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INTRODUÇÃO
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Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pós graduando em Gestão em
Segurança Pública Lato Senso pela Faculdade Barddal, e Cadete da Polícia Militar de Santa Catarina. E-
mail: edusteil@gmail.com.
Assim, a figura representativa do estado, através de sua administração
pública, atuando indissociavelmente e de maneira integrada às mais diversas entidades
formais e informais que compõem o sistema de segurança pública no país, há que lançar
mão dos meios adequados para consecução de seu fim precípuo: a preservação da
ordem pública como meio de promoção da paz e desenvolvimento social.
Gerando impactos irreversíveis e refletindo na qualidade de vida dos
cidadãos em geral, o crescimento desordenado tem causado uma sobrecarga nos
sistemas públicos de saúde, transporte, educação e, sobretudo, ocasionando a eclosão de
violência e criminalidade, o que acarreta gastos e um incremento de investimentos cada
vez maior nas áreas acima mencionadas.
Outro problema observável nas grandes cidades é justamente a dificuldade
de deslocamento causada pela falta de estrutura viária, herança desse crescimento
desordenado daquelas.
Percebe-se também que, infelizmente, o imediatismo enraizou-se no seio da
sociedade globalizada, de maneira que as respostas a serem oferecidas não mais devam
ser postergadas. Nesse sentido, a atividade Policial Militar precisa acompanhar a
realidade social na qual está inserida.
Diante desse contexto, em uma proporção cada vez maior, o uso de
helicópteros tem se revelado, por diversos motivos, um instrumento indispensável para
a efetividade do exercício da polícia ostensiva, função que é realizada pela Polícia
Militar.
A aviação policial militar do estado de Santa Catarina, representada pelo
Batalhão de Aviação da Polícia Militar (BAPM), apresenta-se, então, como instrumento
viável para o aumento da eficiência do mister constitucional reservado às Polícias
Militares (o exercício de polícia ostensiva e preservação da ordem pública), sobretudo
no que tange a sua atuação em ocorrências de alto e altíssimo risco em Santa Catarina.
É neste diapasão que o presente trabalho, de caráter descritivo e
exploratório, pretende contribuir, apontando o surgimento da aviação na atividade
policial, a introdução do helicóptero no policiamento, bem como o seu aparecimento na
Polícia Militar de Santa Catarina, a fim de que se possa analisar a competência do
BAPM para atuar em eventos críticos de alto e altíssimo risco. Por fim, algumas
operações aéreas típicas de polícia ostensiva, realizadas pelo BAPM, foram destacadas.
1 O SURGIMENTO DA AVIAÇÃO NA ATIVIDADE POLICIAL
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Eram conhecidos por “Daredevil Pilots” (pilotos destemidos ou, literalmente, desafiadores do diabo) e,
mais comumente, por “Barnstormers” (atacantes de celeiros, literalmente), apelido esse em razão de
uma das manobras preferidas de tais aviadores, que consistia voar por dentro de celeiros, atravessando-
os, com resultados muitas vezes trágicos.
acarretando a morte de oito pessoas e ferindo outras vinte uma.
Somado a total ausência de regras de Aviação Civil, tal contexto acabou por
acarretar um elevado número de acidentes aeronáuticos, o que culminou com a
necessidade de criação de uma unidade de aviação policial voltada ao combate dos ditos
“delitos de aviação”.
Assim, em 24 de outubro de 1929, ápice da crise econômica, o então chefe
de Polícia do “New York Police Departament” (NYPD), Comissário Grover Whalen,
precursoramente deu início à atividade aérea criando a Divisão de Serviço Aéreo do
NYPD, a qual tinha por finalidade combater, à época, "a nova ameaça de nossa moderna
civilização, o aviador incompetente e descuidado", conforme mencionou Wanamaker II
(1994) citado por Gambaroni (2007).
Pode-se dizer que, com tais medidas, as demonstrações aéreas sobre Nova
Iorque foram rapidamente extinguidas, restabelecendo-se a tranquilidade e preservando-
se inúmeras vidas. Gambaroni (2007) destaca que poucos processos contra tais
aviadores foram lavrados, sendo a atividade predominantemente preventiva.
No que tange à aviação policial no Brasil, é importante mencionar que, de
maneira irreversível, o nome do Brasil restou assinalado na história da aviação, ao
lançar o nome de Alberto Santos Dumont como o Pai da Aviação.
