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MANUAL DE FORMAÇÃO SOBRE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE

CONDUTORES

Paula Rocha
Psicóloga
paula.a.rocha@sapo.pt
Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

Introdução...................................................................................................................................................3
I. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA - BREVES CONSIDERAÇÕES.............................................................................5
1.1. Objetivos..........................................................................................................................................5
1.2. Procedimentos.................................................................................................................................7
1.3. Instrumentos..................................................................................................................................10
II. HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CONDUTORES...................................................................13
2.1. Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir..........................................................................13
a. Classificação dos Condutores.........................................................................................................15
2.2. Exames Psicológicos.......................................................................................................................16
2.3. Competência para a Realização dos Exames Psicológicos de acordo com o Dec-Lei 313/2009......18
2.4. O Decreto-Lei 138/2012 – Que alterações preconizou?.................................................................19
2.5. O Decreto-Lei 37/2014 – Que alterações preconizou?...................................................................20
III. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CONDUTORES........................................................................................21
3.1. Conceito e Princípios Orientadores................................................................................................21
3.2. Dimensões a Avaliar.......................................................................................................................23
a. Área Percetivo-Cognitiva...............................................................................................................23
b. Área Psicomotora..........................................................................................................................23
c. Fatores de Personalidade...............................................................................................................24
3.3. Instrumentos..................................................................................................................................24
3.4. Entrevista Individual.......................................................................................................................26
3.5. Relatório Final................................................................................................................................27
a. Emissão de Parecer........................................................................................................................30
Bibliografia................................................................................................................................................31

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

Introdução

O presente manual é uma ferramenta que foi concebida para apoiar e orientar Psicólogos ou Finalista do
Mestrado em Psicologia que desenvolvam ou pretendam desenvolver a atividade de Avaliação
Psicológica de Condutores, fornecendo informação útil ao leitor na sua prática diária.

Grande parte da informação contida neste manual resulta da aplicação do Decreto-Lei 138/2012, bem
como do Decreto-Lei 37/2014 (introduz ligeiras alterações ao anterior), mas o Psicólogo que pretenda
exercer esta atividade deverá ter conhecimento sobre o Decreto-Lei 313/2009 por ter sido dos primeiros
a entrar em vigor e a introduzir grandes alterações na avaliação dos condutores. A 2 de novembro de
2012 entrou em vigor o Dec-Lei 138/2012, o que trouxe alterações significativas, especialmente nas
dimensões a avaliar, nos critérios de Aptidão/Inaptidão e no Relatório / Certificado de Avaliação
Psicológica.

O principal objetivo desta ação prende-se com a necessidade de sensibilizar os Psicólogos para a
importância da Avaliação Psicológica de Condutores, transmitindo-lhes os conceitos e os princípios
básicos fundamentais que lhes permitam implementar todas as fases do processo avaliativo. Para isso,
recorrer-se-á à metodologia expositiva para apresentação teórica dos conceitos em questão e ativa com
a realização de trabalhos de aplicação, individuais ou de grupo, e simulações ajustadas ao grupo e à sua
realidade profissional.

No final da ação os participantes deverão ser capazes de:


 Conhecer os conceitos básicos sobre Avaliação Psicológica;
 Conhecer os conceitos relevantes sobre a Habilitação Legal para Conduzir;
 Conhecer a história da evolução da Avaliação Psicológica de Condutores em Portugal;
 Conhecer a legislação que sustenta a Avaliação Psicológica no âmbito da Habilitação Legal da
Condução, não só a vigente Decreto-Lei 27/2014 (complementa o Decreto-Lei 138/2012), bem
como o Decreto-Lei 313/2009;
 Conhecer alguns instrumentos e provas utilizados na Avaliação Psicológica de Condutores;
 Aprender a analisar e a interpretar os resultados obtidos da aplicação de alguns instrumentos
utilizados nesta área;
 Conhecer as restrições e os pareceres a atribuir a cada Avaliação;
 Conhecer os documentos necessários para registar uma Avaliação Psicológica;
 Aprender a elaborar o Relatório Final da Avaliação Psicológica;
 Aprender a preencher o Certificado de Avaliação Psicológica.

O curso terá a duração de 21 horas divididas por 4 dias, respeitando a sequência do programa:

 Conceitos gerais sobre Avaliação Psicológica – Princípios, objetivos e procedimentos


 Conceitos sobre Habilitação Legal para Conduzir

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 Avaliação Psicológica de Condutores


 Princípios orientadores e particularidades da Psicologia do Tráfego
 Enquadramento legal: Decretos-Lei 313/2009, 138/2012 e 37/2014
 Dimensões psicológicas a avaliar
 Alguns instrumentos de Avaliação Psicológica de Condutores
 Análise e Interpretação dos Resultados
 Conhecer a informação contida no relatório de cada teste
 Compreender o significado das variáveis de teste
 Interpretar o resultado à luz da Legislação vigente
 Entrevista Individual
 Identificar os parâmetros e as dimensões a avaliar
 Conhecer o guião de entrevista individual
 Emissão do parecer final
 Conhecer as restrições acessórias
 Elaboração do Relatório Final e do Certificado de Avaliação Psicológica

O manual está estruturado de acordo com a maior parte destes pontos, com excepção dos assinalados a
cinzento por serem assuntos concretos e da responsabilidade das entidades representantes em Portugal
dos instrumentos. Foram tidos, ainda, em consideração os objetivos específicos definidos, à partida, para
a presente ação. Em primeiro lugar é feita uma abordagem genérica sobre a avaliação psicológica
preconizada noutros contextos e nos dois capítulos seguintes estas noções são transpostas para um
campo muito específico, o da Psicologia do Tráfego.

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I. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA - BREVES CONSIDERAÇÕES

A primeira secção deste manual aborda, em sentido lato, as particularidades da avaliação psicológica
nos vários contextos em que se pratica. Antes de detalhar as exigências inerentes à legislação que
obriga os condutores de veículos automóveis de determinadas categorias a serem submetidos a um
rigoroso processo de avaliação cognitiva, psicomotora e psicossocial, é relevante explanar o domínio da
Psicologia que se ocupa da identificação das competências e caraterísticas pessoais dos indivíduos.

Atualmente, e cada vez mais, a avaliação psicológica assume um notório destaque no dia-a-dia laboral
dos profissionais da Psicologia, trabalhem eles no contexto organizacional, escolar, clínico, do tráfego ou
outros. Esta área da Psicologia permite compreender diferentes dimensões psicológicas de uma pessoa,
sem que isso exija demasiado tempo ou implique um acompanhamento prolongado.

1.1. Objetivos

Os objetivos que se definem para qualquer processo de avaliação psicológica devem, em primeira
análise, procurar responder às questões de base que se colocam no início do processo, estando estas
intimamente relacionadas com o contexto em que a avaliação se desenrola.

Estes momentos iniciais de um processo de intervenção psicológica assumem um papel muito


importante para o desenrolar da avaliação na medida em que vão condicionar a escolha dos
instrumentos a utilizar, o planeamento das várias etapas do processo, bem como os intervenientes a
consultar em cada momento.

Vejamos exemplos de algumas vertentes da intervenção psicológica em que a avaliação assume um


papel importante mas cujos objetivos podem diferir e, consequentemente, condicionar o desenrolar do
processo.

ORGANIZACIONAL

No contexto organizacional a avaliação psicológica foi utilizada, durante muitos anos, fundamentalmente
com vista à seleção dos indivíduos para o exercício de uma determinada função. Atualmente, este
propósito para a utilização da avaliação psicológica ainda se mantém mas tem sido possível estender a
avaliação psicológica para outros propósitos.

