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FERRAMENTAS

DA QUALIDADE

Gabriela Fonseca Parreira Gregorio


Ferramentas avançadas
da qualidade: análise
de modos de falhas
e efeitos (FMEA)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os benefícios que a aplicação do FMEA pode proporcionar


em um processo produtivo.
„„ Descrever os tipos de FMEA existentes.
„„ Indicar o momento adequado para a elaboração do FMEA em um
novo desenvolvimento.

Introdução
Nenhum processo ou produto é isento de falhas. Cabe às organizações
preveni-las e/ou controlá-las a fim de alcançar resultados satisfatórios. No
entanto, geralmente, não é possível atuar sobre todas as falhas ou essa
pode não ser a melhor estratégia organizacional.
O FMEA (do inglês, Failure Mode and Effect Analysis, análise de modo
e efeito de falhas) é uma técnica que pode ajudar a identificar e prevenir
falhas e contribuir com decisões a respeito de onde e como atuar em
determinado momento. Trata-se de um método que contribui com a
melhoria contínua dos processos e dos produtos.
Neste texto, você conhecerá os potenciais benefícios que o FMEA
pode proporcionar aos processos de produção, estudará os diferentes
tipos de FMEA e identificará o momento mais indicado para aplicação
do FMEA no desenvolvimento de um produto ou processo.
2 Ferramentas avançadas da qualidade: análise de modos de falhas e efeitos (FMEA)

Benefícios do FMEA para o processo produtivo


O FMEA é uma ferramenta eficaz na identificação de falhas potenciais que
podem incidir sobre um produto ou processo, e um de seus ganhos principais
está em auxiliar as organizações na priorização de ações sobre aquelas falhas
que apresentam maior risco. Essa técnica surgiu em meados do século XX e
é amplamente utilizada por empresas a fim de identificar onde e como atuar
em relação aos possíveis problemas.
Para Lafraia (2001, p. 101), o FMEA “[...] é uma técnica indutiva, estru-
turada e lógica para identificar e/ou antecipar a(s) causa(s) e efeitos de cada
modo de falha de um sistema ou produto.” Essa técnica pode contribuir com
a identificação, priorização e melhoria de um processo a fim de reduzir a
incidência de falhas reais e, assim, ajudar também na percepção agrupada
das falhas potenciais (INOUE; YAMADA, 2010).
Segundo Palady (1997), o FMEA é uma técnica eficiente na prevenção
de problemas ao dispor de uma estrutura sistematizada para analisar, aferir e
atualizar os processos organizacionais de forma geral ou o desenvolvimento
de um produto. Ainda de acordo com o autor, a aplicação da técnica apresenta
um baixo custo.
Diante dos conceitos e características supracitados, percebe-se que a apli-
cação do FMEA pode trazer inúmeros benefícios para a empresa. Focando
nas vantagens para o processo produtivo, identifica-se a contribuição com a
redução da incidência de falhas, a disponibilização de um documento con-
tendo a evolução do processo produtivo, o auxílio na decisão do que fazer em
determinado momento na empresa ou de onde concentrar os esforços para
obter as melhorias necessárias.
Os principais benefícios da aplicação do FMEA, para Lafraia (2001), são
os listados a seguir:

„„ é uma ferramenta de comunicação útil para identificar a importância dos


atributos do produto e do processo, suas funções e os efeitos das falhas;
„„ diminui falhas potenciais;
„„ reduz riscos relacionados ao produto para o cliente final;
„„ diminui o tempo de ciclo de um produto;
„„ desenvolve um procedimento ou método para prevenir defeitos, em
detrimento de detectá-los ou corrigi-los.
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Palady (1997) adiciona que a aplicação eficaz do FMEA propicia os se-


guintes benefícios:

„„ reduz custo e tempo de desenvolvimento;


„„ reduz o índice de reclamações dos clientes e aumenta o nível de
satisfação;
„„ disponibiliza um documento que permite acompanhar a evolução do
produto e do processo na organização;
„„ mantém o conhecimento do processo na organização;
„„ diminui custos dispensáveis no processo;
„„ reduz a reincidência de erros;
„„ contribui com a construção de princípios de ações preventivas;
„„ reduz imprevisibilidades no processo;
„„ provê respostas ágeis para os problemas priorizados.

