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Faculdade Cásper Líbero

Pós Graduação em Produção e Práticas Jornalísticas na Contemporaneidade


Disciplina: Geopolítica e Economia Internacional
Professor: José Antônio Lima

Análise Escrita I - Turquia


Tiago Oliveira Baldasso

"A Turquia é um país europeu, um país asiático, um país do Oriente Médio, dos
Bálcãs, do Cáucaso, um vizinho da África, um país do Mar Negro, do Mar Cáspio,
de todos estes."
Ahmet Davutoglu, ex-primeiro ministro da Turquia (2014-16)

"Tenha em mente o quão valiosa para o Mundo é uma Turquia secular"


Safak Pavey, diplomata e congressista Turca

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A Turquia contemporânea tem suas origens no início do século XX,


consequência direta da fragmentação e do colapso do Império Otomano. Tendo
atingido o apogeu nos séculos XV e XVI, quando englobava uma área cerca de 7x
maior que a atual, o Império Otomano sofreu entre os séculos XVII e XIX um lento
processo de declínio, causado por derrotas militares, pela complexidade crescente
da máquina estatal-militar, pelo acirramento dos nacionalismos entre a população
dominada bem como pela crescente competição entre as potências europeias, que
resultaria na I Guerra Mundial, evento catalisador da seu colapso.1
Às vésperas da I Guerra, os Otomanos já vinham fragilizados por quase um
século de conflitos, tentativas frustradas de modernização do Estado e perdas
progressivas de territórios. Em 1908, eclode a chamada Revolução dos Jovens
Turcos - movimento surgido entre militares e intelectuais liberais que buscavam
preservar e modernizar o Estado, nos moldes de uma democracia liberal europeia -
um governo secular, regido por uma constituição e com eleições periódicas, em
oposição ao regime autocrático islâmico dos Sultões Otomanos.

1
KIGER, Patrick. Six Reasons Why the Ottoman Empire Fell. History.com. Disponível em:
<https://www.history.com/news/ottoman-empire-fall>. Acesso em: 30 de ago. de 2021.
Figura 1 - Extensão máxima do Império Otomano (1683-1699)

Fonte: Peter Hermes Furian - Getty Images. Disponível em


https://www.history.com/news/ottoman-empire-fall

Importante nesse período é salientar que começaram ali duas "tradições"


perenes na política da Turquia durante todo o século XX: uma tendência à
secularização (separação entre Estado e Islã) e à interferência dos militares na
política, via de regra "em nome" da defesa dessa separação.
Preocupados com a fragmentação do Império Otomano, os Jovens Turcos
conduzirão o país à I Guerra Mundial ao lado das potências centrais (Alemanha e
Áustria-Hungria) na esperança de reconquistar territórios ao leste do Império.
Derrotados em vários fronts, em 1918 os líderes turcos vão para o exílio e por um
breve período a Turquia fica sob controle/influência das potências da Entente,
através dos Tratados de Sykes-Picot (1916) e de Sèvres (1920).
A ocupação da Anatólia pelas potências estrangeiras alimentou um
sentimento nacionalista entre os Turcos, que iniciam uma Guerra de Independência
sob liderança de Mustafa Kemal Pasha, importante comandante militar durante a I
Guerra. Os turcos retomam rapidamente a Anatólia, lutando em múltiplos fronts
contra gregos, italianos, franceses, ingleses e armênios, em uma campanha
marcada também pelo extermínio e limpeza étnica de minorias não-muçulmanas.
Figura 2 - Ocupações estrangeiras na Anatólia após o Tratado de Sèvres

Fonte: Treaty of Sèvres, Wikipedia. Disponível em:


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Treaty_of_S%C3%A8vres_1920.svg

O ponto final desse conflito se dá em 1923, com o Tratado de Lausanne.


Neste ano se consolidou a República Turca, com fronteiras similares às de hoje.
Mustafa Kemal Pasha é eleito presidente e inicia um processo de modernização da
Turquia que terá profundo impacto, através das chamadas Reformas de Atatürk
(1922-38).

