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SE
O
DE
L
CAPÍTU
CDU 331.101.262
O
Claudia Simone Antonello
Objetivos de
aprendizagem
compreender e analisar a noção e o processo de autodesenvolvimento.
Abordar algumas das dimensões que constituem o processo de autodesenvolvimento
e sua relação com a aprendizagem organizacional.
Analisar a importância do autodesenvolvimento no desenvolvimento de competências.
identificar algumas tendências e iniciativas das organizações para facilitar o
autodesenvolvimento.
Figura 2.1
Interação entre o mundo interno e o mundo externo no processo de desenvolvimento do indivíduo.
Fonte: adaptado de Pedler (1994, p. 157).
de receber e reagir de modo produtivo. Desse modo, o ser humano que aprende
é aquele que desenvolve a atenção como um processo vivo, quer dizer, aquele
exercita plenamente o seu modo de ser. No modo ter, quem aprende conserva o
conteúdo do aprendizado na memória e nas anotações. No modo ser, o indiví-
duo produz ou cria sempre algo novo, apropriando-se do que é aprendido.
A transformação orientada para a aprendizagem organizacional só é
possível na medida em que se inicia a transformação contínua do indivíduo,
sujeito do processo educativo. O autodesenvolvimento, na aprendizagem or-
ganizacional, possibilita ao funcionário da empresa, independente de sua po-
sição hierárquica, a conquista de sua autonomia como ser, permitindo-lhe o
pleno uso de sua liberdade de escolher alternativas, de fazer opções durante o
aprendizado, o qual, na verdade, é constante. Se a autonomia do funcionário
na organização for incentivada, necessariamente seu pensamento crítico será
estimulado, o que é base da expressão humana.
Apesar da diversidade de princípios que embasam o desenvolvimento de
gerentes, dois salientam-se entre eles: o autodesenvolvimento e a aprendiza-
gem autodirigida. Ambos os princípios enfatizam que o desenvolvimento de
gerentes deve ser dirigido por eles mesmos, ao reconhecerem a necessidade de
desenvolver a si próprios e ao estarem dispostos a aprender (Antonacopoulou,
2000). Esses princípios também sugerem que os gerentes, enquanto indiví-
duos, tenham o “poder” para escolher o que aprender e como se desenvolver.
Esta perspectiva é corroborada por pesquisas realizadas já há muito tempo
(Boydell, 1982; Sutcliffe, 1988), as quais sugerem que os indivíduos não po-
dem ser forçados a aprender ou a se desenvolverem sem seu consentimento.
Baseado nos princípios de formação para adultos (Knowles et al., 1984), o
autodesenvolvimento enfatiza a escolha e a autodireção, e alinhado a prin-
cípios da área de desenvolvimento de pessoas, em um primeiro momento,
concentra-se mais no desenvolvimento do indivíduo do que no do coletivo.
34 Parte I – Estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual
Reflexão e experimentação
Todos os seres humanos – não apenas os profissionais – necessitam tor-
nar-se competentes em tomar uma ação (agir) e simultaneamente refletir
sobre esta ação e aprender a partir dela. (Argyris; Schon, 1974, p. 4)
Figura 2.2
Ciclo de aprendizagem vivencial.
Fonte: adaptado de Kolb (1984).
Autoconhecimento e autoconsciência
conhecimento do que posso fazer: refere-se ao que o indivíduo sabe que é pos-
sível fazer, caso ele queira ter possibilidades razoáveis de êxito, e ao que é melhor
evitar. É uma forma de autoconhecimento que impede a sub/superestimação das
próprias capacidades.
conhecimento do que sei: em particular, do que entendo.
conhecimento de quem sou e de quem desejo ser: desenha a base da personalida-
de e da identidade do indivíduo.
FigUra 2.3
Os três níveis de autoconhecimento.
fonte: adaptado de swieringa e Wierdsma (1995, p. 28).
O autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional 39
Desenvolvimento
Responsabilidade pessoal
Outras dimensões
a) nós temos que criar condições primeiro em nós mesmos antes que pos-
samos fazer isto com os outros – princípios de “gerenciar-me primeiro”
e “gerenciar de dentro para fora” (em contradição com o treinamento
convencional, que exalta as virtudes e busca passar a ideia de “super-
homem”).