 Na seleção de pessoal aplica-se um conjunto de instrumentos e técnicas que avaliam os


requisitos aptitudinais e de personalidade, bem como os conhecimentos e experiência
relevantes para o cargo em análise. Neste caso procura-se um perfil de aptidões e
competências que esclareça relativamente à probabilidade de adaptação de cada candidato
à função;

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 Num processo de mobilidade interna ou de recolocação os objetivos são semelhantes aos


anteriores, pois pretende-se decidir se o indivíduo reúne as competências necessárias para
o exercício do novo cargo. Acresce a estes objetivos a avaliação dos interesses e motivação
dos colaboradores que deverão estar em conformidade com os objetivos da Organização;

 Nos processos de Coaching a avaliação psicológica pode incidir na identificação dos pontos
fortes e nas necessidades de desenvolvimento de uma pessoa para que possa ser definido
um plano de intervenção adequado ao indivíduo e que o ajude a evoluir nos aspetos que se
revelam comprometedores do seu desempenho.

Em qualquer um dos casos, é habitual aplicarem-se testes psicotécnicos que meçam, de uma forma
objetiva, as dimensões consideradas relevantes para o desempenho das tarefas de um dado cargo ou
posto de trabalho, procurando-se encontrar o perfil do indivíduo para ser confrontado com o que é
previamente definido para a função.

CLÍNICA

A avaliação num enquadramento clínico reveste-se de um conjunto de particularidades ainda maior, uma
vez que as ações desencadeadas deverão estar relacionadas com o tipo de queixa ou pedido que é
dirigido ao Psicólogo. A avaliação começa, habitualmente, com a realização de entrevistas com os
diversos intervenientes do processo, com o próprio e com outras figuras que se assumam relevantes
para a compreensão geral da problemática do cliente.

O desenrolar de um processo avaliativo neste âmbito depende, muitas vezes, do quadro teórico que rege
a forma de atuação do Psicólogo. Por exemplo, o objetivo da avaliação poderá concentrar-se em
identificar os fatores que se relacionam com o problema e que permitirão a definição da estratégia de
intervenção com o cliente (Modelo Cognitivo-Comportamental):

 fatores predisponentes (estão na origem do problema e aumentam a predisposição da


pessoa para o problema);

 fator desencadeador (o que originou o problema);

 fatores de manutenção (situações ou ganhos que possam justificar a manutenção do


problema);

 fatores protetores (recursos que o cliente possui para fazer face ao problema).

ESCOLAR

Também no contexto escolar a avaliação psicológica é utilizada pelo Psicólogo no desenvolvimento da


sua atividade, podendo cumprir com dois grandes objetivos:

 para a compreensão das capacidades intelectuais e académicas de um aluno o Psicólogo


pode ser chamado a intervir com o propósito de traçar um perfil de aptidões escolares que

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facilitam a compreensão do percurso escolar do aluno, habitualmente associado ao


insucesso. Neste caso, a avaliação psicológica pode-se cruzar e complementar com o
trabalho que é realizado no âmbito da intervenção clínica;

 na orientação escolar ou vocacional, habitualmente, são os alunos ou as suas famílias que


procuram ajuda e orientação no processo de tomada de decisão sobre o percurso escolar
que mais se adequa às capacidades, motivações, interesses e características pessoais do
aluno. De notar que a vertente da orientação vocacional começa a ter expressão junto de
outro público e que não se insere no contexto escolar, por exemplo, com pessoas
desempregadas ou que não estão satisfeitas com o percurso profissional que veicularam e
procuram reorientar as suas carreiras para áreas que se coadunem melhor com os seus
planos para o futuro.

TRÁFEGO

A Psicologia do Tráfego é uma área que recorre, igualmente, à avaliação psicológica enquanto meio
para identificar ou não num indivíduo potenciais fatores de risco para a segurança rodoviária,
independentemente do contexto em que se desenrole:

 no plano da seleção para um cargo de motorista o Psicólogo desenvolve o processo à


semelhança do que já foi descrito anteriormente, sendo que neste caso a função é bastante
exigente do ponto de vista instrumental, sendo de esperar uma grande incidência em
técnicas e instrumentos que forneçam informação psicomotora;

 para a obtenção ou renovação de um título de condução a avaliação psicológica é


semelhante à anterior, apesar da atuação do Psicólogo ser regida pela legislação que
regulamenta esta matéria, tal como veremos nos capítulos seguintes.

1.2. Procedimentos

Os processos de avaliação psicológica contemplam, habitualmente, quatro momentos, ainda que a sua
sequência possa variar de acordo com o âmbito em que se insere:

 aplicação de baterias de provas – psicometria

 análise dos resultados obtidos nas provas realizadas

 realização de entrevistas com os interlocutores implicados no processo

 elaboração do relatório de avaliação psicológica.

Existem, ainda, outras fases que podem ser registadas em situações específicas, por exemplo um
processo de avaliação psicológica com vista à Seleção de Pessoal começa, habitualmente, pela análise
curricular, ao passo que num processo Clínico a avaliação começa pela entrevista anamnésica (ao

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próprio se o cliente for adulto ou às figuras cuidadoras/pais se o cliente uma for criança ou um jovem) e
termina com uma entrevista de devolução dos resultados.

Esta última entrevista também se verifica no domínio da Orientação Escolar e Vocacional mas na
Psicologia do Tráfego o relatório pode ser entregue em mão ou enviado via postal, pelo que a
informação sobre o parecer final pode ser dado no final da entrevista (caso seja positivo) ou comunicado
diretamente ao cliente/condutor (caso seja negativo).

APLICAÇÃO DE PROVAS OU PSICOMETRIA

Uma das decisões mais importantes que o Psicólogo tem de tomar quando realiza uma avaliação
psicológica prende-se com a bateria de provas e de testes a aplicar. A escolha nem sempre é fácil e
exige da parte do Psicólogo um amplo conhecimento sobre os instrumentos que existem para avaliar a
dimensão em questão, inclusive sobre a população para a qual as provas estão aferidas. O domínio dos
instrumentos é, igualmente, fundamental para garantir a fiabilidade dos resultados, uma vez que o
Psicólogo ou o Aplicador devem conhecer minimamente a natureza das provas, a sua complexidade e
todas as regras inerentes à aplicação (instruções a dar, tempo de realização dos exemplos e das
próprias provas).

No caso de a avaliação estar integrada no contexto da S eleção de Pessoal a escolha das provas
depende diretamente do perfil de requisitos definido para a função em análise e que é estabelecido no
início do processo. Por exemplo, se for um cargo de mecânica um dos testes a aplicar deverá avaliar
aptidão ou raciocínio mecânica, mas se for uma função administrativa justifica-se avaliar aptidões
administrativas e que contemplem concentração, verificação de dados, entre outras dimensões.

No domínio da intervenção C línica o Psicólogo decide sobre as provas a aplicar depois de analisar
cuidadosamente toda a informação recolhida nas entrevistas com os devidos interlocutores. Nesta altura
já deverá ter identificado a potencial problemática que o cliente apresenta e que será confirmada ou não
pelos resultados dos instrumentos de avaliação psicológica. Neste âmbito a decisão é ainda mais
complexa porque tem que ter em consideração, necessariamente, a idade do cliente, especialmente
quando este se encontra numa fase de transição, por exemplo de criança para adolescente ou de
adolescente para adulto.

