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Atividades de avaliação psicológica

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Atividades de avaliação psicológica

SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................................................................................ 3
A PSICOLOGIA DO TRÂNSITO NO BRASIL E SEUS DESDOBRAMENTOS: UM POUCO DE HISTÓRIA .. 5
Técnicas da Avaliação Psicológica............................................................................................................................ 17

OBJETIVO ..................................................................................................................................................................... 17
PROCESSO .................................................................................................................................................................. 18
PAPEL DO AVALIADOR ............................................................................................................................................. 18

HABILIDADE DO AVALIADOR .................................................................................................................................. 18


RESULTADOS.............................................................................................................................................................. 18
Teste Psicológico ......................................................................................................................................................... 19
Entrevista ....................................................................................................................................................................... 19
Observação ................................................................................................................................................................... 20
Ética e legal ................................................................................................................................................................... 21

Relacional ...................................................................................................................................................................... 24
Social.............................................................................................................................................................................. 26
Profissional .................................................................................................................................................................... 29
Avaliação Psicológica no campo do trânsito ............................................................................................................ 30
Por que a avaliação psicológica é obrigatória para obtenção de CNH? .............................................................. 32
Direitos dos Candidatos .............................................................................................................................................. 33
Direitos dos Psicólogos ............................................................................................................................................... 33
Deveres dos Candidatos ............................................................................................................................................. 33
Deveres dos Psicólogos .............................................................................................................................................. 33
Informações gerais aos candidatos ........................................................................................................................... 34
Legislação ..................................................................................................................................................................... 34
Elaboração das dimensões normativas do Trabalho do Psicólogo do Trânsito em Clínicas de Avaliação
Psicológica .................................................................................................................................................................... 35
Referências ................................................................................................................................................................... 41

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Introdução

A avaliação psicológica é um processo técnico-científico, que pode ser


realizado individualmente ou em grupo, de acordo com cada área de aplicação, e
que requer metodologias específicas. É dinâmica, de caráter explicativo sobre os
fenômenos psicológicos, e tem por finalidade subsidiar os trabalhos nos diferentes
campos de atuação do psicólogo. Este estudo requer planejamento prévio e
cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins para os quais a avaliação se destina
(CFP, 2013). No Brasil, a Psicologia do trânsito teve seu marco inicial com a
publicação do Decreto Lei n° 9.545, de 5 de agosto de 1946, que entrou em vigor em
1951 e passou a exigir o exame psicotécnico para a aquisição da CNH, mesmo antes
da Psicologia ser reconhecida como profissão, o que ocorreu em 27 de agosto de
1962. A avaliação psicológica no trânsito, anteriormente denominada exame
psicotécnico, foi reconhecida, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro de 1998
(CTB), como avaliação psicológica pericial, que consiste na investigação de
características psicológicas dos candidatos para obtenção e/ou renovação ou
mudança da categoria CNH. Sua finalidade é a obtenção de informações sobre a
existência de adequações psicológicas mínimas para dirigir veículos motorizados
(CONTRAN, 2008). A avaliação psicológica é atualmente preliminar, obrigatória,
eliminatória e complementar para os condutores e candidatos à obtenção ou
mudança de categoria da CNH. Através dela é possível avaliar psicometricamente
características psicológicas, como a área percepto-reacional, motora, o nível mental,
a área do equilíbrio psíquico e as habilidades específicas do candidato, conforme
determina o CTB. Para regulamentar os procedimentos dessa avaliação, passou a
vigorar no Brasil, a partir do ano de 2000, a Resolução 12 do Conselho Federal de
Psicologia (CFP), que instituiu o Manual para Avaliação Psicológica de Candidatos à
CNH. Essa norma, que rege a atividade junto ao Departamento Nacional de Trânsito
(Detran), determina que a avaliação psicológica de motoristas deve considerar o nível
intelectual para estabelecer julgamento, a atenção discriminante de estímulos, a
capacidade psicomotora, a personalidade e o nível psicofísico (CFP, 2000). Em 2009,
o CFP publicou nova resolução que revogava a Resolução nº 012 e que instituiu

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novas normas e procedimentos para a avaliação psicológica no contexto do trânsito


(CFP, 2009). Essa resolução foi concebida para orientar os psicólogos em função da
Resolução n° 267 (CONTRAN, 2008), que estabelece os seguintes processos
psíquicos a serem avaliados: tomada de informação, processamento de informação,
tomada de decisão, comportamento, auto-avaliação do comportamento e traços de
personalidade. Quanto ao resultado da avaliação, o candidato poderá ser
considerado: apto, inapto temporário ou inapto, que está vigente até os dias de hoje.
De forma geral, conforme descrito, o trabalho do psicólogo do trânsito tem sido
pautado por decretos-lei, leis, resoluções e portarias originados de várias instituições
(Silva, 2012). Na avaliação psicológica do trânsito devem ser utilizados como
técnicas e instrumentos as entrevistas diretas e individuais, os testes psicológicos,
as dinâmicas de grupo, a escuta e as intervenções verbais (CONTRAN, 2012). O
psicólogo habilitado para realizar avaliação psicológica do trânsito deve seguir a
Resolução CFP nº 002/2003 que define os requisitos mínimos que os instrumentos
devem possuir para serem reconhecidos como testes psicológicos.
O profissional deve considerar que muitas são as condições passíveis de
identificação em exames periciais que podem interferir na capacidade de dirigir, como
dificuldades em relação à atenção, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade,
alcoolismo, drogas, dificuldade intelectual, ansiedade e outras relacionadas a
funções neurológicas (Viecili, 2003; Rubin, 2013). Estas condições podem ser
importantes causas de acidentes de trânsito, por alterarem a percepção, julgamento,
vigilância e a capacidade de realizar as ações necessárias para controlar um veículo,
prejudicando a aptidão de um condutor e tornando a direção veicular insegura.
Doenças neurológicas progressivas constituem maior risco, salvo se esta condição
for acompanhada por especialistas em relação à capacidade de conduzir um veículo
com segurança. Por isso, a Avaliação Psicológica no contexto do trânsito é
importante para identificação de impactos sobre a capacidade de dirigir, relacionados
a doenças como Epilepsia, Parkinson, Alzheimer e sequelas de acidente vascular
cerebral (AVC), por vezes relacionados a alterações cognitivas e motoras
identificáveis em uma Avaliação Psicológica. Também podem ser identificados
fatores de risco que comprometem a direção veicular segura, como combinações de
déficits de memória, anormalidades visuais-espaciais e de funções cognitivas
superiores, tais como a abstração e a capacidade de resolver problemas, manifestos

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em indivíduos com demência. Na doença de Parkinson estão presentes tremor e


rigidez dos membros, movimentos lentos e alterações do equilíbrio, que prejudicam
a direção veicular. No caso de AVC, por exemplo, sabe-se, que entre 25 e 30% dos
pacientes diagnosticados apresentam alterações cognitivas (Carvalho, 2007). Além
dessa alteração, pessoas que sofreram acidentes vasculares cerebrais apresentam
risco maior de um segundo episódio, que poderá provocar perda da consciência ou
torná-las incapazes de lidar com um veículo automotor. Assim, o perito para
avaliação psicológica detém a possibilidade de usar instrumentos adicionais àqueles
utilizados pelos médicos para verificação de alterações cognitivas e deve avaliar o
risco para a direção veicular, aprovando ou não seus portadores. No entanto, Silva
(2010) alerta que uma utilização inadequada ou incorreta dos instrumentos usados
pelos psicólogos pode invalidar ou comprometer o desempenho do candidato,
colocando em dúvida a efetividade dos instrumentos e procedimentos empregados
na predição de comportamento de motoristas no trânsito.
Nos tópicos a seguir, por meio da revisão da literatura, estudaremos os
principais conceitos relacionados à Avaliação Psicológica para o Trânsito e um pouco
de sua história.

A PSICOLOGIA DO TRÂNSITO NO BRASIL E SEUS DESDOBRAMENTOS:


UM POUCO DE HISTÓRIA

Investigar as raízes históricas da Psicologia do Trânsito significa conhecer a


evolução histórica da Psicologia científica no Brasil, na medida em que a atuação do
psicólogo teve seu nascimento no momento em que houve a ampliação dos meios
de transporte no início do século XX, quando os primeiros automóveis e caminhões

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passaram a fazer parte do cotidiano do brasileiro. Os bondes e trens foram


lentamente substituídos pelos automóveis, por meio de incentivos de políticas
urbanas nos âmbitos federal e estadual, bem como da pressão exercida pelas elites
que apoiavam a indústria automobilística no país (LAGONEGRO, 2008). Segundo
Hoffmann e Cruz (2003), a Psicologia aplicada ao estudo dos transportes terrestres
remonta da década de 1920, e essa tradição marca uma das primeiras competências
profissionais de intervenção que passou a ser legalmente regulamentada e mantida
ao longo da história da Psicologia no Brasil. A produção e a utilização do automóvel
significaram avanço no desenvolvimento econômico do país, entretanto, os acidentes
de trânsito passaram a fazer parte do contexto, gerando preocupações e o início das
primeiras formulações acerca de medidas preventivas a acidentes. A seleção médica
e psicotécnica passou a fazer parte destas medidas, nas décadas de 1940 e 1950, e
tinham a finalidade de restringir o acesso ao volante das pessoas consideradas
propensas a se envolverem em acidentes (SILVA; GÜNTHER, 2009). O modelo
brasileiro de habilitação começou a ser estruturado nesta época.
Em busca de uma síntese sobre a evolução histórica da Psicologia do Trânsito
no Brasil, encontraram-se autores atuais que norteiam uma linha do tempo contendo
datas e acontecimentos importantes relacionados à sistematização e controle sobre
os comportamentos humanos no contexto da mobilidade urbana. Dentre eles,
Hoffmann e Cruz (2003), Silva e Günther (2009), Silva (2010) e Silva (2012)
esclarecem alguns dos fatos, resoluções, leis e portarias que embasam a construção
cronológica do Quadro abaixo.

DATAS EVENTOS

1910 BRASIL, Decreto-lei nº 8.324: aprovação do regulamento para o serviço


de transportes de passageiros ou mercadorias por automóveis.

1913 Início da história da Psicologia aplicada ao Trânsito, com o trabalho do


engenheiro Roberto Mange, na seleção e orientação de funcionários da
Estrada de Ferro Sorocabana.

