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CONDUTORES
Paula Rocha
Psicóloga
paula.a.rocha@sapo.pt
Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores
Introdução...................................................................................................................................................3
I. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA - BREVES CONSIDERAÇÕES.............................................................................5
1.1. Objetivos..........................................................................................................................................5
1.2. Procedimentos.................................................................................................................................7
1.3. Instrumentos..................................................................................................................................10
II. HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CONDUTORES...................................................................13
2.1. Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir..........................................................................13
a. Classificação dos Condutores.........................................................................................................15
2.2. Exames Psicológicos.......................................................................................................................16
2.3. Competência para a Realização dos Exames Psicológicos de acordo com o Dec-Lei 313/2009......18
2.4. O Decreto-Lei 138/2012 – Que alterações preconizou?.................................................................19
2.5. O Decreto-Lei 37/2014 – Que alterações preconizou?...................................................................20
III. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CONDUTORES........................................................................................21
3.1. Conceito e Princípios Orientadores................................................................................................21
3.2. Dimensões a Avaliar.......................................................................................................................23
a. Área Percetivo-Cognitiva...............................................................................................................23
b. Área Psicomotora..........................................................................................................................23
c. Fatores de Personalidade...............................................................................................................24
3.3. Instrumentos..................................................................................................................................24
3.4. Entrevista Individual.......................................................................................................................26
3.5. Relatório Final................................................................................................................................27
a. Emissão de Parecer........................................................................................................................30
Bibliografia................................................................................................................................................31
Introdução
O presente manual é uma ferramenta que foi concebida para apoiar e orientar Psicólogos ou Finalista do
Mestrado em Psicologia que desenvolvam ou pretendam desenvolver a atividade de Avaliação
Psicológica de Condutores, fornecendo informação útil ao leitor na sua prática diária.
Grande parte da informação contida neste manual resulta da aplicação do Decreto-Lei 138/2012, bem
como do Decreto-Lei 37/2014 (introduz ligeiras alterações ao anterior), mas o Psicólogo que pretenda
exercer esta atividade deverá ter conhecimento sobre o Decreto-Lei 313/2009 por ter sido dos primeiros
a entrar em vigor e a introduzir grandes alterações na avaliação dos condutores. A 2 de novembro de
2012 entrou em vigor o Dec-Lei 138/2012, o que trouxe alterações significativas, especialmente nas
dimensões a avaliar, nos critérios de Aptidão/Inaptidão e no Relatório / Certificado de Avaliação
Psicológica.
O principal objetivo desta ação prende-se com a necessidade de sensibilizar os Psicólogos para a
importância da Avaliação Psicológica de Condutores, transmitindo-lhes os conceitos e os princípios
básicos fundamentais que lhes permitam implementar todas as fases do processo avaliativo. Para isso,
recorrer-se-á à metodologia expositiva para apresentação teórica dos conceitos em questão e ativa com
a realização de trabalhos de aplicação, individuais ou de grupo, e simulações ajustadas ao grupo e à sua
realidade profissional.
O curso terá a duração de 21 horas divididas por 4 dias, respeitando a sequência do programa:
O manual está estruturado de acordo com a maior parte destes pontos, com excepção dos assinalados a
cinzento por serem assuntos concretos e da responsabilidade das entidades representantes em Portugal
dos instrumentos. Foram tidos, ainda, em consideração os objetivos específicos definidos, à partida, para
a presente ação. Em primeiro lugar é feita uma abordagem genérica sobre a avaliação psicológica
preconizada noutros contextos e nos dois capítulos seguintes estas noções são transpostas para um
campo muito específico, o da Psicologia do Tráfego.
A primeira secção deste manual aborda, em sentido lato, as particularidades da avaliação psicológica
nos vários contextos em que se pratica. Antes de detalhar as exigências inerentes à legislação que
obriga os condutores de veículos automóveis de determinadas categorias a serem submetidos a um
rigoroso processo de avaliação cognitiva, psicomotora e psicossocial, é relevante explanar o domínio da
Psicologia que se ocupa da identificação das competências e caraterísticas pessoais dos indivíduos.
