Você está na página 1de 6

Educação Unisinos

11(2):85-90,maio/agosto 2007
© 2007 by Unisinos

Uma abordagem da história das instituições


educacionais: a importância do arquivo escolar
An approach to the history of educational institutions:
The importance of the school’s archives
Maria Apparecida Franco Pereira
poseducacao@unisantos.br

Resumo: O objetivo deste artigo é, a partir da consciência da crise da escola na atualidade,


refletir sobre aspectos de sua identidade, através de rápidas considerações de alguns
pensadores e de novos enfoques. A história da educação privilegia novos temas e busca
elementos para análise da história das instituições educativas, evidenciando a importância
dos arquivos escolares para tal estudo. A apresentação do acervo documental de uma
instituição educativa concreta (Liceu Feminino Santista) tem por fim exemplificar o valor dos
documentos e dos arquivos escolares na recuperação da imagem da escola.

Palavras-chave: história da educação, história das instituições educacionais, arquivos


escolares.

Abstract: Starting from the awareness of the present crisis in the schools, this article
reflects about aspects of its identity through a brief discussion of some thinkers and new
approaches. The history of education prioritizes new topics and looks for elements to analyze
the history of educational institutions, showing the importance of the school archives for
this study. The presentation of the documents of an existing educational institution (Liceu
Feminino Santista) aims at exemplifying the value of the school documents and archives for
the retrieval of the school’s image.

Key words: history of education, history of educational institutions, school archives.

Introdução os jovens da escola” – 40 % dos que maioria (68%) ao menos chegam até a
deixam de estudar apontaram falta de 5a série; 2) a falta de vontade de estu-
Já há muito tempo que a educa- vontade para assistir às aulas – é a dar é a maior causa do abandono dos
ção e, conseqüentemente, a escola “chatice da escola”! São 1,7 milhão de bancos escolares, sobrepujando, nes-
vêm sendo alvo de críticas acerba- jovens, entre 15 e 17 anos, fora da es- sa pesquisa, a falta de vagas, de trans-
das. O olhar para a realidade não des- cola (Góis e Constantino, 2007, p. C-1). porte ou a necessidade de trabalhar.
mente o discurso. O Instituto Nacional de Estudos e Os comentários na imprensa, tentan-
Nos primeiros dias de janeiro de Pesquisas Educacionais (INEP) elabo- do mapear os motivos de a escola ter se
2007, a Folha de S. Paulo publicou rou um estudo sobre esse abandono, “tornado chata”, ser um lugar enfado-
matéria que motivou vários outros de que saíram algumas considerações, nho, são vários: “Incapacidade institu-
comentários em dias subseqüentes. entre elas as seguintes: 1) três em cada cional da escola de mostrar-se, se não
O mote principal da reportagem quatro desses jovens (75%) não com- prazerosa, ao menos necessária ao jo-
“Desmotivação é o tema que mais tira pletaram o ensino fundamental, mas a vem entre 15 e 17 anos” (Fraga, 2007, p.

