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Belo Horizonte, maio/junho de 2015 – Ano 11 – n°42 pnaic
A Matemática
com novos sentidos
Como o segundo ano do Pnaic ajudou a
construir uma nova relação com a disciplina
6 Outra concepção
Problemas reais são chave do aprendizado
7 Diversão com fundamento
Os jogos como ferramenta pedagógica
15 Interdisciplinaridade
Literatura e Matemática
Ilustração: freepik.com
Editorial
O reconhecimento dessa complexidade traz implicações sobre o modo Neste número temático do jornal Letra A, então, abre-se espaço para
de se conceber a aprendizagem das linguagens presentes na cultura evidenciar as especificidades da linguagem matemática, indicando as
escrita, entendendo-a como uma aquisição e um desenvolvimento não suas implicações para uma desejável ‘alfabetização matemática’ e para
só de habilidades para reconhecer e produzir elementos simbólicos, mas uma efetivação de práticas sociais do ‘numeramento’. Nas entrevistas,
principalmente de promover práticas situadas para favorecer usos sociais, nos depoimentos, nos relatos, são apresentados argumentos que
potencializando uma variedade de formas de interpretar a realidade. permitem identificar a natureza peculiar de alguns dos temas que
Nessa direção, a presença de diferentes códigos no mundo da escrita envolvem o ensino e a aprendizagem da Matemática, mas também há
demanda procedimentos específicos que reconheçam as regras de elementos que reforçam a necessidade de ações interdisciplinares que
funcionamento de cada linguagem, na sua especificidade e, também, na sua assumam a multiplicidade de linguagens que estão presentes na cultura
complementaridade. Não sem razão, portanto, no processo de alfabetização escrita e que, certamente, devem estar também presentes no processo
e nas práticas de letramento, há um ideal de interdisciplinaridade que de ensino e de aprendizagem nas situações escolares.
precisa ser concretizado, já que os textos podem ser realizados com a
integração de vários recursos de linguagem. Assim, quando se pensa Os editores
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Expediente
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Editores Pedagógicos: Gilcinei Carvalho, Isabel Cristina Frade e Eliane Scheid Gazire (convidada para esta edição)|Editor de Jornalismo: Vicente Cardoso Júnior (18707/MG)|Projeto Gráfico: Marco Severo|Diagramação e ilustrações: Daniella Salles
Reportagem: Daniel Henrique, Eliza Dinah, Guilherme Rabello, Izabella Lourença, Leíse Costa, Manuela Peixoto, Poliana Moreira, Túlio Lopes de Melo | Revisão: Lúcia Helena Junqueira
O Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) é um órgão complementar da Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais.
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Dicionário da alfabetização
Alfabetização Matemática
As pessoas vivenciam a matemática em suas vários campos do conhecimento matemático (aritmética, em uma perspectiva mais ampla. Apoiando-se nas
Metodologia de Ensino da Universidade Federal de São Carlos
Estadual de Campinas, professora do Departamento de
Regina Célia Grando – Doutora em Educação pela Universidade
experiências cotidianas. Entretanto, não de forma geometria, álgebra, tratamento da informação). ideias de Paulo Freire sobre alfabetização enquanto
sistemática, com uma linguagem própria da matemática. Para Ocsana Danyluk, uma das primeiras autoras a uma capacidade de escrita e leitura de mundo, o autor
Torna-se necessário que a escola dê conta de um processo usar esse termo no Brasil, a alfabetização matemática se interpreta a alfabetização matemática como a capacidade
de alfabetização matemática a fim de dar acesso, estender, refere à ação de aprender a ler e a escrever a linguagem de se interpretar um mundo estruturado por números
ampliar e aprofundar os conhecimentos matemáticos matemática nos primeiros anos de escolarização. Essa e figuras, bem como a capacidade de se atuar nesse
construídos e mobilizados pelos estudantes em suas ideia está associada ao princípio da alfabetização em mundo. Skovsmose usa o termo matemacia como sinônimo
experiências, tornando-os disponíveis na resolução de língua materna, ocorrida na escola no chamado ciclo de para alfabetização matemática. Nessa perspectiva, a
situações-problema dentro e fora da escola. O processo de alfabetização. Compreende-se a matemática com sua alfabetização matemática não é restrita ao contexto escolar,
alfabetização matemática prevê capitalizar ideias intuitivas linguagem própria que pode ser aprendida na escola para mas a uma leitura matemática de mundo que possibilite ao
dos estudantes, presentes nas experiências matemáticas interpretar, ler e escrever matematicamente. indivíduo interpretar os fenômenos sociopolíticos e uma
que são vivenciadas social e culturalmente, a fim de Ole Skovsmose, pesquisador e teórico da Educação escrita matemática que promova mudanças.