Ross et al. (2007) reiteram que um dos benefícios do FMEA é a con-


tribuição com a gestão da qualidade ao promover a melhoria contínua dos
serviços prestados. Ainda, o uso adequado da ferramenta auxilia na redução
dos custos da empresa e no aumento da satisfação dos clientes (MCDERMOTT;
MIKULAK; BEAUREGARD, 2009), fatores importantes diante de cenários
tão competitivos.
Outros benefícios do FMEA estão diretamente relacionados aos objetivos
de sua aplicação na organização. De acordo com a estratégia organizacional,
com a disponibilidade de recursos, com o objetivo de aplicação da ferramenta,
entre outros, os benefícios podem ser distintos. Enquanto uma empresa atua
para reduzir a frequência com a qual a falha ocorre, por exemplo, outra pode
focar em eliminar a causa para que a falha não volte a ocorrer, pelo menos
pelo mesmo motivo. A Figura 1 sistematiza os benefícios que o FMEA pode
trazer, considerando o foco dado pela empresa.
4 Ferramentas avançadas da qualidade: análise de modos de falhas e efeitos (FMEA)

Prevenir a causa de
uma falha

Facilitar a detecção de
uma falha para que a Dificultar a
mesma não chegue ocorrência de falhas
ao consumidor

Reduzir os efeitos
de uma falha

Figura 1. Benefícios do FMEA para a empresa.

De forma geral, o FMEA pode limitar o risco do processo e contribuir


com a melhoria da segurança, a qualidade, a confiabilidade e o desempenho
dos processos ao atuar sobre determinadas falhas do sistema.

Tipos de FMEA existentes


Considerando o elemento que está sendo analisado a fim de reduzir a inci-
dência de falhas, o FMEA pode ser classificado em diversos tipos. Conhecer
o tipo de FMEA aplicado é importante para planejar e conduzir a aplicação
da técnica de forma adequada.
Para Lafraia (2001), existem dois tipos básicos de FMEA: de projeto de
produto e de processo. Para o autor, no FMEA de projeto de um produto,
as causas das falhas estarão relacionadas a problemas no projeto, nas fases
de concepção e no desenvolvimento, enquanto no FMEA de processo serão
avaliadas causas de falhas originadas no processo de fabricação. O FMEA de
projeto é conhecido como DFMEA (design FMEA) e o FMEA de processo
como PFMEA (process FMEA).
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De acordo com Dailey (2004), a maior diferença entre o DFMEA e o


PFMEA é a procedência da informação, pois enquanto o primeiro faz uso de
uma lista estruturada de materiais, o segundo utiliza como fonte de informação
os diagramas de fluxo de processo.

Lafraia (2001) exemplificou a diferença entre o DFMEA e o PFMEA aplicados à Carcaça


do eixo traseiro de um veículo. Se fosse aplicado um FMEA de projeto do produto, as
causas da falha estariam relacionadas a problemas no projeto, como dimensionamento
inadequado, desconhecimento do estado de tensão sobre o objeto, especificação
errada de material. Por outro lado, na aplicação do PFMEA, as causas teriam origem no
processo de fabricação inadequado, como, por exemplo, “formação de vazios durante
a fundição” (LAFRAIA, 2001, p. 104).

As duas classificações supracitadas são as mais utilizadas no ambiente


industrial; no entanto, não são as únicas existentes. Outros autores classificam
o FMEA em mais tipos, de acordo com o foco de aplicação da ferramenta.
Stamatis (2003), de forma mais detalhada, classifica o FMEA em quatro tipos,
como apresentado na Figura 2.

FMEA de
projeto

Tipos
FMEA de FMEA de
de
serviço sistema
FMEA

FMEA de
processo

Figura 2. Tipos de FMEA.


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A seguir, cada tipo de FMEA será explicado, de acordo com as definições


atribuídas por Stamatis (2003):

„„ FMEA de projeto: busca identificar os modos de falha potenciais antes


que a produção do produto seja iniciada e ele seja lançado no mercado.
As ações investigativas ocorrem durante a especificação do projeto.
„„ FMEA de sistema: busca avaliar os sistemas no estágio inicial de con-
cepção e projeto. Baseia-se nas necessidades dos clientes. Trata-se
de uma variante do DFMEA e busca identificar falhas relacionadas
às funcionalidades de um sistema ou subsistema e ao atendimento às
necessidades e expectativas dos clientes.
„„ FMEA de processo: busca identificar falhas ao longo do processo de
produção e montagem. Segundo Pedrosa (2014), está relacionado à
capacidade do processo de atender os requisitos a fim de atingir a
conformidade do produto.
„„ FMEA de serviço: busca analisar os modos de falha e definir as ações
necessárias antes do primeiro serviço ser prestado.

