Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
150-152)
(…)
A composição química tem constituído a base da classificação dos minerais desde os
meados do século XIX. Tal justifica-se pela similaridade de propriedades evidenciada pelos mi-
nerais constituintes de cada classe, bem como pela analogia existente entre os contextos
geológicos em que os mesmos se desenvolvem. Na organização sistemática mais vulgar, os
minerais são divididos em classes, conforme o anião (ou grupo aniónico) predominante:
sulfuretos, óxidos e hidróxidos, halogenetos, carbonatos, sulfatos, carbonatos e silicatos. A
estas classes, adiciona-se a dos elementos nativos.
Certos autores incluem uma nona classe, impropriamente intitulada “minerais orgânicos”, na
qual encaixam alguns produtos de natureza orgânica associados ao mundo das rochas,
expressão contraditória e pouco feliz em relação ao conceito de mineral. Nesta classe procura-
se arrumar materiais como o âmbar (resina fóssil), o azeviche (um carvão vegetal fóssil), etc.
A classe dos elementos nativos reúne os elementos que ocorrem na natureza no estado
puro e as ligas naturais que frequentemente formam, sendo conhecidos cerca de vinte:
prata, cobre, platina e ferro entre os metálicos; antimónio, arsénio e bismuto entre os
semimetálicos; e enxofre, diamante e grafite entre os não metálicos.
Ouro, prata e cobre são elementos com certas afinidades entre si, constituindo, por isso,
um grupo isostrutural (grupo do ouro) com propriedades semelhantes no que se refere a
maleabilidade, ductilidade, ponto de fusão, condutibilidade eléctrica, etc. No caso do ouro e
da prata, os raios iónicos dos dois metais são idênticos (1,44 Å), o que permite a ocorrência
de soluções sólidas (electrum). A possibilidade de ocorrência de ligas naturais entre o cobre
e o ouro (ou a prata) é muitíssimo reduzida em virtude do menor tamanho do ião do primeiro
último (1,28 Å).
No grupo da platina incluem-se outros elementos metálicos afins, como o irídio, o ósmio,
o paládio, o ruténio e o ródio, referidos vulgarmente por platinídeos. Entre as ligas possíveis
destaca-se o platinirídio.
No grupo do ferro incluem-se o ferro puro (Fe), que raramente ocorre na superfície
terrestre, e duas espécies de níquel-ferro (a kamacite, com cerca de 5% de Ni, e a taenite,
muito mais rica em Ni), que são comuns nos meteoritos.
Entre os semimetálicos, para além dos acima referidos arsénio, antimónio e bismuto, têm
sido referenciados selénio e telúrio, muito menos frequentes. Também aqui se verificam
soluções sólidas como a allemontite (mistura de arsénio e antimónio).
Entre os não metálicos, o diamante e a grafite, dois minerais bem distintos, representam
dois arranjos estruturais diferentes da mesma substância elementar, o carbono: o diamante
é transparente e duríssimo (a mais dura substância natural conhecida); a grafite é opaca,
negra e um dos minerais menos duros, ao lado do talco.
Os óxidos são minerais comuns disseminados nas rochas, além de poderem ocorrer em
concentrações susceptíveis de constituir importantes recursos metálicos. O quartzo (SiO2),
ainda que apresentado na classe dos silicatos, por razões estruturais, não deixa de ser um
óxido, sendo um dos minerais mais comuns na crosta continental. São igualmente óxidos a
cassiterite (SnO2 – minério de estanho), a hematite (Fe2O3 – minério de ferro), a cuprite
(Cu2O – minério de cobre), e a uraninite (UO2 – minério de urânio), entre outros.
Na classe dos óxidos distinguem-se os simples de fórmula geral X2O, como a cuprite;
XO, como a zincite (ZnO); XO2, ou grupo do rútilo (de titânio) e de que faz parte a
cassiterite; X2O3 ou grupo da hematite, que engloba ainda a ilmenite e o corindo (Al2O3); e
os múltiplos de forma geral XY2O4, em que X e Y são respectivamente catiões metálicos
2+ 2+ 2+ 2+ 3+ 3+ 3+
bivalentes (Fe , Zn , Mg , Mn ) e trivalentes (Fe , Al , Cr ), de que são exemplos a
magnetite (Fe3O4) e a cromite (FeCr2O4).
-
Os hidróxidos são caracterizados pela presença do grupo (OH) ou por moléculas de
H2O. São exemplos de hidróxidos os bauxitos (gibbsite – Al(OH)3, diásporo e bohemite –
AlO.OH) e a goethite (FeO.OH), um dos minerais dos lateritos.
Os fosfatos dão o nome à classe que, além dos minerais ligados ao radical tetraédrico
3- 3-
(PO4) , reúne os de outros radicais geométrica e energeticamente idênticos, isto é, (AsO4)
3-
e (VO4) , respectivamente arsenatos e vanadatos.
