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ADUBAÇÃO VERDE

1-INTRODUÇÃO

A adubação verde é uma pratica agrícola utilizada há mais de 2.000 anos por chineses,
gregos e romanos, para aumentar a produção das lavouras. No século XIX foi comprovado que
o efeito fertilizante das leguminosas é devido à fixação biológica de N (FBN) quando as raízes
não são arrancadas e as plantas incorporadas. Somente após Lavoisier ter descoberto em 1777
o N no ar e Pasteur ter identificado a existência dos micróbios, é que Hellriegel e Wilfath
comprovaram que os nódulos das raízes das leguminosas tinham bactérias capazes de fixar o
N. Assim, o maior estímulo para o uso da adubação verde era, justamente, a função que as
bactérias em simbiose com as leguminosas possuíam em fixar N atmosférico e o disponibilizar
para as plantas.
No Brasil, os primeiros estudos foram realizados no Instituto Agronômico (IAC), no
estado de São Paulo, sendo obtidos resultados muito positivos em que o “efeito melhorador
doa adubos verdes” foi evidente. A partir de então, as pesquisas foram realizadas por todo o
país, principalmente em órgãos públicos de pesquisa, ensino e extensão rural, sempre com a
colaboração de agricultores e das cooperativas.
A adubação verde é importante, sobretudo pelo auxílio na recuperação da fertilidade
do solo e, embora seja adotada por muitos agricultores, devido às suas distintas vantagens,
ainda é ignorada pela maioria. Foi temporariamente esquecida e desestimulada em nossas
condições, particularmente nas décadas de 60 e 70, no auge da chamada “Revolução Verde”,
quando houve forte estimulo à adoção dos chamados “insumos modernos”, dentre os quais,
os fertilizantes químicos.
Mais recentemente, com o crescimento da consciência ambiental e a preocupação
com o uso de insumos fortemente vinculados a recursos não renováveis, sobretudo pelos
adeptos da agricultura orgânica, foi retomada, estando de acordo com a atual tendência
mundial para obtenção de alimentos mais saudáveis e produzidos com a mínima utilização de
insumos externos à propriedade e em sistemas que possam contribuir com a preservação
ambiental e a biodiversidade.

2-CONCEITOS

Adubação Verde

Antigamente, o conceito de adubação verde estava relacionado com o plantio de


leguminosas com a finalidade de realizar a fixação biológica de nitrogênio. No entanto,
atualmente a adubação verde pode ser conceituada como sendo a utilização de plantas em
rotação, sucessão ou consorciação com as culturas, incorporando-as ao solo ou deixando-as na
superfície, visando a proteção superficial, bem como a manutenção e melhoria das
características físicas, químicas e biológicas do solo, inclusive a profundidades significativas.
Além disso, o termo plantas de cobertura pode ser utilizado com sinônimo de adubação verde.

Rotação

Rotação é o plantio de culturas diferentes em uma mesma área em anos agrícolas diferentes.

Ex: Outubro 2018: milho

Outubro 2019: Adubo verde

Sucessão

Sucessão é o plantio de culturas diferentes em uma mesma área em épocas diferentes dentro
do mesmo ano agrícola.
Ex: Out 2018 – Soja
Abril 2019 – Adubo verde
Out 2019 - Milho
Abril 2020 - Trigo
Consócio
O consócio consiste no plantio simultâneo de culturas diferentes em uma mesma área.
Ex: Outubro 2018 milho com adubo verde nas entrelinhas

Cultivo Intercalar
O cultivo intercalar é um tipo de consórcio em que se cultiva uma cultura anual e outra perene
na mesma área
Ex: Novembro 2018 café – (3,5 x 0,7m)
Dezembro – março (adubo verde) nas entrelinhas do café

