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Direito Previdenciário

Aula 3: Origem e evolução da prestação previdenciária e as


fases do seguro social

Apresentação
Quando você começa a estudar Direito, seus parentes costumam querer tirar inúmeras dúvidas com você, não é mesmo?
Várias são as histórias que eles contam na expectativa de que você os ajude a resolver o problema desde um aluguel
atrasado até a venda de um carro. Em meio a isso estão as dúvidas sobre aposentadoria. Nesta aula você aprenderá sobre
a qualidade de segurado. Esse conhecimento é basilar para a compreensão futura de aposentadoria.

Veremos nesta aula a distinção entre contribuinte e segurado, pois, ao contrário do que muitos pensam, os dois possuem
significados importantes e diferentes um do outro no âmbito do Direito Previdenciário. Identificaremos ainda os sujeitos
protegidos e desamparados. Por fim, como se dá a manutenção, a perda e o restabelecimento da qualidade de segurado.
Objetivo
Identificar a qualidade de segurado.

Qualidade de segurado

Vimos até aqui toda a parte introdutória para nos situarmos melhor na matéria de Direito Previdenciário. Todo o panorama
histórico, os princípios e os regimes de previdência nos abrem campo para tratarmos do nosso próximo tema que é a qualidade
de segurado.

Os beneficiários da previdência social nada mais são do que as pessoas físicas que têm direito às prestações do Regime Geral
de Previdência Social. Os beneficiários poderão ser os próprios segurados, que são aqueles que contribuem para o sistema, ou
os seus dependentes que, mesmo não contribuindo para manter essa qualidade, estão protegidos nos casos de prisão ou
morte daqueles de quem dependiam economicamente.

Segurados da Previdência Social

Segurado empregado

Segurado empregado doméstico

Segurado contribuinte individual

Segurado trabalhador avulso

Segurado especial

Segurado facultativo
 Fonte: Shutterstock

Vamos agora classificar um por um.

Clique nos botões para ver as informações.


Segurados da Previdência Social 

Em função do vínculo jurídico que possuem com o regime de previdência, os segurados são os principais contribuintes
desse sistema, no qual há a figura do segurado obrigatório. Segurado obrigatório é todo aquele que exerce atividade
remunerada, exceto se servidor público com Regime Próprio de Previdência. Como o próprio nome indica, esse segurado
não tem a escolha de se filiar ou não, sendo sua filiação compulsória.
Imagine um empregado que ainda não contribua com o teto máximo da previdência. Caso ele comece a exercer outra
atividade remunerada, deverá contribuir para a previdência, pois ainda não atingiu o teto. Entretanto, se esse mesmo
empregado já contribui com o teto máximo no primeiro trabalho, ele não precisará contribuir com a previdência na outra
atividade remunerada. Isso se dá pelo fato de que todo segurado que ainda não contribui com o teto, deve ser filiado
compulsoriamente em todas as atividades que exercer até que atinja o teto máximo.

O mesmo acontece ao aposentado que retorna à atividade remunerada. Essa nova atividade exercida pelo aposentado
implicará em filiação compulsória ao Regime Geral de Previdência Social, devendo contribuir em relação a essa atividade,
pois é segurado obrigatório.

Segurado empregado 

Segundo a Consolidação das Leis do Trabalho, empregado é a pessoa física, urbana ou rural, que presta serviços de
natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
Essa é a primeira figura de segurado que surge elencada na lei e no regulamento de previdência social. Pare esta leitura
agora e pesquise na internet o artigo 9º do Decreto 3048/99. Repare que ele elenca, no inciso I, os segurados pessoa
física. Leia cada alínea atentamente.

Leu? Agora vamos nos atentar para alguns pontos. Note que para ser segurado empregado em organismos oficiais
internacionais no exterior, o brasileiro deverá trabalhar para a União e não para o organismo internacional, exceto se
enquadrado em algum regime próprio de previdência social. Já os bolsistas e os estagiários somente serão empregados
se estiverem exercendo atividade em desacordo com a lei de estágio.

Temos também a figura daquele que exerce cargo comissionado. Esse, conforme vimos em outra aula, não pode se filiar
ao Regime Próprio de Previdência Social, pois não cumpre os requisitos para tanto, devendo ser segurado obrigatório. O
servidor efetivo, o empregado público e o servidor contratado por tempo determinado que também não tenha Regime
Próprio em sua categoria serão considerados segurados obrigatórios.

A comprovação do vínculo empregatício pode ser feita através de:

Carteira Profissional – CP;

Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS;

Original ou cópia autenticada da Ficha de Registro de Empregados ou do Livro de Registro de Empregados, onde
conste o referido registro do trabalhador acompanhada de declaração fornecida pela empresa, devidamente
assinada e identificada por seu responsável;

Termo de rescisão contratual ou comprovante de recebimento do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço – FGTS,
entre outros.
Segurado empregado doméstico 

Para ser considerado empregado doméstico é necessário que ele preste serviço de natureza contínua, mediante
remuneração, a pessoa ou família, na casa destes, em atividade sem fins lucrativos. Esse conceito de contínuo deve ser
aplicado aquelas pessoas que prestam serviço mais de duas vezes na semana, senão será considerada apenas diarista.
Ainda, não pode o serviço ser prestado em local que não a casa ou residência dos que a contratam. Não pode, por
exemplo, um empregador pedir para que seu empregado doméstico realize a limpeza de seu escritório situado em local
diverso da residência. Se o fizer, deverá contratá-lo por fora.