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1941
BRASIL, Decreto-lei nº 2.994: primeiro Código Nacional de Trânsito,
que estabeleceu os exames para obter a licença de praticagem ou de
habilitação para condutor de veículo – fisiológico ou médico e
psicológico.
BRASIL, Decreto-lei nº 3.651: criação do Conselho Nacional de Trânsito
(CONTRAN), órgão máximo normativo e consultivo, responsável pela
elaboração das regulamentações em forma de resolução.

1946 BRASIL, Decreto-lei nº 9.545: torna os exames psicotécnicos


obrigatórios para aquisição da CNH, sendo aplicado a critério da junta
médica, porém sem caráter eliminatório.

1947 Fundação do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), no


Rio de Janeiro, por Emílio Mira y López, criador do Psicodiagnóstico
Miocinético (PMK), instrumento amplamente utilizado em avaliações
psicológicas até 2012.

1951 DETRAN – RJ: o ISOP começou a examinar os candidatos para a


obtenção da CNH por meio de entrevistas, provas de aptidão e
personalidade.

1953 Resolução CONTRAN tonando obrigatório, em todo país, o Exame


Psicotécnico para todos os aspirantes à profissão de motorista.

1962
Resolução CONTRAN estendeu o exame psicotécnico a todos os
candidatos à CNH.
Reconhecimento da Psicologia como profissão, em 27 de agosto.

1966 BRASIL, Lei nº 5.108: institui o segundo Código Nacional de Trânsito.


Reorganização do Sistema Nacional de Trânsito e criação dos DETRAN.

1968 BRASIL, Decreto-lei nº 62.127: criação dos Serviços de Psicotécnicos


nos DETRAN - os psicólogos se inseriram efetivamente no processo de
habilitação.
1974 BRASIL, Lei nº 5.766: criação do Conselho Federal de Psicologia (CFP)
e dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRP).

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1981 CFP: Comissão Especial do Exame Psicológico para Condutores, sob a


presidência do psicólogo, professor e pesquisador Dr. Reinier
Rozestraten.
Promulgada a Convenção sobre o Trânsito Viário, um documento que foi
produto de uma convenção internacional celebrada em Viena, em 1968.

1982 Realização do Primeiro Congresso Brasileiro de Psicologia do Trânsito,


em Porto Alegre, tendo destaque a fundação da Associação
Brasileira de Psicologia do Trânsito (ABRAPT)

1983 Rozestraten criou o primeiro grupo de pesquisa em Psicologia do


Trânsito, na Universidade Federal de Uberlândia; concebeu a revista
Psicologia: Pesquisa & Trânsito; elaborou um guia internacional de
pesquisas em Psicologia do Trânsito, ofereceu as primeiras disciplinas
na graduação e os primeiros cursos de especialização da área, organizou
Congressos Brasileiros de Psicologia do Trânsito.
1986 O Governo do Estado de Santa Catarina introduz o concurso público para
psicólogos atuarem no DETRAN e nas circunscrições regionais de
trânsito.
1988 Promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil,
destacando-se os artigos que estabelecem o direito à livre locomoção,
aos serviços de transporte de passageiros e ao transporte escolar.
1997 Instituído o novo Código de Trânsito Brasileiro – CTB – atualmente em
vigor. Apresentou uma visão mais ampliada do trânsito, com ênfase em
segurança, saúde e educação, entretanto, resultou no veto presidencial
do inciso II do art. 147 sobre a obrigatoriedade da Avaliação Psicológica
para a obtenção de CNH.
1998 BRASIL, Lei nº 9.602: dispõe sobre a legislação de trânsito e dá outras
providências, incluindo novamente a obrigatoriedade da Avaliação
Psicológica no processo de habilitação.
Resolução CONTRAN nº 51: dispõe sobre os exames de aptidão física e
mental e os exames de Avaliação Psicológica.
Resolução CONTRAN nº 80: altera os Anexos I e II da Resolução
CONTRAN nº 51/98, que dispõe sobre os exames de aptidão física e
mental e os exames de Avaliação Psicológica; exigência do curso de
Psicólogo Perito Examinador de Trânsito (carga horária de 120 h/a)
para os psicólogos atuarem em Avaliação Psicológica de candidatos à
obtenção de CNH.

1999 Portaria DETRAN/SP nº 541: Regulamenta o credenciamento dos


médicos e psicólogos para a realização dos exames de aptidão física e
metal e dos exames de Avaliação Psicológica em candidatos à obtenção
da permissão e renovação da CNH para a condução de veículos
automotores.
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2000 Resolução CFP nº 012: institui o Manual para Avaliação Psicológica de


candidatos à Carteira Nacional de Habilitação e condutores de veículos
automotores.
2001 BRASIL, Lei nº 10.350: estabeleceu que a Avaliação Psicológica deveria
ser realizada no ato de renovação sempre que o condutor exercer
atividade remunerada ao veículo.
2002 Resolução CFP nº 016: dispõe acerca do trabalho do psicólogo na
Avaliação Psicológica de candidatos à CNH e condutores de veículos
automotores, enfatizando que o psicólogo não poderá realizar a
Avaliação Psicológica de Candidatos à CNH em centros de formação de
condutores ou em qualquer outro local cujos agentes tenham interesse
no resultado dos exames, dada sua natureza pericial. Os locais para a
realização das Avaliações Psicológicas para candidatos à CNH e
condutores de veículos automotores devem ser exclusivos para esse tipo
de procedimento (no parágrafo único inclui que neste local poderão ser
realizados também os exames de sanidade física e mental com a
finalidade de obtenção da CNH e condutores de veículos automotores).
2004 Resolução CONTRAN nº 168: estabelece normas e procedimentos para
a formação de condutores de veículos automotores e elétricos, a
realização dos exames, a expedição de documentos de habilitação, os
cursos de formação, especialização e reciclagem. Estabelece que a
Avaliação Psicológica será exigida quando da obtenção da autorização
para conduzir ciclomotor e obtenção de CNH; renovação caso o condutor
exerça serviço remunerado de transporte de pessoas ou bens;
substituição do documento de habilitação obtido em país estrangeiro, ou
por solicitação do perito examinador.
2008 Resolução CONTRAN nº 267: dispõe sobre o exame de aptidão física e
mental, a Avaliação Psicológica e o credenciamento das entidades
públicas e privadas. Nesta são definidos os processos psíquicos
necessários para aferição na Avaliação Psicológica por meio de métodos
e técnicas: tomada de informação, processamento de informação,
tomada de decisão, comportamento e auto avaliação do comportamento
e traços de personalidade. Quanto ao resultado da avaliação, o candidato
poderá ser considerado apto, inapto temporário ou inapto. Manteve-se a
junta psicológica. No credenciamento, dentre as mudanças, destaca-se
a necessidade de se ter, no mínimo, dois anos de formado; estabeleceu
que a carga horária do Curso de Perito seria aumentada para 180 h/a e
que a partir de 2013 só seriam credenciados os psicólogos portadores de
título de Especialista em Psicologia do Trânsito reconhecido pelo CFP.

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2009 Resolução CFP nº 007: revoga a Resolução nº 012/2000 e institui normas


e procedimentos para a Avaliação Psicológica no contexto do Trânsito.
Os dispositivos do manual constituem exigências mínimas de qualidade
referentes à área de Avaliação Psicológica no contexto do trânsito, sendo
os Conselhos Regionais os responsáveis pela verificação do
cumprimento desta Resolução. Institui o Roteiro de apoio para entrevista
psicológica e o Texto sobre referências de percentis nos Anexos I e II,
respectivamente.
2010 Resolução CFP nº 006: altera o Art. 2º da Resolução CFP nº 016/2002.
Nos locais para a realização das avaliações psicológicas para candidatos
à CNH e para condutores de veículos automotores podem ser realizadas
outras atividades, desde que fora do horário destinado àquele fim, e que
não prejudiquem a prestação dos serviços psicológicos.

2011 Resolução CFP nº 009: altera o Anexo II da Resolução CFP nº 007/2009,


sobre as referências de percentis.
Nota Técnica do CFP: definição de “atenção” e determinação da
necessidade de aferição de atenção difusa; atenção concentrada;
atenção distribuída e atenção alternada.

2012 Resolução CONTRAN nº 425: Dispõe sobre o exame de aptidão física e


mental, a Avaliação Psicológica e o credenciamento das entidades
públicas e privadas de que tratam o Art. 147, I e §§ 1º a 4º e o Art. 148
do Código de Trânsito Brasileiro. Dentre outras determinações, dispõe
que a partir de 15/02/2015 a solicitação para o credenciamento só será
permitida aos psicólogos portadores de Título de Especialista em
Psicologia do Trânsito reconhecido pelo CFP.
Fonte: Adaptado de DETRAN/SP (1999); HOFFMANN; CRUZ (2003); SILVA;
GÜNTER (2009); SILVA (2010);
SILVA (2012); CONTRAN (2012).

