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Semelhanças Entre Reportagem e Notícia
Semelhanças Entre Reportagem e Notícia
RESUMO: O ser humano se comunica o tempo todo e o faz, em grande parte, por meio
da linguagem verbal. De acordo com Bakhtin (1997), o emprego da língua ocorre
através de enunciados (orais ou escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes
dos vários campos da atividade humana. Tais enunciados compõem-se de conteúdo
temático, estilo e construção composicional, os quais estão intrinsecamente ligados, e
são definidos pela esfera de produção. Esses enunciados materializam-se nos gêneros do
discurso, definidos como os textos produzidos pelas diferentes esferas da atividade
humana: familiar, religiosa, jornalística etc. A esfera jornalística tem como função
principal levar a conhecimento público e comentar acontecimentos sociais diversos. Em
outras palavras há, basicamente, duas funções sociais diferentes nos textos jornalísticos:
informar e comentar ou opinar. Os gêneros jornalísticos cuja função é a de informar são,
de acordo com a divisão proposta por Marques de Melo (2003), a nota, a notícia, a
reportagem e a entrevista. Assim, este artigo, que faz parte do Projeto de Pesquisa
Reconhecendo gêneros da esfera jornalística, ainda em andamento, vinculado ao grupo
de pesquisa Gêneros discursivos e ensino da Língua Portuguesa, do Programa de Pós-
graduação stricto sensu em Letras, da Unioeste, pretende fazer uma análise de dois
desses gêneros cuja função é informar: a notícia e a reportagem. O objetivo é identificar,
em cada um, o conteúdo temático, o estilo e a construção composicional predominantes,
para estabelecer as semelhanças e diferenças entre os gêneros. A metodologia, além de
revisão bibliográfica, inclui a análise de textos dos dois gêneros escolhidos.
1 – Introdução
ISSN 2178-8200
II Seminário Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010
Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR
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circulam nos jornais e revistas, mas que não são próprios da esfera (horóscopo, anúncios
etc).
Embora seja difícil precisar com exatidão todos os gêneros da esfera jornalística,
pesquisadores brasileiros têm buscado determinar os principais gêneros que ocorrem na
imprensa brasileira.
Uma das mais conhecidas e aceitas é a classificação proposta por Marques de
Melo (2003), que dividiu os gêneros do jornalismo impresso de acordo com a
intencionalidade determinante dos relatos, em duas categorias: uma, cujo objetivo é o de
reproduzir o real; e outra, o de ler o real1 . As categorias são, respectivamente, o
jornalismo informativo e o opinativo e, dentro de cada uma, o autor identificou os
gêneros. Como gêneros da categoria opinativa, Marques de Melo (2003) inclui o
editorial, o comentário, o artigo, a resenha, a coluna, a crônica, a caricatura e a carta. Já
na categoria do jornalismo informativo estão a nota, a notícia, a reportagem e a
entrevista.
Assim, embora muitas pessoas utilizem os termos notícia e reportagem como
sinônimos para designar matérias de jornais e revistas, tratam-se de gêneros distintos.
Mas o quê os torna diferentes? E o que há de semelhante entre eles que faz com que
sejam tratados por sinônimos? São tais questões que motivaram a produção deste artigo.
Através de revisão bibliográfica e análise de textos de ambos os gêneros, pretende-se,
portanto, verificar distinções e semelhanças entre os gêneros notícia e reportagem,
especialmente no que se refere ao conteúdo temático, estrutura composicional e estilo
de cada um.
2 - Notícia e reportagem
1
A idéia de reprodução do real, que Marques de Melo atribui aos g êneros informativos é, hoje em dia,
questionável. Sabe-se que a reprodução fiel de qualquer fato é impossível. Entretanto, o que é preciso
ressaltar é que nos gêneros informativos há uma preocupação em informar o leitor sobre fatos,
apresentando-lhe diferentes depoimentos, recortes da realidade; ao passo que nos gêneros opinativos, o
autor, que em geral assina seus textos, deixa claro qual a sua visão pessoal sobre o assunto.
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Os dois gêneros ainda se distinguem quanto ao estilo. Lage (2000) define notícia
como “o relato de uma série de fatos a partir do mais importante ou mais interessante; e
de cada fato a partir do aspecto mais importante ou interessante” (LAGE, 2000, p. 16).
Dessa forma, os textos do gênero notícia iniciam com o que se chama de “lead”: o
primeiro parágrafo no qual já apresenta o que há de mais importante no texto,
respondendo questões como “O quê?”, “Como?”, “Quando?”, “Onde?”, “Por que?” e
“Para quem?”.
Como sua função é informar o novo, as informações nos textos do gênero notícia
são dispostas em ordem decrescente, começando pela mais importante, modelo que é
conhecido como “pirâmide invertida”.
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sucinto que precede o título e serve para antecipar e territorializar a informação central
do texto), subtítulo (também chamado de linha-fina, é uma frase que complementa o
título, acrescentando-lhe informações, e vem logo abaixo deste, antes do texto em si),
olho (títulos auxiliares ou pequenas frases postas no meio do texto cujo objetivo é
destacar aspectos relevantes da matéria), foto, legenda (texto que complementa a foto,
acrescentando-lhe informações que permitem ao leitor entender ou avaliar o que está
vendo), texto-legenda (legenda seguida de informações que lhe permitem ter existência
independente da notícia), gráfico, box (caixa de texto que traz informações
complementares ao assunto discutido no texto principal) e assinatura (nome do(s)
autor(es) do texto)2 .
A diferença é que esses elementos costumam aparecer em maior quantidade e
com maior frequência nas reportagens do que nas notícias, pois proporcionam maior
detalhamento do assunto
.
3 - Análise de textos
2
Os conceitos apresentados constam no site:
http://www.elpais.com.br/elpaisnaescola/arquivos/DicasdeJornalismo.pdf. Também foram consultados o
“Guia para edição jornalística”, de Pereira Junior (2006); e o “Manual de Redação e Estilo – O Globo”,
do ano de 2001.
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O lead esclarece o que houve (a morte de Zilda Arns), quem morreu (Zilda
Arns), quando e como ocorreu o fato (no terremoto do Haiti, em 12 de janeiro). Ou seja,
a informação mais importante já aparece no primeiro período.
3
Marques de Melo (2003) classifica o gênero reportagem como sendo informativo. Mas há autores,
como Lage (2000), que consideram que, apesar desse caráter predominantemente informativo, sempre há
nas reportagens um pouco de interpretação.
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4 - Considerações finais
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importante em seu primeiro parágrafo, o lead. Sua linguagem é mais objetiva, com a
exclusão de adjetivos, e mais impessoal, com o uso de terceira pessoa.
Os textos do gênero reportagem, por sua vez, não informam fatos novos. Sua
função é contextualizar e aprofundar fatos que já estão repercutindo na sociedade. Eles
trazem assuntos a partir de fatos e discorrem sobre eles de acordo com um enfoque pré-
estabelecido. Sua linguagem é menos rígida que a das notícias, possibilitando o uso de
elementos como metáforas e adjetivos. Trata-se de um gênero predominantemente
narrativo, em que se busca a humanização do relato.
Notícia e reportagem podem ser, portanto, semelhantes em sua estrutura
composicional, mas são diferentes quanto ao estilo e ao conteúdo temático.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
GARCIA, Luiz (org). O Globo: Manual de Redação e Estilo. São Paulo: Globo, 2001.
LEITE, Paulo Moreira. “Que morte linda”. Época, edição nº 609, p. 80-85,
18/jan./2010.
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PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. Guia para a edição jornalística. São Paulo: Vozes,
2006.
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