Quanto à Orientação Escolar ou Vocacional a escolha assume-se menos complexa dado que as
dimensões a avaliar estão habitualmente definidas e passam pela componente cognitiva para conhecer
as aptidões fortes e fracas do cliente, pelo domínio dos interesses e motivações e, em certos casos,
complementa-se com a avaliação das características da personalidade do cliente para compreender a
sua adequação às várias atividades. É certo que existem várias provas para medir as mesmas
dimensões mas é possível identificar rapidamente a melhor solução para o cliente em questão.

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No contexto da P sicologia do Tráfego as dimensões a avaliar estão definidas por meio de um Decreto-
Lei, sendo necessário apenas distinguir o tipo de candidatos, obtenção de um título do Grupo 2,
condutores do Grupo 2 que visam a renovação do título, condutores do Grupo 1 que solicitam o
averbamento do Grupo 2 na carta ou condutores do Grupo 1 indicados pela Técnico de Saúde
(habitualmente com mais de 70 anos de idade). É possível encontrar alguma variedade de sistemas de
testes, mas, ainda assim, o leque de opções existentes é mais reduzido por serem instrumentos muito
focados no desempenho psicomotor do condutor e que não pode ser obtido exclusivamente através de
testes de papel e lápis.

ENTREVISTA

A entrevista é um dos momentos mais ricos de qualquer processo de avaliação psicológica uma vez que
permite recolher dados e informações que vão complementar e/ou esclarecer os resultados obtidos nas
provas psicológicas. As entrevistas podem ser mais ou menos estruturadas na medida em que o
Psicólogo poderá direcionar a conversa com os interlocutores colocando questões fechadas ou, por
outro lado, as perguntas podem ser abertas para que o outro possa desenvolver os assuntos de uma
forma pouco orientada.

À semelhança do que já foi referido anteriormente, o contexto e os objetivos da avaliação ditam a forma
como as entrevistas são realizadas e conduzidas. Uma entrevista realizada no âmbito da Seleção de
Pessoal poderá obedecer a um guião que orienta o Psicólogo no processo de recolha de informação
sobre a experiência profissional do candidato, habilitações escolares, motivações e auto-imagem.
Dependendo dos requisitos da função poderão ser incluídas outras questões que conduzam à obtenção
de dados relevantes para o processo avaliativo.

No domínio da C línica é importante diferenciar a intervenção junto de crianças/adolescentes ou de


adultos e, acima de tudo, é necessário compreender o modelo teórico seguido pelo Psicólogo. Dado que
este domínio se afasta do objetivo da presente ação, será dado um pequeno exemplo sobre o caso de
uma criança. Nesta situação o pedido é feito, habitualmente, pela família (pais) ou pela escola pelo que a
entrevista a estes intervenientes é fundamental para realizar a anamnese da história de vida da criança,
para compreender os antecedentes e os fatores que terão precipitado o problema.

Na O rientação Escolar ou Vocacional o Psicólogo procura identificar as temáticas escolares com que o
indivíduo se identifica mais, assim como as suas áreas de interesse. Estas entrevistas têm, também, o
objetivo de esclarecer e informar o outro sobre as várias alternativas de que dispõe para que possa
tomar uma decisão adequada à sua motivação e personalidade.

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No caso da Psicologia do Tráfego o objetivo associado à entrevista prende-se com a recolha de


indicadores que permitam inferir sobre a conduta do condutor ou candidato a condutor, especialmente
em relação à segurança rodoviária. Este tema será abordado e desenvolvido mais à frente, incluindo-se
um género de guião que facilita a recolha de informação e a sua análise antes da emissão de um
parecer final.

1.3. Instrumentos

Na sequência do que foi referido anteriormente, compreende-se que a variedade de provas psicológicas
é enorme, não só em função das aptidões ou competências que avaliam, mas também pela forma como
se apresentam. É possível encontrar testes em suporte de papel e lápis que avaliam o mesmo que
outras provas e que podem ser realizadas informaticamente. É o caso das Matrizes Progressivas de
Raven que podem ser realizadas em papel ou em computador.

Quanto às dimensões que avaliam, as provas poderão ser agrupadas da seguinte forma:

 Testes de Inteligência Geral. Avaliam as capacidades do indivíduo para adquirir e assimilar novos
conhecimentos.

 Se estivermos no campo da seleção pode-se recorrer ao D-70 ou outras provas semelhantes


que avaliem o raciocínio geral (D-48);

 No contexto da clínica é usual utilizar-se a WISC ou as Matrizes de Raven quando se


trabalha com crianças e adolescentes entre os 6 e os 16 anos mas para adultos utiliza-se a
WAIS;

 Na orientação escolar é habitual recorrer-se ao sub-teste de raciocínio abstrato da Bateria de


Provas de Raciocínio Diferencial de Leandro de Almeida (BPRD);

 Na Psicologia do Tráfego é frequente proceder à aplicação das Matrizes Progressivas de


Raven, mas poderão ser utilizadas outras provas que apresentem normas adequadas á
população em questão.

D-48 (EDIPSICO) Matrizes Progressivas de Raven


(Coloridas)

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 Teste de Aptidões Específicas. Avaliam capacidades específicas, sejam elas de raciocínio, de


memória, de concentração ou mesmo psicomotoras.

 A avaliação do raciocínio numérico e verbal é habitual quando de realizam processos de


seleção para quadros técnicos Exemplo destas provas são alguns instrumentos da SHL,
nomeadamente o VC1 e NC2 da CRTB (Critical Reasoning Tests Battery). Em contrapartida,
para funções de cariz prático poderão ser avaliadas aptidões mecânicas (Macquarrie da
EDIPSICO) ou de conhecimentos de eletricidade. Também a memória visual ou auditiva
(MENVIS, MAVO), a concentração (Toulouse Pierron), a coordenação bimanual (2HAND da
VTS – Infoteste), entre outras, são aptidões igualmente avaliadas em processos de seleção;

 Na clínica e com crianças é frequente avaliar dificuldades de leitura/escrita (DILE, PADD),


organização percetiva (Figura Complexa de Rey), memória, entre outras dimensões de
acordo com a problemática apresentada;

 Os raciocínios numéricos (RN), verbal (RV), espacial (RS) e mecânico (RM) são
frequentemente avaliados num processo de orientação escolar ou vocacional, habitualmente
através dos testes da BPRD de Leandro de Almeida;

 Finalmente, na Psicologia do Tráfego avaliam-se aptidões como a concentração, a atenção,


a reação a estímulos simples ou complexos, a coordenação bimanual, segurança gestual,
destreza manual, entre outras. Os sistemas de testes da INFOTESTE – VTS e da EDIPSICO
– BAPCON são os mais conhecidos neste domínio de atuação. Mais à frente neste manual
será dedicado algum tempo à abordagem destes sistemas, ainda que de forma pouco
específica.

Teste de Segurança Testes de Aptidões Mecânicas ( EDIPSICO) Teste de


Gestual
Concentração (TP)
(VTS – INFOTESTE)

 Teste de Personalidade. Avaliam traços ou características da personalidade. Para avaliar esta


dimensão psicológica é possível encontrar vários tipos de provas com aplicação transversal aos
diversos domínios de intervenção do Psicólogo (APP, PAPI, 16PF).

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

N
WG
F6 5 A
4 6
K L
6
E 5 1 P
1
2
Z3 3I
2 4
C 3 T
2 6
D 4 5 V
6
R 5 X
O S
B

APP (Thomas PAPI


International) Teste 16PF (EDIPSICO)

 Teste de Interesses, Atitudes e Comportamentos. Avaliam outros aspetos da natureza humana


igualmente importantes para compreendermos o indivíduo como um todo.

