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COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR

INSTITUTO DE RADIOPROTEÇÃO E DOSIMETRIA


CENTRO REGIONAL DE ENSINO E TREINAMENTO PROF. LUIZ TAUHATA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” EM PROTEÇÃO RADIOLÓGICA


E SEGURANÇA DE FONTES RADIOATIVAS

MÓDULO: 8. PROTEÇÃO CONTRA A EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL

TÍTULO: 8.9. AVALIAÇÃO DA RADIOPROTEÇÃO EM UM DEPARTAMENTO DE


MEDICINA NUCLEAR DE UM HOSPITAL

AUTOR: Lidia Vasconcellos de Sá, Jorge Wagner Esteves.

INTRODUÇÃO

Em um Departamento de Medicina Nuclear fontes não seladas de radionuclídeos


são manipuladas para diversas aplicações diagnósticas e terapêuticas. A filosofia da
Proteção Radiológica em Medicina Nuclear está preocupada, principalmente, com a
segurança do paciente e dos seus familiares, dos trabalhadores médicos e
paramédicos, e dos membros do público.

Em uma instalação típica de medicina nuclear, os departamentos são geralmente


segregados em função do tipo de procedimento realizado. São, idealmente, como
segue:

Departamento de Medicina Nuclear “In vivo” (Grupo I)

1. Sala de radiofarmácia.
2. Sala de administração de dose.
3. Sala de espera de pacientes injetados.
4. Sala(s) de cintilografia.

Departamento de Medicina Nuclear “In vitro” (Grupo II)

1. Laboratório de radioimunoensaio.
2. Laboratório de iodo.
3. Laboratório de contagem.

Departamento de Medicina Nuclear Terapêutica (Grupo III)

1. Salas de tratamento.
2. Enfermarias de isolamento.
3. Enfermarias gerais.

Gerenciamento de Rejeitos

1. Coleta de resíduos sólidos e áreas de armazenamento.


2. Tanque de decaimento.

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OBJETIVO

Os princípios de Proteção Radiológica aplicados à Medicina Nuclear diagnóstica e


terapêutica devem ser ilustrados e demonstrados aos participantes durante a visita ao
hospital.

PROCEDIMENTO

Medicina Nuclear “In vivo” (Grupo I)

Em medicina diagnóstica “in vivo”, 99mTc é o radionuclídeo mais utilizado.


Rotineiramente o 99mTc é eluído do gerador de 99Mo (fonte-pai), por extração com
solventes ou por cromatografia de coluna.

No laboratório de Radiofarmácia, as medidas de segurança radiológica (ou seja:


tempo, distância e blindagem) para otimizar a exposição à radiação do
radiofarmacêutico, devem ser demonstradas. O uso de avental de chumbo, luvas,
tijolos de chumbo, vidro plumbífero, recipientes de chumbo para seringas, recipientes
de estocagem de rejeitos, lixeiras blindadas, ferramentas de cabo longo como fórceps,
pinças, etc., otimizando a exposição para a equipe, deve ser enfatizada aos
participantes.

Os controles de qualidade dos radiofármacos e do calibrador de dose de isótopos


devem ser realçados, uma vez que estes são extremamente importantes para otimizar
a exposição do paciente.

Durante a administração do radiofármaco ao paciente, as medidas de segurança a


serem desenvolvidas pela equipe para evitar a contaminação e minimizar os riscos,
deve ser explicada para o grupo. Para evitar qualquer administração inadequada, deve
ser verificado:

1. Paciente correto
2. Radiofármaco correto
3. Atividade correta
4. Via de administração correta

A gravidez é uma contraindicação para qualquer administração de dose. Quando


administrando dose para pacientes pediátricos, a atividade deve ser baseada na razão
do peso do corpo. Doentes acamados ou incontinentes devem ser cateterizados, se a
rota de excreção do radiofármaco é, principalmente, através da urina, antes da
administração da dose.

Para otimizar a exposição do pessoal envolvido na administração da dose, a


utilidade do biombo, protetor de seringas, frascos com codificação de cores para
facilitar a identificação mais rápida do radiofármaco, uso de bandeja, etc., deve ser
enfatizado.

Após a administração do radiofármaco solicita-se aos pacientes já injetados que


esperem em uma sala separada, propriamente designada para tal. Os pacientes
devem utilizar instalações sanitárias separadas das dos trabalhadores e do público.

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PROCEDIMENTO

Medicina Nuclear “In vitro” (Grupo II)

Na medicina nuclear de diagnóstico “in vitro”, o radioisótopo mais comumente


usado é o 125I. Este é geralmente utilizado em ensaios como Radioimunoensaio (RIA)
ou Imuno-radiométrico (IRMA).

A manipulação de kits RIA e/ou IRMA para testes de rotina não constituem perigo
de irradiação externa já que o 125I é um emissor gama de baixa energia, como
também, a atividade associada ao kit é extremamente pequena. No entanto, o risco de
contaminação interna existe e é significativa durante o processo de iodação de
proteínas. Os participantes devem ser informados sobre as precauções a serem
tomadas pelo pessoal que desempenha procedimento de iodação.

Monitoração de pessoal para a contaminação tireoidiana deve ser demonstrada


aos participantes.