085a090_Edu11(2)_ART03Dossie_Pereira.pmd85 6/8/2007, 19:42


Maria Apparecida Franco Pereira

A-2). “Disciplinas desconhecidas do co- suas relações de poder. As escolas cultura escolar e das práticas escola-
tidiano dos jovens, escolas sem a parti- constituem uma territorialidade espa- res contribuem para identificar as ins-
cipação dos alunos nas decisões do dia- cial e cultural, onde se exprime o jogo tituições escolares, para analisar a
a-dia, professores desestimulados e dos actores educativos internos e ex- escola na sua historicidade, no seu
avaliações que terminam em reprovação, ternos; por isso, a sua análise só tem real funcionamento, em suas situa-
verdadeiro sentido se conseguir mobi-
desmotivando o estudante, após suces- ções concretas, nas suas represen-
lizar todas as dimensões pessoais, sim-
sivos fracassos.” (Folha de S. Paulo, 7 bólicas e políticas da vida escolar, não
tações assumidas pelos sujeitos, não
jan. 2007, p. C-1). reduzindo o pensamento e a acção somente as declaradas pelos seus
As sugestões se multiplicam: “A educativa a perspectivas técnicas, de autores. A cultura escolar é entendi-
escola desperta interesse, quando car- gestão ou de eficácia stricto sensu da como “um conjunto de teorias,
rega consigo uma promessa de futu- (Nóvoa, 1995, p. 16). idéias, princípios e normas, regras,
ro” (Calligaris, 2007, p. E-10). A educa- rituais, rotinas do cotidiano, hábitos
ção deve capacitar o aluno “a com- A instituição escolar está alicerça- e práticas, formas de fazer e de pen-
preender realidades, a mobilizar o sa- da em tríplice estrutura ou dimensão: sar, comportamentos” (Viñao Fraga,
ber e a usar e desenvolver idéias” (Un- física (o prédio, os seus espaços físi- in Vidal, 2005, p. 110).
ger, 2007, p. A-2). “O desafio do siste- cos, a sua configuração e a sua ocu-
ma educacional é apagar essa idéia de pação permitem ler a arquitetura pe- A contribuição dos
chatice. Será preciso algo infinitamente dagógica que está em jogo); adminis- arquivos escolares
mais complexo do que um simples apa- trativa: envolvendo as áreas pedagó- para a história das
gador de giz” (Fraga, 2007, p. A-2). gica e didática, áreas de direção e de instituições educacionais
Certamente, mais do que culpar o gestão com seus atores: professores,
professor, o aluno ou a família, é preciso alunos e funcionários em interação; O apelo à recuperação do passa-
buscar a verdadeira identidade da insti- sociocultural, de produção e trans- do tenta buscar a identidade, resol-
tuição educativa, através de uma análi- missão de cultura, de saberes e de for- ver a questão do presente, ou seja,
se mais profunda e sólida, com um ins- mação, ou seja, ”conhecimentos a como resgatar o papel, a função da
trumental teórico que auxilie a compre- ensinar e condutas a inculcar”. escola nos dias de hoje. A reconsti-
ender a escola. A escola exige ser trata- Atualmente se valoriza a gestão tuição do passado de uma institui-
da de modo mais científico, numa dimen- escolar na busca da recuperação do ção escolar é importante para rever
são mais criativa, dentro de uma “racio- papel da escola, responsabilizando- os seus caminhos, direcionar a cor-
nalidade técnica, política e cultural”. se os atores educativos. reção de suas atuais rotas.
Chamo a atenção para um dos as-
Que instituição é a pectos da análise mais ampla de Jus- A construção da história de uma insti-
escola? Como deve ser a tino Pereira de Magalhães a respeito tuição educativa visa, por fim, confe-
escola para o tempo das instituições educativas: rir uma identidade cultural e educacio-
nal. Uma interpretação do itinerário
presente? histórico, à luz do seu próprio mode-
Torna-se necessário conhecer e carac-
lo educacional. A história de uma ins-
terizar os órgãos de gestão, direcção;
Nas últimas décadas, vários pen- tituição educativa constrói-se a partir
explicar como se efetua a comunica-
sadores da educação têm orientado de uma investigação coerente e sob um
ção interna e externamente, conhecer
a direção de seus estudos para a pro- grau de complexidade crescente, pelo
e caracterizar as relações de poder, as
que à triangulação entre os historiado-
blemática da instituição educativa. hierarquias e as instâncias com capa-
res anteriores, à memória e ao arquivo
Certamente, como diz o pensador cidade de decisão; conhecer e caracte-
se deverá contrapor uma representa-
português Antônio Nóvoa, “os proces- rizar os corpos docente, administrati-
ção sintética, orgânica e funcional da
sos de mudança e de inovação educa- vo e auxiliar; conhecer e avaliar as for-
instituição – o seu modelo pedagógico
mas de participação por parte dos di-
cional passam pela compreensão das (Magalhães, 1999, p. 72).
versos actores, a título individual,
instituições escolares em toda a sua grupal ou de representação; conhecer
complexidade técnica, científica e hu- a relação e a participação da comuni- A síntese historiológica, fruto do
mana”. A sua compreensão implica dade envolvente; as relações com o trabalho de reconstituição da história
poder central e com os poderes regio- da instituição, apresenta-se em forma
a contextualização social e política das nais e locais (Magalhães, 1999, p. 71). de narrativa. É um esforço de constru-
86 instituições escolares, bem como a ção de uma imagem da escola, não um
apropriação ad intra dos seus meca- Procurando estudar a escola na relato ou recitação de acontecimentos,
nismos de tomada de decisão e das sua efetividade, os atuais estudos da mas uma narrativa com interpretações.