Atualmente, e cada vez mais, a avaliação psicológica assume um notório destaque no dia-a-dia laboral
dos profissionais da Psicologia, trabalhem eles no contexto organizacional, escolar, clínico, do tráfego ou
outros. Esta área da Psicologia permite compreender diferentes dimensões psicológicas de uma pessoa,
sem que isso exija demasiado tempo ou implique um acompanhamento prolongado.
1.1. Objetivos
Os objetivos que se definem para qualquer processo de avaliação psicológica devem, em primeira
análise, procurar responder às questões de base que se colocam no início do processo, estando estas
intimamente relacionadas com o contexto em que a avaliação se desenrola.
ORGANIZACIONAL
No contexto organizacional a avaliação psicológica foi utilizada, durante muitos anos, fundamentalmente
com vista à seleção dos indivíduos para o exercício de uma determinada função. Atualmente, este
propósito para a utilização da avaliação psicológica ainda se mantém mas tem sido possível estender a
avaliação psicológica para outros propósitos.
Nos processos de Coaching a avaliação psicológica pode incidir na identificação dos pontos
fortes e nas necessidades de desenvolvimento de uma pessoa para que possa ser definido
um plano de intervenção adequado ao indivíduo e que o ajude a evoluir nos aspetos que se
revelam comprometedores do seu desempenho.
Em qualquer um dos casos, é habitual aplicarem-se testes psicotécnicos que meçam, de uma forma
objetiva, as dimensões consideradas relevantes para o desempenho das tarefas de um dado cargo ou
posto de trabalho, procurando-se encontrar o perfil do indivíduo para ser confrontado com o que é
previamente definido para a função.
CLÍNICA
A avaliação num enquadramento clínico reveste-se de um conjunto de particularidades ainda maior, uma
vez que as ações desencadeadas deverão estar relacionadas com o tipo de queixa ou pedido que é
dirigido ao Psicólogo. A avaliação começa, habitualmente, com a realização de entrevistas com os
diversos intervenientes do processo, com o próprio e com outras figuras que se assumam relevantes
para a compreensão geral da problemática do cliente.
O desenrolar de um processo avaliativo neste âmbito depende, muitas vezes, do quadro teórico que rege
a forma de atuação do Psicólogo. Por exemplo, o objetivo da avaliação poderá concentrar-se em
identificar os fatores que se relacionam com o problema e que permitirão a definição da estratégia de
intervenção com o cliente (Modelo Cognitivo-Comportamental):
fatores protetores (recursos que o cliente possui para fazer face ao problema).
ESCOLAR
TRÁFEGO
A Psicologia do Tráfego é uma área que recorre, igualmente, à avaliação psicológica enquanto meio
para identificar ou não num indivíduo potenciais fatores de risco para a segurança rodoviária,
independentemente do contexto em que se desenrole:
1.2. Procedimentos
Os processos de avaliação psicológica contemplam, habitualmente, quatro momentos, ainda que a sua
sequência possa variar de acordo com o âmbito em que se insere:
Existem, ainda, outras fases que podem ser registadas em situações específicas, por exemplo um
processo de avaliação psicológica com vista à Seleção de Pessoal começa, habitualmente, pela análise
curricular, ao passo que num processo Clínico a avaliação começa pela entrevista anamnésica (ao
próprio se o cliente for adulto ou às figuras cuidadoras/pais se o cliente uma for criança ou um jovem) e
termina com uma entrevista de devolução dos resultados.
Esta última entrevista também se verifica no domínio da Orientação Escolar e Vocacional mas na
Psicologia do Tráfego o relatório pode ser entregue em mão ou enviado via postal, pelo que a
informação sobre o parecer final pode ser dado no final da entrevista (caso seja positivo) ou comunicado
diretamente ao cliente/condutor (caso seja negativo).