explorar uma leitura matemática de mundo relativa aos Matemática Crítica, entende a alfabetização matemática
2 3 4 8 9 10
1 5 6 7
Das unidades às dezenas
Cada criança produz seu fio de contas para aprender conceitos Incluindo
toda a turma
ligados à contagem e ao sistema de numeração decimal
Quando estão sendo introduzidas aos conceitos um saquinho com 40 unidades de contas (20 azuis e 20 Professora ensina criança com TGD com
matemáticos, as crianças precisam de um suporte marrons), que primeiro foram separadas pela cor em dois atividades semelhantes para toda a classe
concreto para ajudá-las nas contas, por exemplo, usando copos distintos. Após essa classificação, eles tinham de
por Leíse Costa
os dedinhos. Pensando nisso, a professora Louisianne preencher o cordão em quatro partes iguais, intercalando
Bonzanini, da Escola Municipal Professora Gladis Maria uma dezena de cada cor. "Eles mesmos colocavam, contavam
No primeiro semestre de 2014, Karla Freitas Farias
Tibola, em Cascavel (PR), resolveu adotar um material e separavam as contas no fio. Com isso, a gente conseguiu
recebeu o laudo de uma nova aluna, que trazia descrições
para auxiliar no processo: o fio de contas. trabalhar classificação, seriação, contagem e a relação
como agressiva e impetuosa e alertava a não deixá-
Louisianne, que leciona para o 1º ano, levou um fio de número/quantidade, já que, se eles colocassem errado, ia
la próxima de objetos pontiagudos. O diagnóstico, dado
contas para a sala de aula e perguntou se alguém sabia o que faltar (ou sobrar) para preencher depois."
por um neurologista, era de que a aluna tinha transtorno
era. Alguns arriscaram ser uma pulseira, outros, um colar, Ao final, Louisianne questionou: "Quantas contas
global do desenvolvimento (TGD), o que implicava atraso
mas apenas um tinha a resposta na ponta da língua, porque a vocês acham que tem o fio?" 10, 30, 100: os alunos
simultâneo no desenvolvimento de funções básicas, incluindo
mãe, professora, já havia lhe mostrado. Louisianne completou arriscavam. Contaram uma fileira azul e notaram que
socialização e comunicação. A criança de 7 anos apresentava
a explicação, dizendo se tratar de um material didático feito havia 10, para, em seguida, um aluno dizer que as outras
dificuldades de concentração e ainda não escrevia.
de barbante e miçangas grandes (chamadas de contas), que também teriam 10, por serem do mesmo tamanho. Aos
Professora da Escola Municipal Quintino Pereira de
pode ser usado para fazer operações matemáticas. Depois poucos, dando espaço para que os alunos levantassem
Freitas, em Cuiabá (MT), Karla conta que o começo da
da primeira apresentação, os alunos tiveram a tarefa de suas hipóteses, Louisianne trabalhou com a turma a
relação foi o momento mais difícil, mas também primordial
confeccionar seu próprio fio de contas. Cada um recebeu relação de que 10 unidades formavam uma dezena.
para determinar a jornada da aluna ao longo do ano.
"Quando a recebi em sala, fiquei o mais próximo dela
Várias formas
Em família de aprender
Professora convoca pais e mães a participarem de projeto que integra geometria e literatura
Professoras valorizam as formas de
por Manuela Peixoto comunicação e registro próprias dos
alunos ao aprenderem sobre números
Com a falta de tempo e as obrigações diárias, é Primeiro, Joanne deu vários exemplos de sólidos
cada vez mais comum que os pais não participem do geométricos e comparou com objetos que eles já por Túlio Lopes de Melo
aprendizado dos filhos. Estimulada a reverter a situação, conheciam dentro e fora da sala de aula. "Mostrei um cubo
a professora do 1º ano Joanne Cunha dos Anjos propôs e perguntei: ‘O que se parece com o cubo aqui em sala?’, e As crianças do 1° ano conversavam enquanto contavam
uma atividade que, além de trabalhar integradamente as eles indicaram. ‘E em casa, tem algum objeto que se pareça balas comestíveis trazidas pelas professoras Lisandra
disciplinas de forma divertida, uniu pais e alunos. com esse daqui?’ E por aí foi. Eles puderam entender Silveira e Elisangela dos Santos, da Escola Básica Padre
Joanne, que é professora do Colégio Grão Mestre quantas partes cada figura tinha e como ela é formada", Pedro Baron, em Itajaí (SC), que observavam as estratégias
Venâncio Igrejas Lopes, em Itacoatiara (AM), estava destaca Joanne. No dia da entrega, os alunos, junto com de comunicação. "Um começou a contar e o colega disse:
trabalhando sólidos geométricos com materiais concretos os pais, apresentaram os personagens confeccionados ‘Ah não, está difícil, assim a gente vai se perder’; já outros
e, paralelamente, as crianças também estavam estudando e falaram sobre o processo de criação. "O objetivo era diziam: ‘Vamos fazer grupinho de 10’", relata Lisandra. Esse
histórias infantis. Então ela resolveu juntar os dois fazer com que os pais percebessem o quanto é importante foi um dos vários desafios que elas criaram para ensinar a
conteúdos e trabalhar de forma diferente: leu várias disponibilizar um tempo para estar com seus filhos. E o ideia de número, numerais, dezenas, centenas, unidades e
histórias e pediu que cada um confeccionasse, utilizando resultado não poderia ter sido melhor, o que foi visto na seus usos em situações cotidianas.
