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Vale a pena se matar por “chifre”?

– por Ricardo Coelhoi


Talvez alguns estranhem o título, mas o certo é que muitos se matam quando
não são correspondidos em seus amores, principalmente quando envolve traição - o
vulgar “chifre”. A história está cheia de casos de homens e mulheres que em algum
momento da vida, quando foram traídos ou traídas, não resistiram as dores da paixão e
deram cabo à própria vida. Na literatura alemã tem um caso muito conhecido de um
jovem chamado Werther que não foi correspondido em seu amor e se matou na frente
de todos.
Mas o que a filosofia diz sobre os “chifres”? Vale a pena alguém se matar quando
se sente traído por seu parceiro/a? A resposta é não! Voltemos à Grécia Antiga, berço
dos grandes filósofos. Lá, Aristóteles afirmava que ninguém pode se matar por
“amores”, “pobreza” e “dores”, conforme afirma Puente: “O homem que se degola o
faz por causa da ira, agindo, por conseguinte, contra a reta razão e, por isso mesmo,
contra a lei. Morrer para fugir da pobreza, dos amores ou das dores não é sinal de
coragem, mas antes, de debilidade (PUENTE, 2008, p. 19-20).
É possível que as dores do “chifre” seja uma das piores (talvez seria interessante
as pessoas que têm essas dores nos contar em detalhes), mesmo assim, elas não
revelam sinais de coragem. Se não é sinal de coragem, pode ser de covardia consigo
mesmo. Primeiro, ninguém é proprietário de ninguém, ainda que sejam casados, isso
não os torna posse exclusiva (não estou dizendo que não haja fidelidade e
compromissos). Mas quando alguém perceber que não dá mais para caminhar com seu
parceiro/a, essa pessoa tem o direto de fazer suas escolhas e o seu parceiro/a não pode
pensar que o mundo desabou sobre sua cabeça por causa dessa decisão.
Sendo sinal de debilidade, conforme nos mostra Aristóteles, necessário será
entendermos melhor essa palavra. No latim, está relacionada com falta de firmeza. Ora,
claro que o termo debilidade se refere a falta de forças físicas também, mas não
somente isso, pois pode envolver franqueza moral, ou seja, atitude não coerente com a
realidade. Mas a palavra nos remete a frouxidão, característica marcante de quem é
fraco, mas no sentido de convicção, de clareza do certo e errado, já que pode significar
“fraqueza moral”. A moral já sabemos: “é disposição do espírito para agir com maior ou
menor vigor diante de circunstâncias difíceis”. Logo, a fraqueza disso, leva o indivíduo a não agir
com maior ou menor rigor diante de circunstâncias extremas, como é o caso do “chifre”, conclui-
se, portanto, que não devemos nos matar por causa dele, caso tenhamos.

i
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins

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