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NEGRITUDE

Bole m do Movimento Negro Unificado - Fortaleza mnufortal@gmail.com Julho/2023

O Movimento Negro Unificado estavam totalmente comprometidos


(MNU) completa 45 anos de uma com uma política que compreendia a
história de luta e protagonismo no luta contra o racismo como parte da luta
enfrentamento à discriminação racial e contra o capitalismo.
todas as formas de exploração e Coube ao MNU dar continuidade à
opressão, expresso desde o início na luta do povo negro, assumindo o
“defesa do povo negro em todos os pioneirismo em lutas como: a denúncia
aspectos políticos, econômicos, sociais do mito da democracia racial brasileira,
e culturais”,corfome inscrito em nossa da violência policial e do encarcera-
Carta de Príncípios. mento em massa como política de
A fundação do MNU foi decidida em estado (“extermínio do povo negro”); a
uma reunião de entidades negras introdução da História da África e do
realizada em São Paulo em 18 de junho Negro no Brasil nos currículos esco-
de 1978. Sua primeira atividade foi a lares, na promoção do acesso dos
organização de um negros a todos os
ato público contra o níveis educa-
racismo, realizado cionais, através da
em 7 de julho do criação de bolsas
mesmo ano, para permanência
reunindo cerca de 2 de alunos nas
mil pessoas, em escolas e de cotas
protesto contra a raciais no acesso à
discriminação universidade; o
sofrida por quatro combate ao
jovens no Clube de desemprego e à
R e g a t a s Ti e t ê e Fundado em 18/06/1978 e lançado em 07/07 do pobreza, enfim, na
contra a morte de mesmo ano, em plena ditadura civil-militar, o MNU
rompeu com a invisibilidade do racismo estrutural e
busca de melhores
Robson Silveira da derrubou o mito da "democracia racial" condições de vida
Luz, torturado em em geral.
uma delegacia policial. Entre as principais contribuições do
Denominado inicialmente como MNU destaca-se ainda seu pioneirismo
Movimento Negro Unificado Contra a na discussão do feminismo negro. Lélia
Discriminação Racial, logo foi Gonzalez, Neuza Maria Pereira, Vera
a b r e v i a d o s i m p l e s m e n t e c o m o Mara Teixeira, Luiza de Bairros,
Movimento Negro Unificado. A criação A n g e l a G o m e s e t a n t a s o u t r a s
do MNU é um marco no movimento c o l o c a r a m e m d i s c u s s ã o a s
negro brasileiro, assinalando a especificidades da vida das mulheres
retomada do ativismo que fora negras, enegrecendo o feminismo como
desmantelado pela ditadura militar, e teoria e movimento social. Foi o MNU
segue sendo a entidade negra com que, ainda em 1978, soltou um
maior reconhecimento político no manifesto propondo que o 20 de
Brasil. novembro se transformasse no Dia
A fundação do MNU expressou um Nacional da Consciência Negra, em
acúmulo nacional e internacional, como memória de Palmares e Zumbi.
as lutas a favor dos direitos dos negros Em seus 45 anos de existência, o
dos Estados Unidos, os movimentos de MNU lutou e luta sem descanso, não se
libertação dos países africanos, e por ausentando de nenhuma das lutas
correntes intelectuais críticas. Os necessárias à busca de um Brasil e um
ativistas que estiveram à frente da mundo de justiça e igualdade racial e
fundação do MNU, como Flávio social.
Carrança, Hamilton Cardoso, Vanderlei Muito foi feito nesses 45 anos, e há
José Maria, Milton Barbosa, Rafael muito mais a fazer.
Pinto, Jamu Minka e Neuza Pereira, Vida longa ao MNU!
2 NEGRITUDE MNU - Fortaleza

*por Régis Alves Contudo, cenas do mesmo tipo são REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
corriqueiras no decorrer das semanas pós-
Pensar o racismo no futebol brasileiro jogos dos diversos campeonatos de FILHO, Mario, O negro no futebol
brasileiro/Mario Filho, Rio de Janeiro: Murad,
é ter um olhar crítico sobre o legado do futebol, com os jornais estampando 2003. 5ª edição, 2010.
processo escravista no nosso cotidiano e manchetes em suas páginas de esporte, P E T I T, S a n d r a H a y d é e , P r e t a g o g i a :
refletir sobre a falsa democracia racial que muitas das vezes chocam a sociedade, Pertencimento, Corpo-Dança Afroancestral e
presente nas narrativas da mídia como foi o caso sofrido pelo jogador da Tradição Oral Contribuições do Legado
esportiva, que contribui para mascarar o seleção brasileira Vinícius Junior, Africano para a Implementação da Lei Nº
racismo estrutural e institucional presente jogando pelo Real Madrid pela La Liga de 10.639/03. Fortaleza: EdUECE, 2015.
PIRES, Regis Alves Pires, A Pretagogia no
em todo o contexto do futebol brasileiro, futebol espanhola, quando foi chamado cotidiano da educação básica no município de
seja nos gramados, nas arquibancadas ou de macaco por torcedores do Valencia. É Itapipoca: contribuições para implementação da
nas equipes de transmissões esportivas importante perceber que não foi a lei nº 10.639/03, pag 162-172, - Perspectivas na
das emissoras de rádio e TV. primeira vez que esse mesmo jogador foi educação em narrativas, memórias e educação
Apenas notas de repúdio não bastam, é atacado com atos racistas na Espanha, popular: psicopedagogia, racismo e
necessário dialogar com as narrativas que mas não podemos virar as costas para o cultura/Maria Eliene Magalhães da Silva(org). –
Fortaleza: Imprece,2020.
contribuíram para simbolizar esse que ocorre também no Brasil, como o
Relatório Anual da Discriminação Racial no
racismo, já que “no Brasil de hoje, em que caso citado no início do texto com o F u t e b o l – E d i ç ã o
se conquista uma Lei que institui, pela jogador Paulão e na maioria das vezes não Complementar/Organizadores: Débora Macedo
primeira vez, o ensino da História e da se tem a divulgação por parte da mídia da Silveira Manera e Marcelo Medeiro
Cultura Africana e Afro-Brasileira nas esportivo, da forma que foi divulgado no Carvalho. -- 1. ed. -- Porto Alegre, RS:
escolas (10.639/03), torna-se um grande caso citado do Vini Junior. Essa ausência Observatório da Discriminação Racial no
desafio fazer a tradição oral, conteúdos Futebol & Editora Ludopédio, 2022.
curriculares, uma vez que os programas
*Regis Alves é Secretário de Combate
escolares tem sido, até agora, sempre
ao Racismo da FETAMCE,
eurocêntrico, baseados em princípios até
Coordenador do Fórum de Educação e
mesmo antagônicos das culturas negras”.
Diversidade Étnico Racial do Estado
(PETIT, 2015: p. 110).
do Ceará, e Coordenador de
Nesse sentido, há necessidade de
Organização Política do Movimento
dialogar com a base do chão das escolas e
Negro Unificado – MNU
dos centros de treinamentos das
.
categorias de bases dos clubes de futebol,
seja profissionais ou do futebol amador, e
mostrar para os atletas e toda a sociedade
brasileira a importância da contribuição
ESTAMOS POR NOSSA
dos jogadores negros e das jogadoras
negras no processo histórico do futebol demostra a falsa narrativa da democracia PRÓPRIA CONTA
brasileiro. Não podemos seguir racial no nosso cotidiano, cabendo
admitindo atos de racismo, como o destacar ainda que foram as provocações
ocorrido na Série A do Campeonato dos movimentos negros que fizeram com
Brasileiro, na partida entre Internacional que a Confederação Brasileira de Futebol
x Bahia (25/10/2014), em que o zagueiro – CBF, buscasse implementar no
Paulão falou que sua mãe e seu irmão Regulamento Geral das Competições –
escutaram insultos racistas contra o atleta, 2023 medidas de punição aos clubes que
em partida no estádio Beira-Rio, em Porto tiverem envolvimentos em atos racistas
Alegre (RS). no decorrer das partidas do campeonato
“No jogo anterior (a Inter e Goiás), brasileiro (Art. 134), e estejam
minha mãe estava no camarote (do Beira- promovendo campanha de combate ao
Rio) com o meu irmão, Paulinho. Não racismo nos jogos (“com racismo não tem
lembro se eu errei, e começaram a me jogo”).
xingar: “macaco, seu preto”. E meu irmão Mais que nunca, faz-se necessário
manter vivas as memórias dos vários
EXPEDIENTE
disse: “pô, respeita ao menos a mãe dele,
que está aqui. Xinga o time, e não ele”. Manés, Pelés, Dadas, Barbosas, Bigodes,
Fiquei sabendo. Fiz o gol (de bicicleta, no D e n e s , A r a n h a s , Ti n g a s , D i d a s ,
Goiás) e não comemorei por isso. Tiquinhos, Demas, Vinícius, assim como
Imagina? A tua mãe está no teu trabalho, das Formigas, Cristianes, Pretinhas,
as pessoas estão te agredindo. É normal, Barbaras, Martas, entre outros e outras,
ela sabe da minha profissão, sabe que que em seus respectivos clubes ou na
serei xingado. Mas é triste. As pessoas seleção brasileira, sofrem e enfrentam o
falaram que eu estava contra o time, racismo no cotidiano. Esta é uma luta de
quando fiz o gol e não comemorei, mas todos e todas que amamos o esporte e
não foi nada disso” (MANERA e estamos envolvidos em todas as esferas
CARVALHO, 2022: p. 16). do futebol. «Vidas negras importam»

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