a lareira. Era provável que
enlouqueceria com a espera. Eles tinham ido há apenas duas horas. Quanto tempo levaria? Eleanor
estava bem? E James? Quanto perigo eles estavam enfrentando? Levantou-se e logo em seguida
sentou-se novamente.
— A espera é sempre mais difícil, — a duquesa disse calmamente. — Lembro-me que sempre
que Feagan levava alguns dos rapazes para roubar ou fraudar, o tempo parecia se mover lentamente
antes que retornassem em segurança.
Emma apreciava que a duquesa estivesse tentando distraí-la de suas próprias reflexões dolorosas,
mas elas corriam soltas.
— Receio não estar sendo uma companhia muito boa.
— Você não tem que me entreter, Emma. Eu sei que está preocupada com sua irmã e Jim, mas
Jim sabe o que está fazendo. E os rapazes vão vigiar sua irmã.
Emma quase sorriu com a reverência da duquesa aos rapazes. Percebeu que era como se referia a
qualquer um dos homens que tinham sido parte do covil de ladrões de Feagan. James, Claybourne e
Jack Dodger.
— Você é muito próxima de todos eles. A duquesa sorriu.
— Eles são os irmãos do meu coração, se não do meu sangue.
— Eles têm sorte de tê-la.
— Pelo contrário, sou eu que tenho sorte. Agora me diga. Você tem um lugar em seu coração
para Jim?
Com um profundo suspiro, Emma sacudiu a cabeça.
— Estou tão zangada com ele agora que não tenho certeza. Sei que deveria estar lisonjeada por
não querer que me arrisque em um plano perigoso, mas se eu perder outra irmã... eu posso
enlouquecer.
— Você tem que confiar nele.
— Eu confio, só me preocupo que algo possa dar errado.
— Ele é o melhor no que faz.
— Mas ele não é invencível. Eu o enganei.
— Suspeito que seja porque seu coração estava envolvido. — A duquesa olhou para a porta. —
Sim, Wedgeworth?
— Lorde Rockberry gostaria de falar . — o mordomo anunciou.
— Por favor, faça-o entrar, então.
Com um tremor no estômago, Emma levantou-se, juntamente com a duquesa.
Lorde Rockberry entrou, com a testa franzida, os olhos demonstrando preocupação. Ele
inclinou-se ligeiramente.
— Sua Graça, Senhorita Watkins. Alguma notícia?
Oferecendo um sorriso encorajador, Emma sacudiu a cabeça.
— Ainda não.
— Não queria me intrometer na sua noite, eu só... eu mal conseguia ficar parado em casa.
— Você é muito bem-vindo a esperar aqui com a gente. — disse a duquesa.
— Certamente teremos notícias em breve.
— Obrigado. Aprecio sua bondade. — A duquesa indicou uma cadeira. Rockberry pareceu
perplexo. — Agora que estou aqui, não estou certo de que posso ficar parado por mais de cinco
minutos. Acho que uma volta pelo jardim iria servir-me melhor. Senhorita Watkins, você seria
amável em me acompanhar? Estou interessado em sua irmã. Gostaria muito de falar com você sobre
ela.
Ela sorriu calorosamente.
— Eu também gostaria muito de falar sobre Eleanor.
— Pode nos dar licença, Duquesa? — Perguntou Rockberry.
— Certamente. Aqui, Emma, pode levar meu xale.
Emma estava grata pelo xale e logo o colocou sobre os ombros assim que ela e Rockberry saíram.
— É quase meia-noite. — ela disse calmamente quando chegaram aos jacintos. — Acho que o
plano deve estar indo bem até agora.
— Sim, eu concordo. Meia-noite parece ser a hora mágica. Estou ansioso por ouvir o resultado
da aventura de hoje à noite.
Aventura. Um formigamento de desconforto deslizou pela espinha de Emma. Pensou em voltar
atrás, então silenciosamente repreendeu-se por ser boba, então ela continuou.
— Você disse que queria falar sobre Eleanor.
— Não.
Ela olhou para ele. Seu olhar fixo nela. Se Eleanor não tivesse visto com seus próprios olhos
quando ele chorou por saber o que seu irmão tinha feito, Emma poderia ter ficado assustada. Em
vez disso, ela estava certa de que era a preocupação com Eleanor que fazia ver perigo nas sombras
de seu rosto.
— Mas na sala, você disse que queria falar comigo sobre a minha irmã.
— Sim. Mas não Eleanor. Elisabeth. Eu fiquei completamente tomado por ela, e estou querendo
saber se você vai ser tão gratificante quanto ela.
Antes que pudesse reagir, ele cobriu sua boca com a mão, enquanto seu braço segurava-a contra
ele. Ela podia sentir a sua determinação. Então, de repente mais dois homens estavam agarrando-a,
levantando-a, e levando em direção ao beco. Apesar da resistência, não conseguia se libertar deles e
seus gritos abafados zombavam dela.
Ninguém iria ouvi-la. Ninguém iria salvá-la. Tinha pouca dúvida de que estava prestes a sofrer o
mesmo destino de Elisabeth.
Cansada, Eleanor se dirigiu para a entrada dos jardins de lazer. Era muito além da meia-noite.
Ninguém havia se aproximado dela. Ninguém a tinha chamado de Elisabeth. Ninguém comentou
sobre a filigrana de prata. Ela sentiu como se tivesse falhado com um bom número de pessoas, mas
não tinha certeza do que mais ela poderia fazer.
O cavalheiro a quem ela havia sido apresentada no caminho para Cremorne Gardens, e que a
seguiu enquanto ela passeava vagarosamente por um caminho e depois pelo outro, veio ficar ao lado
dela. Cheirava a tabaco de cachimbo.
— Você acha que o Senhor Swindler tinha razão? — Perguntou Eleanor.
— Temo que sim. — disse Sir David.
— Parece que sou uma péssima juíza de caráter em relação a homens como minha irmã mais
velha era.
— Não seja tão dura consigo mesma. Homens como Rockberry, tanto o marquês anterior quanto
o atual aprenderam a esconder o que são.
Não se sentia bem sabendo que Emma poderia estar em perigo.
— Talvez seja a noite errada. — disse ela.
— Possivelmente. Mas eu duvido.
— Eu não me oporia que você oferecesse um pouco de esperança.
— Sinto muito. Receio dizer que eu sempre fui mais realista do que sonhador.
Ele fez um sinal, e meia dúzia de homens saíram das sombras. Eles também a tinham seguido
discretamente. Explicou que eram parte de uma unidade especial de detetives que ele supervisionava.
— Vocês estão liberados. Vou acompanhar a Senhorita Watkins para casa.
Enquanto os homens silenciosamente deixavam os jardins, Sir David colocou a mão em seu
cotovelo e começou a guiá-la em direção a um cabriolé que os esperava.
— Posso fazer uma pergunta, Senhorita Watkins?
— Certamente senhor.
— Na noite em que confrontou Rockberry, se assegurou completamente de que ele estivesse
morto quando você saiu?
Ela se deteve e olhou para ele. Não era tão alto ou largo quanto o Senhor Swindler, mas tinha
uma presença dominante. Não conseguia sequer adivinhar sua idade. Em determinados ângulos ele
parecia ter bastante anos de vida, e em outros ângulos dava a impressão de ser um homem muito
mais jovem.
— Eu... bem, sim, eu... penso que sim. Eu o apunhalei, e ele caiu no tapete. Se contorceu um
pouco, depois ficou quieto. Não se mexeu. Não fez nenhum som. Havia tanto sangue que eu tinha
certeza que estava morto.
— Você só o apunhalou uma vez, então.
— Sim. Diretamente no coração.
— Mmm... isso é ... interessante.
— Por quê?