Uma das decisões mais importantes que o Psicólogo tem de tomar quando realiza uma avaliação
psicológica prende-se com a bateria de provas e de testes a aplicar. A escolha nem sempre é fácil e
exige da parte do Psicólogo um amplo conhecimento sobre os instrumentos que existem para avaliar a
dimensão em questão, inclusive sobre a população para a qual as provas estão aferidas. O domínio dos
instrumentos é, igualmente, fundamental para garantir a fiabilidade dos resultados, uma vez que o
Psicólogo ou o Aplicador devem conhecer minimamente a natureza das provas, a sua complexidade e
todas as regras inerentes à aplicação (instruções a dar, tempo de realização dos exemplos e das
próprias provas).
No caso de a avaliação estar integrada no contexto da S eleção de Pessoal a escolha das provas
depende diretamente do perfil de requisitos definido para a função em análise e que é estabelecido no
início do processo. Por exemplo, se for um cargo de mecânica um dos testes a aplicar deverá avaliar
aptidão ou raciocínio mecânica, mas se for uma função administrativa justifica-se avaliar aptidões
administrativas e que contemplem concentração, verificação de dados, entre outras dimensões.
No domínio da intervenção C línica o Psicólogo decide sobre as provas a aplicar depois de analisar
cuidadosamente toda a informação recolhida nas entrevistas com os devidos interlocutores. Nesta altura
já deverá ter identificado a potencial problemática que o cliente apresenta e que será confirmada ou não
pelos resultados dos instrumentos de avaliação psicológica. Neste âmbito a decisão é ainda mais
complexa porque tem que ter em consideração, necessariamente, a idade do cliente, especialmente
quando este se encontra numa fase de transição, por exemplo de criança para adolescente ou de
adolescente para adulto.
Quanto à Orientação Escolar ou Vocacional a escolha assume-se menos complexa dado que as
dimensões a avaliar estão habitualmente definidas e passam pela componente cognitiva para conhecer
as aptidões fortes e fracas do cliente, pelo domínio dos interesses e motivações e, em certos casos,
complementa-se com a avaliação das características da personalidade do cliente para compreender a
sua adequação às várias atividades. É certo que existem várias provas para medir as mesmas
dimensões mas é possível identificar rapidamente a melhor solução para o cliente em questão.
No contexto da P sicologia do Tráfego as dimensões a avaliar estão definidas por meio de um Decreto-
Lei, sendo necessário apenas distinguir o tipo de candidatos, obtenção de um título do Grupo 2,
condutores do Grupo 2 que visam a renovação do título, condutores do Grupo 1 que solicitam o
averbamento do Grupo 2 na carta ou condutores do Grupo 1 indicados pela Técnico de Saúde
(habitualmente com mais de 70 anos de idade). É possível encontrar alguma variedade de sistemas de
testes, mas, ainda assim, o leque de opções existentes é mais reduzido por serem instrumentos muito
focados no desempenho psicomotor do condutor e que não pode ser obtido exclusivamente através de
testes de papel e lápis.
ENTREVISTA
A entrevista é um dos momentos mais ricos de qualquer processo de avaliação psicológica uma vez que
permite recolher dados e informações que vão complementar e/ou esclarecer os resultados obtidos nas
provas psicológicas. As entrevistas podem ser mais ou menos estruturadas na medida em que o
Psicólogo poderá direcionar a conversa com os interlocutores colocando questões fechadas ou, por
outro lado, as perguntas podem ser abertas para que o outro possa desenvolver os assuntos de uma
forma pouco orientada.
À semelhança do que já foi referido anteriormente, o contexto e os objetivos da avaliação ditam a forma
como as entrevistas são realizadas e conduzidas. Uma entrevista realizada no âmbito da Seleção de
Pessoal poderá obedecer a um guião que orienta o Psicólogo no processo de recolha de informação
sobre a experiência profissional do candidato, habilitações escolares, motivações e auto-imagem.