O Quadro sintetiza os principais acontecimentos que influenciaram


positivamente o reconhecimento da Psicologia no Brasil como ciência e profissão, e
demonstra os esforços dos órgãos competentes para normatizar, qualificar e
direcionar a atuação da categoria em relação à Avaliação Psicológica para o Trânsito.
Entretanto, vale ressaltar alguns momentos de tentativa de transformação da
atuação do Psicólogo do Trânsito, inserido apenas em suas clínicas de psicotécnico
ou nos DETRAN, ampliando as possibilidades de inserção no universo das políticas
públicas, em ações socioeducativas, nas análises e orientações acerca dos
acidentes de trânsito e como prestador de assessoria e consultoria aos órgãos
públicos e privados de trânsito (CFP, 2000). Segundo Günter (2003, p. 54), “O

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psicólogo do trânsito deve ampliar o leque de suas preocupações e atuações”, ou


seja, o autor defende que o psicólogo deve ocupar outros campos potenciais de
atuação provenientes da interdisciplinaridade que as questões da mobilidade
humana contemplam.
Hoffmann e Cruz (2003) destacam a participação do professor e pesquisador
Dr. Reinier Rozestraten no contexto da Psicologia do Trânsito, e apontam que seu
envolvimento com as questões pertinentes à mobilidade humana, levando em
consideração a interdisciplinaridade do assunto, significa um marco divisor na história
da Psicologia do Trânsito. Os autores defendem que: Talvez seria mais acertado
dizer que anterior a ele havia uma Psicotécnica Aplicada, e a partir de sua atuação e
desenvolvimento científico, de fato, se pode falar com propriedade de uma psicologia
do Trânsito e da Segurança Viária no Brasil (HOFFMANN; CRUZ, 2003, p. 22).
Para Silva (2012), as pesquisas de Rozestraten lançaram as bases para a
estruturação da Psicologia do Trânsito no Brasil, com a publicação do livro Psicologia
do Trânsito: Conceitos e Processos Básicos, em 1988, momento em que o
pesquisador retorna de seu pós-doutorado na França. Suas reflexões acerca da
efetiva contribuição da Psicologia do Trânsito na segurança viária influenciaram
estudantes e profissionais a realizarem pesquisas que contribuíssem com o
desenvolvimento do tema. Este ícone criou raízes profundas amplamente
conhecidas no contexto brasileiro, por meio de publicações nacionais e
internacionais, participação ativa em congressos, realização de cursos para os
psicólogos dos DETRAN, direção de núcleos de pesquisas em universidades,
criação de cursos de pós-graduação, entre outras atividades (HOFFMANN; CRUZ,
2003).
A Revista de Abordagem Gestáltica (2008) publicou uma homenagem
póstuma a este pesquisador em um artigo que remonta a história de sua atuação no
Brasil - por meio da transcrição de relato oral - e a Introdução do trabalho revela a
percepção dos autores: Trata-se de um trabalho de levantamento e discussão de
modelos de desenvolvimento humano, cultural e social através da história de
indivíduos singulares. Acontece que o primeiro indivíduo entrevistado, mostrou
paciência e disponibilidade absolutamente “franciscana”, foi simplesmente Reinier
Johannes Antonius Rozestraten. Trata-se de uma figura de inequívoca importância
para a psicologia no Brasil, seja como realizador individual, pela significatividade de

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sua produção, seja como participante do processo sociopolítico da institucionalização


e do enraizamento da psicologia, pela sua participação em diversas iniciativas que
deram origem ao que hoje a psicologia no Brasil é, tenta ser ou mesmo tenta não ser
(ROZESTRATEN; MACIEL; VASCONCELOS, 2008, p. 51).
A perspectiva mais ampla de atuação do psicólogo do trânsito, proposta por
Rozestraten, teve repercussão em outras obras valiosas para o tema como, por
exemplo, a revista Psicologia: Pesquisa e Trânsito (1983 a 1985); a revista Arquivos
Brasileiros de Psicologia (2001) e o livro Comportamento Humano no Trânsito
(HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2003). Silva e Günter (2009, p. 168) possuem uma
visão otimista sobre novas publicações na área, que sintetizem outras contribuições
para o tema e/ou ofereçam pontos de vista alternativos aos já publicados, mas
enfatizam que há a necessidade da organização de “um livro texto que contenha as
principais teorias e/ou publicações da psicologia do trânsito, direcionado aos
estudantes de graduação e pós-graduação”.
Os esforços para contemplar diversas possibilidades à Psicologia do Trânsito,
bem como de oferecer aos estudantes e profissionais de Psicologia e áreas afins,
bases científicas de incentivos a novas produções, faz do Portal de Psicologia do
Trânsito um importante sitio de pesquisa, atualização e qualificação. O Portal é
administrado por Fábio Henrique Vieira de Cristo e Silva, psicólogo, doutor em
Psicologia e pesquisador colaborador na Universidade de Brasília, e contém
bibliografias da área (artigos científicos, teses, dissertações, monografias, periódicos
científicos, livros, vídeos); blog Psicologia e Trânsito; indicações para qualificação
profissional e notícias recentes sobre os acontecimentos que impactam na atuação
do psicólogo. Recentemente publicou o livro “Psicologia e Trânsito – reflexões para
pais, educadores e (futuros) condutores” (2012) e defendeu sua tese de doutorado
com o título “O hábito de usar automóvel tem relação com o transporte coletivo ruim?
” (2013). Fábio de Cristo pode ser considerado, na atualidade, um importante
pesquisador na área, pois suas publicações e a administração do portal disponível
no endereço eletrônico http://www.portalpsitran.com.br condizem com a necessidade
de maior conhecimento e incentivo à pesquisa no contexto do trânsito no Brasil.
Percebe-se, a partir do Quadro 1, que a atuação do psicólogo tem sido
pautada e orientada por leis, resoluções e portarias, elaboradas por diversos órgãos
regulamentadores. Desde a época do primeiro Código de Trânsito Brasileiro (1941),

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os psicólogos passaram a ter a responsabilidade sobre a Avaliação Psicológica dos


condutores no intuito de prevenção em relação aos acidentes de trânsito, mesmo
antes do reconhecimento da profissão, em 1962. Inseridos nos DETRAN e,
posteriormente, nas clínicas credenciadas para tal atividade, as determinações
provenientes principalmente do CONTRAN e do CFP, pretendem orientar e
direcionar os psicólogos na realização das Avaliações Psicológicas acerca da
complexidade própria do comportamento humano neste contexto. Ainda hoje, apesar
dos esforços dos órgãos supracitados em diversificar a atuação do Psicólogo do
Trânsito, por exemplo, em busca de maior envolvimento nas políticas públicas, a
grande parte destes limita-se a avaliar e classificar as respostas dos candidatos aos
testes, e a decisão consiste exclusivamente em permitir ou não a condução de
veículos pelos usuários do serviço. Rozestraten (2000) salienta que o Psicólogo do
Trânsito é visto, muitas vezes, como mero aplicador de testes, enquanto deveria
questionar a validade e fidedignidade dos instrumentos que utiliza, em relação ao
motorista.
Existem vários debates consistentes sobre o uso de testes psicológicos no
contexto do trânsito brasileiro, bem como sobre a bateria de instrumentos a ser
utilizada, considerando-se que ainda hoje não se formulou claramente um perfil
profissiográfico a ser utilizado como medida padrão de avaliação em condutores de
diferentes categorias de CNH. Silva (2008, p. 15), sobre tais debates, elucida que “a
justificativa central para a obrigatoriedade da Avaliação Psicológica de motoristas no
Brasil, que é a de trazer mais segurança no trânsito, permanece ainda sem
comprovação empírica suficiente”. Lamounier e Rueda (2005) corroboram os
debates, ressaltando que o problema encontrado pelos psicólogos que utilizam
Avaliação Psicológica para o Trânsito refere-se à falta de critérios para considerar
um candidato apto, temporariamente inapto ou inapto, pois não existe um perfil
claramente definido para a função de motorista. Neste mesmo sentido, Gouveia et
al. (2002, p.50) questionam: (...) os psicólogos estão realmente aptos para avaliar o
candidato a condutor e predizer seus possíveis comportamentos em situações reais
de trânsito? Os testes aplicados atendem às exigências da medida, isto é,
apresentam parâmetros psicométricos aceitáveis de validade e precisão? Tal
processo de avaliação é realmente necessário para aquisição da carteira de
habilitação?

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As questões sobre a necessidade de Avaliação Psicológica para condução de


veículo automotor fazem parte da história da Psicologia do Trânsito. Na ocasião em
que o novo Código de Trânsito Brasileiro (1997) era um projeto de lei, o Presidente
da República Fernando Henrique Cardoso vetou o inciso II do art. 147, que tratava
exatamente da obrigatoriedade do exame psicológico ao candidato à habilitação. O
CFP e os CRP garantiram que o veto fosse suplantado por nova lei que incluiu o
exame, por meio de mobilização e articulação política dos psicólogos, em 1998
(Resolução CONTRAN nº 51/1998). Neste sentido, as discussões sobre a
necessidade de inclusão ou não dos exames psicológicos “parece ser um
acontecimento cíclico” (SILVA, 2012, p. 184), pois tal veto repetiu a discussão
também ocorrida na década de 1940, no momento da redação do primeiro Código
de Trânsito. Como consequência, a instabilidade nas decisões dos órgãos
regulamentadores pode gerar insegurança naqueles que utilizam apenas uma das
funções da Psicologia do Trânsito: a Avaliação Psicológica de condutores.
A Resolução CONTRAN nº 80/1998 veio determinar que se examinem
psicometricamente áreas como atenção; percepção; tomada de decisão; motricidade
e reação; cognição; nível mental e equilíbrio psíquico, tais como ansiedade e
excitabilidade; ausência de quadro reconhecidamente patológico; controle adequado
da agressividade e impulsividade; equilíbrio emocional; ajustamento pessoal-social
e problemas como o alcoolismo, epilepsia, abuso de entorpecentes, entre outros;
tempo de reação; atenção concentrada; rapidez de raciocínio; relações espaciais e
outras, desde que necessitem aprofundamento da Avaliação Psicológica. A
entrevista psicológica deve investigar a história pregressa e atual do candidato.
O resultado da Avaliação Psicológica classifica o candidato como apto, apto
com restrição, inapto com restrição e inapto. Para o credenciamento, o psicólogo
deve ter, no mínimo, um ano de formado. A exigência sobre o Curso de Perito
Examinador de Trânsito para os novos credenciamentos, com carga horária de 120
horas, consta no item 5.2.4 do Anexo II da referida Resolução, e prevê o prazo de
dois anos para que os psicólogos da área se adequem a esta nova determinação
(CONTRAN, 1998).
Para atender a tais exigências, o CFP elaborou a Resolução nº 12/2000, a
qual institui o Manual para Avaliação Psicológica de candidatos à Carteira Nacional
de Habilitação e condutores de veículos automotores, dispondo sobre os itens

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Atividades de avaliação psicológica