materiais sólidos existentes em casa, o personagem que qualidade dos objetos que eles criaram." Em uma das atividades, fizeram o uso de calculadoras
mais lhe chamou a atenção. Mas o principal: a atividade para estimar a grandeza de um número, o que era inovador,
deveria ser desenvolvida com a ajuda dos pais. porque "a maioria deles nunca tinha usado uma calculadora",
explica Lisandra. Além disso, foi usado também um jogo
comum: o arremesso de dados, em que era preciso fazer
Feito à mão
a soma dos números obtidos em cada jogada. "Cada um
tinha que registrar da sua forma, e o que completasse uma
dezena ganhava uma estrelinha", conta Lisandra. Um dos
alunos optou por fazer a sequência numérica de 1, 2, 3
Ao adaptar jogo do Pnaic, turma trabalha do
até chegar ao 10, enquanto outro desenhava uma bolinha
reaproveitamento de materiais à criação de
para cada ponto e circulou todas ao completar a dezena.
gráfico de pontuação
As diversas atividades incentivavam não só o
por Eliza Dinah aprendizado da Matemática, mas também a alfabetização
da língua: "Eles escreveram no final, fizeram os registros
do conhecimento obtido com as atividades. Então nós
A educadora da zona rural de Belo Vale (MG) Rosemary
trabalhamos a oralidade, a comunicação entre eles, a
Lima adaptou um jogo indicado pelo Pnaic em sua turma,
alfabetização matemática e a alfabetização escrita.
fazendo do "Bola na Caixa" um projeto desenvolvido pelas
Integramos vários objetivos", conclui Lisandra.
crianças. "Esse jogo foi apresentado para trabalharmos
a adição. Só que, quando cheguei em sala, vi que poderia
explorá-lo ainda mais", conta a professora.
Aprendendo sobre reciclagem e reaproveitamento,
as crianças recolheram caixas de giz de cera vazias e
papelão para confeccionar o jogo. Com as peças em mãos, escrito dentro da caixinha que foi acertada, identificando
começaram pintando de branco as 10 caixinhas, para depois e anotando-o em uma folha, além de colori-lo na cor pré-
customizá-las. Como uma turma de seis alunos se divide definida para número par ou ímpar. O jogo foi realizado em
Se você é um professor alfabetizador e realizou
para pintar 10 caixinhas? A educadora relata que eles quatro rodadas e, ao fim, as crianças tinham que organizar
recentemente um trabalho interessante com ensino da
mesmos apresentaram soluções para a divisão de tarefas. seus quatro números em ordem crescente e decrescente.
leitura e da escrita em escolas públicas de qualquer
As caixas foram coladas ao papelão em forma de Após as três etapas (identificar, colorir e organizar),
lugar do Brasil, entre em contato! Sua experiência pode
pirâmide, e no interior de cada uma havia escrito um fizeram um gráfico de pontuação para descobrir quem havia
aparecer na próxima edição do Letra A!
número aleatório de 10 a 29. Em quatro rodadas, as crianças vencido o jogo. "No final, eles perceberam que a barrinha
tinham que jogar uma bolinha de papel e acertar uma das maior era do colega que tinha ganhado. Foi algo automático, Mande um breve relato da proposta e dos resultados
caixas. Em seguida, elas observavam qual número estava não precisou de muita intervenção", explica a professora. alcançados para jornalismoceale@fae.ufmg.br. Envie
também seu número de telefone pessoal e o de sua escola.
Donos do jogo
Jogos pedagógicos garantem o protagonismo do aluno e contribuem
para a construção de conhecimentos matemáticos
por Leíse Costa
Par ou ímpar? Nessa brincadeira simples, a criança está construindo conhecimento sobre o sistema de numeração, ao mesmo tempo em que
busca uma vantagem em uma disputa. Aproveitar na escola essa interação própria do jogo, que desperta os espíritos de competição e cooperação
e demanda a participação ativa da criança, foi uma das principais estratégias do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). A
orientadora de estudos Jerusa de Pinho Tavares, de Belo Horizonte (MG), destaca: "jogar proporciona ao aluno o que temos chamado, na formação,
de protagonismo estudantil, que é a oportunidade do aluno de atuar na construção de conhecimentos."
O número de jogos disponíveis é enorme. Por isso, no momento da escolha, a professora do Ensino Fundamental Gláucia Vieira, formadora do
Pnaic na UFMG, alerta que o importante não é o jogo em si, mas a finalidade pedagógica ao escolhê-lo. "Às vezes, em um jogo para afalbetização,
o professor acaba mobilizando habilidades matemáticas. Mas, se ele não teve essa intencionalidade, ou não percebeu essa possibilidade, então
aquele jogo não foi totalmente explorado pedagogicamente", ressalta. Por esse motivo, o professor deve se nortear pelo conteúdo que quer
trabalhar, para só depois selecionar o jogo que melhor atende àquela intencionalidade.
Entre clássicos e novidades, confira abaixo três brincadeiras indicadas por diferentes professoras para ensinar Matemática.
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cinco dp ir eita! s
para a 6 ponto 1 ponto
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p ass nte!
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a
par
s
Conhecimentos trabalhados: noções de localização 3 ponto
e percepção espacial, interpretação de dados, memória.