Independentemente do tipo de FMEA, o método de aplicação da ferramenta


é o mesmo. De acordo com Lafraia (2001), o método é composto por etapas
de identificação do modo de falha, seus efeitos e suas causas; avaliação das
medidas de controle atuais adotadas pela empresa; estimativa do risco ava-
liando os critérios de severidade; ocorrência e detecção; e definição de ações
corretivas e preventivas, considerando as falhas de maior risco. O Quadro 1
apresenta um exemplo de FMEA de processo, elaborado por Silva et al. (2015),
aplicado às operações de produção de iogurte de um laticínio de pequeno
porte, com o objetivo de melhorar a qualidade.
Quadro 1. FMEA de processo aplicado a um laticínio

Modo de Ação corretiva re-


Processos Efeito da falha Causa da falha S O D NPR
falha comendada

Recebimento Contamina- Descarte do leite Falha no fornecedor 10 6 1 60 Análise minuciosa das


do leite ção do leite características do leite

Pasteurização Temperatura Temperatura acima no Controle inadequado 7 3 2 42 Treinamento para os


acima de 90°C processo de aquecimento da temperatura operadores e cons-
pode influenciar nas cientização acerca da
Termômetro desregulado
características do produto limpeza do aparelho

Tempera- O mesmo serve para o Controle inadequado 7 3 2 42


tura abaixo resfriamento feito a uma da temperatura
de 38°C temperatura inferior a 38°C
Termômetro
desregulado

Repouso da Tempo Influência nas característi- Controle inade- 7 3 1 21 Controle do tempo


mistura inferior a cas do produto, visto que quado do tempo de repouso
seis horas a mistura deve ficar no mí-
nimo 6 horas em descanso
(Continua)
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(Continuação)

Quadro 1. FMEA de processo aplicado a um laticínio

Modo de Ação corretiva re-


Processos Efeito da falha Causa da falha S O D NPR
falha comendada

Teste de Erros de O tempo não foi sufi- Medição errada pelo 9 2 6 108 Realizar inspeção
acidez medidas ciente para fazer a quebra funcionário responsável
da primeira coalhada
Resfriamento Tempo de Contagem errada do 8 3 3 72 Utilizar cronômetro
quebra da tempo inicial do pro- para iniciar o tempo
primeira coa- cesso de resfriamento de resfriamento
lhada inferior
a 1 hora do
início do
resfriamento

Envase Limpeza Contaminação do iogurte Operador sem treina- 10 4 5 200 Treinamento e cons-
com produtos químicos mento adequado cientização quanto à
limpeza da envasadora
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Rotulação Rótulos Clientes insatisfeitos Análise errônea por 6 8 1 48 Controle de rótulos


rasgados ou parte do funcioná-
Alterar a estética
borrados rio responsável
dos frascos

(Continua)
(Continuação)

Quadro 1. FMEA de processo aplicado a um laticínio

Modo de Ação corretiva re-


Processos Efeito da falha Causa da falha S O D NPR
falha comendada

Armazena- Temperaturas A qualidade do produto Controle errôneo 7 4 2 56 Inspeção rigorosa no


mento superiores pode ser afetada, uma de temperatura termômetro da câ-
ou inferio- vez que a temperatura de mara de refrigeração
res a 5°C armazenamento antes da
expedição final é de 5°C

*NPR = número de prioridade de risco.

Fonte: Adaptado de Silva et al. (2015).