— Direto no coração. — Ele fez um movimento de punhalada. — Assim? Sem torceu o punhal,
não o girou, não moveu um pouco para fora e em seguida empurrou-o de volta em um ângulo
diferente, melhor?
— Não. Por que eu faria tudo isso?
— Para matá-lo, Senhorita Watkins.
— Não entendo, Sir David. Eu o apunhalei.
— Certamente o fez, mas estou começando a suspeitar que alguém entrou e acabou com ele.
Eleanor olhou para ele.
— Eu não sou uma assassina?
— Acredito que não, Senhorita Watkins.
— Oh.
Ele a ajudou a entrar no coche e se acomodou ao lado dela.
— Parece decepcionada.
— Queria vingar minha irmã. E depois, oh Deus, não era tão fácil viver como eu achava que
seria. — Um soluço de alívio absoluto se libertou e as lágrimas queimaram seus olhos. — Oh, eu
realmente sinto muito.
Sir David abraçou-a e puxou-a para o conforto de seu peito.
— Está tudo bem, Senhorita Watkins. Não há nenhuma inconveniência nisto. Pela segunda noite
consecutiva, ela se encontrou abraçada a um homem, mas este era muito diferente do da última
noite. Este era extremamente reconfortante. Sir David era um homem de força externa e interna. Ela
podia dizer pela maneira como ele a segurava, como se pudesse protegê-la diante tudo o que viesse.
Ou ela estava simplesmente sendo fantasiosa novamente? Querendo desesperadamente descobrir o
que Emma tinha com James Swindler?
— Você acha que é honestamente possível que eu não o tenha matado? — Ela perguntou
hesitante.
— Você gostaria que isto fosse possível?
Não se atrevendo a olhar para ele, apertando os olhos fechados contra a verdade, ela assentiu.
— Então suspeito que descobriremos, Senhorita Watkins, que não foi você quem deu o golpe
mortal.
— É um grande alívio. Obrigado, Sir David.
— É um prazer, Senhorita Watkins.

Swindler estava malditamente tentado a saltar da carruagem em que estava e parar a carruagem
que estavam seguindo. Esperava que estivesse errado sobre Rockberry. Mas algo sobre o homem o
incomodara, colocando seus sentidos em alerta. Que tivesse adequadamente julgado o homem devia
ter trazido alguma satisfação. Em vez disso tudo que queria era fazer com que o homem lamentasse
o dia em que nasceu.
Quando viu Rockberry e seus cúmplices levando Emma, somente Claybourne e Dodger
segurando-o e lembrando que algo maior estava em jogo o tinha impedido de revelar sua presença.
No último momento, ele quase trocou os papéis das irmãs, mas sabia que Rockberry esperava que
Emma estivesse em casa.
Depois de deixar Emma na noite anterior, Swindler tinha se encontrado com Sir David e
explicado seus planos e suas suspeitas. Sir David tinha se oferecido para vigiar Eleanor nos jardins
enquanto Swindler, Claybourne, Dodger e Greystone estavam vigiando Emma.
Ou esse era o plano. E nesse preciso momento, tudo o que faziam era seguir discretamente a
carruagem de Rockberry.
— Relaxe, homem, o meu cocheiro não os perderá de vista. — assegurou Greystone. — Desde a
noite em que quase perdi Frannie, contratei homens que têm habilidades para protegê-la. Ele sabe o
que está fazendo. Verá que esta noite terminará sem que nenhum mal aconteça à Senhorita Watkins.
— Não posso acreditar que o homem seja tão estupido para fazer isso. — Dodger disse.
— Bastardo arrogante. — disse Claybourne. — Ele acaba de herdar o título. Se considera
intocável. Seu irmão também era.
Swindler envolveu a mão em torno da arma que levava no bolso do casaco.
— Se eu não o matar hoje à noite, vou vê-lo enforcado. E se ele machucar Emma...
Ele mal podia suportar o pensamento sem sentir a loucura que o consumia.
— Eles não vão machucá-la até que tenham executado o ritual. — disse Dodger.
— E supõe que isto me fará sentir melhor? — Swindler perguntou.
— Não, isso é para enfatizar que você não pode matá-lo assim que o vir. Não precisamos ser
imprudentes e descuidados.
— Para você é fácil falar. Se fosse sua esposa...
— Ele já estaria morto. Mas ao contrário de você, eu não dou a mínima para qualquer justiça,
exceto a minha. Você sempre quis salvar o mundo.
Não mais. Agora tudo que ele queria era salvar Emma.

A cabeça de Emma caiu para trás contra o assento da carruagem. Ao menos pensava que estava na
carruagem. Era tão difícil ter certeza. Tudo estava turvo. Estava ciente de um movimento de
balanço. Supôs que poderia estar em um trem agora.
Ela se recordava de que a forçaram para dentro de uma carruagem e subiram atrás dela.
Lembrou-se deles segurando-a, apertando o nariz até que ela tivesse que abrir a boca para respirar, e
quando o fez, eles derramaram um pouco de vinho doce em sua garganta. Pelo menos pensou que
era vinho. Mas isso a fez ficar tonta rapidamente, sonolenta, tornou difícil de se concentrar.
— Eu não entendo. — Suas palavras estavam arrastadas e pareciam vir de uma longa distância.
— Você não pode estar pensando que vai conseguir se sair bem disto.
— É tudo sobre a emoção, minha querida. — disse Rockberry. — A excitação de podermos ser
pegos. E se formos... — ele deu de ombros — temos poder e influência. Alguém poderia dar um
tapa em nossa mão, mas ninguém se preocupa com a filha de um visconde cujo título morreu com
ele.
— James se importa. Ele riu zombeteiro.
— O filho de um ladrão? Você realmente acha que a sua palavra vai ter algum peso?
Especialmente depois que eu explicar que durante o nosso passeio pelo jardim de Greystone, você
sugeriu escapar para algo um pouco mais íntimo. Que queria experimentar uma noite com um
nobre. Que você me implorou...
Ela tentou sacudir a cabeça, mas a sentiu pesada sobre os ombros.
— James vai saber que você está mentindo.
— Mas e os meus iguais saberão? Eu sou um lorde agora. Serei julgado por meus pares. E isso,
também, minha querida, é parte da diversão, o prazer, a emoção. Enganar as pessoas que acreditam
em mim. — Ele soltou uma risada dura. — Como sua irmã, Eleanor. Acredito que ela esperava que
eu caísse de joelhos na noite passada. E Elisabeth. Quando meu irmão a trouxe para nós, ele
acrescentou um novo elemento para a nossa diversão. Ela tentou lutar, como eu tenho certeza que
você também fará. Mas no final... — Ele soltou um suspiro profundo que soou com satisfação.
Ela queria arrancar os olhos, costurar sua boca para que não pudesse continuar a dizer essas
coisas horrendas.
— James vai te matar.
— Mmm. Sim. Ele pode tentar, mas agora ele está seguindo Eleanor através de Cremorne
Gardens. Será que ele realmente acha que nos reuniríamos lá e iriamos para outro lugar? Não. Nós
sempre nos encontramos no mesmo lugar, nos arredores de Londres, onde ninguém nos incomoda.
E o seu Inspetor Swindler nunca vai nos encontrará.
— Você subestima o quão bom ele é.
Sentando ao lado dela, tirou as presilhas de seu cabelo. Ela queria se afastar dele, mas seu corpo
não seguia seus comandos.
— Não, minha querida, você que superestima o quão habilidoso ele é.
Ele enterrou o rosto em seu cabelo e cheirou, enquanto os outros dois senhores sentados em
frente a eles riam. Podia ver seus sorrisos como algum tipo de pintura obscena. Ela os odiava,
desprezava.