Dependendo dos requisitos da função poderão ser incluídas outras questões que conduzam à obtenção
de dados relevantes para o processo avaliativo.
Na O rientação Escolar ou Vocacional o Psicólogo procura identificar as temáticas escolares com que o
indivíduo se identifica mais, assim como as suas áreas de interesse. Estas entrevistas têm, também, o
objetivo de esclarecer e informar o outro sobre as várias alternativas de que dispõe para que possa
tomar uma decisão adequada à sua motivação e personalidade.
1.3. Instrumentos
Na sequência do que foi referido anteriormente, compreende-se que a variedade de provas psicológicas
é enorme, não só em função das aptidões ou competências que avaliam, mas também pela forma como
se apresentam. É possível encontrar testes em suporte de papel e lápis que avaliam o mesmo que
outras provas e que podem ser realizadas informaticamente. É o caso das Matrizes Progressivas de
Raven que podem ser realizadas em papel ou em computador.
Quanto às dimensões que avaliam, as provas poderão ser agrupadas da seguinte forma:
Testes de Inteligência Geral. Avaliam as capacidades do indivíduo para adquirir e assimilar novos
conhecimentos.
Os raciocínios numéricos (RN), verbal (RV), espacial (RS) e mecânico (RM) são
frequentemente avaliados num processo de orientação escolar ou vocacional, habitualmente
através dos testes da BPRD de Leandro de Almeida;
N
WG
F6 5 A
4 6
K L
6
E 5 1 P
1
2
Z3 3I
2 4
C 3 T
2 6
D 4 5 V
6
R 5 X
O S
B
APTIDÕES
a visão cromática
a visão estereoscópica
as forias
o campo visual
a resistência ao deslumbramento
o índice de tremura
a inteligência geral
FATORES PSICOSSOCIAIS
Os fatores psicossociais prendiam-se com a avaliação das atitudes face à segurança rodoviária, a
motivação para a condução, a personalidade, nomeadamente a estabilidade emocional, a
responsabilidade, a capacidade de decisão, a capacidade de resistência à frustração e as manifestações
psicopatológicas.
condução da categoria D, obrigando à entrega de um relatório de avaliação psicológica, sempre que seja
solicitado pela entidade de saúde competente.
Em 2009 a Lei 87/2009 introduz a noção de CAMP (Centro de Avaliação Médica e Psicológica) e o
posterior Decreto-Lei 313/2009 gerou um conjunto de alterações à avaliação médica e psicológica dos
condutores, que entrou em vigor no dia 25 de janeiro de 2010. Este documento fixou os requisitos
mínimos de aptidão física, mental e psicológica dos condutores para o exercício da condução, o modo de
comprovação da mesma e as situações a que a avaliação psicológica deveria ser estendida.
A partir desta altura os condutores ou candidatos a condutores da categoria D deixam de ser os únicos
obrigados a fazer prova de avaliação psicológica, passando a ser um requisito para todas as situações
englobadas no Grupo 2 de acordo com a classificação dos condutores já proposta em 1998, tal como se
apresenta nos parágrafos seguintes.
GRUPO 1
No Grupo 1 estão incluídos os candidatos a condutores ou condutores dos veículos das categorias A, B
e B+E, das suas subcategorias A1 e B1 e de ciclomotores, motociclos de cilindrada não superior a 50
cm3 e veículos agrícolas, com exceção dos motocultivadores.
GRUPO 2
O Grupo 2 inclui candidatos ou condutores a condutores dos veículos das categorias C, C+E, D e D+E,
bem como das subcategorias C1, C1+E, D1 e D1+E. Para além destas situações, ainda são
classificados neste Grupo os indivíduos que exerçam a condução de ambulâncias, de veículos de
bombeiros, de transportes de doentes, de transporte escolar, de automóveis ligeiros de passageiros de
aluguer (táxi) e de transporte de VIP’s.