Por fim, se o empregado doméstico estiver trabalhando para o empregador e o empregador estiver ganhando algo por
isso, o empregado deverá ser contratado por fora, pois está vedada a contratação de empregado doméstico para fins
lucrativos.

Segurado contribuinte individual 

Chegamos agora na figura mais abrangente dos segurados. Todos aqueles que não se enquadrem em nenhuma das
categorias anteriores serão enquadrados nessa. Você já deve ter ouvido falar ou possui algum parente que se diz ser
autônomo, trabalha por conta própria. Essa nomenclatura de autônomo não mais existe no direito previdenciário, devendo
ser considerado como contribuinte individual.
Como fizemos anteriormente, pare esta leitura e vá até o artigo 9º do Decreto 3048/99, mas desta vez no Inciso V e leia
todas as alíneas para que você entenda quantas possibilidades há para contribuintes individuais. Note que estão incluídos
nesta qualidade:

Padres e ministros de confissão religiosa;

Vendedores autônomos de cachorro-quente;

Médicos autônomos;

Advogados autônomos;

Árbitros de futebol;

Garimpeiros;

Cooperados;

Os mais diversos tipos de profissionais liberais.

Segurado trabalhador avulso 

Não confunda o trabalhador avulso com o contribuinte individual. Apesar do nome dar a aparência de autonomia, esse
trabalhador avulso é aquele que presta serviço para uma empresa com intermediação obrigatória do sindicato ou do
Órgão Gestor de Mão de Obra – OGMO. Se não tiver essa intermediação, o trabalhador não poderá ser considerado avulso.
Leia agora o inciso VI do artigo 9º do Decreto 3048/99 anterior para que você veja quais são essas figuras.
Segurado especial 

Esta é uma hipótese prevista constitucionalmente que dá ao segurado especial um tratamento bem diferenciado. Todo
pequeno produtor rural, pescador ou seringueiro e demais membros da família que exerçam suas atividades
individualmente ou em economia familiar, sem o auxílio de empregados permanentes, são considerados segurados
especiais. É o Inciso VII do artigo 9º do Decreto 3048/99 que classifica os segurados especiais.
Após a leitura, você vai notar que a contribuição do segurado especial será feita mediante a aplicação de uma alíquota de
2,3% sobre o resultado da comercialização da produção. Assim, a contribuição de toda a família será uma só, incidente
sobre a receita bruta dessa comercialização. Com uma única contribuição, todos os membros da família serão segurados
e farão jus aos benefícios.

O segurado especial poderá, ainda, ter auxílio de terceiros, desde que não seja um auxílio remunerado. Se o segurado
especial contratar algum empregado, ele passará à condição de contribuinte individual. A exceção para isso é o grupo
familiar se utilizar de empregados contratados por tempo determinado ou trabalhadores contribuintes individuais à razão
de no máximo 120 pessoas/dia no ano civil. Assim, se o grupo familiar possuir 2 empregados, poderá mantê-los por 60
dias.

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Segurado facultativo 

Como o próprio nome indica, segurado facultativo é aquela pessoa que, pelo princípio da universalidade da cobertura e do
atendimento, quer se filiar ao Regime Geral de Previdência Social. Por um ato de mera vontade, a pessoa poderá se filiar.
Para isso, ela deverá ser maior de 16 anos, não exercer atividade remunerada e não estar filiada obrigatoriamente a
nenhum outro regime que a lei determine. Vale dizer, portanto, que não há a possibilidade de segurado facultativo e
obrigatório ao mesmo tempo.
É o artigo 11, § 1º do Decreto 3048/99 que elenca, exemplificativamente, as pessoas que podem se filiar facultativamente:

A dona de casa;

O síndico não remunerado;

O estudante;

O brasileiro que acompanha cônjuge que presta serviço no exterior;

Aquele que deixou de ser segurado obrigatório da previdência social;

O membro de conselho tutelar;

O bolsista e o estagiário;

O presidiário que não exerce atividade remunerada;

O brasileiro residente ou domiciliado no exterior;

O segurado recolhido à prisão sob regime fechado ou semiaberto, que, nesta condição, preste serviço, dentro ou fora
da unidade penal, a uma ou mais empresas, com ou sem intermediação da organização carcerária ou entidade afim;

O que exerce atividade artesanal por conta própria.


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Atividade
1. João foi admitido como funcionário comissionado no quadro de colaboradores da câmara municipal de um município que
possui Regime Próprio de Previdência Social. Quando da primeira contribuição à previdência, surgiu uma dúvida interna: João
deverá ser filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ao Regime Próprio de Previdência Social instituído pelo município?