Figura 3 - Fronteiras da Turquia após o Tratado de Lausanne

Fonte: Treaty of Lausanne, Wikipedia. Disponível em:


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Turkey-Greece-Bulgaria_on_Treaty_of_Lausanne.png
As Reformas de Atatürk ("pai dos turcos", alcunha pelo qual ficaria
conhecido) tiveram papel pivotal na metamorfose da nação turca de um Império
multiétnico, multireligioso e fragmentado para um Estado unitário, republicano,
democrático e secular. A filosofia que guiou essas mudanças e que se tornaria
ideologia oficial do Estado ficou conhecida como Kemalismo.
Entre as principais heranças do período, estão a subordinação do Islã ao
Estado, o processo de ocidentalização da instituições políticas e legais (sufrágio
universal, democracia representativa multipartidária), investimentos maciços em
educação, ciência e no desenvolvimento e nacionalização da indústria, bem como
uma ressignificação do papel das mulheres na sociedade turca, que conquistaram o
direito à educação e ao voto.
Analisando os discursos do período, fica patente que as reformas de Atatürk
eram guiadas por uma confiança na ciência, na educação e na razão, além de uma
certa admiração pela Europa e pelo Ocidente, tidos como referência de caminho
pelo qual os dirigentes turcos esperavam alcançar a modernização do país.

CONTEXTO GEOGRÁFICO

É na Península da Anatólia, também chamada de Ásia Menor - trecho de


terra entre os Mares Mediterrâneo e Negro - que está localizada a maior parte da da
Turquia. O senso comum retoma frequentemente a imagem de uma área de
passagem, ponte entre Oriente e Ocidente, Ásia e Europa. Não obstante esse
lugar-comum, ao se debruçar mais atentamente à história do país, fica nítido o
quanto a geografia parece ter informado os dilemas políticos e o destino dos povos
que ao longo dos séculos habitaram a região.
Além de ser uma rota de transporte e comércio óbvia entre a Europa, o
Oriente Médio e África, nos arredores da sua metrópole mais importante, Istambul,
também ficam os estreitos de Bósforo e Dardanelos, que ligam o Mar Negro ao Mar
Mediterrâneo e possuem grande importância estratégica, gargalo pelo qual alguns
países, como a Rússia, conseguem acessar o Mediterrâneo e os Oceanos Atlântico
e Índico.
DEMOGRAFIA, ETNIAS E RELIGIÃO

A Turquia possui uma população majoritariamente urbana (76,1%)2 e


relativamente jovem, com menos de 12,7% de idosos (60+)3. Sua pirâmide etária
contrasta bastante com aquelas dos principais países europeus, que já estão em
processo avançado de envelhecimento da população. Os maiores grupos étnicos
são Turcos (70-75%) e Curdos (cerca de 19%) com outras minorias somando entre
7 e 12%45.

Figura 4 - Pirâmides etárias comparadas: Turquia, Brasil, Rússia e Alemanha

Fonte: Elaboração própria com base nos gráficos disponíveis em: https://www.populationpyramid.net/

2
United Nations Population Division. World Urbanization Prospects: 2018 Revision.
3
Population Pyramid, 2021. Página inicial. Disponível em:
<https://www.populationpyramid.net/sources>. Acesso em: 30 de ago. de 2021.
4
The World Factbook 2021. Washington, DC: Central Intelligence Agency, 2021. Estimativas de
2016.
5
Na Turquia, dados sobre composição étnica são politicamente sensíveis, não figuram no senso e
variam bastante de acordo com a fonte consultada.
Após os eventos desencadeados pela Primavera Árabe, em especial a
Guerra Civil na Síria, é estimado que a Turquia tenha se tornado o maior receptor de
refugiados do mundo. Entre estes, o maior grupo são os mais de 3,6 milhões de
refugiados sírios, que somados a outros no país representam 64,3% dos refugiados
globais.6 Essa migração recente engrossou o número de árabes no país, hoje o
terceiro grupo étnico mais relevante.
Apesar de contar com diferentes grupos étnicos, a população professa
majoritariamente o Islamismo (89%), com uma pequena minoria cristã (<0,3%),
cerca de 8,9% não-religiosos e 1,3% de outras religiões. Dentro do Islã, a corrente
predominante é a sunita (90%).7
Embora predominante, o Islã na Turquia tem influência política limitada: um
dos pilares da Reformas de Atatürk nos anos 20-30 foi o secularismo, que visava a
substituição do sistema legal e político Otomano por um mais moderno, de feições
ocidentais. Medidas como a subordinação das mesquitas ao controle do Estado, a
adoção do alfabeto latino em detrimento do árabe e a substituição da Shari'a por um
código civil ilustram essa tendência. A partir dos anos 1980, no entanto, certos
setores da sociedade turca começam a questionar esse secularismo, rotulado de
"Kemalismo" - em alusão a Mustafa Kemal Atatürk -, e ganham força a partir de
2002, com a eleição do atual presidente Recep Erdogan, fundador do AKP - Partido
da Justiça e Desenvolvimento, principal partido do país e sigla da direita mais
conservadora e islâmica.