— Não sei por que meu irmão foi até a Scotland Yard quando descobriu que você o seguia. Ou
era Eleanor? Não importa. Eu acho que sua consciência estava começando a pesar. Idiota estúpido.
Ocorreu a Emma, no fundo de sua mente, lutar para ficar lúcida, pois ele estava dizendo muito a
ela. Como se não se importasse que ela soubesse. Será que ele achava que ela esqueceria?
Então se lembrou que seu irmão tinha matado uma mulher. Ou isso havia dito. Talvez o homem
que a tinha capturado, que era o culpado. Talvez ele pretendia assassiná-la também.
De alguma forma, ela encontrou força para se soltar e chegar até a porta, mas ele a agarrou,
jogou-a chão, apertou seu nariz...
Enquanto ela se engasgava com o líquido muito doce que a faziam engolir novamente. Pensou
em James. Se ia morrer, queria que seu último pensamento fosse dele.
Enquanto viajavam para uma área menos povoada, Swindler estava ciente da desaceleração da
carruagem, o condutor aumentando a distância entre os dois veículos. Onde diabos eles estavam
indo?
A carruagem de repente parou. Swindler não esperou que o criado abrisse a porta. Fez isto ele
mesmo, saltou para o chão e olhou em volta para uma boa dose de nada. Os outros se juntaram a
ele.
— Atravessaram um portão a uma curta distância daqui, Vossa Graça. — disse o cocheiro,
enquanto ele descia e se juntava ao lacaio que já tinha desembarcado e acendido a lanterna que
haviam apagado na esperança de não serem notados enquanto seguiam Rockberry.
— Vamos, então — disse Swindler.
Claybourne agarrou seu braço, parando seu movimento.
— Temos um plano?
— Resgatar Emma com vida sem se importar quem demônios morra no maldito processo. —
Partindo para a ação, Swindler começou a correr em direção ao portão.
— Espero que ele não esteja nos incluindo na lista dos — quem demônios morra, — ele ouviu
Greystone murmurar.
— Não estaria tão certo se fosse você, — Dodger respondeu. — Eu acredito que o homem está
apaixonado.
O amor não parecia uma palavra suficientemente forte para o que Swindler sentia por Emma. Só
sabia que se ela fosse ferida, ele nunca perdoaria a si mesmo, e se ela morresse, sua vida inteira não
teria sentido.
Era uma linda residência. Muito adorável para o que Emma sabia ocorrer ali.
Um dos homens a tinha carregado da carruagem, porque suas pernas estavam sem forças.
Rockberry gritara que eles haviam dado muito. O que quer que fosse, ela temia que ele estivesse
correto. Enquanto se sentava em uma cadeira no hall de entrada, seu estômago estava enjoado e ela
pensou que a qualquer momento poderia vomitar.
— Venha, querida. — ela ouviu uma suave voz feminina dizer.
De onde tinha vindo a dama? Outra pessoa estava com ela, ajudando-a a ficar de pé e a subir as
escadas. A loira se apresentou como Helena. A mulher de cabelos escuros era Afrodite.
Em um quarto no andar de cima, começaram a tirar suas roupas. Tentou resistir, empurrá-las para
longe, mas seus membros não tinham vontade própria. Alguém estava escovando seu cabelo. Por
que estavam fazendo isso?
Tentou não imaginar como Elisabeth se sentira, como ela estava assustada. Ou pensou que estava
sendo preparada para se tornar a esposa de Rockberry? Oh, desprezava essas pessoas. Não
importava quanto vinho eles deram a ela, não poderiam abafar aquele único pedaço de
compreensão, aquela convicção martelando. Essas pessoas haviam ferido Elisabeth. Agora eles
pretendiam prejudicá-la. Lutaria contra eles.
Se ao menos pudesse pensar com clareza. Se ao menos pudesse recuperar o controle de seus
membros. Só queria curvar-se e dormir, mas as damas não deixariam.
Emma pensou em James. Será que ele a olharia da mesma forma se Rockberry a tocasse? Seria
consumido pela culpa porque ele a deixara sem guarda? Ele sofreu o suficiente por causa de seu pai.
Ela não queria aumentar seu fardo.
Quando as damas, como eram seus nomes mesmo?, a tinham preparado para a satisfação deles,
colocaram a mais macia seda em torno dela. Se sentia tão maravilhosa, envolvia-a como uma nuvem.
Ela quase esqueceu o que acontecia. Então a escoltaram para algum lugar. Estava vagamente
consciente de corredores e passagens, chamas de velas tremulando. Ela queria lembrar de tudo para
que pudesse descrevê-lo a James mais tarde. Talvez ele pudesse averiguar depois. Mas nada parecia
ficar em sua mente. Sempre que via algo novo, tudo o que tinha visto antes desaparecia da memória.
Já não andava, simplesmente balançava. Ela percebeu que estava em uma sala grande e cavernosa.
Almofadas estavam em todos os lugares. Velas forneciam uma luz suave. Alguns poderiam até
considerar o ambiente romântico. Ela podia ouvir cantos. Homens de vestes vermelhas, seguidores
de Satanás estavam em um círculo à sua volta. Os capuzes mantinham o rosto nas sombras. Ela
tinha poucas dúvidas de que eram ímpios, os animais que haviam se aproveitado de Elisabeth, e
agora tinha planos de machucá-la.
Estava vagamente consciente de que a seda deslizava de seu corpo. Queria puxá-la de volta, mas
estava tão longe. E seus membros pareciam incapazes de seguir os comandos, como se estivessem
de algum modo desapegado de seus pensamentos.
— De joelho — ordenou Rockberry.
Ela se concentrou em sua voz, focada em seu rosto. Ele era um dos homens que feriram
Elisabeth, a tinham destruído. Ela lutou contra a letargia.
— Não.
— Ajoelhe-se.
— Não.
Ele riu severamente.
— Sua recusa não impedirá o que está por vir. De joelho.
— Apodreça no inferno.
Podia ver a ira contorcendo os traços dele, sabia que as coisas provavelmente iriam ficar piores
para ela, mas não se importava. Não o seguiria de bom grado ao inferno. Nem sequer o seguiria para
o céu. Se recusava a tornar-se sua escrava, sua concubina. Não importa o que ele oferecia, ela não
aceitaria.
Ele estalou os dedos e ela sentiu mãos fortes empurrando-a para baixo até que seus joelhos
bateram dolorosamente contra o chão.
— Filha de Eros...
Ela o viu segurando o colar de filigrana prateado.
— Esposa de Eros...
A prata tocou o pescoço, tal como tinha tocado o de Elisabeth. Frio contra sua pele, causando
calafrios através dela. Era tão bonito, mas tão pesado, um símbolo de submissão, uma indicação de
propriedade. Ela não soube onde encontrou força, mas juntou o que restou dela e o golpeou, com
seus punhos, entre suas pernas abertas.
Com um grito agonizante, Rockberry se dobrou e caiu de joelhos diante dela. Ela estava
vagamente consciente de suas unhas arranhando seu rosto, os gritos dele, mãos agarrando-a...
E então o caos sobre o qual havia descrito Elisabeth realmente eclodiu.
Capítulo Vinte e Quatro

Swindler invadiu a sala como se estivesse conduzindo os cavaleiros do apocalipse. Só havia


demorado um pouco para abrir a fechadura do portão. Seus esforços para encontrar Emma foram
atrasados enquanto lidavam com o cocheiro da carruagem de Rockberry, bem como os lacaios. A
porta da frente não tinha sido trancada, as pessoas dentro, obviamente, sentiam-se seguros em seu
pequeno mundo. Swindler e seu grupo foram barrados por um mordomo. Não havia outros servos.