Conceito de Avaliação Psicológica; Perfil do Candidato à CNH e dos Condutores de


Veículos Automotores; Instrumentos de Avaliação Psicológica; Condições do
Aplicador; Condições de Aplicação dos Instrumentos de Avaliação Psicológica;
Material utilizado; Mensuração e Avaliação e Laudo Psicológico (CFP, 2000).
Em seu Art. 2º, ressalta que os dispositivos do manual constituem exigências
mínimas de qualidade referentes à área; que a verificação do cumprimento desta
Resolução é de responsabilidade dos CRP e que a desobediência à norma se
constitui em falta ético-disciplinar passível de capitulação nos dispositivos referentes
ao exercício profissional do Código de Ética dos Psicólogos. Esta Resolução trata,
em seu capítulo II, do perfil do candidato à CNH e do condutor de veículos
automotores, entretanto, reconhece a impossibilidade de estabelecer um perfil
profissiográfico diferenciado para condutores amadores e profissionais, postergando
tal definição a investigações futuras.
No ano de 2008, o CONTRAN volta a emitir uma Resolução que novamente
dispõe sobre a Avaliação Psicológica e o credenciamento do profissional de
Psicologia: a Resolução CONTRAN nº 267/08. Algumas mudanças foram elaboradas
e determinadas neste documento, como por exemplo, os processos psíquicos a
serem avaliados: tomada de informação (atenção, atenção difusa ou vigilância,
atenção concentrada seletiva e atenção distribuída); detecção; discriminação;
identificação; processamento de informação (orientação espacial e avaliação de
distância, conhecimento cognitivo, identificação significativa, inteligência, memória e
juízo crítico); tomada de decisão; comportamento adequado em relação às ações no
trânsito; auto avaliação do comportamento e traços de personalidade (equilíbrio,
socialização e ausência de traços psicopatológicos).
Em relação à entrevista psicológica, expande a investigação, que passa a
conter informações sobre identificação pessoal; motivos da Avaliação Psicológica;
histórico escolar, profissional e familiar; indicadores de saúde e doença; aspectos da
conduta social; envolvimento em infrações e acidentes de trânsito; opiniões sobre
cidadania e trânsito e sugestões para redução dos acidentes de trânsito. Sobre o
resultado da Avaliação Psicológica, classifica o candidato, neste momento, como
apto, inapto temporário ou inapto. Exige, para o credenciamento, que o psicólogo
tenha, no mínimo, dois anos de formado, e que seja portador do título de Especialista
em Psicologia do Trânsito, reconhecido pelo CFP, dando o prazo de cinco anos para

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Atividades de avaliação psicológica

sua obtenção. Aumenta, também, a exigência em relação ao Curso de Capacitação


para Psicólogo Perito Examinador de Trânsito, que passa a contar com 180 horas
(CONTRAN, 2008, Anexos XIII, XIV, XVII).
A obrigatoriedade em relação ao Título de Especialista em Psicologia do
Trânsito teve impacto imediato no surgimento de diversos cursos de Especialização
lato-sensu, em várias regiões do país. Os profissionais credenciados, a partir deste
momento, voltam a frequentar o ambiente da universidade em busca do
aprimoramento teórico que, na opinião de Silva e Günter (2009), é um local que
possui papel crucial no desenvolvimento da Psicologia do Trânsito, para que os
profissionais possam desenvolver novas competências e ocuparem novos espaços,
de forma mais capacitada. Os autores argumentam que: O aumento da oferta de
cursos de especialização poderá ter outros desdobramentos. Um deles é que, em
vez de continuarmos preparando os psicólogos para serem exclusivamente peritos
em trânsito, teremos a oportunidade de formar os profissionais para atuar nos
diversos problemas do trânsito; caso contrário, continuaremos seguindo o modelo
anterior de formação de psicólogos peritos, porém sob um novo rótulo, o de
especialistas (SILVA; GÜNTER, 2009, p. 169).
Uma questão relevante em relação à Psicologia do Trânsito no país é o
número limitado de produção de conhecimento científico na área, o que pode
começar a ser incentivado por meio das monografias exigidas nos cursos de
Especialização, desde que elas sejam divulgadas e publicadas em congressos e
revistas. O incentivo à realização de pesquisas aplicadas ao contexto pode dar maior
visibilidade ao trabalho do Psicólogo do Trânsito, contribuindo, assim, com a troca de
experiências e discussões férteis em busca da qualidade da prestação de serviços
deste profissional.

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Técnicas da Avaliação Psicológica

Cohen, Swerdlik e Sturman (2014), definem Avaliação Psicológica como a


coleta e a integração de dados relacionados à Psicologia com a finalidade de fazer
uma estimação psicológica, que é realizada por meio de instrumentos como testes,
entrevistas, estudos de caso, observação comportamental, aparatos e
procedimentos de medida especialmente projetados para essa finalidade.
A dimensão técnica na Avaliação Psicológica é parte integrante de um
processo avaliativo, constituído de diferentes estratégias que a(o) profissional pode
utilizar para a realização de um determinado procedimento em diferentes contextos
de atuação, pois em um processo avaliativo, a(o) profissional precisa acessar e
mensurar os fenômenos psicológicos envolvidos na demanda. Dessa forma, os
recursos técnicos corroboram para acessar e compreender as variáveis envolvidas.
Dentre os principais instrumentos utilizados em um processo de Avaliação
Psicológica estão os testes psicológicos, a entrevista nas suas diferentes
modalidades e a observação.
Apesar do avanço das definições e discussões sobre a diferença entre
testagem e Avaliação Psicológica, ainda há atualmente uma linha tênue entre esses
dois conceitos, mas que se faz necessária a sua diferenciação conforme o quadro
abaixo:
OBJETIVO

• Testagem

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Atividades de avaliação psicológica

Obter uma medida, usando-se os números, com relação a uma capacidade ou


atributo.
• Avaliação
Responder a uma questão de encaminhamento, resolver um problema ou
tomar uma decisão por meio do uso dos instrumentos de avaliação.

PROCESSO

• Testagem
Individual ou grupal e após a administração do teste, o testador soma os
acertos ou o número de certos tipos de resposta. Considera-se pouco “o como” ou
“o conteúdo”.
• Avaliação
Em geral individualizada, concentra-se mais em como um indivíduo processa
do que simplesmente nos resultados desse procedimento.

PAPEL DO AVALIADOR

• Testagem
Não é fundamental para o processo.
• Avaliação
Fundamental para o processo: para o planejamento e as conclusões a partir
de todo o processo.

HABILIDADE DO AVALIADOR

• Testagem
Requer habilidades técnicas para administrar e pontuar um teste, bem como
para interpretar o seu resultado.
• Avaliação
Requer do avaliador a seleção especializada dos instrumentos, para a
avaliação, organização, integração e interpretação criteriosa dos dados.

RESULTADOS

• Testagem

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Produz um escore ou série de escores no teste.


• Avaliação
Envolve uma abordagem de resolução de problemas que mobiliza muitas
fontes de dados visando esclarecer o motivo do encaminhamento.
(Cohen, Swerdlik, Sturman, 2014)

Teste Psicológico

“Art. 1º. Os Testes Psicológicos são instrumentos de avaliação ou


mensuração de características psicológicas, constituindo-se um método ou técnica
de uso privativo do psicólogo, em decorrência do que dispõe o § 1° do Art. 13 da Lei
n° 4.119/62. (Resolução CFP nº 005/2012)
De acordo com Hutz (2015), teste psicológico é um instrumento que avalia
(mede ou faz uma estimativa) construtos que não podem ser observados diretamente
e uma Avaliação Psicológica não seria realizada apenas com testes, mas envolveria
outras técnicas a partir da demanda do caso.
Atualmente na listagem do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos
(Satepsi) desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), constam 159
instrumentos com parecer favorável que avaliam construtos como: inteligência,
personalidade, habilidade, aptidões, comportamento, interesse profissional, dentre
outros fenômenos psicológicos.
Desde o início da criação do Satepsi, houve um desenvolvimento na qualidade
técnica e científica dos instrumentos disponíveis para serem utilizados na atuação da
profissão.
O acompanhamento da atualização e a busca por instrumentos que tenham
parecer favorável para avaliar construto (s) que se pretende(m) avaliar dentro de um
processo de Avaliação Psicológica é de responsabilidade da(o) Psicóloga(o), pois a
lista é atualizada constantemente, a qual pode ser acessada no site do Conselho
Federal de Psicologia (http://satepsi.cfp.org.br/)

Entrevista

A entrevista é utilizada em diferentes contextos e para diferentes finalidades,


não só na Psicologia. Contudo, dentro de um processo de Avaliação Psicológica,
essa técnica deve, também, estar atrelada ao objetivo dessa avaliação,
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possibilitando um conhecimento mais aprofundado sobre a história de vida do sujeito


ou do ambiente avaliado.
Há diferentes modalidades de entrevista e o avaliador deve definir pela
modalidade utilizada de acordo com os dados que se pretende coletar e o contexto
avaliado. Existem particularidades técnicas de entrevista para cada faixa etária de
desenvolvimento e ambiente a serem aferidos.
Em geral, busca-se investigar nas entrevistas dentro de um processo de
Avaliação Psicológica: contexto familiar, social, pessoal, condição de saúde física,
auto percepção, autocrítica e expectativas de futuro.
A interação entre o entrevistado e o entrevistador é dinâmica, necessitando de
técnica e prática por parte do entrevistador para sistematizar os dados coletados.
Algumas entrevistas para fins diagnósticos necessitam de extenso treinamento e
devem ser realizadas apenas por especialistas.

Observação

Pode ser considerada dentro de um procedimento de Avaliação Psicológica


como uma estratégia fundamental, presente em todos os processos, em maior ou
menor grau, a qual fornece um grande número de informações sobre o sujeito, grupo
e contexto avaliado.
A observação é uma técnica de alta complexidade, exigindo treino da(o)
profissional que a utiliza para uma adequada compreensão e sistematização dos
dados coletados.
Em algumas situações específicas como, por exemplo, em ambientes
escolares, hospitalares ou na observação do comportamento de bebês, crianças ou
da interação de pais e filhos, a técnica de observação não pode ser substituída por
testes ou entrevistas, mostrando-se como a principal metodologia a ser utilizada.
Quando se aplica um teste psicológico ou durante a execução de outra técnica
dentro de um processo de avaliação, o comportamento não verbal pode ser
sistematizado por meio da observação.
Deve-se prestar atenção ao comportamento do indivíduo que está sendo
sujeito desse processo avaliativo e verificar:
• Aparência física;
• Comunicação;

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Atividades de avaliação psicológica

• Expressão facial e corporal;


• Atenção à tarefa solicitada para realização.
Tais observações são detalhes que permitem algumas inferências sobre a
atitude com relação às tarefas solicitadas, sobre o estado de ânimo do avaliando, e
podem auxiliar na interpretação dos resultados e para a compreensão da dinâmica
presente no processo avaliativo.
Ressalta-se que as técnicas apresentadas neste texto não são às únicas que
podem ser utilizadas em um processo de Avaliação Psicológica, pois a dinâmica de
grupo, a hora lúdica diagnóstica, as pesquisas documentais, dentre outras, são
técnicas que podem corroborar para a avaliação de determinado indivíduo ou grupo,
podendo ser entendidas como recursos complementares importantes no processo
de Avaliação Psicológica. O que norteará a escolha das técnicas a serem utilizadas
em um processo avaliativo, será sempre a faixa de desenvolvimento dos avaliados,
o contexto, o objetivo da avaliação e quais fenômenos psicológicos se pretende
avaliar para responder a esse objetivo, isto é, a responsabilidade técnica é da(o)
Psicóloga(o) que faz a avaliação.
O valor e a confiabilidade em cada técnica utilizada em um processo de
Avaliação Psicológica estão diretamente relacionados à responsabilidade, ao
conhecimento, à habilidade e à experiência da(do) daquela(e) que faz a avalição.