Educação Unisinos

085a090_Edu11(2)_ART03Dossie_Pereira.pmd86 6/8/2007, 19:42


Uma abordagem da história das instituições educacionais: a importância do arquivo escolar

Flávia Werle chama a atenção para tram os passos da sua vida diária, os memória, para os depoimentos, os
o aspecto de representação da recons- atos ditos oficiais das instituições; testemunhos de pessoas que fizeram
tituição do passado, nas três dimen- documentos administrativos compro- parte de sua história.
sões: perspectiva de representação batórios, como matrícula, atas de exa- De há muito, o movimento dos An-
coletiva, de relacionamento de ritos e mes, boletins de freqüência e de avali- nales contribuiu para a ampliação da
símbolos e de tornar presente o que ações, diários de classe, livro de assi- noção de documento, não mais só os
está ausente. “A história das institui- naturas de ponto, currículos, atos dis- escritos, mas a tudo aquilo que revela o
ções escolares é uma tentativa de for- ciplinares, mapas estatísticos, materi- passado humano, que é fruto da ação
mular uma representação da instituição al simbólico. E outros eventos que do homem, nos seus mais diversos su-
no que se refere a atitudes e condutas também fazem parte do seu cotidiano, portes: objetos variados, quadros, car-
que foram constantemente elaboradas como festas, competições esportivas, teiras, globos, lousas;, mobiliário, qua-
e rearticuladas por meio de seus mem- concursos literários, exposições etc. dros didáticos ou comemorativos; uni-
bros – indivíduos e grupos – diante de A historiadora lusitana Maria João formes, cadernos, provas escolares, tra-
estímulos e pressões exteriores e quan- Mogarro elenca, organizadamente, as balhos de alunos, manuais escolares,
to ao seu grau de integração e formas múltiplas “fontes de informação es- diários de recordações de adolescentes;
de funcionamento” (Werle, 2004, p. 15). colar”; vale a pena reproduzi-las: material iconográfico, sonoro etc.
Para tal, é necessário ir aos arqui-
vos com um instrumental teórico que - Textos legais e documentos oficiais; É preciso reconhecer que a guarda dos
auxilie a análise compreensiva da - Estatísticas; objetos escolares, como globos, car-
documentação e da escola. - Relatórios técnicos; teiras, material dourado, projetor de
- Regulamentos, circulares e normas, slides, lanterna mágica, sólidos, mu-
A recuperação do passado se faz com
enquanto documentos de circulação seus escolares, dentre muitos outros,
documentos, premissa inquestionável é importante na compreensão de que
não apenas interna, nas instituições
na tarefa do historiador, e sabemos que escolares, mas também entre estas e o os objetos portam pistas das múlti-
o pesquisador vai ao passado com ques- poder central; plas maneiras como professores e alu-
tões levantadas no presente. - Documentos administrativos e pe- nos constituíram inteligibilidades e
dagógicos; suscitam a investigação sobre as dife-
O documento não é qualquer coisa que - Publicações, como livros, artigos de rentes formas de sua apropriação, ofe-
fica por conta do passado, é um pro- jornais e revistas, exteriores à escola. recendo ao pesquisador índices sobre
duto da sociedade que o fabricou se- São trabalhos científicos, pedagógicos as relações pretéritas dos sujeitos com
gundo as relações de forças que aí de- e culturais, poesias, que surgem na im- a materialidade escolar ou sobre a for-
tinham o poder. Só a análise do docu- prensa regional e imprensa pedagógi- malidade das práticas escolares e fa-
mento enquanto monumento permite ca, mas que também podem ter a natu- zendo-o recordar que as situações pe-
à memória coletiva recuperá-lo e ao reza de obras autônomas, escritas e dagógicas se constroem muito fre-
historiador usá-lo cientificamente, isto publicadas por iniciativa dos profes- qüentemente por formas orais de so-
é, com pleno conhecimento de causa. sores, que são também os autores; cialização (Vidal, 2005, p. 24).
(Le Goff, 1996, p. 545). - Equipamentos e objectos de diversa
natureza; Os arquivos – um dos lugares da
O documento, que tinha o signifi- - Materiais didácticos e escolares, ge- memória – não podem ser mero acú-
ralmente pertencentes a arquivos par-
cado de prova, passa a ser considera- mulo de documentos, mas oportuni-
ticulares;
do monumento (perpetua ou evoca o - Trabalhos escolares de alunos que, dade de compreender o passado nas
passado), quando utilizado pelo his- na maior parte dos casos, se encon- relações que estabelece com o pre-
toriador (Le Goff, 1996, p. 535, 536, 546). tram também em arquivos particula- sente. As escolas, a maior parte das
As fontes armazenadas no arqui- res e não nos arquivos das institui- vezes, detêm esses acervos, nem
vo são as mais tradicionais. Textos ções escolares; sempre de forma valorizada, locali-
escritos, manuscritos ou impressos, - Fotografias e outros documentos zando-os em depósitos de despejo.
iconográficos;
os documentos foram produzidos As instituições escolares do pre-
- Testemunhos orais de professores,
pela própria escola, quotidianamen- alunos, funcionários e outros elemen- sente devem desenvolver uma políti-
te na sua atividade regular. tos da comunidade educativa (Mogarro, ca de conservação da documentação
O arquivo da escola é um impor- 2005, p. 110). e dos testemunhos e conscientizar os
tante local de referência, pois armaze- seus atores do valor deles como pa-
na uma complexa rede de documen- Contudo, só uma parte do passa- trimônio cultural: “O patrimônio es- 87
tos fundamentais para a história insti- do escolar fica registrada por escrito. colar não pode ser visto como um
tucional. São documentos que regis- Por isso, é importante apelar para a conjunto de objetos folclóricos de um