Nos campos de Bagatelle, França, a bordo do primeiro avião impulsionado a
gasolina, Santos Dumont alçava voo em uma máquina mais pesada que o ar, em 23 de
outubro de 1906. Sobre o feito de Santos Dumont, naquele dia ímpar, descreve Jorge
(2003, p.186):
Agora aquele homenzinho teimoso estava ali, disposto a conquistar o céu
com um aparelho “mais pesado que o ar”, sonho que muitos classificam
como fantástico e impraticável. Ele deu partida, e logo uma das rodas ergueu-
se do solo. O 14-bis parou em poucos segundos, mas houve, além desta,
várias tentativas. Ao fim da tarde, após reparos mecânicos, tornou a tentar.
As rodas correm, correm, correm, correm, e eis que se levantam, eis que já
não tocam mais o solo. Mais de mil pessoas, perplexas, maravilhadas,
contemplam o milagre.
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Numa região disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina, rica em erva-
mate e madeira, fortemente influenciada pelo fanatismo religioso, aliada à falta de regularização da
posse de terras dos moradores e da insatisfação da população hipossuficiente, região essa onde a
presença do poder público era desprezível, os então denominados caboclos formaram um grupo
organizado que, utilizando de táticas de guerrilha, atacava as forças federais e estaduais.
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O primeiro piloto militar brasileiro foi o Tenente Jorge Henrique Moller, da Marinha de Guerra, obtendo
a licença em 29 de abril de 1911, na França.
Até 1930, o serviço de aviação da Força Pública desenvolveu-se
consideravelmente, com o estabelecimento de campos de pouso no interior
do Estado, aquisição de novas aeronaves e expansão dos quadros de pilotos,
observadores e mecânicos. Mas, a Revolução de outubro de 1930 acabou
com os sonhos da aviação paulista; como a Força Pública participou dos
combates ao lado dos legalistas, a vitória dos revolucionários trouxe,
inevitavelmente, o fim do serviço de aviação e, particularmente, da
Esquadrilha de Aviação da Força Pública, a qual foi dissolvida a 18 de
dezembro de 1930, exatamente 17 anos após sua criação. Todo o
equipamento e munição foram transferidos ao Exército, encerrando assim,
mais uma vez, as atividades aéreas da Força Pública de São Paulo, incluindo
a própria Escola de Aviação.
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Armée de L’ Air, em francês, literalmente, Exército do Ar. Denominação da Força Aérea Francesa.
detalhes técnicos, mesmo assim foi apontado o referido desenho6 como precursor da
ideia do voo vertical, falhas essas talvez propositalmente idealizadas para que
justamente não fosse copiado.
Com as companhias americanas Bell Helicopters e Sikorsky, após a Segunda
Guerra Mundial, que os helicópteros passaram a ser produzidos em escalas comerciais,
oportunizando-se para o mercado civil a venda de suas máquinas.7
Em apenas dois anos após ter sido homologado para a operação comercial, o
NYPD, de forma pioneira, conforme destacado anteriormente, passou a fazer uso dessa
nova e versátil ferramenta. Em 30 de setembro de 1948, sob o comando do Capitão Gus
Crawford, um Bell 47B, nas cores da Polícia de Nova Iorque, ganhou os ares daquela
municipalidade, ressalta a Bell Helicopter Textron (1999).
Nesta perspectiva, o NYPD, mantendo-se fiel no emprego de aeronaves de
asas rotativas, passou a ser referência no que diz respeito à sua utilização, não somente
nos Estados Unidos, mas no mundo todo.
É possível dizer que a utilização de helicópteros na atividade policial deixou
de ser considerado um instrumento de luxo de algumas polícias há bastante tempo,
tornando-se um instrumento fundamental para a execução de suas missões e, devido às
características deste equipamento, para a obtenção de resultados positivos em vez de
aumentar indefinidamente o número de efetivo e viaturas.
É o que afirmou o Tenente Michael T. Casey, do Departamento de Polícia
de Phoenix, Arizona, EUA, citado por Lima (1994, p. 61):
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Gambaroni (2007) explica que essa folha, manuscrita por volta de 1487 e 1490, permaneceu totalmente
desconhecida até o seu descobrimento em 1796 pelo Institut de France, sendo publicada e divulgada
somente em 1881.
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A Bell Helicopters foi a companhia que recebeu a primeira certificação comercial, preceitua Pereira
Netto (1985), em que pese os modelos de helicópteros americanos utilizados durante o conflito mundial
tenham sido os Sikorsky. Em 8 de março de 1946, o Bell Modelo 47 recebeu o Certificado de
Aeronavegabilidade, sendo, o Bell 47, como ficou conhecido, produzido até 1974 anos, em versões de
dois e três lugares, os quais ainda são encontrados em operação em diversos cantos do mundo .