Ética e legal

Reflexões sobre a ética permeiam continuamente o trabalho da(o)


Psicóloga(o) e são inerentes à complexidade do fenômeno estudado e do
atendimento realizado.
A atitude ética, que pressupõe não só o conhecimento de um código de ética,
mas principalmente a vivência dos pressupostos desse código, passa pelo crivo da
moral, onde crenças e valores pessoais dão forma a uma prática ética.
O Código de Ética Profissional do Psicólogo possui vários itens relativos à
avaliação psicológica, porém as questões éticas neste caso possuem um alto grau
de complexidade e não podem ser exaustivamente tratadas em um código de ética,
pois o procedimento ético vai além da observância literal de artigos de um código de
ética (Hutz, 2015), pois “... princípios éticos são gerais e representam ideais a serem

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Atividades de avaliação psicológica

atingidos... (São) ideias norteadoras de ações, atitudes e comportamentos na prática


profissional (Hutz, 2009).
Ao pensarmos na dimensão ética na Avaliação Psicológica, devemos
considerar, primeiramente, a nossa capacitação técnica, essencial para a realização
de um trabalho que seja capaz de atender aos objetivos propostos.
Deve-se atentar à demanda que nos chega, às questões emocionais e ao
sofrimento envolvido, além de uma preocupação constante para minimizar danos.
Muitas vezes, a(o) Psicóloga(o) será inserida(o) no meio de inúmeros conflitos
e é essencial que não se deixe levar por pressões externas e modifique sua conduta
devido a estes fatores.
Ao considerarmos o caráter processual da Avaliação Psicológica, reforça-se
que a mesma não pode restringir sua metodologia de avaliação ao uso de testes,
devendo valer-se de entrevistas, observação técnica, bem como instrumentos e
técnicas complementares para investigação dos fenômenos psicológicos a serem
avaliados. Portanto, no processo de Avaliação Psicológica, entende-se que todas as
etapas, desde a identificação dos fenômenos psicológicos a serem investigados,
elaboração de hipóteses, estabelecimento do contrato, escolha dos instrumentos e
técnicas apropriados ao contexto, levantamento de dados, bem como o raciocínio
clínico necessário para a posterior elaboração de um documento e a devolutiva,
devem ser permeadas pela contínua reflexão ética.
A escolha da metodologia e dos recursos complementares necessários para
o alcance dos objetivos do processo de Avaliação Psicológica é de responsabilidade
da(o) profissional, que deverá avaliar constantemente o caráter científico e ético
desses procedimentos, bem como respaldar-se tecnicamente para a utilização dos
mesmos. É necessário contínuo aprimoramento profissional para que a(o)
Psicóloga(o) tenha conhecimento de técnicas e instrumentos atualizados e aplicáveis
à população e contexto em estudo, bem como domínio sobre a aplicação e
aplicabilidade dos mesmos. Deve-se ter muito cuidado com as condições ambientais
para a realização da Avaliação Psicológica, além de especial atenção ao uso de
instrumentos originais e aprovados pelo Satepsi e/ou com comprovada referência na
literatura a partir de estudos científicos em revistas reconhecidamente aceitas no
meio científico. Orienta-se, ainda, atenção especial ao sigilo das informações obtidas
e à análise criteriosa sobre a necessidade de quebra do mesmo.

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Quando pensamos na Avaliação Psicológica a(o) profissional deve atentar não


apenas à guarda dos materiais obtidos por meio da avaliação, como também à
guarda dos instrumentos restritos à Psicologia, especialmente se atuar em contextos
interdisciplinares em que o acesso de pessoas não autorizadas pode estar mais
acessível. Todos os instrumentos e registros devem ser mantidos em armários com
chave, com acesso restrito aos profissionais da área da Psicologia.
A elaboração de um contrato de prestação e serviços é outro aspecto
importante no processo de Avaliação Psicológica, pois possibilita que ambas as
partes tenham clareza sobre o trabalho que será realizado e suas condições
(extensão, honorários etc), minimizando os riscos de problemas futuros por
incompreensão ou confusão em relação aos serviços prestados.
Como previsto no Código de Ética Profissional do Psicólogo, após a realização
da Avaliação Psicológica a(o) Psicóloga(o) deverá emitir um documento, de acordo
com a legislação vigente, que expresse de maneira estruturada e formal os
resultados da avaliação realizada.
Esse documento é a materialização do trabalho realizado pela(o) profissional
e expressa, concretamente, sua análise clínica e julgamento emitido sobre o caso,
bem como também reflete a competência do avaliador para a realização da avaliação
e para a elaboração do documento.
Destaca-se, dessa forma, a responsabilidade da(o) profissional ao emitir esse
documento que, a partir do momento de sua emissão, deverá responder pelos
procedimentos realizados e pelo conteúdo ali descrito.
Ressalta-se, portanto, que a realização de uma Avaliação Psicológica é algo
complexo e que exige, por parte da(o) profissional, atualização e capacitação
contínua para que não incorra em faltas éticas por imperícia ou incapacidade técnica.
Cumprindo-se esse princípio, não assumindo para si demandas sobre as quais
não tenha formação e/ou experiência que lhe garantam competência e segurança;
pautando sua atuação em reflexões éticas contínuas permeadas pelo Código de
Ética Profissional do Psicólogo e pela legislação vigente, a(o) profissional terá maior
segurança em sua atuação e não estará incorrendo em faltas éticas e legais.

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Relacional
O processo de Avaliação Psicológica, em uma de suas funções, caracteriza-
se como um processo de conhecer. Isto é, a(o) Psicóloga(o) se debruça sobre os
fenômenos psicológicos, construindo um conhecimento acerca da funcionalidade dos
mesmos, com objetivo de responder a uma demanda.
É em torno do objetivo visado e o
campo da prática que se delineia a
atividade profissional, integrada à
necessidade de proceder a
compreensão do objeto de estudo, por
meio das condições teórico-
metodológicas geradas nesse processo,
isto é, construídas pelos próprios motivadores do ato de querer conhecer (Alchieri,
Cruz e Sardá, 2002).
O posicionamento da(o) Psicóloga(o) diante da demanda do processo de
avaliação requer, desse profissional, o desenvolvimento de competências e
habilidades que pressupõem o estabelecimento de um vínculo profissional baseado
na verdade e que marque a crença no potencial humano de crescimento e
transformação. A busca por uma Avaliação Psicológica denota, na maioria das
situações, uma posição de fragilidade do sujeito da avaliação que não deve parecer,
para o psicólogo, uma oportunidade de exercício do “descobrir algo” que esteja
ocasionando a fragilidade, estabelecendo-se assim uma relação de poder.
A construção de um conhecimento, nesse processo, parte do princípio que a
relação que se estabelece entre o sujeito da avaliação e Psicóloga (o) sempre será
uma relação assimétrica na qual a (o) Psicóloga (o), a partir de sua competência
técnica e teórica, busca dados possibilitando, ao sujeito da avaliação, um espaço
onde ele consiga mostrar sua dinâmica, levando a(o) Psicóloga(o) a construir um
conhecimento sobre ele. Esse processo de avaliação também permitirá ao sujeito da
avaliação conhecer-se, construindo uma relação metacognitiva com o processo de
Avaliação Psicológica.
Esse movimento de abertura ao conhecimento estabelecerá, ao longo do
processo, um campo relacional que se caracteriza como uma variável importante a
ser considerada e entendida pela (o) Psicóloga (o) como uma de suas principais

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estratégias de avaliação. O campo relacional se caracteriza por uma relação que


inspira confiança e favorece o estabelecimento e manutenção de um vínculo
saudável aos objetivos de um processo de avaliação. A possibilidade do sujeito da
avaliação atualizar suas configurações vinculares, representadas por atitudes e
condutas na relação com a (o) Psicóloga (o), ao longo do processo, pressupõe o uso
criterioso da observação por parte da (o) Psicóloga (o), onde ela (e) passa a fazer
vigília a esse comportamento que vem permeado de significados, tendo como foco o
valor atribuído à figura da(o) Psicóloga(o). Dar continente a esses modelos, que esse
sujeito estabeleceu ao longo de seu desenvolvimento, facilita à (o) Psicóloga (o)
identificar papéis e funções assumidas nas relações interpessoais que, por vezes,
são difíceis de trazer para o setting da Avalição Psicológica.
Vale aqui ressaltar a importância de uma atitude acolhedora da (o) Psicóloga
(o) a esses conteúdos, sem deixar de considerar a importância de seu
distanciamento e identificação de um sentimento contratransferencial que pode
dificultar à(o) Psicóloga(o) selecionar elementos essenciais que devem fazer parte
do escopo da relação transferencial. A (O) Psicóloga (o) ressignifica seu papel de
técnico ou especialista detentor do saber e estabelece com o sujeito da avalição uma
relação de cooperação, em que a capacidade de ambas as partes, de observarem,
aprenderem e compreenderem, constitui a base indispensável de um processo de
avalição.
Psicóloga(o) e paciente se envolvem, a partir de pontos de vista diferentes,
mas igualmente importantes, na tarefa de construir os sentidos da existência de um
deles – o cliente (YEHIA, 1995).
O encontro na Avaliação Psicológica se configura, fundamentalmente, em uma
relação humana onde a(o) Psicóloga(o), ao fazer uso de seus recursos intelectuais,
suas emoções, suas percepções e interpretações não pode abrir mão da
potencialização de um processo de dissociação instrumental. Isso é, permite dessa
forma o compartilhamento da expectativa do saber, do conhecimento e da atitude
mental ativa, construindo um espaço intersubjetivo entre Psicóloga(o) e sujeito de
avalição. Essa tarefa permite a expressão do saber de um e o saber do outro,
reconhecendo ao mesmo tempo o limite de um e o limite de outro.
Pode-se considerar, portanto, que os aspectos que permeiam a dimensão
relacional na Avaliação Psicológica podem configurar um efeito terapêutico a esse