Conhecimentos trabalhados: multiplicação, adição,
Conhecimentos trabalhados: adição, noções de "Para ensinar sobre deslocamento no espaço, para comparações, análise de dados.
distância, raciocínio, construção e interpretação de gráfico que a criança compreenda um croqui ou desenhe uma
representação no mapa, nós precisamos colocar esses A professora do Centro Pedagógico da UFMG Ruana Brito,
A conhecida brincadeira cujo objetivo é derrubar, com alunos para se deslocar", recomenda Gláucia Vieira. Nos formadora do Pnaic, considera o desafio gude ideal para
uma bola, uma série de pinos alinhados é excelente moldes da brincadeira "cabra-cega", um dos participantes trabalhar a multiplicação com sua turma de 3º ano.Para
alternativa para trabalhar adição. Primeiro, separe as com os olhos vendados será guiado pelos outros alunos jogar, desenhe no chão o esquema representado acima.
crianças em equipes. Segundo a professora da rede ao percorrer a sala de aula. Forme grupos de 3 ou 4 alunos. Coloque 12 bolinhas de
pública de Igarapé (MG) Ivonete Cândida Tutra, a divisão gude no centro do círculo e separe uma bolinha especial, de
"proporciona às crianças que estão no mesmo grupo os Durante o jogo: Posicione a criança com os olhos tamanho e cor diferentes. O objetivo é usar a bolinha especial
atos de cooperação e raciocínio e, entre as equipes, uma vendados no centro da sala e sugira ordens do tipo "cinco para tirar as demais do círculo, passando-as para o triângulo
dose salutar de competitividade." passos para a direita", "dois passos para frente". Com o ou para o quadrado, conforme a tabela de pontuação:
auxílio de um apito, a professora determina o momento – Bolinha no triângulo vale 6 pontos
Durante o jogo: Faça intervenções, questionando: em que as ordens param e a criança deve responder a – Bolinha no quadrado vale 3 pontos
"Quantos pontos faltam para empatar?", "Quanto falta questões como: "Onde você está?", "Está mais próximo – Bolinha fora do quadrado vale 1 ponto
para equipe X completar 10 pontos?", "Quantos pontos o da lixeira ou da porta?", "Está longe ou perto do quadro?"
colega deverá fazer para ganhar o jogo?" Durante o jogo: O professor deve estimular os alunos
Depois do jogo: Sem a venda nos olhos, peça que o aluno a registrarem suas jogadas e os resultados obtidos.
Depois do jogo: Peça que um de cada equipe mostre demonstre o caminho que percorreu. Além de estimular a
para a classe seu placar na competição. Para ajudar a memória, isso demanda da criança uma organização mental Depois do jogo: Com os devidos registros, o professor
criança a"materializar" o algoritmo da adição, utilize um de espacialidade e o uso adequado da linguagem para se fará a análise dos resultados, sempre indagando: "Quem
material concreto para a contagem, como palitinhos de expressar, já que ela terá de descrever aos colegas seu fez mais pontos? Quem fez menos? Quantos?", "Qual a
picolé ou tampinhas. Posteriormente, um gráfico com os trajeto. Mais tarde, essa atividade pode ser concretizada pela expressão matemática obtida?", "Quantos pontos o aluno
nomes dos que mais pontuaram pode ser feito em cartolina. construção de uma maquete que represente a sala de aula. X precisaria para alcançar o aluno Y?"
Um novo olhar
sobre a Matemática
A partir de uma formação que valorizou suas práticas e conhecimentos prévios, os
professores puderam experimentar a Matemática como forma de observar e compreender
o mundo. O Letra A conversou com diferentes participantes do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa e traz um balanço do segundo ano do programa
Aprendizado em rede
Como ensinar a criança a pensar matematicamente se, nos seus tempos Para que o conhecimento construído nas formações
de escola, o professor recebeu uma formação voltada para "aprender a atingisse seu objetivo final, a melhora no aprendizado dos
fazer contas"? Os cursos de Pedagogia, por sua vez, ainda dedicam pouca estudantes do ciclo de alfabetização, o Pnaic contou com
carga horária ao campo da Educação Matemática, o que, por décadas, uma grande equipe dividida em vários papéis e funções,
vem fazendo dessa disciplina fonte de grande receio e desinteresse nos envolvendo coordenadores, supervisores e formadores
anos iniciais do Ensino Fundamental. "A experiência com a Matemática nas universidades, orientadores de estudo e professores
nem sempre foi boa, os professores não tiveram essa vivência, enquanto cursistas nas escolas e os coordenadores locais nas redes
foram alunos, de pensar e resolver problemas matemáticos", afirma Luciana de ensino municipais e estaduais. Para a coordenadora
Tenuta, supervisora de Matemática do Pacto Nacional pela Alfabetização de formação continuada de professores do MEC, Mirna
na Idade Certa (Pnaic) na UFMG. Em seu segundo ano, o programa do França Araújo, essa articulação entre as universidades
Ministério da Educação (MEC) teve foco na tão temida disciplina. Oferecer públicas e as escolas de educação básica no programa
uma formação de base nessa área aos professores e despertar seus é um ponto que merece destaque, "uma vez que tem
olhares para o fato de que a Matemática está em todos os lugares foi propiciado o debate sobre as licenciaturas, bem como uma
o desafio assumido por 5.497 municípios e 39 universidades públicas, melhor compreensão da prática pedagógica do professor
mobilizando mais de 300 mil alfabetizadores em todo o país. e das metodologias de trabalho nas unidades escolares".
