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Profilaxia antibiótica

Antibiotic prophylaxis
Carlos Vasconcelos1* e António José Polónia2
Comissão de Controlo de Infecção (CCI) do Hospital de Santo António / Centro Hospitalar do Porto (HSA / CHP).
1

Instituto de Ciências Biomédicas (ICBAS/UP)


HSA/CHP, CCI do HSA / CHP
2

Resumo Abstract
A antibioterapia profiláctica tem como objectivo a prevenção Antibiotic prophylaxis takes the prevention of the infection
da infecção através da administração de antimicrobianos. Há as an objective, through the administration of antimicrobians.
benefícios e prejuízos potenciais nesta atitude médica pelo que There are benefits and potential damages in this medical attitude
é imperiosa uma análise dos custos-benefícios envolvidos, que obligating to a cost - benefits analysis, which must take into
deve ter em conta factores como a gravidade da doença a account factors as the gravity of the disease to prevent, activity
prevenir, espectro de actividade do agente microbiano, indução of the microbial agent, induction of resistances, toxicity, etc.
de resistências, toxicidade, etc. This text is about antibiotic prophylaxis in endocarditis and
Nesta exposição vamos debruçar-nos sobre a antibioterapia in surgery procedures reporting the experience of the Hospital
profiláctica da endocardite e em cirurgia relatando a experiência Santo António (HSA). The international recommendations for
do Hospital de Santo António (HSA). Na endocardite as reco- antibiotics administration in endocarditis made it more selective,
mendações internacionais para administração de antibióticos taking into account that the bacteriemia resultant of the daily
tornaram-se mais selectivas tendo em conta que a bacteriemia activities has bigger probability of causing infectious endocarditis
resultante das actividades diárias tem maior probabilidade de than the bacteriemia associated to odontologic proceedings
causar endocardite infecciosa que a bacteriemia associada a and that, only a scarce number of cases might be prevented
procedimentos odontológicos e que apenas um número escasso even that the antibiotic prophylaxis is 100 % effective.
de casos poderia ser prevenida pela profilaxia antibiótica mesmo Surgical site infection (SSI) it is an important problem,
que a profilaxia seja 100 % efectiva. occupying in the HSA the third place of the nosocomial infections
Quanto à infecção do local cirúrgico (ILC) trata-se de um (NI), after UTI and respiratory infections. In a series of 15000
problema importante, ocupando no HSA o terceiro lugar das surgical procedures the rate of NI was 3,36 %, with a highly
infecções nosocomiais, a seguir à ITU e infecções respiratórias. probable subnotification. The most frequent type of SSI is
Numa série de 15 000 intervenções registadas, a taxa de ILC superficial incision and the commonest microbial agents were the
registada até à data da alta hospitalar é de 3,36 %, sendo methicilin-resistant Staphylococus aureus and the Escherichia
altamente provável a existência de subnotificação. O tipo de coli. Appendicectomy and the wound desbridment / abscesses
ILC mais frequente é superficial e os agentes microbianos mais were the surgical procedures that more contributed to SSI.
comuns foram Staphylococus aureus meticilina resistente e The strategy followed, in 1995, by the HSA for antibiotic
Escherichia coli. A apendicectomia e o desbridamento de feridas prophylaxis in surgery was based on the Recommendations of
/ abcessos foram os actos cirúrgicos que mais contribuíram “Surgical Wound Task Force Guidelines for the prevention of
para a ILC. Surgical Wound Infection” and of “Center for Disease Control”, in
A estratégia seguida, em 1995, pelo HSA para antibioprofi- an initiative of the group of antimicrobial - committee of pharmacy
laxia cirúrgica foi a de seguir as Recomendações da “Surgical and therapeutics, with the support of the Administration and
Wound Task Force Guidelines for Prevention of Surgical Wound the involvement of several specialists.
Infeccion” e do “Center Disease Control”, numa iniciativa do In a global evaluation of the adhesion to the published
grupo de antimicrobianos da Comissão de Farmácia e Tera- recommendations we note that the correct use exceeded 60
pêutica, com o apoio da Administração e o envolvimento de % in clean surgery without use of prothesis. Of the remainder,
vários especialistas. nearly 30 % did not do prophylactic antibiotic and only 6 % did it
Numa avaliação global da adesão às recomendações publi- wrongly as therapeutic intention. This last percentage increases
cadas constatamos que ultrapassou os 60 % a sua utilização