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Ao analisar o Quadro 1, percebe-se que problemas relacionados à limpeza


da operação de envase podem promover a contaminação do iogurte com
produtos químicos, o que apresenta um risco alto (NPR igual a 200). Assim, a
ação corretiva sugerida à equipe foi o treinamento e a conscientização quanto
à limpeza da envasadora.
O Quadro 2 apresenta um exemplo de aplicação de FMEA, elaborado por
Tondin, Dreger e Barbosa (2017), com o objetivo de melhorar o desenvolvimento
de bolsas e acessórios. O foco era identificar falhas originadas pelo setor de
desenvolvimento de produtos, a fim de promover melhorias no produto final.
A aplicação do FMEA no caso supracitado evidencia problemas em com-
ponentes do produto, evidenciando a necessidade de ações para reduzir a
incidência de falhas quando as bolsas e os acessórios chegarem ao mercado.
Por meio dos exemplos apresentados, percebe-se a ampla utilidade do FMEA
como ferramenta de melhoria organizacional diante do potencial de promover
progressos nos produtos, processos e serviços. Cabe a cada organização a
definição do(s) tipo(s) de FMEA a ser(em) aplicado(s) a fim de orientar a
condução da avaliação de falhas e planejar os documentos necessários.

Momento para elaboração do FMEA em um


novo desenvolvimento
Os projetos de desenvolvimento são compostos por uma série de etapas que
vão desde as fases iniciais de planejamento, passando pelo projeto e finalização
do desenvolvimento de um produto ou de um processo e o acompanhamento
até o fim do ciclo de vida. Rozenfeld et al. (2006, p. 3) define o processo de
desenvolvimento como:

[...] um conjunto de atividades por meio das quais busca-se, a partir das
necessidades do mercado e das possibilidades e restrições tecnológicas, e
considerando as estratégias competitivas e de produto da empresa, chegar às
especificações de projeto de um produto e de seu processo de produção para
que a manufatura seja capaz de produzí-lo.
Quadro 2. FMEA de projeto aplicado ao desenvolvimento de bolsas e acessórios

Índice Índice

Ações
Função Modo de falha Efeito S O D NPR S O D NPR
recomendadas

Costura — Seção onde Costura Alça 7 7 6 294 Criar ficha de 7 5 3 105


reúnem os aviamentos descosturando arrebenta processo — POP
cortados da bolsa dando
forma ao produto

Material — Material Material não Material 8 5 6 240 Teste de Qualidade 8 3 2 48


escolhido deve ser possui boa descasca para os materiais
durável e resistente qualidade selecionados

Rebite — Rebite Altura do pé do Quando o 8 5 4 160 Teste de resistência 8 4 2 64


tem a função de re- rebite pode não rebite serve dos pontos críticos
forço e segurança, ser suficiente para reforço e para o rebite, em
ou também apenas segurança em alguns pontos da
detalhe decorativo uma alça o bolsa demanda
mesmo pode mais força
arrebentar
(Continua)
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(Continuação)

Quadro 2. FMEA de projeto aplicado ao desenvolvimento de bolsas e acessórios

Índice Índice

Ações
Função Modo de falha Efeito S O D NPR S O D NPR
recomendadas

Enfeite cai com Quando 2 4 2 16 2 3 1 6


facilidade é apenas
enfeite a
bolsa pode
ficar sem
esse detalhe
desejado

Mosquetão de me- Metal quebra Não é pos- 7 6 3 126 Teste de resistência 7 5 2 70


tal — permitir retirar com facilidade sível usar a
a alça opcional alça opcional
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*NPR = no inglês, Risc Priority Number, número de prioridade de risco.

Fonte: Adaptado de Tondin, Dreger e Barbosa (2017).


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Diante de tantas etapas e atividades, surge o seguinte questionamento:


quando aplicar o FMEA em um novo desenvolvimento a fim de reduzir a
incidência de falhas potenciais?
Para Stamatis (2003), o FMEA de projeto deve ser utilizado na fase de
especificação do projeto. Para Rozenfeld et al. (2006), existem três fases
destinadas à especificação do projeto, sendo elas:

„„ Projeto informacional: tem o objetivo de definir os requisitos do produto


com seus respectivos valores, a partir da ideia do produto. Trata-se de
um modelo textual do produto.
„„ Projeto conceitual: estágio no qual desenvolve a concepção do produto
por meio da criação e de proposições de soluções alternativas.
„„ Projeto detalhado: tem o objetivo de completar as especificações do
produto para que ele possa ser entregue à manufatura ou outras fases
do processo de desenvolvimento.