PROCEDIMENTO

Medicina Nuclear Terapêutica (Grupo III)

Em qualquer programa de terapia com radionuclídeos, um plano aprovado


contendo a descrição dos locais de tratamento (layout), um médico especializado em
medicina nuclear e um SPR qualificado, são requisitos essenciais e obrigatórios.

As instalações, assim como o quarto de tratamento, enfermaria de isolamento,


enfermarias gerais, posto de enfermagem, sala de monitoramento, etc., devem ser
mostradas aos participantes.

Os critérios e a necessidade de isolar o paciente devem ser explicados aos


participantes. Usando medidores de radiação, os critérios de avaliação quanto à
remoção do paciente do isolamento e liberação do mesmo do hospital, devem ser
demonstrados. Os procedimentos que são adotados para manter a exposição ALARA
aos órgãos-alvo devem ser salientados em detalhes.

A otimização das exposições aos familiares e visitantes também deve ser


destacada para os participantes.

Gerência de rejeitos

Os procedimentos de coleta dos resíduos radioativos, a segregação e sua


disposição, devem ser explicados aos participantes. Ênfase especial na gestão de
resíduos de terapia com radionuclídeos, com especial referência aos efluentes
provenientes das enfermarias de isolamento e sua manipulação através de um
sistema de tanques de decaimento deve ser demonstrada, caso aplicável.

Manutenção de Registros

Os registros típicos que são mantidos em um departamento de Medicina Nuclear


como: o inventário de fontes, os dados da exposição dos trabalhadores, pesquisas de

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contaminação, monitoramento da tireóide, tratamento de resíduos, taxas de exposição


do paciente, captação na tireóide, etc., devem ser mostrados aos participantes.

Classificação, identificação e sinalização das áreas.

O otimização do fluxo de pacientes em um serviço de medicina nuclear visa,


principalmente, diminuir a exposição ocupacional e evitar a exposição de público.
Dessa forma, a identificação de cada sala é importante para orientar e manter os
pacientes em locais destinados para administração, sala de espera de pacientes,
sanitários exclusivos, salas de exames.

A classificação de áreas, como controladas e supervisionadas, também visa à


proteção do público, impedindo a entrada de pessoas não autorizadas. O uso do
símbolo internacional de radiação nas portas de acesso às salas e quarto terapêutico
(barreiras físicas) e, também, ao próprio serviço tem o mesmo objetivo.

Avisos aos pacientes quanto à possível gravidez e aleitamento devem ser


mostrados aos participantes, assim como as classificações de áreas, símbolos e
advertências.

Programa de Preparação e Resposta à Emergência

A preparação para lidar com situações de emergências de grandes vazamentos,


má administração, ou morte de um paciente, deve ser explicada aos participantes.

REUNIÃO APÓS VISITA

Em Medicina Nuclear, a ênfase principal em proteção radiológica está voltada ao


paciente, seguido pela equipe, familiares e público. Todos os esforços devem ser
feitos para manter a exposição tão baixa quanto razoavelmente realizável (ALARA).
Não há limites de dose para um paciente submetido à exposição médica, no entanto,
todos os riscos devem ser justificados e otimizados.

No caso dos trabalhadores, os limites de dose estipulados pela ICRP 103 ou pela
Autoridade Reguladora Nacional, se aplicam. Para procedimentos diagnósticos em
medicina nuclear, há muito pouco perigo para os membros da família ou do público.
Entretanto, o paciente que recebe determinada atividade como dose terapêutica deve
ser liberado somente quando toda a atividade retida neste encontra-se abaixo dos
limites regulamentares, através do qual se pode garantir que a exposição dos
membros da família possa ser mantida abaixo do limite de 1 mSv/ano, limite para o
público.

No entanto, para alguns membros da família, consciente e voluntariamente


envolvidos no atendimento, conforto e apoio ao paciente, a exposição à radiação de
tais “cuidadores” ou “acompanhantes” deve ser limitado a 5mSv por episódio,
considerada como uma restrição de dose (obs.: ICRP 60, na ICRP 103/2007 não há
valor numérico).

As doentes que estão amamentando, dependendo do tipo de radiofármaco


administrado, devem limitar ou evitar a amamentação do filho, conforme conselho do
médico nuclear.

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PERGUNTAS
1. Quais são os diferentes departamentos de medicina nuclear em um hospital?
2. Como os vários procedimentos são realizados?
3. Como são classificadas as áreas em um serviço de medicina nuclear? Por que?
4. Como o rejeito gerado em um hospital é gerenciado?
5. Quais são os limites de dose para a alta de pacientes do hospital?
6. Quais são os planos de preparação e resposta a emergência necessários em
hospitais que utilizam radiação em medicina?

RELATÓRIO DE VISITA

Os participantes devem preparar um relatório sobre a visita, destacando os pontos


principais de radioproteção observados.

REFERÊNCIAS

1. IAEA, International Basic Safety Standards for protection against ionizing radiations
and for the safety of radiation sources. Safety Series No. 115, Vienna (1996).

2. IAEA, Emergency planning and preparedness for accidents involving radioactive


materials used in medicine, industry, research and teaching. Safety Series No. 91,
Vienna (1989).

3. IAEA, Recommendations for the safe use and regulation of radiation sources in
industry, medicine, research and teaching. Safety Series Nº 102, Vienna (1990).

4. IAEA, Release of Patients after radionuclide therapy. Safety Series Nº 63, Vienna,
2009.

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