* cvcarlosvasconcelos@gmail.com

Cadernos de Saúde  Vol. 3  Número especial Infecção Associada à Prática de Cuidados de Saúde – pp. 101-106
102 Cad e r n o s d e S a ú d e  Vo l. 3  N ú m e ro e s p e c i a l I n f e cçã o A s s o c i a d a à Prá t i ca d e Cu i d a d o s d e S a ú d e

correcta, em cirurgia limpa sem uso de próteses. Dos restantes, for the double in the clean-contaminated, contaminated and
cerca de 30 % não fez antibiótico profiláctico e apenas 6 % o dirty, as well as in the emergency surgery.
fez inadequadamente sendo registada a intenção terapêutica. The experience of the HSA allows us to affirm that the
Esta última percentagem aumenta para o dobro nas cirurgias fulfillment of a protocol of antibiotic prophylaxis in surgery can
limpo-contaminadas, contaminadas e conspurcadas, assim be got with the involvement from the beginning, in the process,
como na cirurgia de urgência. A experiência do HSA permite-nos of the responsible persons and with efficient measures of control
afirmar que o cumprimento de um protocolo de antibioprofilaxia and of easy application.
em cirurgia pode ser conseguido com o envolvimento desde o Keywords: antibioprophylaxis, surgical site infection,
início, no processo, das pessoas responsáveis e com medidas bacteremia, endocarditis 
de controlo eficazes e de fácil aplicação.
Palavras-chave: antibioprofilaxia, infecção do local ope-
ratório, bacteremia, endocardite 

Antibioterapia profiláctica corresponde à adminis- c) Antibioterapia profiláctica não é recomendada


tração de um ou mais agentes antimicrobianos com com base exclusivamente no aumento de risco
intenção de prevenir a infecção. A prevenção das ao longo da vida de aquisição de EI.
infecções é sempre preferível ao tratamento, devendo d) A antibioterapia profiláctica fica apenas reco-
ter-se em conta o risco-benefício e o custo-benefício. mendada para as situações referidas no Quadro
Os factores que podem influenciar a eficácia da 1 nomeadamente para as cardiopatias congé-
profilaxia antibiótica dependem do agente patogé- nitas especificadas e não outras.
nico, do agente profiláctico, do hospedeiro e da
doença a ser prevenida. Há que ter em conta se se Quadro 1 – Doenças cardíacas associadas a risco mais elevado de
endocardite, para as quais é aconselhável a profilaxia.
trata de um único ou múltiplos patogénios potenciais,
qual o tempo de exposição ao patogénio, qual a sua •P
 rótese valvular ou material prostético usado para reparar
origem, qual a gravidade da doença a ser prevenida, válvula cardíaca,
quais os órgãos alvo que podem ser infectados, qual • Prévia endocardite infecciosa
o espectro de actividade do agente antimicrobiano, • Doença cardíaca congénita
a duração da quimioprofilaxia, assim como o seu – Cardiopatia cianótica não corrigida
custo, toxicidade, efeitos laterais e aceitabilidade do
–C
 ardiopatia congénita corrigida, com prótese ou outro
antibiótico proposto (1). material, durante os primeiros 6 meses após a intervenção
Quanto aos factores associados à sua ineficácia (endotelização do material)
podem-se listar a má utilização (excesso) de agentes –C
 ardiopatia congénita corrigida com defeitos residuais
antimicrobianos, a promoção de microorganismos adjacentes ao material usado, impedindo a endotelização
resistentes, o desperdício económico e a toxicidade • Transplantados cardíacos que desenvolvam doença valvular
iatrogénica. Nesta exposição vamos principalmente
debruçar-nos sobre a antibioterapia profiláctica em e) O antibiótico profiláctico é adequado para todos
cirurgia e sobre a experiência neste campo do HSA. os procedimentos odontológicos que envolvem
Na primeira parte falaremos também da profilaxia a manipulação de tecidos gengivais ou região
antibiótica para a prevenção da endocardite. periapical dos dentes ou ainda, perfuração da
As principais alterações nas orientações para o mucosa oral apenas nos doentes com doenças
uso de antibióticos na prevenção da endocardite cardíacas associadas a maior risco de EI.
infecciosa são as seguintes (2): f) O antibiótico profiláctico é aconselhável para os
a) A bacteriemia resultante das actividades diárias procedimentos no tracto respiratório ou na pele,
tem maior probabilidade de causar endocardite tecido subcutâneo e estruturas osteomusculares
infecciosa (EI) do que a bacteriemia associada infectadas apenas nos doentes com doenças
a procedimentos odontológicos. cardíacas associadas a maior risco de EI.
b) Apenas um número escasso de casos de EI g) O antibiótico profiláctico apenas para a preven-
poderia ser prevenida pela profilaxia antibiótica, ção de EI não é recomendado para procedi-
mesmo que a profilaxia seja 100 % efectiva. mentos envolvendo o aparelho gastrointestinal
ou génito-urinário.
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Embora estas directrizes recomendem alterações o internamento prolongado, a infecção em local