O Decreto-Lei 313/2009 preconizou alterações também ao nível das provas que devem ser realizadas
para uma situação de obtenção do título de carta de condução de veículos pesados e para a situação de
renovação desses títulos. A mesma diferenciação é feita em relação aos averbamentos de Grupo 2 para
condutores que possuem apenas a categoria B mas que são classificados de Grupo 2 pela profissão que
desempenham (motoristas de táxi, de veículos prioritários, de carros de aluguer, de transporte de VIP’s
ou de transporte coletivo de crianças).
A legislação apresentava dois quadros com as dimensões que deveriam ser avaliadas para cada uma
das situações (obtenção e renovação), tal como se pode verificar nos quadros seguintes:
QUADRO 1 (Obtenção)
Memória
Psicomotora Motricidade
Segurança Gestual
Destreza Manual
Coordenação
Bimanual
Óculo-manual-pedal
Reações
Simples e de escolha
Múltiplas e discriminativas
Capacidade multitarefa
QUADRO 2 (Renovação)
Psicomotora Coordenação
Óculo-manual-pedal
Reações
Simples e de escolha
No capítulo seguinte deste manual, as aptidões e competências listadas nos quadros anteriores, serão
definidas de acordo com a atual legislação que regulamenta a habilitação legal para a condução.
Simultaneamente, serão mencionados alguns instrumentos que podem ser utilizados para avaliar cada
uma das dimensões descritas.
O exame psicológico, de acordo com aquela legislação, deveria ser realizado pelo IMT ou por um CAMP
(Centro de Avaliação Médica e Psicológica). Até publicação do documento que regulamentasse a
atuação dos CAMP, a avaliação psicológica foi realizada por Psicólogos membros efetivos da Ordem dos
Psicólogos ou que se encontre em estágio profissional com vista à inscrição na Ordem. Cabia a este
Técnico a aplicação das provas (que poderia ser feita por outra pessoa qualificada para este fim), a
realização da entrevista individual, a atribuição do parecer e a elaboração do relatório. O relatório final
tinha de conter a assinatura do Psicólogo, sendo-lhe atribuída total responsabilidade pelo parecer final
da avaliação.
A proposta inicial do Decreto-Lei avançou com a ideia de que a Direção do Centro seria da
responsabilidade de um Médico ou de um Psicólogo, devendo estes integrar a equipa de avaliação do
Centro. Poderia, ainda, existir um Operador para a aplicação das provas psicológicas e um Médico
Oftalmologista para proceder à avaliação desta dimensão médica.
Segundo o Dec-Lei 313/2009, os procedimentos que um condutor incluído no Grupo 2 deveria seguir
eram os seguintes:
Consulta com o médico assistente que poderia anteceder ou não a avaliação psicológica
Consulta com o médico Delegado de Saúde da zona de residência que só acontecia depois
dos dois passos anteriores
Pedido ao IMT da emissão da carta (se for renovação ou averbamento de uma situação do
Grupo 2 que já se verifique)
Realização da carta de condução ou respetivo curso (se for uma situação de obtenção de
carta ou de averbamento do Grupo 2)
No dia 5 de julho de 2012 foi publicado um novo Decreto-Lei, 138/2012, sobre a Habilitação Legal para a
Condução que introduziu alterações globais em todas as dimensões da condução, nomeadamente no
que concerne à avaliação psicológica dos condutores. Por um lado, abandona a ideia de CAMP, sendo
que a Avaliação Psicológica passou a ser realizada por qualquer Psicólogo membro efetivo da Ordem no
exercício da sua profissão (Artigo 25º, número 2), salvo as situações que serão indicadas para o IMT ou
Entidades designadas pelo IMT e reconhecidas pela Ordem dos Psicólogos (Artigo 25º, número 3).