 Em seleção é bastante usual utilizarem-se instrumentos de resposta livre para investigar


sobre os interesses e motivações dos candidatos a um posto de trabalho. Contudo,
começam a surgir baterias de provas informatizadas que incorporam várias dimensões, não
só cognitivas e personalísticas, como também de interesses (ex. PXT da Profiles
International). As atitudes e comportamentos são avaliados, por norma, através da
realização de dinâmicas de grupo em que o candidato é convidado a resolver uma dada
situação relacionada com o cargo para o qual se candidata. Atualmente, em processos de
gestão de carreiras começa a ser habitual o recurso a provas que avaliam os valores e os
interesses dos indivíduos;

 Na intervenção clínica os fatores que, tendencialmente, mais se justificam avaliar são as


atitudes e comportamentos, dependendo sempre da problemática em questão. Podemos
incluir nesta categoria provas como a Escalas de Susan Harter (Auto-estima), o CBCL (Child
Behavior Checklist de Achenbach e Edelbrock) com as versões para pais, professores e
criança/adolescente.

 A avaliação dos interesses, motivações e valores é fundamental quando se trata de um


processo de avaliação psicológica com vista à orientação escolar ou vocacional. Neste
caso recorrer-se não só a tarefas de expressão livre, bem como a instrumentos construídos
para esse fim, dos quais são exemplo o IPV (Inventário de Preferências Vocacionais), COPS
(California Ocupational Preference Scale), Escala de Valores WIS, entre outros;

 Na Psicologia do Tráfego a avaliação das atitudes em relação à segurança e os


comportamentos de riscos assume-se como bastante relevante, podendo ser preconizada
através dos instrumentos do Sistema utilizado que avaliam os fatores psicossociais, seja da
VTS (INFOTESTE) ou da BAPCON (EDIPSICO).

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II. HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CONDUTORES

Antes de abordar as particularidades da avaliação psicológica de condutores é fundamental conhecer e


compreender as principais publicações legislatórias que foram introduzindo alterações ao Código da
Estrada e que permite uma melhor compreensão da evolução dos exames psicológicos no âmbito da
condução.

2.1. Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir

A aptidão física, mental e psicológica é um requisito obrigatório para a obtenção ou renovação de


qualquer título de carta de condução fixado pelo artigo 126º do Código da Estrada. As exigências
variam de acordo com a categoria em questão, por exemplo, para obtenção ou renovação da carta de
condução de veículos ligeiros (categoria B) é suficiente uma declaração médica emitida por um médico
de clínica geral, ou pelo médico assistente. Para a condução de veículos pesados (categoria C ou D)
durante muitos anos o condutor era obrigado a consultar o Delegado de Saúde da sua área e residência,
sendo da responsabilidade desta Entidade a emissão do parecer de aptidão médica, mental e
psicológica para a condução. Contudo, e com a nova legislação, este parecer pode ser emitido por um
médico de clínica geral, ou pelo médico assistente.

O Decreto–Lei 209/1998 de 15 de julho determinou a obrigatoriedade da avaliação psicológica para a


obtenção da categoria D da responsabilidade da Direção-Geral de Viação (atual IMT) ou por um
laboratório de psicologia público ou privado. Nos exames psicológicos deviam ser validadas várias
aptidões e fatores psicossociais, sendo que as causas de reprovação estavam claramente definidas pela
legislação, tal como acontece no presente e cujos decretos-lei poderão ser consultados no site do IMT
ou nos anexos legislativos desta formação.

APTIDÕES

As aptidões visuais incluíam:

 a acuidade visual ao longe

 a visão cromática

 a visão estereoscópica

 as forias

 o campo visual

 a resistência ao deslumbramento

 a fadiga visual (acomodação)

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As aptidões psicofísicas contemplavam:

 tempos de reação a estímulos estáticos (simples a um estímulo visual ou de escolha a dois


ou três estímulos visuais diferenciados cromaticamente)

 tempos de reação a estímulos dinâmicos (simples a um estímulo visual ou de escolha a dois


ou três estímulos visuais diferenciados dinamicamente)

Nas a ptidões percetivo-motoras avaliava-se:

 o índice de tremura

 a coordenação visual-manual (tarefa de ritmo livre e tarefa de ritmo imposto)

 a coordenação visual-manual-pedal em tarefa de ritmo imposto

E, finalmente, nas aptidões de integração de informação incluía-se:

 a inteligência geral

 a atenção (difusa/vigilância e distribuída)

 a resistência a sobrecarga de processamento (integração de informação e fadiga visual)

FATORES PSICOSSOCIAIS

Os fatores psicossociais prendiam-se com a avaliação das atitudes face à segurança rodoviária, a
motivação para a condução, a personalidade, nomeadamente a estabilidade emocional, a
responsabilidade, a capacidade de decisão, a capacidade de resistência à frustração e as manifestações
psicopatológicas.

O mesmo Decreto-Lei de 1998 determina o averbamento de Grupo 2 no título de condução de titulares


de carta válida para veículos da categoria B desde que possuam aptidão para o exercício da condução
de ambulâncias, veículos de bombeiros, automóveis de passageiros de aluguer, transporte escolar e
mercadorias perigosas. Neste último caso (ADR), a frequência do curso que conferia aptidão para a
respetiva prática exigia a realização de uma avaliação psicológica idêntica à que vigorava para a
obtenção da categoria D.

O Decreto-Lei nº 45/2005 de 23 de fevereiro, alterado posteriormente pelos Decretos-Lei 103/2005 de 24


de junho e 174/2005 de 3 de agosto, fixa os requisitos mínimos de aptidão física, mental e psicológica
para a condução de veículos a motor e introduz alterações relativamente à revalidação das cartas de

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condução da categoria D, obrigando à entrega de um relatório de avaliação psicológica, sempre que seja
solicitado pela entidade de saúde competente.

Em 2009 a Lei 87/2009 introduz a noção de CAMP (Centro de Avaliação Médica e Psicológica) e o
posterior Decreto-Lei 313/2009 gerou um conjunto de alterações à avaliação médica e psicológica dos
condutores, que entrou em vigor no dia 25 de janeiro de 2010. Este documento fixou os requisitos
mínimos de aptidão física, mental e psicológica dos condutores para o exercício da condução, o modo de
comprovação da mesma e as situações a que a avaliação psicológica deveria ser estendida.

A partir desta altura os condutores ou candidatos a condutores da categoria D deixam de ser os únicos
obrigados a fazer prova de avaliação psicológica, passando a ser um requisito para todas as situações
englobadas no Grupo 2 de acordo com a classificação dos condutores já proposta em 1998, tal como se
apresenta nos parágrafos seguintes.

a. Classificação dos Condutores


A legislação classifica os condutores ou candidatos a condutores em dois grandes Grupos, 1 e 2, com
vista a regulamentar a avaliação da aptidão física, mental e psicológica e que está prevista na alínea b)
do nº. 1 do artigo 126º do Código da Estrada, tal como foi mencionado anteriormente e que poderá ser
consultada nos anexos ou nos domínios de internet recomendados.

GRUPO 1

No Grupo 1 estão incluídos os candidatos a condutores ou condutores dos veículos das categorias A, B
e B+E, das suas subcategorias A1 e B1 e de ciclomotores, motociclos de cilindrada não superior a 50
cm3 e veículos agrícolas, com exceção dos motocultivadores.