nas indicações para a profilaxia da EI no que diz remoto, a corticoterapia, a tricotomia, a duração da
respeito a procedimentos dentários, o grupo de cirurgia, a técnica cirúrgica, a presença de drenos
peritos responsável pela sua elaboração reafirma e o uso inapropriado de profilaxia antimicrobiana.
que os procedimentos médicos listados como não No Hospital de Santo António (HSA) a prevalência
exigindo profilaxia, nas orientações de 1997, perma- da infecção hospitalar tem variado entre 11 e 25 %,
necem inalterados, estendendo-se ao parto vaginal, conforme mostra a Figura 1. A ILC tem ocupado
histerectomia e tatuagens. O grupo de peritos desa- sistematicamente o terceiro lugar – (11,1 %) no último
conselha ainda o body piercing, dada a possibilidade inquérito, antecedida pela ITU (22,2 %) e pelas
de bacteriemia, embora reconheça a escassez de infecções das vias respiratórias inferiores (32,1 %).
informação publicada sobre o assunto.
Os procedimentos dentários em que o uso profi- Figura 1 – Prevalência da Infecção Hospitalar no Hospital de Santo
láctico de antibióticos pode ser indicado em doentes António
seleccionados consistem naqueles (2) que envolvam
manipulação da gengiva ou da região periapical do
doente, ou perfuração da mucosa oral. Os seguin-
tes procedimentos não necessitam de profilaxia
antibiótica: injecção de anestésico através de tecido
não infectado, radiografia dentária e aplicação de
próteses.
Os antibióticos para a profilaxia dentária têm
variado ao longo dos anos, tendo começado em
1955 com a penicilina, substituída em 1990 pela
amoxicilina, na dose de 2 gramas por via oral, uma
hora antes do procedimento (2).
Quadro 2 – Regime de profilaxia para procedimento dentário
Regime:
dose única 30-60 minutos
Situação Antibiótico antes do procedimento
Adulto Criança Na vigilância da IH, centrada no laboratório através
Via oral Amoxicilina 2 g. 50 mg /Kg
de uma ferramenta informática – Vigi@ct –, em
que a incidência da infecção tem variado entre os
50mg/Kg
Impossibilidade de
Amoxicilina ou 2 g IM/IV
IM/IV 5 e 6 %, a ILC ocupa igualmente o terceiro lugar,
Cefazolina *
medicação oral
ou Ceftriaxone 1g IM/IV
50mg/Kg correspondendo o primeiro às ITU.
IM/IV Temos igualmente feito a vigilância da ILC, desde
Cefalexina ou
2g 50mg/Kg meados da década de 90, nos Serviços de Cirurgia
Via oral, alérgicos Clindamicina ou
à pen/ ampicilina Azitromicina ou
600 mg 20mg/Kg Geral, de Cirurgia Vascular, de Ortopedia e de Obs-
500 mg 15mg/Kg tetrícia (Fig. 2), estando neste momento registadas
Claritromicina
Alérgicos à pen / 50mg/Kg IM mais de 15 000 intervenções.
Cefazolina ou 1g IM ou
Ampicilina e
Ceftriaxone ou IV 600g IM
ou IV A taxa de infecção de local cirúrgico registada até
impossibilidade de 20mg/Kg IM à data da alta hospitalar é de 3,36 %, embora seja
Clindamicina ou IV
medicação oral ou IV
de salientar a elevada percentagem de infecções
Cefalosporinas não devem ser usadas em pessoas com história de anafilaxia, que nos não são comunicadas – a declaração é
angioedema ou urticária com penicilina ou ampicilina.
* ou outras cefalosporinas de primeira ou segunda geração, via oral
feita voluntariamente e não há conhecimento das
ILC que ocorrem após a alta. O tipo de ILC mais
No que diz respeito aos doentes cirúrgicos, deve frequente é superficial e os agentes microbianos
começar por salientar-se que 30 a 50 % dos doen- mais comuns, no pouco mais de um terço em que
tes hospitalizados consomem antibióticos e que foram efectuados exames microbiológicos, foram
importante parte do orçamento hospitalar é gasto Staphylococus aureus meticilino resistente (23,5 %)