volume 11, número 2, maio • agosto 2007

085a090_Edu11(2)_ART03Dossie_Pereira.pmd87 6/8/2007, 19:42


Maria Apparecida Franco Pereira

passado que se desconhece, mas tem Um arquivo escolar São Paulo, e a Associação Feminina
que ser integrado na transformação exemplar na primeira Santista tomou o seu lugar.
dos contextos escolares e da relação metade do século XX: O Liceu Feminino Santista foi fun-
da docência com a cultura” (Felguei- Liceu Feminino Santista dado com o fim de dar formação cul-
ras, 2005, p. 98). tural às mulheres, prepará-las para
Uma questão que se coloca a es- A história das instituições edu- viver na sociedade e, ao mesmo tem-
ses arquivos e museus escolares diz cacionais é facilitada quando a es- po, formá-las professoras para reger
respeito ao que se deve armazenar e cola mantém o seu arquivo histórico as escolas maternais da Associação
ao que se deve descartar, pois há organizado, em funcionamento. Feminina Santista.
muitos objetos desaparecidos, hoje O Liceu Feminino Santista é uma Eunice Caldas logo se afastou da
valorizados, de cuja importância para instituição centenária que é motivo instituição, mas a história mostrou
a história, no futuro, não se tinha de orgulho para as gerações que a uma caminhada de grandes realiza-
consciência. freqüentaram, apesar da lembrança ções do grupo fundador.
Assim, devemos observar que de uma disciplina rigorosa, em deter- A instituição foi sofrendo transfor-
segmentos da história da educação minada época de sua evolução. Hoje mações até que, em 1976, a Associação
deverão estar direcionados para ca- essa escola continua sua caminhada Feminina Santista, sem condições de
racterizar a escola como instituição, em fase de prestígio com suas idéias manter as suas escolas, encerrou as ati-
com autonomia pedagógica, curricu- transformadoras, respondendo aos vidades após 74 anos de vida. O Liceu
lar e profissional; tendo em vista não desafios de nossos tempos. Santista passou a ser patrimônio da Mi-
só a sua estrutura, mas também a sua A sua origem está ligada ao movi- tra Diocesana de Santos, que, através
cultura organizacional. mento paulista de Anália Franco, em da Sociedade Visconde de São Leopol-
As escolas, para encontrarem a prol das crianças e moças desfavore- do, continuou em novos moldes e clien-
sua verdadeira identidade, devem se cidas economicamente. A professora tela, como instituição de prestígio, já com
transformar em centro de investiga- normalista Eunice Caldas (1879-1967) pouco mais de 104 anos (Pereira, 1996).
ção, buscando as suas soluções pró- criou em Santos, em 1902, uma filial Sucintamente, relacionamos os
prias, contextualizando todas as da Associação Feminina Beneficente principais documentos do acervo do
suas dimensões, interagindo social e Instrutiva. Questões internas oca- Liceu Santista e da antiga mantene-
e comunitariamente. sionaram o desligamento do grupo de dora (Pereira, 1986):