Categoria Descrição Requisitos Requisitos Gerais


Motociclos de cilindrada Aptidão física e mental;
A
Ter 18 anos
superior a 50 cm3
Residir em Portugal;
A1 Motociclos de cilindrada Ter 16 anos, com autorização
superior a 50 cm3 e não escrita de quem exerça o Não estar a cumprir proibição
superior a 125 cm 3
poder paternal ou inibição de conduzir ou
medida de segurança de
B Automóveis ligeiros Ter 18 anos interdição de concessão de
carta de condução;
B1
Ter 16 anos e autorização
Aprovação no exame de
escrita de quem exerça o condução;
Restrita a triciclos e
poder paternal
quadriciclos
Saber ler e escrever.
BE Ter aprovação em exame de Requerer a emissão de licença
condução constituído por prova de aprendizagem e a prova
Automóveis ligeiros com
das aptidões e do das aptidões e do
reboque
comportamento comportamento.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

GRUPO 2

O Grupo 2 inclui candidatos ou condutores a condutores dos veículos das categorias C, C+E, D e D+E,
bem como das subcategorias C1, C1+E, D1 e D1+E. Para além destas situações, ainda são
classificados neste Grupo os indivíduos que exerçam a condução de ambulâncias, de veículos de
bombeiros, de transportes de doentes, de transporte escolar, de automóveis ligeiros de passageiros de
aluguer (táxi) e de transporte de VIP’s.

Categoria Descrição Requisitos Requisitos Gerais


Aptidão física, mental e
C psicológica;
Ter 21 anos ou 18 anos desde

Automóveis pesados de que, neste caso, possua


Residir em Portugal;
C1 mercadorias certificado de aptidão
profissional Não estar a cumprir proibição
ou inibição de conduzir ou
medida de segurança de
C1+E interdição de concessão de
carta de condução;
Ser titular de carta de
Automóveis pesados de condução da categoria C ou Aprovação no exame de
C+E condução;
mercadorias com reboque subcategoria C1

Saber ler e escrever.


Aptidão física, mental e
D psicológica;

Automóveis pesados de Residir em Portugal;


Ter 21 anos
D1 passageiros
Não estar a cumprir proibição
ou inibição de conduzir ou
medida de segurança de
D1+E interdição de concessão de
carta de condução;
Ser titular de carta de
Automóveis pesados de condução da categoria D ou Aprovação no exame de
D+E condução;
passageiros com reboque subcategoria D1

Saber ler e escrever.

2.2. Exames Psicológicos

O Decreto-Lei 313/2009 preconizou alterações também ao nível das provas que devem ser realizadas
para uma situação de obtenção do título de carta de condução de veículos pesados e para a situação de
renovação desses títulos. A mesma diferenciação é feita em relação aos averbamentos de Grupo 2 para
condutores que possuem apenas a categoria B mas que são classificados de Grupo 2 pela profissão que
desempenham (motoristas de táxi, de veículos prioritários, de carros de aluguer, de transporte de VIP’s
ou de transporte coletivo de crianças).

ISPA/Paula Rocha/2020 pág. 16 de


Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

A legislação apresentava dois quadros com as dimensões que deveriam ser avaliadas para cada uma
das situações (obtenção e renovação), tal como se pode verificar nos quadros seguintes:

QUADRO 1 (Obtenção)

Áreas Aptidões e Competências

Perceptivo -cognitiva Inteligência


Atenção
Concentrada
Distribuída
Vigilante
Perceção
Rapidez Percetiva
Integração Percetiva

Memória

Psicomotora Motricidade
Segurança Gestual
Destreza Manual
Coordenação
Bimanual
Óculo-manual-pedal
Reações
Simples e de escolha
Múltiplas e discriminativas

Capacidade multitarefa

Fatores de Personalidade Fatores de Personalidade


Maturidade psicológica
Responsabilidade
Estabilidade emocional
Despiste psicopatológico
Atitudes e comportamentos de risco face à
segurança no tráfego
Competências sociais

ISPA/Paula Rocha/2020 pág. 17 de


Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

QUADRO 2 (Renovação)

Áreas Aptidões e Competências

Perceptivo –cognitiva Atenção


Concentrada
Perceção
Rapidez Percetiva

Psicomotora Coordenação
Óculo-manual-pedal
Reações
Simples e de escolha

Fatores de Personalidade Fatores de Personalidade


Despiste psicopatológico
Atitudes e comportamentos de risco face à
segurança no tráfego

No capítulo seguinte deste manual, as aptidões e competências listadas nos quadros anteriores, serão
definidas de acordo com a atual legislação que regulamenta a habilitação legal para a condução.
Simultaneamente, serão mencionados alguns instrumentos que podem ser utilizados para avaliar cada
uma das dimensões descritas.

2.3. Competência para a Realização dos Exames Psicológicos de acordo com


o Dec-Lei 313/2009

O exame psicológico, de acordo com aquela legislação, deveria ser realizado pelo IMT ou por um CAMP
(Centro de Avaliação Médica e Psicológica). Até publicação do documento que regulamentasse a
atuação dos CAMP, a avaliação psicológica foi realizada por Psicólogos membros efetivos da Ordem dos
Psicólogos ou que se encontre em estágio profissional com vista à inscrição na Ordem. Cabia a este
Técnico a aplicação das provas (que poderia ser feita por outra pessoa qualificada para este fim), a
realização da entrevista individual, a atribuição do parecer e a elaboração do relatório. O relatório final
tinha de conter a assinatura do Psicólogo, sendo-lhe atribuída total responsabilidade pelo parecer final
da avaliação.

A proposta inicial do Decreto-Lei avançou com a ideia de que a Direção do Centro seria da
responsabilidade de um Médico ou de um Psicólogo, devendo estes integrar a equipa de avaliação do
Centro. Poderia, ainda, existir um Operador para a aplicação das provas psicológicas e um Médico
Oftalmologista para proceder à avaliação desta dimensão médica.

ISPA/Paula Rocha/2020 pág. 18 de


Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

Segundo o Dec-Lei 313/2009, os procedimentos que um condutor incluído no Grupo 2 deveria seguir
eram os seguintes:

 Consulta com o médico assistente que poderia anteceder ou não a avaliação psicológica

 Consulta de oftalmologia (opcional)

 Realização da avaliação psicológica

 Consulta com o médico Delegado de Saúde da zona de residência que só acontecia depois
dos dois passos anteriores

 Pedido ao IMT da emissão da carta (se for renovação ou averbamento de uma situação do
Grupo 2 que já se verifique)

 Realização da carta de condução ou respetivo curso (se for uma situação de obtenção de
carta ou de averbamento do Grupo 2)

2.4. O Decreto-Lei 138/2012 – Que alterações preconizou?

No dia 5 de julho de 2012 foi publicado um novo Decreto-Lei, 138/2012, sobre a Habilitação Legal para a
Condução que introduziu alterações globais em todas as dimensões da condução, nomeadamente no
que concerne à avaliação psicológica dos condutores. Por um lado, abandona a ideia de CAMP, sendo
que a Avaliação Psicológica passou a ser realizada por qualquer Psicólogo membro efetivo da Ordem no
exercício da sua profissão (Artigo 25º, número 2), salvo as situações que serão indicadas para o IMT ou
Entidades designadas pelo IMT e reconhecidas pela Ordem dos Psicólogos (Artigo 25º, número 3).