ECONOMIA E COMÉRCIO INTERNACIONAL

A Turquia é hoje uma importante potência regional em ascensão, sendo


considerada um país de industrialização recente. Possuindo uma população de 84,3
milhões8, o país detém o 20º PIB em termos nominais e o 11º quando considerada a

6
Syria Regional Refugee Response: Turkey. UNHRC. Disponível em: <unhcr.org>. Acesso em 30 de
ago. de 2021.
7
OZKOK, Ertugrul. A Turquia não é mais um país 99 por cento muçulmano. Hurriyet, 2019.
Disponível em:
<https://www.hurriyet.com.tr/yazarlar/ertugrul-ozkok/turkiye-artik-yuzde-99u-musluman-olan-ulke-degil
-41220410>. Acesso em 30/08/2021. Tradução nossa.
8
United Nations Population Division. World Population Prospects: 2019 Revision.
paridade do poder de compra910. A nível de comparação, sua área é 2x maior que a
da Alemanha e sua renda per capita (PPC) é de pouco mais que a metade: cerca de
32 mil dólares, patamar similar ao da Rússia e pouco mais que o dobro do Brasil.
Pela posição estratégica, somada ao envolvimento em diversos dos grandes
conflitos e questões geopolíticas do século XX, não é de se estranhar que o país
seja membro fundador ou antigo de órgãos como ONU, FMI, Banco Mundial, OCDE
e G20, além de gozar de boas relações com os Estados Unidos (sendo
Estado-membro da OTAN desde 1951) e com a União Europeia, com a qual iniciou
negociações em 2005 visando uma futura entrada no bloco. Alguns países
europeus, no entanto, enxergam a Turquia com desconfiança, por ser uma grande
economia em ascensão com uma grande população de maioria islâmica.
Na relação com o FMI, órgão do qual é membro desde 1947, a Turquia, ao
longo das décadas de 60, 70 e 80, enfrentou frequentes crises de balanço de
pagamentos, dívida externa e hiperinflação, tendo recebido diversos empréstimos
do Fundo. Desde 2002, na esteira da estabilização econômica, o país se manteve
solvente, usufruindo apenas de créditos para investimento/desenvolvimento pela
última vez em 2005.11
O país tem dois problemas sérios de desigualdade: disparidades na renda e
entre as províncias. O índice de GINI da Turquia é de 41,9, patamar elevado se
comparado com Alemanha, França e Reino Unido, todos abaixo de 36.12 Além
disso, as províncias mais orientais, principalmente as de etnia curda, possuem uma
renda per capita bem aquém daquela das províncias ricas como Istambul e Ankara.
Das 81 províncias, as 10 mais abastadas possuem uma renda per capita 3x maior
em média que as 10 mais pobres.13