(*) Livros que dizem respeito ao primeiro grupo de documentos (vida escolar dos alunos).

RELATÓRIOS IMPRESSOS DA ASSOCIAÇÃO FEMININA SANTISTA E LICEU FEMININO SANTISTA


Inicialmente trienais (1904-1905 até 1910-1911), depois anuais (de 1911 até 1942).

REGULAMENTO
- 1 copiador de certidões e atestados (manuscrito) de 1918 a 1944.
- 1 livro de recibos das certidões de nascimento das alunas do Liceu Feminino Santista. Manuscrito – de 1925 a 1950.
- Regulamentos sobre a instrução – Associação Feminina Santista – Eunice Caldas – de 1903.
- Regulamento e Regimento Interno das escolas da Associação Feminina Santista – Eunice Caldas – de 1903.
- Regulamento Geral do Liceu Feminino e Escolas Maternais – de 1905.
- Regulamento Geral do Liceu Feminino e Escolas Maternais – de 1911; de 1914; de 1916; de 1920; de 1928.
- Reforma do Regulamento Geral – de 1932.
- Estatutos e Regimento da Biblioteca – de 1903 a 1907.
- Estatutos da Associação Feminina Santista e Regimento da Biblioteca – de 1927.
- Estatutos da Associação Feminina Santista – de 1959.

Diversos:

- 1 pasta contendo material manuscrito e datilografado, referente à Revolução Constitucionalista, de 12/11/32


a 18/05/53.
- 1 caderno com relação nominal de senhoras que prestaram auxílio à Cruzada Constitucionalista.
- 1 livro com cópias de Títulos de Nomeação, de janeiro de 1912 a 7/3/1935.
- 1 livro de Inventário da Associação Feminina Santista, de 6/5/1902 a 1943.

Hino às Mães - Partitura original – sem data – Música de Oscar Ferreira, poesia de Vicente de Carvalho.
88 Avulsos - 1 pasta contendo material manuscrito e datilografado, com papéis diversos: correspondência,
currículos de professores, relação de presidentes da Associação Feminina Santista, histórico,
dados informativos, memoriais enviados – de 1902 a 1975.

Educação Unisinos

085a090_Edu11(2)_ART03Dossie_Pereira.pmd88 6/8/2007, 19:42


Uma abordagem da história das instituições educacionais: a importância do arquivo escolar

Posters - Jubileu de ouro do Liceu Feminino Santista – 1952, 1 página de “A Tribuna”; Jubileu de ouro do Liceu
Feminino Santista – 1952 (enquadrado em madeira).

Fotos - 1 arca de madeira contendo uma coleção de retratos, fotografias, instantâneos, retratos do corpo
docente e discente, membros da Associação Feminina Santista, formandas, parentes, amigos liga-
dos à Associação e ao Liceu Feminino Santista; 1 retrato emoldurado de D. Eunice Caldas.