Esses discípulos de qualquer que fosse o inferno sangrento que seguiam, sem dúvida haviam
decidido que quanto menos testemunhas para sua depravação, melhor. Mas encontrar o quarto certo
nesta monstruosidade de residência tinha levado mais tempo do que Swindler teria gostado. O canto
ecoando foi o que os levou na direção certa, e então os gritos agudos confirmaram que tinham
encontrado o que procuravam.
Eles dispararam tiros para o alto, mais para distrair e intimidar do que ferir. Seis homens vestidos
de mantos vermelhos e duas damas, lutando por suas vestimentas, caíram sobre os estômagos como
as cobras que eram, e cobriam a cabeça. Um homem já estava se contorcendo no chão, lutando
contra a endiabrada que pretendia causar graves danos físicos. Swindler, sabendo que era Emma,
estava tentado a deixa-la obter sua satisfação, seu triunfo, mas precisava se assegurar de que nenhum
mal fora causado. Deus, mas ela estava gloriosa em sua fúria.
Agarrando a seda jogada no chão, desejando que tivesse algo melhor, ele a colocou sobre ela e
gentilmente tentou puxá-la para longe de Rockberry. Mas ela lutou contra ele, perdida na loucura de
qualquer poção que deram mais cedo, quaisquer horrores que tivessem infligido a ela. Envolvendo
seus braços firmemente em torno dela, segurando-a tão calmamente quanto podia, puxou-a para
longe e para seu colo.
Quando Rockberry fez um movimento para alcançá-la, Claybourne plantou sua bota sobre o
peito do homem e dirigiu sua pistola para sua cabeça.
— Não faria isso se fosse você. Deve saber pela minha reputação que eu não tenho nenhum
problema em matar um lorde. E não tenho nenhuma objeção em adicioná-lo a minha lista.
Rockberry afundou-se, usando a pequena desculpa para a masculinidade tão comprometida
quanto sua alma.
Swindler balançou Emma enquanto as lágrimas percorriam suas bochechas e os tremores a
atravessavam.
— Está tudo bem, querida. Você está segura agora.
— Ele é pior que seu irmão. — ela soluçou.
— Eu sei. — Odiava perguntar, mas tinha que saber. Ele enterrou o rosto em seu cabelo, perto
de sua orelha, e sussurrou: — Ele... ele te machucou?
Balançando a cabeça, ela relaxou contra ele.
— Me assustou mais do que tudo. Como podem...?
— Eles são doentes, pervertidos. Não posso explicar. — Olhou por cima do ombro para ver o
cocheiro e o lacaio de Greystone amarrando as mãos dos homens e das damas.
Com o olhar desviado por respeito à modéstia de Emma, Greystone se ajoelhou diante de
Swindler.
— Cristo, temos três lordes aqui. E uma dessas damas é filha de um duque.
Swindler assentiu, não surpreso com aquela descoberta. Pessoas ociosas à procura de algo para
preencher suas vidas. Pessoas de influência pensando que não podiam ser tocadas.
— Vamos levá-los até a porta dos fundos da Scotland Yard. Sir David decidirá como lidar melhor
com esse assunto. Junte-os em suas carruagens. Avise seus cocheiros que se eles não cooperarem
responderão à Scotland Yard.
— Certo. — Greystone lançou um rápido olhar para Swindler antes de seguir suas ordens. —
Como está Emma?
— Abatida, mas corajosa.
— Foi uma leoa, sua Emma.
Sua Emma. Deus, ele esperava que fosse verdade, mas não tinha ideia se ela o perdoaria pelo que
tinha acontecido esta noite.
Emma teria se contentado a usar nada, exceto a seda. Ela simplesmente queria sair deste lugar
horroroso o mais rápido possível. Mas James insistiu que eles tinham tempo para encontrar as
roupas dela e levá-la adequadamente vestida, enquanto o cocheiro de Greystone foi buscar sua
carruagem.
Agora que estavam sozinhos no seu interior, já que seus amigos tinham decidido dividir-se entre
as outras carruagens e garantir que os sujeitos amontoados dentro dela fossem devidamente
entregues a Scotland Yard.
Apoiando-se contra James, Emma estava exausta pelo sonífero e a terrível experiência. O braço
dele estava em torno dela, a mão acariciando seu braço, tão reconfortantemente.
— Como me encontrou? Como você soube onde procurar? Ele enrijeceu ao seu lado, como se
preparando para um golpe.
— Nunca saímos da casa de Greystone. Ela balançou a cabeça.
— Mas, Eleanor...
— Ela foi para Cremorne Gardens, mas Sir David e vários homens da Scotland Yard a
acompanharam. Não posso explicar, Emma. Só me senti como se estivéssemos perdendo algo.
Rockberry estava tão bem informado, e apesar dos horrores que seu irmão havia cometido, o novo
Rockberry quase parecia gostar de nos contar o quão monstruoso tinha sido seu irmão. — Virando-
a, ele levantou seu queixo e virou o rosto para cima até que podia olhar em seus olhos. — Perdoe-
me, Emma, mas eu não poderia contar minhas suspeitas. Sabia que te dariam algum sonífero como
fizeram com Elisabeth, e isso poderia fazer com que você dissesse coisas que os alertassem para o
fato de que o seguiríamos.
Esticando-se ela tocou seu rosto amado.
— Você acha que chegará o dia em que vamos ser completamente honestos um com o outro?
Quando não vamos mais ter segredos?
— A partir deste dia em diante. Eu juro para você.
Assentindo, ela enterrou a cabeça no recanto do ombro dele. E só podia esperar que suas
palavras fossem verdadeiras.
Não se lembrava de adormecer. Não queria, na verdade. Ela queria aproveitar o pouco tempo
que restava para estar em seus braços. Mas acordou com lábios pressionados contra sua têmpora
enquanto tentava despertá-la.
— Emma, chegamos.
Com um suspiro ela lutou para abrir os olhos. Ainda estava sonolenta. Então ficou
completamente desperta com a compreensão de que iria saber qual seria o destino de Eleanor. Mas o
estado de alerta rapidamente desapareceu e, se não fosse o braço de James ao redor de suas costas,
guiando-a pelos degraus, ela não tinha certeza de que poderia ter evitado deitar-se para dormir
novamente.
O mordomo abriu a porta. James apenas a tinha conduzido até o salão quando Eleanor saltou do
sofá. Quem era o homem sentado ao lado dela? Atravessou a sala e abraçou-a como se sua vida
dependesse disto.
— Oh, Emma, querida Emma, você está bem! Te machucaram? — Ela se inclinou para trás,
estudando o rosto de Emma, tocando sua bochecha, seu cabelo, como se precisasse se assegurar de
que sua irmã estava viva e tão bem como poderia ser esperado nas circunstâncias. — O que fizeram
com você?
Emma se forçou a sorrir, tentando novamente livrar-se da sonolência.
— Nada.
Eleanor olhou para James.
— Deram um sonífero ou algo para dominá-la mais facilmente e seguisse a vontade deles, apenas
para descobrir que ela não é facilmente manipulável, — disse ele. — Ela não está totalmente
recuperada.
— Oh, então você deve sentar-se. — Eleanor ordenou sua irmã.
— Sim, eu gostaria disso. Estou terrivelmente instável.
Eleanor guiou-a até uma cadeira. Emma se sentiu ótima e cômoda quando aconchegou seu
corpo.
— Emma — disse Eleanor, ajoelhando-se na frente dela, tocando seu cabelo novamente. —
Você está realmente bem?
Ela assentiu com a cabeça.
— Ela lutou contra ele. — disse James, sua voz ecoando com orgulho. — Ela foi espetacular.
— Ela sempre foi. — Eleanor apertou suas mãos.
— Onde está Sterling? — Perguntou a duquesa, e só então Emma percebeu que ela estava na sala
também.