9
World Economic Outlook Database, April 2021. IMF.org. International Monetary Fund.
10
Disparidade entre valores nominais x PPC se deve à forte desvalorização relativa entre a Lira
Turca e o Dólar/Euro.
11
Turkey: History of Lending Commitments. IMF. Disponível em
<https://www.imf.org/external/np/fin/tad/extarr2.aspx?memberKey1=980&date1key=2008-03-3> .
Acesso em 30/08/2021.
12
World Development Indicators. World Bank, 2021. Disponível em
<https://data.worldbank.org/indicator/SI.POV.GINI?locations=TR>. Acesso em 30/08/2021.
13
List of Turkish provinces by GDP. Turkish Statistical Insitute, 2017. Disponível em
<https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Turkish_provinces_by_GDP#cite_note-:0-1>. Acesso em
30/08/2021.
No comércio internacional, a Turquia tem na Europa o maior mercado para as
suas exportações (55%), as quais representam cerca de 28% do PIB14, proporção
abaixo da média da Zona do Euro (42,5%). Tem como principais parceiros
comerciais Alemanha, Reino Unido, Iraque, China e Rússia. As indústrias do turismo
e do transporte representam a maior parte das exportações de serviços, enquanto
veículos automotores, maquinário industrial e têxteis estão entre as principais
exportações de produtos. Do lado das importações, matérias primas, combustíveis e
maquinário industrial são os principais itens da cesta15, sugerindo um perfil
manufatureiro, reforçado pela tendência de migração da indústria europeia para
países de mão de obra mais barata, como a Turquia e países do leste europeu.

Figura 5 - Exportações de bens e serviços da Turquia (2019)

Fonte: The Atlas of Economic Complexity, 2019.

A Turquia aproveitou quase duas décadas de alto crescimento do PIB per


capita, que triplicou entre 1999 e 2016. Durante a Crise Global de 2008, o PIB turco
teve uma forte queda, principalmente devido a contração da demanda externa16.
Apesar disso, houve uma recuperação rápida, graças a uma combinação de
estímulo fiscal com baixas nas taxas de juros, manobra possível graças a uma
14
World Development Indicators. World Bank, 2021. Disponível em
<https://data.worldbank.org/indicator/NE.EXP.GNFS.ZS?name_desc=false>. Acesso em 20 de ago.
de 2021.
15
The Atlas of Economic Complexity. The Growth Lab at Harvard University. Disponível em
<http://www.atlas.cid.harvard.edu>. Acesso em 30 de ago. de 2021.
16
https://www.oecd-ilibrary.org/docserver/5km36j7d320s-en.pdf?expires=1630605208&id=id&accnam
e=guest&checksum=D59D3912366D8AC616D60B823556010C
posição macroeconômica pré-crise favorável e um bom nível de regulação do seu
mercado financeiro.17
A partir de 2013, no entanto, a Turquia viu o nível de desemprego subir,
chegando a 13,67% em 201918, o que somados a uma recente alta da inflação e
aumentos na taxa básica de juros (19%, uma das maiores do mundo) no último
quadriênio (2016-2020), tem gerado dúvidas sobre a solidez dos fundamentos
macroeconômicos do país, já se falando em uma possível crise monetária: a Lira,
moeda nacional, acumulou a partir de 2013 uma desvalorização de quase 4x frente
ao dólar, o que teve um efeito duplo - barateou as exportações turcas de
manufaturados, mas ao mesmo tempo encareceu as importações, contribuindo
ainda mais para o aumento da inflação.

Gráfico 1 - Desvalorização relativa da Lira frente ao Dólar (2000-2021)

Fonte: The Economist, 2021. Disponível em:


https://www.economist.com/europe/2021/07/08/recep-tayyip-erdogans-image-and-turkeys-economy-a
re-both-taking-a-battering

17
The 2008-09 Crisis in Turkey. OCDE, 2010. disponível em
<https://www.oecd-ilibrary.org/docserver/5km36j7d320s-en.pdf?expires=1630605208&id=id&accname
=guest&checksum=D59D3912366D8AC616D60B823556010C>. Acesso em 30 ago. 2021.
18
ILOSTAT database. ILO. Disponível em <https://ilostat.ilo.org/>. Acesso em 30 de ago. de 2012.
POLÍTICA E DEMOCRACIA