Pertencem a esta classe a apatite, um fosfato de cálcio, a piromorfite, um fosfato de
chumbo, e a vanadinite, um vanadato de chumbo, isostruturais entre si e constituindo o
grupo da apatite.
VIII – Silicatos
4-
A unidade estrutural dos silicatos é o ião (SiO4) , o qual pelas suas características muito
particulares, permite a sua organização em vários graus de polimerização. Com efeito, as
4+ 2-
dimensões e as cargas, respectivamente, do ião coordenador Si e do ião coordenado O
permitem que o primeiro, tetravalente, positivo e pequeno, coordene quatro oxigénios,
bivalentes, negativos e maiores (a relação entre os raios iónicos do silício e do oxigénio é de
4-
cerca de 0,3) formando um tetraedro, (SiO4) .
Nestes termos, cada um dos iões de oxigénio aplica metade da sua carga negativa na
ligação ao silício, restando-lhe outra metade, que tanto pode funcionar para se unir a outros
catiões como para se ligar a outro ião de silício, ficando assim partilhado entre dois iões de
silício (ou entre dois tetraedros de silício). Este fenómeno pode verificar-se em um, dois, três
ou quatro dos oxigénios, promovendo, assim, diversos graus de polimerização.
Os diferentes grupos isostruturais reunidos na classe dos silicatos, classificados por
4-
ordem crescente do grau de polimerização dos tetraedros (SiO4) são os seguintes:
Nesossilicatos – tetraedros independentes, unidos entre si através de catiões
metálicos ligados aos oxigénios. A relação Si:O é igual a 1:4, de onde o grupo aniónico
4-
(SiO4) . Existem vários subgrupos de nesossilicatos cujas estruturas dependem das
2+
dimensões e cargas dos respectivos catiões. Nas olivinas, por exemplo, são o Fe e o
2+ 4-
Mg que asseguram a união dos tetraedros (SiO4) . Entre os mais conhecidos estão as
granadas, o zircão e o topázio.
Sorossilicatos – pares de tetraedros, compartilhando entre si um oxigénio. A relação
6-
Si:O é de 2:7, de onde o grupo aniónico (Si2O7) . É exemplo deste grupo o epídoto.
Ciclossilicatos – estrutura formada por anéis de três, quatro ou seis tetraedros,
correspondendo a três configurações cíclicas possíveis, de onde os grupos aniónicos
6- 8- 12-
(Si3O9) , (Si4O12) e (Si6O18) . Em todas, a relação Si:O é de 1:3. O grupo cíclico
12-
(Si6O18) é o mais comum, estando representado por minerais como a turmalina e o
berilo.
Inossilicatos – tetraedros associados em cadeias, que podem ser simples, nas
piroxenas e nos piroxenóides, ou duplas, nas anfibolas. Nas primeiras a relação Si:O é
de 1:3 e nas segundas de 4:11, de onde a existência, respectivamente, dos grupos
4- 2- 6-
(Si2O6) , (SiO3) e (Si4O11) .
Filossilicatos – os três oxigénios de cada tetraedro são simultaneamente
compartilhados com os tetraedros vizinhos, de modo a formarem uma estrutura plana,
prolongável em duas direcções do espaço. A relação Si:O é de 2:5 e daí o grupo
2-
aniónico (Si2O5) . São exemplo deste grupo as micas e os minerais do grupo das argilas.
4-
Tectossilicatos – agrupamento tridimensional dos tetraedros (SiO4) , no qual todos
os oxigénios de cada tetraedro estão compartilhados pelos tetraedros vizinhos. Incluem-
se nos tectossilicatos os minerais dos grupos da sílica (SiO2), dos feldspatos, dos
feldspatóides e dos zeólitos.
Nos silicatos em geral (excepto nos nesossilicatos, onde é geralmente muito baixa),
4+ 3+
pode ocorrer substituição entre o Si e o Al . No caso dos feldspatos, por exemplo, a razão
Al:Si é de 1:3 nos alcalinos (ortoclase – KAlSi3O8 e albite – NaAlSi3O8), aumentando até 2:2
na anortite (CaAl2Si2O8). Esta troca implica uma compensação de cargas que tem lugar nas
posições de coordenação octaédrica, geralmente por substituição entre um catião trivalente
e um bivalente. Acontece ainda haver outras substituições catiónicas com a criação de
vazios de ocupação estrutural.
Referências bibliográficas:
GALOPIM DE CARVALHO, A. M. (2000). Introdução ao estudo dos minerais. Âncora, Lisboa, 362 pp.
KLEIN, C. & HURLBUT, C. (1999). Manual of Mineralogy (after James D. Dana). 21st Edition, Revised, Wiley, New York,
704 pp.