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processo que decorre, principalmente, da qualidade dos vínculos estabelecidos na


relação da(o) Psicóloga(o) com o sujeito da avaliação. Dessa forma, não se pode
deixar de salientar a constante busca pela imparcialidade e pela neutralidade técnica,
bem como pelo distanciamento da subjetividade. Sabemos que essa tarefa não é
fácil, porém é fundamental para que o alicerce do processo da Avaliação Psicológica
se constitua.
Social
Como qualquer técnica e prática que envolve situações de prestação de
serviços de ordem profissional na área da Psicologia, a Avaliação Psicológica tem,
em seu bojo, diversas questões ou problemáticas de ordem ética, que repercutem
intensamente na vida das pessoas envolvidas, na(o) profissional e até mesmo nas
instituições demandantes do processo avaliativo, assim como na sociedade como
um todo.
Necessitamos estar atentos aos reflexos da nossa atuação em relação às
pessoas envolvidas, assim como nas repercussões sociais de nossas tomadas de
decisão em relação a essas pessoas.
De acordo com Marcelo Tavares: Em todos os lugares onde a avaliação
psicológica se faz presente, ela pode ser utilizada para ajudar pessoas ou ser um
instrumento de exclusão. O resultado de avaliações pode trazer notícias que abrem
oportunidades para as pessoas, mas também pode trazer informações que não são
nem bem-vindas nem desejadas. O uso dos testes de avaliação pode promover o
desejo de autoconhecimento e favorecer a autoimagem; pode também ter efeitos
deletérios ou iatrogênicos. Esse uso pode estigmatizar uma pessoa e marcá-la por
toda uma vida. Os riscos de danos não são pequenos e a sociedade está atenta a
essa questão, mobilizando os Conselhos Regionais de Psicologia com denúncias
relativas à ética, questionando direitos ou recorrendo aos setores jurídicos e
legislativos neste país, como em outros (TAVARES, 2010).
Seguindo essa linha de raciocínio, as(os) profissionais da Psicologia precisam
construir e exercitar, diariamente, uma postura crítica em relação às suas
intervenções, buscando avaliar as consequências positivas e negativas para as
pessoas e instituições envolvidas, o que demanda às(os) Psicólogas(os) uma
capacidade nada simples, que é a de projetar e buscar uma visão ampla das

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situações e do provável comportamento das pessoas envolvidas e dos


desdobramentos possíveis de cada intervenção que possa ser realizada.
Cabe a nós, como profissionais da Psicologia, ao atendermos determinadas
demandas, sejam elas de pessoas ou instituições, privadas ou particulares, ou de
juízes, no caso de perícias psicológicas, por exemplo, buscar estimar de forma
longínqua, as possibilidades de resolução dos casos, levantando todas as possíveis
consequências da nossa intervenção profissional. Isso significa, por exemplo, que,
quando estou atendendo uma criança em um processo terapêutico e surge, por parte
da mãe, o pedido de um laudo, provavelmente a primeira ação seria simplesmente
atender ao pedido da mãe. Porém, é importante estar atento e fazer uma
investigação mais aprofundada sobre esse pedido, buscando entender as
motivações e desvelar as intenções ocultas, que podem não ter sido trazidas,
inicialmente, de forma manifesta por essa mãe. Assim, é possível que a mãe solicite
o documento para subsidiar um processo de guarda, ou de acusação de abuso
sexual por parte do pai. Este exemplo nos mostra que as possibilidades são muitas
e as consequências do ato de redigir um documento, como o solicitado, podem se
desdobrar em diversas situações prejudiciais ao nosso cliente ou a outras pessoas,
principais sujeitos da nossa sempre e constante preocupação.
Essa postura mais consciente e crítica acerca das consequências dos atos
das(os) Psicólogas(os) se apresenta como uma necessidade premente, pois é
advinda de uma outra problemática grave da nossa profissão: a menor credibilidade
por parte dos usuários e beneficiários de nossos serviços. Intervenções
inconsequentes, frágeis tecnicamente e eticamente, marcadas pela incompetência,
trazem consequências negativas para a imagem social da classe das(os)
Psicólogas(os) e da profissão como um todo.
Segundo Marcelo Tavares: Há dúvidas na imagem social da psicologia que
permanecem e precisam ser constantemente enfrentadas; dúvidas acerca da
competência dos psicólogos, da eficácia de seus serviços e do diferencial de seus
serviços em contraste com o senso comum. Podemos perceber rapidamente como
uma atividade profissional que tem o poder de expor demasiadamente a intimidade
de uma pessoa e ameaçar seus direitos requer a existência, na sociedade, de uma
agência que seja capaz de regular e fiscalizar o seu exercício. Essa agência também

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Atividades de avaliação psicológica

deve cuidar de esclarecer a sociedade sobre a natureza, o valor e a legitimidade de


suas atividades” (TAVARES, 2010).
Dessa forma, precisamos estar atentos ao potencial para equívocos advindos
da Avaliação Psicológica, pois nossa atuação refletirá na imagem da classe
profissional como um todo, trazendo danos à sua credibilidade.
De forma geral, o que tratamos até o momento se refere especificamente à
garantia dos direitos de nossos sujeitos de avaliação, respondendo aos anseios e
necessidades daqueles que a ela se submetem e administrando o processo
avaliativo de forma ética e qualificada tecnicamente. Uma forma de atuação crítica e
competente tenderá a diminuir riscos e consequências danosas para as pessoas e
para a sociedade, como por exemplo, uma indicação ou contraindicação mal ou
pouco sustentada em uma avaliação para concurso público, ou para a obtenção da
Carteira Nacional de Habilitação, ou para fins de registro e/ou porte de arma.
A ação ética no campo da Avaliação Psicológica pressupõe o respeito à
dignidade, aos direitos e ao bem-estar das pessoas, o zelo pelos materiais e
conteúdos obtidos no processo e o cuidado com a utilização dos resultados. Assim,
a atenção aos direitos dos sujeitos exige precauções em relação às consequências
da situação como um todo, projetando as possibilidades e localizando a forma mais
adequada para lidar com os dados e informações obtidos. Esses cuidados, que
envolvem preocupações éticas e competência na concepção e execução da
avaliação, são necessários para o efetivo benefício das partes envolvidas.
A competência se relaciona à manutenção de níveis de excelência no trabalho,
ou seja, que a(o) Psicóloga(o) inicialmente reconheça os limites da sua
especialidade, atuando somente em casos ou demandas para os quais se sinta em
condições favoráveis. Também a constante atualização na área é necessária, pois
acompanhar a evolução da ciência psicológica permite à(o) Psicóloga(o) o
aprimoramento teórico e técnico de sua práxis.
Dessa forma, não há ação no campo da Psicologia que não tenha
repercussões na vida das pessoas envolvidas, e a área da Avaliação Psicológica
demonstra ser uma das mais evidentes nesse sentido. Os efeitos danosos que um
laudo psicológico pode ter na vida de uma pessoa podem ser intensos, dependendo
especialmente do nível de profundidade da análise que o mesmo exigiu para sua

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Atividades de avaliação psicológica

elaboração, assim como das reflexões éticas realizadas pela(o) Psicóloga(o) a


respeito das consequências de emitir aquele documento.
Em resumo, a atenção aos direitos humanos perpassa todas as etapas de um
processo avaliativo, desde o seu planejamento até seu fechamento, e deve ser objeto
de cuidado prioritário da(o) profissional Psicóloga(o). A consciência da
responsabilidade de sua atuação, o conhecimento da complexidade das situações
envolvidas e das repercussões possíveis em uma Avaliação Psicológica, é o primeiro
passo para a atuação ética e construtiva nessa área, e, em consequência, para a
credibilidade de nossa atuação e de nossa classe.

Profissional

A(O) profissional Psicóloga(o) que realiza Avaliação Psicológica deve planejar


e realizar o processo avaliativo com base em aspectos técnicos, construtos teóricos
e dentro da legislação que norteia essa prática. Dessa forma, assegura-se que os
fenômenos psicológicos observados e aferidos sejam confiáveis e auxiliem a(o)
Psicóloga(o) na tomada de decisão nos vários contextos de atuação.
Para tanto, é necessário que a(o) profissional tenha amplo conhecimento dos
fundamentos psicológicos em diferentes perspectivas teóricas; tenha domínio das
psicopatologias, para, então, conseguir identificar problemas de saúde mental e fazer
diagnósticos; deve conhecer os fundamentos básicos da psicometria, para ser capaz
de identificar e empregar a técnica mais adequada ao seu propósito e contexto; ter
domínio das normas vigentes do CFP e do Código de Ética Profissional do Psicólogo
(essas são exigências mínimas de qualidade das avaliações, regulamentando e
norteando a prática); deve ter domínio sobre os procedimentos da Avaliação
Psicológica, para conseguir planejar e executar a avaliação adequando-se aos
objetivos e contexto; deve ter competência para integrar as informações coletadas
com base no construto avaliado para, então, finalizar a mesma com a elaboração de

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documento decorrente de Avaliação Psicológica e comunicar os resultados, por meio


da entrevista devolutiva.
Considerando que essa área necessita de pesquisas constantes e
vislumbrando que o processo avaliativo seja seguro e eficaz, é fundamental que a(o)
profissional Psicóloga(o) esteja em constantes formação e atualização sobre
fundamentos teóricos e técnicos, normas e procedimentos da Avaliação Psicológica.
Para isso, a formação continuada é imprescindível a(o) profissional, pois a
competência e segurança nessa prática são inerentes à formação e à atualização
constantes. Adicionalmente, também é relevante que a(o) profissional identifique, em
alguns casos, a necessidade de supervisão de uma(um) profissional com experiência
apropriada, para não correr o risco de cometer erros e ferir a ética no processo
avaliativo, assim prejudicando o avaliando.