— Ele está bem, Frannie. Está conduzindo os patifes para a prisão. Deve chegar em casa em
breve, — James disse a ela.
— Oh, graças a Deus.
— Então eu suponho que devo partir para encarregar-me deles, — disse uma voz profunda.
Eleanor sorriu, olhou para cima, em seguida, concentrou sua atenção em Emma.
— Este é Sir David. Ele estava comigo nos jardins.
Um cavalheiro de aparência distinta, com cabelos e olhos escuros, inclinou-se ligeiramente.
— Senhorita Watkins, é um prazer revê-la. Sinto muito que você teve que passar por tanto esta
noite, mas nós apreciamos sua ajuda para trazer esses canalhas à justiça.
— Você é bem-vindo. — As palavras pareciam estupidas, uma vez que ela as disse. Tudo o que
tinha feito era para buscar vingança por Elisabeth. Sua mente, no entanto, era lenta no pensamento,
e ela não sabia o que mais poderia dizer.
— Emma — Eleanor disse com um tom de alegria em sua voz, — Sir David não acredita que eu
matei Lorde Rockberry.
— Isso é bom. Quanto menos pessoas...
— Não. Ele realmente não acredita que fiz isso! Me disse que parece que Rockberry estava vivo
quando saí e alguém veio depois e cravou o punhal ainda mais nele.
— Meu Deus! Você não o matou?
— Exatamente. O irmão dele é o culpado mais provável. Tudo faz sentido, não é?
Mesmo que Emma ainda estivesse tonta, ouviu a esperança na voz de Eleanor caso tudo pudesse
ser da maneira que Sir David descrevia, que ela poderia ser inocente. Emma assentiu.
— Oh, sim, faz todo o sentido.
Inclinando-se, Eleanor a abraçou com força.
— Oh, Emma, tudo pode dar certo, afinal.
Olhando por cima do ombro de Eleanor para os dois homens que estavam lá com rostos
indecifráveis, Emma pensou que talvez sua irmã estivesse certa.
— Senhorita Watkins, tenho que ir. — disse Sir David. — Espero que você me permita visitá-la
amanhã à tarde, para ter certeza de que você esteja recuperada da provação desta noite.
Eleanor virou e olhou para ele.
— Oh, sim, senhor. Ficaria muito contente com sua visita.
— Muito bom então. Swindler, eu estarei esperando por você lá fora. Cinco minutos, homem.
Precisamos colocar tudo em ordem com esses canalhas.
— Vou acompanhá-lo até a porta, Sir David. — Eleanor disse, se aproximando dele.
James tomou seu lugar, ajoelhando-se na frente de Emma.
— Você vai ficar bem?
Ela concordou. Perguntou-se quanto tempo até que voltasse ao normal novamente.
— Estou apenas muito cansada. — Ela tocou seu rosto. Ele virou o rosto na palma de sua mão e
deu um beijo em seu centro.
— Gostaria de não ter que deixá-la. — disse ele.
Ela desejou que ele não se fosse, mas sabia que a escolha não era dele. Também percebeu que
precisava tranquilizá-lo.
— Quero que sejam punidos. Quero que eles paguem pelo que fizeram.
— Vou cuidar disso, prometo.
— Sei que você vai.
Ela ouviu uma porta se abrindo, seguido por passos rápidos. Então Frannie estava correndo pela
sala.
— Sterling!
Emma olhou para ver a duquesa envolvendo os braços em torno do duque, segurando-o perto,
enquanto ele enterrou o rosto na curva de seu pescoço. James olhou por cima do ombro para o casal
entrelaçado justo quando o duque começava a levar a sua esposa para fora da sala.
— Eles estão buscando privacidade? — Emma sussurrou.
— Talvez estejam dando para nós. — James respondeu, em voz grave.
Docemente segurou seu queixo, inclinou-se e colocou o mais suave dos beijos em um canto de
sua boca e depois no outro, como se ela fosse de alguma forma mais frágil do que já tinha sido,
quando na realidade e de uma estranha maneira, ela se sentia mais forte.
Antes que ele se afastasse completamente, ela pressionou os lábios nos dele, beijando-o
profundamente, dando a certeza de que ela não considerava que qualquer dos horrores desta noite
fosse culpa dele e que acreditou que não haveria mais enganos ou segredos entre eles.
Frannie insistiu que Swindler e Sir David tomassem emprestada a carruagem de Greystone para
completar seu trabalho naquela noite. Com a carruagem movendo-se a um ritmo constante pelas
ruas, Swindler estudou a silhueta de Sir David quando se sentou em frente a ele.
— Você realmente acredita que Eleanor não matou Rockberry?
Com um suspiro, Sir David virou a cabeça para olhar para fora da janela.
— Ela é uma mulher franzina, Swindler. Não acredito que ela teria tido a força para mergulhar o
punhal profundamente o suficiente.
Swindler pensou em Emma fazendo cair de joelhos o novo Lorde Rockberry.
— Vingança para uma irmã que ama profundamente pode ser um poderoso motivador. Poderia
dar a força que não tem normalmente.
— Desculpe, Swindler. Não consigo ver desta forma. Creio que é mais provável que ela o tenha
apunhalado, o choque o deixou inconsciente, em seguida, seu irmão entrou para tomar seu conhaque
noturno e decidiu que não se importaria de ter um título ao final das contas. Acabou o que a
Senhorita Watkins começou. Você é meu melhor homem. Estou surpreso que não tenha chegado à
mesma conclusão. Pense nisso.
Swindler sentiu o olhar de Sir David fixo sobre ele.
— O novo Rockberry é cortado do mesmo tecido que seu irmão.
— Aí está — disse Sir David.
— Uma punhalada no peito não é algo do qual se recupera facilmente. Mesmo que seu irmão não
tenha entrado e terminado a tarefa, é bem possível que Rockberry teria, eventualmente, morrido da
ferida. E se ela acertou seu pulmão...
— Talvez sim, talvez não. Difícil dizer.
— Só para ficar claro, senhor, você pretende acusar o novo Lorde Rockberry do assassinato do
antigo Lorde Rockberry?
— Depende, Swindler. O meu melhor homem acredita que aconteceu como eu descrevi?
Swindler lembrou da análise da cena do crime, da ferida aberta, lembrou de Eleanor dizendo que
apunhalou Rockberry e recuou. Sim, o cenário de Sir David era possível. E se isso não tivesse
acontecido dessa forma, ele não se imaginava tampouco dando a Rockberry o poder de arruinar a
vida de outra irmã.
— Sim senhor. Concordo que poderia ter acontecido exatamente dessa maneira.
— Muito bem. Vou escrever um relatório, e vamos dar testemunho disso, se formos chamados a
Câmara dos Lordes.
— Sim senhor.
— Agora que temos esse assunto desagradável fora do caminho, me diga tudo o que sabe sobre a
Senhorita Eleanor Watkins, a verdadeira Eleanor.
Com uma sutil risada, Swindler passou a fazer exatamente isso.

Trataram Emma como se fosse uma princesa. Eleanor e a duquesa a banharam e lavaram seu
cabelo, a envolveram em uma toalha para secá-la e trançaram seu cabelo. Depois a ajudaram
deslizar-se em uma camisola muito macia. Quando Emma arrastou-se para a cama, Eleanor subiu
com ela e se abraçaram com força, assim como faziam quando eram meninas, e, como na noite após
encontrarem Elisabeth no fundo dos penhascos.
Pararam de compartilhar o mesmo quarto depois que seu pai morreu, porque Eleanor havia se
mudado para os aposentos dele. Mas hoje elas necessitavam estar juntas. Mesmo assim, havia um
vazio na cama.
— Eu sinto tanto a falta dela. — disse Eleanor, como se lendo a mente de Emma.
— Eleanor, eu ... — Ela começou com voz quase sumindo.