O acervo dos álbuns fotográficos de formatura compõe-se de:

de 1923 a 1942: 11 unidades; década de 20 = 4; década de 30 = 6; década de 40 = 1.

Obras da fundadora:

CALDAS, Eunice. Brasil. São Paulo: Livraria da Liberdade, 1926.


__________. Inezilha Braz – narração educativa. São Paulo: Pocaí Weiss & C., 1914.
__________. As moças da moda. São Paulo: Pocaí Weiss, s/d.

A ida ao arquivo escolar é feita com É necessário lembrar que a docu- fa, Sophia Pretzel. É possível, pela
um roteiro, com questões indagado- mentação contida nas atas, nos rela- seqüência dos anos, identificar o
ras. Utilizo, no manuseio dessas fon- tórios, além de cumprir certas exigên- período de dois tipos de uniformes
tes, o roteiro baseado nas categorias cias da legislação, do próprio tipo de escolares.
de análise de Petitat no seu estudo de atividade (escolar), mostra o agir de O baú de madeira contém um pou-
pedagogia crítica (Petitat, 1994). Com um grupo de mulheres empreende- co mais de 500 fotografias, várias com
esse instrumental, podem-se eviden- doras, a partir da visão que elas ti- cópias, em ótimo estado, mas a maioria
ciar, no arquivo do Liceu Santista, nham do mundo. Registraram os sem legenda, o que dificulta fazer a
dados sobre a criação da Associação acontecimentos, as preocupações da análise histórica. Num trabalho inicial,
Feminina Santista e de suas escolas, realidade que viveram. Se, por um estão organizadas em grupos e séries.
composição social das mulheres or- lado, esse farto material nos dá mui- As fotos são de: a) grupos de alu-
ganizadoras e dos professores, a ori- tas informações, por outro lado, dei- nas, com seu professor responsável;
gem social da clientela escolar, modo xa-nos também muitas interrogações. b) algumas atividades pedagógicas
de utilização do espaço físico, a orga- Quem são essas mulheres, qual a sua (como o material de Froebel, numa
nização do tempo, a organização pe- formação profissional, a que corren- turma de jardim da infância); c) pro-
dagógica, a seleção de conteúdos e o tes de pensamento pertencem? O fessores; d) cerimônias (formaturas,
modo de avaliação, o poder instituí- conhecimento, com muito esforço, inaugurações) e eventos (lançamen-
do, as relações com a sociedade em com muita “garimpagem”, traz à tona to de pedra inaugural); e) recintos
que está inserida a escola. delineamentos suaves. O conheci- escolares: pátio, laboratórios, sala de
A título de exemplo, chamamos a mento dos homens (professores) é aula, biblioteca etc.
atenção para o valor de alguns des- mais fácil, pois a sua presença na Assim, pela listagem do acervo
ses documentos. sociedade é mais visível. Liceu Feminino Santista, pode-se
Os relatórios impressos, apresen- O livro “borrador” traz a cópia dos avaliar a importância de um arquivo
tados pela presidente à Assembléia ofícios enviados, transcritos um a escolar bem organizado e cuidado
mantenedora, descrevem as princi- um, dando elementos para entender para a elaboração da história da ins-
pais atividades da Associação e de questões que a Escola teve que en- tituição escolar.
seus principais organismos, as es- frentar e observar a sua grande rede
colas e sua biblioteca. Abrangem o de relações com as mais diversas ins- Referências
período de 1902 a 1945. tituições da sociedade.
Na mesma linha estão as atas da Os álbuns de formatura, além de CALLIGARIS, C. 2007. Os sonhos dos ado-
diretoria e da Congregação dos Pro- mostrar as fotos das presidentes da lescentes. Folha de S. Paulo, 11 jan.
fessores. A análise do Livro das Só- AFS, de professores e alunos, regis- É CHATO porque não faz sentido para o
aluno. 2007. Folha de S. Paulo, 7 jan.
cias e Beneméritos traz contribuições tram um evento de sucesso na vida
FELGUEIRAS, M.L. 2005. Materialidade
para o conhecimento da sociedade escolar. Alguns dos álbuns têm a
santista e, mormente, da importância assinatura de fotógrafos da cidade,
da cultura escolar. A importância da
Museologia na conservação/comunica-
89
do comércio cafeeiro no incentivo à e os dos anos de 1931 e 1932 são ção da herança educativa. Pro-posi-
educação e cultura. produzidos por uma mulher fotógra- ções, 16(46):87-116.