na aquisição destes fármacos. e Escherichia coli (17,6 %).
Os factores de risco para Infecção do local cirúrgico A apendicectomia (15,3 %) e o desbridamento de
são a idade, a obesidade, a diabetes, a malnutrição, feridas/abcessos (14,2 %) foram os actos cirúrgicos
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Figura 2 – Folha de registo de infecção do local cirúrgico a) Administrar agente antimicrobiano profiláctico
só se indicado, seleccionado com base na sua eficácia
contra os patogénicos mais comummente causadores
de ILC para uma intervenção específica (1A);
b) Administrar a dose inicial IV, com um intervalo
de tempo que permita uma concentração bacteri-
cida do antibiótico no sangue e tecidos na altura
da incisão. Manter níveis terapêuticos durante a
intervenção (1A);
c) Não usar por rotina vancomicina como anti-
biótico profilático (1B);
d) Preparar o cólon, antes de cirurgia electiva
colorectal, com enemas e agentes catárticos; admi-
nistrar agentes antimicrobianos orais não absorvíveis,
em doses divididas no dia anterior à cirurgia, e
administrar antibiótico IV antes da intervenção (1A);
e) Nas cesarianas administrar o antimicrobiano
imediatamente após a “clampagem” do cordão (1A).
Que antibióticos usar? Deve ser um antibiótico
por via intravenosa, já que a absorção pela via
intramuscular não é segura. As quinolonas por via
oral só devem ser usadas na cirurgia urológica.
Para a maioria das intervenções limpas – risco de
infecções por estreptococos ou por estafilococos –
os antibióticos recomendados são a cefazolina ou
a cefuroxima.
Para intervenções abrangendo o tracto GI baixo
deve ser adicionada cobertura para anaeróbios, como
a cefoxitina ou a ampicilina / sulbactam.
que mais contribuíram para a ILC, sendo o último Em 1995, numa iniciativa do Grupo de Antimi-
aquele em que ocorreu maior taxa de ILC (12,8 %). crobianos da Comissão de Farmácia e Terapêutica,
A elaboração de um protocolo de antibioterapia com o apoio da Administração e o envolvimento
profiláctica em cirurgia é um passo fundamental de vários especialistas, foram elaboradas propostas
na racionalização e optimização do uso de anti- para a antibioprofilaxia cirúrgica no HSA, com uma
bióticos, tendo em atenção que a sua utilização é metodologia que envolveu grande número de pro-
factor reconhecido no aparecimento de resistências. fissionais dos diversos serviços cirúrgicos e geradora
A escolha dos antibióticos a usar em profilaxia de abrangente discussão, sendo a decisão final
assenta em critérios bem definidos e acima de tudo tomada por um júri de consenso. Tais orientações
é importante lembrar que a prevenção da infecção foram publicadas no Boletim do Hospital (Figura
do local cirúrgico não se esgota na antibioprofilaxia. 3), ainda se mantendo em prática.
A estratégia seguida pelo Hospital de Santo António Foram identificados os mecanismos de controlo
(HSA) foi a de seguir as Recomendações da “Surgi- para uma adequada implementação do programa,
cal Wound Task Force Guidelines for Prevention of que passam pela responsabilidade do cirurgião, a
Surgical Wound Infection” (3) e do Centers Disease intervenção do anestesista quanto ao “timing” de
Control (CDC) (4 e 5). administração, uma folha de prescrição própria, o
Quase 50 anos de investigação demonstraram fornecimento de dose única e a existência no Bloco
que a antibioterapia profiláctica reduz a incidência Operatório apenas dos antibióticos aprovados para
de infecções do local cirúrgico, tendo os primeiros profilaxia. Também no âmbito destes mecanismos, e