— O que, querida irmã?
— Senti como se ela estivesse comigo esta noite. Naquele quarto horrível. Ela estava lá,
animando-me, dando-me forças para atacar Rockberry. Se foi assim, então talvez tenha me perdoado
por ter gritado com ela.
— Oh, Emma. — Eleanor apertou-a com força. — Ela sabe que você não quis dizer aquilo.
— Espero que sim. Eu daria qualquer coisa para tê-la de volta.
— Eu sei. Também faria.
Ficaram deitadas em silêncio por alguns minutos, cada uma perdida em seus próprios
pensamentos sobre Elisabeth. Sua natureza doce, seu espírito aventureiro.
Depois de um longo tempo Emma disse.
— Eleanor, me fale sobre Sir David. A risada de Eleanor as rodeou.
— Ele não é absolutamente maravilhoso?
— Como tudo isso aconteceu?
— O Senhor Swindler...
— Você pode chamá-lo de James.
— Está bem. James levou-me à carruagem, me ajudou a subir, e ali havia um homem sentado nas
sombras. Sir David. O superior de James. Ele me disse que Sir David se encarregaria dos assuntos
nos jardins. Eu estava tão nervosa. Mas Sir David acalmou-me com palavras tranquilas e de
encorajamento. Ele tinha fé em mim. Explicou-me que tinha outros homens em Cremorne Gardens
para manter minha segurança. Eu devia simplesmente passear até que alguém se aproximasse de
mim. Ninguém o fez. Não posso imaginar o que Rockberry estava pensando para raptá-la aqui.
Deveria ter ciência de que eles saberiam que foi ele, mas não se preocupou em disfarçar o que estava
prestes a fazer.
Emma lutou para se lembrar do que tinha ouvido na carruagem.
— Era parte do jogo, eu acho. Ser tão ousado e arrogante. E, em seguida, encontrar uma maneira
de livrar-se. Ele pensou que ninguém poderia tocá-lo.
— Eu me pergunto o que vão fazer com ele.
— E os outros, — Emma sussurrou. — Eles todos precisam pagar. Eu sei que James e seus
amigos têm os meios para punir quem merece. Devíamos ter confiado nele desde o início, Eleanor.
— Mas nós confiamos nele agora. Isso deve contar para alguma coisa. Ficaram deitadas em
silêncio por vários minutos antes de Eleanor dizer.
— A duquesa se ofereceu para nos apresentar em Sociedade.
— Tudo que eu quero, Eleanor, é voltar para casa.
Capítulo Vinte e Cinco

O escritório de Sir David estava novamente na penumbra. De pé diante da escrivaninha, Swindler


estava muito ciente de uma presença no canto, embora desta vez o perfume que flutuava em sua
direção era decididamente feminino.
— Nós identificamos os homens que capturamos a duas noites atrás. — disse Sir David. — As
damas foram liberadas e entregues aos seus pais, mas os cavalheiros, embora me sinta ofendido por
referir-me a eles assim, devem responder. Rockberry será julgado por seus pares pelo assassinato de
seu irmão. Os outros cinco preferiríamos simplesmente deportá-los, mas como dois são lordes, as
questões devem ser tratadas com um pouco mais de delicadeza. Eles devem desaparecer, mas não
desejamos feri-los no processo. Estou bem ciente, Swindler, de que tem meios para fazer
desaparecer pessoas indesejáveis, e que você com frequência libera da prisão aqueles que foram
condenados a viver dentro de suas paredes. Gostaríamos que parecesse que os lordes morreram para
que seus herdeiros possam assumir seus legados. Você aceita a tarefa?
Swindler deu um aceno brusco. Algumas vezes era melhor não falar.
— Haverá um título de cavaleiro para você, Swindler — disse Sir David. Swindler virou-se para o
canto, ajoelhou-se e inclinou sua cabeça.
— Não preciso de um título para servir fielmente a Sua Majestade. Eu só pediria que às
Senhoritas Emma e Eleanor Watkins fosse concedido o perdão por qualquer crime que possa ser
imputado a elas agora ou no futuro com relação a este incidente.
— Então assim será. — disse uma suave voz feminina.
Swindler não olhou para cima enquanto as sussurrantes saias anunciavam a partida da rainha.
— Não confiava em mim para cuidar desse assunto, Swindler? — Perguntou Sir David.
— Sem ofensa, senhor, mas aprendi há muito tempo a nunca deixar passar uma oportunidade
para conseguir o que eu quero.
— Não me ofendi, Swindler. Agora, qual são os seus planos para lidar com os lordes?

— Eles formam um casal adorável, não acha? — Perguntou Emma.


Ela e Swindler estavam passeando no Hyde Park, seguindo apenas uma curta distância atrás de
Eleanor e Sir David. Durante a última semana, Emma havia começado a recuperar peso, e perdeu
também os círculos escuros sob seus olhos. Parecia calma, contente, quase feliz.
— Sir David é um bom homem. — disse Swindler.
No entanto ele não havia se acostumado com a ideia de que Sir David estivesse interessado em
Eleanor, mas parecia que seu superior estava bastante entusiasmado.
— Ele disse a Eleanor que não seríamos presas.
— Não há razão para isso. Como já concluímos, e testemunharemos, Rockberry assassinou seu
irmão. O fato de que Eleanor o apunhalou primeiro foi irrelevante.
Podia sentir seu olhar sobre ele, mas olhou para frente, não querendo que ela notasse algo em
seus olhos que pudesse indicar o acordo que tinha feito.
— Suponho então que podemos voltar para o chalé a qualquer momento.
O pensamento causou um vazio profundo nele. Durante a última semana, a tinha visitado todas
as tardes e havia jantado com ela duas vezes na casa de Frannie. Não podia negar que a princípio as
razões para estarem juntos não tinham sido puras, ambos usaram de subterfúgios. Mas tampouco
poderia negar que se importava profundamente com Emma. Que apesar de seus motivos para
persegui-la, das razões dela para se permitir ser capturada, havia algo muito precioso entre eles.
— Tenho certeza de que Frannie ficaria feliz em dar a você e a Eleanor uma Temporada, se
desejarem. — disse, em parte desejando que ela aceitasse para que ficasse em Londres mais tempo e
assim ter a oportunidade de vê-la novamente; em parte desejando que ela não quisesse ser cortejada.
— Não quero ter uma Temporada. — disse ela calmamente. — Não acredito que nenhum baile
possa se comparar com o último que eu participei.
Ele parou de andar. Ela também. Estava olhando para ele agora, seus olhos azuis fixos nos dele.
— Nunca serei um homem de riqueza e meios, Emma. Possuo uma renda respeitável.
Claybourne e Dodger me ofereceram a oportunidade de investir em alguns empreendimentos com
eles, mas o risco era muito alto. Eu poderia ter ficado sem nada. Eles são muito ricos e tenho apenas
o suficiente para viver tranquilamente.
— Eu não me importo com dinheiro. — disse ela.
— É bem possível que me nomeiem cavaleiro. Já foi mencionado, mas...
— Não dou a mínima para posição social.
Deus, a mulher era impossível de agradar. O que ela queria? O que poderia oferecer a ela?
— Emma...
Ela se aproximou dele.
— Uma vez você me disse que eu possuía seu coração.
— Você o possui.
— Vai me deixar ir embora, então? Voltar ao meu chalé junto ao mar?
— Eu quero que você seja feliz.
— Então me peça para casar com você.

Era um belo dia de primavera na aldeia perto do chalé junto ao mar. Comentaram que o céu
nunca tinha estado tão azul, a brisa tão suave. Todos os que viviam na aldeia ou nas proximidades,
foram para a igreja, agitados pela a emoção e a antecipação. Sua pequena comunidade nunca tinha
tido tantas pessoas da alta sociedade ali reunidas.