Estimação do Movimento
Resistência Vigilante à Monotonia
Psicomotora Coordenação Bimanual
Segurança gestual
Reações Simples e de Escolha
Destreza Manual
Reações Múltiplas e Discriminativas Capacidade Multitarefa
Dimensões Complementares
Áreas Dimensões Obrigatórias
São, ainda, definidos requisitos mínimos para a Aptidão Psicológica e que variam de acordo com:
Ser c ondutor do Grupo 2 (ter resultados superiores ao percentil 20 na maioria dos fatores e
variáveis)
Ser c ondutor do Grupo 1 (ter resultados superiores ao percentil 16 na maioria dos fatores e
variáveis)
De acordo com esta mesma legislação estão publicados nos sites do IMT os modelos de relatório de
avaliação psicológica ou certificado de avaliação psicológica (documentos que até então eram definidos
pelo próprio Psicólogo de acordo com a diretiva de maio de 2010) e da Direção-Geral de Saúde os
modelos de relatório e atestado médico (até então modelos 921 e 922).
No dia 5 de julho de 2014 foi publicado um novo Decreto-Lei, 37/2014, sobre a Habilitação Legal para a
Condução que introduziu algumas alterações em dimensões da condução, concretamente no que
concerne à avaliação psicológica dos condutores. Neste domínio, esta nova diretiva legislativa apenas
clarifica a ação dos Psicólogos numa situação de emissão de um parecer de Inaptidão de um Candidato
a Condutor ou de um Condutor, independentemente destes se inserirem no Grupo 1 ou 2.
Resumidamente, o Psicólogo que emita um parecer de Inapto deverá comunicar essa decisão ao IMT de
forma sustentada e confidencial, anexando cópia do Relatório de Avaliação Psicológica e do respetivo
Certificado. Estes condutores ou candidatos a condutores só poderão ser submetidos novamente a
avaliação 6 meses depois, ficando impedidos de conduzir até ser considerado Apto, ainda que a sua
carta possa estar válida.
A Avaliação Psicológica de Condutores é uma área da Psicologia que conta já com alguns anos, ainda
que durante muito tempo a sua aplicação se tivesse cingido ao Contexto Militar. Por isto, a investigação
é bastante parca, começando atualmente a encontrar maior interesse pelos teóricos e investigadores.
Mais uma vez salientamos que tudo o que é mencionado neste capítulo, nomeadamente as dimensões a
avaliar e o relatório, está conforme o Decreto-Lei 313/2009, não contemplando, ainda, as alterações que
serão esclarecidas aquando da entrada em vigor do Decreto-Lei 138/2012 e mais recentemente do
Decreto-Lei 37/2014.
A Avaliação Psicológica de Condutores tem como principal objetivo avaliar, num indivíduo, a existência
ou não de potenciais fatores de risco para a segurança rodoviária. Para isso, o Psicólogo que trabalha
nesta área necessita de possuir um amplo conhecimento sobre:
Para realizar o seu trabalho, o Psicólogo encontra na legislação correspondente informação orientadora
em relação aos fatores a avaliar, bem como à estrutura que o relatório deve ter; contudo em relação à
sequência dos vários momentos que constituem um processo desta natureza verifica-se uma certa
flexibilidade, que exige, ao mesmo tempo, bom senso e sensibilidade para o tema por parte do Técnico
responsável.
O modelo que se apresenta a seguir é um mero exemplo de como se poderá realizar uma Avaliação
Psicológica de Condutores, podendo ser adaptado em conformidade com as orientações do Técnico e
do próprio Laboratório de Psicologia.
A marcação da avaliação pode ser executada por qualquer pessoa que trabalhe no Laboratório. No
entanto, poderá ser útil esta pessoa estar informada sobre algumas particularidades da avaliação para
preceder a uma marcação adequada. Um dos fatores que deve ser contemplado aquando da marcação
da avaliação é o objetivo da mesma, ou seja, se é para obtenção ou para renovação. Este aspeto
influencia o tempo de realização da mesma dada a diferença entre o número de provas realizadas.