volume 11, número 2, maio • agosto 2007

085a090_Edu11(2)_ART03Dossie_Pereira.pmd89 6/8/2007, 19:42


Maria Apparecida Franco Pereira

FRAGA, P. 2007. Idéias apagadas, Folha SOUZA e V.T. VALDEMARIN (orgs.),


de S. Paulo, 8 jan. A cultura escolar em debate: questões
GATTI JÚNIOR, D. 2002. A História das conceituais, metodológicas e desafios
Instituições Educacionais: inovações para a pesquisa, Campinas, Autores
paradigmáticas e temáticas. In: J.C.S. Associados, p. 3-30.
ARAÚJO e D. GATTI JÚNIOR, Novos WERLE, F.O.C. 2004. História das insti-
temas em História da Educação Bra- tuições escolares: de que se fala? In: J.C.
sileira: instituições escolares e educa- LOMBARDI e M.I.M. NASCIMENTO
ção na imprensa, Campinas, Editoras (orgs.), Fontes, Historiografia da Edu-
Associadas, p. 3- 24. cação, Campinas, Autores Associados,
GÓIS, A. e CONSTANTINO, L. 2007. p. 13-35.
Desmotivação é o tema que mais tira
os jovens da escola. Folha de S. Pau- Submetido em: 1/02/2007
lo, 7 jan. Aceito em: 21/04/2007
LE GOFF, J. 1996. História e memória. 4ª ed.
Campinas, Editora da Unicamp, 540 p.
MAGALHÃES J.P. de. 1999. Breve aponta-
mento para a história das instituições
educativas. In: J.L. SANFELICE; D.
SAVIANI e J.C. LOMBARDI (orgs.),
História da Educação: perspectivas para
um intercâmbio internacional, Campi-
nas, Autores Associados, p. 67-72.
MOGARRO, M.J. 2005. Os arquivos es-
colares nas instituições educativas por-
tuguesas. Preservar a informação, cons-
truir a memória, Pro-posições,
16(46):103-116
NÓVOA, A. 1995. Para uma análise das
instituições escolares. In: A. NÓVOA
(coord.), As organizações escolares em
análise, 2ª ed., Lisboa, Publicações D.
Quixote, p. 13-43.
PEREIRA, M.A.F. 1986. Mentalidade li-
beral da elite paulista e instituições de
ensino em Santos (1870-1920): levan-
tamento de fontes e análise. Síntese do
relatório final. INEP, 14 outubro, 42 p.
PEREIRA, M.A.F. 1996. Santos nos ca-
minhos da educação popular. São
Paulo, Loyola, 150 p.
PETITAT, A. 1994. Produção da escola,
produção da sociedade. Porto Alegre,
Artes Médicas, 268 p.
SANFELICE, J.L.; SAVIANI, D. e
LOMBARDI, J.C. (orgs.). 1999. His-
tória da Educação: perspectivas para
um intercâmbio internacional. Cam-
pinas, Autores Associados, 150 p.
SOUZA, R.F. de e VALDEMARIN, V.T.
(orgs.). 2005. A cultura escolar em
debate: questões conceituais, metodo-
lógicas e desafios para a pesquisa. Maria Apparecida Franco Pereira
Campinas, Autores Associados, 207 p. Universidade Católica de Santos
Av. Conselheiro Nôbias, 300,
UNGER, R.M. 2007. Ensino que ensine.
11015-002 Santos SP, Brasil
90 Folha de S. Paulo, 9 jan.
VIDAL, D.G. 2005. Cultura e prática es-
colares: uma reflexão sobre documen-
tos e arquivos escolares. In: R.F. de

Educação Unisinos

085a090_Edu11(2)_ART03Dossie_Pereira.pmd90 6/8/2007, 19:42

Você também pode gostar