Vale dizer que os helicópteros passaram a ser introduzidos nas atividades
Policiais Militares a partir da década de 80, empregados por aquela que, entre os anos
1913 e 1930, já havia colocado a atividade aérea a serviço da população: Polícia Militar
do Estado de São Paulo (antiga Força Pública).
Note-se que importantes resultados foram alcançados, os quais propiciaram
a consolidação do uso deste equipamento no âmbito da Segurança Pública, como afirma
Falconi (2003, p. 52-53):
5. MISSÃO:
a. Geral - Realizar missões de radiopatrulhamento aéreo, especialmente
operações de busca, resgate, salvamento e operações policiais de grande vulto
em todo o território estadual.
b. Eventual - Realizar missões planejadas, de rotina ou de apoio a órgãos
governamentais, e atender solicitações do Governador do Estado.
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GATE é um grupamento policial de operações especiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Assim, em razão do Brasil já contabilizar casos trágicos envolvendo a queda
da aeronave e morte dos policiais tripulantes de outros Estados, face à segurança da
tripulação, forçosamente é válido repensar o emprego do helicóptero em atividades que
envolvam alto risco.
Questão importante no aprimoramento de técnicas de abordagem com o uso
de helicópteros refere-se ao tiro embarcado em aeronaves, algo perfeitamente viável,
apesar das controvérsias existentes entre plataforma de observação e plataforma de tiro.
Um exemplo clássico da necessidade de tiro embarcado aconteceu em
outubro de 2009 no Rio de Janeiro, quando uma aeronave do Grupamento Aéreo e
Marítimo (GAM) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), o
helicóptero Fênix 03, foi abatida em missão de resgate de policial ferido. Realizado o
pouso forçado no campo da vila Olímpica do Sampaio, após ter o aparelho pegado fogo
ainda no ar, três policiais morrem e outros três ficam feridos. (NA VILA, 2011)
Também, vale destacar o evento ocorrido em novembro de 2007, onde o
policial civil Eduardo Mattos foi alvejado na cabeça e morreu quando estava a bordo de
um helicóptero da Polícia Civil e participava de uma operação na região do Morro do
Adeus, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Outro episódio recém ocorrido no cenário mundial foi a intervenção do
“Time 6” dos Seals9 na captura e neutralização de Osama Bin Laden, na madrugada de
02 de maio de 2011, em Abbottabad, Paquistão. Conforme apontado por Naylor (2011),
quatro aeronaves MH-60 Black Hawk foram empregadas no assalto e permaneceram no
perímetro até a exfiltração, sendo uma avariada e abandonada no local.
Deste modo, visando à manutenção das habilidades técnicas do efetivo, a 2ª
Companhia do Batalhão de Aviação da Polícia Militar, sediada em Joinville/SC,
organiza treinamentos frequentes, de acordo com planejamento anual previsto em seu
plano de ensino. Tais instruções são fruto de estudos baseados em casos reais
vivenciados pela tripulação. Somente no ano passado, houve quatro situações de
confronto armado envolvendo a guarnição do helicóptero Águia 01.
Recentemente destacou-se a elaboração de um manual de embarque e
desembarque tático e tiro embarcado, no sentido de implementar tais técnicas na tropa.
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A Marinha dos Estados Unidos, vulgarmente conhecida como Navy SEALs, é principal força de
operações especiais e uma parte da Comando de Guerra Especial Naval (Naval Special Warfare
Command - NSWC), bem como a componente marítima do Comando de Operações Especiais Unidos
Estados (United States Special Operations Command - USSOCOM).
Para que se pudesse elaborar esse manual, sob a autorização e coordenação do comando
do BAPM, foram realizados alguns ensaios, os quais envolveram não só policiais do
BAPM, como o Major PM Coelho, Capitão PM Cota, Capitão PM Machado, Capitão
PM Reisdorfer, Sub-Tenente PM Wodonos, os Cabos PM Da Silva e Delagnelo,
Soldados PM Carpes, Alessandre, Melo, Quadros, César e Luiz, mas também
instrutores de tiro, como o Major PM Fernando André.
No referido evento teste, os integrantes do BAPM objetivavam identificar
uma ameaça, seguida de sua contenção e posterior averiguação através da realização de
pouso em área conflagrada, concluindo as ações com a abordagem em solo pela
tripulação.
Também, foram realizados disparos de fuzil em uma pista de alvos, onde
resultados positivos foram alcançados. No aspecto técnico, constatou-se a necessidade
de uma mira do tipo red dot10 sem qualquer tipo de aumento.