Poderá ser útil existir uma ficha de candidato que sintetize toda a informação sobre o condutor e que
deve ser mantida em arquivo pelo Laboratório por um período de 2 (dois) anos juntamente com original
do relatório. Esta ficha deve contemplar toda a informação identificativa do candidato, da avaliação e
poderá ser neste espaço que o Psicólogo regista a informação resultante da entrevista. Em anexo a este
manual é apresentada uma ficha modelo utilizada por um dos laboratórios que atua nesta área da
Psicologia.
Habitualmente, a avaliação em termos operacionais começa com a aplicação da bateria de provas que o
Psicólogo deve selecionar previamente de acordo com o objetivo da avaliação. A aplicação dos testes
poderá ser realizada por outra pessoa que não o Psicólogo, porém deve ser alguém com conhecimento
sobre a Avaliação Psicológica de Condutores e, especialmente, com um grande à-vontade na explicação
das instruções de cada teste.
Após a realização das provas o Psicólogo procede à análise dos resultados e poderá fazê-lo antes da
entrevista individual. Esta sequência de procedimentos revela-se vantajosa na medida em que poderão
existir resultados que devem ser esclarecidos com informação adicional a recolher na entrevista.
A entrevista individual, à semelhança do que acontece noutros domínios da Psicologia, assume uma
notória importância pois é o momento em que o Psicólogo tem oportunidade para investigar outras
informações sobre a vida do candidato. Este tema será aprofundado mais à frente neste manual.
Por fim, é emitido o Certificado de Avaliação Psicológica cujo original autenticado com a vinheta do
Psicólogo é entregue ao candidato ou condutor.
As dimensões que têm de ser avaliadas pelo Psicólogo quando se depara com um processo de
avaliação de um condutor que se inclua no Grupo 2 de acordo com o Decreto-Lei em vigor (138/2012)
agrupam-se em três grandes áreas e cobrem os vários domínios da realidade psicológica de um
indivíduo.
a. Área Percetivo-Cognitiva
Neste domínio estão incluídas 3 dimensões obrigatórias e 2 complementares, nomeadamente:
b. Área Psicomotora
No que concerne ao domínio instrumental ou psicomotor, devem ser avaliadas as seguintes dimensões:
c. Fatores de Personalidade
Despiste Psicopatológico - Perturbações do foro psíquico que possam implicar riscos face à
segurança no tráfego
3.3. Instrumentos
Atualmente existem outras metodologias para avaliar as aptidões consideradas relevantes para a
condução e em Portugal é possível encontrar em franco desenvolvimento dois sistemas mais
conhecidos:
. VTS
BAPCON
De qualquer modo, a formação da qual este manual é objeto não incide sobre nenhum destes sistemas
em particular, pelo que a especificação e aprofundamento sobre os mesmos deverão ser obtidos junto
das empresas responsáveis pela comercialização de cada sistema de testes.
Tal como já foi referido anteriormente, a Entrevista Individual num processo de avaliação psicológica de
condutores deverá acontecer depois do cliente/condutor ter realizado todas as provas, uma vez que a
entrevista poderá ajudar a clarificar alguns resultados obtidos nos testes. Esta entrevista tende a ser,
fundamentalmente, semi-estruturada na medida em que as perguntas formuladas pelo Psicólogo visam
responder a um conjunto de questões que serão, mais tarde, mencionadas no relatório final e apelam,
maioritariamente, para respostas fechadas.