3-FUNÇÕES DA ADUBAÇÃO VERDE

A adubação verde promove inúmeros benefícios à cultura principal e ao solo de modo


geral. A seguir são enumeradas as principais funções da adubação verde:
A) Proteger o solo de chuvas de alta intensidade;
B) Manter elevada a taxa de infiltração de água no solo;
C) Aumentar a capacidade de retenção de água no solo;
D)Atenuar as oscilações térmicas, favorecendo a vida microbiana do solo;
E) Recuperar solos degradados;
F) Mobilizar nutrientes lixiviados em profundidades e pouco solúveis, devido ao crescimento
vigoroso e em profundidade do sistema radicular, principalmente o das leguminosas;
G) Incorporar nitrogênio da atmosfera devido à fixação com bactérias do gênero Rhizobium,
que vivem em simbiose nos nódulos radiculares das leguminosas;
H) Reduzir a população de plantas daninhas por efeitos físicos e/ou alelopaticos;
I) Melhorar a eficiência de fertilizantes minerais – as raízes das espécies utilizadas como adubo
verde liberam ácidos orgânicos que ajudam a solubilizar os minerais do solo (como o fósforo),
deixando-os disponíveis para as culturas subsequentes;
J) Criar condições ambientais favoráveis a vida biológica do solo;
K) Diminuição de oscilação térmica

4-ESPÉCIES RECOMENDADAS

A escolha da espécie de adubo verde a ser introduzida no sistema é de suma


importância uma vez que cada uma apresenta características próprias que devem ser
consideradas, objetivando a melhoria do sistema. A espécie a ser introduzida deve ser capaz
de melhorar fatores limitantes à produção, atendendo em segundo plano, objetivos
secundários mais amplos, como melhoria do sistema.
Para a adubação verde, sugere-se o consórcio de leguminosas (crotalárias, mucunas,
feijão de porco, ervilhaca, guandú), gramíneas (aveia, milheto) e outras plantas como nabo
forrageiro, trigo mourisco, girassol etc.
As gramíneas, com decomposição mais lenta, fornecem uma cobertura residual mais
estável ao passo que as leguminosas contribuem com um aporte maior de nitrogênio e
decomposição mais rápida.

Características das espécies


A espécie com a finalidade de adubação verde deve ter as seguintes características:
A) Crescimento rápido: efeito supressor sobre as plantas daninhas;
B) Grande produção de massa;
C) Capacidade de fixação biológica do nitrogênio (FBN);
D) Bom desenvolvimento radicular;
E) Resistência a pragas e doenças;
F) Facilidade na obtenção de sementes;
G) Fácil extinção;
H) Capacidade de reciclar nutrientes;
I) Não ser hospedeiro de pragas e doenças;
J) Produzir receita ao produtor;

5-SISTEMAS DE ADUBAÇÃO VERDE

a) Primavera-Verão (Rotação)

Essa modalidade de adubação verde é a mais antiga e tradicional. Consiste no plantio


de adubos verdes no período de outubro a janeiro. Entre as espécies utilizadas para esta época
destacam-se as mucunas, o feijão-de-porco, feijão guandu, as crotalárias e o labe-labe.
As principais vantagens desse tipo de adubação verde são a elevada produção de
massa verde e a grande quantidade de N incorporada ao solo, além da proteção ao solo
durante o período de chuvas de alta intensidade nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. A
desvantagem desse sistema é a ocupação das áreas agrícolas durante o período em que
normalmente são cultivadas as culturas de interesse econômico.
Uma alternativa para a adoção dessa modalidade é a utilização da rotação de áreas, ou
seja, a divisão da propriedade em glebas (A, B, C, D), reservando uma por ano para o plantio de
leguminosas e as restantes para culturas comerciais.