Pode-se apontar outro exemplo da necessidade de tiro embarcado, desta vez
vivenciado em Joinville/SC, quando da fuga de criminosos em um GM/Kadett, após
assalto ocorrido na tarde de 29 de março de 2011. Na altura do posto da PRF
o Águia 01 interceptou o veículo, que seguiu em fuga na BR-101 e não atendeu a ordem
da parada do Policial Rodoviário Federal, continuando pela rodovia em direção a
Curitiba/PR.
O condutor desviou para uma marginal e, após quase colidir, por algumas
vezes, com outros veículos, acabou batendo em um motoqueiro. No entanto, o que veio
a justificar uma ação mais ativa dos tripulantes da aeronave foi o fato da tripulação ter
avistado um pouco mais a frente um grupo de crianças dispostas no caminho a ser
percorrido pelos fugitivos. Disparos de contenção foram dados, fazendo com que o
condutor perdesse o controle da direção, rendendo-se em seguida.
No tocante à exposição da tripulação a riscos, quando do emprego da
aeronave em um determinado evento crítico, é válido destacar que não há subordinação
funcional nessa espécie de tomada de decisão. É o chamado Gerenciamento de Recursos
da Tripulação.
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Também conhecido por Reflex, Infinity, Mira Holográfica ou Mira Optrônica, o Sistema de Mira RED
DOT (Ponto Vermelho) usa um sistema de prismas que refletem um retículo luminoso (laser) no
interior de um receptáculo, ou diretamente sobre as lentes componentes da mira. Esta imagem colimada
parece ser projetada em um ponto flutuante no infinito, que dá a sensação que o retículo de mira se
projeta diretamente sobre o alvo, quando na verdade ela é apenas um reflexo visto unicamente pelo
atirador.
No BAPM, independentemente do posto ou graduação ocupada pelo
tripulante TOM-M, isto é, do Soldado ao Coronel, aquele que verificar que não tem
condições de atuar naquela ocorrência específica, a missão será abortada e não haverá
nenhuma responsabilização administrativa, nenhuma punição disciplinar
concernentemente a esta não atuação na ocorrência em tela.
Por fim, no que diz respeito ao auxílio prestado pelo BAPM em ocorrências
policiais, e até mesmo a intervenção direta em determinados casos, vale destacar alguns
dados estatísticos.
No que diz respeito ao auxílio prestado pelo BAPM em ocorrências
policiais, e até mesmo intervenção direta em determinados casos, no ano de 2009 foram
detidas 110 (cento e dez) pessoas. Já no ano de 2010, 161 (cento e sessenta e uma)
pessoas foram detidas com a ajuda do BAPM. No 1º trimestre de 2011, houve a
detenção de 06 (seis) pessoas.
Destaca-se então que, somente nos dois últimos anos, foram detidas mais de
270 pessoas com o auxílio dos helicópteros da PMSC, demonstrando a fundamental
importância desse equipamento.
Seja como plataforma de observação ou como meio de transporte e alto
poder de persuasão e repressão, auxiliando as tropas terrestres, sua instrumentalidade
não se restringe ao suporte e intervenção policial. Sua flexibilidade de emprego torna o
helicóptero capaz de realizar os mais variados atendimentos a pessoas. Nessa esteira, o
BAPM vem, desde a sua criação, quando ainda denominado GRAER, desempenhando
as seguintes missões:
Atendimento de 1o Trimestre
2009 2010
pessoas de 2011
Ac.Trânsito 268 194 33
Trauma 115 120 16
Caso Clínico 57 31 6
Buscas 66 18 9
Afogamentos 31 15 4
Arrastamento 12 12 0
Missão de misericórdia 89 140 23
Incêndio 7 11 0
Defesa Civil 51 0 28
Total 696 541 119
Fonte: BAPM adaptado.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
JORGE, Fernando. As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont. 4 ed. rev. São
Paulo: T. A. Queiroz, 2003.
NA VILA Olímpica, um helicóptero abatido pelo tráfico. Extra, Rio de Janeiro, 12 dez
2010. Disponível em: < http://extra.globo.com/casos-de-policia/na-vila-olimpica-um-
helicoptero-abatido-pelo-trafico-391287.html>. Acesso em: 11 mar 2011.
NAYLOR, Sean D. Mission helo was secret stealth Black Hawk. Army Times.
Disponível em: <http://www.armytimes.com/news/2011/05/army-mission-helocopter-
was-secret-stealth-black-hawk-050411/>. Acesso em: 29 maio 2011.
O presente trabalho teve como orientador o Sr.Giovani de Paula, Ten Cel PMSC, MSC.