O autodesenvolvimento e a perspectiva da aprendizagem organizacional 41
Além das dimensões até aqui apresentadas, pode-se também inserir a visão
de Senge. Este autor propõe cinco disciplinas inter-relacionadas para construir
as learning organizations: a visão compartilhada que estimula o compromisso
com o longo prazo; os modelos mentais que focam a necessidade de se retirar os
bloqueios para a resolução dos problemas correntes; o aprendizado em equipe
que permite superar os limites da visão individual; o domínio pessoal que con-
fere aos indivíduos a automotivação necessária para aprender continuamente;
e o pensamento sistêmico que integra as demais disciplinas. Senge (1990, p. 16)
refere-se à disciplina domínio pessoal como o conhecimento de si mesmo “[...]
pelo domínio pessoal aprendemos a esclarecer e a aprofundar continuamente
nosso objetivo pessoal, a concentrar nossas energias, a desenvolver a paciência
e a ver a realidade de maneira objetiva”.
Ter domínio pessoal significa ter a capacidade de continuamente tornar
mais clara a visão pessoal de futuro e de ver a realidade objetivamente, gerando
uma tensão criativa que leva em direção à própria visão. O domínio pessoal é a
capacidade fundamental para que um indivíduo possa perseguir seus próprios
valores, em vez de ser levado pelas circunstâncias. Os elementos fundamentais
do domínio pessoal são a percepção clara da realidade e a consciência firme dos
próprios propósitos. Apresentar domínio pessoal é sentir-se parte do processo
criativo e ampliar o espaço pessoal de influência, criando um sentido especial
de vida. O domínio pessoal cresce a partir da postura inquisitiva, que amplia o
autoconhecimento e o estabelecimento de objetivos pessoais. Domínio pessoal
significa aprender a expandir as capacidades pessoais para obter os resultados
desejados e criar um ambiente empresarial que estimule todos os participantes
a alcançar as metas escolhidas (Senge, 1990).
O constante aprendizado só é possível por meio do domínio pessoal e
está baseado na competência e no crescimento enquanto pessoa. Significa vi-
42 Parte I – Estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual
Quadro 2.1
Comportamentos essenciais à aprendizagem nas organizações
Abertura Significa que as pessoas têm de ter a capacidade de reexaminar constantemente suas
premissas e crenças e, no caso dos gerentes, a consciência de que não precisam
saber de tudo e de todas as atividades de seus funcionários.
Pensamento Traduz-se através da capacidade de ver conexões entre eventos, assuntos e detalhes de
sistêmico dados e de pensar no todo ao invés de pensar nas partes de forma isolada.
Criatividade Trata-se da liberação do medo do fracasso e das consequências organizacionais, assim
como da flexibilidade para deixar de lado rotinas e hábitos enraizados, traduzindo um
comportamento criativo.
Eficácia pessoal Estaria associada à capacidade de ver a si próprio com precisão.
Empatia Traduz-se na capacidade de estabelecer relacionamentos na organização e, com isso,
de considerar diferentes dimensões para a mesma questão.
44 Parte I – Estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual
ras ou intimidar a busca de uma visão do todo. Cada ação deve ser analisada
para estabelecer uma articulação com a visão estratégica, fazendo avançar a
visão e se relacionando com outras iniciativas. Esforços e investimentos em
autodesenvolvimento não irão progredir se a cultura da organização não per-
mitir enganos, não aceitar a necessidade de crescimento e de ascensão do
indivíduo profissionalmente e não criar o espaço para iniciativa. Além disso,
se há oportunidades limitadas para a promoção e o indivíduo não vê o espaço
para crescer na organização, também será provável que isto limite o autode-
senvolvimento. (Pedler et al. 1990)
Temporal (1984) também comenta que, para a organização, o autode-
senvolvimento permite-lhe continuar com a dinâmica de mudança, bem como
encoraja os gerentes a pensar positivamente em mudança e melhoria. Além
disso, estimula a participação e pode aumentar o compromisso dos indivídu-
os para com a organização. Como parte da estratégia de Gestão de Pessoas,
pode simplificar o gerenciamento de carreiras e planejamento de sucessão,
pois clarifica as forças e fraquezas de indivíduos, expectativas, ambições, pre-
ferências e experiências. Os processos de captação e decisões de promoção
também podem melhorar e serem mais prontamente compreendidos pelos in-
divíduos que contribuíram para avaliar suas próprias realizações. Além disso,
autodesenvolvimento para Recursos Humanos pode ser um caminho de maior
eficiência com menor custo (cost-effective) em desenvolvimento. Finalmente,
de acordo com Antonacopoulou (1999), o autodesenvolvimento proporciona
à organização gerentes que aprendem.