Manutenção, perda e restabelecimento da qualidade de segurado

Agora que vimos quais são as qualidades de segurado, veremos como se dá sua manutenção, sua perda e seu
restabelecimento a essa condição.

Quando o segurado está coberto pela proteção da seguridade social, dizemos que ele está em manutenção da qualidade. Essa
manutenção pode acontecer mesmo em casos onde o segurado não está contribuindo, que é o conhecido período de graça.
Porém, esse período de graça não entra para efeitos de contagem de contribuição.

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É o artigo 13 do Decreto 3048/99 que estipula os prazos. Leia o que diz o


artigo e então veremos o que diz cada um dos incisos.

Manutenção
A primeira previsão é bastante óbvia. Quem está recebendo algum benefício não contribui para a seguridade social, exceto se
for auxílio-maternidade. Depois, se o segurado não estiver contribuindo, ele continuará a ser segurado por até 12 meses após a
data do término do último benefício.

Quais as outras etapas do processo de manutenção? É o que veremos a seguir.


Leitura
Para entender melhor esse contexto, acesse a leitura que trata sobre a Manutenção.

Atividade
2. Ana Júlia e Joaquim, filhos menores dependentes de Antônio, entram com requerimento para obterem benefício de pensão
por morte. O benefício lhes é concedido à monta de R$1.500,00. Quando o pagamento foi feito, Ana Júlia recebeu R$750,00 e
Joaquim R$750,00 também. Indaga-se: o pagamento foi feito de maneira correta?

Perda
A perda da qualidade de segurado importa em caducidade dos direitos inerentes a essa condição. Aquele que perde a
qualidade de segurado deixa de ter direito às prestações previdenciárias. Se um segurado perde a qualidade de segurado
necessite de algum auxílio ou benefício, ele não terá direito a prestação alguma. O que se ressalta aqui são as hipóteses em
que os benefícios não são afetados pela perda da qualidade de segurado.

Se um trabalhador segurado que contribuiu por 35 anos e depois parou de trabalhar, perdendo a qualidade de segurado, quiser,
passados 7 anos, o benefício da aposentadoria, ele terá direito ao benefício, pois já cumpriu os requisitos para tanto. As
aposentadorias por tempo de contribuição e especial não são afetadas pela perda da qualidade de segurado quando
cumpridos os requisitos.

Imagine agora se um segurado que trabalhou por 20 anos


para cumprir a carência vier a perder a qualidade de
segurado e nunca mais trabalhar até os 65 anos de idade.
Ele terá direito à aposentadoria por idade, pois primeiro
cumpriu a carência e depois a idade. Os requisitos não
precisam ser cumpridos ao mesmo tempo.

Apesar de a pensão por morte não ser concedida aos


dependentes de quem já perdeu a qualidade de segurado,
há o entendimento que, caso esse falecido tenha cumprido
todos os requisitos para obtenção da aposentadoria, seus
dependentes farão jus ao benefício. Da mesma forma do
parágrafo anterior, os beneficiários farão jus, pois o
 Carteira de Trabalho e Previdência Social (Fonte: Shutterstock) segurado cumpriu os requisitos necessários para obtenção
do benefício.

Restabelecimento
Vimos que existe, para aquele segurado que deixou de contribuir por algum motivo, o período de graça. O restabelecimento se
dá quando o segurado volta a exercer atividade remunerada (segurado obrigatório) ou volta a contribuir voluntariamente
(segurado facultativo).
O período de graça é automaticamente sucedido pela nova filiação
sem perda do vínculo previdenciário.

Atividade
3. Com relação à manutenção da qualidade de segurado, independentemente de contribuições, é correto afirmar:

a) O segurado facultativo mantém a qualidade de segurado por até 6 meses da cessação das contribuições.
b) O segurado retido ou recluso mantém a qualidade de segurado por até 6 meses do livramento.
c) O segurado que deixa de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social, ou estiver suspenso ou licenciado mantém a
qualidade de segurado por até 24 meses.
d) Enquanto estiver no gozo de benefício o segurado não perde a qualidade de segurado, desde que o benefício não se prolongue por
mais de 12 meses.
e) Se o segurado já tiver recolhido mais de 120 contribuições sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado, todos os
prazos dos incisos do art. 15 da Lei 8.213/91 são prorrogados em 6 meses.

Referências
Notas

IBRAHIM, F. Z. Curso de direito previdenciário. 15. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.

MARTINEZ, W. N. O salário de contribuição na lei básica da previdência social. São Paulo: LTr, 1993.

MARTINEZ, W. N. Comentários à lei básica da previdência social. 2. ed. São Paulo: LTr, 1996.

TAVARES, M. L. Direito previdenciário: regime geral de previdência social e regras constitucionais dos regimes próprios de
previdência social. 12. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.

Próxima aula

Qualidade de dependente;

Perda da qualidade de dependente.

Explore mais

Leia os artigos a seguir e enriqueça seu conhecimento:


Qualidade de segurado; <https://www.inss.gov.br/orientacoes/qualidade-de-segurado>

Como recuperar a qualidade de segurado <https://cmpprev.com.br/blog/como-recuperar-a-qualidade-de-segurado/> .

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