"Por ser uma das primeiras formações estruturadas que esses Pela estrutura da formação continuada do Pnaic, o
professores alfabetizadores receberam na área de Matemática, percebemos formador (pela Universidade) e o orientador de estudos
que, na prática, funcionou como uma formação inicial". A afirmação é da (pelas escolas) são importantes agentes da formação. Mas,
coordenadora-geral do Pacto na Universidade Federal do Tocantins (UFT), como relata a supervisora da área de Matemática na UFMG
Daniela Campos. Ela conta que o encontro entre os professores cursistas Heloisa Borges, as trocas de informações e experiências
e o grupo do Pnaic na Universidade levou à construção conjunta de novas iam e vinham de todos os grupos da formação. "Em nossa
metodologias, podendo-se falar até mesmo na descoberta de uma nova área, cada supervisora ficava responsável por acompanhar
forma de ensinar Matemática nos anos iniciais. "Eles ainda tinham um diretamente 4 formadores, mas nossas reuniões eram
trabalho que explorava pouco o corpo e os conhecimentos prévios das todas em conjunto e havia diálogo e contribuição de
crianças e trabalhavam uma metodologia que já está muito ultrapassada, todos", comenta. Para a formadora de Língua Portuguesa
mas que ainda era a realidade aqui no estado", explica. Daniela avalia que Rosemeire Reis, que também já atuou em outros programas
o segundo ano do programa (que, além da Matemática, também teve um de formação como o Pró-Letramento, o processo de ouvir
complemento em Língua Portuguesa) promoveu uma formação continuada os professores e entender as particularidades do ensino
ainda mais contagiante que a do primeiro, pois os cursistas perceberam em cada sala de aula foi um dos maiores ganhos do
"como a Matemática pode ser mais envolvente, mais prazerosa, mais programa. "A diferença dessa formação foi encarar de
significativa". "Nesse sentido, o Pnaic foi uma revelação", conclui Daniela. fato o professor como um sujeito que tem saberes."
Desafios da formação
A inclusão da Matemática no Pacto foi um alívio para muitos dos professores, já que a disciplina sempre foi vista como
um dos grandes desafios do ciclo de alfabetização. A supervisora Heloisa Borges observa que os conhecimentos prévios dos
docentes eram mais ligados à aplicação de técnicas, sem uma compreensão clara dos princípios matemáticos. "O professor
sabe fazer uma divisão, sabe que tem que colocar o traço de tal forma e que começa a divisão da esquerda para direita,
diferente das outras operações. Então, eles sabiam dessa técnica, mas não entendiam por que é feito assim", relata. A
supervisora Luciana Tenuta também chama a atenção para o fato de que as dificuldades dos professores vêm da formação
inicial, e muitas vezes até de seu tempo como estudantes. "Espaço e forma, por exemplo, é um conteúdo em que o professor
de Ensino Fundamental I, em geral, tem uma dificuldade muito grande, até um certo receio. Muitas vezes isso se deve a uma
experiência ruim que tiveram enquanto estudantes, ou porque não estudaram nada de Geometria na escola", afirma Luciana.
Para superar esses obstáculos, os jogos e as brincadeiras se tornaram peças-chave da formação. Mas, segundo Luciana
A prática: ponto de partida e de chegada Tenuta, foi preciso consolidar a noção de que é indispensável o embasamento teórico que fundamenta cada atividade. "Nós
Os encontros foram realizados dentro de uma víamos que havia muito o ato de fazer o jogo só pelo jogo, o lúdico só pelo lúdico, numa tentativa de fazer a Matemática ser
dinâmica sugerida pelo MEC. Os professores iniciavam gostosa e agradável", observa. "Mas isso tem de ser uma consequência de um trabalho consistente com a Matemática",
seus trabalhos com a leitura deleite: momento para completa. Assim, o jogo passou a ser uma ferramenta aliada do conteúdo teórico. "O aluno, à medida que joga na tentativa
desfrutar da literatura. Após essa etapa, era o espaço de ganhar, tem que ativar o pensamento para tentar resolver aquela situação que é nova pra ele’’, explica Luciana.
para apresentações através de dinâmicas, vídeos, slides,
relatos etc. As atividades eram feitas com o objetivo de
evitar a criação de um ambiente onde o professor deveria
apenas ‘absorver’ conteúdo, como reforça Eliane Azevedo,
A Matemática de “cara nova”
orientadora de estudos de Itaúna (MG): "Houve todo o Do material elaborado e enviado pelo MEC, as equipes de formação trabalharam os conteúdos, didáticas e
cuidado de não ser só um repasse de teoria, dando espaço brincadeiras a serem discutidos com os professores. Segundo a orientadora de estudos de Perdões (MG) Jaqueline
para os professores falarem da prática deles". Pinheiro, o Pacto foi uma formação muito diferente das outras de que ela já participou. E a maior mudança foi relativa à
Segundo o formador Diogo Faria, a ponte entre forma de acesso ao conteúdo. Segundo ela, em experiências anteriores, os professores voltavam para casa com muitas
teoria e prática guiou toda a formação, o que favoreceu folhas e papéis e acabavam se perdendo ou se desmotivando com tanto texto para ler. "O Pnaic trouxe um diferencial,
o grande envolvimento de orientadores e professores. propôs aprofundar muito mais no modo como as crianças se apropriam do conhecimento, mostrando como se processa
"A gente começava sempre com dinâmicas, com vídeos, a atividade do ponto de vista da criança", afirma. Segundo Jaqueline, essa abordagem levou o professor a ver que ele
com depoimentos. Mostrava a prática, mas mostrava próprio precisava mudar sua maneira de entender a Matemática para trabalhá-la em sala de aula.