ensaios randomizados sido publicados em 1969. incluído no programa de vigilância epidemiológica
Múltiplas recomendações sobre o tema foram edi- da infecção hospitalar, a folha de registo de infecção
tadas desde 1980. do local cirúrgico (projecto HELICS), que contem-
As principais recomendações consistem em: pla o registo da administração de antibióticos com
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Figura 3 – Boletim do Hospital de Santo António Na pontagem arterial dos membros inferiores com
prótese, foram prescritos, como é recomendado,
cefazolina em 83,3 % dos casos, e em situações espe-
cíficas – suspeita de S.aureus meticilino-resistente,
que no HSA corresponde a cerca de 50 % de todos
os S.aureus –, a vancomicina em 16,7 %. Neste acto
cirúrgico o uso de antibiótico terapêutico ultrapassou
os 30 %.
Em cirurgia contaminada, cirurgia programada do
cólon e recto, praticamente todos os antibióticos
utilizados – neomicina + eritromicina / cefoxitina –
foram-no em intenção profiláctica.
Na cirurgia gastro-duodenal, cirurgia limpa-conta-
minada, em 95 % dos casos o antibiótico foi usado
profilacticamente e em cerca de 80 % o antibiótico
adequado – cefazolina ou cefoxitina.
Na apendicite aguda, cirurgia conspurcada, a
profilaxia não foi efectuada em 5 % dos doentes,
enquanto em 15 % foi usada com intenção tera-
pêutica. A cefoxitina, antibiótico recomendado, foi
usada em 80 % das prescrições.
Nas cesarianas, exemplo de cirurgia limpa, a
profilaxia apenas não foi prescrita em 6 % das
mulheres, enquanto o antibiótico adequado, cefa-
zolina foi em 98 %.
Em suma, o cumprimento das indicações para
antibioprofilaxia no HSA, de acordo com as reco-
mendações publicadas, foi de 90 %, enquanto o uso
do antibiótico protocolado de forma correcta ocorreu
indicação do agente, dose, via de administração, em 80 %. Constatou-se que existiu maior taxa de
intenção (profilática ou terapêutica) e duração. cumprimento nas cirurgias sectorizadas.
Numa avaliação global da adesão às recomen- Numa auditoria a 13 hospitais holandeses (6)
dações publicadas, constatamos que ultrapassou sobre a adesão às orientações para antibioterapia
os 60 % a sua utilização correcta, em cirurgia limpa profiláctica, entre Janeiro 2000 e Janeiro 2001, foram
sem uso de próteses. Dos restantes, cerca de 30 % revistos 1763 procedimentos, tendo-se constatado
não fez antibiótico profiláctico e apenas 6 % o fez uma concordância com as recomendações na escolha
inadequadamente, sendo registada a intenção tera- de antibiótico em 92 % das situações.
pêutica. Esta última percentagem aumenta para o A experiência do HSA permite-nos afirmar que o
dobro nas cirurgias limpa-contaminada, contaminada cumprimento de um protocolo de antibioprofilaxia
e conspurcada, assim como na cirurgia de urgência. em cirurgia pode ser conseguido com o envolvi-
Na aplicação de próteses, o uso correcto de anti- mento, desde o início do processo, das pessoas
bioprofilaxia ultrapassa os 80 %. responsáveis e com medidas de controlo eficazes
Quanto ao antibiótico a usar, por exem- e de fácil aplicação.
plo numa cirurgia limpa com prótese,
hérnia da parede abdominal com prótese, o anti-
biótico recomendado, a cefazolina, foi prescrita
em 87% dos casos, e somente em 5 % um outro
antibiótico (cefoxitina), em todos estes casos apenas
com intenção profiláctica. Na cirurgia de colocação
de prótese total da anca, a cefazolina foi usada
em todos os casos, mas em 20 % das situações foi
registada intenção terapêutica.
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