Avaliação Psicológica no campo do trânsito

Atualmente a Avaliação Psicológica no contexto do trânsito tem se limitado à


avaliação das condições psicológicas para dirigir um veículo automotor. Desde que
passou a vigorar o Código de Trânsito
Brasileiro (CTB), através da Resolução nº
080/1998 do Contran, passou-se a usar as
denominações “Avaliação Psicológica pericial
no trânsito” e “psicólogo perito examinador de
trânsito”. Nessa resolução também foram
definidos os fenômenos psicológicos que
deveriam ser aferidos para qualificar o
candidato à Carteira Nacional de Habilitação (CNH), bem como os pareceres
emitidos por essas(es) profissionais Psicólogas(os). Em 2008, essa resolução do
Contran foi revogada pela Resolução n° 267/2008, que indicava avanços na
descrição dos processos psíquicos a serem investigados, bem como os
procedimentos a serem usados. Por sua vez, essa resolução foi revogada pela
Resolução n° 425/2012 do Contran, atualmente em vigor, que determina uma série
de quesitos a serem avaliados com qualidade técnica e ética, determinados pela
Resolução do CFP nº 007/2009, após alterada pela resolução CFP n° 009/2011.

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Atividades de avaliação psicológica

Todas essas alterações foram motivadas por questionamentos acerca da sua prática
e validade, demonstrando-se uma área que demanda de mais, e constantes
pesquisas.
Essas resoluções têm por objetivo nortear a prática das(os) Psicólogas(os)
que atuam nessa área. O trabalho da(o) Psicóloga(o) especialista em trânsito está
vinculado à dinâmica institucional dos órgãos públicos de trânsito, como o Conselho
Nacional de Trânsito (Contran) e o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran),
que representam a esfera federal, e os órgãos públicos estaduais, como a Secretaria
de Segurança Pública dos Estados (SSP) e o Departamento de Trânsito (Detran).
Dessa forma, o trabalho da(o) Psicóloga(o) é norteado, pelos Conselhos Regionais
e Federal de Psicologia, assim como pelas estruturas normativas federais e
estaduais dos órgãos de trânsito.
É importante destacar que a Avaliação Psicológica, deve ser entendida como
um processo compreensivo, que tem por objetivo o conhecimento e o prognóstico do
comportamento de um determinado indivíduo. Esse processo de investigação deve
se pautar em objetivos claros e ser realizado com ética e profissionalismo,
observando-se as definições legais preconizadas e o grau de conhecimento científico
desenvolvido para a atuação mais consistente e justa. O objetivo da(o) profissional
que realiza Avaliação Psicológica no trânsito deve ser a identificação das condições
psicológicas mínimas para o condutor de um veículo automotor não comprometer a
segurança no trânsito. A investigação dos fenômenos psicológicos, das capacidades
gerais e específicas do indivíduo, deve proporcionar indicadores para a tomada de
decisão em relação às condições de esse indivíduo estar apto ou inapto para dirigir.
Dessa maneira, os profissionais de Psicologia atuam de forma preventiva e preditiva
no processo de Avaliação Psicológica, buscando interferir para que os motoristas
não se exponham a situações de perigo.
De acordo com a Resolução do Contran n° 425/2012 e Resoluções CFP n°
007/2009 e n° 009/2011, considera-se “candidato” a pessoa que se submete à
Avaliação Psicológica para a obtenção da CNH, renovação, adição ou mudança de
categoria. Nesse processo de Avaliação Psicológica, são avaliados e aferidos por
meio de métodos e técnicas psicológicas com base científica reconhecida, uma série
de funções psicológicas, traços de personalidade e aspectos comportamentais.
Seguindo as resoluções na íntegra, o processo de Avaliação Psicológica faz uso de

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Atividades de avaliação psicológica

entrevista e testes psicológicos, assim como observação do comportamento do


candidato, o que vem a possibilitar maior qualidade técnica ao processo avaliativo.
Como em qualquer outro contexto de Avaliação Psicológica, a(o) Psicóloga(o)
avaliadora(avaliador) deve ter suas conclusões pautadas em um processo de
investigação confiável e válido.
Para tanto, a Resolução do Contran n° 425/2012 determina uma série de
quesitos a serem avaliados, como:
Art. 5° Na avaliação psicológica deverão ser aferidos, por métodos e técnicas
psicológicas, os seguintes processos psíquicos (Anexo XIII):
I. Tomada de informação;
II. Processamento de informação;
III. Tomada de decisão;
IV. Comportamento;
V. Auto-avaliação do comportamento;
VI. Traços de personalidade (CONTRAN, 2008).
Para a interpretação dos resultados dos testes aplicados, recomenda-se que
sejam utilizadas as normas específicas e/ou gerais dos instrumentos e que sejam
seguidas as orientações previstas nos respectivos manuais. Ressalta-se que a
interpretação e análise dos dados colhidos no processo avaliativo contemple todos
os aspectos observados e aferidos, colocando em prática todos os preceitos da
Avaliação Psicológica. Somente após essa análise contextualizada e fundamentada
é que a(o) Psicóloga(o) estará apta(o) a emitir seu parecer finalizando a mesma com
a elaboração de documento decorrente de Avaliação Psicológica e a comunicação
do resultado, por meio da entrevista devolutiva.
Seguindo esses preceitos e realizando um trabalho pautado na ética e com
postura técnica e científica, as(os) Psicólogas(os) Especialistas em Psicologia do
Trânsito podem auxiliar nessa encruzilhada em que o país se encontra em relação
ao futuro do trânsito, quando a morbimortalidade é considerada um problema de
saúde pública.

Por que a avaliação psicológica é obrigatória para obtenção de CNH?

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Atividades de avaliação psicológica

Direitos dos Candidatos


• Ser tratado com respeito e educação;
• Realizar a avaliação psicológica em ambiente físico adequado e
confortável, com iluminação, ventilação, mobiliários e ruídos que não venham a
interferir negativamente no processo;
• Ser informado da duração do processo, bem como das etapas que o
compõe;
• Receber esclarecimentos necessários para o bom andamento do
trabalho;
• Ter a garantia de que seus resultados serão mantidos em sigilo, na
medida garantida pela lei;
• Solicitar entrevista de devolutiva, com explicação sobre os resultados
da avaliação, a qual deve ser gratuita.

Direitos dos Psicólogos

• Ser tratado com respeito e educação;


• Ter a sua profissão e seus instrumentos de trabalho respeitados.

Deveres dos Candidatos

• Cumprir o horário pré-agendado;


• Respeitar e tratar o profissional cordialmente;
• Ter cuidado para com o material do psicólogo, sem rasurar ou danificar
os cadernos utilizados para aplicação dos testes psicológicos.

Deveres dos Psicólogos

• Possuir a capacitação condizente a atuação da Psicologia no Trânsito;


• Atuar de forma ética;
• Cumprir o horário pré-agendado com os avaliados;
• Prestar atendimento respeitoso e cordial frente aos avaliados e demais
envolvidos;

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• Repassar de forma clara e objetiva todas as informações pertinentes à


Avaliação Psicológica;
• Informar o avaliado sobre o direito à Entrevista Devolutiva Gratuita;
• Manter sigilo sobre as informações recebidas nas avaliações.

Informações gerais aos candidatos

• Procure dormir bem na noite anterior à avaliação;


• Alimente-se de forma leve e saudável;
• Procure vestir uma roupa confortável;
• Não ingira bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoativas antes
da Avaliação Psicológica;
• Procure concentrar-se nas atividades que lhe serão solicitadas;
• Chegue para a avaliação com antecedência;
• Desligue o celular quando entrar na sala de avaliação e/ou entrevista.

Legislação

• Resolução CFP nº 007/2009: institui normas e procedimentos


para a avaliação psicológica no contexto do Trânsito.
• Resolução CFP nº 009/2011: altera o Anexo II da Resolução
CFP 007/2009.
• Nota Técnica CFP nº 001/2011: esclarece os psicólogos
acerca do conceito de atenção da Resolução CFP 007/2009.
• Resolução CFP nº 003/2007 - Capítulo II - Da avaliação
Psicológica para Carteira Nacional de Habilitação.
• Resolução CFP nº 016/2002: dispõe acerca do trabalho do
Psicólogo na avaliação psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação
e condutores de veículos automotores.
• Resolução CFP nº 006/2010: altera a Resolução CFP
016/2002.
• Resolução CFP nº 007/2003: institui o Manual de Elaboração de
Documentos Escritos produzidos pelo Psicólogo, decorrente da avaliação psicológica

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e revoga a Resolução CFP 017/2002. Estas e outras resoluções estão disponíveis


para download em www.crppr.org.br, link “Legislação”.

Elaboração das dimensões normativas do Trabalho do Psicólogo do


Trânsito em Clínicas de Avaliação Psicológica

Em busca de uma possível sistematização da ação do Psicólogo do Trânsito


inserido no contexto das clínicas credenciadas pelo DETRAN, faz-se necessária a
compreensão das normas e procedimentos para Avaliação Psicológica de candidatos
à CNH e condutores de veículos automotores, contidos na Resolução CFP nº 007, de
29 de julho de 2009. O documento surgiu da necessidade de atualizar e qualificar os
procedimentos realizados pelos profissionais segundo as alterações da CTB, bem
como das Resoluções do CONTRAN. Um primeiro ponto de compreensão recai sobre
a palavra qualificar e, segundo o Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa, significa
“1. Indicar a (s) qualidade (s) de. 2. Avaliar, apreciar. 3. Considerar habilitado, apto,
idôneo. 4. Atribuir qualidade (s) a; considerar. 5. Classificar. ” (FERREIRA, 2010, p.
627). A expressão, utilizada no contexto “qualificar os procedimentos de Avaliação