No que concerne às dimensões a avaliar registam-se alterações, especialmente porque reduzem e


simplificam a avaliação no caso de um candidato a Grupo 2. Contudo, introduz-se a ideia de dimensões
complementares que poderão ser avaliadas em caso de dúvida decorrente da aplicação de provas
previstas obrigatoriamente na legislação. Assim, a tabela passa a ser a seguinte:

Áreas Dimensões Obrigatórias Dimensões Complementares

Percetivo -cognitiva Inteligência (opcional na renovação)


Memória
Atenção e Concentração Integração Percetiva

Estimação do Movimento
Resistência Vigilante à Monotonia
Psicomotora Coordenação Bimanual
Segurança gestual
Reações Simples e de Escolha
Destreza Manual
Reações Múltiplas e Discriminativas Capacidade Multitarefa

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

Dimensões Complementares
Áreas Dimensões Obrigatórias

Fatores de Fatores de Personalidade Fatores de Personalidade


Personalidade Despiste psicopatológico Despiste psicopatológico
Atitudes e comportamentos de risco Atitudes e comportamentos de risco face
face à segurança no tráfego à segurança no tráfego

São, ainda, definidos requisitos mínimos para a Aptidão Psicológica e que variam de acordo com:

 Ser c andidato a Grupo 2 (ter resultados superiores ao percentil 16 em todos os testes, e na


maioria superior a 25)

 Ser c ondutor do Grupo 2 (ter resultados superiores ao percentil 20 na maioria dos fatores e
variáveis)

 Ser c ondutor do Grupo 1 (ter resultados superiores ao percentil 16 na maioria dos fatores e
variáveis)

De acordo com esta mesma legislação estão publicados nos sites do IMT os modelos de relatório de
avaliação psicológica ou certificado de avaliação psicológica (documentos que até então eram definidos
pelo próprio Psicólogo de acordo com a diretiva de maio de 2010) e da Direção-Geral de Saúde os
modelos de relatório e atestado médico (até então modelos 921 e 922).

2.5. O Decreto-Lei 37/2014 – Que alterações preconizou?

No dia 5 de julho de 2014 foi publicado um novo Decreto-Lei, 37/2014, sobre a Habilitação Legal para a
Condução que introduziu algumas alterações em dimensões da condução, concretamente no que
concerne à avaliação psicológica dos condutores. Neste domínio, esta nova diretiva legislativa apenas
clarifica a ação dos Psicólogos numa situação de emissão de um parecer de Inaptidão de um Candidato
a Condutor ou de um Condutor, independentemente destes se inserirem no Grupo 1 ou 2.

Resumidamente, o Psicólogo que emita um parecer de Inapto deverá comunicar essa decisão ao IMT de
forma sustentada e confidencial, anexando cópia do Relatório de Avaliação Psicológica e do respetivo
Certificado. Estes condutores ou candidatos a condutores só poderão ser submetidos novamente a
avaliação 6 meses depois, ficando impedidos de conduzir até ser considerado Apto, ainda que a sua
carta possa estar válida.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

III. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CONDUTORES

A Avaliação Psicológica de Condutores é uma área da Psicologia que conta já com alguns anos, ainda
que durante muito tempo a sua aplicação se tivesse cingido ao Contexto Militar. Por isto, a investigação
é bastante parca, começando atualmente a encontrar maior interesse pelos teóricos e investigadores.

Mais uma vez salientamos que tudo o que é mencionado neste capítulo, nomeadamente as dimensões a
avaliar e o relatório, está conforme o Decreto-Lei 313/2009, não contemplando, ainda, as alterações que
serão esclarecidas aquando da entrada em vigor do Decreto-Lei 138/2012 e mais recentemente do
Decreto-Lei 37/2014.

3.1. Conceito e Princípios Orientadores

A Avaliação Psicológica de Condutores tem como principal objetivo avaliar, num indivíduo, a existência
ou não de potenciais fatores de risco para a segurança rodoviária. Para isso, o Psicólogo que trabalha
nesta área necessita de possuir um amplo conhecimento sobre:

 Avaliação Psicológica (princípios, procedimentos e metodologias)

 Toda a legislação que regulamenta a Habilitação Legal para Conduzir

Para realizar o seu trabalho, o Psicólogo encontra na legislação correspondente informação orientadora
em relação aos fatores a avaliar, bem como à estrutura que o relatório deve ter; contudo em relação à
sequência dos vários momentos que constituem um processo desta natureza verifica-se uma certa
flexibilidade, que exige, ao mesmo tempo, bom senso e sensibilidade para o tema por parte do Técnico
responsável.

O modelo que se apresenta a seguir é um mero exemplo de como se poderá realizar uma Avaliação
Psicológica de Condutores, podendo ser adaptado em conformidade com as orientações do Técnico e
do próprio Laboratório de Psicologia.

1º MOMENTO – MARCAÇÃO DA AVALIAÇÃO

A marcação da avaliação pode ser executada por qualquer pessoa que trabalhe no Laboratório. No
entanto, poderá ser útil esta pessoa estar informada sobre algumas particularidades da avaliação para
preceder a uma marcação adequada. Um dos fatores que deve ser contemplado aquando da marcação
da avaliação é o objetivo da mesma, ou seja, se é para obtenção ou para renovação. Este aspeto
influencia o tempo de realização da mesma dada a diferença entre o número de provas realizadas.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

2º MOMENTO – RECEÇÃO DO(A) CONDUTOR(A)

Poderá ser útil existir uma ficha de candidato que sintetize toda a informação sobre o condutor e que
deve ser mantida em arquivo pelo Laboratório por um período de 2 (dois) anos juntamente com original
do relatório. Esta ficha deve contemplar toda a informação identificativa do candidato, da avaliação e
poderá ser neste espaço que o Psicólogo regista a informação resultante da entrevista. Em anexo a este
manual é apresentada uma ficha modelo utilizada por um dos laboratórios que atua nesta área da
Psicologia.

3º MOMENTO – APLICAÇÃO DAS PROVAS

Habitualmente, a avaliação em termos operacionais começa com a aplicação da bateria de provas que o
Psicólogo deve selecionar previamente de acordo com o objetivo da avaliação. A aplicação dos testes
poderá ser realizada por outra pessoa que não o Psicólogo, porém deve ser alguém com conhecimento
sobre a Avaliação Psicológica de Condutores e, especialmente, com um grande à-vontade na explicação
das instruções de cada teste.

4º MOMENTO – ANÁLISE DOS RESULTADOS

Após a realização das provas o Psicólogo procede à análise dos resultados e poderá fazê-lo antes da
entrevista individual. Esta sequência de procedimentos revela-se vantajosa na medida em que poderão
existir resultados que devem ser esclarecidos com informação adicional a recolher na entrevista.

5º MOMENTO – ENTREVISTA INDIVIDUAL

A entrevista individual, à semelhança do que acontece noutros domínios da Psicologia, assume uma
notória importância pois é o momento em que o Psicólogo tem oportunidade para investigar outras
informações sobre a vida do candidato. Este tema será aprofundado mais à frente neste manual.

6º MOMENTO – RELATÓRIO INDIVIDUAL E CERTIFICADO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

O Psicólogo necessita de sintetizar toda a informação recolhida sobre o candidato no relatório de


avaliação psicológica, fazendo referência, entre outros aspetos, ao parecer final atribuído ao candidato e
à sustentação do mesmo. Também estes assuntos serão desenvolvidos adiante no presente manual.