1ºAno: Arroz(A) Feijão(B) Milho(C) A Verde(D)


2ºAno: A Verde(A) Arroz(B) Feijão(C) Milho(D)
3ºAno: Milho(A) A verde(B) Arroz(C) Feijão(D)
4ºAno: Feijão(A) Milho(B) A Verde(C) Arroz(D)

b) Outono-Inverno (Sucessão)
Esse tipo é mais recente e baseia-se na utilização de adubos verdes durante o
outono/inverno (março a julho) na entressafra das culturas comerciais de verão.
Entre as vantagens dessa modalidade de adubação, destacam-se a proteção de áreas
normalmente ociosas, controle de erosão, a diminuição de plantas daninhas, não coincide o
período de cultivo com as culturas principais e o fornecimento de cobertura morta para
preparos convencionais do solo.
Todavia, nas regiões sob cerrado (região Sudeste, Centro-oeste), de inverno quente e
seco, apresenta restrições pela falta de espécies que se desenvolvem bem nessas condições.
Assim, o uso deste sistema fica restrito para as regiões: sul, algumas regiões do sudeste e
centro-oeste do Brasil que utilizam as espécies de aveia preta, milheto, azevém, nabo
forrageiro, tremoço, ervilhacas, como adubos verdes.

c) Consórcio

Nessa modalidade o adubo verde é plantado durante o período de utilização da área


com outra cultura, em uma fase que o adubo verde não lhe venha comprometer a produção.
Esse sistema adapta-se principalmente para pequenas áreas e onde não for possível o
sistema outono/inverno. Esse sistema apresenta também uma limitação com relação ao
manejo, podendo impedir que os tratos culturais e as colheitas sejam feitas de forma
mecanizada.

d) Cultivo intercalar

O cultivo intercalar é um tipo de consórcio em que o adubo verde é plantado nas


entrelinhas de uma cultura perene, como café ou citrus por exemplo. Nessa modalidade a
recomendação geral é que a implantação do adubo verde deve ser feita a partir do segundo
ano da cultura , em áreas onde os riscos de erosão são pequenas. Nesse caso, a planta
utilizada como adubo verde não deve ter hábito de crescimento trepador (ex: mucunas).

6-SEMEADURA, MANEJO E INCORPORAÇÃO DO ADUBO VERDE

Antes da semeadura, deve haver um controle prévio da população de plantas daninhas


para favorecer a emergência das plântulas e seu desenvolvimento inicial. Em geral, esse
controle é estendido até os 45-50 dias do ciclo de adubos verdes, por meio de capinas manuais
ou mecânicas, com cultivador ou roçadora.
No manejo da fitomassa produzida, essa pode ser cortada e deixada para
decomposição na superfície do solo, incorporada, ou ainda, a planta pode ser conduzida até o
fim de seu ciclo para colheita das sementes.
No caso de espécies eretas com aptidão a produção de fitomassa(crotalárias, guandu),
quando semeadas em outubro, quando cultivadas nas entrelinhas de plantas perenes, pode
ser realizadas podas preliminares em dezembro/janeiro, entre 30 a 50 cm da superfície do
solo, visando à rebrota e redução da altura das plantas. Esse processo facilita bastante o
manejo posterior da fitomassa e, sobretudo, a colheita das sementes.
O corte dos adubos verdes deve ser feita quando as plantas atingirem
aproximadamente 50% da floração, época em que estão com alto teor de N, boa produção de
massa e ainda não estão muito lenhosas. A exceção deve ser feita para as mucunas em que o
corte deve ser feito por ocasião do início do florescimento, devido ao seu florescimento
demorado e desigual, podendo produzir assim sementes e infestar a área, se tornar uma
espécie de planta daninha. Para as gramíneas o corte deve ser feito no estágio de grão leitoso.
Para se obter uma incorporação eficiente, inicialmente deve-se picar o material
utilizando-se rolo faca, roçadoras, grades de disco e posteriormente incorporá-lo através de
uma aração. O enterrio deve preceder a operação de plantio da cultura comercial, em pelo
menos 20 dias, período necessário para que ocorra o pico de fermentação, onde normalmente
há a elevação da temperatura e ocorra a imobilização de nutrientes.

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