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Psicológica”, contida na Apresentação da referida Resolução, demonstra a


possibilidade de, ao menos, cinco interpretações, como elucidado acima.
Compreende-se que a pretensão do CFP seja atribuir qualidade aos procedimentos
de Avaliação Psicológica, regulamentando a prática dos psicólogos por meio de
normas e procedimentos contidos nas páginas da Resolução. Em seu Art. 2º dispõe:
“Os dispositivos deste manual constituem exigências mínimas de qualidade referentes
à área de avaliação psicológica (...)” (CFP, 2009), o que respalda a interpretação desta
pesquisadora, quanto ao significado do termo qualificar. Em relação às habilidades
mínimas do candidato à CNH e do condutor de veículos automotores, o CFP (2009)
admitiu novamente a necessidade de uma sistematização mais objetiva destas
habilidades de maneira a contemplar um perfil profissiográfico diferenciado dos dois
tipos de condutores existentes, ou seja, aquele que utiliza o veículo automotor para
atividade remunerada e o outro para atividades não remuneradas. Entretanto, mais
uma vez continua a traçar diretrizes de Avaliação Psicológica de forma independente
da atividade que o candidato exerça, indicando que as avaliações devam ser
realizadas de forma genérica. Orienta, também, que o psicólogo deve manter-se
atualizado com relação às publicações científicas e novas pesquisas, pois, dessa
forma, os perfis e habilidades mínimas serão discutidos em busca de uma
legitimidade. Silva e Alchieri (2010) contemplam a mesma questão citada, explanando
sobre a necessidade de ampliação de pesquisas acerca da validade preditiva dos
testes psicológicos que são utilizados para habilitação dos motoristas, estabelecendo-
se relações entre o teste e o comportamento no trânsito, para que a contribuição da
utilização dos testes seja realmente eficaz em busca da segurança viária.
Em relação à Avaliação Psicológica, a Resolução conceitua: A avaliação
psicológica é entendida como o processo técnico-científico de coleta de dados,
estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que
são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de
estratégias psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos. Os resultados das
avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus
efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não
somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam
desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação
psicológica (CFP, 2009, p.3). Ressalta-se que Avaliação Psicológica não é o mesmo

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Atividades de avaliação psicológica

que testagem psicológica, pois se utiliza de métodos, técnicas e instrumentos para


facilitar a interpretação de informações obtidas e abrange diversos elementos para
além da quantificação. É um método investigativo que começa desde a entrevista, se
traduzindo em um contínuo que envolve observações, pode se utilizar de fontes
colaterais, envolve a subjetividade do examinador, engloba aspectos estruturados e
não estruturados, é mais longa e demorada, e exige conhecimentos de testagem, de
métodos de avaliação, bem como da área avaliada como os transtornos psiquiátricos,
por exemplo (URBINA, 2007). Os testes psicológicos são instrumentos de uso
privativo do Psicólogo, conforme dispões o § 1º do Art. 13 da Lei nº 4.119 de
27/08/1962, que regulamenta a profissão, e podem ajudar o profissional de Psicologia
no processo de avaliação desde que sejam utilizados de forma apropriada e ética.
Para efeito do disposto no caput deste artigo, os testes psicológicos são
procedimentos sistemáticos de observação e registro de amostras de
comportamentos e respostas de indivíduos com o objetivo de descrever e/ou
mensurar características e processos psicológicos, compreendidos tradicionalmente
nas áreas emoção/afeto, cognição/inteligência, motivação, personalidade,
psicomotricidade, atenção, memória, percepção, dentre outras, nas suas mais
diversas formas de expressão, segundo padrões definidos pela construção dos
instrumentos (CFP, 2012). O motivo básico para o mau uso dos testes reside no
conhecimento ou competência insuficientes por parte de muitos usuários, e o uso
inadequado dos testes pode anular seus resultados (URBINA, 2007). Em Psicologia,
é comum a construção de instrumentos que meçam objetivamente determinados
conteúdos psíquicos, como por exemplo inteligência, depressão, impulsividade e
atenção, entre outros. O objetivo da construção de escalas é que meçam
verdadeiramente o que se pretende medir, sendo assim, os testes necessitam
apresentar fidedignidade (precisão, exatidão) e validade. Os conceitos de
fidedignidade e validade são discutidos por Fachel e Camey (2000) discorrendo que
fidedignidade contempla dois conceitos principais, consistência interna e estabilidade
no tempo; e para que um teste seja válido, ele deve medir o que o pesquisador deseja
e pensa que está medindo. Dessa forma, a testagem psicológica pode ser um
componente valioso do processo de avaliação. Seus resultados devem ser somados
aos dados levantados em entrevistas e observações, contribuindo assim com o
diagnóstico psicológico. O CFP é responsável por avaliar e aprovar a utilização dos

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Atividades de avaliação psicológica

testes psicológicos comercializados no Brasil, e traz uma lista extensa de informações


a respeito de testes em sua página disponível na internet (www.pol.org.br). É dever
do psicólogo consultar a permissão para utilização dos instrumentos antes de aplicá-
los em seu cotidiano de trabalho, e é considerada falta ética a utilização de testes
psicológicos que não constam na relação de testes aprovados pelo CFP, salvo em
casos de pesquisa, conforme disposto na alínea c do Art. 1º e na alínea m do Art. 2º
do Código e Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2003). Aos CRP, recaem a
responsabilidade sobre a verificação do cumprimento das Resoluções, do Código de
Ética Profissional e das demais normas referentes ao exercício profissional do
psicólogo. No Art. 1º da Resolução 007/2009, o CFP resolve que ficam aprovadas as
normas e procedimentos para Avaliação Psicológica de candidatos à CNH e
condutores de veículos automotores. Os itens deste Artigo dispõem sobre Conceito
de Avaliação Psicológica; Habilidades mínimas do candidato à CNH e dos condutores
de veículos automotores; Instrumentos de Avaliação Psicológica; Condições de
aplicação dos Testes Psicológicos; Mensuração e Avaliação do Resultado da
Avaliação Psicológica (CFP, 2009).

DIMENSÕES NORMATIVAS NORMAS E PROCEDIMENTOS

1) Presença - A avaliação psicológica é uma função privativa do


psicólogo (definida pela Lei nº 4.119/1962);
- A realização da entrevista psicológica é parte
obrigatória do processo (conversação dirigida a um
propósito definido de avaliação);
- O psicólogo deve planejar e sistematizar a
entrevista a partir de indicadores objetivos
de avaliação correspondentes ao que
pretende examinar;
- O psicólogo pode registrar as necessárias
observações do comportamento do candidato durante o
teste, de forma a colher material que possa enriquecer
suas análises.

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2) Comunicação - Durante a entrevista: como regra padrão, antes


de iniciar a testagem, o psicólogo deve estabelecer o
rapport1;
- Durante a aplicação dos testes: recomenda-se
aplicar os testes de forma clara e objetiva, inspirando
tranquilidade e evitando, dessa forma, acentuar a
ansiedade do candidato; seguir as orientações dos
manuais de teste sem, entretanto, assumir uma postura
estereotipada e rígida; pessoas com deficiência não
impeditivas devem ser avaliadas de forma compatível
com suas limitações; oferecer respostas precisas às
eventuais questões levantadas pelos candidatos; treinar
previamente a leitura das instruções para poder
expressar-se de forma espontânea; verificar se os testes
reutilizáveis estão sem rasuras, defeitos ou marcas que
o descaracterizem e influenciem nos resultados.
- Utilizar vestuário adequado à situação de
testagem, evitando assim o uso de estímulos que
possam interferir na concentração do candidato
(comunicação não-verbal).
- Na entrevista devolutiva: apresentar, de forma
clara e objetiva, a todos os candidatos, o resultado de
sua avaliação psicológica.

3) Instruções - Durante a entrevista inicial: esclarecer eventuais


dúvidas do candidato e fornecer informações sobre os
objetivos da avaliação psicológica;
- Durante a aplicação dos testes: a validade do
teste
passa, necessariamente, por uma adequada aplicação;
instruções diferentes das estabelecidas na normatização
é um dos fatores que comprometem a validade dos
testes; aplicar os testes de forma clara e objetiva;
apresentar domínio das normas de aplicação; estar
tecnicamente preparado para a utilização dos
instrumentos de avaliação escolhidos, estando treinado
para todas as etapas do processo, podendo oferecer
respostas precisas às eventuais questões levantadas
pelos candidatos, transmitindo-lhes segurança; treinar
previamente a leitura das instruções para poder
expressar-se de forma espontânea durante sua
apresentação.

1
Rapport: palavra francesa que significa confiança, estabelecido através do acolhimento e escuta do paciente (CFP, 2010).

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4) Devolutiva - Fica o psicólogo obrigado a realizar a entrevista


devolutiva, apresentando de forma clara e objetiva, a
todos os candidatos, o resultado de sua avaliação
psicológica.

5) Instalações - O ambiente físico de uma sala de atendimento


individual deve ter, no mínimo, as dimensões de quatro
metros quadrados;
- A sala de atendimento coletivo deve seguir as
dimensões descritas na Resolução CONTRAN;
- O ambiente deve estar bem iluminado por luz
natural ou artificial fria, evitando-se sombras ou
ofuscamento;
- Deve ser mantida uma adequada higienização do
ambiente, tanto na sala de recepção como nas salas de
teste, escritórios, sanitários e anexos;
- As salas de testes devem ter isolamento acústico,
de forma a evitar interferências ou interrupções na
execução das tarefas dos candidatos.
Fonte: Adaptado de CFP (2009).

O Quadro apresenta, de forma didática, algumas normas sobre o


comportamento que o avaliador deveria emitir para garantir um atendimento de
qualidade ao usuário do serviço, tanto tecnicamente (padronização dos testes e
entrevistas) quanto de conduta (rapport, formas de expressão, vestimenta). As
instalações fazem parte das obrigatoriedades para o credenciamento da clínica e
utilização dos testes psicológicos, entretanto, garantir um local higienizado, bem
iluminado, ventilado e com isolamento acústico, também faz parte da conduta do
profissional. As cinco dimensões normativas (Presença, Comunicação, Instruções,
Devolutiva e Instalações), elaboradas a partir das determinações do CFP (2009),
podem ser observadas e avaliadas pelos usuários do serviço prestado, na medida em
que revelem ter vivenciado, ou não, tais situações. Os psicólogos do trânsito, inseridos
em suas clínicas, efetivamente, comportam-se segundo as diretrizes do Conselho, em
busca de um serviço de qualidade que seja percebido pelo usuário? Não se trata de
uma fiscalização, pois esta competência recai sobre os CRP, mas de retratar uma
realidade percebida pelo usuário do serviço, em uma amostra da população, seguindo
métodos de pesquisa em busca de respostas quantitativas sobre o assunto.

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Atividades de avaliação psicológica

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