que a teoria também é importante", relata. Para esse Com essa mudança na forma de pensar o ensino, os resultados começaram a aparecer nas salas de aula. A professora
trabalho, os formadores buscavam valorizar aquilo que Marcilene Dias, da cidade de Bom Jesus do Amparo (MG), conta que começou a ter mais segurança na proposição e
os próprios professores já desenvolviam em sala de aula, desenvolvimento das atividades matemáticas. "A dificuldade era pensar: ‘como eu vou esmiuçar esse problema?’. E o Pacto
pedindo para que eles trouxessem exemplos de atividades facilitou isso demais, ajudando na forma como a gente interpreta e até gera dali outros problemas matemáticos." Com mais
e projetos para os encontros. E o trabalho era feito sobre confiança, a professora não parou de criar, e destaca, entre as atividades desenvolvidas, a reprodução de uma feirinha na
isso: em vez de apenas modificar essas atividades ou sala de aula e a adoção da contação de histórias no ensino da Matemática. Para a orientadora Eliane Azevedo, os efeitos
sugerir novas, buscava-se perceber as potencialidades ali do Pnaic puderam ser sentidos até mesmo na estrutura da sala de aula: "Nossas salas se transformaram: agora possuem
existentes. "Além disso, a gente levava outras atividades, cantinho da Matemática, reta numérica, relógio, utilização de materiais concretos, cantinho da literatura etc", relata.
para eles perceberem os múltiplos olhares, as múltiplas
possibilidades que eles podem fazer em sala de aula".
A valorização da experiência dos professores também
teve lugar nas formações de Trindade (PE). Como os
Trilhando caminhos interdisciplinares
encontros eram aos sábados, a orientadora Samária As formações do Pacto, apesar de terem focado em Língua Portuguesa e Matemática, acabaram contemplando outras
Mércia Bega conta que as professoras de sua turma disciplinas. Segundo a coordenadora local Daianna Medeiros, os cadernos da formação foram grandes instrumentos para
mantinham contato intenso no decorrer da semana, para pensar a relação com outras áreas do conhecimento, visto que sua organização contemplava a heterogeneidade, a ludicidade e a
pedir opinião ou contar sobre uma nova atividade. "Quando interdisciplinaridade. "Pelos cadernos de 2013, dá tranquilamente para caminhar pelas outras áreas, usando os eixos da Língua
a gente relatava que alguma delas fez um trabalho de Portuguesa (a oralidade, a leitura, a apropriação do sistema de escrita, a produção textual) como espinha dorsal", ressalta.
determinada maneira, as outras se empolgavam e queriam O mesmo aconteceu com a Matemática. Todas as disciplinas sempre tiveram conteúdos relacionados a conceitos
fazer também", conta. Além disso, a troca de informações matemáticos, mas a conexão não era percebida ou bem explorada pelos professores. Hoje, essa relação vem sendo
também era grande com os demais orientadores do mais valorizada, como exemplifica Samária Mércia Bega: "Em História, nós trabalhamos a interdisciplinaridade com a
município, que compartilhavam experiências dos cursistas Matemática, por exemplo, pela linha do tempo, para eles contarem uma trajetória. Na Geografia, ela entrou muito no
e refletiam conjuntamente sobre seu desenvolvimento ao tratamento de informação, porque os gráficos e as tabelas remetem muito a essa disciplina".
longo da formação. Para que a dimensão prática não se A orientadora Eliane Azevedo relembra que, para o professor, a dificuldade de se trabalhar de forma interdisciplinar
perdesse, Samária conta ainda que o grupo de orientadores é muito comum, mas a formação evidenciou novas possibilidades – especialmente, destaca Eliane, por meio da sequência
sempre buscava materiais extra: "atividades, vídeos do didática. "Houve um ganho muito grande. Os professores sentiram a necessidade de aprofundar mais, começaram a
YouTube ou materiais de outros sites, a gente sempre buscar mais relações", afirma. "Abriu-se um horizonte!", conclui.
levava novidades simples e atrativas, que os professores
não deixariam de fazer por falta de material ou pelo custo".
O Pacto continua
Com continuidade garantida, as atividades do terceiro
ano do Pnaic se iniciam em agosto, contemplando agora
as áreas de Arte, Ciências da Natureza e Ciências
Humanas. Para a sequência do programa, o MEC realiza
uma avaliação do processo de formação, via Sispacto
(ver Sispacto: acompanhamento e diálogo). Além desse
espaço virtual, o Ministério também se vale do diálogo
com as universidades formadoras como importante
ferramenta para planejar a sequência do Pacto. "Com
elas é possível identificar as especificidades locais e
potencializar estratégias de atendimento que contemplem Novas concepções
os objetivos do programa", ressalta a coordenadora de
formação continuada do MEC, Mirna França Araújo. Ao entrevistarmos professores,
Enquanto as formações de 2015 não se iniciam, a orientadores, formadores e outras
formadora de Matemática da UFMG Paula Reis chama fontes para essa edição especial
a atenção para a importância de manter ativas as do Letra A, uma ideia apareceu em
reflexões já suscitadas pelo Pnaic, ao afirmar que "o quase todas as entrevistas: a de que o
maior desafio é continuar uma formação". "Não somente Pnaic foi essencial para "desmitificar
uma formação coletiva, como a proposta pelo Pacto, mas a Matemática". Listamos algumas
uma formação individual, de professores e de alunos, concepções sobre essa disciplina que o
para realmente acontecer o aprendizado da Matemática". Pacto ajudou a quebrar ou reconstruir.