Por fim, é emitido o Certificado de Avaliação Psicológica cujo original autenticado com a vinheta do
Psicólogo é entregue ao candidato ou condutor.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

3.2. Dimensões a Avaliar

As dimensões que têm de ser avaliadas pelo Psicólogo quando se depara com um processo de
avaliação de um condutor que se inclua no Grupo 2 de acordo com o Decreto-Lei em vigor (138/2012)
agrupam-se em três grandes áreas e cobrem os vários domínios da realidade psicológica de um
indivíduo.

a. Área Percetivo-Cognitiva
Neste domínio estão incluídas 3 dimensões obrigatórias e 2 complementares, nomeadamente:

 Inteligência - Capacidade de compreensão e formulação de regras gerais utilizando estímulos


de natureza concreta ou abstrata e sua aplicação a várias situações

 Atenção Concentrada - Capacidade em dirigir a atenção durante determinado tempo obtendo


um desempenho estável

 Estimação do Movimento – Capacidade para calcular o moimento de um objeto em termos de


tempo e de espaço

 Integração Percetiva - Capacidade percetivo-cognitiva para processar com exatidão a


informação visual, que apela à seletividade de estímulos visuo-percetivos

 Memória - Capacidade de recuperação de informação adquirida, através de processos de


evocação e reconhecimento após a sua codificação e armazenamento

b. Área Psicomotora
No que concerne ao domínio instrumental ou psicomotor, devem ser avaliadas as seguintes dimensões:

 Coordenação Bimanual - Capacidade em coordenar em simultâneo os movimentos de ambas


as mãos face a ritmos impostos e ou livres

 Reações Simples e de Escolha - Capacidade em reagir adequadamente a estímulos visuais ou


acústicos predefinidos (simples) ou após a sua seleção a partir de um conjunto alargado de
estímulos também composto por estímulos distratores (escolha)

 Reações Múltiplas e Discriminativas - Capacidade em reagir a uma multiplicidade de


estímulos visuais e ou acústicos que impliquem associações específicas entre estímulos e
respostas

 Segurança Gestual - Capacidade de executar e manter com precisão cinestesias estáticas

 Destreza Manual - Capacidade de executar com precisão e rapidez cinestesias dinâmicas de


pequena amplitude

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

 Resistência Vigilante à Monotonia – Capacidade para manter a atenção durante a execução


de uma tarefa repetitiva e rotineira

 Capacidade Multitarefa - Capacidade em processar informações paralelas de forma a


desempenhar, em simultâneo, pelo menos duas tarefas independentes

c. Fatores de Personalidade

 Maturidade Psicológica - Capacidade de adequar o seu comportamento às exigências da


realidade envolvente em conformidade com um desenvolvimento psicoafectivo adulto

 Responsabilidade - Capacidade de aceitar regras formais, tarefas e deveres e comportar -se


em conformidade assumindo as suas condutas

 Estabilidade Emocional - Capacidade em controlar, regular, moderar e exprimir reações


emocionais de forma adequada sem influenciar a eficiência dos desempenhos e ou interferir com
outras pessoas

 Despiste Psicopatológico - Perturbações do foro psíquico que possam implicar riscos face à
segurança no tráfego

 Atitudes e Comportamentos de Risco face à Segurança no Tráfego - Predisposições para


acções e ou condutas que possam implicar riscos face à segurança no tráfego

 Competências Sociais - Capacidade para desenvolver, manter e valorizar contactos e relações


sociais e de cidadania, bem como tolerância às diferenças individuais e culturais

3.3. Instrumentos

A evolução tecnológica permitiu que os instrumentos de avaliação psicológica, especificamente para o


domínio da condução, passassem por um notório desenvolvimento. Nos primeiros tempos as provas
eram realizadas em papel ou através de aparelhos desenvolvidos para avaliar as diversas aptidões
instrumentais. O exemplo que se apresenta a seguir mostra um dos testes utilizados durante muitos
anos, fundamentalmente nas instituições militares.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

O Reaciómetro era um aparelho utilizado para


avaliar o tempo de reação simples. O Candidato
dispunha de um manípulo com um botão que teria
de pressionar sempre que acendesse a luz
branca. Por seu turno, o Operador registava os
tempos de resposta aos sucessivos estímulos,
procedendo-se no fim ao cálculo da média total.

Atualmente existem outras metodologias para avaliar as aptidões consideradas relevantes para a
condução e em Portugal é possível encontrar em franco desenvolvimento dois sistemas mais
conhecidos:

 . VTS

O Sistema de Testes de Viena (VTS) foi criado


pela Empresa do Dr. G. Schuhfried e é constituído
por um software que foi desenvolvido de acordo
com os requisitos da Psicometria. Pretendia-se
recorrer à multimédia e a tecnologias inovadoras,
possuindo por isso diversos meios de introdução
das respostas. Em Portugal este Sistema tem sido
trabalhado, testado, aferido e comercializado pela
INFOTESTE, Empresa representante em Portugal
do VTS.

 BAPCON

O Sistema de Testes BAPCON é propriedade da


EDIPSICO e apesar de já existir anteriormente ao
Decreto-Lei 313/2009 teve o seu maior
desenvolvimento aquando da entrada em vigor
daquela legislação. Contemplando, inicialmente,
apenas a avaliação psicológica de condutores,
tendo vindo a alargar a sua aplicação a outras
áreas.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

De qualquer modo, a formação da qual este manual é objeto não incide sobre nenhum destes sistemas
em particular, pelo que a especificação e aprofundamento sobre os mesmos deverão ser obtidos junto
das empresas responsáveis pela comercialização de cada sistema de testes.

3.4. Entrevista Individual

Tal como já foi referido anteriormente, a Entrevista Individual num processo de avaliação psicológica de
condutores deverá acontecer depois do cliente/condutor ter realizado todas as provas, uma vez que a
entrevista poderá ajudar a clarificar alguns resultados obtidos nos testes. Esta entrevista tende a ser,
fundamentalmente, semi-estruturada na medida em que as perguntas formuladas pelo Psicólogo visam
responder a um conjunto de questões que serão, mais tarde, mencionadas no relatório final e apelam,
maioritariamente, para respostas fechadas.

O objetivo final da entrevista com um condutor consiste na identificação ou não dos fatores que possam
colocar em risco o próprio ou a segurança de terceiros. O modelo e a estruturada poderão ser definidos
pelo Psicólogo de acordo com o seu estilo profissional, mas terá sempre de recolher a seguinte
informação:

 História pessoal e percurso profissional do condutor

 História de condutor, desde a obtenção dos títulos de que é detentor, acidentes rodoviários e
infrações ao Código da Estrada

 História da saúde do condutor, com incidência na medicação que possa comprometer as suas
capacidades psicológicas na condução (meramente informativo)

 Utilização de lentes de correção ótica (meramente informativo)

 Auto-descrição das características pessoais que se revelem uma mais valia ou uma limitação
para a condução.