O objetivo final da entrevista com um condutor consiste na identificação ou não dos fatores que possam
colocar em risco o próprio ou a segurança de terceiros. O modelo e a estruturada poderão ser definidos
pelo Psicólogo de acordo com o seu estilo profissional, mas terá sempre de recolher a seguinte
informação:
História de condutor, desde a obtenção dos títulos de que é detentor, acidentes rodoviários e
infrações ao Código da Estrada
História da saúde do condutor, com incidência na medicação que possa comprometer as suas
capacidades psicológicas na condução (meramente informativo)
Auto-descrição das características pessoais que se revelem uma mais valia ou uma limitação
para a condução.
Apesar da alteração e padronização proposta pelo Dec-Lei 138/2012 quanto aos documentos para
registo de toda a avaliação, será feita referência sobre a anterior estrutura do relatório de Avaliação
Psicológica de Condutores que contemplavam um conjunto de critérios e informações determinados pelo
IMT através de uma diretiva publicada a 12 de maio de 2010 para que se compreenda a evolução neste
domínio. Para que o relatório fosse aceite pelo IMT, o Psicólogo deveria garantir a inclusão dos
seguintes dados:
LABORATÓRIO
Identificação
Endereço
Nome
Assinatura
IDENTIFICAÇÃO DO AVALIADO
Nome
Naturalidade
Data de nascimento
NIF
Número de título de condução e categorias de que seja detentor, ou categorias a que se candidata
ESPECIFICAÇÃO DA AVALIAÇÃO
Data do exame
Identificação dos instrumentos e testes usados relativamente a cada uma das aptidões e
competências avaliadas
Breve resumo do exame, com indicação dos resultados parciais das diferentes áreas
Exemplo de uma grelha de aptidões a incluir no relatório (até 2 de novembro de 2012 e que se manteve
depois da entrada em vigor da Decreto-Lei 37/2014)
ATENÇÃO VIGILANTE Capacidade em manter um estado de alerta tónico (vigília) durante bastante
tempo no sentido de responder prontamente a estímulos infrequentes que
surgem englobados num conjunto de estímulos que têm que ser
negligenciados
ATENÇÃO DISTRIBUÍDA E SELETIVA Capacidade para dispersar a atenção em diferentes campos, apelando à
mudança rápida do fócus da visão e à memória selectiva das várias fontes
de informação.
REAÇÕES COMPLEXAS E MÚLTIPLAS Capacidade de resposta a estímulos visuais ou acústicos relevantes num
conjunto mais amplo de estímulos, que contempla distratores e apelam à
capacidade de reação e controlo do stress.
Exemplo de uma grelha de aptidões a incluir no relatório (depois de 2 de novembro de 2012 e que se
manteve depois da entrada em vigor da Decreto-Lei 37/2014)
a. Emissão de Parecer
De acordo com as indicações do IMT, e até novembro de 2012, os pareceres consistiam em “Aprovado”
ou “Reprovado”, mas após a entrada em vigor do Decreto-Lei 138/2012 passou a ser “Apto” ou “Inapto”
de acordo com os critérios definidos pelo mesmo Decreto-Lei e devem ter por base as escalas propostas
pelos próprios instrumentos utilizados na avaliação das aptidões. Alguns Sistemas de Testes propõem o
tratamento dos resultados de acordo com uma escala percentílica e com intervalos de resultados (por
exemplo, Inferior, Médio Inferior, Médio, Médio Superior e Superior) outros consideram apenas grupos de
resultados que poderão ser 5 (1 a 5) ou 7 (1 a 7) de acordo com a concetualização teórica das provas.
É possível, ainda, incluir um terceiro parecer, o de “Aprovado com Restrições” ou “Apto Com Restrições”,
em função de restrições ou adaptações à condução que possam ser consideradas pelo Psicólogo. Para
isso é importante que este conheça a tabela que regulamenta este tema, apesar de que a decisão final
caberá à Entidade Médica competente e que atribuirá o parecer final ao pedido do condutor.
Bibliografia
Para um aprofundamento dos temas abordados neste documento, recomenda-se a consulta e leitura da
seguinte bibliografia: