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*por Régis Alves Contudo, cenas do mesmo tipo são REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
corriqueiras no decorrer das semanas pós-
Pensar o racismo no futebol brasileiro jogos dos diversos campeonatos de FILHO, Mario, O negro no futebol
brasileiro/Mario Filho, Rio de Janeiro: Murad,
é ter um olhar crítico sobre o legado do futebol, com os jornais estampando 2003. 5ª edição, 2010.
processo escravista no nosso cotidiano e manchetes em suas páginas de esporte, P E T I T, S a n d r a H a y d é e , P r e t a g o g i a :
refletir sobre a falsa democracia racial que muitas das vezes chocam a sociedade, Pertencimento, Corpo-Dança Afroancestral e
presente nas narrativas da mídia como foi o caso sofrido pelo jogador da Tradição Oral Contribuições do Legado
esportiva, que contribui para mascarar o seleção brasileira Vinícius Junior, Africano para a Implementação da Lei Nº
racismo estrutural e institucional presente jogando pelo Real Madrid pela La Liga de 10.639/03. Fortaleza: EdUECE, 2015.
PIRES, Regis Alves Pires, A Pretagogia no
em todo o contexto do futebol brasileiro, futebol espanhola, quando foi chamado cotidiano da educação básica no município de
seja nos gramados, nas arquibancadas ou de macaco por torcedores do Valencia. É Itapipoca: contribuições para implementação da
nas equipes de transmissões esportivas importante perceber que não foi a lei nº 10.639/03, pag 162-172, - Perspectivas na
das emissoras de rádio e TV. primeira vez que esse mesmo jogador foi educação em narrativas, memórias e educação
Apenas notas de repúdio não bastam, é atacado com atos racistas na Espanha, popular: psicopedagogia, racismo e
necessário dialogar com as narrativas que mas não podemos virar as costas para o cultura/Maria Eliene Magalhães da Silva(org). –
Fortaleza: Imprece,2020.
contribuíram para simbolizar esse que ocorre também no Brasil, como o
Relatório Anual da Discriminação Racial no
racismo, já que “no Brasil de hoje, em que caso citado no início do texto com o F u t e b o l – E d i ç ã o
se conquista uma Lei que institui, pela jogador Paulão e na maioria das vezes não Complementar/Organizadores: Débora Macedo
primeira vez, o ensino da História e da se tem a divulgação por parte da mídia da Silveira Manera e Marcelo Medeiro
Cultura Africana e Afro-Brasileira nas esportivo, da forma que foi divulgado no Carvalho. -- 1. ed. -- Porto Alegre, RS:
escolas (10.639/03), torna-se um grande caso citado do Vini Junior. Essa ausência Observatório da Discriminação Racial no
desafio fazer a tradição oral, conteúdos Futebol & Editora Ludopédio, 2022.
curriculares, uma vez que os programas
*Regis Alves é Secretário de Combate
escolares tem sido, até agora, sempre
ao Racismo da FETAMCE,
eurocêntrico, baseados em princípios até
Coordenador do Fórum de Educação e
mesmo antagônicos das culturas negras”.
Diversidade Étnico Racial do Estado
(PETIT, 2015: p. 110).
do Ceará, e Coordenador de
Nesse sentido, há necessidade de
Organização Política do Movimento
dialogar com a base do chão das escolas e
Negro Unificado – MNU
dos centros de treinamentos das
.
categorias de bases dos clubes de futebol,
seja profissionais ou do futebol amador, e
mostrar para os atletas e toda a sociedade
brasileira a importância da contribuição
ESTAMOS POR NOSSA
dos jogadores negros e das jogadoras
negras no processo histórico do futebol demostra a falsa narrativa da democracia PRÓPRIA CONTA
brasileiro. Não podemos seguir racial no nosso cotidiano, cabendo
admitindo atos de racismo, como o destacar ainda que foram as provocações
ocorrido na Série A do Campeonato dos movimentos negros que fizeram com
Brasileiro, na partida entre Internacional que a Confederação Brasileira de Futebol
x Bahia (25/10/2014), em que o zagueiro – CBF, buscasse implementar no
Paulão falou que sua mãe e seu irmão Regulamento Geral das Competições –
escutaram insultos racistas contra o atleta, 2023 medidas de punição aos clubes que
em partida no estádio Beira-Rio, em Porto tiverem envolvimentos em atos racistas
Alegre (RS). no decorrer das partidas do campeonato
“No jogo anterior (a Inter e Goiás), brasileiro (Art. 134), e estejam
minha mãe estava no camarote (do Beira- promovendo campanha de combate ao
Rio) com o meu irmão, Paulinho. Não racismo nos jogos (“com racismo não tem
lembro se eu errei, e começaram a me jogo”).
xingar: “macaco, seu preto”. E meu irmão Mais que nunca, faz-se necessário
manter vivas as memórias dos vários
EXPEDIENTE
disse: “pô, respeita ao menos a mãe dele,
que está aqui. Xinga o time, e não ele”. Manés, Pelés, Dadas, Barbosas, Bigodes,
Fiquei sabendo. Fiz o gol (de bicicleta, no D e n e s , A r a n h a s , Ti n g a s , D i d a s ,
Goiás) e não comemorei por isso. Tiquinhos, Demas, Vinícius, assim como
Imagina? A tua mãe está no teu trabalho, das Formigas, Cristianes, Pretinhas,
as pessoas estão te agredindo. É normal, Barbaras, Martas, entre outros e outras,
ela sabe da minha profissão, sabe que que em seus respectivos clubes ou na
serei xingado. Mas é triste. As pessoas seleção brasileira, sofrem e enfrentam o
falaram que eu estava contra o time, racismo no cotidiano. Esta é uma luta de
quando fiz o gol e não comemorei, mas todos e todas que amamos o esporte e
não foi nada disso” (MANERA e estamos envolvidos em todas as esferas
CARVALHO, 2022: p. 16). do futebol. «Vidas negras importam»