O Duque e a Duquesa de Greystone, o Conde e a Condessa de Claybourne. Além disso, havia
um homem que não tinha nenhum título, mas todos sabiam que pela forma como Jack Dodger
vestia-se e portava-se, que era um homem de imensa fortuna. Ao seu lado estava uma dama que
obviamente era da nobreza. Murmuravam que o último a chegar, Dr. William Graves, era o médico
pessoal da rainha.
Todos os sussurros sobre os ilustres convidados se calaram quando as noivas caminharam lado a
lado até o altar. Nenhum pai acompanhou-as, nem dama a esperavam. As irmãs eram o que haviam
sido durante suas vidas: as amigas mais verdadeiras. Mas onde antes não precisavam mais do que
uma a outra, agora precisavam, desejavam, os dois homens que as esperavam no altar. Enquanto
Eleanor tomava seu lugar ao lado de Sir David, Emma sorria calorosamente e pegava o braço que
Sir James oferecia a ela. Mal podia acreditar que este maravilhoso cavalheiro iria se casar com ela.
Quando o vigário começou a falar sobre amor, ela mal ouvia, porque não havia nada que ele
pudesse dizer que ela já não soubesse, nada que poderia descrever seria mais maravilhoso do que
aquilo que ela via refletido nos olhos de James.
Dentro das profundezas verdes refletia a mais verdadeira adoração e orgulho. Esse homem a
queria como sua esposa para sempre. E ela o queria como seu esposo. Nunca queria deixar de olhar
para ele, nunca queria estar sem ele. Estava ali de pé, tão alto e bonito, tão confiante e seguro. Um
menino com remorsos que se tornara um homem determinado a expiar os erros infantis, um homem
que a aceitava como era, com defeitos e tudo mais.
Contra o colete, ela podia ver a corrente de ouro presa ao relógio que ele havia guardado no
bolso. Tinha sido seu presente de casamento para ele. No verso dele, tinha mandado gravar uma
inscrição: NÃO EXISTE AMOR MAIOR.
— Para homenagear seu pai. — ela disse a ele. — Porque graças ao sacrifício dele, eu tenho você.
As lágrimas haviam inundado os olhos de James. Ele não falou nada, ela imaginou que fosse
porque sua garganta se apertara pela emoção. Mas tinha fechado seus dedos fortes ao redor do
relógio. E agora ele o usava pela primeira vez, enquanto ela se convertia em sua esposa.
Emma escutou Eleanor e Sir David trocando os votos. Ela e Eleanor viveriam em Londres, em
residências não muito distantes uma da outra. Emma não tinha certeza de como James e Sir David
tinham conseguido, mas ela estava começando a perceber que não havia nada que James não
pudesse realizar se pensasse que era assim que as coisas deveriam ser.
Então logo foi a vez dela e de James professarem seu amor, fazer suas promessas. Para o melhor
ou para o pior. Na riqueza e na pobreza. Na saúde e na doença. Ela não o faria de outra maneira.
Estaria junto a este homem até que desse o último suspiro, sabendo que ele sempre estaria ao lado
dela também.
Enquanto o vigário os declarava marido e mulher, o sol que atravessava os vitrais parecia brilhar
um pouco mais, e Emma imaginou que fosse Elisabeth sorrindo para elas.
Eleanor e Sir David partiram para Londres logo após a cerimônia ter terminado, deixando o chalé
para Emma e James. Agora, depois de ele ter trancado tudo, estava na porta do quarto e a observou
enquanto ela, sentada na beirada da janela, deslizava a escova pelos cabelos.
— Sabia que eu estava observando você naquela noite enquanto escovava os cabelos na janela de
seus aposentos da pensão? — Perguntou.
Com um sorriso malicioso, ela olhou para ele.
— Achei que você poderia estar lá, mas não tinha certeza. Eleanor disse que para nosso plano
funcionar eu precisava seduzi-lo. Não sabia por onde começar.
Ele havia descartado sua jaqueta, colete e gravata. Caminhou até ela e pegou a escova de sua mão.
— Eu caí por você tão rapidamente e com tanta força que se tornou muito fácil para você me
seduzir. Eu vigiava sua janela como um rapaz enfeitiçado e me imaginei fazendo isso. — Ele
deslizou a escova no cabelo, saboreando a maciez dos fios que atravessam seus dedos. Ele poderia
fazer isto a vida inteira.
— Eu me sentava nesta janela e o imaginava fazendo isto também.
— Amo seu cabelo. — disse ele. — Amo seus olhos. Amo tudo em você. Levantando-se, ela
colocou os braços em volta do seu pescoço.
— Eu amo tudo em você também. E senti terrivelmente sua falta nestes últimos meses.
Ela e Eleanor haviam retornado para sua casa para começarem a preparar as bodas delas, e
embora Swindler tivesse vindo visitá-la e elas haviam ido em algumas ocasiões a Londres, ele não
havia conseguido um momento a sós com Emma para algo mais íntimo do que um beijo.
Deixando a escova de lado, ele a tomou em seus braços e baixou a boca para a dela. Todo
controle que tinha se imposto o invadiu, lembrando-o da primeira noite em que estivera ali quando o
vento uivava e a chuva batia forte contra as janelas. A paixão o inundou, aquecendo seu desejo.
Perguntou-se se sempre seria assim, poderoso e forte. Seu perfume de rosa flutuava ao redor dele.
Seus pés descalços subiram sobre os dele. Tantas coisas nela eram familiares, tudo era cativante.
Terminou o beijo, olhou-a profundamente nos olhos, tinha as pálpebras pesadas e o olhar
ardente. Seus lábios estavam úmidos e inchados. Ainda que a camisola cobrisse seu corpo, não podia
esconder que seus mamilos haviam endurecido. Curvando-se, através do tecido, ele tomou um em
sua boca, mordiscando delicadamente. Ela gemeu suavemente, arqueando as costas, cravando os
dedos em seus ombros.
Havia passado muito tempo, muito tempo. A queria agora com uma ferocidade que era quase
esmagadora. Ao mesmo tempo, ele queria saborear cada momento. Era sua esposa, seu amor. Esta
noite deveria ser especial para ela, para eles. Esta noite era a primeira noite de sua vida de casados.
Passando por ela, abriu a janela ligeiramente para permitir que a brisa fresca da primavera
entrasse. As cortinas ondulavam ligeiramente.
Voltando-se levantou-a em seus braços, a carregou, risonha e alegre, até a cama e a deitou.
Enquanto rapidamente se despojava de suas roupas, ela tirou provocativamente a camisola. Soltou
um pequeno grito quando ele saltou para
a cama e colocou-a debaixo dele, desfrutando da suavidade de sua pele, misturando-se com a
dele.
— Eu senti saudades disto, senti sua falta. — ele rosnou enquanto começava a explorá-la com
mãos e boca, mais uma vez aprendendo todas as sutis nuances de seu corpo, gloriando-se nas curvas
e na suavidade que a faziam tão singular, especial para ele.
Emma passou as mãos sobre ele, saboreando a firmeza de seus músculos, a extensão de seus
membros. Deslizou os dedos sobre as suas cicatrizes nas costas e se perguntou se seus olhos sempre
transpareceriam dor, quando ela se lembrasse de quão cruel a infância dele tinha sido.
— Qual era o nome de seu pai? — Ela perguntou de repente.
Ele levantou a cabeça do vale entre seus seios, onde dava toda a sua atenção. Segurando seu
olhar, ele disse.
— Geoffrey Harrison.
Ela passou os dedos em seu cabelo escuro. Estava mais curto do que usava habitualmente, foi
aparado para o casamento.