O sistema político da Turquia moderna foi, de 1923 até 2018, uma


democracia parlamentar representativa. O legislativo é operado através de um
colegiado unicameral, a Grande Assembleia Nacional (GAN), que elegia até 2017 o
primeiro ministro, cabendo ao judiciário zelar pelo cumprimento da constituição.
As duas maiores forças políticas no país são o AKP (Partido da Justiça e
Desenvolvimento), direita conservadora anti-Kemalista e mais embasada no
Islamismo e o CHP (Partido Republicano do Povo) herdeiro do legado de Atatürk,
embasado em ideais de centro-esquerda e de perfil secular.
O atual presidente, Recep Tayyip Erdogan (AKP), é uma figura-chave para
entender o momento político vivido pelo país. Fundador do AKP, conquistou em
2002 a maioria na GAN, no embalo da rejeição do CHP/Kemalismo, tido como
responsável pela estagnação econômica das décadas de 80/90. Manejando de
forma hábil o controle da inflação e a modernização da economia turca, Erdogan
manteve fácil maioria no parlamento durante o decênio de 2002-2011, aproveitando
também altas taxas de aprovação.
O relativo sucesso dos anos iniciais de seu governo foi dando espaço a
excessos a partir de 2010, quando se tornaram comuns perseguições e ameaças a
jornalistas e opositores, enquanto os discursos oficiais assumiram mais abertamente
posições islâmicas e de questionamento dos direitos das mulheres.19
Em 2013, na esteira dos eventos da Primavera Árabe, protestos contra a
especulação imobiliária em um parque de Istambul serviram de estopim para
manifestações nas metrópoles da costa oeste do país, de tradição mais
liberal/progressista. Com demandas difusas e pouco definidas, os manifestantes
encontraram forte repressão por parte do governo, que enxergou na revolta um foco
de instabilidade e oposição. Começa a crescer o descontentamento da população
turca urbana, progressista e dos militares, historicamente fardados com a missão de
proteger a secularidade das instituições.
Em 2016, uma tentativa de golpe de estado, engendrado supostamente por
militares de oposição, é rapidamente contida por forças militares e civis legalistas. O
putsch mal sucedido deu margem para uma escalada autoritária por parte do AKP,

19
Why the world is worried about Turkey? Vox News, 2017. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=WBZHdbfuFtw&t=207s>. Acesso em 30 de ago. de 2021.
que nos meses seguintes inicia um ciclo de perseguições, investigações e detenção
de funcionários públicos, militares e civis que supostamente teriam conexões com o
golpe. Como consequência dessa "purga", mais de 96 mil pessoas foram detidas,
acelerando a deterioração da democracia no país.20
Em 2017, tendo saído da posição de primeiro ministro para a de Presidente
(cargo cerimonial), Erdogan convoca um plebiscito, onde por uma vitória em estreita
margem conseguiu operar uma guinada autoritária em seu favor, concentrando
poderes no seu atual cargo de Presidente, como o controle do orçamento, do
exército, a indicação de juízes, o poder de dissolver o parlamento bem como a
extensão do próprio mandato21. A manobra rompe com uma tradição de quase um
século de relativo equilíbrio entre legislativo, executivo e judiciário, transformando a
Turquia de um sistema parlamentar para um sistema presidencialista.
De 2018 a 2021 a Turquia tem passado por problemas sérios na sua
economia. Inflação alta, juros altos e a desvalorização da Lira parecem vir como
sintomas de uma espécie de condução coercitiva das políticas fiscal e monetária.
Críticos acusam Erdogan de tentar manipular de maneira populista os preços na
economia: em menos de 2 anos, já demitiu 3 presidentes do Banco Central Turco
que não concordaram com suas diretrizes.22 Essa crise, somada ao stress gerado
pela pandemia da Covid-19 e à escalada autoritária de Erdogan, põe em cheque a
sua popularidade e a possibilidade de reeleição em 2023.

20
Turkey Purge. Disponível em <https://www.turkeypurge.com>. Acesso em 30 de ago. de 2021.
21
Why the world is worried about Turkey? Vox News, 2017. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=WBZHdbfuFtw&t=207s>. Acesso em 30 de ago. de 2021.
22
Recep Tayyip Erdogan’s image and Turkey’s economy are both taking a battering. The Economist,
2021. Disponível em
<https://www.economist.com/europe/2021/07/08/recep-tayyip-erdogans-image-and-turkeys-economy-
are-both-taking-a-battering>. Acesso em 30 de ago. de 2021.

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