Os benefícios percebidos pela organização ao introduzir o autodesenvol-
vimento são afetados pela forma como ele é implantado e integrado a outras
atividades de Gestão de Pessoas. Desta forma, a maneira como o Desenvolvi-
mento de Pessoas terá que buscar equilibrar as prioridades organizacionais
com o desenvolvimento individual e com a interação entre fatores individuais
e organizacionais é questão central no tema autodesenvolvimento.
Novas políticas e ações de treinamento, desenvolvimento e educação são
orientados para uma abordagem mais centrada no indivíduo, com ênfase na res-
ponsabilidade pessoal com seu próprio desenvolvimento (Pedler et al., 1990). É
muito comum que as empresas que introduzem o autodesenvolvimento o façam
pensando em prioridades adicionais a ele. Por exemplo, a prioridade ao utilizar
o autodesenvolvimento poderá estar na redução de custos com treinamento e
desenvolvimento ou em querer tornar-se uma organização de aprendizagem ou,
ainda, no fornecimento de maior flexibilidade ao processo de desenvolvimento,
revelando assim, algumas das características de sua cultura e de sua ética em
relação ao desenvolvimento de pessoal.
A importância
Características individuais
Figura 2.4
Modelo motivacional de autodesenvolvimento.
Fonte: adaptado de London e Smither (1999).
48 Parte I – Estratégias para o desenvolvimento organizacional e individual
QUadrO 2.2
COMPOnEnTES dO aUTOdESEnVOLViMEnTO
Quadro 2.3
Formas de propiciar domínio pessoal
Quadro 2.4
Tendências Para a Aplicação do Autodesenvolvimento
Considerações Finais
Quadro 2.5
Vantagens e Benefícios de um Programa de
Autodesenvolvimento em Nível Gerencial
PONTOS FORTES
• As pessoas chegam a uma compreensão compartilhada da direção global do negócio.
• A responsabilidade de desenvolvimento se situa nos indivíduos com apoio da empresa.
• Os planos de desenvolvimento são baseados no alto nível de conhecimento de si mesmo e numa esco-
lha própria, aumentando a probabilidade de que sejam implementados com entusiasmo.
• O processo ajuda às pessoas a aprenderem a aprender: além do desenvolvimento em curto prazo das
competências vai-se construindo, a longo prazo, uma capacidade de adaptação constante.
PONTOS FRACOS
• O processo é extremamente escasso de recursos, tanto em relação ao tempo da alta direção quanto a
facilitadores.
• O processo diagnóstico não obtém mudanças de competências por si só; deve-se investir posteriormente
em atividades de desenvolvimento para que as competências sejam uma realidade.
• Quando é essencial fazê-lo, tem-se pouco tempo e já se tenha identificado relativamente bem a
necessidade das competências, um programa de Aprendizagem Autogestionada provavelmente não é a
solução adequada.
• O custo para programas de um evento de diagnóstico não é necessariamente um investimento provei-
toso para cada pessoa; alguns determinados grupos amortizarão o investimento, porém outros poderão
utilizar métodos com menos custos, como questionários de autoavaliação baseados em software.
• Quando é utilizado apenas para redução de custos em programas de TD&E.
Nota
1. A ciência da ação assume que há uma teoria-em-uso por trás de toda ação, um processo
lógico de argumentação dentro da mente. Esta teoria-em-uso pode ser muito diferente
das teorias adotadas por uma organização ou indivíduo. A aprendizagem de double-
loop questiona estas teorias-em-uso de forma a melhor articulá-las, entendê-las e, pos-
sivelmente, melhorá-las.
Em que:
Aprendizagem organizacional:
entendida de forma ampla, envolve
todas as formas de aprendizagem
no contexto da organização.
Aprendizagem grupal: à medida
que os indivíduos compartilham
experiências vivenciadas e
conhecimentos.
Aprendizagem individual:
ocorre no âmbito das organizações.
Autodesenvolvimento: um dos
sustentáculos da aprendizagem
organizacional.
Figura 2.5
Diagrama: autodesenvolvimento e aprendizagem nas organizações.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.