— Vamos chamar nosso primeiro filho com este nome. Ele sorriu para ela.
— Gostaria disso.
— Talvez isso aconteça hoje à noite. Quero te dar filhos.
Piscando um olho para ela, ele regressou a boca ao seio, provocando prazer com as coisas
perversas que ele fazia. Pelas muitas vezes que haviam estado juntos, ela pensou que não deveria
haver nada de novo para aprender, e, no entanto, cada vez que se amavam, a familiaridade trazia algo
novo para ela. Uma consciência maior do corpo dele, carícias mais ousadas.
Swindler usou as mãos, os dedos e a boca para explorar cada centímetro de Emma, como se
estivesse redescobrindo o antigo território e descobrisse que ele havia mudado um pouco, mas
estava tão satisfeito com a nova paisagem quanto com a antiga. Ela havia recuperado parte do peso
que perdera depois de deixar Londres pela primeira vez. Seus quadris estavam um pouco mais
redondos, seus seios um pouco mais cheios. Ele tomou seu tempo, observando-a enquanto
suavemente modelava seus seios, antes de inclinar sua cabeça, sua boca dedicada a saborear, tentar e
provocar.
A partir deste momento, todas as noites, ele teria esta mulher maravilhosa em sua cama. Ele iria
dormir, envolto por seu doce cheiro, e ela dormiria cercada por seus braços.
Ele veria seu corpo mudar para trazer seus filhos ao mundo. Apreciaria tudo sobre ela, assim
como ele a apreciava agora.
Quando seus suspiros e gemidos se tornaram mais altos, enquanto ela se contorcia debaixo dele,
abrindo-se para ele, mergulhou no calor aveludado, o qual o acolheu e se apertou contra a excitação
dele.
Silenciou após um profundo gemido de satisfação, absorvido o impacto total de sua penetração.
Ele moldou seu rosto com suas mãos grandes e beijou-a.
— Eu te amo, Emma.
Emma pensou que nunca se cansaria de ouvir essas palavras, do corpo dele se unindo ao dela. Ele
beijou seu queixo, sua bochecha, seu pescoço. Então, tão lentamente, atormentando os dois, ele
começou a se mover contra ela.
Seu corpo balançava no mesmo ritmo cadenciado que o dele, o prazer fluindo, construindo-se até
que o turbilhão não pudesse ser contido. Ela gritou seu nome enquanto ele gritava o dela com os
dentes cerrados, e ambos chegaram ao ápice juntos.
Depois, eles se deitaram nos braços um do outro, permitindo que seus corpos saciados, se
aquecessem na glória do que eles tinham acabado de compartilhar. Agarrada a ele, seus membros se
entrelaçaram, ela adormeceu satisfeita.
Swindler acordou algum tempo depois, letárgico e saciado. O seu casamento, decidiu, ia ser muito
maravilhoso.
Abrindo os olhos, viu a silhueta de Emma em pé na frente da janela, um cobertor envolto em
torno dela, a brisa do mar soprava no quarto.
Saindo da cama, ele foi até ela, passou os braços em volta dela apertando os lábios no topo da sua
cabeça.
— Volte para a cama, Emma.
Ela se inclinou para ele, com a cabeça encontrando seu lugar favorito no recanto de seu ombro.
— Eu só estava agradecendo a Elisabeth por ter você comigo.
Mergulhando cabeça para baixo, ele beijou a nuca dela.
— Estava?
— Ela queria garantir que Eleanor e eu encontrássemos esposos. De forma irônica e retorcida,
ela fez exatamente isso.
Girando em seus braços, ela inclinou o rosto para ele. Estava grato em ver apenas sorriso e não
lágrimas no rosto dela. Ele queria que a partir de hoje pudesse preencher sua vida com nada, exceto
alegria.
— Vou sentir falta deste lugar. — ela disse suavemente.
Amanhã eles iriam fechá-lo e viajariam para Londres.
— Nós vamos voltar de vez em quando. — ele assegurou . — Eu gosto do cheiro daqui.
À luz da lua, viu uma pequena sombra de dúvida cruzar o rosto dela.
— O que foi, Emma?
— Acha que se tivesse sido Eleanor que estivesse naquela tarde no Hyde Park você teria se
apaixonado por ela?
— Não. Nunca. Você começou a reclamar o meu coração desde a primeira vez que sorriu para
mim.
Epílogo

Do diário de Sir James Swindler.


Lorde Rockberry julgou mal seus pares. Eles, no entanto, não o julgaram mal. Ele não enfrentou
a forca com a mesma dignidade que meu pai, confirmando a minha crença de que não era um título
que fazia um homem.
Quanto aos outros membros da sociedade secreta que estavam envolvidos naquela noite, a filha
do duque acabou se casando com um cavalheiro que levou outra dama como sua amante, embora
houvesse rumores de que as duas damas se gostavam. Os homens restantes estão vivendo no outro
lado do mundo, mesmo que as evidências indiquem que dois deles tenham morrido em
circunstâncias misteriosas. William Graves, médico da rainha e dos pobres, foi útil em fornecer
cadáveres irreconhecíveis. Dois homens destinados à fossa comum agora encontram-se repousando
na melhor das acomodações.
Quando eu era mais jovem, uma escuridão pairava dentro de mim. Uma combinação de culpa,
remorso e determinação de me tornar digno do sacrifício de meu pai. Eram pesados fardos para
suportar, mas suportei-os, em gratidão por cada respiração que tirei dele. Muitas vezes penso nele de
pé, alto e robusto sobre a forca, a curva leve de sua boca, sua piscadela final. “Nós os enganamos,
rapaz. Nós enganamos todos eles”.
Na verdade, nós fizemos.
Não sei se compreendi perfeitamente como ele poderia ter ido tão voluntariamente, até que eu
fosse abençoado com meus próprios filhos. Fiquei apavorado pela confiança que minhas filhas de
cabelos loiros brilhantes depositaram em mim quando, poucos momentos depois de sua chegada,
cada uma envolveu suas mãozinhas em torno de meus dedos, um toque que chegou até meu
coração. Filhas gêmeas. Ah, as brincadeiras que inventam. Elas são superadas apenas por seu irmão,
que veio ao mundo dois anos mais tarde e trouxe com ele o sorriso do seu avô.
Eu gostaria que meu pai pudesse ter conhecido minha Emma. Não posso deixar de pensar que
ele a teria apreciado tanto quanto eu. Ela é a luz na escuridão da minha vida. Ela e os meus filhos.
Enquanto me sento no chalé junto ao mar, escrevendo no meu diário, posso ouvi-los rindo perto
dos penhascos. Logo vou me juntar a eles.
Tenho amado muito a minha Emma por todos esses anos, e continuarei a fazê-lo até o dia em
que eu morrer. Ela é a luz da minha vida, aquela que tirou a escuridão, aquela que me completa.
Emma foi aquela que deu ao órfão perdido e solitário que viveu dentro de mim um verdadeiro
lar, finalmente.
1
Exposição mundial celebrada em 1851 em Londres. Concebida para mostrar o progresso:
maquinaria, esculturas, matérias-primas, e os frutos da engenharia humana.
2
Swindler em inglês significa trapaceiro, vigarista. Daí o jogo de palavras intraduzíveis como o
nome do protagonista.
3
Um manto de mulher com ou sem mangas, chegando até os tornozelos. Esta peliça é feita de
seda macia e retorcida chamada 'sarsenet' (muitas vezes mencionada por Jane Austen em romances e
cartas do mesmo período).
4
E um trabalho ornamental feito de fios muito finos e pequeninas bolas de metal, soldadas de
forma a compor um desenho. O metal é geralmente ouro ou prata, mas o bronze e outros metais
também. A filigrana foi usada na joalharia desde uma Antiguidade greco-romana.

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