Nesse sentido, Paula Reis destaca a importância de as
instituições continuarem estimulando e fomentando esse
processo formativo e de também voltarem seu olhar
para os alunos fora do ciclo de alfabetização, aquele
contemplado pelo Pnaic. A formadora acredita que o
primeiro passo fundamental já foi dado: "Foi quebrada a
ideia de que a Matemática é para poucos. A área passou
a ser vista como uma ciência para todos."
A Matemática
que interessa
As dificuldades encontradas por alunos e professores no processo de ensino e aprendizagem da Matemática são
velhas conhecidas do ambiente escolar. O aluno, muitas vezes, não consegue entender a utilidade da Matemática que a
escola ensina. O professor, ao desconhecer possibilidades pedagógicas mais produtivas, também constrói uma relação
complicada com a disciplina. Para falar sobre o tema, o jornal Letra A conversou com três docentes e pesquisadores em
Educação Matemática envolvidos com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic): Antônio José Lopes,
autor de vários materiais didáticos para o ensino de Matemática, dentre eles, o caderno 8 do segundo ano do Pnaic;
Eliane Scheid Gazire, professora titular da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), coordenadora
de Matemática do Pnaic na UFMG; e Lilian Nasser, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), que também coordena a área de Matemática do Pnaic na instituição. Nessa entrevista coletiva, eles refletem sobre
as formações básica e continuada dos professores que ensinam Matemática nos anos iniciais, a relação do aprendizado
da disciplina com as linguagens verbais e as possibilidades de se trabalhar a Matemática como campo interdisciplinar.
Eliane: De uns anos para cá, temos começado a assumir uma postura de maiores
possibilidades de trabalho com a Matemática nas séries iniciais, a ter a perspectiva de
um trabalho interessante para o professor e para o aluno. Isso porque os professores das
Eliane Scheid Gazire é
séries iniciais não possuem formação em Matemática, mas uma formação generalista. doutora em Educação pela
Quando conversamos com os professores que dão aula nas séries iniciais e pedimos Universidade Estadual
para eles contarem sobre a relação deles com a Matemática, em geral ouvimos que foi de Campinas, professora
aposentada pela UFMG e
docente titular da PUC-Minas
em Educação Matemática que ele já tem em mãos e com o que está sendo ensinado. Eu já tive alunos do curso de
pela Universidade de Matemática, que trabalharam com a metodologia de Matemática, e que já me procuraram
Londres (Inglaterra) e
falando assim: "Eliane, este ano eu estou dando aula pra uma turma de 6º ano, mas os
professora e pesquisadora
da UFRJ, onde atua no meninos não sabem fazer divisão. Olha, eu sei divisão, mas eu não sei ensinar os alunos
Projeto Fundão a dividir". Então, o professor sente essa dificuldade, e ele só vai ver essa dificuldade na
prática, lá em sala de aula, que é diferente de quando ele está lá cursando a licenciatura.
Aí, na formação continuada, ele pode discutir essas questões.
ricos de significado que possam ser matematizados. Trabalhar com projetos é uma das
possibilidades de viabilizar o trabalho interdisciplinar. Os projetos possibilitam contextos Lilian: Ao desenvolver as atividades matemáticas, o professor deve incentivar os
que geram a necessidade e a possibilidade de organizar os conteúdos de forma a lhes alunos a ler e interpretar o problema, desenvolver a ideia já descrevendo seu raciocínio. É
conferir significados. Para que isso aconteça, é necessário que o professor identifique importante que o professor estimule bastante o aluno a escrever na Matemática, e não digo
que projetos exploram situações-problema cuja abordagem pressupõe a utilização da só números e operações, mas fazer o registro de todas as atividades: como ele pensou,
Matemática, e em que medida oferece subsídios para a compreensão dos temas envolvidos. como desenvolveu e quais estratégias ele usou para vencer o jogo. Isso, no caso do jogo,
mas em qualquer atividade é importante que o aluno, ao final, registre como raciocinou.
Lilian: Como os professores não são formados nessa perspectiva da Na oralidade, o primeiro passo do estudante é o desenvolvimento do cálculo mental.
interdisciplinaridade, existe a dificuldade. O Pnaic concretia um grande passo nessa Porque o aluno irá raciocinar, resolvendo o problema mentalmente com as operações
questão porque, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, nós funcionamos como o MEC sugeriu. e cálculos, e deve explicitar isso, descrevendo para toda turma a maneira como ele
Em cada turma de formação tinha um formador de Matemática e um de Língua Portuguesa pensou para resolver o problema. Cada aluno que pensou de uma forma diferente da
atuando juntos, e isso foi um desafio para eles. Eles não se conheciam, não sabiam a original deve dividir com a turma.
formação do outro, quais afinidades tinham, e tiveram que planejar juntos a formação
de orientadores. Só depois dessa orientação de estudo realizada, eles foram atuar com Antônio: De um certo ponto de vista, a Matemática é uma linguagem. Ela é objeto,
os professores alfabetizadores dos municípios. Para a aplicação da interdisciplinaridade ferramenta, processo e produto. Aprende-se Matemática fazendo relações, e essas
na sala de aula, um dos caminhos é desenvolver atividades que envolvam a Matemática relações a gente faz quando lê o mundo e enfrenta problemas. Esses problemas estão
com a Língua Portuguesa, com a Geografia, com todas as outras disciplinas e, assim, nas coisas do dia a dia, nas outras disciplinas, e em um conjunto de situações que
gerando novos conteúdos. Por exemplo, desenvolver jogos em que os alunos tenham de se comunicam por meio de uma linguagem, visual ou escrita. A impregnação entre
entender as regras e desenvolver estratégias para ganhar o jogo. Brincando através da Matemática e linguagem é, por excelência, de natureza interdisciplinar.