Como o FMEA possui uma estratégia preventiva e preditiva de falhas,


pode ser aplicado ainda na etapa de desenvolvimento e nas fases de projeto,
reduzindo a ocorrência, facilitando a detecção de falhas potenciais e reduzindo
os retrabalhos em estágios posteriores de produção (FRANK et al., 2014).
Para Borgonovi et al. (1993), o FMEA deve ser integrado ao processo de
projeto, sendo aplicado, desde as fases iniciais, no projeto informacional,
quando os critérios de projeto e os parâmetros de performance estão sendo
definidos. Ainda de acordo com os autores, a técnica deve ser aplicada em
todas as demais fases, aumentando o nível de detalhes, passando pelo projeto
conceitual e pelo projeto detalhado.
Sakurada (2001) afirma que o FMEA deve ser iniciado o mais rápido
possível, pelos seguintes motivos (SAKURADA, 2001):

„„ os primeiros estágios do ciclo de vida tem maior influência na confia-


bilidade do produto;
„„ nas fases iniciais investe-se 15% do custo total, mas define-se 95% do
custo do ciclo de vida do produto.
14 Ferramentas avançadas da qualidade: análise de modos de falhas e efeitos (FMEA)

Quanto mais cedo for aplicado o FMEA, mais fácil e de menor custo serão
as mudanças para a melhoria do produto. Porém, nas fases iniciais, o número
de informações é baixo, aplicando a abordagem funcional para o modo de
falha. Após o projeto detalhado, quando a quantidade de informações é maior,
é possível aplicar as abordagens funcionais e estruturais, conforme recomenda
a norma americana MIL-STD 1629A (1980) (SAKURADA, 2001).
O FMEA é uma ferramenta viva, que deve ser aplicada continuamente
na organização. Considerando o modelo de processo de desenvolvimento de
produtos proposto por Rozenfeld et al. (2006), apresentado na Figura 3, o
FMEA tem larga utilidade na macrofase de desenvolvimento, que, segundo
os autores, destaca os aspectos tecnológicos relacionados ao produto, suas
características e sua forma de produção.

Pré Desenvolvimento Pós

Planejamento
Acompanhar Descontinuar
estratégico
produto/ produto
dos produtos
processo

Gates >>

Planejamento Projeto Projeto Projeto Preparação Lançamento


de projeto informacional conceitual detalhado para do
produção produto

Processos Gerenciamento de mudanças de engenharia


de apoio
Melhoria do processo de desenvolvimento de produtos

Figura 3. Fases do processo de desenvolvimento de produtos.


Fonte: Adaptada de Rozenfeld et al. (2006).

Considerando a figura exposta acima, o DFMEA e o PFMEA têm maior


destaque e aplicabilidade nas fases de projeto e de preparação para a produ-
ção. Aplicada nessas fases, a técnica proporciona a vantagem de possibilitar
a identificação de falhas potenciais e definir a estratégia de ação antes que o
produto chegue ao mercado. No entanto, nada impede que seja aplicado em
outras fases como, por exemplo, após o lançamento do produto.
Ferramentas avançadas da qualidade: análise de modos de falhas e efeitos (FMEA) 15

O FMEA de projeto (DFMEA) tem início no projeto informacional e deve


ser aplicado até o fim do projeto detalhado. Por outro lado, o FMEA de pro-
cesso (PFMEA) é iniciado após o projeto detalhado, quando todos os sistemas,
subsistemas e componentes do produto estão definidos, e deve ser finalizado
antes do produto ser lançado do mercado, conforme apresentado na Figura 4.

Projeto Projeto Projeto Preparação


informacional conceitual detalhado para
produção

FMEA de projeto FMEA de processo

Fim do FMEA de Fim do FMEA de


projeto processo

Figura 4. Momentos de aplicação do FMEA.


Fonte: Adaptada de Rozenfeld et al. (2006).

O FMEA é uma ferramenta de grande aplicabilidade, considerando que


pode abranger elementos distintos do sistema produtivo (o projeto, o processo,
o serviço, o sistema) e, dessa forma, pode ser aplicado em momentos diferentes,
mas sempre com o objetivo de aumentar a confiabilidade, a qualidade e o nível
de satisfação do cliente.

DAILEY, K. W. The FMEA pocket handbook. [S. l.]: DW Publishing Co., 2004.
FRANK, A. et al. Integração do QFD e da FMEA por meio de uma sistemática para
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Leituras recomendadas
AGUIAR, D. C. Modelo conceitual para a aplicação de FMEA de processo na indústria au-
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BORGOVINI, R.; PEMBERTON, S.; ROSSI, M. Failure mode, effects, and criticality analysis
(FMECA). [S. l.]: Reliability Analysis Center, 1993.

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