Neste momento do processo avaliativo, o Psicólogo já conhece as aptidões do condutor, podendo


aproveitar a situação de entrevista para aferir alguns dos resultados obtidos nas provas realizadas,
nomeadamente o ritmo de trabalho com que habitualmente realiza as tarefas, a precisão com que o faz,
assim como a adaptação a tarefas que constituem novidade. Um dos objetivos da entrevista poderá
passar pela clarificação e recolha sistemática de informação relativamente aos fatores psicossociais que
podem começar por ser avaliados através de um inventário/teste de personalidade.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

3.5. Relatório Final

Apesar da alteração e padronização proposta pelo Dec-Lei 138/2012 quanto aos documentos para
registo de toda a avaliação, será feita referência sobre a anterior estrutura do relatório de Avaliação
Psicológica de Condutores que contemplavam um conjunto de critérios e informações determinados pelo
IMT através de uma diretiva publicada a 12 de maio de 2010 para que se compreenda a evolução neste
domínio. Para que o relatório fosse aceite pelo IMT, o Psicólogo deveria garantir a inclusão dos
seguintes dados:

LABORATÓRIO

 Identificação

 Endereço

 Fotocópia do cartão de pessoa coletiva ou do cartão de identificação fiscal

 Identificação do diretor ou responsável técnico

PSICÓLOGO QUE REALIZOU A AVALIAÇÃO

 Nome

 Assinatura

 Número de cédula profissional ou comprovativo da inscrição, ou do respetivo pedido, na Ordem dos


Psicólogos

IDENTIFICAÇÃO DO AVALIADO

 Nome

 Naturalidade

 Data de nascimento

 BI/Cartão de Cidadão, com data de validade

 NIF

 Número de título de condução e categorias de que seja detentor, ou categorias a que se candidata

 Motivo/finalidade da avaliação psicológica

 Morada e número de telefone (facultativo)

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

ESPECIFICAÇÃO DA AVALIAÇÃO

 Data do exame

 Indicação da metodologia e critérios de avaliação psicológica aplicados, de acordo com o


estabelecido no nº 1 do Artigo 17.º do Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir (RHLC)

 Identificação dos instrumentos e testes usados relativamente a cada uma das aptidões e
competências avaliadas

 Breve resumo do exame, com indicação dos resultados parciais das diferentes áreas

 Interpretação dos resultados obtidos e parecer conclusivo de “Aprovado” ou “Reprovado”


relativamente aos critérios mínimos estabelecidos no artigo 17.º do RHLC

 Indicação/sugestão de restrições e/ou adaptações ao exercício da condução automóvel, se for o caso

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

Exemplo de uma grelha de aptidões a incluir no relatório (até 2 de novembro de 2012 e que se manteve
depois da entrada em vigor da Decreto-Lei 37/2014)

Aptidões Operacionais Descrição das Dimensões


INTELIGÊNCIA GERAL NÃO VERBAL Capacidade intelectual ao nível das operações mentais lógicas e de
crescente complexidade, que apelam ao raciocínio concreto-construtivo e
dedutivo-indutivo.

ATENÇÃO CONCENTRADA Capacidade para direccionar e focalizar a atenção durante um determinado


período de tempo, mantendo o desempenho estável e apelando à rapidez de
resposta.

ATENÇÃO VIGILANTE Capacidade em manter um estado de alerta tónico (vigília) durante bastante
tempo no sentido de responder prontamente a estímulos infrequentes que
surgem englobados num conjunto de estímulos que têm que ser
negligenciados

ATENÇÃO DISTRIBUÍDA E SELETIVA Capacidade para dispersar a atenção em diferentes campos, apelando à
mudança rápida do fócus da visão e à memória selectiva das várias fontes
de informação.

INTEGRAÇÃO DA INFORMAÇÃO Capacidade percetivo-cognitiva para analisar e processar informação visual,


exigindo a seleção dos estímulos visuo-percetivos.
PERCETIVO-COGNITIVA

RAPIDEZ PERCETIVA Capacidade percetivo -cognitiva para a apreensão rápida da informação


visual, que apela à discriminação de estímulos visuo-perceptivos

MEMÓRIA Capacidade de recuperação de informação adquirida, através de processos


de evocação e reconhecimento após a sua codificação e armazenamento.

REAÇÕES SIMPLES E DE ESCOLHA Capacidade de resposta óculo-manual a estímulos de natureza visual ou


acústica, que apelam ao tempo de reação cognitivo e motor.

REAÇÕES COMPLEXAS E MÚLTIPLAS Capacidade de resposta a estímulos visuais ou acústicos relevantes num
conjunto mais amplo de estímulos, que contempla distratores e apelam à
capacidade de reação e controlo do stress.

SEGURANÇA GESTUAL Capacidade de cinestesia estática e controlo neuromotor, através de provas


de segurança gestual da mão-braço (ambas as mãos).

DESTREZA MANUAL Capacidade de cinestesia, através do exercício do percurso (labirinto), que


apela à rapidez, precisão e recuperação práxica (ambas as mãos).

TESTE DE ANTECIPAÇÃO DE TEMPO E Capacidade de antecipação de tempos e movimento, face a estímulos


apresentados.
MOVIMENTO

COORDENAÇÃO MANUAL Capacidade em coordenar em simultâneos movimentos de ambas as mãos


face a ritmos impostos e ou livres.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

Exemplo de uma grelha de aptidões a incluir no relatório (depois de 2 de novembro de 2012 e que se
manteve depois da entrada em vigor da Decreto-Lei 37/2014)

Aptidões Operacionais Descrição das Dimensões


INTELIGÊNCIA (candidato a Grupo 2) Capacidade intelectual ao nível das operações mentais lógicas e de
crescente complexidade, que apelam ao raciocínio concreto-construtivo e
dedutivo-indutivo.

ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO Capacidade para direccionar e focalizar a atenção durante um determinado


período de tempo, mantendo o desempenho estável e apelando à rapidez de
resposta.

ESTIMAÇÃO DO MOVIMENTO Capacidade de antecipação de tempos e movimento, face a estímulos


apresentados.

COORDENAÇÃO MANUAL Capacidade em coordenar em simultâneos movimentos de ambas as mãos


face a ritmos impostos e ou livres.

REAÇÕES SIMPLES E DE ESCOLHA Capacidade de resposta óculo-manual a estímulos de natureza visual ou


acústica, que apelam ao tempo de reação cognitivo e motor.

REAÇÕES MÚLTIPLAS E Capacidade de resposta a estímulos visuais ou acústicos relevantes num


conjunto mais amplo de estímulos, que contempla distratores e apelam à
DISCRIMINATIVAS
capacidade de reação e controlo do stress.

a. Emissão de Parecer
De acordo com as indicações do IMT, e até novembro de 2012, os pareceres consistiam em “Aprovado”
ou “Reprovado”, mas após a entrada em vigor do Decreto-Lei 138/2012 passou a ser “Apto” ou “Inapto”
de acordo com os critérios definidos pelo mesmo Decreto-Lei e devem ter por base as escalas propostas
pelos próprios instrumentos utilizados na avaliação das aptidões. Alguns Sistemas de Testes propõem o
tratamento dos resultados de acordo com uma escala percentílica e com intervalos de resultados (por
exemplo, Inferior, Médio Inferior, Médio, Médio Superior e Superior) outros consideram apenas grupos de
resultados que poderão ser 5 (1 a 5) ou 7 (1 a 7) de acordo com a concetualização teórica das provas.

É possível, ainda, incluir um terceiro parecer, o de “Aprovado com Restrições” ou “Apto Com Restrições”,
em função de restrições ou adaptações à condução que possam ser consideradas pelo Psicólogo. Para
isso é importante que este conheça a tabela que regulamenta este tema, apesar de que a decisão final
caberá à Entidade Médica competente e que atribuirá o parecer final ao pedido do condutor.

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Manual do Curso de Formação sobre Avaliação Psicológica de Condutores

Bibliografia

Para um aprofundamento dos temas abordados neste documento, recomenda-se a consulta e leitura da
seguinte bibliografia:

Strapasson, E. M., Silv, R. M. e Teodoro, V. (2010). O Processo de Avaliação Psicológica na Atuação


dos Psicólogos Organizacionais e do Trabalho. Actas do VII Simpósio Nacional de Investigação em
Psicologia, Universidade do Minho, Portugal, 4 a 6 de Fevereiro de 2010.

Site de interesse para consulta:

IMT: Legislação Nacional de Condutores, (consultado em 6 de outubro de 2020 no site)

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