Matemática, eles desenvolvem o pensamento abstrato e a argumentação.
15
Perfil
O sistema decimal
de tudo o que estava acontecendo ao mesmo tempo em
Nada mal...
meros arredondar que escrevia seus poemas, sempre prontos ao final de
Ler, escrever, ordenar e os nú
... cada aula. Patricia conta que, por sempre fazer isso em
Compreender valor posicional
do. .. diferentes lugares e momentos, conseguia elaborar os
Compondo... decompon
poemas descritivos com rimas com facilidade: "Eu gosto
Ahhhh!!!! Hora de jogar!
inhas, dados a espalhar muito de poemas. Estudei literatura no curso de Letras
Olhos a brilhar... palitos, gom
ção e o... e sempre foi algo que me chamou muito a atenção." E
Somente esperando a orienta
ainda afirma que a estratégia ajuda no aprendizado:
Já!
"Eu uso com os meus alunos até hoje, creio que ajuda a
Iniciou...
ou meu palito apreender o conteúdo com mais facilidade."
Sua vez, olha a gominha, peg
Pnaiquear virou
Parece confusão? A tarefa de orientar paixão
Amizade e emoç
Não é não! ão
ito bonito! Capacitação com
Foi um trabalho muito... mu Completando o ciclo de capacitação do Pnaic, Patricia
Foto: Poliana Moreira/Acervo Ceale
o essa
repassava os conteúdos aprendidos para uma turma de Mexeu até com
Mas só bonito? o coração
Claro que não!!! 25 cursistas em Santa Luzia (MG). Foi com surpresa e
Foi assim que aprendi honra que ela assumiu esse novo desafio: "Eu encarei a afirma. "Foi algo de muito companheirismo, de muito
Ainda que sem saber tarefa como uma responsabilidade grandiosa, pois, em aprendizado realmente em conjunto", completa.
Que SOMAR é algo mágico nível de capacitação, o Pnaic foi uma das maiores que O grupo do Pnaic orientado por Patricia acabou
Basta compreender. eu já vi, mobilizou o Brasil inteiro." tornando-se uma referência entre os demais professores,
No primeiro momento, houve uma certa relutância das pois os que não estavam inseridos na formação buscavam
cursistas, como comenta Patricia. "Imagine trabalhar dois se inteirar do trabalho que vinha sendo desenvolvido
E era assim, sem deixar escapar nenhum detalhe, que horários e depois sair para uma formação que durava até pelas colegas. "Acabamos virando multiplicadoras;
Patricia Assaf registrava tudo o que acontecia durante os dez da noite", explica. Para atrair a atenção das cursistas, nossos colegas nos procuram para saber como proceder
dias de capacitação do Pacto Nacional pela Alfabetização na foi necessário inovar, pois, segundo a orientadora, "elas em determinadas situações. Estamos aproveitando as
Idade Certa na Faculdade de Educação da UFMG. Os poemas poderiam pensar que tudo seria feito com palestras reuniões pedagógicas, para que algumas professoras
em que narrava cada detalhe do que havia acontecido ali exaustivas". Para evitar isso, além de desenvolver as que participaram da formação possam fazer a condução
sempre eram usados para finalizar as atividades do grupo, atividades próprias do Pnaic, Patricia também deixou da reunião e compartilhar aquilo que foi aprendido."
sob os ouvidos e olhos atentos dos colegas. "Ninguém saía sua marca pessoal por meio de seus poemas. "Elaine e Os frutos desse trabalho já começam a ser colhidos,
sem o poema. Até nos dias em que eu não estava bem, como Gláucia [formadoras de Patricia na UFMG] pediram para como relata Patricia: "Já conseguimos observar uma
quando eu estava com dor de garganta, pediam o poema." que eu fizesse isso também com as minhas cursistas, melhora grandiosa dos alunos." Mas o processo não tem
Questionada sobre o processo de registro, ela conta então nós fazíamos junto com as atividades." beneficiado somente os aprendizes. Ao refletir sobre a
que tudo ocorria com naturalidade: "Eu assistia às aulas O vínculo afetivo com suas alunas acabou se tornando bem caminhada com o Pnaic, Patricia enfatiza o surgimento
e ia anotando, não perdia um momento, afinal, aquilo era forte. "Eu tinha um relacionamento interpessoal exímio com de um novo olhar sobre a atividade pedagógica: "Nós
precioso para mim." A professora acabou se destacando cada uma delas, de manter contato todos os dias por e-mail redescobrimos a Matemática e agora ela está sendo
no grupo por prestar atenção nos conteúdos, participar e sempre respondendo as dúvidas e os questionamentos", passada de outra maneira."